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III
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Unidos receberam críticas de todos os lados — inclusive daqueles que compareceram ao evento,
como o presidente do Chile, Gabriel Boric, e a presidenta de Barbados, Sandra Mason.
O levante da voz dessas lideranças mostra uma inversão nas dinâmicas de poder. Historica-
mente, os Estados Unidos sempre usaram de sua força política e econômica para interferir nas
relações de seus vizinhos, e é difícil acreditar que, anos atrás, algum desses países teriam “coragem”
de negar um pedido da Casa Branca, como acontece agora.
De fato, o papel da China na América Latina cresceu rapidamente. Em 2000, o mercado chinês
representou menos de 2% das exportações da América Latina, mas logo houve um boom de com-
modities na região. Nos oito anos seguintes, o comércio cresceu a uma taxa média anual de 31%,
atingindo o valor de US$ 180 bilhões em 2010. Em 2021, o comércio totalizou US$ 450 bilhões, e
os economistas preveem que poderá ultrapassar US$ 700 bilhões até 2035.
Essa ascensão da presença chinesa em territórios vizinhos acende alerta na Casa Branca, que
também disputa a liderança geopolítica com Pequim em outros lugares. Paralelamente, com o dis-
tanciamento da América Latina, os Estados Unidos se veem em uma posição mais frágil — e isso
pode ser crucial quando se fala na possibilidade de uma recessão.
“Não acho que há alguma relação que possa salvar os Estados Unidos de uma crise, mas tenho
certeza que, se a relação com os países vizinhos fosse melhor, o impacto poderia ser amortecido. A
história nos prova a importância da comunidade em tempos difíceis”, diz Michael Shifter, presidente
do centro de pesquisas Inter-American Dialogue.
Prova do fracasso das tentativas da Casa Branca em retomar o “namoro” com os vizinhos foi
a pouca importância dada ao evento por parte da imprensa internacional. A cobertura da Cúpula
das Américas foi pífia no exterior, e tampouco ajudou o fato de que nenhum grande acordo ou
contrato tenha sido firmado.
Aliás, pelo contrário, a grande “conquista” do encontro dos líderes na semana passada foi um
acordo de colaboração para as questões imigratórias. Os países presentes se comprometeram a
colocar sob rédeas questões humanitárias, a fim de reduzir o fluxo migratório rumo às fronteiras
estadunidenses. O documento, embora redigido de maneira humanitária, reforça a ideia de que
há uma crise de imigração.
Enquanto se ocupa de levantar mais muros e grades, os Estados Unidos perdem a oportunidade
de construir pontes com quem lhe cerca. O isolamento social que a maior potência do mundo falhou
em colocar em prática durante a pandemia, pode ser justamente o efeito colateral de uma política
desajeitada, que tende a subjugar tudo e todos que estão ao sul de sua fronteira.
Fique ligado!
Evento diplomático foi questionado até mesmo por participantes após Casa Branca decidir vetar países da
região.
Sexto orador na ocasião, o presidente argentino foi direto já no começo de seu discurso:
“Lamento que não podemos estar presentes todos os que devíamos estar, neste âmbito tão propício
ao debate”, afirmou, logo após estimar os esforços para realizar a Cúpula.
Em seu discurso, Fernández não deixou de fora nenhuma das temáticas mais caras à região
latino-americana: os impactos da guerra na Ucrânia, da crise climática e da fome sobre uma região
que emite pouco gases do efeito estufa, contribui para emissão de oxigênio no planeta e é grande
produtora de alimentos. Além disso, falou da sujeição econômica na lógica de dívidas imposta aos
países em desenvolvimento; e do papel da Organização dos Estados Americanos (OEA) no golpe
de Estado na Bolívia.
Na semana em que enviou ao Congresso Nacional o projeto de lei para arrecadar parte do lucro
inesperado de grandes empresas na Argentina que cresceram graças à guerra na Ucrânia, Fernández
também apontou para a desigualdade perpetuada pelo poder econômico concentrado. “Devemos
abordar a necessidade de políticas impositivas progressivas, mesmo quando as elites domésticas
nos apresentem como um perigo para a qualidade democrática”, destacou.
“O lucro inesperado que a guerra entregou como um presente a grandes corporações alimen-
tícias, petroleiras e armamentistas deve ser taxada para melhorar a distribuição de renda.”
“Presidente, Biden, tenho certeza de que este é o momento de abrir-se de modo fraterno
em prol de favorecer interesses comuns. Os anos prévios à sua chegada ao governo dos Estados
Unidos estiveram guiados por uma política imensamente danosa para nossa região, executada pela
administração que o precedeu. É hora de que essas políticas mudem e os danos sejam reparados.”
Na sequência, apontou contra as instituições internacionais que operam contra países da região.
“A OEA foi utilizada como um soldado que facilitou um golpe de Estado na Bolívia. Apro-
priaram-se da condução do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que historicamente
esteve em mãos latino-americanas. Foram desbaratadas as ações de aproximação a Cuba”, afirmou.
“A intervenção do governo de Donald Trump no Fundo Monetário Internacional foi decisiva para
facilitar um endividamento insustentável a favor de um governo argentino em decadência”, disse,
em referência à presidência de Mauricio Macri, cúmplice de Trump, único momento em que citou
a política de seu país em particular. “Por tamanha indecência, hoje, todo o povo argentino sofre.”
FATORES
ͫ Embora as tensões entre a Rússia e a Ucrânia tenham escalado rapidamente no final
de 2021, suas raízes remontam ao passado histórico e às relações territorial, cultural e
política entre esses dois países.
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ͫ A possibilidade de a Ucrânia ingressar na Otan é uma das causas do conflito. Isso signifi-
caria maior aproximação em relação ao Ocidente e perda de influência da Rússia sobre
o país.
ͫ Além disso, levando em conta os objetivos dessa aliança, os demais países-membros
da Otan protegeriam de forma direta e indireta a Ucrânia, o que poderia aumentar a
capacidade militar do país e representar uma ameaça para a Rússia.
ͫ Uma profunda crise política que se instalou na Ucrânia após a suspensão das negociações
com a União Europeia e a questão da Crimeia são também causas do conflito.
ͫ Pouco antes da invasão de fato, que aconteceu em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia
reconheceu a independência das regiões separatistas da Ucrânia.
ͫ Algumas das consequências do conflito são a grande onda de refugiados ucranianos,
centenas de mortos e feridos, além de sanções econômicas contra a Rússia e os membros
de seu governo de maneira pessoal.