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Noções fundamentais de Direito do Trabalho


Noções fundamentais de Direito do Trabalho

Francisco Tavares Noronha Neto

Publicado em 12/2005. Elaborado em 11/2005.

Sumário: Introdução. 1. Definição. 1.1. Critério


subjetivista. 1.2. Critério
objetivista. 1.3. Critério misto ou complexo. 1.4.
Definição do autor. 2. Objeto. 3.
Autonomia. 3.1 Autonomia
legislativa. 3.2. Autonomia doutrinária. 3.3. Autonomia
didática. 3.4. Autonomia
jurisdicional. 3.5. Autonomia científica. 4.
Características. 4.1.
Tendência ampliativa. 4.2. Protecionismo. 4.3. Dirigismo
estatal. 4.4
Estabelecimento de relações de subordinação 4.5. Enfoque coletivo. 4.6.
Caráter
cosmopolita. 4.7. Promoção de reformas sociais. 4.8. Socialidade. 5.
Denominação. 5.1. Legislação do Trabalho. 5.2. Legislação e Direito
Industrial. 5.3.
Direito Operário. 5.4. Direito Corporativo 5.5. Direito Social.
5.6. Direito do
Trabalho. 6. Natureza ou posição enciclopédica. 6.1.
Teoria do Direito Público.
6.2. Teoria do Direito Privado. 6.3. Teoria do
Direito Misto. 6.4. Teoria do Direito
Social. 6.5. Teoria do Direito Unitário ou
do Direito Misto com Unicidade Conceitual.
7. Divisões.
7.1. Direito Individual do Trabalho. 7.2. Direito Tutelar do Trabalho.
7.3.
Direito Coletivo do Trabalho. 8. Funções. 8.1. Função tutelar. 8.2.
Função
econômica. 8.3. Função social. 8.4. Função conservadora. 8.5. Função
coordenadora.
Bibliografia.

Introdução

                        O presente trabalho tem finalidade eminentemente didática.


Sem intuito
exaustivo, objetiva expor, de modo sistemático, objetivo e
consistente, alguns dos
principais aspectos introdutórios da ciência
justrabalhista, abordando integralmente
o primeiro item do Programa de Direito
Individual do Trabalho para o Concurso de
Juiz do Trabalho Substituto, contido
no anexo da Resolução Administrativa nº
907/2002 do Tribunal Superior do
Trabalho.
            A metodologia aplicada foi, fundamentalmente, de compilação,
sem abster-se,
o autor, de posicionar-se diante de algumas das mais intrincadas
questões científicas
apresentadas.

            Dentro destes parâmetros, o presente trabalho aborda: no


primeiro capítulo,
os diferentes critérios utilizados para o estabelecimento de
uma definição para o
ramo jurídico em estudo, finalizando com a definição
formulada pelo autor; no
segundo capítulo, a delimitação de seu objeto; no
terceiro capítulo, a questão da
autonomia do Direito do Trabalho em relação ao
Direito Civil; no quarto capítulo,
seus principais caracteres; no quinto
capítulo, as principais denominações utilizadas
no passado para referir-se à
disciplina em estudo, buscando apresentar as razões
históricas de seu uso
pretérito e desuso atual; no sexto capítulo, as teorias existentes
acerca da
natureza jurídica do ramo do Direito que ora se estuda; no sétimo capítulo,
suas
divisões assinaladas pela doutrina; no oitavo e último capítulo, as funções do
Direito do Trabalho.

1. Definição

            A tarefa de explicitar a estrutura essencial do ramo


especializado do Direito,
denominado "Direito do Trabalho", tem conduzido
juristas à adoção de
posicionamentos distintos que podem ser agrupados em três
grandes grupos, de
acordo com o critério adotado para a construção das
definições: subjetivista,
objetivista e misto ou complexo.

            1.1.Critério subjetivista

            O critério subjetivista enfatiza os sujeitos das relações


jurídicas reguladas pelo
Direito do Trabalho, ora frisando o aspecto da
debilidade econômica dos
trabalhadores como objetivo principal das normas deste
ramo do Direito, ora
posicionando a classe trabalhadora como objeto de suas
conceituações.

            As definições formuladas com fulcro neste critério buscam


explicitar a que
tipos de trabalhadores são aplicadas as normas do Direito do
Trabalho. Para alguns,
todos os trabalhadores são destinatários das regras do
ordenamento jurídico
trabalhista, posição demasiadamente ampla, pois há labor
humano regulado por
outros ramos do Direito (civil e administrativo). Para
outros, somente uma espécie de
trabalhadores, denominados "empregados", são
destinatários das normas
trabalhistas, posição que é demasiadamente restrita,
pois determinadas espécies de
trabalhadores não empregados (avulsos, por
exemplo) têm suas relações reguladas
pela legislação do trabalho.

                        Este critério, embora largamente utilizado por doutrinadores


estrangeiros,
possui pouco prestígio na doutrina brasileira.
                        De acordo com a doutrina subjetivista, o Direito do trabalho
poderia ser
definido como um conjunto de normas jurídicas destinadas a proteger
os
economicamente mais fracos (trabalhadores ou empregados) diante dos mais
fortes
(tomadores de serviço ou empregadores).

            Conforme o ensino de MAURÍCIO GODINHO DELGADO, "dos três


enfoques
utilizados para a construção de definições, o menos consistente, do
ponto de vista
científico, é, sem dúvida, o subjetivista. É que, considerada a
relação de emprego
como a categoria fundamental sobre que se constrói o Direito
do Trabalho,
obviamente que o ramo jurídico especializado não irá definir-se,
sob o ponto de vista
técnico, a partir de qualquer de seus sujeitos, mas a
partir de sua categoria
fundamental. Por outro lado, o caráter expansionista
desse ramo jurídico tem-no
feito regular, mesmo que excepcionalmente, relações
jurídicas de trabalho que não
envolvem exatamente o empregado – o que torna o
enfoque subjetivista inábil a
apreender todas as relações regidas pelo ramo
jurídico em análise" [01].

            1.2.Critério objetivista

            O critério objetivista enfatiza o objeto das relações


reguladas pelo Direito do
Trabalho. As definições baseadas neste critério buscam
determinar, não as pessoas a
que se aplicam as normas trabalhistas, mas as
matérias por elas reguladas.

                        As definições objetivistas, assim como as subjetivistas, não


são uniformes.
Para alguns, o Direito do Trabalho regula todas as relações de
trabalho. Para outros,
somente a relação de trabalho subordinado.

            É objetivista a definição de IVES GANDRA DA SILVA MARTINS


FILHO, para
quem "o Direito do Trabalho é o ramo do Direito que disciplina as
relações de
emprego, tanto individuais como coletivas" [02]

                        Do mesmo modo, segue o critério objetivista, a definição de


MESSIAS
PEREIRA DONATO, segundo a qual o Direito do Trabalho é o "corpo de
princípios e
de normas jurídicas que ordenam a prestação do trabalho subordinado
ou a este
equivalente, bem como as relações e os riscos que dela se originam"
[03].

            Convém observar que as mesmas observações formuladas acerca


do critério
subjetivista são válidas para a análise das definições fundamentadas
no presente
critério. Nas palavras de AMAURI MASCARO NASCIMENTO, "há correlação
entre
os dois ângulos e ambos se confundem, o pessoal e o material" [04]

            Assim, as definições que restringem o objeto do Direito do


Trabalho à relação
de emprego falham por desconsiderarem outros tipos de
relações trabalhistas
reguladas por este ramo do Direito e as definições que
enquadram qualquer relação
de trabalho no âmbito objetivo deste ramo jurídico
especializado, ampliam
demasiadamente o seu objeto, fazendo-o invadir a esfera
de aplicação do Direito Civil
e do Direito Administrativo.

            1.3.Critério misto ou complexo

            As definições elaboradas com alicerce no critério misto


caracterizam-se pela
combinação dos dois elementos anteriores: o sujeito e a
matéria disciplinados pelo
Direito do Trabalho. Assim, abrangem tanto as
pessoas, como o objeto deste ramo do
Direito, buscando uma unidade que melhor
explique o seu conteúdo.

            Este critério tem sido utilizado pela maior parte da doutrina


brasileira. São
complexas as definições de ARNALDO SUSSEKIND, AMAURI MASCARO
NASCIMENTO, EVARISTO DE MORAES FILHO, MAURÍCIO GODINHO
DELGADO, OCTAVIO BUENO
MAGANO e SERGIO PINTO MARTINS, entre outros.

                        Para EVARISTO DE MORAES FILHO e ANTONIO CARLOS FLORES DE


MORAES, "o direito do trabalho é o conjunto de princípios e normas que regulam
as
relações jurídicas oriundas da prestação de serviço subordinado, e
excepcionalmente
do autônomo, além de outros aspectos destes últimos como
conseqüência da situação
econômico-social das pessoas que o exercem" [05]

                        Com semelhante conteúdo, ARNALDO SUSSEKIND formulou a


seguinte
definição: "Direito do Trabalho é o conjunto de princípios e normas,
legais e
extralegais, que regem tanto as relações jurídicas individuais e
coletivas, oriundas do
contrato de trabalho subordinado e, sob certos aspectos,
da relação de trabalho
profissional autônomo, como diversas questões conexas de
índole social, pertinentes
ao bem-estar do trabalhador" [06]

            Segundo AMAURI MASCARO NASCIMENTO, "Direito do trabalho é o


ramo
da ciência do direito que tem por objeto normas jurídicas que disciplinam
as relações
de trabalho subordinado, determinam os seus sujeitos e as
organizações destinadas à
proteção desse trabalho, em sua estrutura e atividade"
[07].

                        MAURÍCIO GODINHO DELGADO define o Direito Material do


Trabalho
como "complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam
a relação
empregatícia de trabalho e outras relações normativamente
especificadas,
englobando, também, os institutos, regras e princípios
concernentes às relações
coletivas entre trabalhadores e tomadores de serviços,
em especial através de suas
associações coletivas" [08]

                        A definição de OCTAVIO BUENO MAGANO enuncia que o Direito do


Trabalho é o "conjunto de princípios, normas e instituições, aplicáveis à
relação de
trabalho e situações equiparáveis, tendo em vista a melhoria da
condição social do
trabalhador, através de medidas protetoras e da modificação
das estruturas sociais"
[09]

                        Para SERGIO PINTO MARTINS, "Direito do Trabalho é o conjunto


de
princípios, regras e instituições atinentes à relação de trabalho subordinado
e
situações análogas, visando assegurar melhores condições de trabalho e sociais
ao
trabalhador, de acordo com as medidas de proteção que lhe são destinadas"
[10]

            FRANCISCO METON MARQUES DE LIMA propõe duas definições para o


ramo jurídico em estudo: uma definição sintética, de índole objetivista; e uma
definição analítica, que utiliza o critério misto. Sinteticamente, define o
Direito do
Trabalho como "o ramo do Direito que trata das relações individuais e
coletivas
oriundas do vínculo empregatício e de outras relações especiais de
trabalho
subordinado, impondo normas de conduta e oferecendo soluções aos
conflitos daí
advindos" [11]. Em sua definição analítica, revela que
o "Direito do Trabalho é o ramo
do Direito constituído do conjunto de princípios
e regras que regula o contrato de
trabalho, seus sujeitos e objeto, os entes
coletivos representantes dos patrões e dos
trabalhadores, e, ao mesmo tempo,
disciplina as relações individuais e coletivas
oriundas do trabalho subordinado
e similar entre os sujeitos e entre estes e o Estado"
[12]
.

            1.4.Definição do autor

                        O autor do presente trabalho entende que o Direito do


Trabalho pode ser
definido sob duas perspectivas: como conhecimento humano e
como direito objetivo.

                        Como conhecimento humano, o Direito do Trabalho é o ramo da


ciência
jurídica que tem por objeto de estudo os princípios e normas que regulam
as relações
de emprego, as relações de trabalho temporário e as relações de
trabalho avulso.

                        Como direito objetivo, o Direito do Trabalho é o conjunto de


princípios e
normas que regulam as relações de emprego, as relações de trabalho
temporário e as
relações de trabalho avulso.

            Estas definições foram formuladas com apoio no critério


objetivista. Verifica-
se que debilidade econômica do trabalhador foi um fenômeno
indispensável para a
formação do direito laboral e que a proteção que ser humano
que trabalha recebe da
legislação trabalhista é característica marcante deste
ramo do Direito, mas estes fatos
não integram sua estrutura essencial.

            As relações coletivas de trabalho não foram contempladas nas


supra-expostas
definições, pois o autor entende, em dissonância com a maioria
dos doutrinadores
brasileiros, que estas relações constituem objeto de um ramo
jurídico autônomo,
conhecido como "Direito Coletivo do Trabalho" ou "Direito
Sindical" [13].
2.Objeto

            O Direito do Trabalho, do modo que foi concebido em


Versailles, teve a relação
de trabalho pessoal, subordinado, remunerado e não
eventual, chamada "relação de
emprego" , como categoria básica a partir de que
foram desenvolvidos seus
princípios, regras e institutos essenciais.

            Posteriormente, por meio de leis especiais, duas outras


formas de trabalho
individual passaram a integrar o objeto deste ramo do
Direito, embora não se
confundam com a relação empregatícia: a prestação de
serviços de caráter
transitório, com intermediação de empresa de trabalho
temporário (trabalho
temporário), e a prestação de serviços intermitentes,
mediante requisição de mão-de-
obra a um órgão gestor de mão de obra ou
sindicato, que escala trabalhadores
cadastrados para os serviços (trabalho
avulso).

            MAURÍCIO GODINHO DELGADO observa que estas categorias


ingressaram
no Direito do Trabalho, "não pela natureza de sua relação jurídica
particular (que não
é empregatícia), porém em decorrência de expressa
determinação legal" [14]

            Apesar da ampliação objetiva por que vem passando o Direito


do Trabalho,
permanecem excluídas, da sua área de abrangência, todas as relações
de trabalho não
incluídas nas três categorias supramencionadas (relação de
emprego, trabalho avulso
e trabalho temporário). Assim, o trabalho autônomo, o
trabalho eventual, o trabalho
prestado por servidores públicos estatutários, o
trabalho voluntário, entre outras
formas de labor humano, não são reguladas pelo
Direito do Trabalho.

                        Como a maior parte de doutrina brasileira não reconhece a


autonomia do
Direito Coletivo do Trabalho, freqüentemente é apontado, como
objeto do Direito do
Trabalho, também, matéria sindical como a greve, a
negociação coletiva e a própria
organização dos sindicatos. Posição esta,
consagrada nas palavras de ARNALDO
SUSSEKIND: "há, portanto, no Direito do
Trabalho princípios e normas sobre
relações individuais de trabalho e direito
coletivo do trabalho, abrangendo este
último a organização sindical, a
negociação coletiva e a greve" [15].

                        Assim, conforme o posicionamento adotado pelo estudioso


quanto à
autonomia do Direito Sindical, pode-se visualizar o objeto do Direito
do Trabalho de
duas formas. A primeira, defendida pelo autor desta obra,
reconhecendo a autonomia
do Direito Coletivo do Trabalho, aponta as relações de
emprego, trabalho avulso e
trabalho temporário como objeto deste ramo jurídico
especializado. A segunda, mais
ampliativa, entendendo que o Direito Coletivo do
Trabalho é, apenas, uma subdivisão
do Direito do Trabalho, entende que, além das
três relações trabalhistas mencionadas
anteriormente, também constituem objeto
do Direito do Trabalho as relações
coletivas de trabalho e a organização
sindical.
            É pacífico o entendimento doutrinário de que a Seguridade
Social, que engloba
a Previdência Social, a Saúde e a Assistência Social, já
alcançou autonomia científica,
de modo que seu conteúdo não mais integra o
objeto do Direito do Trabalho.

            Não obstante ainda haja discussões acerca da autonomia do


Direito Processual
do Trabalho, há consenso entre os doutrinadores no sentido de
que a matéria por ele
regulada não pertence ao Direito do Trabalho. Os que não
lhe reconhecem a
autonomia, entendem-no ser mero desdobramento do Direito
Processual Civil.

3.Autonomia

            Um ramo jurídico alcança autonomia quando, por possuir


princípios, objeto,
instituições, normas próprias e maturidade doutrinária,
desprende-se do ramo em
que foi originado.

            Atualmente, não há dúvidas quanto à autonomia do Direito do


Trabalho. Esta
autonomia tem sido abordada pelos doutrinadores sob cinco
perspectivas: autonomia
legislativa ou legal, autonomia doutrinária, autonomia
didática, autonomia
jurisdicional e autonomia científica.

            3.1.Autonomia legislativa

            O Brasil não possui um Código de Trabalho como possui a


França. No entanto,
em virtude da existência da Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT, que representa
um estatuto próprio e independente, além da
publicação de um grande número de
leis esparsas tratando de matéria trabalhista;
diversos doutrinadores, a exemplo de
AMAURI MASCARO NASCIMENTO, ARNALDO
SUSSEKIND, EVARISTO DE
MORAES FILHO, MOZART VICTOR RUSSOMANO, ORLANDO GOMES e
SERGIO
PINTO MARTINS entre outros, têm reconhecido a autonomia legislativa do
Direito
do Trabalho brasileiro.

            3.2.Autonomia doutrinária

            A autonomia doutrinária traduz-se na existência de uma


bibliografia própria. É
notória a existência de grande número de obras
doutrinárias sobre Direito do
Trabalho no Brasil, incluindo obras clássicas de
reconhecimento nacional e
internacional.

            3.3.Autonomia didática

                        A autonomia didática do Direito do Trabalho revela-se na


inclusão de sua
matéria no currículo acadêmico das faculdades de Direito, assim
como sua exigência
nos Exames de Ordem, obrigatórios para a habilitação do
bacharel em direito como
advogado.
            3.4.Autonomia jurisdicional

                        A autonomia jurisdicional evidencia-se pela existência de um


órgão
especializado do Poder Judiciário que aplica o ramo jurídico em estudo: a
Justiça do
Trabalho.

            3.5.Autonomia científica

            Demonstra-se a autonomia científica do Direito do Trabalho


pela formulação
de institutos e princípios próprios, distintos dos institutos e
princípios do Direito
Civil e dos demais ramos jurídicos, como o princípio da
proteção ao trabalhador, da
continuidade dos contratos de trabalho, da
irrenunciabilidade de direitos, etc.

4.Características

            Como ramo jurídico autônomo, o Direito do Trabalho possui


características
próprias, que, em seu conjunto, o diferenciam dos demais ramos
do Direito.

                        Nas palavras de EVARISTO DE MORAES FILHO e ANTONIO CARLOS


FLORES DE MORAES, "o direito do trabalho é um ramo novo, autônomo,
independente,
da comum ciência jurídica, e por isso mesmo reveste-se de
manifestações
próprias, de notas típicas, que bem o singularizam e o destacam em
relação às
outras espécies do gênero único do direito... Caráter em lógica significa
tudo o
que faz parte da compreensão total de um determinado objeto. Uns são
comuns a
mais de um objeto; outros, próprios somente; outros, ainda, essenciais;
alguns,
puramente acidentais. O que importa fixar é que o conjunto de caracteres
constitui o todo, que acaba por apresentar fisionomia própria e individual a um
dado
objeto. Não se deve citar este ou aquele caráter isolado, e sim a
totalidade deles,
porque em nenhum outro objeto se apresentarão todos reunidos,
na mesma ordem e
com a mesma eficácia" [16].

                        Apesar da importância do tema, poucos doutrinadores


brasileiros têm se
dedicado à fixação das características do Direito do
Trabalho.

            Segundo FRANCISCO METON MARQUES DE LIMA, caracterizam este


ramo
jurídico especializado: "socialidade, imperatividade, protecionismo,
coletivismo,
justiça social, distribuição de riqueza" [17]. Não se
ocupa, contudo, o mencionado
professor, em revelar o significado e alcance de
cada uma das características
apontadas.

                        EVARISTO DE MORAES FILHO e ANTONIO CARLOS FLORES DE


MORAES, a
fim de fixar o que consideram caracteres fundamentais do Direito do
Trabalho,
fizeram a seguinte exposição: "a) é um direito in fieri, um werdendes
Recht, que tende cada vez mais a ampliar-se; b) trata-se de uma
reivindicação de
classe tuitivo por isso mesmo; c) é intervencionista, contra o
dogma liberal da
economia, por isso mesmo cogente, imperativo, irrenunciável; d)
é de cunho
nitidamente cosmopolita, internacional ou universal; a) os seus
institutos mais
típicos são de ordem coletiva ou socializante; f) é um direito
de transição, para uma
civilização em mudança" [18].

            Seguindo a mesma orientação, ALICE MONTEIRO DE BARROS leciona


que
"entre as características do Direito do Trabalho, a doutrina nacional
aponta: a) a
tendência in fieri, isto é, à ampliação crescente; b) o fato
de ser um direito ‘tuitivo’, de
reivindicação de classe; c) de cunho
untervencionista; d) o caráter cosmopolita, isto é,
influenciado pelas normas
internacionais; e) o fato de os seus institutos jurídicos
mais típicos serem de
ordem coletiva ou socializante; f) o fato de ser um direito em
transição".
[19]

                        Sem intuito exaustivo, pode-se apontar, como características


principais do
Direito do Trabalho, as seguintes: a) tendência ampliativa; b)
protecionismo; c)
dirigismo estatal; d) estabelecimento de relações de
subordinação; e) enfoque
coletivo; f) caráter cosmopolita; g) promoção de
reformas sociais e h) socialidade.

            4.1.Tendência ampliativa

            Esta característica, que corresponde ao que EVARISTO DE


MORAIS FILHO e
ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES chamaram de Werdendes Recht
(direito
em vir a ser), significa que o Direito do Trabalho é um direito em
formação, que ainda
não alcançou a plenitude de seus institutos. Possui,
portanto, propensão à ampliação
de seu conteúdo.

                        Verifica-se que este ramo especializado do Direito tende a


incluir, em seu
âmbito de aplicação, um número cada vez maior de categorias de
relações laborais
até então excluídas de sua regulamentação: do momento de sua
concepção como
ramo autônomo, quando se limitava a regular as relações de
emprego, aos dias atuais,
seu objeto já foi ampliado para regular o trabalho
temporário e o trabalho avulso, e
não há sinais de que esta tendência de
ampliação objetiva tenha cessado.

                        EVARISTO DE MORAES FILHO e ANTONIO CARLOS FLORES DE


MORAES,
fazendo referência à lição de GRANIZO e ROTHVOSS, lecionam que "o
direito do
trabalho cresce, realmente, procurando ampliar o seu conteúdo em três
direções
bem nítidas: em intensidade, em extensão territorial e em extensão pessoal.
Em
intensidade, porque aumenta cada vez mais os benefícios em favor dos sujeitos
desta legislação; em extensão territorial, porque se estende sempre mais no
espaço
geográfico, interno ou internacional; em extensão pessoal, de vez que
tende a incluir
em seu âmbito um número cada vez maior de pessoas, até então
ausentes de sua
proteção" [20].

            É válido ressaltar que a permanência do crescimento em


intensidade, com o
aumento permanente dos benefícios concedidos aos
trabalhadores, nos dias atuais, é
questionável em virtude da inclinação das
legislações hodiernas à flexibilização do
Direito do Trabalho.

            4.2.Protecionismo

            Esta característica, também apontada por FRANCISCO METON


MARQUES
DE LIMA, que está relacionada à "reivindicação de classe tuitivo"
referida por
EVARISTO DE MORAES FILHO e ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES,
significa que este ramo jurídico, por meio de suas regras e princípios, cumpre
uma
função tutelar do trabalhador, protegendo-o diante do detentor do poder
econômico
que com ele se relaciona.

            Esta tutela é realizada por meio de normas elaboradas pelo


Estado ou por meio
dos poderes, restritivos da autonomia individual, conferidos
aos sindicatos, o que é
resultado de ampla atuação da classe trabalhadora na
reivindicação de uma legislação
de caráter tuitivo.

            4.3.Dirigismo estatal

                        Esta característica, que coincide com o "intervencionismo"


apontado por
EVARISTO DE MORAES FILHO e ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAES e
parece
coincidir com a "imperatividade", de que trata FRANCISCO METON
MARQUES DE LIMA,
revela que o Direito do Trabalho tem se constituído de um
conjunto de princípios
e normas restritivas da autonomia da vontade.

            Por meio da legislação trabalhista, o Estado abandona o seu


papel clássico,
propagado pela Revolução Francesa, de Estado negativo, para
assumir uma postura
positiva diante do impulso individualista dos detentores dos
meios de produção,
mitigando a liberdade de contratar das classes trabalhadoras,
impondo direitos
subjetivos irrenunciáveis aos trabalhadores e,
conseqüentemente, deveres jurídicos
inegociáveis aos que exploram sua faina.

            4.4.Estabelecimento de relações de subordinação

                        A ciência jurídica reconhece duas espécies de relações entre


os sujeitos de
direito: relações de coordenação ou de igualdade e relações de
subordinação ou de
desigualdade.
            Numa relação de coordenação, os sujeitos possuem direitos
equivalentes e as
normas que definem a solução dos conflitos dela oriundos não
devem ser
interpretadas de modo a privilegiar um em detrimento do outro. É o
tipo de relação
que prevalece no Direito Civil.

            Uma relação de subordinação, de modo diverso, estabelece


privilégios para um
dos sujeitos, a favor de quem sempre são interpretadas as
normas que solucionam
suas disputas. É o tipo de relação que prevalece no
Direito Administrativo, no Direito
do Consumidor e, também, no ramo jurídico em
estudo.

            O Direito do Trabalho não trata os sujeito da relação como


iguais, capazes de
se relacionarem em condições equivalentes, mas, pelo
contrário, reconhece a
inferioridade do trabalhador diante do empresário, motivo
por que cria privilégios ao
hipossuficiente, a favor de quem suas normas devem
ser interpretadas, a fim de
reduzir, por meio da desigualdade jurídica criada, a
desigualdade de fato existente.

            Trata-se de uma aplicação da clássica noção aristotélica de


justiça, segundo a
qual deve-se tratar desigualmente os desiguais, na medida de
sua desigualdade.
Neste sentido, pode-se afirmar que este ramo jurídico
especializado constitui um
recurso do Estado para a promoção da distribuição de
riquezas, característica que foi
apresentada por FRANCISCO METON MARQUES DE
LIMA.

            4.5.Enfoque coletivo

                        O Direito do Trabalho, atualmente, consagra o primado do todo


sobre as
partes, tendo em vista uma certa coletividade de trabalhadores, e não o
trabalhador
individualmente considerado.

            4.6.Caráter cosmopolita

                        Esta característica traduz-se na verificação de grande número


de aspectos
comuns nos ramos jurídicos trabalhistas de diversos Estados
Soberanos e na
existência de um Direito Internacional do Trabalho em formação.
Trata-se de uma
conseqüência da tendência de ampliação do seu conteúdo em
extensão territorial.

            Conforme o ensino de EVARISTO DE MORAES FILHO e ANTONIO


CARLOS
FLORES DE MORAES, "apresenta-se o direito do trabalho, desde a sua
origem,
dominado por inequívoco espírito cosmopolita. Em que pese às pequenas
diferenças
locais, criaram a técnica moderna e os meios de comunicação e
locomoção os
mesmos problemas humanos e sociais por toda parte. A chamada
sociedade
industrial, com todas as suas conseqüências é a mesma no mundo
moderno, com
maiores ou menores desenvolvimentos. Com ela instalou-se um estado
econômico,
de produção e de consumo, mais ou menos uniforme, que somente poderia
condicionar uma capa de cultura jurídica também homogênea e uniforme" [21].
            O reflexo mais evidente do caráter cosmopolita do Direito do
Trabalho é a
atividade exercida pela Organização Internacional do Trabalho – OIT
na formulação
de regras de aplicação universal, que, paulatinamente, tendem a
igualar as condições
de trabalho em diversos Estados do mundo.

            4.7.Promoção de reformas sociais.

                        Esta característica, apontada por EVARISTO DE MORAES FILHO e


ANTONIO CARLOS FLORES DE MORAIS, e que, provavelmente, relaciona-se com a
"distribuição de riquezas" citada por FRANCISCO METON MARQUES DE LIMA,
revela a
função coordenadora dos interesses de empresários e trabalhadores, exercida
pelo
Direito do Trabalho, por meio de medidas que visam realizar os fins sociais
almejados pela sociedade.

                        Nas palavras de EVARISTO DE MORAES FILHO e ANTONIO CARLOS


FLORES DE MORAES, parodiando KILPATRICK, "o direito do trabalho é um direito
para uma civilização em mudança. Em nenhum outro ramo jurídico encontramos
essas
tarefas de mediador, de compromisso, de transição e de transação, entre duas
classes sociais em confronto; uma que dispõe dos meios de produção e outras que
colocam a sua atividade a proveito daquela e sob suas ordens. Controle formal da
mudança a que assistimos na sociedade dos nossos dias, nenhum direito pode
sequer
aproximar-se da imensa e ingente tarefa do direito do trabalho, ponto
avançado da
democratização econômica do direito. Compete-lhe realizar a
revolução branca, a
reforma social sem sobressaltos, nem alterações bruscas das
atuais posições na vida
econômica. Todos os regimes, de qualquer tonalidade
ideológica, do centro, de direita
ou de esquerda, consciente ou
inconscientemente, socorrem-se das normas
trabalhistas para executar as suas
reformas dos que chamam de democracia social"
[22]

                        Normalmente, as reformas sociais proporcionadas pelas


mudanças na
legislação trabalhista possuem caráter nitidamente tutelar, visando
à redução da
discrepância econômica existente entre os detentores dos meios de
produção e os
detentores, unicamente, de sua força de trabalho. Note-se, porém,
que em momentos
de crise, a legislação trabalhista pode adotar uma postura menos
protecionista,
restringindo vantagens normalmente asseguradas aos trabalhadores,
para atender as
exigências impostas pela situação econômica do Estado. Nestes
casos, não se deve
falar em desvio de finalidade ou de função, mas em realização
de uma reforma que
atenda, ainda que transitoriamente, aos fins sociais mais
imediatos, como a
manutenção dos empregos.

            4.8.Socialidade
                        A socialidade, também conhecida como "humanização do
Direito", não só
caracteriza o Direito do Trabalho, como também informa o
Direito Civil Brasileiro
desde a entrada em vigência do Código de 2002.

            Este atributo, também apresentado por FRANCISCO METON MARQUES


DE
LIMA, propõe a prevalência dos interesses sociais sobre os individuais.
Trata-se de
uma mitigação da concepção individualista do Direito.

            Esta característica do Direito do Trabalho é reconhecida por


ALEXANDRE
AGRA BELMONTE ao expor que "como o Direito do Trabalho sempre procurou
compensar as desigualdades econômicas através de mecanismos de proteção obtidos
por meio do estabelecimento de desigualdades jurídicas, tem-se que as normas
contidas na CLT foram engendradas de acordo com esse princípio socializante, por
exemplo, quando determina que nenhum interesse de classe ou particular possam
prevalecer sobre o interesse público (art. 8º, caput, in fine); quando,
submete a
vontade individual ao interesse coletivo de trabalho; quando impõe a
continuação do
contrato nos casos de aquisição de negócio; quando impede o
rompimento do
contrato, impondo ao empregador suportar o pagamento do salário
até o 15º dia e à
inexecução das cláusulas contratuais, nos casos de suspensão
do contrato". [23]

5.Denominação

                        Atualmente, a denominação "Direito do Trabalho" para o ramo


jurídico
estudado é adotada pela quase totalidade dos que estudam o assunto,
pela
Organização Internacional do Trabalho – OIT (organismo especializado do
sistema
das Nações Unidas) e pela Constituição da República Federativa do
Brasil.
Historicamente, contudo, diversas denominações são encontradas para
designar a
disciplina em estudo: Legislação do Trabalho, Legislação Industrial,
Direito
Industrial, Direito Operário, Direito Corporativo e Direito Social,
entre outras.

            5.1.Legislação do Trabalho

            Legislação do Trabalho foi a denominação adotada pela


Constituição Brasileira
de 1934 (Art. 121, § 1º) e, ainda hoje, é adotada por
algumas faculdades de Ciências
Econômicas, Ciências Contábeis e Administração.
Segundo SERGIO PINTO
MARTINS, "justificava-se a nomenclatura utilizada pelo fato
de haver muitas leis
tratando do tema, mas não existia um sistema, uma autonomia
da matéria em
análise" [24].

            A crítica que se faz a esta denominação refere-se à


necessidade de a matéria
trabalhista ser estudada além dos limites da
legislação, envolvendo seus princípios e
funções.
            5.2.Legislação e Direito Industrial

            Logo após a Revolução Industrial, como todas as relações


trabalhistas a serem
disciplinadas, em razão da conjuntura socioeconômica da
época, referiam-se à
indústria, surgiu a denominação Legislação Industrial, que
evoluiu, em seguida, para
Direito Industrial.

            Atualmente, as relações reguladas pelo Direito do Trabalho


não se limitam ao
setor industrial, mas aplicam-se ao setor agropecuário, de
comércio, de serviços e até
a setores não produtivos que admitam empregados,
razão por que a denominação em
foco mostra-se inadequada para designar o ramo
jurídico em estudo.

            É válido observar que a nomenclatura "Direito Industrial",


como sinônimo de
Direito do Trabalho, deixou de existir e passou a designar um
ramo do Direito
Comercial, de cujo objeto consiste na proteção de quatro bens
imateriais: a patente
de invenção, a de modelo de utilidade, o registro de
desenho industrial e o de marca
[25]

            5.3.Direito Operário

            Direito Operário foi a denominação utilizada por EVARISTO DE


MORAES e
pela Constituição Brasileira de 1937 (Art. 16, XVI), e teve origem
semelhante a do
epíteto anterior.

            Como as primeiras regras trabalhistas tinham por objeto a


regulamentação de
relações ocorrentes no setor industrial, alguns juristas da
época elegeram, como
critério para a designação deste ramo jurídico, o nome dado
ao tipo de empregado
que era absorvido pela indústria: operário. Hoje, sabe-se
que o Direito do Trabalho
não se limita a estudar operários, mas também outros
tipos de trabalhadores e os
patrões que com eles se relacionam, o que torna
inadequada a denominação "Direito
Operário".

            Convém observar que a expressão "Droit Ouvrier" (Direito


Operário) ainda é
utilizada na França, em razão de o seu sistema jurídico não
estabelecer o mesmo
tratamento ao trabalhador empregado, que exerce atividade
preponderantemente
intelectual (employeé) e ao trabalhador operário, que
exerce atividade "braçal"
(ouvrier).

            No Brasil, a atual Constituição da República determina, em


seu art. 7º, inciso
XXXII, a "proibição de distinção entre trabalho manual,
técnico e intelectual ou entre
os profissionais respectivos", o que inviabiliza
qualquer tentativa de "importar" o
sistema francês.

            5.4.Direito Corporativo
                        Direito Corporativo foi a denominação usada por OLIVEIRA
VIANA e por
CAVALCANTE DE CARVALHO. Sua origem está relacionada com o regime
corporativo italiano, criado pela "Carta do Trabalho", organizada pelo Grande
Conselho do Fascismo, que serviu de modelo a muitos códigos trabalhistas de
outros
Estados.

            O corporativismo representou um sistema capaz de arrefecer os


conflitos entre
trabalhadores e empresários, estabelecendo uma paz duradoura nos
Estados que o
adotaram por meio do controle de fato, pelo Estado, dos
instrumentos de negociação
coletiva.

            Baseada na noção orgânica de sociedade e do Estado, a


doutrina corporativista
repartiu a sociedade em diferentes categorias de
indivíduos, chamadas corporações,
que exerciam funções sociais bem determinadas.
As Corporações, portanto, podem
ser de natureza econômica, social, cultural,
etc.

            Para os corporativistas, as corporações são órgãos naturais,


por meio dos quais
manifesta-se a vida do Estado e que, por isso mesmo, este não
possui autoridade para
interferir nos princípios básicos das corporações, "salvo
quando a necessidade
funcional o impuser". DALMO DE ABREU DALLARI esclarece que
"desde que o
Estado entenda que há necessidade funcional, pode determinar a
renovação dos
princípios básicos dos organismos naturais. Ora, sendo assim,
desaparece o caráter
natural das corporações, uma vez que elas poderão ser, a
qualquer momento,
moldadas pelo Estado, segundo as conveniências deste"
[26].

            Segundo SAHID MALUF, o Estado Corporativo fascista, "manteve


a iniciativa
privada e a livre concorrência, subordinadas, porém, aos superiores
interesses
sociais. O trabalho foi considerado como dever social. O direito de
greve foi abolido, e
considerado qualquer movimento paredista como crime contra
a organização
corporativa estatal. A liberdade do trabalhador – doutrina
Chimenti – realiza-se de
uma maneira certa e institucional na igualdade de
todos os trabalhadores perante
a lei e na proteção e assistência social que o
Estado lhes assegura" [27]

                        Medidas de orientação corporativa foram adotadas, no Brasil,


por Getúlio
Vargas, a partir de 1937, durante o Estado Novo. Como exemplo,
pode-se citar:
criação do imposto sindical; atribuição do poder normativo à
Justiça do Trabalho;
criação da representação de empregados e empregadores por
vogais nos colegiados
onde fosse discutida alguma questão a eles relacionados.

            A principal crítica à denominação "Direito Corporativo" para


a disciplina em
estudo reside no fato de o corporativismo ter objetivos amplos,
que não se resumem à
regulamentação das relações de trabalho. Nas palavras de
AMAURI MASCARO
NASCIMENTO: "o corporativismo italiano foi uma tentativa de
unificação das forças
de produção e não somente do trabalho... O corporativismo
destina-se à unificação
econômica nacional, e o direito do trabalho tem fins
diferentes, pois sua principal
meta é reger a atividade humana subordinada"
[28].

            5.5.Direito Social

                        Foi a denominação utilizada por CESARINO JÚNIOR, que incluía


em seu
objeto não apenas as relações trabalhistas, mas também relações
previdenciárias e
assistenciais. Segundo AMAURI MASCARO NASCIMENTO, "a
justificativa para tal
denominação resulta da posição em que se coloca Cesarino
Júnior diante do
problema do âmbito da nossa disciplina e é aceitável se for
essa amplitude que o
intérprete quiser dar à matéria... Assim, se concebido o
direito do trabalho como
aquele destinado a resolver a ‘questão social’ e a
promover a ‘justiça social’, há
inegável adequação. Se entendido
restritivamente, será demasiado ampla a
designação" [29].

            As principais críticas feitas a esta denominação são duas: a


primeira se refere à
amplitude de seu significado, que a torna bastante genérica
e, portanto, inaplicável ao
ramo jurídico em estudo; a segunda argumenta que
todo o Direito, por sua natureza,
é social, feito para vigorar na sociedade e,
portanto, todos os seus ramos são "sociais".

            Uma terceira crítica a esta nomenclatura pode ser levantada:


há uma corrente
doutrinária crescente que defende a existência de um Direito
Social como terceiro
gênero na enciclopédia jurídica, ao lado do Direito Público
e do Direito Privado, de
modo que, ao se utilizar esta expressão como sinônimo
de Direito do Trabalho, estar-
se-á gerando uma confusão conceitual na ciência do
Direito.

            5.6.Direito do Trabalho

            A expressão "Direito do Trabalho" surgiu na Alemanha, por


volta de 1912, e foi
empregada no Brasil pela Constituição de 1946 e por todas
as que a sucederam. Não
se pode dizer que esta nomenclatura é perfeita ou que
está alheia a críticas, mas não
há dúvidas de que, como ensina MAURÍCIO GODINHO
DELGADO, "a denominação
Direito do Trabalho tornou-se hegemônica no plano
atual dos estudos jurídicos; está
consagrada na doutrina, na jurisprudência e
também nos inúmeros diplomas
normativos existentes na área" [30].

6.Natureza ou posição enciclopédica

            Não há consenso doutrinário quanto aos critérios informadores


da clássica
divisão do Direito, formulada por Ulpiano, em Direito Público e
Direito Privado,
sendo que há doutrinadores que questionam a própria validade
científica dessa
divisão e outros que propõem uma divisão tripartite do Direito,
em público, privado e
social.

            Diante desta conjuntura, o estabelecimento de um consenso


quanto à posição
enciclopédica do Direito do Trabalho torna-se impossível, pois
cada doutrinador o
posiciona de acordo com a teoria que adota sobre a validade e
os critérios de divisão
da Enciclopédia Jurídica. As principais teorias sobre a
natureza do ramo jurídico em
estudo são cinco: teoria do Direito Público, teoria
do Direito Privado, Teoria do
Direito Misto, Teoria do Direito Social e Teoria
do Direito Unitário.

            6.1.Teoria do Direito Público

                        Os juristas que sustentam que o Direito do Trabalho pertence


ao Direito
Público, apresentam, em regra, quatro argumentos: 1) o Direito do
Trabalho
apresenta normas de natureza administrativa, como as relativas à
fiscalização
trabalhista, segurança do trabalho, higiene do trabalho, etc.; 2) o
Direito do Trabalho
é composto por normas de natureza estatutária, constituindo
relações delineadas
pela lei, suprimindo a autonomia da vontade das partes
envolvidas; 3) a maior parte
das normas de Direito do Trabalho são
irrenunciáveis e 4) o Direito do Trabalho
possui fundamento jurídico-filosófico
baseado no intervencionismo estatal restritivo
da autonomia da vontade, que se
opõe ao fundamento jurídico-filosófico do Direito
privado: individualismo e
liberdade volitiva.

            Entre os doutrinadores brasileiros, esta teoria é sustentada


IVES GANDRA DA
SILVA MARTINS FILHO, nos seguintes termos: "não obstante regular
o contrato de
trabalho, firmado entre particulares, o Direito do Trabalho é ramo
de Direito Público,
em face da indisponibilidade da maior parte de suas normas,
passíveis apenas de
flexibilização através de negociação coletiva com o
sindicato, uma vez que o
trabalhador individual é a parte mais fraca no
contrato, e o ordenamento jurídico
trabalhista protege não apenas o trabalhador,
mas o próprio bem-estar social como
um todo" [31].

                        A crítica à Teoria do Direito Público baseia-se,


principalmente, em quatro
argumentos: 1) As normas trabalhistas de natureza
administrativa, como as
referentes à fiscalização, têm caráter instrumental e
não preponderam sobre as de
outra natureza; 2) O Direito do Trabalho não cria
relações estatutárias, pois, não
obstante o dirigismo estatal, há possibilidade
de as partes acordarem sobre condições
gerais de trabalho; 3) a
irrenunciabilidade das leis trabalhistas não possui natureza
diversa da
irrenunciabilidade de diversas normas encontradas em outros ramos do
Direito
Privado, como o Direito Civil e 4) a natureza de Direito Público de um ramo
jurídico não é definida pelo seu fundamento jurídico-filosófico, mas pela Teoria
dos
Interesses (o Direito Público regula os interesses imediatos do Estado e o
Direito
Privado, os de particulares), pela Teoria da Natureza dos Sujeitos (O
Direito Público
regula relações de que o Estado participe; e o Direito Privado
regula relações de que o
Estado não participa) ou pela Teoria da Natureza das
Relações (no Direito Público,
há manifestação do Poder de Império do Estado
sobre o particular; e no Direito
privado, o Poder de Império do Estado não se
manifesta).

            Fazendo uso dessa linha argumentativa, ALEXANDRE AGRA


BELMONTE
sustenta que "não há que se confundir normas de ordem pública com
direito
público... Assim como o Direito Administrativo e o Penal contêm uma
série de
normas de direito público, não obstante de ordem privada, o fato de o
Direito do
Trabalho ter inúmeras normas de ordem pública não o transforma em
ramo de
direito público, posto não se dever confundir o conjunto de normas que
formam o
direito público com o grupo de normas de direito privado de ordem
pública (por
exemplo, salário mínimo e duração da jornada de trabalho) que,
juntamente com o
conjunto de normas de direito privado de ordem privada (art.
444, da CLT), integram
o direito privado, para aplicação entre particulares...
assim como as normas de
Direito Civil sobre casamento e filiação são de ordem
pública, também as normas de
proteção do trabalhador têm essa qualidade, mas num
caso e noutro são de direito
privado, porque direcionadas a regular relações
entre particulares e não relações do
particular com o Estado. O interesse
público contido em tais normas é apenas de
preservação dessas instituições, no
sentido de que os particulares não podem afasta-
las, mas o Estado não figura
nessas relações, a não ser como interventor. Fosse titular
de direitos, caso do
direito à percepção de tributos, falar-se-ia em direito público, o
que não
ocorre. Quando o Estado participa de relação típica trabalhista, não é na
qualidade de pessoa investida de poder de império, mas sim como se particular
fosse... quando o Estado participa da relação de trabalho subordinado figurando
como Estado mesmo, aí a legislação aplicável não é a trabalhista ("celetista") e
sim a
estatutária ou de Direito administrativo, hipótese em que se tratará de
direito
público. Além do mais, a relação típica trabalhista é contratual, tendo
as partes, ainda
que em tese, o poder de discussão das condições aplicáveis
(ressalvado o conteúdo
mínimo legal, como também ocorre, por exemplo, na
legislação do inquilinato, sem
que isto a transforme em relação de direito
público)". [32]

                        AMAURI MASCARO NASCIMENTO acrescenta um quinto argumento


contrário à Teoria do Direito Público: "se o direito do trabalho fosse
considerado
ramo do direito público, os sindicatos seriam órgão públicos e as
convenções
coletivas de trabalho entre os sindicatos não teriam razão de ser,
uma vez que se
justificam como expressão da autonomia privada coletiva".
[33]

            6.2.Teoria do Direito Privado

                        A Teoria do Direito Privado é, atualmente, a mais aceita pela


doutrina
brasileira. A ela, filiam-se o autor deste trabalho, ALEXANDRE AGRA
BELMONTE,
AMAURI MASCARO NASCIMENTO, ANDRÉ FRANCO MONTORO, DÉLIO
MARANHÃO,
MAURICIO GODINHO DELGADO e SERGIO PINTO MARTINS,
entre outros.

            Os argumentos que sustentam esta teoria são os seguintes: 1)


os sujeitos do
vínculo trabalhista são trabalhadores e empregadores e, quando o
Estado participa
da relação, o faz na condição de empregador; 2) a maioria da
regras de Direito do
Trabalho são de ordem privada e 3) a relação trabalhista é
um desenvolvimento da
prestação de serviços, tendo, portanto, sua origem no
Direito Civil, clássico ramo do
Direito Privado.

                        As críticas à Teoria do Direito Privado coincidem com os


fundamentos da
Teoria do Direito Público, ou seja: 1) O Direito do Trabalho
possui normas de
natureza administrativa; 2) o Direito do Trabalho é composto
por normas de
natureza estatutária, que eliminam a autonomia da vontade das
partes; 3) a maior
parte das normas de Direito do Trabalho são indisponíveis,
irrenunciáveis e 4) o
fundamento jurídico-filosófico do Direito do Trabalho é
incompatível com o Direito
Privado.

            6.3.Teoria do Direito Misto

            A Teoria do Direito Misto é defendida por PAULO DOURADO DE


GUSMÃO,
entre outros. Segundo esta teoria, a bipartição romana do Direito em
Direito Público
e Direito Privado tornou-se inadequada para o Direito produzido
pela complexa
sociedade moderna que criou ramos jurídicos constituídos tanto de
normas de ordem
pública, como de normas de ordem privada e que tutelam tanto o
interesse público,
como o interesse privado.

            Nas palavras de PAULO DOURADO DE GUSMÃO, "o direito misto é o


em que,
sem haver predominância, há confusão de interesse público ou social com
o interesse
privado. Nele se confundem esses interesses, fazendo com que o
princípio de
liberdade nele não impere. As partes, muitas vezes colocadas em
nível de igualdade
jurídica, estão submetidas a princípios inderrogáveis,
estabelecidos na lei, protetores
do interesse social". [34]

            O mesmo doutrinador argumenta que "as normas de direito do


trabalho são
normas de jus congens, não podendo por isso as partes, no
contrato de trabalho,
dispor de forma diferente do que nelas estiver disposto.
Norteado pelo interesse
social, apesar de se destinar a reger as relações entre
patrões e empregados oriundas
de contrato de trabalho, o direito do trabalho não
é ramo de direito privado, mas de
direito misto". [35]

                        A principal crítica formulada a esta teoria refere-se à


inexistência de um
direito híbrido de público e privado chamado "Direito Misto".
Segundo SERGIO
PINTO MARTINS, "tal fato iria negar, inclusive, a autonomia do
Direito do Trabalho,
que não poderia ser e deixar de ser alguma coisa ao mesmo
tempo". [36]

            6.4.Teoria do Direito Social

            A Teoria do Direito Social é sustentada pelos doutrinadores


que reconhecem a
existência de um terceiro gênero na Enciclopédia Jurídica, ao
lado do Direito Público
e do Direito Privado, chamado "Direito Social". Seu
principal representante é
CESARINO JÚNIOR

                        Para os adeptos desta teoria, o Direito Social abrange todas


as normas de
proteção às pessoas economicamente fracas. Assim, seriam ramos do
Direito Social, o
Direito do Trabalho e o Direito da Seguridade Social.

            A principal crítica que recebe a presente teoria é que todos


os ramos jurídicos
são feitos para a sociedade, com intuito de promover o
bem-estar dos indivíduos, ou
seja, todo direito é social.

            FRANCISCO METON MARQUES DE LIMA, também defensor da Teoria do


Direito Social entende que "essa crítica é anacrônica, dado que o direito social
corresponde aos direitos de segunda geração ou dimensão, que é o direito de
perceber prestações do Estado, equivalente ao segundo postulado da Revolução
Francesa, que é o da igualdade, uma evolução do liberalismo clássico, que
defendia o
primeiro postulado, o da liberdade". [37] E argumenta que
"a discussão se esvaziou no
momento em que a CF/88 o enquadrou no Capítulo DOS
DIREITOS SOCIAIS – arts.
7º a 11, reconhecendo-lhe a natureza de um ramo do
Direito Social". [38]

            O autor deste trabalho entende que esta linha argumentativa é


equivocada,
pois confunde dois conceitos distintos de um único termo: "Direito".
A classificação
do Direito em Público e Privado refere-se ao Direito-norma, o
chamado "Direito
objetivo", já a enumeração constitucional dos Direitos Sociais,
correspondentes aos
Direitos Humanos de Segunda Geração, refere-se ao
Direito-faculdade, os chamados
"Direitos subjetivos".

            Se a posição enciclopédica de um ramo jurídico fosse


determinada pela posição
topográfica de sua matéria na Constituição da
República, o Direito da Seguridade
Social estaria excluído do "Direito Social",
e não existiria Direito Público nem Direito
Privado, pois não há capítulos, na
Carta Magna de 1998, intitulados "Dos Direitos
Públicos" ou "Dos Direitos
Privados".

            6.5.Teoria do Direito Unitário ou do Direito Misto com


Unicidade Conceitual

            Esta teoria é sustentada por EVARISTO DE MORAES FILHO e


ARNALDO
SUSSEKIND. O primeiro utiliza o termo: "Direito Unitário", o segundo
prefere
"Direito Misto com Unicidade Conceitual". Os demais defensores desta
teoria adotam
uma ou outra denominação.

                        Segundo esta orientação doutrinária, o Direito do Trabalho é


resultado da
fusão de ramos do Direito Público e de Direito Privado que origina
um todo orgânico,
totalmente distinto dos dois ramos que lhe deram origem.

            A teoria do Direito Unitário difere-se da Teoria do Direito


Misto por entender
o Direito do Trabalho como um amálgama e não uma mera mistura
de substâncias
dos dois gêneros clássicos. Do ponto de vista científico, é,
indubitavelmente, mais
coerente.

            A principal crítica formulada a esta teoria aponta a


inexistência de um todo
orgânico, auto-suficiente e absolutamente diferenciado
do Direito Público ou do
Direito Privado.

7.Divisões

            A divisão do Direito do Trabalho em Direito Individual do


Trabalho e Direito
Coletivo do Trabalho é assinalada pela quase unanimidade dos
autores. Alguns,
preferem utilizar uma divisão tripartite do ramo jurídico em
estudo, com a inclusão
de um setor chamado "Direito Tutelar do Trabalho" ou
"Direito Protecionista do
Trabalho".

            Os doutrinadores que reconhecem o Direito Coletivo do


Trabalho como ramo
autônomo do Direito, por razões obvias, não o incluem entre
os setores do ramo
jurídico em estudo.

            É pacífico o entendimento doutrinário de que o chamado


"Direito Público do
Trabalho", que envolve o Direito Processual do Trabalho, o
Direito Administrativo do
Trabalho, o Direito da Seguridade Social e o Direito
Penal do Trabalho, assim como o
chamado "Direito Internacional do Trabalho", não
integra o Direito do Trabalho em
sentido estrito, mas outros ramos do Direito.

                        A Teoria Geral do Direito do Trabalho, que analisa questões


como sua
definição, autonomia, posição enciclopédica, relação com outras
ciências, relações
com outros ramos jurídicos etc., não configura matéria
jurídica em sentido próprio,
pertencendo ao objeto de estudo da Filosofia
Jurídica. Ressalve-se que MAURÍCIO
GODINHO DELGADO entende que tais matérias
fazem parte do conteúdo do Direito
Individual do Trabalho e SERGIO PINTO MARTINS
propõe sua inclusão em uma
nova subdivisão do Direito do Trabalho, chamada
"Parte Geral".

            7.1.Direito Individual do Trabalho


            Direito Individual do Trabalho é o setor que compreende as
normas referentes
à relação de emprego e as demais relações individuais de
trabalho, regulamentadas
pelo Direito do Trabalho, bem como matérias a ela
pertinentes, como as relativas ao
FGTS.

                        Os doutrinadores que, como AMAURI MASCARO NASCIMENTO, não


reconhecem o Direito Tutelar do Trabalho como setor do ramo jurídico em estudo,
também incluem no conteúdo do Direito Individual do Trabalho, as regras de
proteção do trabalhador, como as normas de segurança e medicina do trabalho.

            7.2.Direito Tutelar do Trabalho

            Direito Tutelar, ou Protecionista, do Trabalho é o setor que


compreende as
regras relativas à proteção do ser humano que trabalha, nele
estando incluídas as
normas de medicina e segurança do trabalho, limitação da
jornada de trabalho,
fixação de intervalos obrigatórios durante a jornada de
trabalho, fiscalização
trabalhista, etc.

            7.3.Direito Coletivo do Trabalho

            Direito Coletivo do Trabalho é o setor que disciplina as


organizações sindicais
e as relações coletivas de trabalho, compreendendo as
normas referentes à estrutura
e função dos sindicatos, conflitos coletivos de
trabalho, negociações coletivas, direito
de greve, etc.

8.Funções

                        Definir a função do Direito do Trabalho corresponde a


estabelecer qual o
sistema de valores que este ramo jurídico pretende realizar.
Esta tarefa sofre a
influência de fatores ideológicos e interesses econômicos,
políticos, ou sociais, que
conduzem, dependendo da compreensão que o intérprete
faz da realidade, a
conclusões distintas, algumas absolutamente independentes,
outras que se
comunicam entre si.

            Sem dúvida, a função de proteger o trabalhador é a mais


aceita pela doutrina
brasileira, embora outras lhe sejam atribuídas. Conforme o
ensino de ALICE
MONTEIRO DE BARROS, "o Direito do Trabalho, qualquer que seja a
natureza que
se lhe atribua, possui, conforme a concepção filosófica de seus
expositores, as funções
tutelar, econômica, conservadora ou coordenadora"
[39]. A este rol de funções
AMAURI MASCARO NASCIMENTO acrescenta a chamada
"função social do Direito
do Trabalho". [40]

            8.1.Função tutelar
            Para a doutrina majoritária brasileira, o Direito do Trabalho
deve proteger o
trabalhador diante do poder econômico, evitando que este o
absorva. Esta tutela
concretiza-se por meio de leis de origem estatal ou do
reconhecimento de poderes
restritivos da autonomia individual às entidades
sindicais.

            8.2.Função econômica

                        A função econômica é sustentada pelos doutrinadores que


pretendem a
inclusão do Direito do Trabalho entre as divisões do Direito
Econômico. Segundo
essa linha de pensamento, conforme ensina AMAURI MASCARO
NASCIMENTO, "o
direito do trabalho visa a realização de valores econômicos, de
modo que toda e
qualquer vantagem atribuída ao trabalhador deve ser
meticulosamente precedida de
um suporte econômico, sem o qual nada lhe poderá
ser atribuído". [41]

            8.3.Função social

            Contraposição da corrente anterior, os defensores da função


social do Direito
do Trabalho afirmam que este ramo especializado do Direito
objetiva a realização de
valores, não econômicos, mas sociais, especialmente o
valor absoluto e universal da
dignidade humana.

            8.4.Função conservadora

                        Conforme o ensino de AMAURI MASCARO NASCIMENTO, os seguidores


desta linha de pensamento sustentam que o Direito do Trabalho é "expressão da
vontade opressora do Estado, vendo nele nada mais do que uma força de que o
Estado sempre se utilizou, desde os tempos em que se falava em legislação
industrial,
para sufocar os movimentos operários. Neste caso, as leis
trabalhistas não teriam
outra função senão a de aparentar a disciplina da
liberdade; na verdade, a de
restringir a autonomia privada coletiva e impedir as
iniciativas, que embora
legítimas, possam significar de algum modo a
manifestação de um poder de
organização e de reivindicação dos trabalhadores".
[42]

            8.5.Função coordenadora

                        Os autores que sustentam a função coordenadora do Direito do


Trabalho
entendem que a função do Direito do Trabalho não é a proteção do
trabalhador, nem
a sufocação de movimentos reivindicatórios trabalhistas ou a
realização de
determinados valores econômicos ou sociais, mas a coordenação de
interesses entre
capital e trabalho, com a adoção de medidas nem sempre
protecionistas ou tutelares.

Referências Bibliográficas
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São Paulo: Ltr,
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            MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de


direito e
processo do trabalho.12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

                        MORAES FILHO, Evaristo de. e MORAES, Antonio Carlos Flores


de.
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            NASCIMENTO, Mamauri Mascaro. Curso de direito do trabalho.


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Paulo: Saraiva, 1998.

            NASCIMENTO. Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do


trabalho. 25ª ed.
São Paulo: LTR, 1999.
            SUSSEKIND, Arnaldo. Curso de direito do trabalho. 2ª
ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 2004.

Notas
            01 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 2ª
ed. São Paulo: LTR, 2003. p. 52-53.
            02 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de
direito e processo do trabalho.12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 7.
            03 DONATO, Messias Pereira. Curso de direito do trabalho. São
Paulo: Saraiva, 1979. p. 6.
            04 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 15ª
ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 140.
            05 MORAES FILHO, Evaristo de. e MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 7ª ed. São Paulo: LTR, 1995. p. 46.
            06 SUSSEKIND, Arnaldo. Curso de direito do trabalho. 2ª ed. Rio
de Janeiro: Renovar, 2004. p. 81.
            07
            08 NASCIMENTO,
DELGADO, Amauri
Maurício Godinho. Mascaro.
Curso Curso
de direito do de direito
trabalho. 2ª
ed. Sãodo trabalho.
Paulo: 15ª
ed.
LTR, 2003. p. 54.
            09 MAGANO, Octavio Bueno. Manual de direito do trabalho. Parte
geral, 4ª ed. São Paulo: LTR, 1991. p. 59.
São Paulo: Saraiva, 1998. p. 143.
            10
            11 MARTINS,
LIMA, Sergio
Francisco Meton Pinto.
Marques Curso dededireito
de. Elementos do trabalho.
direito do
trabalho. 4ªSão
10ª ed. ed.
São Paulo:
Paulo: LTR, 2004.Dialética,
p. 27. 2005. p. 17.
            12
            13 LIMA,
Sobre Francisco
o assunto, Meton
é válido citar liçãoMarques de. Elementos
de JOSÉ CLÁUDIO deDE
BRITO
MONTEIRO direito FILHO:
do
trabalho. 10ª ed. São
É regra considerar Paulo:
as normas LTR,
sobre 2004. p. como
integrantes
sindicalização 28. da disciplina Direito do Trabalho, negando-se, por via de
conseqüência, sua autonomia.

            Acreditamos
            É
            Nota-se
que asentão
normas
que
a inaplicabilidade
relativas
esse entendimento
ao Direito
dasmerece
normas
Sindical
umaprevistas
servem
reflexão,
agora
na principalmente
CLT,
para
por
regular
uma razão
que
não

a
partir
relações
da
nossindicalização
parece
que envolvem
óbvia,do
qual
servidor
entidades
seja a público,
desindicais
que osgarantida
servidores
que representam
em
sujeitos
05/10/88.
empregados
ao regime
administrativo
e
empregadores
não–são
ligados
destinatários
por uma relação
das normas
contratual,
celetistas,
de emprego
sujeitando-se,
- , mas
isso
sim,
também
para
às normas
regular
estabelecidas
as relações
pelos
das diversos
entidadesentes
sindicais
públicos
queque
congreguem
compõemservidores
públicos,
a
Federação. via de regra sujeitos a um regime administrativo, e que mantém
relações com a Administração Pública.

            O
            Logo,
            14 Direito
ficou
DELGADO, Sindical
o Direito
Maurício alcançou
Sindical,
Godinho. Curso um ouespectro
suas
de direito normas,
mais2ª
ed.
do trabalho. amplo,
ligado encontrando-se
a duas
São Paulo: LTR,disciplinas,
2003. p. 58.parte
o
Direito
de
suasdo
normas
Trabalho
completamente
e o Direito Administrativo,
alheias à CLT, o
e desvinculadas,
que impede quepor
seja
considerado
conseqüência, apenas
do
regime
como
celetista
parte integrante
de trabalho.
da primeira disciplina mencionada.(Direito
sindical. São Paulo: LTr, 2000. p. 27,28).

            15
            16
            17
            18
            21
            22 SUSSEKIND,
MORAES
MORAES
            19MORAES
            20 BARROS,
            24 COELHO,
            25 MORAES
MORAES
MARTINS,Fábio
Sergio Arnaldo.
FILHO, Evaristo
LIMA,FILHO,
Francisco
AliceEvaristo
FILHO, FILHO,
FILHO, Evaristo
Ulhôa.
Pinto. Curso de
de. e MORAES,
EvaristoMeton Marques
de. e MORAES,
Monteirode. e de.
de. e Evaristo
Curso dede
Manual direito
Antonio do Flores
Carlos
de. Carlos
Antonio
de Direito trabalho.
Elementos
CursoAntonio
MORAES, do Carlos
de. eCarlos
MORAES, Antonio
direito
direito .do
trabalho
MORAES,
docomercial.
trabalho. 14ª 2ª 28.
ed. Rio
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de. Introdução
deIntrodução
Flores de.
ed.Trabalho.
7ª Flores
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AntonioaoCarlos
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São Paulo: LTR,ao direito
1995. p. 68.

Autor
Francisco Tavares Noronha Neto

juiz do trabalho substituto e professor universitário

Informações sobre o texto


Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

NORONHA NETO, Francisco Tavares. Noções fundamentais de Direito do Trabalho.


Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 10, n. 904, 24 dez. 2005.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/7686. Acesso em: 20 out. 2022.

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