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Programa de Pós-Graduação em Geografia

Resenha do texto “Provided for non-commercial research and educational use only. Not
for reproduction, distribution or commercial use” Brilha, J. U niversity of Minho,
Braga, Portugal. Geoheritage. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/B978-0-12-809531-
7.00018-6 © 2018 Elsevier Inc.

Introdução

Segundo Brilha (2018), o conceito de geoparques ganhou relevância no decorrer


de duas décadas a partir da evolução do termo original desenvolvido na Europa no final
dos anos 80. A difusão do conceito para além dos grupos de geocientistas permitiu que
o conhecimento sobre o geopatrimônio da Terra fosse vislumbrado por muitas pessoas
por meio da integração do geoturismo e da geoconservação materializados em
geoparques. Nesse sentido, o geoheritage ganhou relevância nas pautas governamentais
a partir da década de 70 em um contexto de maior preocupação por parte da
humanidade com a proteção e conservação dos bens naturais e culturais. A UNESCO
implementou em 1971 o “Programa Homem e a Biosfera – MAB” de caráter científico
intergovernamental com objetivos de melhorar a relação do homem com o mundo
natural. A partir desse ponto outra ação foi realizada com a adoção da Convenção sobre
Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural com “valor universal excepcional”
(OUV). Porém, a comunidade científica alertou sobre a baixa representatividade do
geoheritage nesses dois escopos da UNESCO. Os argumentos para tal reflexão recaem
sobre o programa MAB que ao considerar a conservação e preservação da
biodiversidade como principais fundamentos, deixam de representar a geodiversidade e
sua relevância para a geoconservação. Os dados apresentados com o levantamento dos
672 locais dispersos em 120 países aprovam essa hipótese. A Convenção do Patrimônio
Mundial possui restrições quanto à entrada de geosítios, em especial, devido ao conceito
de “Valor Universal Excepcional”. Os dados apresentados por Brilha (2018) mostram
que do total de 1073 propriedades distribuídas em 167 países, apenas 8% do total (90
propriedades) foram incluídas na Convenção do Patrimônio Mundial com base em seu
geoheritage e outros atributos, porém, apenas 18 dessas 90 propriedades classificaram-
se em decorrência exclusiva do valor universal excepcional. Dessa forma, a
representatividade da geoheritage é desequilibrada, sendo necessárias ações que
englobassem mais geossítios, em documentos formais e de orientações à
geoconservação. Nesse sentido, criou-se a Lista Indicativa Global de Sítios Geológicos,
o Projeto Geossítios Globais e o Programa Geoparques da UNESCO o qual previa uma
rede global de geoparques com características geológicas significantes e de alinhamento
ao desenvolvimento sustentável das localidades inseridas na área de influência dos
geoparques. Em um recorte temporal, os eventos mais relevantes para o
desenvolvimento do conceito de geoparques em escala global iniciam-se com o Grupo
de Trabalho Europeu sobre Conservação das Ciências da Terra em 1988. A iniciativa
internacional original com o intuito de reunir a comunidade de geoconservação ocorreu
por meio da Associação Europeia para a Conservação do Patrimônio Geológico em
1991, em Digneles-Bains, França. Em 1989 foi criado o Geoparque no Distrito de
Gerolstein, Alemanha, o qual foi renomeado para Geoparque Vulkaneifel. Em 2000
fundou-se a Rede Europeia de Geoparques (EGN) incluindo os territórios (Reserva
Geologique de Haute-Provence, França; a floresta petrificada de Lesvos, Grécia e o
Parque Cultural Maestrazgo, Espanha. No início, segundo a EGN, os geoparques tinham
limites territoriais definidos comportando certo número de geossítios com importância
científica, raridade, apelo estético e valor educativo. Podem incluir nos geoparques,
áreas de interesse arqueológico, ecológico, histórico ou cultural. Em 2001 a EGN
afirmou-se como organização de integração dos geoparques europeus na Rede Global
de Geoparques (GGN). Além dos geoparques europeus, a China acrescentou oito
geoparques à rede global (GGN) que foi constituída em 2004 sob comando da
UNESCO. Em 2017 eram contabilizados 127 geoparques na GGN. Em 2015
formalizou-se o Programa Internacional de Geociências e Geoparques com o rótulo
UNESCO Global Geopark’s (UGGs). O desenvolvimento sustentável é a base da visão
holística em que aspectos de proteção, educação sejam priorizados em áreas com
Patrimônio Geológico de Valor Internacional. De acordo com Brilha (2018) não há uma
uniformidade de elementos da geodiversidade que estão presentes nesses 127
geoparques da GGN, porém, as unidades de tempo do Proterozóico ao Neógeno são
representadas de modo uniforme entre esses geoparques. A maior parte das
características do geopatrimônio são encontradas em áreas montanhosas que têm na
geomorfologia a possibilidade de expor as rochas e estruturas tectônicas, associadas as
formas de relevo e paisagens com alto valor estético, que contribuem para o geoturismo
nesses geoparques. O autor faz menção a vários países e seus respectivos geoparques
em uma listagem que evidencia a abrangência dos fósseis e vulcões como elementos
geoheritage mais representados no escopo dos geoparques da GGN. Esses são os
elementos mais populares de apreciação do público em geral. Os Alpes na Europa são
muito procurados tanto pela geologia, a geomorfologia e o valor estético das paisagens
reconhecidas mundialmente. A gestão é o principal fator de sucesso dos geoparques,
assim, as ações educacionais ligadas ao geoturismo devem ser associadas à
caracterização, conservação dos geossítios e estimular a interpretação do geopatrimônio
como estratégia de geoconservação. De acordo com Brilha (2018) as principais etapas
para a criação de geoparques são: 1) descrição geral da geodiversidade com explicação
da configuração geológica e geomorfológica do território; 2) inventário e avaliação
quantitativa do valor científico dos geossítios e do risco de degaradação; 3) avaliação
quantitativa do potencial educacional e turístico dos geossítios; 4) inventário de locais
de geodiversidade; 5) avaliação quantitativa do potencial educacional e turístico dos
locais de geodiversidade, juntamente com a avaliação do risco de degradação.
Posteriormente faz-se um plano de ação de geoconservação com prioridades definidas
para cada geossítio como, infraestrutura, recursos educacionais e turísticos priorizando a
gestão dos geoparques. A descrição geológica geral; listagem e descrição de sítios
geológicos; o valor internacional, nacional, regional ou local; situação atual de proteção
local; dados de gestão e manutenção de todos os geossítios, essas ações são necessárias
para que o geoparque continue na lista da GGN. É nesse sentido, que a conservação do
geoheritage nos geoparques deve ser o ponto principal, pois sem o geopatrimônio o
geoparque perde sua função de contribuir com a educação e conservação da
geodiversidade. O ambiente legal nacional deve garantir a proteção formal desses
territórios ou, dos geossítios de maior relevância, como as áreas protegidas do Estado
que garantem proteção legal aos geoparques. A geoconservação pode ser in situ e ex situ
quando não é possível a geoconservação nos ambientes naturais, nesse caso, os museus
são locais que recebem elementos da geodiversidade a fim de promover sua
conservação e educação dos visitantes para o conhecimento do geoheritage exposto. A
geoconservação em geoparques deve seguir os mesmos procedimentos que são
recomendados para áreas protegidas.

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