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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS E AGRÁRIAS

Avaliação da Qualidade de Solos Através de


Metodologias Participativas

VITÓRIA SENA CRUZ – Bolsista


ALEXANDRE EDUARDO DE ARAUJO - Orientador

Bananeiras - PB
2020
VITÓRIA SENA CRUZ

Relatório do Projeto regido pelo Edital de Responsabilidade


Social do CCHSA, intitulado: Avaliação da Qualidade de Solos
Através de Metodologias Participativas apresentado à
Coordenação Acadêmica e de Avaliação Institucional, referente
às atividades desenvolvidas no período de 02/06/2019 a
31/12/2019, realizado nos municípios de Solânea, Serraria e
Casserengue.

Bananeiras, 02 de fevereiro de 2020

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Em atendimento ao edital 003/2019 CCHSA/UFPB no
item 9,7, apresentamos o relatório das atividades
desenvolvidas no programa responsabilidade social
através do Projeto Avaliação da Qualidade de Solos
Através de Metodologias Participativas, apresentado e
submetido para seleção conforme termo de compromisso
e plano de atividades previamente celebrados entre as
partes abaixo.

____________________________________
Vitória Sena Cruz
Graduanda em Agroecologia
E-mail: vick.sena@gmail.com

____________________________________
Alexandre Eduardo de Araújo
Professor Orientador
E-mail: alexandreeduardodearaujo@hotmail.com

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO………………………………………………………………… 5

DESENVOLVIMENTO………………………………………………………… 6

DESAFIOS…………………………………………………….….…………… 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………..……………… 26

REFERÊNCIAS………………………………………………………………… 27

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1. Introdução

O cuidado com a saúde dos solos advém da necessidade de estarmos no constante


movimento de busca pela sustentabilidade dos agroecossistemas, tanto na sua
dimensão ambiental quanto na econômica e social. O solo é o organismo o qual todos
os seres vivos dependem, a qualidade de sua saúde afeta a qualidade da vida de
todos os seres que compõem a Terra (PINHEIRO, 2015). E por ser esse organismo
dinâmico, as ferramentas que possibilitam a avaliação de sua qualidade são de
fundamental importância para que em seguida possam ser traçadas técnicas
adequadas de manejo agroecológico. Dessa forma, é possível manter um solo
saudável e com alto potencial produtivo, promovendo o fortalecimento das funções
ecológicas e da Agricultura Familiar Camponesa.

Este relatório tem como objetivo apresentar as atividades que foram desenvolvidas no
projeto Avaliação da Qualidade dos Solos de Agroecossistemas Através de
Metodologias Participativas, durante o período de junho à dezembro de 2019, em três
agroecossistemas: Sítio Juazeirinho, Solânea - PB; Assentamento Cajazeiras, no lote
da família de Josefa e João Paulo, Serraria - PB; Assentamento Chê Guevara, no lote
da família de Adriana e Augusto, Casserengue - PB. Todas as atividades foram
pensadas e realizadas em conjunto com as famílias dos três agroecossistemas.
Houve também atividades executadas no Laboratório de Tecnologias Agroecológicas
e Desenvolvimento Sócio-Ambiental (ASDA), na Universidade Federal da Paraíba
(UFPB) - Campus III, com objetivo de avaliar a qualidade do solo dos
agroecossistemas.

As ações desenvolvidas e aqui descritas estão ainda vinculadas aos projetos


Indicadores de Sustentabilidade em Agroecossistemas de Base Familiar em
Transição Agroecológica (PIBIC); Caracterização Cromatográfica dos Solos de
Agroecossistemas em Transição Agroecológica (PIVIC); Construindo sustentabilidade
em agroecossistemas de base familiar para a transição agroecológica (PROBEX);
Fortalecendo Agroecossistemas de base familiar no processo de transição
agroecológica (UFPB no seu município); Indicadores de Qualidade do Solo em
Agroecossistemas (pesquisa de mestrado) e foram realizadas em conjunto.

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O uso metodologias participativas possibilita a construção de um diálogo horizontal
com as famílias, promovendo a valorização da ciência popular e do conhecimento oral,
epistemes que são constantemente deslegitimizadas pelo pensamento convencional
acadêmico, pois compreendemos que camponeses e camponesas são sujeitos que
constroem e transformam a sua realidade. Dessa maneira, o planejamento das
atividades é feito em conjunto com as famílias, a partir de suas próprias demandas,
buscando sempre socializar técnicas de baixo custo para a avaliação e manutenção
da saúde do solo, e da sustentabilidade do agroecossistema como um todo, a fim de
fortalecer as famílias no processo de transição agroecológica.

O presente projeto teve início em junho de 2019 como demanda dos outros projetos
(PIBIC, UFPB no seu município, PROBEX) que já estavam atuando nos três
agroecossistemas desde março de dois mil e dezenove, portanto as atividades aqui
relatadas fazem parte e são frutos de um processo continuado de pesquisa e
extensão, num exercício contínuo da práxis.

1.1 Integrantes

● Gerson João da Silva;


● Gabriel Torres Rodrigues;
● David Marx Antunes de Melo;
● Jurema Souza Silva;
● Paulo César Carneiro Barreto;
● Vitória Sena Cruz;
● Alexandre Eduardo de Araújo

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2. Desenvolvimento

Sítio Juazeirinho
Caracterização do agroecossistema:
Está localizado no município de Solânea - PB, na Microrregião do Curimataú
Oriental paraibano. O local possui clima tropical chuvoso já com algumas
características de semiárido, a vegetação se encontra numa área de transição entre
a Caatinga e a Mata Atlântica. O núcleo familiar ativo nos processos do
agroecossistema é constituído por Joana (mãe), Cazuza (pai), Jardiel (filho) e
Severino (filho). O agroecossistema têm cerca de 10,7 ha, composto pelos
subsistemas de mata; casa e quintal produtivo, com uma grande variedade de
hortaliças; capineira; roçado e pastagem. Há duas cisternas na unidade produtiva,
uma de dezesseis mil litros, para consumo humano, conquistada através do Programa
Um Milhão de Cisternas (P1MC), a outra é uma cisterna calçadão de cinquenta e dois
mil litros, acessada através do Programa Uma Terra Duas Águas (P1+2), utilizada
para produção de alimentos para consumo interno e também para comercialização. A
família também fornece alimento para o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE). Há também criação animal no agroecossistema, mas a renda familiar é
gerada principalmente pela venda de hortaliças na feira livre e na feira agroecológica
de Solânea.

Rio do Tempo e Mapa do Agroecossistema


No dia cinco de junho de dois mil e dezenove, com a presença de Cazuza e
Joana, e os membros da equipe Gerson e David, foram realizadas as atividades de
construção do rio do tempo e mapa do agroecossistema. O rio do tempo é uma
ferramenta participativa proposta para, a partir de uma cronologia dos fatos mais
significativos, se construir uma narrativa histórica da família desde a chegada ao
agroecossistema até os dias atuais. Esse instrumento permite o diálogo com o tempo
da memória e o tempo do presente, pois ao lembrar de momentos que já aconteceram,
as pessoas têm a possibilidade de elaborar essas memórias de maneira crítica de
acordo com as percepções que se têm no presente. É ainda uma ferramenta
importante para que a família visualize sua trajetória no agroecossistema, as
conquistas e desafios enfrentados, de modo que é possível relacionar os

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acontecimentos com processos que estavam acontecendo num contexto conjuntural
externo à família, como municipal, estadual e até nacional.

De acordo com a narrativa histórica construída pôde-se notar a importância da


organização social e do acesso à políticas públicas que promoveram mecanismos
para que a família pudesse ter seus direitos de acesso à água, à alimentação, à
educação assegurados, e a partir de então iniciar o processo de transição
agroecológica.

Já o mapa do agroecossistema consiste em uma representação cartográfica,


por meio de desenhos, da propriedade feita de maneira conjunta com os membros do
núcleo familiar. Essa metodologia permite a reflexão sobre como está organizado o
agroecossistema e seus subsistemas e sobre os fluxos de energia que atuam ali
dentro (Figuras 1 e 2).

Figuras 1 e 2: confecção da linha do tempo e do mapa do Sítio Juazeirinho

Construção do Viveiro de Mudas


No dia vinte seis de agosto de dois mil e dezenove a atividade teve como
objetivo executar a primeira etapa da construção de um Viveiro de Mudas no quintal
produtivo para suprir a demanda de mudas da unidade produtiva. Na ocasião, foram
tiradas estacas de Sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia) e em seguida foi montada a
estrutura do viveiro.

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2.2 Assentamento Chê Guevara - Lote de Adriana e Augusto
Caracterização do agroecossistema:
Está localizado no município de Casserengue - PB, na microrregião do Curimataú
Ocidental paraibano. O local possui clima semiárido, a vegetação faz parte do bioma
da Caatinga Hipoxerofila. O agroecossistema possui cerca de 15 hectares (ha),
composto pelos subsistemas de mata, roçado, palmal, palma mais nova, casa e
pastagem. Há duas cisternas na unidade produtiva, do P1MC e P1+2. Os membros
do núcleo familiar são Adriana (Mãe), Augusto (pai) e cinco filhos. Adriana e Augusto
são jovens experimentadores, envolvidos ativamente no processo de luta pela terra.
A renda da família vem principalmente da criação de caprinos e ovinos, mas há
também o roçado, onde a família produz anualmente Milho (Zea mays) e Feijão (Vigna
unguiculata) em sequeiro.

Travessia e Mapa do Agroecossistema


No dia seis de junho de dois mil e dezenove, foi realizada uma caminhada pelo
agroecossistema, guiada por Augusto, que apresentou todos os subsistemas (Figuras
3 e 4). Também estavam presentes David, Gerson e Lucas Salla. Após a travessia,
toda a família realizou a construção do mapa da unidade produtiva. Nessa ocasião,
Lucas Salla gravou, em formato de audiovisual, um relato de experiência onde
Augusto contou um pouco sobre três tecnologias sociais estratégicas para convivência
com o semiárido que foram incorporadas no agroecossistema da família: o Reuso de
Águas Cinzas, o Biogel de Palma e Estoque de Silagem e Feno.

Figuras 3 e 4: confecção do mapa do agroecossistema no assentamento Chê

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Finalização do Reuso de Água
No dia doze de julho de dois mil e dezenove, foi realizada a segunda etapa da
construção da tecnologia do Reuso de Águas Cinzas. A primeira etapa foi realizada
em maio, pois a partir do Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) se identificou o
descarte incorreto das águas utilizadas nas pias da cozinha e banheiro, que a longo
prazo causa enormes danos ao solo e consequentemente às plantas que ali vivem,
então foi proposta a construção de um sistema com filtros para a reutilização dessa
água para irrigação de algumas frutíferas. Estavam presentes os membros da equipe
Gabriel, Gerson, Paulo e Alexandre Eduardo. A atividade com objetivo de finalizar a
tecnologia de Reuso de Águas Cinzas foi desenvolvida em conjunto com as disciplinas
de Extensão Rural e Metodologias Participativas e Fundamentos de Economia. As/os
estudantes dessas disciplinas além de contribuir na finalização do sistema, também
puderam ouvir Augusto contar um pouco sobre sua experiência enquanto assentado
da reforma agrária, Augusto também partilhou com as turmas algumas estratégias de
convivência com o semiárido possibilitando (Figuras 5, 6, 7 e 8).

Figuras 5, 6, 7 e 8: finalização do sistema de Reuso de Águas Cinzas

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Sal Agroecológico

No dia três de agosto de dois mil e dezenove, houve a confecção do Sal


Agroecológico para suplementação mineral de ruminantes, o momento foi facilitado
por Wedson e Gerson. A família irá utilizar o sal para suplementação alimentar de
caprinos de leite. Este sal serve como uma alternativa ao Sal Mineral convencional,
pois o seu custo benefício é de maior rentabilidade e ainda pode ser caracterizado
como um composto alimentar, que fortalece o organismo dos animais e melhora o
desempenho produtivo.
Segue a receita do Sal Agroecológico:
● 1 kg de pó de telha de barro ou tijolo;
● 1 kg de cinza de fogão de lenha;
● 1 kg de sal de cozinha;
● 1 kg de pó de rocha MB4;
● 1 kg de farelo de milho; e
● 50 g de enxofre

Modo de preparo:
Passar todos os ingredientes na peneira e depois misturar até que a coloração ficar
homogênea, cada quilo dessa mistura deve ser incorporada a mais cinco quilos de sal
comum (Figuras 9 e 10).
Calculamos que foi gasto em torno de quinze reais para a feitura de 36 quilos
do sal agroecológico.

Figuras 9 e 10: Confecção do Sal Agroecológico

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Reajuste do Reuso de Águas Cinzas
No dia vinte oito de novembro de dois mil e dezenove houve o reajuste do
sistema de Reuso de Águas Cinzas. Depois da feitura em maio, o sistema esteve em
observação e análise para se atestar a qualidade da filtragem. Nesse processo foi
feita uma análise química da água, onde se constatou que estava acontecendo o
aumento de microrganismos patógenos ao longo dos filtros. Com isso, houve a
reflexão e foi decidido incrementar outro balde filtrante com caco de telha, brita, cal
virgem e areia. Assim sendo, no remodelamento, a configuração do Reuso de Águas
Cinzas ficou, em ordem: caixa de gordura; balde decantador; balde filtro contendo
caco de telha, brita, cal virgem e areia; balde filtro com caco de telha, brita, carvão e
areia e outro balde filtro com caco de telha, brita, carvão e areia.
Nessa ocasião, esteve presente a disciplina de Convivência com o Semiárido,
as e os estudantes participaram de uma travessia pelo agroecossistema, guiada por
Adriana, e participaram da confecção do Reuso de Águas Cinzas (Figuras 11, 12, 13
14).

Figuras 11, 12, 13 e 14: Ajude no Reuso de Águas Cinzas

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2.3 Assentamento Cajazeiras - Lote de João Paulo e Josefa
Caracterização do agroecossistema:
Está localizado no município de Serraria - PB, no Planalto da Borborema. O
clima da região é Tropical Chuvoso, a vegetação se encontra na transição entre os
biomas da Mata Atlântica e da Caatinga. O agroecossistema possui cerca de 6 ha,
composto pelos subsistemas de mata; casa; bananal; roçado; horta e o policultivo
junto com a cultura principal que é o urucum (Bixa orellana). A família que compõe a
unidade produtiva são Josefa (mãe), João Paulo (pai), filhos e netos. Há cerca de 20
anos, a família conquistou a terra pela reforma agrária. João Paulo é uma liderança e
uma referência na luta pela terra de sua comunidade. Hoje João Paulo está como
presidente da associação do assentamento. Também há, na unidade, a criação de
bovinos, galinhas de capoeira e de abelhas Uruçu. A renda da família vem
principalmente da venda de hortaliças na feira agroecológica de Serraria.

Coleta de Solo

No dia dezenove de agosto de dois mil e dezenove foi coletado solos de todos
os subsistemas para que fossem realizados testes de cromatografia, para dar
continuidade ao acompanhamento da saúde do solo. Nesse mesmo dia se iniciou o
planejamento para a construção do Reuso de Água.

Construção do Reuso de Águas Cinzas

No dia dezenove de setembro de dois mil e dezenove houve a construção do


sistema de Reuso de Águas Cinzas. Essa ideia surgiu a partir de um DRP, onde foi
identificado o descarte inadequado de águas das pias da cozinha, lavanderia e
banheiro. Essa água, a longo prazo, causa contaminação do solo. Então surgiu a
proposta da construção de um sistema de filtros, que além de evitar a contaminação
do solo, evita também o desperdício de água, pois a água filtrada é destinada a
irrigação de algumas frutíferas. O Reuso de Águas Cinzas contém, em ordem: uma
caixa de gordura; um balde decantador; um balde filtro contendo caco de telha, carvão,
brita e areia e outro balde filtro contendo caco de telha, carvão, brita e areia. A

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construção foi feita junto com a disciplina de Extensão Rural e Metodologias
Participativas, sendo um momento de muito aprendizado. (Figuras 15 e 16)

Figura 15 e 16: Construção do Sistema de Reuso de Águas Cinzas

Repensar o Reuso de Águas Cinzas

No dia dezesseis de outubro de dois mil e dezenove a visita ao assentamento


Cajazeiras teve o objetivo de repensar a estrutura do sistema de Reuso de Águas
Cinzas, pois João Paulo relatou que a água não estava sendo liberada. Após a retirada
dos canos, pôde-se ver que eles estavam entupidos, talvez porque no dia da
construção dos filtros, houve a mistura dos materiais filtrantes, que já estavam dentro
do balde, para transportá-lo até o local onde o mesmo ficaria. Então foi pensado fazer
uma abertura nos baldes, para facilitar o preenchimento, pois esse processo deve
acontecer com os baldes já encaixados. Também foi decidido adicionar um outro
balde filtrante com brita, areia e cal.

Reconstrução do Reuso de Águas Cinzas

No dia seis de dezembro de dois mil e dezoito a atividade teve como objetivo a
remodelação do sistema de Reuso de Águas Cinzas. Na ocasião estavam presentes
os membros da equipe Paulo e Gerson, e da família estava João Paulo. Houve o
acréscimo de mais um balde filtrante com brita, areia e cal. Também foi trocado todo
material dos outros baldes, pois o processo de filtragem estava comprometido já que
as camadas tinham se misturado dentro dos baldes. Para facilitar, foi feita uma
abertura nos baldes. Entretanto, não foi colocado carvão, mas João Paulo se

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comprometeu de acrescentar o carvão posteriormente. Dessa forma, com o
remodelamento do sistema, a configuração dos baldes ficou: caixa de gordura; balde
decantador; balde filtro contendo caco de telha, brita, cal virgem e areia; balde filtro
com caco de telha, brita e areia e outro balde filtro com caco de telha, brita e areia.

Figuras 17 18, 19 e 20: Reajuste no Reuso de Águas Cinzas

Laboratório de Tecnologias Agroecológicas e Desenvolvimento


Sócio-Ambiental (ASDA)
Cromatografia
No Laboratório ASDA as atividades foram desenvolvidas, com auxílio do
estagiário Edson Antonio De Moraes Pinho e Souza. As atividades tiveram como
objetivo realizar testes cromatográficos com solos dos agroecossistemas de Solânea,
Serraria e Casserengue. Também foram realizados testes com solos da Universidade,
com a finalidade de pesquisa.

A Cromatografia de Pfeiffer (CP) é um método de baixo custo utilizado para se


analisar a saúde do solo de forma qualitativa, por meio da harmonia entre as cores e

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desenhos do cromatograma (PINHEIRO, 2012). O holograma é formado pelo
processo físico de separação dos diferentes componentes pelo seu grau de
complexidade, usando o princípio da retenção seletiva. (MELO et al., 2019). Desse
modo, é possível observar as dimensões físicas, químicas e biológicas do solo de
maneira em que todos esses aspectos se integram e são interdependentes. A
importância da CP está em ser uma alternativa mais acessível de acompanhamento
da saúde do solo podendo ser feita pelas próprias populações camponesas.

A CP ainda é uma técnica pouco difundida, por isso o esforço em pesquisar e


socializar esse método para que agricultoras e agricultores se apropriem cada vez
mais de tecnologias que promovam autonomia e contribuam para a transição
agroecológica.

Descrição do método, que foi realizado para obtenção dos cromatogramas dos
agroecossistemas, desenvolvido por Pfeiffer de acordo com Rivera e Pinheiro (2011):

Coletar cerca de duzentos e cinquenta gramas, de forma simples ou composta.


Em seguida colocar o solo para secar, sobre papel limpo, em um ambiente seco e em
sombra. Depois de seco deve-se peneirar o solo. Após essa etapa, se peneira de
novo, mas dessa vez com um voal. Pesar cinco gramas e identificar a amostra.

Colocar as cinco gramas de solo em um copo de plástico ou em algum


recipiente de vidro, adicionar 50 mililitros de uma solução de Soda Cáustica à 1%.
Então se faz seis séries de seis giros para a esquerda, seis giros para a direita. Essa
solução deverá descansar por quinze minutos e após, repetir a mesma mistura feita
anteriormente. Novamente a solução irá descansar por uma hora e após, repetir a
mistura. Por fim, a mistura irá descansar por seis horas.

Enquanto a mistura descansa, se inicia o processo de impregnação do papel-


filtro circular Jprolab® 41 faixa preta de 15 cm é feito por meio de um pavio de papel.
A impregnação é realizada com nitrato de prato à 0,5%, o papel é levado para secar
em total escuridão por cerca de seis horas.

Após as seis horas de repouso da solução com amostra de solo, coletar o


sobrenadante da solução com uma seringa e transferir para uma tampa de garrafa pet
ou placa de Petri pequena. Feito isso, colocar um novo pavio no papel para que a
solução possa entrar em contato com o papel-filtro, dessa forma, os componentes do

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solo vão se separando por capilaridade e formando a figura cromatográfica.

Figura 21, 22, 23 e 24: feitura dos cromatogramas

Para a interpretação, o cromatograma é dividido em três zonas, são elas:

Figura 25: Cromatograma e suas zonas

A Zona central (ZC) indica questões relacionadas a estrutura do solo, Zona


interna e intermediária, formam uma só zona (ZI), indicam a atividade mineralógica e

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matéria orgânica e Zona externa (ZE) é a zona que aponta a atividade microbiana e
atividade húmica.

Seguem as figuras 26, 27 e 28, com os subsistemas dos três agroecossistemas, onde
foi utilizado um recurso visual, para facilitar a interpretação, nas cores vermelho
(deficiente), amarelo (suficiente), verde (bom) e azul (excelente):

a) Sítio Juazeirinho

Figura 26: Cromatogramas dos principais subsistemas do Sítio Juazeirinho - a1: macaxeira, a2: batata,
a3: quintal, a4: pasto e a5: mata. Fonte: David Melo.

De acordo com os cromatogramas do Sítio Juazeirinho, os solos do


agroecossistema apresentam boa qualidade em sua saúde. Na ZC os subsistemas a2
e a4 apresentaram coloração amarela que indica que a qualidade da estrutura do solo
está suficiente, mas pode melhorar. Os subsistemas a1 e a3 obtiveram cor verde
indicando boa estrutura, aeração do solo. O subsistema a5, da mata, obteve cor azul
pela cor e tamanho da ZC, que indica excelente estrutura, atividade fermentativa e
aeração.

A atividade biológica expressa pelos dentes formados na ZE demonstram que


há diversidade de enzimas que atuam principalmente no processo de ciclagem de
nutrientes, sendo assim os subsistemas a1, a2, a3 e a4 apresentaram coloração verde
indicando bom desempenho, já o subsistema a5 conseguiu coloração azul, indicando
uma excelente atividade enzimática.

Consequentemente os subsistemas apresentaram boa disponibilidade


mineralógica, expressa pela ZI que receberam a coloração verde.

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b) Assentamento Chê Guevara, lote Adriana e Augusto

Figura 27: Cromatogramas dos principais subsistemas do Lote de Adriana e Augusto.- b1: feijão; b2:
milho; b3: palma; b4: palmal; b5: mata. Fonte: David Melo

No assentamento Chê, em Casserengue, os subsistemas b1, b2, b3 e


b4 apresentaram coloração vermelha na ZC, indicando que o solo está tendo
dificuldade em realizar suas funções ecológicas relacionadas à estrutura, um
dos motivos para essa deficiência é a compactação do solo dos quatro
subsistemas. O subsistema b5, da mata, obteve coloração amarela indicando
que a qualidade da estrutura está suficiente.

Já na ZI, os subsistemas b1 e b4 obtiveram cor amarela, indicando que


a disponibilidade de minerais está suficiente, mas nos subsistemas b2 e b3 a
ZI expressa deficiência na disponibilidade de nutrientes. Somente o subsistema
b5 apresentou boa atividade mineral, pode-se ver que no cromatograma b5 os
raios interagem desde a ZC até a ZE, justificando a cor verde.

Na ZE os subsistemas b1, b2 e b3 apresentaram cor amarela,


expressando que a atividade enzimática está mediana, mas ainda dentro do
que se pode caracterizar de suficiente. Os solos b4 e b5 apresentaram cor
verde indicando boa atividade dos microrganismos.

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c) Cajazeiras - Lote Josefa e João Paulo

Figura 28: Cromatogramas dos principais subsistemas do Lote de João Paulo e Josefa - c1: banana; c2:
horta; c3: policultivo, c4: capim, c5: mata. Fonte: David Melo

A partir dos cromatogramas, pode-se observar que todos os subsistemas


apresentaram zonas internas e externas com a coloração verde, indicando que as
funções ecológicas relacionadas à ciclagem de nutrientes, à atividade enzimática, à
presença de nutrientes e microrganismos estão sendo bem desenvolvidas.

A ZC de todos os subsistemas apresentaram coloração amarela, indicando que


a estrutura do solo está apresentando qualidade suficiente. Isso se justifica pois antes
da família chegar no agroecossistema, a cerca de duas décadas, havia uma enorme
monocultura de cana no agroecossistema.

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Análise Química dos Solos
As análises químicas dos solos dos agroecossistemas foram feitas no
Laboratório de Solos da UFPB - CAMPUS III.
Segue as análises química dos solos dos três agroecossistemas:
a)
Amostra Ph P K Na Ca Mg Al H+AL SB CTC m V M.O

H2O mg\dm³ cmol\dm³ % g/Kg

Batata 5,73 166,28 169,4 0,06 3,92 1,77 0 4,04 6,19 10,23 0 62,79 22,42

Macaxeira 5,78 199,96 159,28 0,07 2,55 2,42 0,06 5,48 5,45 10,94 1,13 50,03 19,77

Pasto 5,58 144,16 208,91 0,18 1,87 2,35 0,1 3,46 4,94 8,41 2,02 62,06 19,08

Quintal 5,53 159,63 214,07 0,12 3,22 2,05 0,05 6,52 5,94 12,46 0,85 47,93 24,15
Mata 6,57 141,35 213,39 0,09 7,42 2,45 0 2,35 10,51 12,86 0 82,65 70,65
Tabela 1: Análise química do solo dos principais subsistemas do Sítio Juazeirinho, Solânea.

Para valores de pH, todos os subsistemas atingiram valores entre 5,50 à 6,60,
valores que são considerados bons para solos agricultáveis, pois é a faixa ideal para
a maioria das culturas produzidas no Brasil (RODRIGUES, 2019).

Para P, K, Ca e Mg todos os subsistemas obtiveram valores altos, indicando


boa disponibilidade de nutrientes.

Em relação aos índices de CTC, apenas o subsistema do Pasto apresentou


valor médio, os outros quatro (Batata, Macaxeira, Quintal e Mata) possuem CTC com
valores acima de 10cmol³/dm³, que é considerado valores altos. Solos com alto valor
de CTC apresentam maior resistência em alterar o pH. Indicando que o solo consegue
adsorver grande quantidade de nutrientes catiônicos (PREZOTTI, 2013).

Para Soma de Bases (SB) todos os subsistemas apresentaram valores altos.

Para os valores de Saturação por Bases (V), apenas o subsistema da Mata foi
satisfatório. Pasto, Batata e Macaxeira apresentaram valores médios e o subsistema
Quintal apresentou valor baixo. A V é uma variável muito importante para a análise
química do solo, porque indica a porcentagem do total de cargas negativas ocupadas
por bases (K, Ca, Na, Mg). Solos com menos de 50% indicam baixa fertilidade.
(PREZOTTI, 2013)

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Já para acidez potencial (H+AL) apenas o subsistema Quintal obteve bom
resultado, com valor de 6,52. Os outros quatro Batata, Macaxeira, Pasto e Mata
obtiveram valores médios.

Em relação aos valores para Matéria Orgânica (M.O), todos os subsistemas


agrícolas apresentaram baixos valores, indicando que ainda é um desafio para o
processo de transição agroecológica manter os solos com grandes quantidades de
M.O.

b)

Amostra Ph P K Na Ca Mg Al H+AL SB CTC m V M.O


H2O mg\dm³ cmol\dm³ % g/Kg

Feijão 6,45 182,19 216,8 0,1 7,3 2,9 0 3,96 10,85 14,81 0 73,27 14,68

Palma nova 6,85 164,88 214,46 0,09 6,7 2,7 0 3,8 10,04 13,83 0 72,57 3,11
Mata 6,35 170,18 215,63 0,17 7 4,5 0 6,44 12,22 18,66 0 65,51 22,36

Palmal 5,08 107,87 211,36 0,07 6,2 3,2 0 1,82 10,01 11,83 0 84,65 20,73

Milho 6,42 159,91 214,46 0,11 5,8 2,7 0 1,65 9,16 10,81 0 84,73 4,89
Tabela 2: Análise química do solo dos principais subsistemas do lote de Augusto e Adriana, Assentamento
Chê, Casserengue.

De acordo com a análise química do solo, apenas o subsistema do Palmal


apresentou acidez média com pH de 5,08. Os outros subsistemas obtiveram pH dentro
dos parâmetros de solo ideal para agricultura.

Para P, K, Ca e Mg todos os subsistemas obtiveram valores altos, indicando


boa disponibilidade de nutrientes.
Em relação aos índices de CTC todos os subsistemas obtiveram valores
acima de 10 cmol³\dm³. Indica que os solos possuem bastante potencial produtivo.
Para SB, todos os subsistemas conseguiram atingir valores bons.
Já os valores para saturação por bases apenas o subsistema da mata obteve
valor médio. Indicando então que todos os subsistemas estão com boa fertilidade.
Em relação à acidez potencial, apenas o subsistema da Mata apresentou bom
resultado.
Através dos valores obtidos para M.O, pode-se perceber que uma boa
quantidade de matéria orgânica no solo é ainda mais desafiante quando no
semiárido.

c)

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Amostra Ph P K Na Ca Mg Al H+AL SB CTC m V M.O

H2O mg\dm³ cmol\dm³ % g/Kg

Banana 6,22 117,6 155,3 0,1 3,5 4,3 0 4,95 8,3 13,25 0 62,63 18,95

Roçado 6,25 110,03 191,5 0,43 5,5 3,1 0 5,94 9,52 15,46 0 61,58 27,14

Mata 6,15 91,85 209,4 0,09 5 2,2 0 4,13 7,83 11,95 0 65,48 16,28

Horta 6,2 88,07 209,01 0,07 4 3,3 0 3,47 7,9 11,37 0 69,52 21,44

Urucum 6,12 123,45 214,85 0,41 5 3,5 0 3,14 9,46 12,59 0 75,11 32,48
Tabela 3: Análise química do solo dos principais subsistemas do lote de Josefa e João Paulo,
Assentamento Cajazeiras, Serraria

Sobre os valores de pH, todos os subsistemas atingiram entre 5,50 à 6,60,


valores que são considerados bons para solos agricultáveis.

Para P, K, Ca e Mg todos os subsistemas obtiveram valores altos, indicando


boa disponibilidade de nutrientes.

Para SB e CTC, todos os subsistemas conseguiram atingir valores bons.

Em relação à Saturação por Bases, apenas o subsistema do Urucum obteve


valores satisfatórios, enquanto os outros obtiveram valores medianos.

Assim como os outros agroecossistemas, os subsistemas do Lote de João


Paulo e Josefa no assentamento Cajazeiras também apresentaram baixos ou médios
valores de M.O.

23
3. Desafios
Para a realização das atividades, foi muito desafiante a falta de transporte
disponibilizado pela universidade, já que as atividades são desenvolvidas em três
cidades diferentes. Esse fator limita não só a ida das pessoas que fazem parte da
equipe, mas também a ida de outras/os estudantes que possam ter interesse em
participar de alguma atividade.

Nas comunidades, as contradições da dimensão social ainda se constituem


como um desafio para a transição agroecológica. Há uma disparidade muito grande
nas relações de gênero, onde os homens ocupam os espaços públicos e formativos,
enquanto as mulheres ocupam o espaço privado, dos afazeres domésticos. É
importante se pensar formas de ouvir e incluir essas mulheres em atividades par’além
das domésticas, despertando outras potencialidades. Não é justo que apenas os
homens participem das atividades formativas porque as mulheres estão preparando a
alimentação destas atividades, por exemplo. Entretanto, há de se ter compreensão
que o sistema patriarcal está enraizado de forma estruturante na sociedade e que,
portanto, requer estudo, reflexão e ação de forma estratégica, dialogando com todos
os sujeitos envolvidos.

Vale também apontar que essa disparidade está presente inclusive dentro da
equipe, composta pela maioria masculina, que muitas vezes acaba por reproduzir
frases e atitudes machistas em campo e em demais ambientes universitários. É
preciso refletir internamente sobre as questões de gênero e sobre como iremos nos
posicionar quanto a isso.

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4. Considerações finais
Esses meses de intenso trabalho foram de muito crescimento e aprendizado.
As metodologias participativas se mostram como uma ferramenta importante no
diálogo com as famílias, pois por muitos anos a Extensão Rural foi e muitas vezes
ainda é um processo antidialógico, em que é negado à agricultoras e agricultores a
posição de sujeito que entende e constrói sobre sua realidade. A Extensão Rural
nesse modo se intenciona à condicionar essas pessoas ao conhecimento que vem de
fora e a resolver problemas que também são externos às famílias agricultoras. Assim,
o conhecimento agroecológico vem em contrapartida a essa lógica dominadora, se
propondo a construir paradigmas mais justos. A Universidade tem um papel muito
significativo nessa construção, por isso a importância da pesquisa e extensão
comprometida com a transformação da realidade.

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5. Referências
ARAÚJO, A. S. F. de; MONTEIRO, R. T. R.. Indicadores biológicos de qualidade do solo.
Bioscience Journal. Uberlândia, p. 66-75. set. 2007.
BORGES, P. H. C. et al. Peróxido de Hidrogênio na Determinação dos Teores de Carbono
Orgânico do Solo - uma Alternativa Simples e de Menor Impacto Ambiental. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA, 8. 2013, Porto Alegre. Trabalho científico. Viçosa:
Cadernos de Agroecologia, 2013. V. 8, p. 2 - 8.
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4. Editores técnicos – Brasília, DF: Embrapa, 2018. 373 p.
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da sustentabilidade de unidades olerícolas no Sul do Uruguai. Dissertação (mestrado).
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Embrapa Clima Temperado. DOCUMENTOS 455. 2018. Pelotas, RS. PINHEIRO, S.. Saúde
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VERDEJO, M.E. Diagnóstico Rural Participativo: guia prático DRP. Brasília: MDA/Secretaria
da Agricultura Familiar, 2006. 62 p.

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