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RESUMO
Esse artigo reflete sobre a questão da soberania alimentar no contexto do assentamento Chico
Mendes II (implantado em 19 de janeiro de 2018), situado na cidade de Macambira, Sergipe. A
questão alimentar é, paradoxalmente, um dos grandes dilemas da nossa sociedade, em vista da
lógica contraditória, desigual e combinada do modelo capitalista de produção, o qual, transformou o
alimento em mercadoria, e como tal, precisa gerar lucro e atender as demandas do mercado. Optou-
se por um modelo de organização socioespacial, pautado na dicotomia sociedade natureza, na
utilização do meio técnico científico enquanto instrumento para permitir a reprodução ampliada do
capital, sem se ater, necessariamente, às necessidades vitais de consumo humano, para a
manutenção da vida, para garantir que todas as pessoas possam se alimentar com a quantidade e
qualidade necessárias. Foram coletados dados no IBGE, além das visitas de campo com a finalidade
de fotografar a área de estudo. O assentamento Chico Mendes II compõe o recorte da base empírica
desta pesquisa, por ter uma proposta de organização para o fortalecimento da produção de alimentos
que resgatam o saber fazer camponês, a lógica da reprodução camponesa baseada no policultivo, o
qual propicia elementos para a segurança alimentar. O momento é paradoxal, na medida em que, de
um lado, o Estado de Sergipe, liberou a utilização de sementes crioulas, ao tempo em que faz
acordo para consolidar o cultivo transgênico no solo sergipano. Dessa feita, a luta pela soberania e
segurança alimentar é, também, uma luta territorial, além de política, ideológica e de classe.
Palavras-chave: Segurança e Soberania Alimentar; Camponês Assentado; Espaço Rural Sergipano.
ABSTRACT
This article reflects on the issue of foodsovereignty in the context of the Assentamento Chico
Mendes II (deployed in 19 January 2018), located in the city of Macambira, Sergipe. The food issue
is, paradoxically, one of the great dilemmas of our society, in view of the contradictory logic,
unequaland combined the capitalist model venture capitalist production, which transformed the food
goods, and assuch, needs to make a profit and meet the demands of the market. We opted for a
model of socio-spatial organization, based on the dichotomy society nature, the use of technical
means as scientific to enable playback expanded the capital without necessarily subscribing to vital
human consumption needs, forthe maintenance of life, to ensure that all people can feed themselves
with the quantity and qualityrequired. Data were collected in the IBGE, in addition to field visits for
INTRODUÇÃO
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Essa pesquisa é de natureza qualitativa e quantitativa. De acordo com Minayo (2001, p 22)
“O conjunto de dados quantitativos e qualitativos, não se opõem. Ao contrário, se complementam,
pois, a realidade a rangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”.
Ademais, para a elaboração deste trabalho foi necessário realizar a pesquisa bibliográfica acerca dos
temas discutidos no corpo deste artigo. Fez-se necessário coletar dados no Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), além das visitas de campo com a finalidade de fotografar a área de
estudo.
Para obtermos os resultados, selecionamos três cultivos alimentares para fins de
comparação, sendo estes, a mandioca, o feijão e o milho. Os dois primeiros identificam a produção
camponesa e o último representa o agronegócio. O assentamento Chico Mendes II compõe o recorte
da base empírica desta pesquisa, por ter uma proposta de organização para o fortalecimento da
produção de alimentos que resgatam o saber fazer camponês, a lógica da reprodução camponesa
baseada no policultivo, o qual propicia elementos para a segurança alimentar. Os municípios de
Macambira/SE, Frei Paulo e Pedra Mole foram selecionados por manterem relações com o
assentamento Chico Mendes II, visto que este, apesar de estar situado no município de Macambira,
encontra-se numa localização de confluência dos três Municípios os quais integram a região do
sertão ocidental sergipano.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Latifúndio e unidade de produção camponesa: a produção de alimentos
Estabelecimentos agropecuários
Variáveis
Número Área
Unidades % Unidades %
Mais de 0 a menos de 1 há 16.289 38,47 7910 1,60
De 1 a menos de 10 ha 18.210 43,00 63421 12,87
De 10 a menos de 100 há 6.341 14,97 175583 13,62
De 100 a menos de 200 ha 468 1,10 67161 13,62
De 200 a menos de 500 ha 297 0,70 90900 18,43
De 500 a menos de 1000 ha 72 0,17 48281 9,79
De 1000 a menos de 2500 ha 19 0,04 27714 5,62
De 2500 ha e mais 3 0,01 12251 2,48
Produtor sem área 655 1,55 0 0
Total 42.354 100 493219 100
Fonte: IBGE, censo agropecuário, 2006.
Organização: Jonas Emanuel da Rocha Antão, 2018.
A tabela 02 evidencia que as propriedades com até 500 hectares ocupam uma área que
perfaz 10.394 hectares, o que corresponde a 53,43% do total, todavia, não é identificado pelo IBGE
a área das propriedades acima de 500 hectares, que podem chegar a ocupar 46,57%, ou seja, quatro
propriedades concentram terra equivalentes a 4.480 hectares dos estabelecimentos rurais.
A desconcentração fundiária poderia inserir mais pessoas na terra, o que possibilitaria a
produção de alimentos, aumentaria a quantidade, qualidade e variedade alimentícia oferecida aos
sergipanos, considerando o policultivo e a produção agroecológica ou sem aditivos químicos. A
so erania alimentar que é característica do campesinato, contraria a “so erania” defendida pelo
agronegócio, pois os camponeses fortalecem a economia local, consequentemente, a nacional. Já o
agronegócio, produz e se reproduz extraindo as riquezas locais (exploração da força de trabalho,
degradação da natureza) visando a extração da mais valia, da renda da terra e do lucro, contribuindo
timidamente, quando o faz, para a economia local.
A partir da análise do gráfico 01, constata-se como se apresenta a produção de milho, feijão
e mandioca, nos Municípios do Sertão Ocidental Sergipano. Fica evidente que a produção de milho
ocupa a maior área de plantio dos três municípios selecionados. Sendo assim, considerando que o
monocultivo é um modelo inerente ao latifúndio, e que faz o uso de venenos, apesar de ocorrer uma
Gráfico 02 – Quantidade de alimentos produzidos por município, Sertão Ocidental Sergipano, 2016 .
Destarte, mesmo destinando a maior área de cultivo para a produção de milho, o gráfico 02
demonstra que a quantidade de mandioca produzida foi superior à de milho em Macambira, e,
devido a esta diversificação nos cultivos, Macambira apresenta uma melhor situação no que refere à
soberania e a segurança alimentar, se comparado aos outros municípios limítrofes, constantes na
Tabela 03.
É possível observar que os municípios até o ano de 1995, possuíam uma diversidade maior
de cultivos, no qual a mandioca o e o milho compunham os dois principais cultivos, acompanhados
em menor escala pelo feijão. Os gráficos 01, 02 e a tabela 03 indicam que a lógica da vida está
sendo substituída pelas regras do mercado. O milho transgênico e a inserção dos pacotes de venenos
no sertão ocidental sergipano colocam em risco a soberania alimentar dos habitantes da localidade e
consequentemente do estado e da nação brasileira.
No município de Macambira e nas suas divisas com os municípios de Frei Paulo e Pedra
Mole, foi implantado o assentamento Chico Mendes II, espaço que busca através da solidariedade,
trabalho e respeito, construir um ambiente que garanta a reprodução da vida social, e a produção de
alimentos que pode apontar como saída futura para a insegurança alimentar ocasionada pelo
agronegócio.
Foto 01: Policultivo, barracos dos assentados e a casa grande, Assentamento Chico Mendes II/Macambira,
2018.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
NUNES. M. T. Sergipe Colonial I. 2ª ed. São Cristóvão: UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira,
2006, 350p.
SILVA, A. P. A.; REIS, C. M.; SILVA, D. A. da. Soberania alimentar a experiência de uma horta
orgânica como laboratório de ensino: a compreensão do modo de vida camponês. in: Encontro
Nacional de Geografia Agrária, anais, 2016.
STRASSBURG, Udo. et al. Produção rural e segurança alimentar no Brasil. In: Revista Brasileira
de Desenvolvimento Regional, Blumenau, 3 (1), 2015, p. 55-81