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Especialmente em virtude de esse método ter como preceito e objetivo principal

a reconstrução dos movimentos do autor estudado, situando cada uma de suas ideias em
relação àquelas que a antecedem e a sucedem no interior do texto onde se encontram,
mediante o que adquirem o seu sentido; bem como, posteriormente, em relação ao
sistema de pensamento do autor, no interior da sua obra.

Ferramenta metodológica rigorosa, o “método de leitura estrutural” preconiza


que, para fins de leitura, interpretação e pesquisa, o texto seja a fonte primária do seu
próprio sentido. Entretanto, de um jeito que inclui, necessariamente, o seguinte preceito,
que figura como o seu objetivo principal: de que reconstruamos o movimento, bem
como, em relação ao sistema de pensamento do autor, no interior da sua obra.
Mas também, e não menos importante ou dissociado do preceito anterior, o
“método de leitura estrutural” requer que partamos da premissa metodológica de haver
uma unidade de base entre o método expositivo das ideias, teses ou proposições de um
texto – isto é, a forma mediante a qual ele assim o faz – e o método cujas essas mesmas
ideias, teses ou proposições são os resultados da sua aplicação onde elas foram
descobertas. Isso quer dizer que, no tocante a este trabalho de pesquisa, será preciso que
consideremos o método psicanalítico – o mesmo que facultou as teses e descobertas
psicanalíticas onde ele é eminentemente aplicado, isto é, na clínica – como colocado em
ato na forma pela qual os textos, especialmente os de Freud e Lacan, expõem-nas.
A seguir, com vistas à utilização do “método de leitura estrutural” neste
trabalho, sobretudo dos preceitos há pouco referidos, nos dedicaremos inicialmente
àquilo que Christian Dunker (2022) nos diz sobre a sua aplicabilidade na leitura,
especialmente neste caso, dos textos das falas de Lacan. Nessa ocasião, Dunker (2022)
confere certa primazia ao “método de leitura estrutural”, situando-o como uma
ferramenta indispensável para que, só então, possamos nos encaminhar em direção aos
demais níveis ou momentos por ele propostos, o da interpretação e o da pesquisa em
psicanálise.1 Senão vejamos.

É no contexto de uma crítica dirigida às formas pelas quais se faz a pesquisa histórica
acerca do sistema de pensamento de um filósofo que Victor Goldschmidt (1949/1970),
em Tempo histórico e tempo lógico na interpretação dos sistemas filosóficos,
a necessidade de se compreender o fenômeno de superestimação sexual, segundo
o pensamento de Freud, mediante as articulações de uma estrutura global, de que recebe
sua plena significação.

O artigo intitulado Tempo histórico e tempo lógico na interpretação dos


sistemas filosóficos, de Victor Goldschmidt (1949/1970), concentra-se numa discussão
sobre o método de interpretação e de pesquisa em história da filosofia. Neste artigo,
segundo Oswaldo Porchat, no prefácio da tradução para o português do livro no qual ele
se encontra:

se patenteia a preocupação de fazer da História da Filosofia uma ciência rigorosa, e em


que se buscam as regras que permitem alcançar, na exposição e interpretação dos
sistemas filosóficos, uma real objetividade, a salvo das distorções frequentemente
produzidas pelos prejuízos doutrinários dos que erigem seus próprios dogmas em cânon
para uma análise interpretativa, pretensamente crítica, do pensamento filosófico.
Objetividade que consiste na reconstituição explícita do movimento do pensamento do
autor, refazendo seus mesmos caminhos de argumentação e descoberta, segundo seus
diversos níveis, respeitando todas as suas articulações estruturais, reescrevendo, por
assim dizer, segundo a ordem das razões, a sua obra, sem nada ajuntar, entretanto, que
o filósofo não pudesse e devesse assumir explicitamente como seu.

Embora não sejamos ingênuos acerca da impossibilidade da tarefa de se


reescrever, objetivamente, aquilo que este ou aquele autor verdadeiramente nos disse –
sem contar os graves (des)caminhos a que isso pode nos conduzir –, abandoná-la, à
pretexto de não nos sê-la plenamente possível, não nos leva a um lugar melhor; podendo
nos conduzir a outros muito mais graves em termos de consequências. Ademais, é
precisamente considerando à impossibilidade plena desta tarefa que só assim podemos
1
Façamos observar que as ideias de Dunker (2022) de que nos ocuparemos daqui por diante se encontram
expostas em um vídeo com propósitos de divulgação da psicanálise, hospedado no seu canal do YouTube;
daí seu tom aparentemente informal. Apesar disso, o esforço de Dunker (2022) em se fazer entender por
um público, em sua maioria, leigo fornece um precioso material de reflexão ao pesquisador psicanalítico,
deixando transparecer a excelência do trabalho do autor no que tange à atividade de pesquisa em
psicanálise.
dar a ver, não a “objetividade” em si mesma ou primeiramente; mas, isto sim, aquilo
que de “subjetivo” pode repousar, tanto sob o pretexto de buscá-la, como também, e
sobretudo, sob o de negá-la. Por isso que, na sequência do parágrafo anterior, Porchat
nos fala da atitude exigida – mesmo que, de todo, inalcançável – àquele que procura se
manter a salvo das distorções frequentemente produzidas pelos prejuízos doutrinários
dos que erigem seus próprios dogmas em cânon para uma análise interpretativa,
pretensamente crítica, do pensamento de um autor:

É certo que uma tal atitude, própria a quem não quer julgar um autor, mas compreendê-
lo, exige um esforço penetrante de inteligência, uma rigorosa disciplina intelectual, a
ausência de todo preconceito e dogmatismo. Exige que o intérprete se faça discípulo –
ainda que provisoriamente – e discípulo fiel. O que é lamentável, entretanto, é que sob a
influência de certo relativismo em moda, mal compreendido aliás, se veja recusar por
alguns a própria possibilidade teórica dessa objetividade desejável para todo historiador.
Lançando mão de argumentos capciosos ou sofísticos, um historicismo superficial
torna-se apenas cômodo pretexto para dogmatismos fáceis e intolerantes: “refuta-se”,
“julga-se”, critica-se um autor e sua doutrina, sem ter-se levado a cabo a exigência de
compreensão objetiva, e postulando-se paradoxalmente o caráter irrealizável da
pretensão a uma tal compreensão.

É nessa toada que Goldschmidt (1949/1970) reduz a dois os métodos


tradicionais de interpretação dos sistemas filosóficos de pensamento, respectivamente
denominados de “dogmático” e “genético”: um sistema filosófico de pensamento “pode
ser interrogado, seja sobre sua verdade, seja sobre sua origem; pode-se pedir-lhe que dê
razões, ou buscar suas causas.” Sendo que, nos dois casos, considera-se o sistema
filosófico de pensamento, “sobretudo, como um conjunto de teses, de dogmata.”

O primeiro método, que se pode chamar dogmático, aceita, sob ressalva, a pretensão dos
dogmas a serem verdadeiros, e não separa a léxis (A. Lalande) da crença; o segundo,
que se pode chamar genético, considera os dogmas como efeitos, sintomas, de que o
historiador deverá escrever a etiologia (fatos econômicos e políticos, constituição
fisiológica do autor, suas leituras, sua biografia, sua biografia intelectual ou espiritual
etc.).

O primeiro método é eminentemente filosófico: ele aborda uma doutrina conforme à


intenção de seu autor e, até o fim, conserva, no primeiro plano, o problema da verdade;
em compensação, quando ele termina em crítica e em refutação, pode-se perguntar se
mantém, até o fim, a exigência da compreensão.
A interpretação genética, sob todas as suas formas, é ou pode ser um método científico
e, por isso, sempre instrutivo; em compensação, buscando as causas, ela se arrisca a
explicar o sistema além ou por cima da intenção de seu autor; ela repousa
frequentemente sobre pressupostos que, diferentemente do que acontece na
interpretação dogmática, não enfrentam a doutrina estudada para medir-se com ela, mas
se estabelecem, de certo modo, por sobre ela e servem, ao contrário, para medi-la.

Enfim, o método dogmático, examinando um sistema sobre sua verdade, subtrai-o ao


tempo; as contradições que é levado a constatar no interior de um sistema ou na
anarquia dos sistemas sucessivos, provêm, precisamente, de que tôdas as teses de uma
doutrina e de tôdas as doutrinas pretendem ser conjuntamente verdadeiras, “ao mesmo
tempo”. O método genético, pelo contrário, põe, com a causalidade, o tempo; além
disso, o recurso ao tempo e a uma “evolução” permite-lhe, precisamente, explicar e
dissolver essas contradições. — Ora, a história da filosofia, assim como Husserl o
exigira da própria filosofia, deveria, e ao mesmo tempo, ser “ciência rigorosa” e,
entretanto, permanecer filosófica. M. Guéroult, comentando a obra de E. Bréhier,
lembrou, não faz muito, que “a história da filosofia é, antes de tudo, filosofia, mas que
ela não tem valor para a filosofia senão permanecendo intransigente sôbre a verdade
histórica” 1, — É para a elaboração de um método, ao mesmo tempo, científico e
filosófico, que quereriam contribuir as notas seguintes.

A progressão (método) dêsses movimentos dá à obra escrita sua estrutura e


efetua-se num tempo lógico. A interpretação consistirá em reapreender, conforme à
intenção do autor, essa ordem por razões e em jamais separar as teses dos movimentos
que as produziram. Precisemos êsses diferentes pontos.
O primeiro pretende, é certo, abordar uma doutrina segundo a intenção de seu autor a
aceitar a pretensão dos dógmata a serem verdadeiros. Examina um sistema sobre sua
verdade, subtrai-o ao tempo: para fazê-lo, isola as teses de seu contexto filosófico, isto
é, da estrutura que as engendrou e sustenta: tal método frequentemente se converte em
crítica e em refutação. Descobre contradições nos sistemas, sem dar-se conta de que isso
implica quase sempre uma teoria particular da contradição, que já é uma posição
dogmática. Ignora no mais das vezes um perigo fundamental que espreita sempre o
intérprete: o de assumir uma posição polêmica em face da obra estudada – a melhor
maneira de não compreendê-la.

Não é senão em aparência que o outro método, o genético, escapa a esse perigo. Ele
busca descrever a etiologia (fatos econômicos, sociais e políticos, constituição
psicofisiológica do autor, sua formação etc.) dos dógmata considerados, então, como
meros efeitos desses fatores. É lícito, sem dúvida, e cientificamente interessante, estudar
um autor do ponto de vista sociológico, psicológico ou psicanalítico. Nada haveria a
dizer contra tal empreendimento se não fora sua frequente tentação de “esquecer” a
pretensão das doutrinas à verdade, de desprezar a especificidade propriamente
filosófica, e de reduzir a filosofia à condição de mero resultado, geneticamente
reconstituível a partir de elementos
infraestruturas conhecidos.

Ambos os métodos têm isto em comum: eles dissociam método e estrutura, e


ignoram a ordem das razões, isto é, precisamente essa solidariedade estrutural entre as
teses e os movimentos de pensamento que nelas culminam.

dão um pensamento desenvolvido, onde as “teses” não valem por causa de seu
conteúdo material, mas pretendem-se verdadeiras em razão dos movimentos e processos
de investigação de que resultaram.

Se há um pressuposto no método estruturalista — e é o único, e o que caracteriza


a sua total isenção — é que o filósofo é considerado responsável pela totalidade de sua
doutrina, assumida como tal por êle, e que é, portanto, na sua compreensão dela,
explicitada ou implícita nela, que se deve buscar a inteligência de suas asserções. Se
chegou a estas, graças ao método de investigação e pesquisa que adotou, separá-las
destes te é subtrair-lhes toda condição de inteligibilidade.

Percorrer essa estrutura que se constrói ao longo da progressão metódica da obra


e que define sua arquitetônica é situar-se num tempo que não é dos relógios nem vital
nem psicológico, mas puramente lógico. Essa temporalidade das razões, independente
das temporalidades em que as investigações genéticas encadeiam os sistemas, é a em
que nos situamos ao refazer os caminhos do autor e repor em movimento a estrutura de
sua obra. À iniciativa dêsse tempo, insiste Goldschmidt, não é do intérprete, mas do
filósofo.

Goldschmidt reduz a dois os métodos tradicionais de interpretação dos sistemas


filosóficos, que denomina respectivamente dogmático e genético. O primeiro pretende,
é certo, abordar uma doutrina segundo a intenção de seu autor a aceitar a pretensão dos
dógmata a serem verdadeiros. Examina um sistema sobre sua verdade, subtrai-o ao
tempo: para fazê-lo, isola as teses de seu contexto filosófico, isto é, da estrutura que as
engendrou e sustenta: tal método frequentemente se converte em crítica e em refutação.
Descobre contradições nos sistemas, sem dar-se conta de que isso implica quase sempre
uma teoria particular da contradição, que já é uma posição dogmática. Ignora no mais
das vêzes um perigo fundamental que espreita sempre o intérprete: o de assumir uma
posição polêmica em face da obra estudada — a melhor maneira de não compreendê-la.

Não é senão em aparência que o outro método, o genético,


escapa a êsse perigo. Éle busca descrever a etiologia (fatos econômicos,
sociais e políticos, constituição psicofisiológica do autor,
sua formação etc.) dos dógmata considerados, então, como
meros efeitos dêsses fatôres. É lícito, sem dúvida, e cientificamente
interessante, estudar um autor do ponto de vista sociológico,
psicológico ou psicanalítico. Nada haveria a dizer contra tal
empreendimento se não fôra sua freqüente tentação de “esquecer”
a pretensão das doutrinas à verdade, de desprezar a especificidade
prdpriamente filosófica, e de reduzir a filosofia à condição
de mero resultado, genêticamente reconstituível a partir de elementos
infra-estruturais conhecidos. Tomemos o exemplo de certa
sociologia do conhecimento atualmente em voga: escolhem-se
certas teses ou formulações de uma doutrina, retiradas de seu
contexto estrutural próprio, apontam-se elas como a síntese fundamental
da doutrina em questão e converte-se esta então em simples
reflexo ideológico de determinadas condições históricas,
culturais, e principalmente sócio-econômicas do tempo que a
viu formar-se. Ora, não sômente essa seleção e isolamento de
teses é artificial e implica numa deformação fundamental da
doutrina (tal como acontece com o método dogmático: não é
a tese ou o dogma que distingue o filósofo do homem comum
mas o movimento metódico de um pensamento estruturado ), mas
também, de outro lado, tais estudos genéticos repousam, no
mais das vêzes, sôbre preconceitos doutrinários mal disfarçados
a que está subjacente, por mais que se queira negá-lo, uma
determinada filosofia (uma certa concepção filosófica da história,
por exemplo), senão tôda uma metafísica.

destinado a se opor, em matéria de pesquisa histórica acerca dos sistemas


filosóficos de pensamento, ao que ele chamou de “método genético” de interpretação.
Outrossim, tem em vista propor uma alternativa ao “método genético”, o qual sugere
que designemos como “método dogmático”, também conhecido como “método de
leitura estrutural”.
Como nos explica Goldschmidt (1949/1970), para ambos os métodos – o
“dogmático” e o “genético” – um sistema filosófico ou de pensamento corresponde a
um conjunto de teses ou dogmas, os quais, como não poderia ser diferente, se
pretendem verdadeiros em sua totalidade. É precisamente com vistas ao
restabelecimento de uma certa unidade de pensamento de um autor qualquer, sobretudo
por ocasião dos impasses que nos são interpostos durante a leitura/interpretação de uma
obra, que se recorre a esses dois métodos; sendo que é aqui começa a diferença entre
eles. No método genético, se “considera os dogmas como efeitos, sintomas, de que o
historiador [intérprete/pesquisador] deverá escrever a etiologia (fatos econômicos e
políticos, constituição fisiológica do autor, suas leituras, sua biografia intelectual ou
espiritual etc.).” (Goldschmidt, 1949/1970, p. 139). Ao passo que, no “método de leitura
estrutural” ou “dogmático”, o intérprete/pesquisador “aceita, sob ressalva, a pretensão
dos dogmas a serem verdadeiros, e não separa a léxis (A. Lalande) da crença”
(Goldschmidt, 1949/1970, p. 139).
Em suma, orientados pelo método genético, buscaríamos reconstruir a unidade
de um sistema de pensamento com base em elementos extratextuais, com vistas a
explicá-lo por sobre a obra escrita propriamente dita, inquirindo-a fundamentalmente
sobre as suas causas/motivações que a produziram. Enquanto isso, o método dogmático
preconiza que o façamos conforme coordenadas essencialmente intratextuais, sobretudo,
levando em conta suas formas de expressão discursivas (a léxis) e admitindo a premissa
(ainda que provisória) de que um texto deve ser lido como parte de um sistema coerente
de argumentos, conceitos e proposições, pelos quais pretende justificar ser verdadeiro.
(Rezende, 2019; Macedo Jr., 2007). De modo que, “diante de eventuais lacunas e
aparentes contradições, o leitor deverá, antes de tudo, procurar a interpretação que
permita recuperar a coerência e a lógica interna dos argumentos .” (Macedo Jr., 2007, p.
5). Isso, porém, não quer dizer que devemos partir da premissa “de que todos os
argumentos de um autor sejam lógicos num sentido da lógica formal, mas sim no
sentido de que pressupõem uma coerência construtiva e sistemática.” (Macedo Jr., 2007,
p. 07). Tampouco isso quer dizer que o “método de leitura estrutural” exija a aceitação
ou repulsa das ideias do autor estudado por parte de quem dele se vale ou desencoraja a
formação de uma opinião pessoal sobre as suas teses. (Macedo Jr., 2007).

A pesquisa, em matéria de filosofia, não procede somente da verdade [crença], mas faz
corpo com ela. Assim, para compreender uma doutrina, não é suficiente não separar a
léxis [a forma discursiva] da crença, a regra [preconizada pelo método], de sua prática; é
preciso, após o autor, refazer os movimentos concretos, aplicando as regras [do método
utilizado pelo autor em questão] e chegando a resultados que, não por causa de seu
conteúdo material, mas em razão desses movimentos, se pretendem verdadeiros. Ora,
esses movimentos se nos apresentam na obra escrita. (Goldschmidt, 1949/1970, p. 142,
grifos do autor).

É ao encontro disso que caminha a seguinte resposta de Lacan a Paolo Caruso


sobre o seu famigerado “retorno a Freud”, numa entrevista concedida em meados da
década de 60 por ocasião do lançamento dos seus “Escritos” (Lacan, 1966/1998):

Meu “retorno a Freud” significa simplesmente que os leitores se preocupem em saber o


que Freud quer dizer, e a primeira condição para isso é que o leiam com seriedade. Só
que isso não é suficiente, porque uma vez que uma boa parte da educação secundária e
superior consiste em impedir que a gente saiba ler, é necessário todo um processo
educativo que permita apreender a ler de novo um texto. [...] não basta falar sobre o
método experimental para saber praticá-lo. Isso posto, saber ler um texto e
compreender o que quer dizer, perceber de que “modo” está escrito (no sentido
musical), em que registo, implica muitas outras coisas, e sobretudo, penetrar na lógica
interna do texto em questão. [...] A melhor maneira de praticar a crítica sobre textos
metodológicos ou sistemáticos é a de aplicar ao texto em questão o método crítico que
ele mesmo preconiza. Assim, ao aplicar a crítica freudiana aos textos de Freud, chega-
se a descobrir muitas coisas. (Caruso, 1966/69, pp. 95-96, tradução e grifos nossos).2

trata dos dois métodos pelos quais um sistema filosófico ou de pensamento é


interpelado/interpretado. Um deles corresponde ao “método dogmático” ou “método de
leitura estrutural”, enquanto o outro consistiria no “método genético”. No primeiro,
preconiza-se que o texto seja a fonte primária da produção do seu próprio sentido, ao
passo que, no segundo, privilegia-se a biografia ou demais aspectos – para dizermos
assim – extratextuais.

formas pelas quais se busca

a história da filosofia ou do pensamento filosófico de um autor que

dirigida à pesquisa histórica sobre o pensamento filosófico de

a forma pela qual se faz àqueles cuja pesquisa se destinada a retratar

2
Mi «retorno a Freud» significa simplemente que los lectores se preocupen por saber qué es lo que
Freud quiere decir, y la primera condición para ello es que lo lean con seriedad. Y no basta, porque
como una buena parte de la educación secundaria y superior consiste em impedir que la gente sepa leer,
es necesario todo un proceso educativo que permita aprender a leer de nuevo un texto. […] no basta con
hablar de método experimental para saberlo practicar. Sentado esto, saber leer un texto y comprender lo
que quiere decir, dar-se cuenta de que “modo” está escrito (en sentido musical), en que registro, implica
muchas otras cosas, y sobre todo, penetrar en la lógica interna del texto en cuestión. […] La mejor
manera de practicar la crítica sobre textos metodológicos o sistemáticos es la de aplicar al texto en
cuestión el método crítico que él mismo preconiza. Así, al aplicar la crítica freudiana a los textos de
Freud, se llegan a descubrir muchas cosas.
Citamos, algumas linhas atrás, uma frase do autor sôbre a
necessidade de compreender-se a religião, em Platão, na sua inserção
natural no contexto filosófico, isto é, no seu caráter de
momento interno a ser apreendido segundo as articulações de
uma estrutura global, de que recebe sua plena significação. Estas
considerações permitem-nos abordar ràpidamente um tema

o do
método em história da filosofia.

“a única maneira de estudar a religião de Platão segundo o espírito


e a própria intenção do autor veda-nos subtraí-la a seu
contexto propriamente platônico e prescreve-nos compreendê-la
na sua relação com o próprio pensamento de Platão, isto é, com
sua filosofia”.

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