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Resumo
ESTE ARTIGO TEM COMO OBJETIVO ANALISAR O PERFIL DA PRODUÇÃO
ORGÂNICA BRASILEIRA A PARTIR DOS DADOS DO CENSO AGROPECUÁRIO
2006. O TRABALHO IDENTIFICA E QUANTIFICA OS ESTABELECIMENTOS QUE
PRODUZEM ORGÂNICOS, ATRAVÉS DO MAPEAMENTO TANTO DAS
CARACTERÍSTICAS DE PRODUÇÃO QUANTO DOS PRODUTORES, SUAS
CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS E AS MACRORREGIÕES DE MAIOR
DESTAQUE. A METODOLOGIA CONSISTIU NA ANÁLISE DE DADOS
SECUNDÁRIOS DO CENSO AGROPECUÁRIO 2006 DO IBGE, RETIRADOS DO
SIDRA, EM RELAÇÃO À VARIÁVEL ‘USO DE AGRICULTURA ORGÂNICA’. COMO
RESULTADOS, EVIDENCIA-SE QUE A AGRICULTURA ORGÂNICA TEM POUCA
EXPRESSIVIDADE EM RELAÇÃO AO TOTAL DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA NO
BRASIL, REPRESENTANDO APENAS 1,75% DE TODOS OS ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS. O PERFIL DA PRODUÇÃO ESTÁ ASSENTADO EM
AGRICULTORES FAMILIARES, ESPECIALMENTE OS AGRICULTORES
ENQUADRADOS NO GRUPO B DO PRONAF (AGRICULTORES MAIS POBRES) E
QUE PARTICIPAM EM COOPERATIVAS OU ENTIDADES DE CLASSE. OS
AGRICULTORES SÃO, EM SUA MAIORIA, PROPRIETÁRIOS DAS TERRAS,
APRESENTANDO BAIXO GRAU DE ESCOLARIZAÇÃO E POUCO OU NENHUM
ACESSO À ASSISTÊNCIA TÉCNICA. AS ATIVIDADES ECONÔMICAS MAIS
FREQUENTES ONDE OS ORGÂNICOS SÃO ENCONTRADOS SÃO A PECUÁRIA E
AS LAVOURAS TEMPORÁRIAS.
Palavras-chave: Agricultura orgânica; Censo Agropecuário 2006; perfil da produção.
1. INTRODUÇÃO
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Os dados desta pesquisa incluem apenas a produção orgânica certificada ao longo do globo, portanto,
representam números subestimados em sua totalidade.
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De acordo com IFOAM (2015), consideram-se como áreas não agrícolas aquelas voltadas à aquicultura,
pastagens e áreas de floresta.
2. METODOLOGIA
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Os dados referentes a isso são construídos, neste artigo, como um contraponto à produção convencional, com
uso de agrotóxicos. Entretanto, os dados do censo não permitem estabelecer diferenciações entre os distintos
modelos de agricultura orgânica, sejam quais forem os seus métodos de produção: ecológica, agroecológica,
orgânica, biodinâmica ou de outra denominação pertinente. Por isso não será detalhado, neste artigo, as
diferentes modalidades e discussões teóricas que permeiam a chamada agricultura orgânica, uma vez que não
há uma diferenciação, neste nível de detalhamento, na base de dados do Censo Agropecuário e nem na
legislação vigente (Lei n° 10.831/2003) a respeito dos distintos sistemas de produção orgânicos.
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A partir da análise dos dados e de informações fornecidas pelo setor técnico do IBGE, constatou-se que existem
7 casos de agricultores que, em resposta ao Censo, consideraram-se produtores orgânicos, mas
concomitantemente, faziam uso de agrotóxicos em pelo menos uma de suas lavouras. Em função disso, ocorreu
uma superestimação de valores: aonde lê-se 90.498 estabelecimentos produtores de orgânicos, na prática, o
valor exato seria 90.491.
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O PLANAPO constitui-se no principal instrumento de execução da Política Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (PNAPO), estabelecido pelo Decreto nº 7.794, de 20 de agosto de 2012.
Com base na análise por grupos de área total é possível evidenciar que a maioria dos
estabelecimentos orgânicos possui de 20 a menos de 50 ha, num total de 13.884
estabelecimentos, representando 15,34% de todos os estabelecimentos orgânicos do país
(Tabela 6). Na sequência, destacam-se os estabelecimentos de 10 a menos de 20 ha (12.525,
representando 13,84%) e de 5 a menos de 10 ha (11.894,representando 13,14%). Entre os
estabelecimentos de uso de agricultura orgânica certificados por entidade credenciada, os
mais proeminentes são os do grupo de 10 a menos de 20 ha (978).
Estes dados reforçam os anteriormente apresentados e discutidos no trabalho: que a
agricultura familiar, pequenos e médios produtores rurais, são os responsáveis pelo
desenvolvimento da agricultura orgânica no país. Os estabelecimentos de médio e grande
porte em termos de áreas de terras possuem pouca relevância na produção orgânica de
alimentos, por exemplo, analisando os estratos de área de 500 a 1000 ha da Tabela 6, verifica-
se que estes produtores somam em torno de apenas mil estabelecimentos que praticam
agricultura orgânica, independente da certificação. Acima de 1000 ha, estes valores caem
ainda mais.
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Nos itens indicados no qual o produtor recebeu assistência técnica de entidade de classe e de cooperativa e
entidades de classe, tal assistência é proveniente de sindicatos, associações/movimentos de produtores e
moradores.
5. Considerações finais
De maneira geral, o perfil aproximado ou ‘médio’ do agricultor orgânico brasileiro
está inserido em estabelecimentos familiares, não certificados por entidade credenciada e com
áreas de pequeno a médio porte (entre 10 e 50 hectares). Quantitativamente, representam
1.75% (dos 90.498) de todos os estabelecimentos agropecuários, sendo destes 82,66%
familiares e 94.4% não certificados. A Região Nordeste é a que possui o maior número de
estabelecimentos agropecuários que fazem uso de agricultura orgânica (42.236,
correspondendo a 1,72% do total de estabelecimentos agropecuários). Porém, em termos de
proporção de estabelecimentos orgânicos é a Sudeste, com 2,03%.
Os agricultores são, em sua maioria, proprietários das terras, apresentando baixo grau
de escolarização e pouco ou nenhum acesso à assistência técnica. Os estabelecimentos estão
em sua maioria associados a entidades de classe (sindicatos) e/ou a cooperativas. Também
possuem acesso a financiamentos, como no caso do PRONAF, onde os agricultores mais
pobres do campo respondem por quase a metade da produção orgânica nacional (Grupo B).
As atividades que mais se destacam entre os orgânicos são a pecuária e a lavoura temporária.
Os números do Censo também revelam uma enorme disparidade entre os estabelecimentos
certificados e os não certificados, evidenciando dificuldades de acesso à certificação pelos
agricultores.
As análises a partir dos dados do Censo evidenciam que a agricultura orgânica no
Brasil ainda é pouco expressiva, tanto com relação ao número de estabelecimentos
agropecuários quando no que diz respeito à área total cultivada. Porém, no contexto mundial,
o Brasil possui lugar significativo em termos de área de produção orgânica, principalmente
frente à América Latina. A contribuição da agricultura familiar para a produção orgânica no
Brasil é de grande relevância e significado. Estes dados estatísticos corroboram às análises
como a de Altieri e Toledo (2011), que afirmam que o predomínio da agricultura familiar
decorre de uma série de fatores histórico-culturais, mas principalmente o fato de que este
segmento de mercado ainda desperta pouco interesse por parte da agricultura não familiar.
Esta avaliação é compartilhada por Niederle e Almeida (2013), os quais chamam a atenção
para três elementos: a baixa demanda por orgânicos; a carência de tecnologias adaptadas; e,
mais fortemente, a ausência de um contexto político-institucional que ‘garanta estabilidade à
dinâmica dos mercados’de orgânicos no país. Não obstante, há indícios de que este quadro
esteja se alterando, tendo em vista o desenvolvimento de tecnologias apropriadas, o aumento
da demanda pelos mercados,a mudança de opinião dos consumidores e as nascentes políticas
públicas voltadas à agroecologia e produção orgânica.
6. Referências
AQUINO, J. R. et al. Dimensão e características do público potencial do Grupo B do
PRONAF na região Nordeste e no estado de Minas Gerais. In: SCHNEIDER, S.;
FERREIRA, B.; ALVES, F. (Orgs.). Aspectos multidimensionais da agricultura
brasileira: diferentes visões do censo agropecuário 2006. Brasília: IPEA, 2014. p. 77-
105.