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LÓGICA, ARQUITETÔNICA E ESTRUTURAS CONSTITUTIVAS DOS

SISTEMAS FILOSÓFICOS

I. A FILOSOFIA COMO PROBLEMÁTICA E SISTEMÁTICA


 Toda filosofia se coloca como a possibilidade de formulação de uma solução a um
problema dado por meio de uma teoria; ou seja, a filosofia depende de problemas, assim
como a ciência (tese central).
 Assim como esta, também, a filosofia precisa demonstrar a sua teoria; tal demonstração
é feita por meio da lógica e significa a sistematização da tese inicial; tal sistematização,
contudo, não consiste apenas em explicitar uma teoria já existente, mas na própria
validação e constituição de tal teoria.
 O sistema consiste, por conseguinte, na ordenação das diferentes partes de uma ciência
ou filosofia de modo que esta se sustente naturalmente; contudo, enquanto o sistema
científico é aberto, o filosófico é fechado, pois fornece soluções universais e absolutas,
tomadas a priori, para um problema.
 Sendo a sistematização o que caracteriza as filosofias, nenhuma delas pode fugir à
primeira, mesmo que se oponha aos sistemas., caso contrário, será apenas opinião.
 Por conseguinte, o modo de ser da filosofia pressupõe uma objetividade, não sendo
apenas uma visão de mundo particular do filósofo, posto que fundamentada em
conceitos por meio de um raciocínio lógico objetivo.
 Não obstante seu caráter objetivo, as filosofias não se impõem a todos
incontestavelmente; por estarem fundadas também em valores, devem procurar
convencer os seus interlocutores; dessa forma, cada filosofia é, ao mesmo tempo,
logicamente válida e axiologicamente contestável.

II. O CONCEITO DA LÓGICA DA FILOSOFIA


 Como a filosofia é realizada por uma combinação de razões que forma o sistema, é
preciso conhecer qual a “razão” dessas combinações, ou seja, qual a lógica filosófica
dos sistemas filosóficos (conceito de lógica da filosofia).
 Por conseguinte, deve-se entender que cada região do pensamento comporta um tipo de
sistematização, que é sempre aberta (ou seja, uma mesma área da filosofia comporta
vários tipos de sistematização (lógica) possíveis); definida a sistematização, o sistema
haverá de ser fechado.
 Por meio da descoberta do conceito (problema) fundamental de uma área da filosofia,
chega-se à sistematização escolhida pelo filósofo: como há diversas possibilidades de
este lidar com o problema, haverá tantas formas de sistematização quanto há de
possibilidades.

III. PLURALIDADE DAS LÓGICAS DA FILOSOFIA


 No entanto, na prática filosófica, há várias determinações subjetivas que nos impedem
de prever a lógica do sistema a ser construído; assim que, ainda que toda filosofia
preceda de um sistema e que as possibilidades de sistematização sejam determinadas,
sempre há uma originalidade na lógica adotada por um filósofo; cada filósofo cria seu
próprio método.
 Dessa forma, sendo a lógica filosófica sempre original e sendo que cada filósofo terá de
articulá-la a sua maneira, o desenvolvimento lógico de cada filosofia é também criador
e não mero facilitador da exposição de ideias que já existiriam.
 Realizando a sua lógica, toda filosofia passará por dois momentos: primeiramente o de
reforma do entendimento, quando estabelecerá o seu próprio modo de entender o
mundo; em seguida, o de articulação das novas ideias; nesse processo, sempre haverá
uma razão unificadora do entendimento, uma ideia central que homogeneíza suas
ideias; contudo, como a filosofia trata de problemas de diversas matizes e como é
sempre um conhecimento totalizante, deve resolver o problema de ajustar sua estrutura
interna a esses problemas diversos.
 Nesse sentido, a articulação das ideias pode ser pensada em termos de sistemática ou
arquitetônica; esses dois termos podem ser entendidos como distintos, isto é, a
sistemática como a ordenação de ideias a partir de uma regra comum e a arquitetônica
como, ao contrário, a derivação das ideias por meio de um todo a priori, mas também
podem equivaler.
IV. A ARQUITETÔNICA

 Disso resulta que toda filosofia necessita de uma arquitetônica para se desenvolver, isto
é, a lógica filosófica que tal filosofia engendra, pois somente mediante ela é que esta
pode resolver os problemas heterogêneos que se lhe afiguram, ou seja, a partir de um
expediente de homogeneização (por simetrias e extrapolações) levado a cabo por uma
ideia central: e é por esse processo que a filosofia constrói a si própria e não apenas
expõe suas teses.
 Em que pese isso, sempre haverá grandes dificuldades para se compatibilizarem os
problemas heterogêneos com que lidam as filosofias.
 No entanto, a arquitetônica ou, em outras palavras, analisarem-se as estruturas
constitutivas de cada filosofia, que sempre se afiguram diferentes umas das outras, é
ainda fundamental para que se possa apreender o significado de uma doutrina filosófica,
pois nenhuma filosofia pode ser meramente enunciada, ignorando-se o procedimento
pelo qual se constituiu.

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