1. O objeto fundamental do método estrutural de leitura é o protagonismo que se
confere à estrutura interna dos textos filosóficos. 1.1. O texto, portanto, será lido segundo um sistema coerente de argumentos, conceitos e proposições e que mesmo diante de eventuais lacunas e equívocos textuais, o leitor procurará uma interpretação que permita restaurar a coerência e a lógica interna de seus argumentos. 1.2. Além disso, ressalta-se a postura do leitor que se coloca diante do texto filosófico como um discípulo provisório. 1.2.1. Ou seja, o seu juízo e opiniões acerca das estruturas argumentativas do texto são provisoriamente suspensas. Aceita-se o que está posto. 2. É importante notar, que o método estrutural de leitura concebe o filósofo como o detentor de uma ordem própria, de u ma obra original que vai sendo elaborada segundo um sistema de procedimentos. 2.1. Por conseguinte, para o leitor compreender determinado texto deve-se investigar os motivos que levaram o filósofo a tomar aquela decisão argumentativa, o método empregado para se chegar àquela lógica própria, seguir as migalhas de pão ao longo do caminho deixadas pelo autor. 2.2. Se o leitor não pode ver essa ordem própria, não poderá compreender a lógica por detrás do texto do filósofo. 3. Percebe-se, portanto, que o texto deve ser compreendido a partir de um sistema a que pertence, segundo a ordem interna das razões, recuperando o tempo lógico interno textual. 3.1. Esse tempo lógico sutilmente se coloca diante de nós para que a partir de uma reorganização, de um movimento – o qual não é sequencial, cronológico ou temporal – revele a real intenção do filósofo sublimada no texto. 3.1.1. A ideia de movimento aqui, conecta-se fortemente à ideia de uma estrutura, organizada pelo desenvolvimento do pensamento do autor. 3.1.2. A ação de movimentar algo – blocos textuais, frases, orações - constitui a reorganização formal do texto em novas estruturas, revelando o que pensa e o que quer dizer o filósofo. 4. Dessa maneira, ao refazer após o autor um movimento sobre a estrutura que a obra encerra, compreende-se a relativa independência perante os outros tempos das pesquisas que têm por base os dados sociais, fatos históricos ou histórias das ciências, mas que não podem agregar em si um método de todo filosófico. 5. Pode-se dizer portanto, que a interpretação estrutural é filosófica, uma vez que busca a compreensão de um sistema filosófico, a partir das ideais, método de exposição e intenções do próprio autor. 5.1. Logo, o aprendizado da filosofia por meio de textos, necessita da aprendizagem da sua própria lógica interna, da sua interpretação como um sistema estruturado. 6. Dessarte, a história da filosofia serve ao aprendizado filosófico, mas será tal método exposto o mais adequado? 7. E mais, o que se pode dizer sobre argumentos que dizem que “a história erudita do passado nunca foi tarefa do verdadeiro filósofo”, que não devemos misturar história da filosofia com a filosofia, que tal atitude poderá desencorajar os jovens a produzirem seus próprios conceitos ao apresen tar-lhes um amontoado de opiniões ou finalmente, que a história da filosofia só conseguiria ridicularizar a própria filosofia, desvirtuando-a de seu caminho? O rigor metódico da leitura e interpretação estrutural, não seriam entraves à vontade pessoal e legítima do aluno de querer filosofar, inibindo a reflexão e a vocação filosófica? 8. Primeiramente, apropriar-se do método sistemático de leitura constitui uma técnica para o avivamento do pensamento em geral. 8.1. E isso é um fator importante uma vez, que no con texto educacional brasileiro os estudantes que ingressam na universidade possuem a habilidade de leitura mal desenvolvida. 8.2. Ler um texto – e mais ainda – lê-lo bem, respeitando seus tempos e entendendo o que o autor quer informar, é uma atividade fundamental de aprofundamento em quase todas as disciplinas. 8.2.1. Isso porém, ainda não tangencia os saberes e metodologia do método estrutural de análise dos textos filosóficos e funcionaria como uma “propedêutica a todo ensino rigoroso”. 8.2.2. Esse caminho funcionaria enfim, como uma condução às indagações mais profundas, demandas mais difíceis de serem solucionadas caso o estudante, enveredasse pelos caminhos da história da filosofia. 9. E por que, enveredar-se pelos caminhos da história da filosofia? 10. Porque a leitura dos clássicos é importante para a compreensão da filosofia do presente, pois “o estudo do passado sempre dirá alguma coisa relevante para o presente” e que o “estudo da história da filosofia é o estudo da própria filosofia”. 10.1. Entretanto, o ingresso do estudante de filosofia nos textos conceitualmente complexos, exige um método, sendo o método estrutural uma introdução à própria filosofia. 10.2. De maneira gradual o estudante percebe que as exigências de rigor e cuidado que a leitura exige, se originam na “própria organização conceitual dos textos filosóficos”. 10.3. E mais, o método estrutural de análise com a reconstrução da ordem das razões do pensamento do autor, fornece inteligibilidade ao pensamento. 11. A utilização desse método enfim, torna-se útil para a aprendizagem filosófica, pois prepara o estudante para ler de maneira adequada os textos filosóficos, os quais se apresentam como os primeiros passos para que se aprenda a filosofar.
É no contexto de uma crítica dirigida às formas pelas quais se faz a pesquisa histórica acerca do sistema de pensamento de um filósofo que Victor Goldschmidt