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INTRODUÇÃO

A definição do Direito do Trabalho pode ser analisada tanto sob um prisma subjetivista,
enfocando as partes da relação justrabalhista (sendo o Direito do Trabalho aquele conjunto de
normas e institutos destinados a regular o direito dos trabalhadores), quanto sob o aspecto
objetivista, com destaque para o objeto principal do Direito do Trabalho, caso em que este seria a
reunião de regras, princípios e institutos que regulam as relações de emprego.

Explica DELGADO que a melhor definição do Direito do Trabalho deveria conter ambos os
aspectos, eis que a análise sob o primeiro prisma tem a vantagem de valorizar o caráter teleológico
do Direito do Trabalho, que seria a melhora das condições de trabalho, enquanto o enfoque
objetivista valoriza a categoria jurídica essencial do Direito do Trabalho, qual seja, a relação
empregatícia. Deve ainda a definição abranger tanto o Direito Individual do Trabalho como o
Direito Colectivo do Trabalho. Desta forma, o Direito do Trabalho é definido pelo supra citado autor
como o complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam, “no tocante às pessoas e
matérias envolvidas, “a relação empregatícia de trabalho e outras relações normativamente
especificadas, englobando, também, os institutos, regras e princípios concernentes às relações
coletivas entre trabalhadores e tomadores de serviços, em especial através de suas associações
colectivas”.

A expressão Direito do Trabalho também é alvo de críticas sem razão de sua amplitude, eis
que tal ramo do Direito não abrange todas as relações de trabalho, como, por exemplo, o trabalho
autônomo, o estagiário e o trabalhador eventual. Alguns afirmam, por isso, que a expressão mais
adequada seria “Direito Empregatício”. Esta denominação, lado outro, seria restrita, tendo em vista
que atualmente o Direito do Trabalho regula outras situações que não aquelas estritamente
empregatícias, o que é o caso do trabalhador avulso. Desta forma, a doutrina optou,
majoritariamente, pela denominação “Direito do Trabalho”. Acreditamos que esta é de fato a
terminologia mais adequada, principalmente se a reforma trabalhista, como se pretende, ampliar a
competência da Justiça do Trabalho para todas as outras relações de trabalho que não as
empregatícias, mesmo que tais relações continuem a serem regidas por outros ramos do Direito.

Por fim, cumpre diferenciarmos a denominação “Direito do Trabalho” de “Legislação do


Trabalho”, expressão defendida por alguns na fase de consolidação deste ramo do Direito. Na
verdade, não há que se falar em “Legislação do Trabalho”, haja vista que há uma universalidade de
normas trabalhistas não restritas às leis, mas que englobam também institutos peculiares do ramo
como as convenções e acordos coletivos de trabalho e as sentenças normativas, além de existirem
também princípios doutrinários não necessariamente expressos em lei.

CONCEITO DO DIREITO DO TRABALHO

O Direito do Trabalho é o ramo do Direito composto por regras e princípios,


sistematicamente ordenados que regulam a relação de trabalho subordinada entre empregado e
empregador, acompanhado de sanções para a hipótese de descumprimento dos seus comandos
(CAIRO Jr., 2015, P. 34).
Direito do Trabalho é o ramo da ciência do direito que tem por objeto as normas jurídicas
que disciplinam as relações de trabalho subordinado, determinam os seus sujeitos e as
organizações destinadas à proteção desse trabalho, em sua estrutura e actividade (NASCIMENTO,
2004, p. 176). O Direito do Trabalho como o ramo da Ciência do Direito composto pelo conjunto de
normas que regulam, no âmbito individual e colectivo, a relação de trabalho subordinado, que
determinam seus sujeitos (empregado e empregador) e que estruturam as organizações
destinadas à proteção do trabalhador, O fundamento do Direito do Trabalho é a proteção do
trabalhador, parte economicamente mais fraca da relação jurídica (ROMAR, 2018, p. 36).

 OBJECTO: Relação de trabalho subordinado (individual ou colectivo).

 SUJEITOS: Empregado e empregador.

 FUNDAMENTO: Proteção do empregado (parte economicamente mais fraca da relação


jurídica).

Há, no entanto, muitas divergências doutrinárias:

TEORIA SUBJECTIVISTA

Têm como enfoque os sujeitos da relação jurídica por ele regulada, isto é, os trabalhadores
e os empregadores. Adota como centro da definição do Direito do Trabalho o caráter protecionista
das normas que o compõem, têm por fundamento a busca constante de meios para se alcançar a
melhoria da condição econômica e social do trabalhador. O Direito do Trabalho se caracteriza como
o Direito especial de proteção aos trabalhadores, como o conjunto de normas que têm por
finalidade proteger a parte economicamente mais fraca (hipossuficiente) da relação jurídica, qual
seja, o empregado.

TEORIA OBJECTIVISTA

Têm em vista a relação de emprego e seu resultado (trabalho subordinado), e não as pessoas que
participam daquela relação. Em tais definições, a relação jurídica de emprego é disposta como
objeto do Direito do Trabalho. O enfoque conceitual está, portanto, na relação jurídica de
dependência ou subordinação que se forma entre as pessoas que exercem certa atividade em
proveito de outrem e sob suas ordens.

TEORIA MISTA

São aquelas que fazem uma combinação dos elementos objetivo e subjetivo, isto é, consideram
tanto o sujeito como o objeto da relação jurídica regulada pelo Direito do Trabalho, além da
finalidade do conjunto de normas que compõem este ramo da Ciência do Direito. A maioria dos
doutrinadores contemporâneos assumiu uma conceituação de Direito do Trabalho a partir da
teoria mista. Dessa forma, consideram o seu objeto (a relação de emprego), seus sujeitos
(empregado e empregador), e o seu fim (a proteção do trabalhador e a melhoria de sua condição
social).
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO

Este ponto tratará da breve história do direito do trabalho para analisar o conceito de Direito do
trabalho nos dias atuais. Houve vários conceitos sobre o surgimento do Direito do Trabalho tendo a
sua origem na bíblia sagrada e também na antiguidade clássica Greco-romano. Dentro de sua
origem cristã na bíblia sagrada, Alice Monteiro de Barros alega que: O homem está, pois,
condenado a trabalhar para remir o pecado original e resgatar a dignidade que perdera diante de
Deus. O trabalho tem um sentido reconstrutivo. É, sem dúvida, na visão hebraica de trabalho que
ele adquire uma valorização como actividade humana. Todavia, na antiguidade clássica Greco-
romana o trabalho era visto na forma de material possibilitando a escravidão. Comenta no mesmo
livro citado de BARROS:

A condição de escravo derivava do facto de nascer de mãe escrava, de ser prisioneiro de


guerra, de condenação penal, de descumprimento de obrigações tributárias, de deserção do
exército, entre outras razões. A escravidão tornava o homem confiado ao trabalho manual e
pesado, aos trabalhos de utilização da força para reparar, construir ou destruir sem seu ganho
sustentável de vida. Enquanto isso, as pessoas que eram livres neste período tinham como forma
de trabalho o pensamento para o desenvolvimento da sociedade.

Essas duas teses deram caminho para que houvesse revoluções e pontos marcantes na história do
direito do trabalho. Alguns pontos marcantes na história ensinada por BARROS:

No período da Formação (1802 a 1848), surge, na Inglaterra, a primeira lei


verdadeiramente tutelar, dentro do espírito do Direito do Trabalho, intitulada Moral and Health Act
(1802), ou seja, Ato da Moral e da Saúde. Essa lei proíbe o trabalho dos menores à noite e por
duração superior a 12 horas diárias. Nesse período, Napoleão restabeleceu na França, em 1806, os
conseils de prud’hommes, órgãos destinados a dirimir as controvérsias entre fabricantes e
operários, considerados, por alguns, como precursores da Justiça do Trabalho. Em 1813, proibiu-se,
na França, o trabalho de menores nas minas; em 1839, na Alemanha teve início a edição de
normas sobre trabalho da mulher e do menor. Em 1824, na Inglaterra, a coalização deixa de
constituir crime.

A igreja católica é um marco na história do direito do trabalho, e como ensina MARTINS,


diz sobre “A Encíclica Rerum Novarum (coisas novas), de 1981, do Papa Leão XIII, pontifica uma
fase de transição para justiça social, traçando regras para intervenção estatal na relação entre
trabalhador e patrão. Dizia o referido Papa que “não pode haver capital sem trabalho, nem
trabalho sem capital” (Encíclica Rerum novarum, Capítulo 28)”.

Mais um ponto marcante, alude BARROS que “No segundo período, intitulado
Intensificação (1848 a 1890), os acontecimentos mais importantes foram o Manifesto Comunista
de Marx e Engels e a implantação da primeira forma de seguro social na Alemanha em 1883, no
governo de Bismarck”. Em se tratando de constituições, as primeiras que deram créditos aos
direitos trabalhistas foram a do México, em 1917, e a de Weimar, em 1919.
A primeira Constituição que tratou do tema foi a do México, em 1917. O art. 123 da
referida norma estabelecia jornada de oito horas, proibição de trabalho de menores de 12 anos,
limitação da jornada dos menores de 16 anos a seis horas, jornada máxima noturna de sete horas,
descanso semanal, proteção à maternidade, salário mínimo, direito de sindicalização e de greve
indenização de dispensa, seguro social e proteção contra acidentes do trabalho. A segunda
Constituição a versar sobre o assunto foi a de Weimar, de 1919. Disciplinava a participação dos
trabalhadores nas empresas, autorizando a liberdade de coalização dos trabalhadores; tratou,
também, da representação dos trabalhadores na empresa. Criou um sistema de seguros sociais e
também a possibilidade de os trabalhadores colaborarem com os empregadores na fixação de
salários e demais condições de trabalho. Em 1919, criado pelo Tratado de Versalhes, outro ponto
marcante na história é a Organização Internacional do Trabalho (O.I.T), veio para defender a
dignidade da pessoa humana e seus direitos humanitários. Seu objetivo era acabar com as
condições que os trabalhadores se encontravam, cada vez mais explorados sem qualquer
consideração pela saúde, vida familiar ou seu desenvolvimento. Hoje, esse direito está expresso no
preâmbulo da constituição da Organização Internacional do Trabalho. Em 1946 a Organização
Internacional do Trabalho foi vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). Percebe-se que o
Direito do trabalho evolui para um patamar mais amplo e assegurado para o trabalhador, e nas
palavras de GARCIA: O direito do Trabalho é uma verdadeira conquista obtida ao longo da história
da humanidade, exercendo papel fundamental, ao garantir condições mínimas de vida aos
trabalhadores, assegurando a dignidade da pessoa humana e evitando abusos que o capital e a
busca pelo lucro pudessem causar aos membros da sociedade, em especial àqueles que não detêm
o poder econômico. A denominação “Direito do Trabalho” é, indubitavelmente, a mais utilizada
nos dias actuais. Entretanto, este ramo também já possuiu outras denominações na história, tais
como, Direito Industrial, Direito Sindical, Direito Corporativo, Direito Operário e Direito Social.
Quanto às quatro primeiras expressões, estas já se encontram superadas pela doutrina, haja vista
que não são hábeis a abrangerem todas as especificidades da matéria tratada pelo ramo do Direito
em comento. Entretanto, a denominação Direito Social ainda é relativamente prestigiada. Os que
defendem esta expressão afirmam que o Direito Social é um terceiro gênero do Direito, ao lado do
Direito Público e do Direito Privado, e tem por escopo a cooperação e o solidarismo. Segundo seus
adeptos, tal Direito assim deveria ser denominado em razão de ter nascido para resolver os
problemas sociais dos trabalhadores, e por fundar-se na prevalência do coletivo sobre o privado. A
expressão Direito Social, todavia, é alvo de duras objeções pelos doutrinadores. Refuta-se,
principalmente, esta denominação, em razão da tendência socializadora de todo ramo do Direito,
até mesmo do Direito Civil, o que pode ser exemplificado pelo Direito do Consumidor. O
consumidor é fortemente protegido pelo sistema jurídico, e nem por isso este ramo é denominado
“Direito Social”. O mesmo se diga em relação ao Direito Ambiental, que preza pelo aspecto social e
pela proteção da coletividade. Na realidade, todo Direito é social, pelo que a expressão em análise
seria demasiadamente abrangente.
CONCLUSÃO

Contudo o trabalho é toda actividade desenvolvida pelo homem para prover o seu
sustento e para produzir riquezas e, ao longo do tempo, diversas foram as suas formas, que
variaram conforme as condições históricas que vigoraram em cada época. A história do trabalho
começa exatamente quando o homem percebe que é possível utilizar a mão de obra alheia não só
para a produção de bens em proveito próprio, mas também como forma de produzir riquezas.
Assim, o trabalho se desenvolve e torna -se dependente e ligado às relações sociais e econômicas
vigentes em cada período histórico específico. Escravismo, feudalismo e capitalismo podem ser
considerados como marcos históricos definidos na evolução das relações econômicas e sociais e,
consequentemente, na evolução do trabalho humano e de suas formas de proteção.

O direito do trabalho como conhecemos hoje passou por diversas modificações, baseado
nas primeiras relações de emprego advindas da pré-história, escravidão, servidão, corporações de
ofício, começou a se desenvolver a partir das revoluções francesa e industrial e se consagrou no
constitucionalismo social. Sob influência de todos esses aspectos, começou a surgir no Brasil a
partir da abolição da escravidão, que possibilitou sua introdução no país, iniciando sua caminhada
e desenvolvimento com a proclamação da república, bem como consequentemente com as
constituições e revoluções sociais como a de 1930.

Assim, a evolução histórica do trabalho humano leva ao surgimento de uma legislação


estabelecendo normas mínimas de proteção ao trabalhador, cuja importância foi aumentando com
a evolução econômica e política dos países. A partir de então o Direito do Trabalho se fixa como
estrutura de proteção do trabalhador e entra em um processo de evolução contínua e dinâmica,
tendo em vista a própria dinamicidade das relações sociais e econômicas que dele são
inseparáveis.
BIBLIOGRÁFIA
 ALVES, Amauri Cesar. A eficácia dos direitos fundamentais no âmbito das relações
trabalhistas. Revista LTr. 75-10/ 1209. Vol. 75 nº 10, Outubro de 2011.

 ALMEIDA, Renato Rua de. Eficácia dos direitos fundamentais nas relações de trabalho.
Revista LTr. Vol. 76 nº 06, Junho de 2012.

 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 9. ed. ver. atual. Rio de Janeiro: Forense, São
Paulo: Método, 2014.

 CARLI, Vilma Maria Inocêncio. A flexibilização dos contratos de trabalho. Campinas. ME


Editora, 2005.

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