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1.1. Teologia
Teologia, em geral, é qualquer estudo, discurso ou pregação que trate de
Deus ou das coisas divinas. Foi nesse sentido generalíssimo que essa palavra foi
entendida pelo grande erudito romano Marco Terêncio Varrão (séc. I a. C.), cuja
distinção de três teologias foi transmitida por Santo Agostinho: Teologia mítica ou
fabulosa; Teologia natural ou física; e Teologia civil.
Mas, antes de estudar qualquer tema teológico, é preciso, primeiramente,
investigar sua origem na história da mitologia grega, pois, do contrário, jamais
teremos um entendimento preciso do que realmente quer significar teologia hoje. Se
analisarmos os fatos históricos e mitológicos, donde a teologia emergiu todo o seu
labor epistemológico, então, teremos uma compreensão científica do verdadeiro
sentido acadêmico e sociológico da ciência que trata a verdade baseada no critério
da razão.
A filosofia nasceu realizando uma transformação gradual sobre os mitos
gregos ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos? É nesse cenário que nasce
a teologia como forma epistemológica subjetiva da tentativa de perceber a presença
de Deus na agenda da política religiosa do ser humano.
Questionário:
1. Será que a ciência teológica superou o problema do mito em relação a
compreensão do Texto Bíblico?
2. Até que ponto da pesquisa teológica pode-se afirmar que o mito é desnecessário?
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2. A NATUREZA DA TEOLOGIA
3. TEOLOGIA E CIÊNCIA
Como feito de retorno, a razão da fé, isso é, a teologia, também recebe dos
outros saberes uma válida contribuição crítica: eles ajudam a purificar, aprofundar e
provocar a razão teológica.
A teologia utiliza a filosofia e as ciências seguindo dois critérios básicos:
1. assunção do que é positivo, a saber: os elementos bons e verdadeiros,
enfim, tudo o que se compartibiliza com a fé;
2. rejeição do que é negativo, ou seja: tudo o que é mau, falso, e que não
pode se harmonizar com o conteúdo da fé revelada.
As duas mediações teóricas a que recorre a teologia são a mediação
filosófica e a mediação das ciências.
Enquanto resposta humana à proposta divina, a fé pressupõe sempre uma
filosofia, como postura da existência de buscar o sentido radical à vida. Nesse
sentido, a filosofia é intrínseca à fé e tem um lugar estrutural na teologia.
A teologia não precisa necessariamente incorporar uma filosofia enquanto
este ou aquele sistema, especialmente hoje em que a filosofia se encontra numa
situação de grande pluralismo e de estrema fragmentação. Mas precisa, sim, de um
espírito ou postura filosófica realmente assumida e rigorosa.
A função geral da filosofia na teologia é refletir o fundo ontológico dos
conceitos teológicos. Como a graça supõe a natureza, assim a razão teológica
supõe o trabalho da razão filosófica.
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CIENTÍFICO
1
Summa contra gentiles, editio leonina, Romae, Desclee-Herder, Iiber 11. cap. V. 1934- Tradução do
autor do referido texto latino.
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podem ter o mesmo objeto de estudo, como, por exemplo, a origem do mundo, das
espécies ou do Homem. Entretanto, "filosofo e fiel são guiados por princípios
diversos". Este elemento especificativo do conhecimento teológico merecera, pois,
especial consideração.
Se perguntarmos quais os "princípios diversos" que distinguem a conduta
cientifica da conduta teológica, a resposta de Tomas de Aquino e dos teólogos em
geral desdobrar-se-a em duas considerações, a saber: diversidade de princípios
operativos e diversidade de fontes objetivas.
explicaria como ela floresce entre incultos e pode definhar na alma de filósofos e de
teólogos. Diríamos, pois, que a estrutura do conhecimento teológico, que muito
pesquisamos para tentar estabelecer, não tem o menor sentido para o crente, nem a
menor validade para o sábio. A fé religiosa e um fato que nem a teologia ou a
ciência do fato religioso podem explicar ou justificar cabalmente. A fé religiosa e de
ordem místico-intuitiva e não de ordem racional-analítica. Vamos transcrever
significativa passagem de Johannes Hessem a esse respeito:
"Finalmente, pode mostrar-se, sem dificuldade, que as supostas
demonstrações metafísicas puramente racionais, na realidade, nascem de uma
atitude religiosa, de forma que se pode dizer com Scheler que tais raciocínios e
demonstrações não servem de base it religião, antes, pelo contrario, baseiam-se na
religião. Isto explica o fato psicológico, incompreensível de outra forma, de que as
provas da existência de Deus, tidas cOmo rigorosas, só impressionem os que já são
crentes e se encontram em atitude religiosa, fracassando justamente com aqueles
que estão em atitude puramente racional e critica. Esta psicologia peculiar das
provas da existência de Deus lança uma clara luz sobre o seu caráter lógico e
epistemológico."
"Perante todos os seus intentos para confundir a religião com a Filosofia, a
fé com o saber - continua Hessem - temos de insistir com toda a energia em que a
religião e uma esfera de valor completamente autônoma. Não repousa em outra
esfera de valor, mas descansa integralmente sobre bases próprias. Não tem o
fundamento da sua validade na Filosofia, nem na Metafísica, mas em si própria, na
certeza imediata peculiar do conhecimento religioso. o reconhecimento da
autonomia epistemológica da religião depende, pois, de que se admita um
conhecimento religioso especial. Quando, ao tratar do problema da intuição,
pusemos em evidencia este conhecimento, que se caracterizou mais concretamente
como um conhecimento imediato intuitivo da religião, assentamos a base teórica da
autonomia da religião, que afirmamos e defendemos agora."
E continua Hessem citando agora Scheler em seu Do eterno no homem:
Como poderá a religião de entre todas as disposi9i5es e potencias do espírito
humano aquela que, subjetivamente, tem raízes mais profundas, assentar sobre
uma base mais firme que sobre si mesma, sobre a sua essência?"2.
2
HESSEM, op. cit. , p. 197-198.
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5.3. Metodologia
Como o nome indica, método e o caminho (em grego: "hodos") através do
qual se pretende realizar o ensino-aprendizagem. Cada disciplina ou área de estudo
possui seu método adequado. Entram em questão, em proporções distintas, os
seguintes componentes: explicitação do professor, trabalho de assimilação do aluno
(pessoal e/ou em grupo), enriquecimento por meio de outras leituras, síntese e
extrapolação.
Algumas disciplinas, por exigir maior capacidade de especulação ou utilizar
instrumental teórico complexo e desconhecido pelos alunos, necessitam de maior
intervenção do professor. Por exemplo: a problemática do "sobrenatural" na teologia
da graça ou as noções jurídicas básicas para o direito canônico. Outras disciplinas
requerem mais tempo de leitura de enriquecimento por parte dos alunos, como
Historia da Igreja. Outras, enfim, podem ser mais produtivas se ha orientação para
estudo pessoal ou em grupo, como os evangelhos e outros livros bíblicos. Importa
ao professor, neste caso, recolher o trabalho realizado pelos alunos, e acrescentar o
que julgar necessário. Outras disciplinas; sobretudo as mais praticas como a moral,
se enriquecem mais se o aluno tem olhar atento a pastoral, dai trazendo
contribuições para a discussão em sala de aula.
O aluno que pretende trilhar o caminho de aprendizagem deve, antes de
tudo, organizar-se pessoalmente. E necessário estruturar um horário de estudo e
levá-lo a sério. Grande parte dos estudantes de teologia, seminaristas e religiosos
corre o risco de não aproveitar o tempo de que dispõem. Comparados com muitos
leigos de sua idade, que estudam, trabalham e se engajam na pastoral, dispõem de
melhores condições e invejável infra-estrutura.
Dada a situação deplorável da escola publica no Brasil, apesar de terem
estudado três anos de filosofia, muitos alunos apresentam dificuldades para ler,
escrever, pensar e expressar-se oralmente. Sobre base pouco consistente, a carga
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Com esta ênfase voltada à fé, a teologia e bem diferente dos estudos
religiosos ou da história das religiões. Essas disciplinas estudam uma tradição
religiosa ou a fé desde uma perspectiva externa, como um observador distanciado e
objetivo. Fazer teologia, por outro lado, é tentar dar expressão à fé pessoal desde
uma perspectiva interna, estando dentro de uma tradição religiosa específica.
Naturalmente, pode-se "ensinar” teologia ou ter um grande conhecimento sobre uma
tradição teológica particular. Mas para realmente "fazer” teologia é necessária a fé,
que estabelece a ponte para Deus. Ou como expressou o papa João Paulo I um
pouco antes de morrer, “Os teólogos falam muito sobre Deus. Eu gostaria de saber
com que freqüência.eles falam com Deus”.
Assim, a fé não pode estar ausente da tarefa da teologia. Karl Rahner, o
teólogo católico mais importante do século XX, dizia que a teologia é a reflexão
científica e sistemática da Igreja sobre sua fé. Essa visão e útil porque destaca que
ao mesmo tempo em que e uma ciência, a teologia e também uma tarefa da Igreja.
Mas ha uma tensão implícita aqui na relação entre teologia como ciência e
teologia como tarefa da Igreja. Como ciência, a teologia exige uma certa liberdade
para realizar suas pesquisas e seguir as evidências até às últimas conseqüências.
Como tarefa da Igreja, ela procura salvaguardar a fé confiada à igreja e proclamada
por seus membros oficiais, os bispos. Na seqüência, analisaremos esses dois
aspectos da teologia.
explicar suas posições; Boff foi proibido de publicar durante um ano. Em 1986,
Charles Curran, professor de Teologia Moral, foi obrigado a abandonar o magistério
na faculdade de teologia da Universidade Cató1ica da América devido as suas
posições na área da ética sexual.
Em alguns de seus escritos, Pio XII tendia a reduzir a função do teólogo a de
dar suporte aos ensinamentos do magistério. Em sua encíclica Humani Generis, de
1950, ele escreveu que a tarefa própria dos teólogos é “indicar por que motivos o
que é ensinado pelo magistério vivo encontra-se na Sagrada Escritura e na ‘tradição’
divina, explícita ou implicitamente (DS 3886). Quatro anos depois, ele afirmou que
os teólogos devem ensinar "não em seu próprio nome, não a título do seu
conhecimento teológico, mas em virtude da missão que receberam do magistério
legitimo".
Essa visão jurídica reaparece no Código de Direito Canônico de 1983, que
afirma que o ensinamento dos teólogos católicos nas universidades católicas deve
receber um “mandato” da autoridade eclesiástica competente; e na Instrução sobre a
Vocação Eclesial do Teó1ogo, de 1990, publicada pela Sagrada Congregação para
a Doutrina da Fé. Mas sugerir que os teólogos - mesmo os investidos de uma
missão canônica - falam pela Igreja e confundir a função deles com a dos bispos.
Ambos têm papéis importantes a desempenhar, mas suas tarefas específicas são
diferentes e não devem ser confundidas.
6.12. Conclusões
A fé crista é expressa de muitas maneiras, numa vida de dedicação e
serviço aos outros, na oração e no culto, na música, arquitetura, nas Sagradas
Escrituras e na tradição cristã viva. A teologia é o esforço para expressar a fé crista
em linguagem.
A teologia e tanto uma disciplina critica, uma ciência, quanto uma ação da
Igreja. Cabe a ela salvaguardar o dom inestimável da auto-revelação de Deus em
Jesus e ao mesmo tempo assegurar que a linguagem usada pela Igreja para
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conta de que na porta do templo da ciência estão escritas estas palavras: "É
necessário ter fé". Esta e uma qualidade da qual os cientistas não podem prescindir.
Conforme o autor acima citado, na atividade cientifica, há um móvel
fundamental que, através de um ato de fé, ordena a busca do discernimento. Aliás, a
afirmação de Goblot que o espírito científico "é feito de qualidades extra-intelectuais,
notadamente de qualidades morais” não e menos sugestiva. Tal afirmação parte da
asserção de que o espírito cientifico não é obra de gênios ou espíritos excepcionais.
A ciência é uma atividade da qual se ocupam homens comuns imersos na
problemática do cotidiano e não deuses infalíveis que emitem enunciados e
controlam resultados. O cientista é humano como todos os mortais e a que Goblot
coloca como exigências são exatamente as qualidades morais ao alcance do ser
humano, as quais valem a pena recordar.
Primeiramente, o amor à verdade. A mediocridade, que se apresenta como
incapacidade intelectual, muitas vezes, reduz-se apenas a uma atitude de
resignação diante da ignorância exatamente porque falta aquilo que chamaríamos
amor à verdade. Esta qualidade e a mola propulsora da busca, não a alicerce para
sustentar afirmações infalíveis e de validade universal.
Em segundo lugar, Goblot aponta a solidez e o vigor de espírito. Tais
qualidades, embora comportem um caráter de precisão, este e decorrente, para não
fugir ao contexto, das virtudes humanas e não da irretocabilidade dos princípios
objetivamente formulados.
Em terceiro lugar, a penetração e a profundeza. É o reconhecimento de que,
enquanto o espírito superficial se contenta com o pouco, o espírito penetrante
proporciona o desembaraço no plano das sutilezas claramente distinguíveis. O
espírito de profundidade, por sua vez, não teme avançar, não obstante as
desvantagens de eventual obscuridade.
Finalmente, Goblot menciona a força e a finura. Para se servir da velha
distinção aristotélica, são virtudes que poderiam ser c1assificadas como intelectuais
porque conduzem diretamente "ao ato essencial da inteligência, que e o
discernimento". A força e a finura são companheiras inseparáveis. A primeira, sem a
segunda, pode transformar-se em grosseria e a segunda sem a primeira não pode
subsistir, pois a finura exige firmeza e segurança.
Em se falando especificamente das ciências chamadas humanas, o sentido
de precisão não pode ser levado ao nível das certezas absolutas que porventura
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Igreja". Contudo essa não e a posição esposada por um discurso teológico sério. Se
o mesmo se esgotar como prática da Igreja, seu construto teórico enfraquece.
Embora seja necessário manter-se atento para não cair nas discuss6es acadêmicas
estéreis, tecidas numa gramática e sintaxe reservadas para iniciados, e necessário
formalizar a linguagem teológica, dando-lhe uma estrutura que revele certa
racionalidade lógica. É nisto que se fundamenta o estatuto científico da teologia.
Admitir que a mesma seja um constante alimentar-se da prática da Igreja e
desconhecer os reclamos da teologia a partir de uma elaboração séria.
Ao se abordar a questão pretendida, e imprescindível, ainda que de forma
sumaria, tentar rastrear os aspectos históricos que a fundamentam. Sem entrar na
discussão da famosa tese de Harnack sobre a helenização do cristianismo, não
podemos deixar de julgá-la estimulante, pois não há teologia sem diálogo com a
cultura. Sem se comprometer diretamente com uma determinada forma de filosofia,
a teologia passa necessariamente a utilizar a linguagem e os recursos intelectuais
de uma dada cultura. Portanto, há um nexo que não pode ser ignorado e, por isso
mesmo, esta revisão é importante.
sim, o teo1ógico, ou seja, a luz de Deus. Daí a razão de serem abordados, hoje,
temas seculares pela teologia com mordência e propriedade, uma vez que não se
perca o horizonte que lhe e peculiar. Nascida da fé, a teologia deve sempre
regressar à fé, na busca de sua realimentação e lucidez.
b) A teologia é uma ciência porque tem o seu método próprio. Aqui,
devemos fazer, inicialmente, uma separação necessária. Uma coisa é a teologia
enquanto teoria, enquanto construção do discurso é outra coisa é o método utilizado
para se alcançar tal objetivo. Já Aristóteles havia observado que “importa saber
como cada coisa se deve aceitar, pois é absurdo procurar ao mesmo tempo a
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ciência e o método da ciência”. Isto não quer dizer que teoria e método são
elementos irreconciliáveis ou tão pouco ininteligíveis. Pelo contrário, são realidades
complementares e inteligíveis: para se elaborar a teoria o concurso do método é
indispensável, desde que haja esforço e dedicação.
Para ser teólogo não basta ser piedoso. É necessário ser suficientemente
sábio, saber trabalhar os dados, coordenar as realidades variáveis constatadas a
partir de um método. Nesse sentido, a teologia é, em principio, especulativa.
Contudo, não faz da especulação sua atividade última, visto que pretende
desembocar numa praxis de amor e fidelidade a Deus, a serviço da Igreja. Teologia
erudita e bem formulada, discurso inteligente e bem articulado, mas que não inclua o
compromisso com o mundo - tudo isso toma-se apenas um belo arranjo lógico de
frases bonitas, prestando, não raras vezes, excelente serviço aos poderes, mas não
é digno de ser chamado teologia. A teologia pretende ser o discurso acerca de Deus
para a promoção do homem e não uma teoria impecavelmente articulada, mas cuja
finalidade e encontrada narcisicamente em si mesma, enquanto discurso.
Portanto, a teologia tem às suas regras. Há um método que norteia sua
elaboração. Não se trata de saber intuitivo, em forma de confissão, que se coloca no
papel. Nem uma apreensão oracular a partir de situações exóticas que se
sobrepõem a realidade. Trata-se de um labor intenso do teólogo à medida que
trabalha dados, pondera seus valores, compara sua importância e projeta seu
discurso através de linguagem própria.
Por certo, uma das grandes riquezas, hoje, do método teológico é o diálogo
interdisciplinar. Antigamente, a articulação da teologia se dava, de forma exclusiva,
com a filosofia. Esta era, na verdade, sua roupagem. Tal fato deu origem à teologia
clássica que, por sua vez, caracterizou-se pela produção de textos densos e
extensos vasados numa linguagem um tanto árida e presos sempre a um sistema
aceito aprioristicamente. Foi a época em que foram escritas as diversas summae
teológicas.
Hoje, como a fé é vivida dentro de uma realidade mais complexa, toma-se
indispensável o auxílio de outras disciplinas. Elas ajudam decodificar a realidade
envolvida em sua complexidade)e, ao mesmo tempo, propiciam uma formação
crítica ao teólogo. É importante, pois, que este tenha uma segura orientação da
sociologia, da antropologia, da economia, da política afim de trabalhar com
segurança a realidade. Evidentemente, não se espera que o teólogo seja um
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especialista em tais campos, mas que supere aquele estágio empírico, moralizante,
ingênuo e utópico, alcançando uma perspectiva mais crítica.
Não se trata propriamente de politizar a teologia ou de socializar a fé. Trata-
se de trabalhar teologicamente as questões políticas e os problemas levantados pelas
ciências sociais de uma forma geral, com a finalidade de enriquecer o discurso e
capacitá-lo para diagnosticar realidades problemáticas de nossa sociedade.
Leonardo Boff lembra os Pais da Igreja, que falavam em dois modos legítimos de se
fazer teologia: uma voltada para pagãos (pro-paganis) e_outra, voltada para os_cristãos
(pro-christianis). Esta primeira perspectiva, evidentemente, não busca a fé dos
ouvintes, mas o real sentido que pode emergir dos desencontros do mundo, das
interrogações e angústias do homem. A outra, por sua vez, parte da riqueza do
pensamento cristão, da exuberância da tradição teológica e procura um discurso que
acentue a verdadeira identidade cristã. Destarte, é estabelecida a diferença entre a
Igreja e o mundo. E o que o citado teólogo supõe ser o ideal é o diálogo entre essas
duas formas de se fazer teologia: o que descrevemos são tipos ideais; na realidade
cada teólogo realiza a seu modo os dois momentos; ninguém é tão tradicionalista que
não tenha assumir ou conviver com o ritual de uma sociedade moderna, como ninguém é
tão progressista que tenha que aceitar sua própria história, que vem de um passado e só
isso existe no presente. Sábio foi o Senhor que, resumindo a verdadeira tarefa do pensar
cristão, nos disse: “Todo teólogo, instruído na doutrina do Reino de Deus, deve ser como o
dono de casa que do seu tesouro tira o novo e o velho”. (Mt 13.52).
Em.outras palavras, a teologia não pode romper com sua própria pertinência
sob pena de transformar-se numa sociologia ou numa politicologia. Deve esforçar-se
para buscar sua gramática própria, sem o que perderá sua identidade ou, então, no
mínimo, apresentara um discurso muito carregado de inconsistência epistemológica
e marcado por uma sintaxe desconhecida.
Nossa tarefa, aqui, não é entrar nos pormenores do método teológico em si,
apontando o mecanismo de funcionamento do mesmo. Limitamo-nos a defender o
estatuto científico da teologia. Contudo, citaremos, para concluir, duas contribuições,
no seu âmbito específico, poderão fornecer às bases da metodologia teológica.
Em nível da linguagem teológica, lembramos a contribuição de J. Mcquarrie.
Embora originaria de ambiente anglo-americano e de trazer consigo diversas
limitações, a pertinência da obra e interessante, especial mente por três motivos.
Primeiro, pelo referencial filosófico com que tematiza a linguagem, servindo-se da
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7.3. Conclusão
Aproveitamos esta observação final de C. Boff para conclusão do presente
trabalho. O entusiasmo na defesa do estatuto científico da teologia deve ter como
elemento moderador à certeza de que tal estatuto não e o toque fundamental de sua
credibilidade na tematização dos diversos assuntos relativos a Deus, à Igreja e a fé.
O caráter científico do discurso teológico bem como a sua metodologia não podem
nos oferecer o aval de que estamos tratando de uma fórmula infalível ou de um
"catecismo" que, gerando perguntas, garanta a respectiva resposta. Não há cânones
absolutos na linguagem teológica, elabora devamos empenhar-nos em defender seu
caráter científico. É bom lembrar que este, por sua vez, não pode ser guindado à
condição de uma espécie de “chama universitário” ou uma “perfumaria acadêmica”.
É um instrumento que pode ser útil enquanto instrumento. Passou disso, será
manifestação "idóIatra" que nada tem a contribuir para a teologia.
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3. Uma aula magistral tem maior eficácia, isto e, ela grava os conhecimentos
de maneira mais forte que quaisquer outros recursos pcdag6gicos. Isso porque ela
mobiliza varias faculdades ao mesmo tempo: não só o pensar (como faz um livro),
nem só o ouvir (como um radio) e nem só o ver (como um vídeo ou a TV). Na aula
as três coisas operam. E se a aula e dinâmica e participada, entra um quarto
elemento: a ação. Aí então se vê, se ouve, se pensa e se trabalha. É notável a
diferença que existe entre uma aula viva e sua mera transcrição, sua gravação ou
mesmo sua filmagem.
1. Leitura
Nesse pomo, o importante não e ler muito mas selecionar: ler poucos livros
mas bons. Os franceses recomendam: Non pás lire, mais élire (não ler, mas
escolher).
Como saber se um livro vale a pena? Por recomendação de um entendido,
que pode ser o professor mesmo, pela leitura de uma recensão ou pela indicação de
um entendido. Mas existe também um caminho pessoal: folheando o livro. É a leitura
de reconhecimento ou pré-leitura.
Leitura de reconhecimento - Embora possa ser um hobby (o preferido de
Marx), folhear um livro supõe certa técnica. Como folhear com proveito um livro e
saber se vale a pena lê-lo e eventualmente comprá-lo? Valham aqui as seguintes
sugestões:
a) Dar uma olhada no frontispício - a pagina interna onde estão registrados
os dados indicativos do livro: título, subtítulo, autor, edições, editora, cidade, data. Já
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por aí se pode ter alguma idéia do livro. Assim: - pelo nome do autor, pode-se ter
alguma idéia do "peso" da obra;
- pelo subtítulo, de que tema trata de modo mais explícito;
- pelas edições, se o livro foi muito lido;
- pela editora, se e "de nível", recomendando o livro, ou ao contrario; e assim
ppr diante;
b) Passar para o índice. Ver como a matéria é detalhada e como e
estruturada. Por aí já se tem uma síntese, ainda que extremamente condensada do
conteúdo. Poder-se-á sentir se são levantados os principais problemas; se o
tratamento e concreto ou pratico; se e bem ordenado, etc.;
c) Ir para a introdução e depois para a conclusão, lendo pelo menos alguns
de seus parágrafos, para perceber como o autor aborda o assunto, seu estilo, seu
vigor;
d) Enfim, se houver tempo, dar uma folheada à-toa no livro, parando num ou
noutro parágrafo. Às vezes acham-se assim algumas idéias que despertam a
curiosidade e levam a ler o livro. Não desprezar esse método intuitivo, pois a
intuição por vezes e mais certeira que a razão.
Não precisa dizer ainda que a biblioteca deve ir-se tomando, para o aluno
que quer realmente progredir, um lugar familiar. Depois de uma visita introdutória,
guiada pelo bibliotecário ou por um professor, o estudante deve ir-se habituando a
se situar dentro da biblioteca: como consultar os fichários, qual o lugar das grandes
enciclopédias, das principais coleções, das revistas e assim por diante.
2. Apontamentos de leitura
"Lecrionem sine calamo temporis perditionem puta": leitura sem caneta
repute perda de tempo. Quer dizer: é preciso tomar nota do que se Ie; fazer uma
leitura por assim dizer "armada".
Se o livro é pessoal, podem-se fazer anotações e sinais no próprio livro; ou
então far-se-ão anotações a parte: em caderno, em folhas soltas ou em fichas.
O que anotar:
- Resumos de idéias importantes, interessantes ou úteis;
- Frases expressivas, a citar literalmente e com precisão;
- Idéias pessoais que a leitura do livro suscitou: críticas, comentários ou
idéias novas.
Como devem ser as anotações? Devem ter, o quanto possível, as
qualidades indicadas nestes quatro "c"s: curtas, claras, corretas e completas.
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3. Memorização
Essa atividade, central no passado, hoje perdeu muito de sua importância,
pois estão à mão bons substitutos da memória humana: a "memória de papel”,
contida nos livros, especialmente nas enciclopédias; e a “memória eletrônica”, a do
computador, que pode armazenar uma infinidade de dados e restituí-Ios com
facilidade. Isso faz com que a “decoreba" de uma vez, particularmente para os
exames, perca muito de sua importância hoje.
Mas a memória humana é ainda necessária, especialmente para reter as
informações de base ou yitais, como indicamos. Por isso mesmo, certa
memorização é indispensável sobretudo nos primeiros anos de estudo de uma
disciplina.
Aqui vão algumas indicações para o método de memorizar:
1) Compreender o texto que se quer memorizar;
2) Resumi-lo ou esquematizá-lo;
3) Dividí-Io em partes;
4) Memorizá-lo a partir de unidades menores e crescendo ate as maiores.
Mas nada ajuda melhor a memorizar do que a repetição e mais ainda a
familiarização. Além disso, saiba-se que quanto mais faculdades se usam. Mais a
coisa se grava na memória: visualizar, ouvir, dizer, cantar, fazer, dançar, etc.
Apresentação de um tema
Para a exposição de um seminário (mas isso vale para qualquer exposição:
aula, conferência, palestra, discurso ou homilia), convém levar em conta os
seguintes momentos:
1. Introdução. Essa deve motivar os ouvintes. Para isso, recorrer a uma
citação, a um fato, a uma tese problemática, enfim, a algo que chame a atenção:
2. Tese central. Enuncia-se o que se tem realmente a dizer, sem maiores
rodeios;
3. Desenvolvimento. Expõem sucessivamente as partes da tese ou as
subpartes da tese ou as subteses, seguindo uma ordem lógica, se possível
numerando: 1,2, 3 ... Cuide-se em “calçar” as próprias idéias com algum exemplo,
imagem ou citação;
4. Conclusão. Fecha-se normalmente o discurso com uma síntese, com uma
interrogação ou mesmo com uma frase de efeito.
No caso do seminário, à explanação segue-se o debate aberto e por fim a
conclusão (pelos professor ou pelo responsável do seminário).
- no caso de se dispor do texto por extenso, não ficar só lendo, mas explicá-
lo de modo mais solto;
- usar recursos didáticos: quadro-negro, esquemas, cartazes, faixas,
projeções, etc.
- explicar as palavras difíceis e os termos técnicos mais raros;
- cuidar também do tom de voz: que essa seja audível e expressiva.
Papel do animador
O coordenador do seminário, normalmente o professor (mas pode ser
também o responsável do seminário), deve atuar como um animador, estimulando a
participação, fazendo oportunamente resumos, relançando o debate, passando a
palavra e assim par diante. Ele deve se manter na média áurea entre a "moderador",
que determina a direção da discussão, condicionando todo a processo de discussão,
e a "assessor técnico", que só intervém quando solicitado.
Essas observações valem para qualquer responsável de um trabalho em
grupo ou de uma assembléia.
1. Fase de investigação
Para essa fase, e bom levar em conta o seguinte percurso:
1. Escolher a assunto. Este deve ter pelo menos duas qualidades: ser
importante e ser interessante: importante, porque a transcendência da teologia e a
urgência pastoral do povo o exigem; interessante porque aquele que vai pesquisar
deve sentir-se envolvido, como que "mordido" por seu tema, caso contrário, não
levara a efeito o trabalho ou não o fará de modo satisfatório.
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2. Fase de elaboração
Quando a pesquisa pessoal, em seu todo ou em parte, tiver atingido um bom
nível de acumulação e de amadurecimento (e isso se sente inclusive
psicologicamente), então esta na hora de passar a elaboração.
Esta pode se socorrer do seguinte processo:
1. Organizar o material coletado. Como primeiro momento, juntar de modo
sumario as idéias, sem ainda obrigar-se a ordená-las de forma precisa, mas
procedendo como quem ajunta material para fazer uma casa. Depois, analisar estas
idéias através do confronto recíproco e eventualmente complementá-las através de
uma pesquisa ulterior. E aqui que o sistema de fichas revela sua funcionalidade, pois
permite ordenar e reordenar sucessivamente as fichas em função de uma estrutura
lógica que vai se delineando.
Da analise do material recolhido, surgira o esquema definitivo, com sua
lógica própria. Este devera ter:
- um começo: a parte introdutória;
- um meio: a parte central, o carpo do trabalho, subdividido em partes
menores;
- e um fim: a parte conclusiva.
2. Desenvolver as idéias numa primeira redação e assim sucessivamente,
ate se chegar à redação definitiva. Não é necessário começar a elaboração pelo
começo lógico. Pode-se iniciar pela parte em que a pessoa se sente mais segura, ou
seja, mais amadurecida intelectualmente ou mais sintonizada psicologicamente.
Na redação, cuidar particularmente do seguinte: valer-se de distinções para
desembaraçar problemáticas confusas e para esclarecer conceitos centrais, pois
"sapienti est distinguere" (e próprio do sábio distinguir); qualificar as próprias
opiniões, usando precisões tais como: provavelmente, talvez, parece, e evidente,
diz-se, etc.; estar atento a complementaridade dos pontos de vista ("de um lado ... ,
do outro ... ") e ao balanceamento dos juízos ("apesar de ... , contudo ... ").
3. Enfim, fazer as complementações: escrever a conclusão, a introdução,
colocar a bibliografia, os eventuais apêndices e os índices.
LEITURA
S. TOMÁS DE AQUINO:
Como estudar
- Não tenhas excessiva familiaridade com ninguém, pois isso gera desprezo
e fornece ocasião para te afastares do estudo;
- Não te intrometas nas questões mundanas;
- Foge sobretudo de vaguear para cá e para lá (discursus);
- Não deixes de seguir os exemplos dos santos e das pessoas boas;
- Não olhes quem te fala, mas tudo o que ouves de bom, confia-o a
memória;
- Procura compreender o que lês e ouves;
- Esclarece as duvidas;
- Como alguém que deseja encher seu recipiente, também tu esforça-te por
guardar, no escrínio de tua mente, o máximo de coisas que puderes;
- Não busques o que supera as tuas capacidades (cf. Eclo 3,2).
Seguindo essas pegadas, emitiras e produziras folhas e frutos úteis na Vinha
do Senhor dos exércitos durante todo o curso de tua vida. Caminhando por essa via,
poderás chegar ao termo a que aspiras.
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REFERÊNCIAS