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A incapacidade pode ser absoluta ou relativa.

DIREITO CIVIL A absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si


só, do direito. O ato somente poderá ser praticado pelo
1. PESSOAS E DIREITOS DA PER- representante legal do absolutamente incapaz, sob
SONALIDADE pena de nulidade. O incapaz não participa do ato, que é
praticado apenas pelo seu representante. De acordo
1.1 PREMISSAS BÁSICAS com o art. 3º, CC, são absolutamente incapazes:
 Pessoa Natural: sinônimo de pessoa física. - os menores de dezesseis anos: são os menores
impúberes, que ainda não atingiram maturidade su-
 Pessoa: basta existir ficiente para participar da atividade jurídica;
 Personalidade: é a capacidade para figurar em A incapacidade relativa permite a prática de atos da
uma relação jurídica (toda pessoa tem desde o nas- vida civil desde que assistido, sob pena de anulabilidade.
cimento com vida – artigo 2º, CC). Reconhece-se ao relativamente incapaz certo discerni-
 Capacidade: é a medida da personalidade mento, e, portanto, ele praticará o ato acompanhado,
com a assistência de seu representante.
 Capacidade de direito: capacidade de aquisição
ou gozo de direitos (toda pessoa tem). Art. 1º, CC: São relativamente incapazes:
“Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem - os maiores de dezesseis e menores de dezoito
civil”. anos: são os menores púberes;
 Capacidade de fato ou de exercício (ou de ação): - os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
aptidão para exercer por si só os atos da vida civil
(nem toda pessoa tem). - aqueles que, por causa transitória ou permanen-
te, não puderem exprimir sua vontade;
 Capacidade Plena: capacidade de direito + capa-
cidade de fato - os pródigos.

 Incapazes: só tem capacidade de direito, não tem Há, também, a questão da legitimidade para os atos da
a de fato. vida civil, mas que só será questionada nos casos esta-
belecidos pela lei. Exemplo: venda de bens feita por
 Incapacidade absoluta: precisa representante le- ascendente a descendente – é necessária a anuência
gal – art. 3º, CC. – não pode praticar nenhum ato da dos demais descendentes.
vida civil, sob pena de nulidade (art. 166, I, CC).
 Incapacidade Relativa: precisa assistência – art.
4º, CC – pode praticar com Assistente, sob pena de 1.3 CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE
anulabilidade(art. 171, I, CC).  Causas elencadas no art. 5º, CC;
 Emancipação com 16 anos completos.
1.2 PERSONALIDADE E CAPACIDADE Cessa a incapacidade quando cessar sua causa (enfer-
Toda pessoa é dotada de personalidade, isto é, tem midade mental, menoridade, etc.) ou quando houver
capacidade para figurar em uma relação jurídica. A pes- emancipação (com, no mínimo, 16 anos). A emancipa-
soa tem aptidão genérica para adquirir direitos e contra- ção pode ser voluntária, judicial ou legal. A voluntária é
ir obrigações. Assim, capacidade é a medida da perso- a concedida pelos pais, se o menor tiver 16 anos com-
nalidade. A que todos possuem é a capacidade de direi- pletos (por instrumento público, independente de ho-
to, de aquisição e gozo de direitos, porém nem todos mologação judicial); a judicial é concedida por sentença,
possuem a capacidade de fato, que é a aptidão para ouvido o tutor, em favor do tutelado que já completou
exercer, por si só, os atos da vida civil, também chama- 16 anos; a legal é a que decorre de fatos previstos na lei
da de “capacidade de ação”. como o casamento, o exercício de emprego público
efetivo, a colação de grau em curso de ensino superior e
Assim, tem capacidade plena quem possui as duas es- a aquisição de economia própria, quando advinda de
pécies de capacidade (de direito e de fato), que se atin- estabelecimento civil ou comercial ou existência de
ge com 18 anos. Tem capacidade limitada quem só tem relação de emprego, tendo o menor 16 anos completos.
a capacidade de direito, e por isso necessita de outra
pessoa que substitua ou complete sua vontade. São  A emancipação voluntária deve ser concedida
chamados “incapazes”. por ambos os pais. A impossibilidade de qualquer
deles participar do ato, por se encontrar em local ig-
A incapacidade é a restrição legal aos atos da vida civil. norado ou por outro motivo relevante, deve ser de-

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vidamente justificada em juízo. Havendo divergência 1.5 EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE
entre si, tal deverá ser dirimida pelo juiz.
NATURAL
 A emancipação voluntária não produz o efeito de
isentar os pais da obrigação de isentar as vítimas dos Morte real:art. 6º
atos ilícitos praticados pelo menor antecipado, para Morte presumida: art. 6º, 2ª parte – com ou sem decla-
evitar emancipações maliciosas. ração de ausência – e art. 7º, CC.
 As emancipações voluntária e judicial, para que Somente com a morte real termina a existência da pes-
produzam efeitos, devem ser registradas em livro soa natural, que também pode ser simultânea. Da dou-
próprio no Registro Civil da comarca do domicílio do trina:
menor, anotando-se também, com remissões recí-
procas, no assento de nascimento. Quando concedi-  morte real prevista no art. 6º, CC. Prova pelo a-
da por sentença, o juiz deve comunicar, de ofício, a testado de óbito ou pela justificação, em caso de ca-
concessão ao escrivão do Registro Civil. tástrofe e não encontro do corpo. Acarreta a extin-
ção do poder familiar, a dissolução do vínculo famili-
 A emancipação legal independe de registro e ar, a extinção dos contratos personalíssimos, a extin-
produzirá efeitos desde logo, ou seja, a partir do ato ção da obrigação de pagar alimentos etc.;
ou do fato que a provocou.  morte simultânea ou comoriência, prevista no
 A emancipação, em qualquer forma, é irrevogá- art. 8º, CC. Se dois ou mais indivíduos falecerem na
vel, o que não impede o reconhecimento da invali- mesma ocasião, não se podendo averiguar qual de-
dade do ato. les morreu primeiro, presumir-se-ão simultanea-
mente mortos. Não há transferência de bens entre
comorientes;
Concedida pelos pais – deve ser  morte presumida, com ou sem declaração de au-
Emancipação
registrada no1º ofício do Registro sência. Presume-se a morte, quanto aos ausentes,
voluntária
Civil p/produzir efeito art. 9º, CC. nos casos em que a lei autoriza a abertura de suces-
Emancipação Concedida por sentença – Idem são definitiva. A declaração de ausência produz efei-
judicial Registro art. 9º, CC. tos patrimoniais, permitindo a abertura de sucessão
provisória e, depois, a definitiva.
Decorre de fatos previstos em lei -
casamento, exercício de emprego
Emancipação legal
público, colação de grau em curso 1.6 DIREITOS DA PERSONALIDADE
superior.
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os
Extinção do poder familiar – art. direitos da personalidade são intransmissíveis e ir-
Consequências da 1.635, II, CC. renunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer
emancipação Cessação da condição de pupilo – limitação voluntária.
art. 1.763, CC.
Portanto, a lei admite como exceção, por exemplo, o
1.4 COMEÇO DA PERSONALIDADE NA- contrato de uso de imagem da pessoa natural, em ma-
térias publicitárias, sendo negócio jurídico não proibido
TURAL no Ordenamento Jurídico Pátrio.
A personalidade civil começa com o nascimento com
vida, o que se constata com a respiração. Nascendo  DA CESSAÇÃO DA AMEAÇA OU LESÃO A DIREITO DE
vivo, ainda que venha a falecer em seguida, o novo ente PERSONALIDADE
chegou a ser pessoa, adquiriu direitos, e com sua morte
os transmitiu. Antes do nascimento não há personalida- O art. 12, CC, dispõe acerca do direito da vítima de fazer
de. cessar a ameaça ou lesão a qualquer dos direitos de
personalidade, bem como de reclamar perdas e danos.
Nascituro: não é sujeito de direito, mas o artigo 2º, CC,
ressalva os direitos do nascituro, desde a concepção. Os Importa destacar que têm legitimidade para fazer ces-
direitos assegurados ao nascituro encontram-se em sar as ameaças e lesões, em se tratando a vítima de
estado potencial, sob condição suspensiva. Nascendo morto, as seguintes pessoas: o cônjuge sobrevivente,
com vida, a sua existência, no tocante aos seus interes- qualquer parente em linha reta (ascendentes e descen-
ses, retroage ao momento de sua concepção. Assim, o dentes), bem como colateral até quarto grau. É o que
direito protege a expectativa de um futuro sujeito de dispõe o parágrafo único do art. 12.
direitos.

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 DA VEDAÇÃO A ATO DE DISPOSIÇÃO DO PRÓPRIO  DO DIREITO AO NOME (PRENOME E SOBRENOME)
CORPO
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele
No sentido de preservar a integridade física, é que o compreendidos o prenome e o sobrenome.
art. 13, CC, dispõe que, salvo por exigência médica, é
proibido ato de disposição do próprio corpo, quando
importe diminuição permanente da integridade física ou É possível a alteração do nome, devendo ser devida-
contrarie os bons costumes. mente motivado o pedido, como ocorre em casos de
exposição ao ridículo, nos termos da Lei 6.015/73, em
Saliente-se que é admitido o transplante no Brasil, como seus arts. 55 e seguintes.
exigência médica, nos termos do que preceitua a Lei n.
9.434/1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos,
tecidos e partes do corpo humano para fins de trans-  DA PROTEÇÃO AO NOME DA PESSOA QUANTO AO
plante e tratamento e dá outras providências. É o que DESPREZO PÚBLICO
preceitua o parágrafo único do art. 13, CC.
O Código Civil adotou, em seu art. 17, dispositivo que
objetiva a proteção do nome, no sentido de não o expor
 DA DISPOSIÇÃO GRATUITA DO CORPO PARA DE- ao desprezo público:
POIS DA MORTE COM OBJETIVO CIENTÍFICO OU AL-
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser emprega-
TRUÍSTICO do por outrem em publicações ou representações
A disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em que a exponham ao desprezo público, ainda quan-
parte, para depois da morte, é válida, desde que sem do não haja intenção difamatória.
finalidade lucrativa, voltando-se para o objetivo científi-
co, bem como altruístico. É o que preceitua o art. 14,
CC.  DO USO DO NOME EM PROPAGANDA COMERCIAL,
SEM AUTORIZAÇÃO
O parágrafo único do art. 14, CC, garante a possibilidade
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome
de revogação deste ato de disposição, podendo o doa-
alheio em propaganda comercial.
dor, a qualquer momento, alterar sua vontade livremen-
te. Em síntese, com o objetivo científico ou altruístico,
pode-se dispor para depois da morte do próprio corpo,
no todo ou em parte, desde que de forma gratuita,
sendo revogável tal disposição. O ordenamento jurídico  DA PROTEÇÃO DO PSEUDÔNIMO PARA ATIVIDADES
não admite disposição onerosa. LÍCITAS
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lí-
citas goza da proteção que se dá ao nome.
 DO CONSENTIMENTO DO PACIENTE PARA TRATA-
MENTO MÉDICO OU INTERVENÇÃO CIRÚRGICA COM
RISCO DE VIDA Primeiramente, faz-se necessário conceituar o que seja
Em decorrência do direito à integridade física, nos ter- “pseudônimo”. São os nomes utilizados pelos artistas e
mos do art. 15, CC: jogadores de futebol, que, em verdade, não correspon-
dem àqueles nomes constantes de seu registro civil.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a subme-
ter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou A partir deste conceito, o pseudônimo tem a mesma
a intervenção cirúrgica. proteção do nome, e, portanto, não pode ser exposto
ao desprezo público, tampouco utilizado comercialmen-
te sem autorização, nos termos do disposto anterior-
Portanto, em caso de tratamento médico ou interven- mente.
ção cirúrgica com risco de vida, é necessário colher o
consentimento do paciente, facultado-lhe licitamente
recusar-se a submeter-se a estes procedimentos.

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 DO DIREITO À IMAGEM E DA LIBERDADE DE IM-  Sem caráter patrimonial (consequências patri-
PRENSA moniais são eventuais, como a indenização)
O art. 20, CC, estabelece os limites entre o Direito à
Imagem da Pessoa Natural e a Liberdade de Imprensa.
1.7 AUSÊNCIA
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à
administração da justiça ou à manutenção da or- Ausente é a pessoa que desaparece do seu
dem pública, a divulgação de escritos, a transmis- domicíliosem informar paradeiro e sem deixar
são da palavra, ou a publicação, a exposição ou a representante ou procurador (art. 22, CC), ou, deixando
utilização da imagem de uma pessoa poderão ser procuração com poderes insuficientes(art. 23), situação
proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da na qual, a requerimento de qualquer interessado, o juiz
indenização que couber, se lhe atingirem a honra,
declarará a ausência e nomeará curador.
a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destina-
rem a fins comerciais. Para que se verifique o desaparecimento não basta o
afastamento da pessoa do lugar em que reside, por mais
prolongado que seja. É necessário que se tenha perdido
A legitimidade para requerer esta proteção em caso de totalmente as notícias sobre a pessoa e seu paradeiro.
morto ou ausente é estendida ao cônjuge, ascendentes
e descendentes, no parágrafo único deste artigo: Não exige a lei prazo mínimo para a caracterização do
desaparecimento, nem determina que se diligencie a
Art. 20. Parágrafo único. Em se tratando de morto procura do desaparecido.
ou de ausente, são partes legítimas para requerer
essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os des- Convencendo-se de que certa pessoa está realmente
cendentes. desaparecida e seus interesses encontram-se ao de-
samparo, o juiz, a pedido de qualquer interessado, de-
clarará a sua ausência. A primeira consequência dessa
 DA INVIOLABILIDADE DA VIDA PRIVADA DA PESSOA declaração é a arrecadação dos bens do ausente e a
NATURAL nomeação de um curador para esses bens, fixando seus
Dispõe o art. 21, CC, acerca do Direito de Intimidade: poderes e obrigações.

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolá- Depois de transcorrido um ano da arrecadação dos
vel, e o juiz, a requerimento do interessado, adota- bens da pessoa declarada judicialmente ausente, os
rá as providências necessárias para impedir ou fa- legalmente tidos por interessados (art. 27) podem re-
zer cessar ato contrário a esta norma. querer ao juiz a abertura da sucessão que, inicialmente,
terá caráter provisório. Também pode ser requerida a
abertura de sucessão provisória da pessoa desapareci-
A pessoa natural poderá requerer ao juiz que impeça e da que possuía representante ou procurador, se o de-
faça cessar qualquer intromissão injustificada em sua saparecimento perdura por três anos. Na sucessão pro-
vida privada. visória o ausente preserva a propriedade de seus bens,
mas a posse é dada aos seus presumíveis sucessores. O
curador dos bens do ausente, assim como o represen-
1.6.1 CARACTERÍSTICAS tante e o procurador do desaparecido, é dispensado de
 Intransmissíveis (não podem ser transmitidos, suas funções e a responsabilidade pela administração
nem por atos inter vivos, nem por causa mortis) dos bens passa a ser do titular do direito à posse provi-
sória.
 Irrenunciáveis (o titular do direito pode deixar de
exercê-lo, mas não pode “abrir mão”) Durante a fase da sucessão provisória nenhum bem
imóvel do ausente pode ser, como regra, alienado ou
 Ilimitados hipotecado, para impedir a perda dos bens. Há duas
 Caráter absoluto (oponível a todos – erga omnes) exceções, contudo: o imóvel pode ser desapropriado
(que é uma hipótese de alienação) ou pode ser alienado
 Imprescritíveis (pode prescrever o direito à even- ou hipotecado, mediante autorização judicial, para evi-
tual indenização, mas o direito de personalidade não tar sua ruína. Em relação aos bens móveis, quando
perde nunca) sujeitos a deterioração ou a extravio, o juiz pode orde-
nar sua venda e posterior emprego do valor obtido em
 Generalidade (comum a todos)
investimento de perfil conservador, lembrando a lei de
 Indisponíveis imóveis e títulos federais (art. 29).
 Impenhoráveis Depois de transcorridos dez anos da abertura da suces-
são provisória da pessoa declarada ausente, os interes-
 Vitalícios

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sados podem requerer ao juiz que abra a definitiva,  Teorias da Realidade
quando se presumirá a morte do desaparecido. A su-
Opõem-se às do primeiro grupo e se dividem em
cessão definitiva pode ser aberta independentemente
de prévia abertura da provisória, quando o desapareci- - Teoria da realidade objetiva: sustenta que a
do conta com 80 anos de idade e há pelo menos cinco pessoa jurídica é uma realidade sociológica, ser
anos não se tem notícias dele. com vida própria, que nasce por imposição das
forças sociais. A crítica que se lhe faz é a de que
Se a pessoa declarada ausente retorna ao seu domicílio,
os grupos sociais não têm vida própria, persona-
variam os direitos que ela torna a titular, de acordo com
lidade, que é característica do ser humano.
o momento do reaparecimento. Se retorna antes da
abertura da sucessão provisória, conserva não só o - Teoria da realidade jurídica: assemelha-se à
direito à propriedade de seus bens como a todos os da realidade objetiva. Considera as pessoas jurí-
frutos e rendimentos. Se depois da sucessão provisória, dicas como organizações sociais destinadas a um
mas antes de aberta a definitiva, mantém o direito à serviço ou ofício, e por isso personificadas. Mere-
propriedade dos bens, mas não à totalidade dos frutos e ce a mesma crítica feita àquela. Nada esclarece
rendimentos desses. Se retorna após a sucessão defini- sobre as sociedades que se organizam sem a fina-
tiva, mas antes de transcorridos dez anos, tem apenas o lidade de prestar um serviço ou de preencher um
direito à restituição dos seus bens no estado em que se ofício.
encontram. Regressando depois de dez anos da suces-
são definitiva, não tem mais direito aos seus bens. - Teoria da realidade técnica: entendem seus
adeptos, especialmente Ihering, que a personifi-
cação dos grupos sociais é expediente de ordem
técnica, a forma encontrada pelo direito para re-
1.8 PESSOA JURÍDICA conhecer a existência de grupos de indivíduos,
A pessoa jurídica consiste num conjunto de pessoas ou que se unem na busca de fins determinados.
bens, dotado de personalidade jurídica própria e cons-
tituída na forma da lei para a consecução de fins co- Para a constituição da pessoa jurídica são necessários
muns. Pode-se afirmar, pois, que pessoas jurídicas são três requisitos: a vontade humana criadora (intenção
entidades a que a lei confere personalidade, capacitan- de criar uma entidade distinta da de seus membros),
do-se a serem sujeitos de direitos e obrigações. A sua observância das condições legais (instrumento particu-
principal característica é a de que atuam na vida jurídica lar ou público, registro e autorização ou aprovação do
com personalidade diversa da dos indivíduos que as governo) e liceidade dos seus objetivos (objetivos ilíci-
compõem. tos ou nocivos constituem causa de extinção da pessoa
Quanto à natureza jurídica, várias teorias procuram jurídica – art. 69, CC).
explicar esse fenômeno, pelo qual um grupo de pessoas A vontade humana materializa-se no ato de constitui-
passa a constituir uma unidade orgânica, com individua- ção, que deve ser escrito. São necessárias duas ou mais
lidade própria reconhecida pelo Estado e distinta das pessoas com vontades convergentes, ligadas por uma
pessoas que a compõem. Podem ser reunidas em dois intenção comum (affectio societatis).
grupos: o das teorias da ficção e o das teorias da reali-
dade. O ato constitutivo é requisito formal exigido pela lei e se
denomina estatuto, em se tratando de associações que
 Teorias da Ficção não têm fins lucrativos; contrato social, no caso de
Podem ser da ficção legal e da ficção doutrinária. Para a sociedades, simples ou empresárias; e escritura pública
primeira, desenvolvida por Savigny, a pessoa jurídica ou testamento, em se tratando de fundações (art. 62,
constitui uma criação artificial da lei. Para a segunda, CC).
uma criação dos juristas, da doutrina. Ambas não são O ato constitutivo deve ser levado a registro para que
aceitas. A crítica que se lhes faz é a de que o Estado é comece, então, a existência legal da pessoa jurídica de
uma pessoa jurídica, e dizer-se que o Estado é uma direito privado (art. 45, CC). Antes do registro, não pas-
ficção é o mesmo que dizer que o direito, que dele e- sará de mera “sociedade de fato” ou “sociedade não
mana, também o é. personificada”.
A liceidade de seu objetivo é indispensável para a for-
mação da pessoa jurídica. Deve ele ser, também, de-
terminado e possível. Nas sociedades em geral, simples
ou empresárias, o objetivo é o lucro pelo exercício de
sua atividade. Nas fundações os fins só podem ser cons-
tituídas para:

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Art. 62. Parágrafo único. I - assistência social; No que concerne à classificação da pessoa jurídica,
II - cultura, defesa e conservação do patrimônio divide-se:
histórico e artístico; - Quanto à nacionalidade: nacional e estrangeira.
III - educação;
IV - saúde;
V - segurança alimentar e nutricional;
VI - defesa, preservação e conservação do meio Nacional Estrangeira
ambiente e promoção do desenvolvimento susten-
tável;
VII - pesquisa científica, desenvolvimento de tec-
nologias alternativas, modernização de sistemas
de gestão, produção e divulgação de informações e - Quanto à estrutura interna: corporação (conjun-
conhecimentos técnicos e científicos; to ou reunião de pessoas) e fundação (reunião de
bens). O que as distingue é que as corporações vi-
VIII - promoção da ética, da cidadania, da demo-
cracia e dos direitos humanos; sam à realização de fins internos, estabelecidos pe-
los sócios. Os seus objetivos são voltados para o bem
IX - atividades religiosas; de seus membros. Nas corporações também existe
patrimônio, mas é elemento secundário, apenas um
meio para a realização de um fim. As fundações, ao
Nas associações de fins não-econômicos (art. 53), os contrário, têm objetivos externos, estabelecidos pe-
objetivos colimados são de natureza cultural, educacio- lo instituidor, e o patrimônio é elemento essencial.
nal, esportiva, religiosa, filantrópica, recreativa, moral
etc. Saliente-se que objetivos ilícitos ou nocivos consti-
tuem causa de extinção da pessoa jurídica (art. 69).

A existência de pessoas jurídicas de Direito Corporação Fundação


Público decorre de outros fatores, como a lei
e o fato administrativo, bem como de fatos
históricos, de previsão constitucional e de
tratados internacionais, sendo regidas pelo
Direito Público e não pelo Código Civil.
As corporações dividem-se em associações e socieda-
des.
O registro do contrato social de uma sociedade empre- As associações são pessoas jurídicas de base pessoal, ou
sária faz-se na Junta Comercial. Os estatutos e os atos seja, compõem-se de uma união de esforços para um
constitutivos das demais pessoas jurídicas de direito fim comum não lucrativo, mas religioso, moral, cultural,
privado são registradas no Cartório de Registro Civil das desportivo, recreativo etc. (só não pode visar lucro).
Pessoas Jurídicas, mas os das sociedades simples de Constitui-se uma associação pela inscrição no Registro
advogados só podem ser registrados na OAB. Algumas Civil das Pessoas Jurídicas de duas vias do estatuto,
pessoas jurídicas precisam, ainda, de autorização ou normalmente transcrito na ata da assembleia de funda-
aprovação do Poder Executivo (art. 45, CC), como as ção, assinada pelos associados que a criaram. A dissolu-
seguradoras, as instituições financeiras, as administra- ção é aprovada pelos associados, de acordo com as
doras de consórcios, etc. O cancelamento do registro da normas estatutárias. À qualidade de associado corres-
pessoa jurídica, nos casos de dissolução ou cassação da ponde um conjunto de direitos e deveres perante a
autorização para seu funcionamento, não se promove, associação, definidos e delimitados pelo estatuto. O
mediante averbação, no instante em que é dissolvida, associado pode assegurar o exercício de seus direitos
mas depois de encerrada sua liquidação (art. 51). estatutários, inclusive através de medida judicial, e pode
ser penalizado, em alguns casos, até mesmo com a ex-
pulsão da associação, se não cumprir seus deveres esta-
tutários.
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível
havendo justa causa, assim reconhecida em proce-
dimento que assegure direito de defesa e de re-
curso, nos termos previstos no estatuto.

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As sociedades representam a união de pessoas com um - Quanto à função (órbita de atuação): de Direito
objetivo econômico. Podem ser simples ou empresárias. Público e de Direito Privado.
As sociedades simples têm fim econômico e visam lu- As pessoas jurídicas de Direito Público podem ser: de
cro, que deve ser distribuído entre os sócios. Exploram Direito Público externo (art. 42, CC), que são as diversas
atividade econômica desprovida de empresalidade. São Nações, a Santa Sé, todas as pessoas que forem regidas
constituídas, em geral, por profissionais de uma mesma pelo direito internacional público, inclusive organismos
área (sociedade de engenheiros, advogados, médicos, internacionais, como a ONU, a OEA, a Unesco, etc.; e de
etc.) ou por prestadores de serviços técnicos. Mesmo Direito Público interno (art. 41, CC), que podem ser da
que eventualmente venham a praticar atos de empresá- administração direta (União, Estados, Distrito Federal,
rios, tal fato não altera sua situação, pois o que se con- Territórios e Municípios) e da administração indireta
sidera é a atividade principal por elas exercida. O regis- (autarquias, fundações públicas e demais entidades de
tro é feito no Cartório de Registro Civil das Pessoas caráter público criadas por lei). São órgãos descentrali-
Jurídicas. zados, criados por lei, com personalidade própria para o
exercício de atividades de interesse público.
As sociedades empresárias também visam lucro. Distin-
guem-se das sociedades simples porque têm por objeto As pessoas jurídicas de Direito Privado são as corpora-
o exercício de atividade própria de empresário sujeito ções (associações, sociedades simples e empresárias,
ao registro previsto no art. 966 ,o CC, ou seja, organizam partidos políticos, organizações religiosas) e as funda-
a exploração da atividade econômica como empresa, ções particulares (art. 44, CC). As empresas públicas e as
através da articulação dos fatores de produção: capital, sociedades de economia mista sujeitam-se ao regime
mão-de-obra, insumo e tecnologia. Seu registro é reali- próprio das empresas privadas.
zado na Junta Comercial, e se regem pelas regras do
Direito Comercial.
As Organizações não-Governamentais (ONGs)
Convém destacar que, em 2019, houve importante
são entidades organizadas por particulares
alteração no capítulo das sociedades limitadas:
cujo objeto atende ao interesse público.
Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabili- Constituem-se como associações ou funda-
dade de cada sócio é restrita ao valor de suas quo- ções, já que não têm finalidades econômicas.
tas, mas todos respondem solidariamente pela in-
tegralização do capital social.
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por De igual forma, há que se acrescentar as empresas indi-
1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei nº viduais de responsabilidade limitada (EIRELI), acrescida
13.874, de 2019) pela Lei 12.441/11, com o intuito de facilitar aquele que
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento deseja exercer atividade negocial individualmente, não
de constituição do sócio único, no que couber, as comprometendo ilimitadamente seu patrimônio. Ade-
disposições sobre o contrato social. (Incluído pela mais, ao art. 980-A, CC, foi agregado em 2019, o seguin-
Lei nº 13.874, de 2019) te parágrafo:
Art. 980-A. § 7º - Somente o patrimônio social da
empresa responderá pelas dívidas da empresa in-
As fundações constituem um acervo de bens, que rece-
dividual de responsabilidade limitada, hipótese em
be personalidade para a realização de fins determina- que não se confundirá, em qualquer situação, com
dos, ou seja, resultam da afetação, por vontade de seu o patrimônio do titular que a constitui, ressalvados
instituidor, de certos bens à realização de finalidades os casos de fraude. (Incluído pela Lei nº 13.874, de
não-econômicas. Tem base eminentemente patrimoni- 2019)
al. Compõe-se de dois elementos: o patrimônio e o fim
(estabelecido pelo instituidor e não lucrativo). Somente
poderão constituir-se para fins religiosos, morais, cultu-
rais ou de assistência (art. 62, parágrafo único). Institui-
se uma fundação com a inscrição, no Registro Civil das
Pessoas Jurídicas, do seu estatuto, elaborado pelo pró-
prio instituidor ou pela pessoa por ele designada para
viabilizar a constituição da nova pessoa jurídica. A alte-
ração do estatuto não pode contrariar ou desvirtuar as
finalidades da fundação. O Ministério Público tem a
incumbência legal de velar pelas fundações, fiscalizan-
do se a vontade do instituidor está sendo respeitada
pelos administradores do patrimônio fundacional.

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1.8.1 TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA atos ilícitos de qualquer natureza. (Incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019)
PERSONALIDADE JURÍDICA
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausên-
Em decorrência da autonomia patrimonial da pessoa cia de separação de fato entre os patrimônios, ca-
jurídica, as obrigações desta não são, em princípio, im- racterizada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de
putáveis aos seus membros. 2019)

Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obri-
os seus sócios, associados, instituidores ou admi- gações do sócio ou do administrador ou vice-versa;
nistradores. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
II - transferência de ativos ou de passivos sem efe-
tivas contraprestações, exceto os de valor propor-
Porém, esse princípio pode ser manipulado na realiza- cionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei nº
ção de fraudes, principalmente quando a pessoa jurídica 13.874, de 2019)
é uma sociedade. Isso porque, toda vez que se cria uma
III - outros atos de descumprimento da autonomia
pessoa jurídica, surge um novo sujeito de direito, distin- patrimonial. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
to e autônomo em relação aos seus membros. Para
evitar essa situação desenvolveu-se uma teoria que § 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste ar-
tigo também se aplica à extensão das obrigações
permite que o juiz, em casos de utilização indevida da
de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
pessoa jurídica, desconsidere o princípio de que estas
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
têm existência distinta da dos seus membros e os efei-
tos dessa autonomia para atingir e vincular os bens § 4º A mera existência de grupo econômico sem a
particulares dos sócios à satisfação das dívidas da socie- presença dos requisitos de que trata o caput deste
artigo não autoriza a desconsideração da persona-
dade. Dessa forma, a teoria da desconsideração da
lidade da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº
pessoa jurídica (ou da superação da personalidade jurí-
13.874, de 2019)
dica) não questiona, mas relativiza o princípio da auto-
nomia patrimonial, que continua válido e eficaz ao § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera ex-
estabelecer que, em regra, os membros da pessoa jurí- pansão ou a alteração da finalidade original da ati-
vidade econômica específica da pessoa jurídica.
dica não respondem pelas obrigações desta. Por tratar-
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
se de aperfeiçoamento da teoria da pessoa jurídica,
através da coibição do mau uso de seus fundamentos, a
pessoa jurídica desconsiderada não é extinta, liquidada
ou dissolvida, tampouco invalidada ou desfeita. Apenas 1.8.2 EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA
determinados efeitos de seus atos constitutivos dei-
xam de se produzir episodicamente. Dessa forma, a
requerimento do credor ou do Ministério Público
(quando lhe couber intervir no processo) o juiz pode Convencional
declarar a responsabilidade pessoal dos sócios ou ad-
ministradores, nos casos de abuso de direito. Ao con-
templar essa teoria o Código Civil estabeleceu que o Legal
abuso se caracteriza pelo desvio de finalidade (“caixa
dois”, fraude à contrato) ou pela confusão patrimonial
(mistura de patrimônios em sociedades familiares, soci- Causas da
edade simulada). Administrativa
Extinção da PJ
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídi-
ca, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento Natural
da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, desconsiderá-la para
que os efeitos de certas e determinadas relações
de obrigações sejam estendidos aos bens particu- Judicial
lares de administradores ou de sócios da pessoa
jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio
de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com
o propósito de lesar credores e para a prática de

8
Termina a existência da pessoa jurídica pelas seguintes por ela praticados até o instante de seu desaparecimen-
causas (art. 54, CC): to, respeitando-se direitos de terceiros.
 Convencional: por deliberação de seus membros,
conforme quorum previsto nos estatutos ou na lei;
 Legal: em razão de motivo determinante na lei;
2. FATOS JURÍDICOS (ARTS. 104-
 Administrativa: quando as pessoas jurídicas de-
188, CC)
pendem de aprovação ou autorização do Poder Pú- 2.1 SUPORTE FÁTICO
blico e praticam atos nocivos ou contrários aos seus
fins. Pode haver provocação de qualquer do povo ou Suporte fático é o que é previsto pela regra jurídica e
do Ministério Público; sobre o qual ela incide nos fatos da vida. O suporte
fático há que ser suficiente, sem mais nem menos ele-
 Natural: resulta da morte de seus membros, se
mentos, ou seja, o fato há que se encaixar na descrição
não ficou estabelecido que prosseguirá com os her-
da regra, sob pena de ser insuficiente o suporte fático,
deiros;
tendo como consequência a não entrada para o mundo
 Judicial: quando se configura algum dos casos de jurídico.
dissolução previstos em lei ou no estatuto e a socie-
- Resultado: Fato Jurídico = incidência do suporte
dade continua a existir, obrigando um dos sócios a
fático ao fato da vida
ingressar em juízo.
- Efeito dos fatos jurídicos: Direito Subjetivo
Quanto às pessoas jurídicas de Direito Privado, sua
extinção não se opera de modo instantâneo. Qualquer
que seja seu fator extintivo (convencional, legal, judicial 2.1.1 ELEMENTOS
ou natural) tem-se o fim da entidade; porém, se houver  Fatos da vida que interessam ao mundo jurídico
bens de seu patrimônio e dívidas a resgatar, ela conti-
nuará em fase de liquidação, durantea qual subsiste  Regra Jurídica: são as normas abstratas que su-
para a realização do ativo e pagamento de débitos, bordinam os fatos da vida a uma previsibilidade e
cessando, de uma vez, quando se der ao acervo econô- ordem
mico o destino próprio.  Fato de existir a regra jurídica
Com a extinção de uma associação cujo estatuto não  Fato de incidir: quando ocorre na vida o que a
disponha quanto ao destino de seus bens, e não tendo regra jurídica prevê e regula
os sócios deliberado nada a respeito, evolver-se-á o
patrimônio social a um estabelecimento municipal,  Regra jurídica + incidência
estadual ou federal de fins iguais ou semelhantes. Caso
não haja estabelecimento nessas condições no Municí-
pio, Estado, Distrito Federal ou Território, os bens irão 2.2 FATO JURÍDICO
aos cofres da Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou
Fato Jurídico é o fato ou complexo de fatos sobre o
da União (art. 61, CC).
qual incidiu a regra jurídica.
Com o término de uma sociedade o remanescente de
seu patrimônio social deverá ser partilhado entre os  Fatos jurídicos em sentido amplo: podem ser
sócios ou seus herdeiros. classificados em:

Extinta a fundação (art. 69, CC), seu patrimônio, salvo - fatos jurídicos em sentido estrito (fatos natu-
disposição em contrário no ato constitutivo ou estatuto, rais, que decorrem da natureza);
será incorporado ao de outras fundações designadas - ato-fato jurídico (“mistura” de fatos e atos);
pelo juiz, que visem objetivos idênticos ou similares.
- atos jurídicos em sentido amplo (fatos huma-
Logo, a existência das pessoas jurídicas de Direito Priva- nos, que decorrem da atividade humana).
do finda pela sua dissolução, devidamente averbada no
registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita (art. 51, §
1º), e liquidação. Encerrada a liquidação, promover-se-á  Stricto sensu: Os fatos naturais ou fatos jurídicos
o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica (art. 51, em sentido estrito são frutos apenas de aconteci-
§ 3º). A extinção da pessoa jurídica, com o cancelamen- mentos sociais, onde não importa a presença huma-
to do registro, produzirá efeitos ex nunc (a partir do na. Dividem-se em ordinários (nascimento, morte,
momento da extinção), mantendo-se os atos negociais maioridade, decurso do tempo) e extraordinários
(terremoto, raio, tempestade e outros fatos que se

9
enquadram na categoria de caso fortuito ou força 2.5 ATOS JURÍDICOS LATO SENSU
maior).
Os fatos humanos ou atos jurídicos em sentido amplo
Seu suporte fático tem como irrelevante o ato hu- são acontecimentos fruto da vontade do indivíduo sujei-
mano. O suporte fático descreve apenas o fato. Este to de direito, ou seja, são ações humanas que criam,
fato produz efeitos ex lege. modificam, transferem ou extinguem direitos. O suporte
fático tem o elemento vontade. Essa vontade deve ser
 Fato jurídico: produz efeitos jurídicos = eficácia livre, consciente e com resultado protegido pelo direito
jurídica (para ser válido). Isso é o que o diferencia do ato-fato
jurídico. Aqui passamos pelo plano da validade. A eficá-
cia é ex lege ou exvoluntate. Pode-se subdividir os atos
2.3 ATO JURÍDICO (ART. 185, CC) jurídicos lato sensu em ato jurídico stricto sensu e ne-
gócio jurídico.
- Ato humano
- Vício de vontade: Há casos em que a manifesta-
- Exteriorização ou manifestação de vontade posi- ção de vontade pode ser viciada: erro, dolo, coação,
tiva ou negativa estado de perigo, lesão e fraude contra credores
- Incidência da regra jurídica (arts. 138-164, CC).

Ato jurídico é o ato humano sobre o qual incide a regra Os atos jurídicos lato sensu dividem-se em lícitos e ilíci-
jurídica, e não sobre a sua consequência. tos.

2.5.1 ATO ILÍCITO (ART. 186, CC)


2.4 ATO-FATO JURÍDICO
Os ilícitos, por serem praticados em desacordo com o
É o acontecimento social onde a participação humana é
prescrito no ordenamento jurídico, embora repercutam
relevante, mas não é qualificada, ou seja, não se faz
na esfera do direito, produzem efeitos jurídicos involun-
qualificação da capacidade ou vontade. Ressalta-se a
tários, mas impostos por esse ordenamento. Em vez de
consequência do ato, o fato resultante, sem se levar em
direitos, criam deveres (geram obrigação de reparar o
consideração a vontade em praticá-lo. Isso porque mui-
dano - art. 927, CC).
tas vezes o efeito do ato não é buscado nem imaginado
pelo agente, mas decorre de uma conduta e é sanciona- - Ato humano
do pela lei.
- Contrariedade a direito
Quando há relevância do ato humano, mas irrelevância
- Incidência da regra
da vontade. Os efeitos são ex lege. Também não passa
pelo plano da validade, porque não há vontade. Aqui, no São atos ilícitos os crimes, as ofensas a direitos absolu-
suporte fático há uma conduta humana. tos, a partir-se das negações, as infrações de obrigações
pessoais ou de outras pretensões. Ato ilícito é, portanto,
- Não existe ação anulatória de ato-fato: posse, di-
fonte de obrigação: a de indenizar ou ressarcir o prejuí-
reito autoral, prescrição, decadência, etc.
zo causado. É praticado com infração a um dever de
- O ato-fato pode ser praticado por um agente in- conduta, por meio de ações ou omissões culposas ou
capaz, porque a vontade do agente é irrelevante. dolosas do agente, das quais resulta dano para outrem.
- Em que pese existir no suporte fático do ato-fato
uma ação humana, esta é apenas a alavanca para fa- 2.5.2 LÍCITOS
zer com que o resultado eventual entre no mundo
jurídico. A ação não entra. Por isso diz-se que o ato- São os atos humanos a que a lei defere os efeitos alme-
fato não passa pelo plano da validade. Não se per- jados pelo agente. Praticados em conformidade com o
quire a capacidade do agente nem a forma do ato. ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos volun-
tários, queridos pelo agente.
Os atos lícitos dividem-se em: ato jurídico em sentido
estrito e negócio jurídico.

10
2.6 ATO JURÍDICO STRICTO SENSU (OU
MERAMENTE LÍCITOS)
Quando os efeitos forem ex lege. Conduta humana vo-
luntária onde o sujeito não pode escolher efeitos, fican-
do restrito aos efeitos determinados pela lei (ex lege).
Exemplo: reconhecimento de filho, adoção, emancipa-
ção expressa, prestar testemunho, laudo pericial etc.
 Ato Jurídico Stricto sensu, tem de satisfazer as e-
xigências de capacidade negocial, por serem decla-
rações de vontade. As capacidades para negócios ju-
rídicos, para atos jurídicos para atos ilícitos e para
aquisição de direitos e deveres chamam-se, respec-
tivamente, capacidade negocial, capacidade de atos
jurídicos, capacidade delitual e capacidade de direi-
to.
 Nem todo ato jurídico é ilícito. A diferença é se é
ou não ato contrário a direito.

2.7 NEGÓCIO JURÍDICO (ART. 104 E SS.)


No negócio jurídico há uma composição de interesses,
um regramento geralmente bilateral de condutas,
como ocorre na celebração de contratos. A manifesta-
ção de vontade tem finalidade negocial, que em geral é
criar, adquirir, transferir, modificar, extinguir direitos
etc. Mas há alguns negócios jurídicos unilaterais, em
que ocorre o seu aperfeiçoamento com uma única ma-
nifestação de vontade (testamento, instituição de fun-
dação, renúncia de herança).
Tem efeitos exvoluntate. Negócio jurídico porque os
efeitos são juridicamente negociáveis, nos limites da
lei. Conduta humana voluntária, que permite ao sujeito,
além de acatar os efeitos legais, escolher outros que lhe
sejam convenientes. Ocorrem quando existe por parte
do homem a intenção específica de gerar efeitos jurídi-
cos ao adquirir, resguardar, transferir, modificar ou
extinguir direitos. Exemplo: contratos, testamento (ne-
gócio jurídico unilateral).
 Para ser negócio jurídico não precisa haver duas
partes. Basta que seja possível escolher alguns dos
efeitos, como no caso do testamento.
 O Código Civil utilizou a expressão negócio jurídi-
co para regular pormenorizadamente os atos jurídi-
cos lícitos, já que estes são ricos em conteúdo. Com
relação aos atos jurídicos lícitos que não sejam ne-
gócios jurídicos,há um artigo único (art. 185), em
que se determina que se lhes apliquem, no que
couber, as disposições disciplinadoras do negócio
jurídico.

11
2.8 FATOS JURÍDICOS EM GERAL

FATOS ATOS-FATOS
FATOS JURÍDICOS ATOS-FATOS ATOS ILÍCITOS ATOS JURÍDICOS NEGÓCIOS JURÍ-
JURÍDICOS
“STRICTO SENSU” ILÍCITOS “STRICTO SENSU” JURÍDICOS “STRICTO SENSU” DICOS
ILÍCITOS

Responsabilida- Atos do art. 186


Constituição de
de em caso de Mau uso da e, a contrario Tomada de
Denúncia domicílio (arts.
força maior ou propriedade sensu, do art. posse (art. 1204)
70 a 74)
caso fortuito 188
Tomada de
Duração da vida Gestão de negó-
posse com Outorga de
até certo mo- Ocupação cios sem manda-
violação da poder
mento to (art. 861)
posse de outrem
Gestão de negó-
cios contra a Restituição do
Loucura, surdo- vontade presu- penhor (art.
Especificação Autorização
mudez, cegueira mível ou mani- 1.436, § 2º, 2ª
festada do dono parte)
(art. 875)
Responsabilida-
de por ofensa à
boa-fé no trato
Feitura de livro, Assentimento a
Viuvez dos negócios Perdão
estátua, quadro ato de outrem
(ex: negar-se a
assinar escritura
pública)
Transmissão da
posse, não ex-
Descoberta
Ausência Quitação lege, nem por
científica
tradição (art.
1.204)
Habitação (resi-
Constituto pos-
Parentesco dência) (arts. 70
sessório
a 74)
Renuncia da
propriedade
Invenção (art.
Morte imóvel (arts.
1.233)
1.275, III, e
1.275, § único)
Abandono da Cessão da pre-
Adjunção, mis-
posse (arts. tensão (artigo
tura, confusão
1.223 e.1.224) 1.267, § único)
Aquisição de Abandono da
Promessas
propriedade dos propriedade
unilaterais
frutos (art. 1.275, III)
Imposição de
Perecimento do
nome ou de Contratos
objeto do direito
pseudônimo)
Retirada de
Autoimposição
coisas móveis
de nome e de
que guarnecem
pseudônimo)
o prédio locado
Pagamento

12
2.8.1 ELEMENTOS DOS ATOS E NEGÓCIOS  Validade/Nulidade
JURÍDICOS Toda regra jurídica tem um preceito, mas não necessa-
riamente produz efeitos. No processo de juridicização o
2.8.1.1 DOS PLANOS JURÍDICOS fato jurídico implica produzir efeitos. Ao ser criada regra
 EXISTÊNCIA jurídica, não basta prever o fato. É necessário prever
seus efeitos. Essa eficácia jurídica será:
Se o suporte fático não for exato (a lei e o fato não fo-
rem idênticos) trata-se de inexistência do fato. Falta um - Ex lege: quando a lei fixa os efeitos, sem conteú-
pressuposto do ato. O problema está antes da feitura do do negocial.
ato. Exemplo: o pressuposto da sentença é ser elabora- - Ex voluntate: quando a lei limita (não fixa, limita)
da por juiz, inclusive sua assinatura. o conteúdo negocial (que aqui existe).

Para um fato jurídico ser válido ou inválido é preciso


existir. A ação declaratória de existência está no plano  Requisitos de Validade (art. 104):
da existência, enquanto a ação anulatória está no plano 1. Capacidade do agente(condição subjetiva) e legiti-
da validade. mação: será nulo ou anulável o negócio jurídico se a
O fato só existe quando há suporte fático suficiente (o incapacidade, absoluta ou relativa, não for suprida pela
que permite que a regra incida sobre ele). Quando o representação ou assistência;
suporte fático é insuficiente, a regra jurídica não vai
incidir sobre ele. O fato social ocorre com elementos 2. Objeto lícito, possível, determinado ou determiná-
insuficientes para a regra incidir. vel(condição objetiva): lícito é o objeto que não atenta
contra a lei, a moral ou os bons costumes. A impossibili-
Para a regra jurídica incidir é necessária a ocorrência de:
dade jurídica do objeto ocorre quando o ordenamento
- Vontade (quando o suporte fático a requer): os proíbe negócios a respeito de um determinado bem,
vícios/defeitos da vontade ficam no plano da valida- então possíveis são os objetos capazes de serem presta-
de, bem como a capacidade do agente. Havendo dos;
manifestação de vontade, entra no plano da existên-
cia;
3. Forma prescrita ou não defesa em lei (arts. 104, I a
- Agente:pessoa natural ou jurídica: III): em regra, a forma é livre, a não ser nos casos em
que a lei exige a forma escrita, pública ou particular,
Agente absolutamente incapaz sem representa- para dar maior segurança e seriedade ao negócio jurídi-
ção: existe e é nulo (art. 166, I, CC); co (arts. 107 e 108). Em alguns casos a lei reclama tam-
Agente absolutamente incapaz com represen- bém a publicidade, mediante o sistema de Registros
tante: existe e é válido; Públicos (art. 221).
Agente relativamente incapaz sem assistente:
existe e é anulável (art. 171, I, CC); 4. Elemento vontade,que não pode conter vícios.

Assistente pratica o ato sem o assistido: inexis- a. Erro ou ignorância: representa uma visão equivo-
tente, porque na representação quem pratica o cada da realidade pelo agente, sempre espontânea.
ato é o representante, mas na assistência é o as- O erro tem que ser essencial e escusável. Pode ser
sistido. erro quanto à natureza do negócio, quanto à pessoa,
quanto ao objeto ou quanto à causa.
- Objeto: todo ato jurídico tem um conteúdo, que
é seu objeto. Deve ser plausível no mundo jurídico. A Erro  vício redibitório, pois no erro, a coisa não tem
questão de ser possível às partes será analisada no defeitos, é perfeita em sua natureza, mas há equívo-
plano da validade. co na visão do agente, que vê características que não
existem;
- Forma: meio de externação do objeto jurídico,
que pode ser expressa ou tácita. A expressa pode
b. Dolo: é o induzimento malicioso de alguém à prá-
ser verbal ou escrita (por instrumento público ou
tica de um ato que lhe é prejudicial, mas proveitoso
particular). A tácita decorre de um comportamento,
ao autor do dolo ou a terceiro;
como o silêncio, quando a lei autorizar (art. 111, CC).
c. Coação: emprego da violência psicológica para
viciar a vontade, ou seja, é toda ameaça ou pressão
exercida sobre um indivíduo para forçá-lo, contra

13
sua vontade, a realizar um negócio ou praticar um No plurilateral há a presença de dois ou mais sujeitos de
ato; direito, que somam esforços para um fim comum. As
vontades são convergentes, se combinam, diferente-
d. Estado de perigo: quando alguém se encontra em mente do bilateral, onde as vontades são contrapostas.
situação equiparada ao “estado de necessidade” e, Exemplo: contrato de sociedade.
por isso, assume obrigação excessivamente onerosa
(Exemplo: pessoa que está se afogado e, desespera- 2.8.1.3 INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDI-
da, promete toda sua fortuna para ser salva);
CO
e. Lesão: quando alguém obtém um lucro exagera- Quando determinada cláusula contratual se mostra
do, desproporcional, aproveitando-se da inexperiên- obscura e passível de dúvida, alegando um dos contra-
cia ou da situação de necessidade do outro contra- tantes que não representa fielmente a vontade manifes-
tante; tada por ocasião da celebração da avença, e tal alegação
resta demonstrada, deve-se atentar para o disposto no
f. Fraude contracredores: quando o devedor des- art. 112, CC, no qual pode-se verificar que, nas declara-
falca maliciosa e substancialmente seu patrimônio, a ções de vontade, atender-se-á mais à intenção nelas
ponto de não garantir mais o pagamento de todas as consubstanciada do que ao sentido literal da lingua-
dívidas, tornando-se assim insolvente. Fraude contra gem. Também devem ser interpretados conforme a
credores  fraude à execução: a segunda é um inci- boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113). É
dente no processo disciplinado pelo direito público, como segue o seu texto, conforme Lei 13.874/19:
e pressupõe demanda em andamento, consideran- Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpre-
do-se fraude à execução qualquer alienação efetiva- tados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua
da após a propositura da ação. celebração.
§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe
O ato com defeito pode se nulo ou anulável. Entra-se atribuir o sentido que:
em ambos os casos com ação anulatória e a procedên- I - for confirmado pelo comportamento das partes
cia da ação gera ato anulado. As causas de nulidade posterior à celebração do negócio;
estão no art. 166, CC.
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do
Se o suporte fático não tem defeitos (ineficiente), há mercado relativas ao tipo de negócio;
validade.Sendo deficiente (vício de forma, de vontade III - corresponder à boa-fé;
etc.), aplica-se a teoria das nulidades.
IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o
A validade é concomitante à feitura do ato. Exemplo: dispositivo, se identificável; e
sentença não fundamentada é ato nulo (inválido). O ato
V - corresponder a qual seria a razoável negociação
existe, mas é nulo. Obs: os fatos jurídicos stricto sensu e das partes sobre a questão discutida, inferida das
os fatos ilícitos não passam por este plano. demais disposições do negócio e da racionalidade
O plano da validade nem sempre incide. Com isso, os econômica das partes, consideradas as informa-
ções disponíveis no momento de sua celebração.
negócios podem ser válidos, nulos ou anuláveis. Sendo
nulo ou anulável, a ação a ser proposta será anulatória. § 2º As partes poderão livremente pactuar regras
Pelo plano da validade passam os fatos que dependem de interpretação, de preenchimento de lacunas e
da vontade. Assim, só pode-se ingressar com ação anu- de integração dos negócios jurídicos diversas da-
latória de fatos que dependam da vontade. quelas previstas em lei.

2.8.1.2 CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDI- Ainda, o art. 114 dispõe que “os negócios jurídicos bené-
CO: UNILATERAIS, BILATERAIS E PLURILATE- ficos e a renúncia interpretam-se estritamente”. Benéfi-
RAIS cos ou gratuitos são os negócios que envolvem uma
liberalidade: somente um dos contratantes se obriga,
Negócio jurídico unilateral é aquele que surge por uma enquanto o outro apenas aufere um benefício (Exem-
única vontade, pois só há um sujeito de direito. Exem- plo: doação pura). Devem ter interpretação estrita
plos: promessa de recompensa, proposta, oferta de porque representam renúncia de direitos.
publicidade, títulos de crédito, testamento.
O art. 110, CC, trata, de igual forma, acerca da reserva
No bilateral há uma soma de vontades para gerar de- mental, quando a manifestação de vontade subsiste
terminados efeitos jurídicos. O “modelo padrão” de ainda que o autor haja feito a reserva mental de não
negócio jurídico bilateral é o contrato. querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário

14
tinha conhecimento. Assim,por exemplo, se Pedro faz Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de auto-
uma promessa de recompensa para quem encontrar o rização de terceiro, será validado se este a der posteri-
seu cão perdido, e, no mesmo dia, avisa ao vizinho Luiz ormente (art. 176). Não pode ser pronunciada de ofício,
que nada pagará por isto, e, posteriormente, este en- depende da provocação dos interessados (ou seja, os
contra o animal, o vizinho não terá direito de cobrar o prejudicados), e o efeito de seu reconhecimento é ex
valor, pois tinha ciência da reserva mental. Se outra nunc (produz efeitos até o momento em que é decreta-
pessoa encontrasse o animal e não soubesse desta re- da a sua invalidade, essa não retroage). Ademais, esses
serva mental, teria direito ao valor oferecido a título de efeitos aproveitam apenas aos que a alegaram, salvo o
recompensa. caso de solidariedade ou indivisibilidade (art. 177).

2.8.1.4 ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO  Simulação (art. 167): é o produto do conluio en-
JURÍDICO tre os contratantes, visando obter efeito diverso da-
- Condição:subordina o negócio jurídico a evento quele que o negócio aparente conferir. Pode ser ab-
futuro e incerto; soluta e relativa. Na absoluta, as partes apenas fin-
gem realizar um negócio, para criar a aparência. Na
- Termo: subordina a eficácia do negócio a evento relativa, as partes pretendem realizar determinado
futuro e certo, inevitável; negócio, prejudicial a terceiro ou em fraude à lei, e
- Encargo: ônus ou obrigação ao beneficiário de li- realizam dois negócios: o simulado (aparente, desti-
beralidades, como doações, testamentos. nado a enganar) e o dissimulado (oculto, mas verda-
deiramente desejado). Assim, o negócio simulado
serve apenas para ocultar a efetiva intenção dos
2.8.1.5 INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO contratantes, ou seja, o negócio real.
A expressão “invalidade” abrange a nulidade e a anula- A simulação, absoluta ou relativa, acarreta a nulida-
bilidade do negócio jurídico. É empregada para designar de do negócio simulado. Se relativa, subsistirá o ne-
o negócio que não produz os efeitos desejados pelas gócio dissimulado, se for válido na substância e na
partes, o qual será classificado de acordo com o grau de forma. Ressalvam-se, porém, os direitos de terceiros
imperfeição verificado. de boa-fé, em face dos contraentes do negócio jurí-
dico simulado.
O negócio é inexistente quando lhe falta algum elemen-
to estrutural, como o consentimento (manifestação de
vontade), por exemplo. Se não houve qualquer manifes- 2.8.2 EFICÁCIA
tação de vontade, o negócio não chegou a se formar, e
inexiste. Porém, se a vontade foi manifestada, mas Nem todos os fatos jurídicos produzem efeitos. Os ex
encontra-se eivada de erro, dolo ou coação, por exem- lege sempre produzem, mas os ex voluntate nem sem-
plo, o negócio existe, mas é anulável. Se a vontade e- pre. Dependerá dos elementos acidentais dos contra-
mana de um absolutamente incapaz, maior é o defeito, tos: condição, termo e encargo.
e o negócio existe, mas é nulo.
A eficiência liga-se às condições. São posteriores ao ato,
Um negócio é nulo quando ofende preceitos de ordem mas condicionam sua eficácia. Exemplo: sentença sujei-
pública, que interessam à sociedade. A nulidade deve ta ao reexame necessário, existe, é válida, mas só terá
ser pronunciada de ofício pelo juiz, e seu efeito é ex- eficácia após o reexame necessário.
tunc, pois retroage à data do negócio, para lhe negar
Hipóteses dos fatos jurídicos:
efeitos. A nulidade pode ser alegada por qualquer inte-
ressado, em nome próprio, ou pelo Ministério Público,  Existe, vale e é eficaz.
quando lhe couber intervir, em nome da sociedade que
 Existe, vale, mas não é eficaz. Exemplo: testa-
representa (art. 168).
mento ou seguro de vida de pessoa viva.
Trata-se de negócio anulável quando a ofensa atinge o
 Existe, não vale e não é eficaz. Exemplo: quase
interesse particular de pessoas que o legislador preten-
todos os atos nulos.
deu proteger. Sem estar em jogo interesses sociais,
faculta-se a essas pessoas, se desejarem, promover a  Existe, não vale, mas é eficaz até ser desconstitu-
anulação do ato. Do contrário, o negócio será conside- ído. Exemplo: atos anuláveis.
rado válido se o interessado se conformar com os seus
efeitos e não o atacar, nos prazos legais, ou o confirmar.  Existe e é eficaz. Exemplo: fato stricto sensu ou
A anulabilidade, diferentemente da nulidade, pode ser ato-fato lícito.
suprida pelo juiz, a requerimento das partes, ou sanada,  Existe e é ineficaz. Exemplo: fato stricto sensu e
expressa ou tacitamente, pela confirmação (art. 172). fato ilícito.

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A obrigação prescrita transforma-se, desse modo, em
3. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA obrigação natural, que é aquela em que o credor não
dispõe de ação judicial para exigir do credor o pagamen-
3.1 DISTINÇÃO
to, mas, no caso deste ser feito, pode retê-lo.
Para compreender realmente a distinção entre a pres-
A prescrição não opera, porém, de pleno direito. Deve
crição e a decadência, é preciso uma noção prévia sobre
ser alegada pela parte interessada, como exceção,
as duas categorias em que se dividem os direitos subje-
meio de defesa.
tivos. A primeira engloba aqueles direitos de exigir uma
prestação; a segunda compreende o poder de subme- Para a configuração da prescrição são necessários três
ter a vontade alheia à própria. Estes são chamados de elementos, a saber:
direitos potestativos ou formativos, para distinguir-se
- Um direito subjetivo de prestação lesado, do que
dos demais.
necessariamente nasce uma pretensão de ressar-
 Direito subjetivo de prestação: é o poder que o cimento;
ordenamento jurídico reconhece a alguém de ter, fazer
- A não-exigência do cumprimento do respectivo de-
ou exigir de outrem determinado comportamento. A
ver, ou do ressarcimento do dano;
infração desse comportamento resulta, nas relações
jurídicas patrimoniais, um dano para o titular do direito - E o decurso do prazo que a lei prefixa.
subjetivo. A pretensão revela-se, portanto, como um
A utilidade da prescrição se dá pela necessidade de paz,
poder de exigir de outrem uma ação ou omissão. Impor-
ordem, segurança e certeza jurídica, do contrário, a
tante assinalar que a prestação pode ser positiva (fazer)
qualquer momento poder-se-ia voltar a superadas pre-
ou negativa (não fazer), mas a natureza do direito aqui
tensões e a antigos litígios, uma vez que o que se prote-
discutida não será modificada: em ambos os casos o
ge é o interesse público, embora, de modo particular.
titular do direito poderá exigir uma prestação.
Em verdade, com a prescrição pune-se também a negli-
 Direito potestativo ou formativo: diferente do que gência do titular do direito subjetivo lesado.
ocorre no direito subjetivo de prestação, aqui não se
A prescrição tem por objeto, então, direitos subjetivos
exige que uma pessoa faça ou deixe de fazer alguma
patrimoniais e disponíveis, basicamente as obrigações.
coisa. O titular do direito simplesmente emite uma de-
Não afeta por isso os direitos personalíssimos, os direi-
claração e, com ela, submete a vontade alheia. A grande
tos de estado e os direitos de família, que são irrenunci-
característica dos direitos potestativos é o estado de
áveis e indisponíveis. Os direitos ou as relações jurídicas
sujeição que seu exercício gera para outro sujeito de
afetadas pela prescrição são objeto de ações condena-
direito, independentemente da vontade deste. É fácil
tórias, que visam compelir o devedor a cumprir sua
verificar que, por sua própria natureza, tais direitos não
obrigação ou a puni-lo no caso de inadimplemento.
podem ser violados exatamente porque a eles não cor-
responde uma prestação.
Como exemplo de direito potestativo, podemos indicar 3.2.1 PARTICULARIDADES
o poder que tem um dos cônjuges de promover a sepa-
 Embora deva ser conhecida de ofício, a prescrição
ração judicial, situação em que a decisão de um afetará
pode ser alegada por qualquer interessado, pessoa
a vida do outro, independentemente de sua vontade, e
natural ou jurídica, em qualquer grau de jurisdição (ex-
sem que este possa fazer nada. Outro exemplo pode ser
cepcionada a possibilidade de ser alegada pela primeira
encontrado no poder que um dos contratantes tem de
vez apenas em sede de recurso especial ou extraordiná-
rescindir um contrato, pois ainda que tenha que pagar
rio, face ao requisito do prequestionamento). No caso
multas e indenizações, se uma das partes resolver res-
de incapazes, a prescrição deve ser alegada por seus
cindir o contrato, nada poderá ser feito para demovê-lo
representantes.
da decisão.
 Prescrito o direito principal, prescritos seus acessó-
rios. Assim, prescrita a pretensão de cobrar a dívida,
3.2 PRESCRIÇÃO prescritos os juros e os direitos reais que a garantiam
como penhor ou hipoteca.
É a perda da pretensão em virtude da inércia do seu
titular no prazo fixado em lei. Se o lesado pelo descum-  Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas
primento do direito subjetivo não agir no período legal, têm ação contra os seus assistentes ou representantes
invocando a tutela jurisdicional do estado para a prote- legais, que derem causa à prescrição, ou a alegarem
ção do seu crédito, extingue-se a sua pretensão de exi- oportunamente.
gibilidade quanto ao seu direito subjetivo. A prescrição Entre as normas gerais da prescrição incluem-se ainda
aplica-se apenas aos direitos subjetivos patrimoniais, as que dizem respeito à renúncia. O devedor pode dei-
especificamente às obrigações em sentido técnico.

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xar de alegar a prescrição que o beneficia, a ela renun- A prescrição não se interrompe, porém, com a citação
ciando. É preciso, porém, que a prescrição esteja con- nula por vício de forma, por circunduta, ou por se a-
sumada e que a renúncia não prejudique terceiros. char perempta a instância ou a ação. Citação nula por
Prescrição consumada é a que teve seu prazo totalmen- vício de forma é a que não obedece aos requisitos que a
te decorrido. lei estabelece para a realização desse ato. Comparecen-
do, porém, o réu para arguir a nulidade, e sendo esta
A renúncia expressa é a que resulta de ato inequívoco
decretada, considerar-se-á feita a citação na data em
do prescribente, para o que não impõe a lei forma de-
que ele, ou seu advogado, for intimado da decisão.
terminada. Sendo instituto de ordem pública as partes
não podem convencionar, por exemplo, renúncia à O direito subjetivo atingido é beneficiado pela interrup-
prescrição antes de decorrido o prazo legal. ção, dilatando-se o período para composição do dano;
essa vantagem para o titular do direito subjetivo ofen-
dido corresponde às desvantagens para o prescribente,
3.2.2 CAUSAS QUE IMPEDEM, SUSPEN- que vê retardado o benefício que lhe poderia advir da
DEM E INTERROMPEM A CONTAGEM DO prescrição.
PRAZO DE PRESCRIÇÃO
 Causas que impedem a contagem do prazo de pres- 3.2.3 INTERRUPÇÃO COM PLURALIDADE
crição: constitui-se em um fato que não permite que DE DEVEDORES
comece o prazo prescricional a correr. A lei estabelece
as hipóteses de impedimento do curso prescricional nos  A interrupção por um dos credores solidários, esten-
arts. 197 a 199, CC. de-se aos outros; assim como a interrupção efetuada
contra o devedor solidário envolve os demais e seus
herdeiros (art. 204, § 1º, CC).
 Causas que suspendem a contagem do prazo de
 Havendo solidariedade passiva, a interrupção contra
prescrição: é a cessação temporária do curso do prazo
um dos herdeiros de um dos codevedores só prejudicará
prescricional sem prejuízo do tempo já decorrido. Ces-
aos outros coerdeiros e aos outros co-devedores solidá-
sando as causas suspensivas, a prescrição continua a
rios, se as obrigações forem indivisíveis (art. 204, § 2º,
correr, aproveitando-se o tempo anteriormente decor-
CC).
rido. O devedor fica também impossibilitado de invocar
 A interrupção produzida contra o principal devedor
a prescrição contra o credor. Relativamente a terceiros,
prejudica o fiador (art. 204, § 3º, CC).
a suspensão beneficia todos os credores solidários,
desde que a obrigação seja indivisível. Se não for, pode
beneficiar apenas um desses credores. 3.2.4 DIREITO INTERTEMPORAL NA PRES-
CRIÇÃO
 Interrupção da prescrição é o fato que impede o
fluxo normal do prazo, inutilizando o já decorrido. Qual- O art. 6º, LINDB, dispõe sobre a matéria, estabelecendo
quer ato de exercício ou proteção de determinado direi- que
to tem, por consequência atual a interrupção do prazo
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral,
de prescrição, que volta a correr por inteiro. Nesse as- respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adqui-
pecto a interrupção se difere da suspensão da prescri- rido e a coisa julgada.
ção.

Note-se, ainda, que no impedimento e na suspensão, os Idêntica disposição encontra-se na Constituição Federal,
fatos que as determinam não dependem da vontade art. 5º, XXXVI. Consagram-se assim os dois princípios
humana, são fatos objetivos. Na interrupção, são fatos teóricos sobre a matéria,
subjetivos, dependentes da vontade do agente.
- O do efeito imediato da lei, no sentido de que a lei
A interrupção da prescrição somente poderá ocorrer nova se aplica imediatamente, isto é, no momento em
uma única vez, e recomeça a correr do ato que a inter- que se torna obrigatória, e
rompeu ou do último do processo para interrompê-la. - O da irretroatividade, segundo o qual os fatos ocor-
ridos na vigência da lei antiga continuam por ela regi-
Quanto à legitimidade para promover a interrupção da
dos, em nome da segurança jurídica.
prescrição, qualquer interessado pode fazê-lo, por
exemplo, o titular do direito em via de prescrever, o seu Quando uma lei nova entra em vigor, configuram-se três
representante legal, terceiro com legítimo interesse, espécies de situação jurídica:
como o credor do credor contra quem corre a prescri-
a) as pretéritas, iniciadas e findas antes da vigência da
ção, o fiador deste credor, etc.
nova lei;

17
b) as pendentes, iniciadas antes da vigência da lei e 3.3 DECADÊNCIA
ainda não extintas; e
É a perda do direito potestativo pela inércia do seu
c) as futuras, iniciadas após a vigência da lei nova e titular no período determinado em lei ou contrato. Seu
ainda não concluídas. objeto são os direitos potestativos ou formativos, de
No que diz respeito aos prazos prescricionais, o pro- qualquer espécie, disponíveis e indisponíveis, direitos
blema surge nas situações jurídicas pendentes (jacta que conferem ao respectivo titular o poder de influir ou
pendentia), quando a lei nova incide sobre um prazo em determinar mudanças na esfera jurídica de outrem, por
curso. As situações pretéritas, já consolidadas, estão a ato unilateral, sem que haja dever correspondente,
salvo da lei nova. Com ela, também, consolidar-se-ão as apenas uma sujeição.
situações futuras. Somente no caso das situações em A decadência é uma limitação para o exercício de um
curso é que podem surgir os conflitos de leis no tempo. direito, extinguindo-o e pondo termo ao estado de
Disciplinando a matéria dispõe o Código Civil no seu art. sujeição existente. Aplica-se às relações que não contêm
2.028 que obrigações, sendo objeto de ação constitutiva que te-
nham prazo para serem exercidas.
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos,
quando reduzidos por este Código, e se, na data de Salvo disposição legal, não se aplicam à decadência as
sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais normas que impedem, suspendem ou interrompem a
da metade do tempo estabelecido na lei revogada. prescrição. Desta forma, a regra geral é no sentido de
que os prazos decadenciais não se interrompem ou se
suspendem. Uma exceção a esta regra é encontrada no
Temos, assim, duas hipóteses de aplicação do novo
Código de Defesa do Consumidor, que em seu art. 26 §
Código às situações jurídicas pendentes:
2º, estabelece casos de interrupção de prazo decaden-
1.O novo código reduz o prazo de prescrição. cial.
a)Já decorreu mais da metade do tempo estabelecido Em relação aos absolutamente incapazes não ocorre a
na lei revogada, como pode ser o caso, por exemplo, fluência e prazo decadencial; e os relativamente inca-
da revogada prescrição máxima de 20 anos, hoje con- pazes podem responsabilizar os seus responsáveis le-
templada no art. 205, CC, com previsão de 10 anos de gais, se estes derem causa à decadência, pela ausência
prazo prescricional. Neste caso, aplica-se o prazo de lei oportuna de determinado direito de que o relativamen-
anterior. te incapaz for titular. Sendo matéria de ordem pública, é
nula a renúncia à decadência fixada em lei, sendo de
CC. 2002
admitir-se, a contrario sensu, ser válida a renúncia à
Ex.: ____________________|____________________ decadência estabelecida em negócio jurídico pelas
partes.
No caso de decadência legal, deve o juiz conhecê-la de
11 anos + 9 anos
ofício. No caso de decadência convencional, o interes-
sado, isto é, a parte a quem aproveita, pode alegá-la em
b)Decorreu menos da metade do tempo estabelecido qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a
na lei revogada. Aplica-se o prazo integral do novo có- alegação.
digo, desprezado o prazo já decorrido na vigência da
lei antiga.

CC. 2002
Ex.: ____________________|____________________
9 anos + 10 anos

2.O novo código aumenta o prazo de prescrição.


É o caso, por exemplo, do art. 206, § 1º, CC. Aumentan-
do o novo código o prazo de prescrição, aplica-se o novo
prazo, computando-se o tempo decorrido na vigência
do código anterior.

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3.4 QUADRO COMPARATIVO

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
Todos os prazos regulados nos Todos os prazos regulados no CC
arts. 205 e 206, CC, são de fora dos arts. 205 e 206 são
prescrição. prazos decadenciais.
Exercício de direito subjetivo Exercício do direito potestati-
de prestação vo/formativo.
A prescrição atinge pretensões
de direitos subjetivos patri-
moniais disponíveis (direito
A decadência atinge direitos
de crédito),não afetando
potestativos, disponíveis ou
direitos indisponíveis, como os
indisponíveis.
de personalidade, os de famí-
lia, os de estado e também as
faculdades jurídicas.
O prazo começa a correr da
lesão do direito subjetivo,
momento em que nasce a
pretensão do credor de ver
cumprida a obrigação, ou O prazo começa a correr no
ressarcido o dano a ele impos- momento em que o direito
to pelo devedor inadimplente; nasce, surgindo, simultanea-
* A prescrição iniciada contra mente, direito e termo inicial do
uma pessoa continua a correr prazo.
contra seu sucessor, seja her-
deiro legatário ou cessionário;
é o princípio da accessio tem-
poris.
O prazo pode ser interrompido Salvo exceção legal, o prazo
ou suspenso, ou ter impedi- decadencial não pode ser inter-
mento. rompido ou suspenso.
A prescrição somente pode ser A decadência é estabelecida em
fixada por lei. lei ou pela vontade das partes.
A ação é constitutiva – positiva
Deixa-se de exercitar uma ação ou negativa.
condenatória.
*Existem constitutivas sem
EXCEÇÃO: art. 37, CF – ressar- prazo – imprescritíveis
cimento do erário – condena-
tória imprescritível. *As declaratórias são imprescri-
tíveis.
Transforma a dívida prescrita
em verdadeira obrigação
natural.
A decadência legal (prevista em
lei) deve ser conhecida de ofício.
O juiz deve conhecer de ofício. A decadência convencional
(estabelecida pelas partes não
pode ser conhecida de ofício.

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