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Superpotências: ao assalto da África

Por: CARLOS REIS, Jornalista


“No século XXI, África constitui-se definitivamente como fornecedor de


recursos naturais das duas superpotências. A China não impõe
contrapartidas políticas, enquanto os Estados Unidos não são indiferentes
aos problemas de segurança e às emergências humanitárias. A não
ingerência de Pequim é mais sedutora para os Estados africanos.
Com a ascensão da China ao estatuto de superpotência, o novo milénio
apresenta-se como um mundo bipolar tendo como centros Washington e
Pequim. A nova realidade é visível especialmente no relacionamento do G2,
a China e Estados Unidos, com África. Os países do continente menos
desenvolvido passaram a contar com as opções das vias norte-americana ou
chinesa. Pequim oferece a harmonia ao proclamar a ajuda ao
desenvolvimento sem pré-condições e ao prezar a paz, desenvolvimento e
comércio e ignorar modelos políticos ou económicos. O gigante asiático não
está nos negócios com África para exportar modelos de desenvolvimento ou
projetos políticos, em oposição aos Estados Unidos, que pretendem
contrapartidas como mais democracia, liberdade, direitos humanos e o
domínio da lei.
O Governo de Hu Jintao pretende apenas fazer negócios em paz sob a sua
conceção do mundo em que o crescimento é o objetivo absoluto. Uma visão
estratégica assente na convicção de que a economia resolverá a maioria dos
problemas de direitos e desenvolvimento humano do continente. Esta
ênfase na harmonia abona a favor de Pequim, tanto mais que rivaliza com a
estratégia de compensações norte-americana. «Se o consenso de
Washington é ideologicamente intervencionista, o emergente consenso de
Pequim parece ideologicamente agnóstico», observa Roger Cohen, colunista
do diário «The New York Times».

Enquanto a Administração norte-americana condiciona a ajuda a África à


democracia e combate à corrupção, a China faz acordos energéticos sem
pré-condições como o estabelecido no FOCAC, o fórum de cooperação
China-África. Os países africanos têm agora uma superpotência alternativa e
podem desvalorizar não só os Estados Unidos, como o G8, grupo dos países
mais industrializados, e as ONG de ajuda ao desenvolvimento, muito
preocupadas com a boa governabilidade e os direitos humanos. (…)”

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