Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PessoA nAturAl
2
O
e novAs tecnoloGiAs
E
X
resumo: A quarta era dos direitos centraliza- AbstrAct: The fourth age of rights is centered
-se na Biomedicina e nas Telecomunicações, na in biomedicine and telecommunications in the
sociedade da informação. As novas conquistas information society. The new technology con-
IV
tecnológicas nestes dois âmbitos e os reflexos quests within these two spheres and its legal
jurídicos são a tônica do artigo que enfatiza, ain- reflexes are the keynote of this paper which em-
da, o impacto na responsabilidade civil. phazises, further, the impact on civil liability.
PAlAvrAs-chAve: Pessoa natural – Nascituro – KeyworDs: Natural person – Unborn – Pre-im-
O
Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo: RIASP, v. 14, n. 27, jan./jun. 2011.
46 Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo 2011 • RIASP 27
U
Excelentíssimos Senhores Professores, senhores funcionários, colegas advoga-
S
dos, membros das várias carreiras jurídicas, alunos e ex-alunos, senhores e
senhoras pais de nossos novos alunos, senhores e senhoras.
Primeiramente dirijo uma especial saudação aos calouros do ano de 2011
O
que ora ingressam no Curso de Direito de nossa renomada e tradicional Fa-
culdade, à qual tenho o orgulho de pertencer e na qual cursei o Bacharelado
e a Pós-Graduação, caminho que percorreria novamente, escolha mais do que
acertada.
E
É uma grande honra para um Professor proferir a aula inaugural de nosso
Curso de Direito, razão pela qual agradeço ao Sr. Diretor por ter-me dado essa
oportunidade.
X
dos Direitos.
A quarta era enfatiza as conquistas da Biomedicina e das Telecomunicações
trazendo à meditação os impactos no Direito, os reflexos jurídicos de tais avan-
ços tecnológicos, nos vários âmbitos: Direito Constitucional, Direito Civil, Di-
reito Penal, Processo Civil e Processo Penal, Direito do Trabalho, Filosofia e
S
fizesse, pois embora possa não existir lei especial ou específica que trate da
questão jurídica ou assunto a ele submetido, há um grande arcabouço de legis-
J
Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo: RIASP, v. 14, n. 27, jan./jun. 2011.
Aulas Magnas 47
U
lação nacional e internacional, com prevalência das normas da Constituição da
S
República, que lhe permite decidir.
O Curso de Direito da USP privilegia a Doutrina, porque ela nos dá o em-
basamento necessário para analisar e resolver as diversas e variadas questões
O
que se nos apresentam.
A nossos alunos não ministramos um Curso de leis, mas um Curso de fun-
damentos jurídicos, primeiro, acompanhado, depois, do estudo sistemático
das diversas leis, bastante diverso da interpretação literal.
E
Embora prezemos a tradição e consideremos a importância da pesquisa his-
tórica, preocupamo-nos com o estudo do Direito contemporâneo, para melhor
compreender e resolver os reflexos jurídicos das novas tecnologias.
X
natural. Desde 1983, quando iniciamos nossas pesquisas a respeito dos direitos
do nascituro – ser já concebido no ventre materno – em tese de Doutorado,
até os dias atuais, houve uma evolução muito grande no reconhecimento de
direitos ao ser já concebido, porém ainda não dado à luz.
A evolução da Doutrina, a melhor consciência a respeito dos direitos hu-
S
manos, nas várias fases da vida, desde a concepção, e das leis e dos acórdãos
dos Tribunais estaduais e do STJ, atestam a sensibilidade e preocupação dos
diversos operadores do Direito com o ser ainda não nascido, mas já concebido,
IV
realidade que não se confunde com coisa (res), conforme ocorreu em passado
não remoto.
Tanto o Código Civil, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e novas
leis, entre as quais a recente Lei 11.804, de 05.11.2008, dos impropriamente
O
__________
J
Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo: RIASP, v. 14, n. 27, jan./jun. 2011.
48 Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo 2011 • RIASP 27
U
Uma nova realidade se apresenta ao jurista: o embrião pré-implantatório.
S
Advém das técnicas de reprodução humana assistida, quando a fertilização
se dá no laboratório – fertilização in vitro – e nem todos os embriões são im-
plantados in vivo ou in anima nobile.
O
Denominados, de modo depreciativo, embriões sobrantes, ou excedentá-
rios, ou supra numerários, têm carga genética diferenciada plenamente em
relação à do pai e à da mãe, caracterizando a individua substantia, rationalis
naturae (substância individual de natureza racional) como considerou Boetius
E
damente o Código Civil – tema tratado por mim em obra específica – chegou-
-se a uma solução ponderada, em 2008, por apertada maioria, permitindo-se
a pesquisa em embriões excedentes que, no mais das vezes se destinariam ao
IV
lixo sanitário.
Melhor será que se destinem à pesquisa, no interesse de muitas pessoas que
aguardam as novas técnicas, do que sejam descartados como coisa – res – que
não são. A própria Lei de Biossegurança assim o reconhece ao exigir a autori-
O
Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo: RIASP, v. 14, n. 27, jan./jun. 2011.
Aulas Magnas 49
U
Volto a invocar a obra de Hans Jonas que enfatiza a responsabilidade nas
S
pesquisas científicas, responsabilidade essa que não só é considerada do ponto
de vista ético como do jurídico.
Lembro um tema de grande relevância na era tecnológica sobre o qual tive-
O
mos oportunidade de dedicar estudo específico: responsabilidade civil diante
do risco do desenvolvimento.
Os reflexos da Revolução Genética sentem-se também no conceito de mãe,
pois há não só a mãe genetriz, ou a genética, de quem provém o óvulo, mas a
E
mãe gestatriz, a que gesta e dá à luz.
Esses conceitos estão sendo gradualmente considerados pelo Direito Civil e
foram, ainda que timidamente, considerados pelo Código de 2002 que também
X
das origens.
Primeiramente repudiado pelas diversas legislações, sob a defesa da neces-
sidade do absoluto anonimato dos doadores de gametas, hoje encontra guarida
em várias delas, inclusive a brasileira – com artigo expresso do Estatuto da
Criança e do Adolescente (art. 48 da Lei 8.069/1990), introduzido pela nova
S
Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo: RIASP, v. 14, n. 27, jan./jun. 2011.
50 Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo 2011 • RIASP 27
U
Representa-se bem-vindo evoluir, que favorece não só a comunicação,
S
como as pesquisas e a informação – daí o termo já consolidado “sociedade da
informação” – embora minha preferência seja por “sociedade da comunicação”
– há inúmeras consequências no âmbito jurídico e questões de difícil solução.
O
O direito à privacidade ou à intimidade é reconhecido em todas as legisla-
ções ou, no mínimo, na Doutrina e Jurisprudência dos povos cultos, como um
dos direitos da personalidade, os que se referem à própria pessoa do sujeito,
bem como a suas emanações e prolongamentos no oportuno conceito do Pro-
E
fessor desta Casa Rubens Limongi França.
Lembro a restrição da privacidade, diante do fácil cruzamento de dados
armazenados nos diversos bancos, que são capazes de desvendar as caracterís-
X
sermos apenas um número e não um indivíduo. Basta verificar anúncios nos clas-
sificados de jornais e revistas:
“Vendem-se listas”.
LU
Que listas? Listas nas quais somos negociados como mercadoria, com perfil
de consumidores, criadas a partir do cruzamento dos vários arquivos de dados:
instituições bancárias, estabelecimentos comerciais, cartões de crédito, pesqui-
sas a que respondemos ingenuamente, e tantos outros.
A biotecnologia avançou a tal ponto que é possível ser elaborado o mapa
S
pelos convênios médicos. Eis mais um ponto para reflexão, sendo cabível in-
vocar norma da Constituição da República apta a afastar tal afronta a direito à
intimidade, que fere, ainda, o princípio da igualdade.
As denominadas redes sociais, não obstante seus pontos positivos, ensejam
O
Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo: RIASP, v. 14, n. 27, jan./jun. 2011.
Aulas Magnas 51
U
ma, o X, assegura a inviolabilidade da “intimidade, a vida privada, a honra e a
S
imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação”.
O
__________
O jurista e os operadores do Direito, da e na atualidade têm outra preocupa-
ção, bastante instigante: como conciliar o direito dos criadores das diversas obras,
o trabalhador-autor, como os novos, diversos e tão rápidos meios de comunicação?
E
segundo o qual Hominum causa omne ius constitutum est (o Direito existe ne-
cessariamente para os homens).
É absolutamente necessário estarmos atentos para os reflexos da era tecnoló-
gica.
S
Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo: RIASP, v. 14, n. 27, jan./jun. 2011.
52 Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo 2011 • RIASP 27
U
O homem será feito em laboratório
S
muito mais perfeito a todos atende.
do que no antigório. Perdão: acabou-se
Dispensa-se amor, a época dos pais.
O
ternura ou desejo, Quem comia doce
Seja como for já não come mais.
(até num bocejo)
Salta da retorta Não chame de filho
E
Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo: RIASP, v. 14, n. 27, jan./jun. 2011.
Aulas Magnas 53
U
S
Pesquisas do Editorial
Veja também Doutrina
O
• Alimentos gravídicos, de Jesualdo Eduardo de Almeida Júnior – RT 882/9;
• Colisão dos direitos fundamentais com as novas tecnologias, de Bárbara Slavov –
RDPriv 40/60;
• Considerações constitucionais sobre a pesquisa e aplicação terapêutica das células-
E
-tronco, de Alcyone da Costa Oliveira – RDPriv 30/74;
• Contratos de “bens vivos”: uma realidade desafiadora e instigante a provocar trans-
formações sociais e jurídicas, e o diálogo das fontes, de Evelise Leite Pâncaro da Silva
X
– RDPriv 44/223;
• Direito à identidade genética ou direito ao reconhecimento das origens e a reprodução
assistida heteróloga, de Edison Tetsuzo Namba – RT 905/67;
C
56/113.
IV
O
S
T
J
Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo: RIASP, v. 14, n. 27, jan./jun. 2011.