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FACULDADE ÚNICA EDUCAÇÃO A

DISTÂNCIA

HISTÓRIA DA FILOSOFIA
JORGE BENEDITO DE FREITAS TEODORO

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HISTÓRIA DA FILOSOFIA
JORGE BENEDITO DE FREITAS TEODORO

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3
Jorge Benedito de Freitas Teodoro

Formado em Filosofia, Mestre em Filosofia da Arte, Doutor em Estudos Literários.


Coordenador do curso de Filosofia (EaD) da Faculdade Única de Ipatinga e professor do
curso de Direito das Faculdades Única de Ipatinga e de Timóteo.

HISTÓRIA DA FILOSOFIA
1° edição

Ipatinga, MG
Faculdade Única
2020
4
5
LEGENDA DE

Ícones
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão
do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar
ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção
para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função
específica, mostradas a seguir:

Trata-se dos conceitos, definições e informações


importantes nas quais você precisa ficar atento.

FIQUE ATENTO

São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros


da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo
apresentado no livro.
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Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada


unidade, associando-os a suas ações, seja no ambiente
profissional ou cotidiano.
VAMOS PENSAR?

Atividades de fixação sobre o conteúdo visto e aplicado


no livro.

FIXANDO O CONTEÚDO

Apresentação dos significados de um determinado


termo ou palavras mostradas no decorrer do livro.

GLOSSÁRIO

Espaço para marcar citações de algum livro, artigo ou


site que sustenta e reforça uma ideia.

CITAÇÕES

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SUMÁRIO UNIDADE 1
MITO E CULTURA GREGA

1.1 Mitologia Grega: Teogonia e narrativas de origem.........................................................................................................7


1.2 A epopeiras homéricas......................................................................................................................................................................10
1.3 As tragédias gregas..............................................................................................................................................................................12

UNIDADE 2
O SURGIMENTO DOS LOGOS
2.1 Do mito ao logos....................................................................................................................................................................................18
2.2 Cosmologias: Filosofias naturalistas.....................................................................................................................................20
2.3 Heráclito e Paramênides................................................................................................................................................................22

UNIDADE 3
O SOFISTA E A PALAVRA
3.1 Os sofistas: palavras e persuasão.............................................................................................................................................30
3.1.1 Gógias de leontinos..........................................................................................................................................................................32

UNIDADE 4
A FILOSOFIA DE PLATÃO
4.1 Sócrates........................................................................................................................................................................................................39
4.2 Platão.............................................................................................................................................................................................................41
4.2.1 O idealismo de Platão...................................................................................................................................................................42
4.2.2 A república de Platão...................................................................................................................................................................42

UNIDADE 5
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
5.1 Aristóteles....................................................................................................................................................................................................50
5.2 O pensamento de Aristóteles......................................................................................................................................................51
5.2.1 O conhecimento e a lógica.........................................................................................................................................................51
5.2.2 A metafísica..........................................................................................................................................................................................52
5.2.3 A ética e a poética............................................................................................................................................................................53

UNIDADE 6
A FILOSOFIA HELENISTA
6.1 A cultura Helenista............................................................................................................................................................................58
6.2 As escolas de filosofia Helenista............................................................................................................................................59
6.2.1 O cinismo..............................................................................................................................................................................................59
6.2.2 O epicurismo....................................................................................................................................................................................60
6.2.3 O estoicismo.......................................................................................................................................................................................61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................................................................67

7
UNIDADE 1
Na primeira unidade, “Mito e cultura grega”, apresentaremos o surgimento da
mitologia grega como instrumento simbólico de entendimento da natureza. Nesse
sentido, destacaremos algumas características específicas da tradição mitológica
CONFIRA NO LIVRO

grega, além de enfatizarmos sobre as narrativas que procuram explicar o surgimento/


origem do mundo grego, tais como a Teogonia, de Hesíodo e as narrativas homéricas,
Ilíada e Odisseia. Finalmente, destacaremos alguns aspectos das tragédias e da
cultura grega.

UNIDADE 2
A segunda unidade, “O surgimento do logos”, terá como finalidade explicitar a
superação da tradição mitológica como organizadora do cosmo/realidade em face
da preponderância do logos, isto é, da razão como modelo central de investigação/
explicação da realidade e, consequentemente, da natureza. Nesse sentido,
discutiremos o surgimento dos primeiros filósofos, os pré-socráticos (filósofos
naturalistas) e a determinação da physis como princípio originário/ordenador do
cosmos.

UNIDADE 3
Na terceira unidade, “o sofista e a palavra”, descobriremos a importância do sofista
na consolidação da palavra como instrumento de poder na polis grega. Diante disso,
discutiremos a palavra como técnica retórica de persuasão e de convencimento.

UNIDADE 4
A unidade quatro, “A filosofia de Platão”, tomará o pensamento de Platão como
direcionamento reflexivo. Assim, percorreremos o pensamento platônico destacando
a importância de Sócrates na configuração do mundo grego e, principalmente, as
determinações conceituais do Idealismo e do Dualismo como motores centrais da
filosofia dialógica de Platão.

UNIDADE 5
Na quinta unidade, “A filosofia de Aristóteles”, objetivaremos pensar as rupturas que
o filósofo Aristóteles impõe à filosofia feita após Platão. Para tanto, destacaremos
a relação direta entre pensamento e realidade na configuração de uma filosofia
sistemática que busca se debruçar sobre a totalidade das produções humanas.

UNIDADE 6
Na última unidade, “A filosofia helenista”, pensaremos a revolução ocorrida no
mundo grego após a sua incorporação ao império de Alexandre, o Grande, e como
tal incorporação modifica as determinações da polis, do sujeito e, principalmente,
da filosofia. Nesse sentido, objetivaremos apresentar três escolas filosóficas centrais
para a configuração dos modos de vida e de pensamento característicos do período
helenista, a saber: o cinismo, o epicurismo e o estoicismo.

8
O presente livro didático convida o
leitor a se aventurar pelo surgimento
Aristóteles, procurando, sobretudo,
percorrer as principais destinações
da filosofia ocorrido na Grécia e a teóricas desses filósofos na busca pelo
refletir sobre os processos humanos conhecimento verdadeiro, ilustrando,
de significação da realidade que, portanto, os procedimentos socráticos
consequentemente, determinam na construção da verdade; o idealismo
INTRODUÇÃO

a filosofia como uma atividade de platônico na determinação de um


primeira ordem na constituição do ser mundo ideal e a filosofia sistemática
humano. de Aristóteles na reconsideração
Cientes da responsabilidade pela realidade empírica. Como
de introduzir e de aprofundar a aporte reflexivo final, pretendemos
discussão sobre o mundo grego e apresentar o período helénico e a
sobre os processos de pensamento construção de Escolas de filosofia que
surgidos nesse riquíssimo cenário, procuraram, em seu interior, oferecer
iniciamos o nosso percurso pela ao “novo” sujeito grego modelos de
mitologia, compreendendo-a como o vida e de significação da realidade.
procedimento original de significação/ Diante disso, convidamos
ordenação das relações entre os a todos(as) para se alegrarem na
humanos e a natureza. A partir disso, a aventura a descoberta do saber que
figura do poeta Homero, autor da Ilíada a filosofia nos proporciona através da
e da Odisseia, torna-se central para a saída da caverna e da entrada em um
configuração das futuras narrativas mundo preenchido pela reflexão.
ocidentais e, sobretudo, para os
métodos educacionais responsáveis
pela formação do sujeito grego.
Contudo, em oposição às determinações
mitológicas de ordenação da natureza
e do sujeito, o nosso caminho irá nos
levar até os filósofos pré-socráticos, os
primeiros a determinarem a superação
da mitologia através de um processo
regido pelo logos (racionalidade) de
investigação da natureza e busca pela
definição da physis. Assim, após o
abandono da mitologia como palavra
de autoridade, com o surgimento do
logos a palavra racional torna-se um
precioso instrumento de poder na
polis e, portanto, figurando-se como
o instrumento manejado pelo sofista,
como veremos adiante.
Finalmente, buscaremos
adentrar nos grandes pensadores
da Antiguidade. Sócrates, Platão

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UNIDADE 1

MITO E CULTURA GREGA

10
A mitologia grega surge do deusas, ou conforme compreendida por
imperativo de entendimento da natureza. Yuval N. Harari, em “Sapiens”, como a
Diante do tamanho avassalador ideia de que:
1.1 MITOLOGIA GREGA: TEOGONIA E NARRATIVAS DE ORIGEM

do natural, o sujeito compreende [...] o mundo era controlado por um


a necessidade da diminuição da grupo de deuses poderosos, como a
deusa da fertilidade, o deus da chuva e
distância entre o homem e o natural e, o deus da guerra. Os humanos podiam
consequentemente, inicia um processo rogar a esses deuses, e os deuses
podiam, se recebessem devoções e
de superação do medo inicial da natureza. sacrifícios, dignar-se a trazer chuva,
vitória e saúde (HARARI, 2017, p. 221)
Portanto, as narrativas mitológicas
possuem a função inicial de superação Nesse sentido, não havia nenhum
do medo do desconhecido, isto é, de aspecto da vida grega que não fosse
superação do medo originário proveniente regido pela relação ritualística com os
da natureza. Tal superação ocorre, deuses, ao passo que, a figura do poeta
sobretudo, com a antropomorfização (do rapsodo) institui-se como o narrador,
dos poderes naturais, em outros termos, o intérprete e o tradutor da mensagem
é conferida a natureza características divina para os demais seres humanos.
físicas e psíquicas típicas do humano, É, justamente, o poeta inspirado
por exemplo, os deuses se enfurecem, pelas musas que narra o mito e,
sentem-se enciumados, sofrem e consequentemente, aquele que possui
desejam como os humanos. uma relação de proximidade com os
A mitologia configura-se como deuses algo que, por sua vez, lhe confere
uma atividade inventiva de caráter uma aura de autoridade. Tal autoridade
narrativo/literário que procura fornecer se dá na atividade da narração pública
os primeiros princípios organizacionais do mito, fazendo deste um discurso
do mundo, da realidade e, sobretudo, compartilhado entre o narrador e
da natureza para os seres humanos os ouvintes. Diante disso, é de suma
constituírem-se enquanto seres sociais importância frisar que a narrativa
e, deste modo, iniciarem o processo de mitológica se constitui enquanto
significação do mundo e das coisas. uma narrativa oral, ou seja, no espaço
Karl Kerényi (2015, p. 12) aponta comunitário preenchido pela oralidade.
que a “mitologia precisa transcender o
indivíduo, e precisa exercer sobre os seres
humanos um poder que tenha influência
sobre a alma e enche-a de imagens”, isto
é, como atividade inventiva, a mitologia
supera o caráter individual da narração e
dirige-se à vida social dos seres humanos
em aspectos práticos e espirituais
preenchendo os recônditos da vida
humana com histórias (mythoi) plenas
de significações.
Em sua plenitude de significações
e de relações diretas com as organizações
sociais dos seres humanos em contato Figura 1 - O Rapsodo (490 a.C. – 480 a.C.) – British Mu-
seum
com a natureza, a mitologia institui-se
como uma religião politeísta, em outros
termos, como uma organização religiosa
dotada de um panteão de deuses e

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Trata-se, portanto, de uma troca de escuta entre o poeta e o ouvinte, partindo do
pressuposto que o poeta, inspirado, possui acesso à verdade dos deuses. Frente a tal destinação,
a palavra de autoridade do poeta organiza a vida e a sociedade grega em torno dos deuses
e das atividades ritualísticas que conferem, ao fim e ao cabo, a segurança necessária para a
consolidação da organização comunitária grega.

FIQUE ATENTO

Jean-Pierre Vernant (2001), na obra Entre mito e política assentua a necessidade do interpréte do mito de:

[...] Sair dos quadros de pensamento que lhe são costumeiros: entre a literatura e a religião, bem
como entre a narrativa fictícia e a verdade do que é contado, entre a fabulação do mito e a auten-
ticidade do divino implicado na narração [...] não existia, nos tempos arcaicos da Grécia, esse corte,
essa incompatibilidade que somos levados a estabelecer (VERNANT, 2001, p. 230)

Em outros termos, trata-se da necessidade da compreensão inicial da ausência de separação entre o mito e a
realidade, isto é, a narrativa era considerada, de fato, como conhecimento verdadeiro e modelo de organização
social. Como veremos adiante, e´, principalmente, com a instituição do pensamento lógico/racional/sistemático
da filosofia que se dá o questionamento e, posteriormente, a superação da estruturação mitológica como dis-
curso organizador e verdadeiro.

Ademais, em um período anterior a escrita, o poeta (o sábio) repassa, através das narrativas
mitológicas, o segredo do religioso, isto é, torna pública a “descoberta de uma realidade superior
que ultrapassa em muito o comum dos homens” (VERNANT, 2002, p. 58), que, consequentemente,
atua diretamente na consolidação do imaginário político social do sujeito grego.
Com efeito, devido as suas atribuições organizadoras e funções de conhecimento da
natureza, a mitologia figura-se como a principal narrativa do nascente mundo grego. Ademais, a
mitologia compreende que os “homens, a divindade e o mundo formam um universo unificado,
homogêneo, todo ele no mesmo plano” (VERNANT, 2002, p. 110) e, para tanto, são tecidas narrativas
que buscam configuram o surgimento e a ordenação inicial do cosmos, as cosmogonias.
A Teogonia, do poeta Hesíodo (750 a.C. – 650 a.C.), destaca-se como uma das mais
importantes cosmogonias, justamente, por fornecer a imagem do surgimento do mundo e a
organização dos poderes naturais sob a tutela de Zeus, o maior dos deuses olímpicos.
Trata-se da narrativa mitológica que apresenta a superação inicial do caos com o
surgimento dos elementos primordiais Uranos (o céu) e de Gaia (a terra) e, a consequente,
superação de Uranos e Gaia pelos seus filhos: os Titãs, compreendidos como forças naturais
essenciais, tendo Cronos (o tempo) à frente dos poderes da natureza e, finalmente, a instituição
de Zeus como o regente de uma nova ordem cósmica.
Como ordenador autoritário, Cronos devora seus filhos (os futuros deuses olímpicos)
com a finalidade de impedir que algum deles lhe tome o seu trono. Contudo, Reia, esposa de
Cronos, descontente com a situação, entrega a Cronos uma pedra envolta em trapos no lugar
de seu filho Zeus escondendo o mesmo em uma caverna. Após passar anos escondido em uma
caverna, Zeus, já adulto, retorna e desafia Cronos, libertando seus irmãos, Hades e Poseidon
e, consequentemente, dando início a Titanomaquia, ou seja, a guerra entre os deuses e os
titãs.

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Figura 2 - Zeus fulmina os titãs (1533) – Perin del Varga
Fonte: Wikimedia Commons

A vitória dos deuses olímpicos, sob o comando de Zeus, não instaura tão somente uma nova
ordem cósmica, mas, sobretudo, ela destaca o surgimento de um mundo novo no qual as forças
primordiais da natureza encontram-se dominadas e, para tanto, segundo Vernant (2002), torna-
se possível avistar os processos de racionalização que, posteriormente, atuarão sobre a natureza
dominando-a e instrumentalizando-a segundo os desígnios do logos.

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O canal do Youtube, “Foca na história” apresenta uma interessante narração da Guerra dos Titãs (Titanomaquia).

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=6H8Nlzkx7SE

O segundo capítulo, “II História dos Titãs”, da obra de Kerényi, “A mitologia dos gregos: vol. 1: a história dos deuses e
dos homens” apresenta uma descrição precisa da obra de Hesíodo destacando, principalmente, a estrutura com-
bativa entre titãs e deuses.

LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/114707

A série de jogos eletrônicos God of War, produzidos pela Sony Computer Entretainment e dispo-
níveis para os consoles da linha Playstation, envereda-se pelas narrativas mitológicas gregas for-
necendo um riquíssimo conteúdo cognitivo para iniciação à compreensão das narrativas míticas.

Figura 3 - God of
War

13
A estrutura da poesia homérica apresenta
1.2 AS EPOPEIAS HOMÉRICAS
uma caraterística determinante das narrativas
míticas gregas, a saber: a ausência de separação
Homero (850 a.C.) é o autor de duas
entre o mundo dos deuses e o mundo dos
das grandes narrativas fundadoras do
homens. Assim, deuses, deusas, homens e
pensamento e da cultura ocidental, a “Ilíada” e
mulheres dividem a mesma realidade, isto é,
a “Odisseia”. As narrativas homéricas possuem
caminham entre si, relacionam-se entre si e, de
um valor pedagógico, isto é, fornecem ao
modo magistral, dividem o mesmo campo de
cidadão grego modelos educacionais para
batalha, conforme tematizado na epopeia Ilíada.
a vida social, principalmente, ao ressaltar
Na Ilíada, Homero narra os últimos anos da
exemplos heroicos de coragem e de astúcia,
Guerra de Tróia, representando os feitos do herói
virtudes determinantes para o sujeito da
e semideus Aquiles. A ocasião da Guerra possui
Grécia Clássica.
profundas raízes mitológicas, pois, é motivada por
uma disputa entre as deusas Atena, Hera e Afrodite
para determinação da deusa mais bela. Tal disputa
é solucionada por um mortal, Páris, um pastor de
GLOSSÁRIO
ovelhas que, mais tarde, irá se revelar como um
Epopeia: a epopeia, também conhecida domo poe- príncipe troiano marcado por uma funesta profecia.
ma épico, é um extenso poema que narra os feitos
Afrodite, a vencedora da disputa, confere
e as ações de heróis históricos e lendários represen-
tando, portanto, uma coletividade ao fazer referência a Páris, como prêmio por tê-la escolhido, o amor
aos usos, costumes e mitos. da mulher mais bela, Helena de Tróia. Contudo,
Helena é esposa de Menelau, irmão de Agamenon,
Para Jaeger ( 1994), as poesias de o maior dos reis da Grécia. Diante da fuga de Helena
Homero destacam a vasta e complexa e de sua chegada à Tróia como amante de Páris,
formação educacional do grego e, Agamenon e Menelau convocam os heróis e reis
consequentemente, contribuem para da Grécia, entre eles Aquiles e Ulisses (ou Odisseu),
a fundamentação da sociedade arcaica e partem rumo à Guerra em Tróia. Por anos a fio,
enquanto categorias fundamentais “da vida a Guerra se desenrola demonstrando os embates
e do pensamento”. Deste modo, a Ilíada e a entre gregos e troianos e, por vezes, entre os
Odisseia conferem referências fundamentais próprios deuses que possuem os seus protegidos
para a formação do sujeito, revelando nos campos de batalha. Aquiles, por sua vez, situa-
configurações das relações sociais na Grécia se como o indomável guerreiro armado com armas
Clássica. e armadura divinas que, atinge o seu clímax ao
vingar o seu amante Pátraclo derrotando Heitor, o
príncipe e o principal guerreiro de Tróia.
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VAMOS PENSAR?

Quem foi Homero?


Diversas lendas orbitam em torno do
nome de Homero, o poeta cego cuja
existência é, constantemente, ques-
tionada. Será que Homero foi real-
mente um indivíduo que existiu na
Grécia clássica? Ou chamava-se de
Homero(s) aqueles que transmitiam

oralmente as histórias de cidade em cidade dando a


elas as suas próprias versões?
LINK:https://super.abril.com.br/mundo-estranho/
quem-foi-homero/ Figura 5 - Aquiles derrota Heitor (1630) – Peter Paul Rubens
Fonte: Wikimedia Commons

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A narrativa homérica deposita em
SCANEIE O CÓDIGO
Aquiles o modelo da excelência (aretê) na E ACESSE O LINK
atividade da guerra, dando a margem para BUSQUE POR MAIS

compreendermos o semideus grego como


um dos modelos de virtude apresentados
na “Ilíada”. Ademais, a narrativa encerra-se Sobre a “Odisseia”
com os jogos funerais de Heitor após ter o seu
LINK: https://www.youtube.com/watch?-
corpo recuperado pelo seu pai e rei de Tróia,
v=VhthlSE-ZyI
Príamo.
Na “Odisseia”, por sua vez, Homero
narra a tentativa de Ulisses (Odisseu) de
retornar à Ítaca e rever sua esposa Penélope Para o pensador Theodor W. Adorno, o
e seu filho Telêmaco. O herói da “Odisseia” personagem de Ulisses tem um significado
difere-se de Aquiles, herói da Ilíada, uma vez muito importante para a filosofia, pois, ele
que Ulisses é um simples mortal sem relação exemplifica a chegada da racionalidade
imediata com os deuses. Entretanto, o mundo como superação aos saberes mitológicos
de Ulisses também se entrelaça ao mundo na resolução dos problemas. Adorno afirma
dos deuses, pois sua sina se dá, justamente, que a astúcia de Ulisses antecipa a busca do
pelo seu desdenho com relação aos deuses humano pela tentativa de colocar-se acima
olímpicos. da natureza e, consequentemente, dominá-
Na areia das praias de Tróia encontra- la, conforme ocorre, por exemplo, no episódio
se um cavalo de madeira, plano bolado pelo das sereias, narrado na Odisseia. Ali, com a
astuto Ulisses para, finalmente, derrotarem sua racionalidade, Ulisses domina o mito (o
a cidade, uma vez que as muralhas de Tróia natural) ao ser capaz de escutar o canto das
se fazem impenetráveis. Dentro do cavalo há sereias sem ser arrastado para o fundo do mar.
uma série dos melhores guerreiros gregos,
interpretado como uma oferenda, logo após
Poseidon, o deus dos mares, enviar um
monstro marinho para dar cabo do sacerdote
que aconselhava o soberano de Tróia a
incendiar o cavalo, o ‘presente de grego’ é
levado para dentro da cidade troiana. No cair
da noite, os guerreiros saem do cavalo, abrem
os portões de Tróia e, finalmente, a cidade é
destruída.
Ulisses, motivado pela genialidade de
seu plano, renega os deuses e coloca-se como,
de fato, o vencedor de Tróia. Nesse ínterim,
Poseidon amaldiçoa Ulisses e sentencia-o a Figura 7 - Odisseu fugindo da caverna de Polifemo (1593–1678) - Ja-
cob Jordaens
vagar no mar sem ser capaz de retornar à Ítaca, Fonte: Arquivo do autor
seu reino. Após vagar anos a fio, enfrentar as
intempéries do mar, os ciclopes, as feiticeiras,
enganar as sereias e todos os perigos que os
deuses colocaram em seu caminho, Ulisses,
com a ajuda de Atena, consegue retornar a
sua cidade, libertar Penélope e, retomar o seu
reinado.

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Compreendidos como produtores
de cultura, os gregos destacam-se, além da
proeminência de suas narrativas mitológicas,
com a invenção da tragédia, isto é, com a
1.3 AS TRAGÉDIAS GREGAS

invenção de uma arte imitativa (mimética)


composta da representação teatral verossímil
de acontecimentos, de mitos, da vida régia,
de intrigas e de desenvolvimentos comunais
da vida grega.
Com efeito, a composição da tragédia
grega, costumeiramente, relaciona-se com
a mitologia como “fonte de criação artística”
(OLIVEIRA). Contudo, o dramaturgo possuía
Figura 8 - Jasão e Medeia (1907) - John William Waterhouse
a liberdade da invenção e da modificação Fonte: Arquivo do autor

conferindo, portanto, uma nova roupagem


ao mito e, consequentemente, inovando a
leitura mítica ao transmutá-la em diferentes
versões.
A tragédia relaciona-se, diretamente,
com o modo de ser do grego, pois se trata da
imitação da sua relação direta com a natureza
e do modelo ritualístico/divino que propõe a
afinidade com os deuses. Ademais, a tragédia
acentua o seu caráter de orientação da vida
do sujeito, uma vez que, primitivamente, ela
institui modelos de organização, liturgia e
justiça para o ser humano grego. Inclusive,
para Aristóteles, na Poética, a tragédia
ao fornecer possibilidades ordenatórias é
capaz de, através da representação teatral,
proporcionar que o sujeito se reconhece na
peça e, consequente, realizar a catarse, isto
é, purificar/purgar os sentimentos tortuosos
que não são saudáveis para a vida social.
Como o mais famoso gênero da
literatura grega, a tragédia revela as
peripécias do herói para a fuga impossível
das determinações pré-estabelecidas pelas
profecias do destino (as Moiras). Nesse sentido,
os dramaturgos Sófocles, autor de “Édipo Rei”,
e Eurípedes, autor de “Medeia”, destacam-se
como os grandes autores trágicos da Grécia
Clássica.

16
FIXANDO O CONTEÚDO

1 - Leia os textos e responda o que se segue (Fonte: Filosofia na Escola – Adaptado).


Para a mitologia grega […] “Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado.
Alguns deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo que havia de ruim no céu
etéreo foi expulso, ou para a prisão do tártaro ou para a terra, entre os mortais. E os homens,
o que aconteceu com eles? Quem são eles?”
VERNANT, J. O universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

A ordem, em todas as suas acepções, é o grande objeto do espanto filosófico. Causam


maravilhamento a ordem das leis naturais que a ciência descobre, a ordem manifesta nas
proporções e harmonias da obra de arte e a ordem das ações justas na vida moral e política
da sociedade. Antes da filosofia, os mitos já expressavam esse maravilhamento, porém
com diferenças importantes.

Sobre esse assunto, é correto afirmar que o mito

a) enuncia de modo argumentativo a escala de valores de uma sociedade pré-crítica.


b) estabelece parâmetros de abordagem dos fenômenos naturais sobre bases estritamente
lógicas, como o princípio de não contradição.
c) busca explicações suficientes sobre o lugar do homem no mundo, apelando ao sagrado.
d) possui uma grande densidade teológico-moral, dando a cada membro do grupo
autonomia para decidir e atuar sem limites objetivos.
e) representam o conhecimento verdadeiro, logocêntrico e afastado do natural.

2 - (UNIFOR CE) A religião na Grécia Antiga apresentou como características o

a) Zoomorfismo, o monoteísmo e o totemismo.


b) Salvacionismo, o antropomorfismo e o messianismo.
c) Asceticismo, a mitologia e o animismo.
d) Antropomorfismo, o politeísmo e a mitologia.
e) Animismo, o salvacionismo e o misticismo.

3 - Leia o texto abaixo e responda o que se segue (Fonte: Filosofia na Escola – Adaptado).

“ (…) Assim, a magia e a mitologia ocupam a imensa região exterior do desconhecido,


englobando o pequeno campo do conhecimento concreto comum. O sobrenatural está em
todas as partes, dentro ou além do natural; e o conhecimento do sobrenatural que o homem
acredita possuir, não sendo da experiência direta comum, parece ser um conhecimento
de ordem diferente e superior. É uma revelação acessível apenas ao homem inspirado ou
(como diziam os gregos) ‘divino’ — o mágico e o sacerdote, o poeta e o vidente”.
CORNFORD, F.M. Antes e Depois de Sócrates. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

A partir do texto acima, é correto afirmar que

17
a) o campo do conhecimento mítico limita-se ao que se manifesta no campo concreto
comum.
b) a magia e a mitologia não se confundem com o conhecimento concreto comum.
c) o conhecimento no mito, por ser uma revelação, é acessível igualmente a todos os
homens.
d) o mito não distingue o plano natural do sobrenatural, sendo o conhecimento do
sobrenatural superior narrado pelo poeta.
e) o mito é narrado pelo filósofo e, portanto, tem compromisso direto com a verdade.

4 - Para Adorno, Ulisses, da “Odisseia”, exemplifica

a) o fortalecimento do mito diante do humano.


b) a reverência aos deuses e deusas do politeísmo grego.
c) a elevação da racionalidade como superação do mitológico.
d) o mitológico como superior a racionalidade.
e) o homem irracional como sujeito central das narrativas mitológicas.

5 - Na “Ilíada”, de Homero, o mundo dos deuses e dos seres humanos se mistura. Diante
disso, o herói Aquiles destaca-se, sobretudo

a) como modelo da excelência na atividade da guerra e de virtude.


b) como modelo de covardia e, portanto, afastado dos deuses.
c) como modelo de excelência na atividade da argumentação.
d) como modelo de narrador virtuoso.
e) como modelo de racionalidade orientada em direção à superação do mito.

6 - UNICENTRO (Adaptado).

“Os poemas homéricos têm por fundamento uma visão de mundo clara e coerente.
Manifestam-na quase a cada verso, pois colocam em relação com ela tudo quanto cantam
de importante – é, antes de mais nada, a partir dessa relação que se define seu caráter
particular. Nós chamamos de religiosa essa cosmovisão, embora ela se distancie muito
da religião de outros povos e tempos. Essa cosmovisão da poesia homérica é clara e
coerente. Em parte alguma ela enuncia fórmulas conceituais à maneira de um dogma;
antes se exprime vivamente em tudo que sucede, em tudo que é dito e pensado. E embora
no pormenor muitas coisas resultem ambíguas, em termos amplos e no essencial, os
testemunhos não se contradizem. É possível, com rigoroso método, reuni-los, ordená-los,
fazer-lhes o cômputo, e assim eles nos dão respostas explícitas às questões sobre a vida e
a morte, o homem e Deus, a liberdade e o destino (…). ”
OTTO. Os deuses da Grécia: a imagem do divino na visão do espírito grego. São Paulo:
Odysseus Editora, 2005.

Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a função dos mitos na Grécia arcaica,
assinale a alternativa correta.

a) De acordo com os poemas homéricos, os deuses em nada poderiam interferir no destino


dos humanos e, assim, a determinação divina (ananque) se colocava em segundo plano,
uma vez que era o acaso (tykhe) quem governava, isto é, possuía a função de ensinar ao

18
homem o que este deveria escolher no momento de sua livre ação.
b) As poesias de Homero sempre mantiveram a função de educar o homem grego para o
pleno exercício da atividade racional que surgiria no século VI a.C., uma vez que, de acordo
com historiadores e helenistas, não houve uma ruptura na passagem do mito para o logos,
mas sim um processo gradual e contínuo de enraizamento histórico que culminou no
advento da filosofia.
c) Os mitos homéricos serviram de base para a educação, formação e visão de mundo que o
homem grego arcaico possuía. Em seus cânticos, Homero justapõe conceitos importantes
como harmonia, proporção e questionamentos a respeito dos princípios, das causas e do
porquê das coisas. Embora todas essas instâncias apresentavam-se como tal, os mitos não
deixaram de lado o caráter mágico, fictício e fabular em que eram narrados.
d) O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos de sua poesia, Homero inaugura uma
modalidade literária bem singular no ocidente. As ações dos deuses e dos homens, por
exemplo, sempre obedeceram a uma ordem pré-estabelecida, a qual sempre revelou uma
lógica racional em funcionamento.
e) Os mitos tiveram função meramente ilustrativa na educação do homem grego, pois o
caráter teórico e abstrato da cultura grega apagou em grande parte os aspectos que se
revelariam relevantes na poesia grega.

7 - As tragédias gregas se caracterizam como

a) um modo artístico que não apresenta relação com a vida do grego.


b) uma arte mimética que faz parte do modo como o grego organizava o seu mundo.
c) uma arte racional e, consequentemente, distante do mitológico.
d) uma arte mimética de caráter desvinculado da Cidade-Estado.
e) uma arte mimética não semelhante à realidade, em outros termos, inverossímil.

8 - UNIMONTES (Adaptado)Leia o texto e responde ao que se segue:

“Cada indivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione com sua própria
vida. Os mitos têm basicamente quatro funções. A primeira é a função mística – e é disso
que venho falando, dando conta da maravilha que é o universo, da maravilha que é você,
e vivenciando o espanto diante do mistério. Os mitos abrem o mundo para a dimensão do
mistério, para a consciência do mistério que subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar,
você não terá uma mitologia. Se o mistério se manifestar através de todas as coisas, o
universo se tornará, por assim dizer, uma pintura sagrada. Você está sempre se dirigindo
ao mistério transcendente, através das circunstâncias da sua vida verdadeira. A segunda é
a dimensão cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa, mostrando qual é a forma
do universo, mas fazendo-o de uma tal maneira que o mistério, outra vez, se manifeste. Hoje,
tendemos a pensar que os cientistas detêm todas as respostas. Mas os maiores entre eles
dizem-nos: “Não, não temos todas as respostas. Podemos dizer-lhe como a coisa funciona,
mas não o que é”. Você risca um fósforo. O que é o fogo? Você pode falar de oxidação, mas
isso não me dirá nada. A terceira função é sociológica – suporte e validação de determinada
ordem social. E aqui os mitos variam tremendamente, de lugar para lugar. Você tem toda
uma mitologia da poligamia, toda mitologia da monogamia. Ambas satisfatórias. Depende
de onde você estiver. Foi essa função sociológica do mito que assumiu a direção do nosso
mundo – e está desatualizada. A quarta função do mito, aquela, segundo penso, com que
todas as pessoas deviam tentar se relacionar – a função pedagógica, como viver uma vida

19
humana sob qualquer circunstância. Os mitos podem ensinar-nos isso. ”
CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athenas, 1990.

Podemos afirmar que

a) o mito é uma experiência singular que continua dando sentido à existência humana.
b) os mitos pertencem somente a comunidades pouco evoluídas.
c) o mito morreu e não diz mais nada para a sociedade.
d) não necessitamos dos mitos e que eles são ultrapassados.
e) o mito não foi capaz de se firmar como um universo simbólico.

20
UNIDADE 2
O SURGIMENTO DOS LOGOS

21
A passagem do mito ao logos Mileto e de Éfeso, na Ásia menor) motivada,
caracteriza a chegada da razão principalmente, por novas determinações e
como modelo lógico, crítico, reflexivo laços econômicos. Ademais, o fortalecimento
e sistemático de compreensão/ do comércio aliado ao conhecimento de
organização do mundo e da natureza. novas culturas exige da sociedade grega a
Trata-se, portanto, da eleição do logos (da formulação de novos modos de compreensão
2.1 DO MITO AO LOGOS

racionalidade) como motor explicativo do mundo e da realidade.


da realidade e, consequentemente, da Faz-se necessário, portanto, a eclosão
superação da narrativa mitológica em de um novo modo de organização do mundo
seu papel de organização/conhecimento e, finalmente, tal modelo é fornecido pela
do mundo. razão filosófica enquanto um conjunto de
Tem-se, deste modo, a conhecimentos e procedimentos reflexivos
consideração por um outro modo de racionalmente orientados, em outros termos,
conhecimento que, diferentemente da saberes e regras sistematizadas através da
narrativa oral mitológica, adota como razão e do sujeito.
fundamento a busca pela verdade das
coisas. Assim, o descompromisso mítico
com a verdade, isto é, a consolidação de
VAMOS PENSAR?
um saber desvinculado dos processos
lógicos de compreensão da realidade, A passagem do mito ao logos demarca uma comple-
é superado pela construção de uma xa modificação do modo como os gregos compreen-
diam o mundo. Assim, com o desencantamento do
teoria (de um logos/ de uma lógica) cujo
mundo, como dirá mais tarde o sociólogo Max Weber,
principal direcionamento é o de fornecer o pensamento mítico/mágico perde o espaço de orga-
aspectos racionalmente construídos nização simbólica para a rigorosidade do pensamento
para obtenção do conhecimento do racional/científico. Diante disso, como podemos pen-
mundo, da natureza e das coisas. sar a modificação do modo que enxergamos o mundo
contemporaneamente com a profusão incessante de
Segundo Chauí (2016, p. 33),
novas tecnologias racionalmente construídas que, ao
A filosofia se constitui quando alguns fim e ao cabo, nos levam para novas e inexploradas
gregos, insatisfeitos com as explicações
realidades demarcadas, cada vez mais, por instâncias
sobre a realidade dadas pela tradição
por meio dos mitos, começam a fazer virtuais?
perguntas e buscar respostas para
elas. Admirados e espantados com a
realidade, demonstram que os seres
humanos e as coisas da natureza
podem ser conhecidos pela razão
humana, e que a própria razão é capaz
de conhecer a si mesma.

Diante da insuficiência das


explicações fornecidas pela tradição
mitológica, o logos (a razão) se instaura
como a capacidade racional de explicar
aquilo que a mitologia não é capaz, ou
melhor, para o grego as explicações
míticas, descompromissadas com
a verdade, tornam-se incapazes de
fornecer a ele os critérios determinantes
para a sua organização política, social
e cultural. Soma-se a isso, a rápida
expansão territorial grega (como, por
exemplo, o surgimento das cidades de

22
Ademais, diferentemente do saber
mítico que não se preocupava com o teor de
verdade presente nos elementos mágicos,
fabulosos ou, até mesmo, com as contradições
de seu discurso, o logos filosófico assenta-
se, sobretudo, na sistematicidade universal
dos procedimentos racionais de busca pela
verdade que, ao fim e ao cabo, irá promover
uma desconstrução do imaginário mítico
e, principalmente, da autoridade divina da
palavra do poeta (do sábio) para propor-se,
como veremos adiante, como um discurso da
pólis, ou seja, como uma palavra de organização
política.

FIQUE ATENTO

Não se trata de afirmar que as nar-


rativas sobre os mitos (os deuses e as
deusas) gregos deixaram de existir e de
possuir um espaço no amplo aspecto
da pólis. Pelo contrário, o habitante da
Grécia Arcaica continua cultuando os
gregos, entretanto, o papel de organi-
zação do real, anteriormente atribuído
aos mitos pela autoridade da palavra do poeta, é supe-
rado pela investigação racional da realidade e, posterior-
mente, a autoridade política conferida ao mito é sobre-
pujada pela organização política do homem grego em
torno da palavra racional coletivamente compartilhada
na Ágora. Enfim, o cidadão grego é múltiplo: cultua os
deuses, organiza o cosmos e faz política com a palavra
racional.

23
Os primeiros modelos filosóficos se no conceito de physis, a determinação
de organização do real são fornecidos originária das coisas.
2.2 COSMOLOGIAS: FILOSOFIAS NATURALISTAS

pelos pensadores pré-socráticos em


relação direta com a natureza, por isso,
os pré-socráticos são denominados como
filósofos naturalistas e as suas filosofias
são conhecidas como cosmologias.
As cosmologias são tentativas
racionais de organização do cosmos, isto é,
o pensamento racional passa a investigar
a origem/natureza do mundo. Nesse
sentido, as filosofias pré-socráticas são as Figura 10 - Alguns filósofos pré-socráticos
primeiras tentativas racionais de dizer a Fonte: Arquivo do autor

origem do mundo a partir da investigação


racional/empírica da natureza. Diversos são os pensadores
A origem do mundo, segundo a denominados de pré-socráticos, cada qual
filosofia pré-socrática dá-se, sobretudo, a seu modo, buscando conhecer a physis
através da physis, isto é, por meio da como “elemento imperecível, gerador
compreensão/determinação do princípio de todos os outros elementos naturais,
(arché) natural que confere origem ao perecíveis” (GHIRALDELLI JÚNIOR,
mundo e a todas as coisas. Deste modo, 2003, p. 07). Deste modo, podemos dar
a physis, como propõe Reale (1990), é a sequência evidenciando os filósofos e seus
natureza em seu sentido originário a pensamentos a seguir.
partir da qual toda a realidade provém. Tales de Mileto (623 a.C. – 546 a.C.),
Nesse ínterim, todos os filósofos pré- da Escola de Mileto, foi matemático,
socráticos se perguntaram sobre a physis astrônomo, sendo considerado o primeiro
procurando, racionalmente, explicá-la. filósofo. O pensamento de Tales considera
É interessante ressaltarmos que o a água como o princípio natural (ou causa
surgimento da filosofia, como disciplina material) do qual tudo surge, em outros
que busca a origem racional do cosmos, termos, a physis pra Tales é a água. Assim,
não se dá como disciplina isolada do de acordo com o monismo pensado pelo
mundo e dos demais conteúdos do saber filósofo de Mileto, a água se configurava
humano, mas, pelo contrário, a filosofia como a substância fundamental (ou
alia-se, principalmente, a matemática princípio imperecível) da qual todas
e a astronomia no ensejo de dizer as as outras se derivavam. Deste modo, a
coisas primeiras e, consequentemente, totalidade do mundo seria a água, pois,
fundamentar-se como um método de indiscutivelmente, ela estaria presente em
conhecimento que busca racional da todos os demais compostos.
verdade.
Por conseguinte, a originalidade da
filosofia e, principalmente do pensamento
pré-socrático é a investigação de
“princípios únicos a partir dos quais a
natureza como um todo poderia ser
constituída e/ou gerada, bem como seus
diversos fenômenos explicados” (POLITO;
FILHO, 2013, p. 334). Tais princípios,
como dito anteriormente, encontram-

24
É preciso salientar que, como
SCANEIE O CÓDIGO
E ACESSE O LINK traço essencial e comum, de acordo
BUSQUE POR MAIS com Ghiraldelli Júnior (2003), “em suas
cosmologias” esses pensadores “tentam
Tales de Mileto destacou-se em diversos
encontrar uma substância única, ou
campos do saber humano. Têm-se ciência
de que, além de contribuir com análises ge-
força exclusiva, ou princípio básico capaz
ométricas das Pirâmides e com teorias sobre de ser apresentado como elemento
o plantio, Tales foi capaz de prever um eclip- efetivamente real e primordial do cosmos”
se solar total em 585 a.C.
(GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003, p. 08).
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=34n8FBzf-fI
Diante disso, na tentativa de compreensão
da physis e, consequentemente, da
Falando ainda dos filósofos pré-socráticos ampliação da filosofia, os pré-socráticos
detentores de um pensamento monista, isto é, Heráclito e Parmênides demandam uma
da ideia de que através da observação de um atenção especial, como veremos a seguir.
elemento da natureza seria possível determiná-lo
como o princípio natural imperecível e originário Pré-socráticos Physis
de todas as coisas, temos Anaxímenes (588 a.C.
Anaximandro (610 a.C.-546 O infinito/ o ilimitado
– 524 a.C.) que, por sua vez, determinou que a
a.C.) (apeíron)
physis seria o ar.
Empédocles (490 a.C. - 430 Terra, fogo, água e ar
Pitágoras de Samos (570 a.C. – 490 a.C.), a.C.)
filósofo, astrônomo e matemático, pensa a physis
Anaxágoras (500 a.C. - 428 Sementes, amor e ódio
como uma complexa organização numérica, a.C.)
atribuindo ao número 1 (um) a ideia de origem, Demócrito (460 a.C. - 370 Átomos
isto é, de ponto de partida para a fundação do a.C.)
Universo. Ademais, o pensamento pitagórico Zenão (490 a.C. - 430 a.C.) Imobilidade
oferece contribuições determinantes não apenas
Quadro 1 - Alguns pensadores pré-socráticos e a physis
para a consolidação da geometria (o teorema de Fonte: Elaborada pelo autor
Pitágoras) e da filosofia, mas também, acrescenta
ao entendimento da música ao descobrir uma
nova escala de tons (a escala pitagórica). Ademais,
a influência de Pitágoras pode ser observada em VAMOS PENSAR?

grandes pensadores futuros, tais como Galileu


O atomismo de Demócrito
Galilei e Isaac Newton. Segundo Chauí (2000):
“Demócrito de Abdera desenvolveu uma teoria sobre o Ser
ou sobre a Natureza conhecida como o nome de atomismo:
SCANEIE O CÓDIGO a realidade é constituída por átomos. A palavra átomo tem
E ACESSE O LINK origem grega e significa: o que não pode ser cortado ou di-
vidido, isto é, a menor partícula indivisível de todas as coisas.
BUSQUE POR MAIS
Os seres surgem por composição de átomos, transformam-se
por novos arranjos dos átomos e morrem por separação dos
É atribuída a Pitágoras de Samos a cria- átomos. ” (CHAUÍ, 2000, p. 138)
ção da palavra filosofia, derivada de phi-
Ademais, ao determinar a physis como o átomo, insti-
los e sophia, filosofia significa “amor pela
tui-se o entendimento que a menos partícula divisível
sabedoria”.
só pode ser conhecida pelo pensamento.

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=dTMNnikuyrc

25
Heráclito de Éfeso (540 a.C. - 470
a.C.) e Parmênides de Eleia (530 a.C.
2.3 HERÁCLITO E PARMÊNIDES

-460 a.C.) são dois dos mais importantes


pensadores pré-socráticos, cuja reflexão
veio a influenciar toda a filosofia
subsequente. Opositores no que diz
respeito ao entendimento da physis,
ambos os filósofos determinaram aspectos
fundamentais para o desdobramento da
Figura 14 - Heráclito (1630) - Johannes Moreelse
razão como modo de reflexão humana. Fonte: (MOREELSE, 1602 –1634)
Heráclito, o Obscuro, determina
O movimento, segundo Heráclito, é
o fogo como elemento originário, não
o agente da transformação promovendo,
em uma perspectiva monista, conforme
portanto, uma estrutura natural de eterno
pensado por Tales, mas pelo contrário,
devir. Nesse sentido, a seguinte máxima
o fogo encontra-se em um movimento
atribuída à Heráclito funciona como pedra
perpétuo de purificação e transformação
basilar de seu entendimento, revelando
dos outros elementos. Diante disso, a
que, para o pré-socrático, “Ninguém pode
noção de movimento (devir) assume a
entrar duas vezes no mesmo rio, pois
primazia do pensamento heraclitiano.
quando nele se entra novamente, não se
encontra as mesmas águas, e o próprio
ser já se modificou”. (HERÁCLITO – grifo
SCANEIE O CÓDIGO
E ACESSE O LINK nosso). Assim, de acordo com Chauí (2002),
BUSQUE POR MAIS na máxima heraclitiana, dividida em
O fogo como physis – o fogo como mito: fragmentos:
Para Chauí (2002, p. 83):
[...] expressa-se a ideia mestra de
“O fogo de que fala Heráclito não é o quente, ou o Heráclito, a saber, que o mundo é
fogo percebido por nossos sentidos [...]. o fogo pri-
mordial, que ninguém – nem deuses nem homens
mudança contínua e incessante de
– fez é a origem sempre viva e eterna de todas as todas as coisas e que a permanência é
coisas.” ilusão. Referindo-se a Heráclito, Platão
escreveu que para esse filósofo “tudo
Assim, o fogo para Heráclito é a origem flui”, tudo passa, tudo se move sem
(physis) desprovida de contato com os deuses e os homens. cessar. O úmido seca, o seco umedece,
Em contraposição, podemos pensar o mito de Prometeu, o o quente esfria, o fio esquenta, a vida
morre, a morte renasce, o dia anoitece,
titã que roubou o fogo do Olimpo e o entregou aos homens a noite amanhece, a vigília adormece,
dando origem, portanto, a compreensão das coisas e ao o sono desperta, a criança envelhece,
distanciamento dos deuses e da natureza. o velho se infantiliza. O mundo é um
perpétuo nascer, morrer, envelhecer
Sobre o mito de Prometeu:
e rejuvenescer. Tudo muda, nada
permanece idêntico a si mesmo. O
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=wX56HQG07OM movimento é, portanto, a realidade
verdadeira (CHAUI, 2002, p. 81 – grifo
nosso).

Com efeito, para Heráclito, o


movimento instaura-se como o verdadeiro
princípio originador da realidade, uma
vez que, nada se encontra parado nem
imutável, pelo contrário, a estrutura mesma
da realidade, da natureza e do ser humano
é, deste modo, mutável. Tudo, portanto,
pode vir-a-ser, pois, compreende-se em um
espaço/tempo dotado de movimentações
e mudanças permanentes.

26
Ressalta-se ainda que o fluxo de
movimento e transformação próprio à
realidade do mundo revela a “luta dos
contrários” (CHAUÍ, 2002, p. 82), isto é, um
movimento dialético de oposição entre
elementos contrários que, ao fim e ao cabo,
irão se harmonizar em um jogo de tensões
que revela a realidade como “inquieta e
móvel, tensa, concordante e discordante,
e da guerra nasce a ordem ou o cosmos,
Figura 15 - Busto de Parmênides
equilíbrio dinâmico de forças contrárias que Fonte: (TOTALLY HISTORY, s.d.)
coexistem e se sucedem se cessar” (CHAUÍ,
É com Parmênides que se tem a
2002, p. 82). Em outros termos, Heráclito fala
fundação da disciplina Ontológica como
de uma realidade marcada por um constante
campo reflexivo sobre a essencialidade do
movimento de harmonização dos contrários.
ser enquanto modelo originário imutável.
Dando a entrever, portanto, que o todo da
Assim, compreendido como essencial, a
realidade é composto pela multiplicidade
ontologia de Parmênides lança as bases,
característica de seu devir constante.
como destaca Chauí (2002), para uma
Parmênides da escola Eleata, em
condenação/separação entre essência e
franca oposição ao pensamento de Heráclito,
aparência. Condenação/separação que, como
determina que a physis, o elemento originário,
se sabe, será fundamental ao pensamento de
é o ser pensado como instância essencial,
Platão, pois, de acordo com o pensamento
imutável e estática. Deste modo, o “ser é o
parmenidiano, “o pensamento puro se
que permanece idêntico a si mesmo” (CHAUÍ,
afasta da percepção sensorial e o opera por
2002, p. 92), ou seja, aquilo que não muda,
argumentos lógicos” (CHAUÍ, 2002, p. 93), ou
que não se transforma, o elemento essencial,
seja, a verdade (alétheia) do ser só pode ser
a unidade, finalmente: aquilo que é.
conhecida por meio do pensamento/razão.
O ser é imóvel/imutável. De fato, o pensamento do filósofo
de Eleia já aponta para destinações
O ser é eterno/indestrutível.
fundamentais à filosofia vindoura,
O ser é uno/unitário.
principalmente, ao salientar a distinção entre
O ser é indivisível. a alétheia, a verdade obtida racionalmente,
O ser é pleno. e a dóxa, a opinião é fundamentada pelas
circunstâncias, para tanto, é mutável/efêmera
Quadro 2 - O ser segundo Parmênides
Fonte: Adaptado de Chauí. (2002. p. 93-94). e perecível ou, como veremos adiante, diz
respeito a um tipo falso de conhecimento
Segundo Parmênides, o pensamento provido do senso comum.
só pode alcançar aquilo que permanece, isto é, Enfim, os pensamentos de Heráclito
aquilo que se oferece à identidade, em suma, e de Parmênides influenciaram a toda uma
segundo o pensamento do filósofo Eleata: “o teoria filosófica que virá a seguir, sobretudo,
ser é e o não ser não é”. Diante disso, pensar no que diz respeito às oposições iniciais
o ser (dizer a origem) é, portanto, pensar o entre uma realidade constituída tendo
imutável. o movimento e a mudança como bases
fundamentais e, em divergentemente disso,
uma realidade essencialmente centrada
na ideia de um ser imutável/imóvel do qual
todas as coisas provêm.

27
SCANEIE O CÓDIGO
E ACESSE O LINK
BUSQUE POR MAIS

Os paradoxos de Zenão
O filósofo pré-socrático Zenão de Eléia (490 a.C. - 430 a.C.),
discípulo de Parmênides, elenca uma série de paradoxos
com a finalidade de questionar a ideia de movimento e,
consequentemente, reafirmar o argumento da imobilida-
de das coisas.

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=ZDvH8hGhvBk

Figura 16 - Pradoxo de Zenão: Aquiles e a tartaruga


Fonte: Arquivo do autor

28
FIXANDO O CONTEÚDO

1 - Assinale a questão CORRETA sobre as condições que favoreceram a passagem do mito


ao logos.

a) A suficiência do mito na ordenação da realidade; o surgimento da racionalidade


sistemática; o fortalecimento do comércio; os novos laços econômicos.
b) O surgimento da racionalidade sistemática; a superação do modelo mítico de ordenação
da realidade; os novos laços econômicos; o fortalecimento do comércio.
c) O surgimento da racionalidade sistemática; o fechamento da Grécia a novos laços
econômicos; a superação do modelo mítico de ordenação da realidade.
d) O fortalecimento do comércio. O surgimento de novos laços mitológicos; o fechamento
a um novo modelo de pensamento. A suficiência do mito na ordenação da realidade.
e) A superação do modelo mítico de ordenação da realidade; o fechamento do comércio. O
surgimento da racionalidade sistemática; os novos laços econômicos.

2 - A passagem do mito ao logos demarca uma complexa modificação do modo como


os gregos compreendiam o mundo. Assim, com o desencantamento do mundo, como
dirá mais tarde o sociólogo Max Weber, o pensamento mítico/mágico perde o espaço de
organização simbólica para a rigorosidade do pensamento racional/científico. Diante disso,
podemos pensar a palavra da filosofia do seguinte modo:

a) Como uma palavra mágico/mítica de autoridade do sábio perante a realidade.


b) Como uma palavra de revelação divina na determinação da realidade.
c) Como uma palavra de ordenação racional/política da realidade.
d) Como uma palavra composta de fabulações e encantamentos.
e) Como uma palavra distanciada da realidade por tratar apenas de temas metafísicos.

3 - Os primeiros modelos filosóficos são denominados de cosmologias. Diante disso, uma


cosmologia é definida como

a) tentativas de organização do mundo por meio de narrativas orais mitológicas.


b) tentativas de organização do cosmos através da palavra poética.
c) tentativas de organização do cosmos por meio da racionalidade separada do natural.
d) tentativas de organização do cosmos por meio da intervenção dos deuses na realidade
dos seres humanos.
e) tentativas de organização do cosmos por meio da racionalidade a partir da investigação
empírica/racional da natureza.

4 - (UEG) – Adaptada

A influência de Sócrates na filosofia grega foi tão marcante que dividiu a sua história em
períodos: período pré-socrático, período socrático e período pós-socrático. O período pré-
socrático é visto como uma época de formação da filosofia grega, na qual predominavam

29
os problemas cosmológicos. Ele se desenvolveu em cidades da Jônia e da Magna Grécia.
Grandes escolas filosóficas surgem nesse período e muitos pensadores se destacam.

Entre eles, um jônico, que ficou conhecido como pai da filosofia. Seu nome é:

a) Sócrates de Atenas.
b) Parmênides de Eléia.
c) Heráclito de Éfeso.
d) Tales de Mileto.
e) Demócrito de Abdera.

5 - (UEL 2015) – Adaptada

De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que ter um
começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a partir
de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa,
então essa outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum dia. Sofia
entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma
coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir da qual tudo é
feito? A grande questão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do
nada. O que os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou
como a terra sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas.
Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995. p.43-44.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento da filosofia, assinale a


alternativa correta.

a) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que havia alguma substância


básica, uma causa oculta, que estava por trás de todas as transformações na natureza e, a
partir da observação, buscavam descobrir leis naturais que fossem eternas.
b) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da
natureza e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável
as histórias contadas acerca do mundo dos deuses.
c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas de pensamento por volta do
século VI a.C. partiram da ideia unânime de que a água era o princípio original do mundo
por sua enorme capacidade de transformação.
d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homérica do mundo e reforçou o
antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma explicação natural e
regular acerca dos primeiros princípios que originam todas as coisas.
e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes e Heráclito, há um princípio
originário único denominado o ilimitado, que é a reprodução da aparência sensível que os
olhos humanos podem observar no nascimento e na degeneração das coisas.

6 - (UNCISAL 2012) – Adaptada

O período pré-socrático é o ponto inicial das reflexões filosóficas. Suas discussões se


prendem a Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e imutável

30
que se encontra na origem da natureza e de suas transformações) ponto crucial de toda
formulação filosófica. Em tal contexto, Leucipo e Demócrito afirmam ser a realidade
percebida pelos sentidos ilusória. Eles defendem que os sentidos apenas capturam uma
realidade superficial, mutável e transitória que acreditamos ser verdadeira. Mesmo que
os sentidos apreendam “as mutações das coisas, no fundo, os elementos primordiais que
constituem essa realidade jamais se alteram. ” Assim, a realidade é uma coisa e o real outra.

Para Demócrito a physis é composta:

a) pelo fogo.
b) pela água.
c) pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio.
d) pelo ilimitado
e) pelos átomos.

7 - (UNIOESTE 2012) – Adaptada

O que há em comum entre Tales, Anaximandro e Anaxímenes de Mileto, entre e Pitágoras


de Samos? “Todos esses pensadores propõem uma explicação racional do mundo, e isso é
uma reviravolta decisiva na história do pensamento” (Pierre Hadot).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre as relações entre mito e filosofia, seguem
as seguintes proposições:
I. Os filósofos pré-socráticos são conhecidos como filósofos da physis porque as
explicações racionais do mundo por eles produzidas apresentam não apenas o início, o
princípio, mas também o desenvolvimento e o resultado do processo pelo qual uma coisa
se constitui.
II. Os filósofos pré-socráticos não foram os primeiros a tratarem da origem e do
desenvolvimento do universo, antes deles já existiam cosmogonias, mas estas eram de tipo
mítico, descreviam a história do mundo como uma luta entre entidades personificadas.
III. Tales de Mileto, um dos Sete Sábios, além de matemático e físico é considerado
filósofo – o fundador da filosofia, segundo Aristóteles – porque em sua proposição “A água
é a origem e a matriz de todas as coisas” está contida a proposição “Tudo é um”, ou seja, a
representação de unidade.
IV. As explicações racionais do mundo elaboradas pelos pré-socráticos seguem o mesmo
esquema de orientação das narrativas mitológicas, pois, ao fim e ao cabo, os pré-socráticos
constroem cosmogonias.

Assinale a alternativa correta.

a) Apenas as proposições I e II estão corretas.


b) Apenas a proposição III e IV está correta.
c) Apenas as proposições II e III estão corretas.
d) Apenas as proposições I, II e III estão corretas.
e) Todas estão corretas.

8 - UECE (2018) - Adaptada.

31
Relacione corretamente as frases apresentadas a seguir com os respectivos autores,
numerando a Coluna II de acordo com a Coluna I.

COLUNA 1

1. A physis é o átomo.
2. A realidade encontra-se em constante devir.
3. Tudo é uno/imutável.
4. A physis corresponde a uma organização numérica.
5. Aquiles e a tartaruga.

COLUNA 2

( ) Heráclito de Éfeso.
( ) Zenão de Eléia.
( ) Pitágoras de Samos.
( ) Demócrito de Abdera.
( ) Parmênides de Eléia.

Assinale a sequência correta:

a) 5,4,3,2,1.
b) 4,5,2,3,1.
c) 3,2,1,4,5.
d) 1,2,3,4,5.
e) 3,5,4,1,2.

32
UNIDADE 3
O SOFISTA E A PALAVRA

33
Com a afirmação da racionalidade Diante disso, as decisões políticas
como modelo de orientação da e legislativas tomadas no âmbito da
realidade têm-se a eclosão de profundas polis são realizadas na Ágora, isto é,
modificações no cenário grego, nas Assembleias coletivas realizadas
3.1 OS SOFISTAS: PALAVRA E PERSUASÃO

sobretudo, no que diz respeito à utilização nas praças públicas, nas quais os
da palavra. Com efeito, a palavra que, “bem-nascidos” (Eupátridas) exerciam
anteriormente, era de uso restrito dos o papel de cidadão ao discutirem os
sábios enquanto inspirados pelos deuses, direcionamentos políticos e legais da
agora é de posse do cidadão em seu polis.
caráter coletivo e desvinculado da postura
ritualística/divina. De fato, a palavra torna-
se, efetivamente, um exercício de política
e, assim, de poder.
Como dito por Jean-Pierre Vernant
(1981), a filosofia é a filha da cidade, por isso,
o advento do pensamento racional ancora-
se e no modo de vida social proposto pela
polis (Cidade-Estado), sobretudo, em
Atenas, e, consequentemente, contribui,
efetivamente, para a determinação do
modelo político grego que se organizara
Figura 16 - Ruínas da Ágora antiga – Atenas
em torno da coletividade dando ensejo, Fonte: Lugares inesquecíveis
portanto, ao ideal de democracia.
Superando as imposições da
narrativa mítico/religiosa e transformada
em sinônimo de poder, a palavra racional
passa a ser disputada no âmbito da
FIQUE ATENTO
polis grega. Frente a isso, o campo
A democracia ateniense discursivo da polis torna-se múltiplo
No livro didático da disciplina Introdução à Filosofia, res- e, consequentemente, dotado dos
saltamos que a democracia grega possui um caráter ex-
seguintes discursos: a) o mítico/religiosos
clusivo, isto é:
[...] Exclui as mulheres, os estrangeiros (Metecos) e os despos-
que, mesmo desprovido de sua antiga
suídos, assentando-se sobre a manutenção de uma estrutu-
ra escravocrata que garantiria a participação dos Eupátridas
tarefa de organização do real, ainda
na vida pública da polis. Portanto, por mais que a fundação existe na polis com papel de manutenção
democrática tenha significado um ganho social importan-
te com a instituição de leis coletivas, a abertura da Ágora do aspecto ritualístico do mundo; b) o
como um espaço público para a tomada de decisões e,
sobretudo, o questionamento sobre as noções de política, filosófico ancorado na busca racional
de ética e de justiça, mantém-se intacta a estruturação de
uma sociedade dividida em classes sociais. Nesse sentido, a pela verdade das coisas; e c) o discurso do
máxima aristotélica do homem enquanto ser político e, con-
sequentemente, cidadão, é válida, tão somente, para aque- sofista cujo aspecto central é o manejo
les que se enquadram nas condições para serem Eupátridas.
(TEODORO, 2020, p. 29) da palavra racional em prol do efeito de
persuasão e convencimento.

34
c) O convencionalismo: as normas,
SCANEIE O CÓDIGO as leis e os costumes não são instâncias
E ACESSE O LINK
BUSQUE POR MAIS
fixas e imutáveis, pelo contrário, as normas,
as leis os costumes são acordos/convenções
A retórica é um conjunto de técnicas discursivas e argu-
mentativas se origina na Grécia Antiga com a finalidade travadas frente às necessidades.
de atuar com um instrumento para persuadir o ouvinte Peritos na arte retórica, isto é, na
em assuntos relacionados aos direcionamentos políticos arte do bem falar e, consequentemente, no
da polis.
manejo do discurso em prol de obtenção
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=ypeVH_XQvdU de ganhos políticos, sociais e econômicos,
os sofistas destacam-se como professores
remunerados pelos ensinamentos da
O sofista é compreendido, inicialmente,
arte do convencimento destinada aos
como um ‘especialista do saber’, isto é, como
aristocratas atenienses. Deste modo,
um mestre/professor de retórica (técnicas
segundo Chauí (2002), a expertise dos
voltadas para o bem falar/ a eloquência/ do bem
sofistas se dava, principalmente, pela:
argumentar/o bom emprego da palavra) que irá
[...] arte de argumentar e persuadir,
se relacionar, diretamente, com o modo de vida decisiva para quem exerce a cidadania
da polis delimitado pelo uso da palavra como numa democracia direta, em que as
discussões e decisões são feitas em
instrumento de decisão política. Ademais, como público e nas quais vence quem melhor
estabelecido por Braga Júnior e Lopes (2015), os souber persuadir os demais, sendo
hábil, jeitoso, astuto na argumentação
sofistas apresentam-se como: em favor de sua opinião e contra o
adversário. (CHAUÍ, 2002, p. 162)
[...] o primeiro grupo de pessoas a
realizar uma verdadeira revolução nas Destaca-se, assim, a atividade
preocupações filosóficas da filosofia sofística como a utilização das técnicas
antiga, deslocando suas análises da
physis e da busca por uma arché para de retórica e da oratória (a arte do bem
se preocupar essencialmente com a
problemática sobre quem é o homem, falar) discurso enquanto meio/modo de
concentrando suas análises nos temas convencimento (persuasão) carregado de
da ética, da política, da retórica e da
educação. (BRAGA JÚNIOR; LOPES, páthos (emoção) que visa capturar o ouvinte
2015, p. 126) em busca de poder político, operando, para
Nota-se, com a citação acima, uma primeira tanto, por meio do argumento sedutor
concepção positiva acerca do sofista, pois, centrado provido pelo manejo certeiro do discurso
nas modificações proporcionadas pelo surgimento breve e claro, pois, conforme dito pelo
da polis, dos debates públicos e, sobretudo, do sofista Górgias de Leontinos (484 a.C. – 376
fazer político, os sofistas direcionam o logos rumo a.C.): “Um discurso é um grande senhor
à compreensão de atividades humanas que, que, por meio do menor e mais inaparente
aparentemente, distanciam-se da natureza e corpo, leva à cabo as obras mais divinas”
fundamentam aspectos socioculturais. Contudo, (GÓRGIAS, 2009, p. 03).
posteriormente, com as críticas empreendidas por
Sócrates e por Platão, a palavra e o posicionamento
do sofista irão se caracterizar, sobretudo, pela
defesa do relativismo ao afirmar que não existem
verdades absolutas, diferentemente do filósofo
cuja preocupação principal é, justamente, a busca
pela verdade. Frente a isso, destacam-se três
posicionamentos centrais da atividade sofística:
a) O relativismo: a verdade é relativa.
b) O ceticismo: não existe verdade absoluta,
mas, caso ela exista, o homem não pode conhecê-
la.

35
SCANEIE O CÓDIGO 3.1.1 GÓRGIAS DE LEONTINOS
E ACESSE O LINK

BUSQUE POR MAIS


O sofista Górgias de Leontinos,
Os sofistas destacam-se pelo entendi-
considerado o “pai” da retórica, foi responsável
mento da verdade como algo relativo e pelo aprimoramento das técnicas do falar bem
não, como pensado pela filosofia, como e, consequentemente, do desenvolvimento
algo essencial. Com efeito, podemos da palavra enquanto instrumento efetivo
compreender os sofistas como professo-
da persuasão. Fluente nas artes do falar
res itinerantes, uma vez que eles viaja-
com brevidade e com clareza, o discurso de
vam de cidade em cidade em busca de alunos para o ensi-
namento das artes da persuasão e do manejo do discurso. Górgias foi capaz de persuadir os legisladores
de Atenas e de figurá-lo como um dos mais
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=WBDTTH99UOU importantes sofistas de seu tempo.
O pensamento de Górgias, em sua
Ademais, destaca-se, ainda, que o discurso potência retórica, é capaz de fazer frente à
sofista se funda por meio da defesa de opiniões tradição filosófica pré-socrática, sobretudo, às
(dóxa) divergentes, direcionando a tarefa da determinações essencialistas do ser conforme
persuasão rumo àquele que mais o pagar, ou, como pensado por Parmênides de Eleia. Com efeito,
dito por Chauí (2002), os sofistas “não se interessam segundo Chauí (2002), no desenvolvimento
pela verdade (alétheia), que é sempre igual a si reflexivo-discursivo de Górgias:
mesma e a mesma para todos. Sendo professores
[...] pela primeira vez, com clareza,
de opiniões, são mentirosos e charlatães” (CHAUÍ, é quebrada a identidade entre ser-
2002, p. 163 – grifos nossos), são considerados os pensar-dizer, contida na palavra
logos, e é estabelecida a diferença, a
falsos-filósofos e, diferem-se, sobretudo, no que diz separação e autonomia entre realidade,
pensamento e linguagem. (...) ao
respeito aos direcionamentos conferidos à palavra afirmar a diferença e a separação entre
racional por Sócrates e Platão, como veremos realidade, pensamento e linguagem,
Górgias simplesmente quebrou o antigo
adiante. conceito da verdade como alétheia e
forçará a filosofia a redefinir o conceito
de verdade, a reformular as relações
entre ser, pensar e dizer e, portanto, a
própria ideia de conhecimento. (CHAUÍ,
2002, p. 175)

Ou seja, para além da utilização da


palavra como meio/modo de convencimento
e persuasão, o discurso de Górgias retira a
primazia do logos como condutor reflexivo
das determinações do conhecimento e da
verdade ao questionar a identidade entre ser
e pensamento e, finalmente, derrubar a ideia
proposta por Parmênides de uma verdade/
essência absoluta residente no ser. Deste modo,
em seu ímpeto discursivo/reflexivo, Górgias
afirma a impossibilidade de conhecimento do
Figura 19 - Anfiteatro Grego
Fonte: Arquivo do autor ser ao afirmar, contrariamente a Parmênides,
que mesmo que algo fosse, não poderia
ser conhecido pelo pensamento e que, em
consequência disso, toda a verdade é ilusória.
Assim, ao afirmar o conceito de verdade
(alétheia) como ilusório, o sofista supera a
antiga distinção entre discurso verdadeiro

36
e opinião (dóxa) e, finalmente, amplia as
possibilidades de alcance das técnicas da
retórica e, principalmente, assenta a palavra
no reino da relatividade, isto é, como não há
nenhuma verdade absoluta, a palavra tem
de se preocupar, tão somente, com as suas
capacidades argumentativas de persuasão e
de defesa da opinião. Frente a isso, os filósofos
Sócrates e Platão irá se declarar como um
inimigo dos sofistas na tentativa de restaurar
a primazia do logos racional na tentativa de
fornecer as bases para a condução de uma
reflexão em busca da verdade ideal das
coisas distanciando-se, portanto, das simples
opiniões provindas do senso comum.

Figura 20 - Helena e Páris (1788) – Jacques-Louis David


VAMOS PENSAR? Fonte: (DAVID, 1788)

O filósofo Platão possui um diálogo intitulado Górgias. No discurso O elogio de Helena, Górgias
No Górgias, Platão adverte que a retórica nada mais é
argumenta em favor de Helena com vistas
do que um conhecimento falso (empírico) que não se
destina à verdade das coisas. Ademais, é nesse diálogo
a não culpá-la pelo ocorrido em Tróia – como
que Platão, com as palavras de Sócrates, realiza uma costumeiramente era feito –, pois, segundo o
defesa da filosofia e lança importantes considerações sofista, o seu rapto não se deu devido a um ardil
de fundamentação moral e política. planejado por ela em traição ao seu marido
(Menelau – o rei de Esparta) em conluio com
Pensado ainda com Górgias, é Páris (o príncipe troiano que era seu amante),
necessário ressalta a proeminência do caráter mas sim, por causas incontornáveis. Diante
persuasivo de sua palavra com o exemplo do disso, logo de início, o sofista deixa claro o
discurso O elogio de Helena, proferido por propósito de seu discurso, a saber:
Górgias sobre Helena de Tróia e as ocorrências
[...] Refutar os que repreendem Helena,
que conduziram os gregos à guerra em Tróia. mulher acerca da qual veio a ser
uníssono e unânime tanto a crença dos
que deram ouvidos aos poetas, quanto
a fama do nome que, de desgraças,
tornou-se memória. Eu, porém,
pretendo – dando ao discurso alguma
lógica – por um lado, fazer cessar a
acusação sobre a que foi mal falada;
por outro lado, demonstrar que os que
a repreendem estão mentindo e expor
a verdade [ou] fazer cessar a ignorância.
(GÓRGIAS, 2009, p. 01)

Assim, dissipando a injustiça e retirando


de Helena a culpa pela guerra, Górgias define
quatro causas que ocasionaram a sua fuga
(ou o seu rapto) de Esparta e, posteriormente,
chegada à Tróia: 1) o amor por Páris; 2) a
persuasão discursiva que a convence a fugir; 3)
uma força maior que a leva, contra sua vontade,
a Tróia; e, 4) a influência dos deuses que são mais

37
fortes que os humanos. Com efeito, o sofista
apresenta causas incontornáveis às quais o puro
espírito de Helena não era suficientemente forte
para oferecer resistência, procurando, portanto,
convencer os ouvintes da inocência de Helena.

FIQUE ATENTO

Protágoras de Abdera (490 a.C. - 415 a.C.)


O sofista Protágoras destaca-se, sobre-
tudo, pela afirmação da relatividade do
ser em detrimento dos pensadores que
afirmavam a sua imutabilidade.
A expressão “O homem é a medida de
todas as coisas, das coisas que são,
enquanto são, das coisas que não são, enquanto não
são” representa o subjetivismo individualista e relativista
do homem. Com efeito, tal postura relativista determina o
sujeito, em suas dimensões sensíveis, como o critério fun-
damental da realidade e não uma physis imutável, como
pensado anteriormente.

38
FIXANDO O CONTEÚDO

1 - A palavra racional instaura na Grécia Clássica um novo direcionamento político. Frente a


tal modificação, como podemos definir o novo modo de ordenação político grego

a) como demarcado pela herança mitológica e, consequentemente, determinado pela


palavra do sábio.
b) como demarcado pela palavra da coletividade, isto é, as decisões tomadas na polis são
frutos da palavra democrática.
c) como demarcado pela postura ritualística/divina advinda do poeta.
d) como demarcado pela palavra da coletividade centrada no poder atemporal do mito.
e) como demarcado pela palavra racional de uso exclusivo do sofista na busca pela verdade
absoluta.

2 - A Ágora grega é definida como

a) um espaço privado de tomada de decisões individuais.


b) um espaço determinado pela presença do sábio.
c) um espaço ritualístico de culto aos mitos.
d) um espaço delimitado pela investigação da physis.
e) um espaço público da tomada de decisões coletivas.

3 - (UEG- GO) – Adaptada

No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse mesmo período, os teatros
estavam lotados, afinal, as tragédias chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto
importante da civilização grega da época eram os discursos proferidos na ágora. Para
obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter argumentos
sólidos e persuasivos. Nesse caso, alguns cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade
de discursar. Isso favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam a arte
da oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e ensinavam sua arte em troca de
pagamento. Eles foram duramente criticados por Sócrates e são conhecidos como

a) Epicuristas.
b) Maniqueístas.
c) Sofistas.
d) Hedonistas.
e) Comunistas.

4 - (UESPI) – Adaptada

A construção da história requereu lutas contra as dificuldades naturais e grande capacidade


de invenção. Muitas reflexões filosóficas foram importantes para pensar a condição da

39
cultura. Os sofistas contribuíram com essas reflexões, quando

a) defenderam a relatividade, mostrando as impossibilidades para se chegar à verdade


universal.
b) criticaram as ideias de Aristóteles, embora aceitassem suas reflexões sobre os
fundamentos da verdade.
c) ressaltaram o valor da república democrática através do debate coletivo.
d) ampliaram as dimensões da filosofia platônica, afirmando a força do idealismo estético
para a arte.
e) seguiram os ensinamentos do cristianismo, fundando uma religião sem rituais e
hierarquias.

5 - (SEE/MG) 2018 - Adaptada.Leia o texto a seguir:

Os Sofistas surgem na Grécia antiga, século V a. C. na passagem da oligarquia para a


democracia. São os mestres de retórica e oratória, muitas vezes mestres itinerantes,
que percorrem as cidades-estados fornecendo seus ensinamentos, sua técnica, suas
habilidades aos cidadãos em geral. Eram relativistas. Sócrates também ensinava nas
praças públicas através de perguntas e respostas que despertavam a verdade que está no
interior de cada um. Sócrates afirmava que a opinião (doxa) é uma expressão individual,
já o conhecimento (episteme) é universal. Desta forma, os sofistas ensinavam a retórica
para convencer aos outros que sua opinião é a melhor e Sócrates ensinava a dialética, que
através de questionamentos (só sei que nada sei) levava ao conhecimento verdadeiro.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004, p.
42-48. Adaptado.

De acordo com o texto acima, Sócrates não era um sofista, pois ele

a) era cético, seu lema era “só sei que nada sei”, enquanto os sofistas defendiam uma
verdade.
b) ensinava nas praças públicas apenas de Atenas, enquanto os sofistas eram itinerantes.
c) buscava a verdade da episteme, enquanto os sofistas despertavam a verdade dentro de
cada um.
d) defendia a existência de uma verdade universal, enquanto os sofistas eram relativistas.
e) persuadia através da retórica de que estava certo, enquanto os sofistas eram dialéticos.

6 - SEDUC-PA (2018) – Adaptada

“Na Grécia Antiga, havia ‘professores’ itinerantes, os sofistas, que percorriam as cidades
ensinando a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus
ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o que temos desses professores
são fragmentos e citações e, por isso, não podemos saber profundamente sobre o que eles
pensavam. Aquilo que temos de mais importante a respeito deles foi aquilo que disseram
Platão e Aristóteles. ”
(Disponível em: mundoeducacao.bol.uol.com.br.)

Considerando o trecho anterior, analise as afirmativas a seguir.

40
I. Seu saber era aparente e não efetivo, pois não possuía compromisso com a verdade, sim
com o lucro.
II. Ensinavam a arte de argumentar e persuadir, indispensável para exercer a cidadania
numa democracia direta.
III. Contribuíram para o ensino. Formaram um currículo de estudos que foi resgatado no
período medieval.
IV. Há periculosidade do pensamento no ponto de vista moral, bem como inconsistência
teórica.
V. Os sofistas representam um fenômeno imprescindível. É impensável a filosofia sem eles.

A respeito do pensamento direto dos principais socráticos sobre os sofistas estão corretas
apenas as afirmativas:

a) I e IV.
b) I e V.
c) II e III.
d) III e IV.
e) IV e V.

7 - De acordo com o sofista Górgias de Leontinos, o ser

a) é produto conhecível pelo pensamento.


b) é uma ilusão dos sentidos.
c) pode ser amplamente conhecido pelo logos.
d) não pode ser conhecido pelo pensamento.
e) é um produto do discurso e do pensar.

8 - A máxima “o homem é a medida de todas as coisas”, proferida pelo sofista Protágoras


de Abdera, afirma

a) o caráter relativista do homem.


b) o caráter essencialista do homem.
c) o caráter idealista do homem.
d) o caráter dialético do homem.
e) o caráter racionalista do homem.

41
UNIDADE 4
A FILOSOFIA DE PLATÃO

42
Com a entrada de Sócrates reflexão. O método proposto por Sócrates é a
(469 a.C. – 399 a.C.) no cenário da polis maiêutica, pensada como um procedimento
4.1 SÓCRATES

grega, a palavra racional desloca-se, de questionamento através do diálogo que


sobretudo, para o entendimento do dirige questões ao outro como meio de
homem, do conhecimento e da ética retirar dele as respostas corretas ou, como
visando – diferentemente do sofista que ressalta Ghiraldelli Jr. (2003), trata-se de um
compreende a palavra do logos como método de parir a verdade através do jogo
um instrumento de persuasão e de de pergunta e resposta, assim, “Sócrates
relativismo – encontrar o conhecimento é aquele que faz vir à luz a verdade dos
verdadeiro (a episteme) das coisas. conceitos” (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003,
A perspectiva socrática é a da p. 15) colocando em contradição as falsas
constante busca pela sabedoria a verdades de seu interlocutor, uma vez que
partir da emblemática certeza inicial de elas são advindas da opinião e do senso
que a única coisa certa é a ignorância, comum.
formalizada pela seguinte expressão:
“Só sei que nada sei”. Deste modo,
Sócrates salienta a necessidade de FIQUE ATENTO

superação das certezas pré-concebidas


A maiêutica, de Sócrates.
para, finalmente, adentrar na busca pelo Ghiraldelli Jr (2003) apresenta o método socrático
conhecimento verdadeiro. Ademais, de obtenção da verdade – a maiêutica – do seguinte
conforme ressaltado por Chauí (2002), a modo:
Sócrates pergunta, por exemplo, o que é uma determinada
missão do filósofo Sócrates consiste em: qualidade moral – a virtude, a justiça etc. Incita o seu interlo-
cutor a dar uma definição da qualidade moral em questão.
[...] Busca incessante da sabedoria e da Em geral, lhe era fornecida uma série de exemplos. Ou seja,
o interlocutor mais dizia do corajoso ou do justo do que da
verdade e o reconhecimento incessante coragem ou da justiça. Sócrates, então, rejeita os exemplos,
de que, a cada conhecimento obtido, explicando que não são definições, mas casos particulares.
uma nova ignorância se abre diante de Quando o interlocutor consegue se aproximar de algo que
nós. Isso não significa que a verdade se aproxima de uma definição, Sócrates aplica-lhe um tes-
não exista, e sim que deve ser sempre te mostrando que tal definição contrasta com uma série de
outros enunciados que o próprio interlocutor se referiu e que
procurada e que sempre será maior do lhe são caros. Ou se fica com os primeiros ou se fica com a
que nós. (CHAUÍ, 2002, p. 187) segunda. Em qual, de fato, o interlocutor acredita? Qual se
pode sustentar? (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003, p. 15-16)
Ao buscar incessantemente a Ou seja, a tratar-se de demonstrar que, ironicamente,
verdade, a filosofia socrática coloca-se a contradição existe no interior do discurso do interlo-
como oposta à postura dos sofistas, pois, cutor, evidenciando, portanto, que a busca pelo saber
para Sócrates há uma verdade absoluta não se fundamenta através das certezas exemplificá-
veis, mas, trata-se de uma constante busca pela ver-
a ser encontrada e seu desvelamento se
dade motivada, justamente, pela interrogação das
dá, sobretudo, pela superação racional certezas anteriores. Assim, acentua-se, novamente,
do caráter relativista e opinativo do a ignorância (“Só sei que nada sei”) como ponto de
saber, conforme proposto pelos sofistas. partida para o encontro do conhecimento verdadeiro.

Diante disso, instaura-se uma oposição


fundamental entre a opinião (dóxa) e A maiêutica socrática depara-se com
o conhecimento verdadeiro (episteme) indagações de cunho filosófico, tais como,
capaz, finalmente, de propor um discussões sobre o bom e o belo, a ética e a
caminho para o conhecimento de si justiça, a política e o sujeito, a filosofia e os
mesmo. deuses, entre outras que, de fato, interferem no
Com efeito, tal oposição dá-se dia a dia da polis. Justamente, por colocar em
na distinção entre os produtos de um questão as antigas certezas e, principalmente,
falso-saber advindo do senso comum por demonstrar as contradições existentes
e o conhecimento introduzido por nos discursos dos legisladores atenienses
de uma racionalidade metódica e, educados pelos sofistas, Sócrates é acusado de
principalmente, em constante estado de corromper a juventude de Atenas, de defender

43
falas doutrinas e, consequentemente, de
ofender aos deuses. Assim, no diálogo
platônico, Apologia de Sócrates, tem-se a
condenação de Sócrates.
Julgado em um tribunal formado
pelos seus próprios acusadores, Sócrates
é condenado e recusa-se a apelar para
argumentos emocionais desprovidos de
estrutura lógica e, muito menos, a pedir
por misericórdia, pelo contrário, o filósofo
continua a apontar as contradições inerentes
aos discursos acusadores e a demonstrar a
falta de veracidade das acusações. Contudo,
seus argumentos não são aceitos pelos
seus acusadores, nem Sócrates aceita o
cumprimento de penas alternativas caso
renegue todos os ensinamentos que havia
transmitido anteriormente, portanto, o
pensador é condenado à morte. Enfim, o
filósofo, com as próprias mãos, bebe o cálice
de cicuta e morre, sem, contudo, abdicar-se de
sua busca pelo conhecimento verdadeiro.

Figura 22 - A morte de Sócrates (1787) - Jacques-Louis David


Fonte: The Met Museum

44
Platão (428 a.C.-347 a.C.), discípulo como seu protagonista, o platonismo
de Sócrates, coloca-se como um dos empreende uma busca pelo conhecimento
mais importantes pensadores da história verdadeiro, fundamentando o idealismo
4.2 PLATÃO

da humanidade. Aprofundando os como vertente filosófica central. Assim,


ensinamentos de seu mestre, o pensamento os “diálogos, com seu caráter auto
platônico busca conhecer a verdade através referencial, constituem a inauguração de
da razão. métodos ou processos de investigação.
Dando início ao período antropológico Os interlocutores movimentam-se dentro
da filosofia, o pensamento de Platão debruça- de pressupostos teóricos” (PAVIANI, 2008,
se sobre o humano procurando conhecê-lo, p. 31). Com efeito, determina-se que,
sobretudo, segundo suas atuações morais em seu percurso filosófico, Platão foi o
(éticas; justas; livres), políticas e metafísicas, responsável por documentar as palavras,
deste modo, tal como Sócrates, o platonismo, métodos investigativos e pressupostos
ao adotar a palavra racional como meio/modo teóricos de Sócrates transformando-os
de alcance do conhecimento verdadeiro, tem nos conhecidos diálogos existentes e
os sofistas como principais inimigos. estudados até os dias de hoje.
Ademais, é com Platão que as
Academias de filosofia têm o seu início, DIÁLOGO TEMÁTICA
demarcando o modelo de formação
República Idealismo/Dualismo/
educacional (Paideia) direcionado ao corpo Polis/ Paidéia/ Conheci-
e mente, conforme desenvolvido por Platão. mento

Não obstante, é com o pensamento de Platão Apologia de Sócrates Acusação/morte de


Sócrates
que a filosofia, de fato, uma investigação
Láques Coragem
sistemática acerca de todos os âmbitos de
Hípias menor Verdade/Mentira/Justiça
atuação dos seres humanos, investigando
de concepções ontológicas/metafísicas até Górgias Retórica

determinações práticas da polis, tal como o Fédon Alma/Metafísica


caminho político/formativos dos cidadãos. O banquete Bem/Amor
Crátilo Linguagem/Conheci-
mento

Quadro 3 - Os principais diálogos de Platão


Fonte: Adaptado de Platão

Figura 23 - Estátua de Platão (Universidade de Atenas/Grécia)


Fonte: Arquivo do autor

É importante ressaltarmos que o


pensamento de Platão se constitui por meio
dos diálogos socráticos, isto é, adotando
uma forma literária e destinando Sócrates

45
racionalidade como procedimentos referentes
4.2.1 O IDEALISMO DE PLATÃO às disciplinas intrinsecamente racionais (de
A centralidade do pensamento de puro pensamento), tais como a matemática e,
Platão repousa na teoria do idealismo como principalmente, a filosofia, como demonstrados
mote central para a teoria do conhecimento na alegoria da linha:
(epistemologia) na filosofia platônica. Assim,
tendo como base a busca pelo conhecimento
verdadeiro, o pensador elaborou uma teoria
fundamentada no dualismo, isto é, na divisão
do mundo em duas categorias: o mundo
sensível e o mundo das ideias.
No idealismo, portanto, Platão SCANEIE O CÓDIGO
E ACESSE O LINK
privilegia o mundo das ideias em BUSQUE POR MAIS

detrimento do mundo sensível como o


Em A República, Platão fundamenta a teoria do ide-
local no qual o conhecimento das essências alismo ilustrando o dualismo entre mundo sensível e
e, consequentemente, da verdade das mundo das ideias com a alegoria da caverna.
coisas. Deste modo, no mundo das ideias Platão inicia a alegoria da Caverna com a descrição de sujeitos
que se encontram acorrentados desde a infância, sem a pos-
estariam contidas as ideias (eidos), as sibilidade de nenhum tipo de movimentação, dentro de uma
profunda caverna iluminada pela luz de uma pequena foguei-
essências imutáveis, os conceitos fixos e o ra. Diante de seus olhos, estende-se uma parede na qual são
refletidas as sombras dos objetos que passam atrás deles. (...)
conhecimento verdadeiro (episteme), ao Um dos prisioneiros consegue escapar da condição de aprisio-
namento e, após ultrapassar as dificuldades do caminho pou-
passo que no mundo sensível encontrar-se- co iluminado, dirige-se à saída da caverna. Ali, ele consegue
avistar a luz do Sol e, pouco a pouco, sua visão acostuma-se
ia, tão somente, as coisas vivas e visíveis, a com a luminosidade solar, tornando-o capaz de distinguir as
mudança e o conhecimento não-verdadeiro. sobras e os objetos verdadeiros. (...) A partir desse momento, ele
compreende que estivera preso durante toda a sua existência
Ao privilegiar o mundo das ideias e aquilo que lhe apresentava à visão como verdade era, ape-
nas, a sombra dos objetos verdadeiros, levando-o a conclusão
como local da verdade, acessível apenas pela de que, durante toda a sua vida, a realidade que se apresen-
tava não era senão uma falsidade ou, em termos platônicos,
racionalidade, Platão dá início a tradição do uma mera cópia da verdade. (TEODORO, 2020, p. 11)

racionalismo que irá determinar a condenação LINK: https://www.youtube.com/watch?v=tswloAV-BH0

do mundo sensível e, consequentemente,


dos sentidos, das paixões e dos desejos por
considerá-los como produtores de um falso
4.2.2 A REPÚBLICA DE PLATÃO
conhecimento. Nesse sentido, enquanto a
racionalidade, motor do mundo das ideias,
A República é o mais famoso diálogo de
tem como objetos do conhecimento as
Platão. Dividida em dez capítulos, chamados
formas e as essências verdadeiras das coisas,
de Livros, A República de Platão discute os
o mundo sensível, determinado, sobretudo,
principais aspectos do idealismo platônico na
pelos sentidos, tem a materialidade, as
tentativa de formulação de uma cidade ideal
sombras, os simulacros e as imagens como
e, consequentemente, de um modelo ideal de
objetos de um falso conhecimento.
política e governança.
Com efeito, o idealismo platônico
Ressalta-se, logo de início, que o
fomenta a concepção de uma outra
pensamento platônico se coloca contrário
realidade, ou seja, de uma realidade
à democracia, pois, considera a democracia
metafísica (transcendental/idealista) para
como um modelo imperfeito e corrompido
além da materialidade física da realidade
de governo por guiar-se pelos desejos e pelas
compreendida pelos sentidos e que,
paixões dos governantes e, principalmente,
consequentemente, só pode ser alcançada
devido à liberdade desmedida dada ao povo
pela ação do pensamento racional. E, deste
como participante das decisões políticas. Nesse
modo, enquanto vinculada a razão, o mundo
sentido, Platão pensa a democracia como um
das ideias de Platão, afirma os processos de

46
modelo degradado, tomado pelas paixões, da racionalidade em detrimento dos
pelos desejos e pela pluralidade de aspectos advindos da sensibilidade e,
opiniões (dóxa) e, para tanto, distanciado consequentemente, na busca pela verdade
da racionalidade. essencial das coisas. Ademais, Platão, tendo
Sócrates como personagem principal,
empreende uma crítica aos posicionamentos
políticos existentes na polis, procurando, para
tanto, demonstrar as contradições existentes
nos discursos relativistas proferidos pelos
Sofistas que, ao fim e ao cabo, determinavam
os rumos políticos da cidade-estado.
É, justamente, na República que Platão
fornece as principais alegorias (ilustrações)
que fundamentam a sua filosofia procurando,
sobretudo, exemplificar a soberania das ideias
Figura 24 - Platão apontado para o mundo ideal (Trecho sobre a sensibilidade. Deste modo, podemos
da pintura “A escola de Atenas” (1509 – 1511) – Rafael San-
zio)
ressaltar, principalmente, a alegoria da
Fonte: Arquivo do autor Caverna, apresentada no Livro VII, como ponto
central da fundamentação da filosofia idealista,
no qual, a superação do conhecimento-falso
VAMOS PENSAR? proveniente dos sentidos, se dá por meio
da elevação racional do sujeito em busca da
De acordo com Quadros (2016), “A visão de Platão so-
verdade, ou, em outros termos, em busca do
bre a democracia é restrita porque se concentra na
necessidade de se evitar a degradação da unidade conhecimento verdadeiro (episteme).
do poder do governante” (QUADROS, 2016 p. 27), ou- Com efeito, no diálogo platônico, a
tro ponto crucial do posicionamento platônico sobre busca pela verdade se desdobra por meio do
a democracia é que, para o filósofo, “a democracia é
método dialético, isto é, na oposição entre
tida como um governo em que o povo ocupa o poder
e dispõe uma liberdade desenfreada, sem limites e discursos contrários visando à contemplação
sem responsabilidade para prestar contas à socie- do conhecimento verdadeiro alcançado
dade” (QUADROS, 2016, p. 27). Contudo, é importante racionalmente. Tal dialética, consiste na
ressaltarmos que a democracia, como pensada por
superação do caráter relativo/opinativo do
Platão, passa por diversas transformações ao longo
da história demonstrando-se como o melhor mo-
discurso por meio da reflexão racional e
delo de governança, principalmente, por propiciar sistemática que, não obstante, conduz o sujeito
ao povo, em sua ampla maioria (sem distinções de à contemplação das ideias.
gênero, raça ou classe social) a participação nas de- Podemos ressaltar ainda que o
cisões político-sociais. Logo, a crítica platônica à de-
interesse fundamental de Platão, conforme
mocracia não resiste as concepções futuras de um
estado democrático, sobretudo, quando comparada dito na República, reside na construção de
ao pensamento de Jean-Jacques Rousseau sobre o um direcionamento educativo centrado na
contrato social e a possibilidade de fundamentação soberania da racionalidade. Assim, a educação
da sociedade civil
platônica possuiu um caráter formativo geral,
O diálogo platônico procura configurando-se, portanto, uma Paideia, isto
fundamentar o que seriam a essência é, um processo educativo que procura formar
da bondade, da ética, da legalidade, o sujeito integralmente no que diz respeito a
da justiça e da formação tendo em uma educação voltada para o corpo e para a
vista o direcionamento de cidadãos alma (mente).
racionalmente conduzidos. Em outros A Paideia de Platão apresentada,
termos, a cidade ideal, para Platão, sobretudo, no Livro III, da República, relaciona-
fundamentar-se-ia na afirmação se diretamente com a suas teorias sobre a

47
política e sobre as almas. De acordo com o uma nobre mentira, composta do seguinte
filósofo, a alma seria dividida em três partes: conteúdo: em cada uma das almas descritas
a alma racional; a alma irascível (emotiva/ acima estaria contido um elemento mineral
afetiva) e a alma apetitiva (desejosa/ imutável que conferiria às classes o seu local
objetal), sendo que cada uma dessas social estratificado, por exemplo, na alma
almas corresponderia a uma classe social racional dos governantes estaria contido o
habitante da polis e, consequentemente, a ouro; na alma irascível dos guardiões estaria
cada uma delas corresponderia um modelo contida a prata e, na alma apetitiva dos
educacional/formativo ideal. Nesse sentido, trabalhadores estaria contido o bronze.
a alma racional corresponderia à educação
filosófica direcionada aos governantes que,
Platão, denominará como Reis Filósofos; já a
alma irascível seria de posse dos guerreiros
e, portanto, a educação/formação seria
destinada ao controle das emoções e a elevação
da coragem para a defesa militar da polis;
por sua vez, a alma apetitiva corresponderia
aos trabalhadores (comerciantes; Figura 25 - O banquete de Platão (1873) - Anselm Feuerbach
Fonte: (FEUERBACH, 1829–1880)
lavradores; artesões e camponeses) e o seu
Finalmente, na República e,
modelo educacional seria fundamentado,
consequentemente, no pensamento
prioritariamente, no controle racional dos
platônico, a busca pela verdade compreende
desejos e na consequente manutenção da
a determinação de uma esfera idealista
polis.
alcançada pela racionalidade, compreendida
CLASSE ALMA FUNÇÃO VIRTUDE como vetor de busca do conhecimento
verdadeiro (episteme), em oposição à
Governante Racional Governar Sabedoria
(Rei Filósofo) realidade sensível que, durante grande parte
Guerreiros Irascível Defesa Coragem da história da filosofia, será condenada como
vetor de um falso conhecimento.
Trabalhadores Apetitiva Manutenção Equilíbrio

Quadro 4 - As classes sociais e as almas


Fonte: Elaborado pelo autor

Com efeito, ilumina-se no pensamento


platônico a organização política ideal
centrada na liderança do Rei Filósofo, cuja
educação é estritamente voltada à elevação
racional e, consequente, conhecimento do
mundo das ideias. Diante disso, no Livro III,
a Paideia de Platão é finalizada com uma
alegoria que ilustra a densidade do controle
político idealista preconizado na cidade ideal
de Platão, a saber, a alegoria (ou fábula) na
nobre mentira.
Em termos gerais, Sócrates revela a
Glauco, o seu interlocutor, que visando a
manutenção da ordem e a organização em
classes sociais distintas, na cidade ideal é
permitido aos governantes a utilização de

48
FIXANDO O CONTEÚDO

1 - ENEM 2017 – (Adaptado)

Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e


embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum:
os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de
que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se
censurarem. É sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua
orientação.
BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na

a) Contemplação da tradição mítica.


b) Relativização do saber verdadeiro.
c) Sustentação dos métodos dialético e maiêutica.
d) Investigação dos fundamentos da natureza.
e) Valorização da argumentação retórica.

2 - UNCISAL – (Adaptada)

Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e fazer
perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o
diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua
própria ignorância. Em virtude de sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte
sob a acusação de corromper a juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar
certos valores religiosos.

Considerando essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela qual
seu pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que sua filosofia

a) procurava transmitir às pessoas conhecimentos de natureza mitológica.


b) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente redigidos pelo filósofo Platão.
c) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade.
d) transmitia conhecimentos de natureza científica.
e) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita entre a população
ateniense.

3 - UNICAMP - Adaptada

A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto
de partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase
foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar

49
artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos
demais por reconhecer a sua própria ignorância.

O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois

a) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece


verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos.
b) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos,
preocupando-se apenas com causas abstratas.
c) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a
função da Filosofia era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos.
d) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir
conhecimentos.
e) é um estabelecimento da certeza como condição para a reflexão filosófica.

4 - O pensamento de Platão inaugura um período histórico da filosofia determinado como


antropológico que tem como importância central.

a) A reflexão sobre os mitos e demais composições ritualísticas.


b) A reflexão sobre a origem do cosmos por meio da análise dos poderes naturais geradores.
c) A reflexão sobre o humano segundo suas atuações na polis.
d) A reflexão sobre a physis como princípio gerador do cosmos.
e) A reflexão sobre a política em sentido amplo.

5 - UFU – (Adaptada)

No pórtico da Academia de Platão, havia a seguinte frase: “não entre quem não souber
geometria”. Essa frase reflete sua concepção de conhecimento: quanto menos dependemos
da realidade empírica, mais puro e verdadeiro é o conhecimento tal como vemos descrito
em sua Alegoria da Caverna.
“A ideia de círculo, por exemplo, preexiste a toda a realização imperfeita do círculo na areia
ou na tábula recoberta de cera. Se traço um círculo na areia, a ideia que guia a minha mão
é a do círculo perfeito. Isso não impede que essa ideia também esteja presente no círculo
imperfeito que eu tracei. É assim que aparece a ideia ou a forma. ”
JEANNIÈRE, Abel. Platão. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. 170 p.

a) As ideias são as verdadeiras causas e princípio de identificação dos seres; o “mundo das
ideias” é onde se obtêm os conhecimentos verdadeiros.
b) Quando traçamos um círculo imperfeito, isto demonstra que as ideias do “mundo
inteligível” não são perfeitas, tal qual o “mundo sensível”.
c) A Alegoria da Caverna demonstra, claramente, que o verdadeiro conhecimento não
deriva do “mundo inteligível”, mas do “mundo sensível”.
d) Todo conhecimento verdadeiro começa pela percepção, pois somente pelos sentidos
podemos conhecer as coisas tais quais são.
e) Os sentidos, conforme demonstrado na Alegoria da Caverna, são os vetores fundamentais
para a obtenção do conhecimento verdadeiro.

6 - UEPA - (Adaptada)Leia o texto para responder à questão.

50
Platão:
A massa popular é assimilável por natureza a um animal escravo de suas paixões e de
seus interesses passageiros, sensível à lisonja, inconstante em seus amores e seus ódios;
confiar-lhe o poder é aceitar a tirania de um ser incapaz da menor reflexão e do menor
rigor. Quanto às pretensas discussões na Assembleia, são apenas disputas contrapondo
opiniões subjetivas, inconsistentes, cujas contradições e lacunas traduzem bastante bem
o seu caráter insuficiente.
Citado por: CHATELET, F. História das Ideias Políticas. Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p. 17

Os argumentos de Platão, filósofo grego da antiguidade, evidenciam uma forte crítica à:

a) Monarquia.
b) Democracia.
c) República.
d) Plutocracia.
e) Oligarquia.

7 - A teoria das almas de Platão fundamenta-se como necessária para a organização


político-social da cidade ideal. Diante disso, organize as colunas abaixo evidenciando a
disposição correta.

Coluna 1:

1. Alma Racional.
2. Alma Irascível.
3. Alma Apetitiva.

Coluna 2:

( ) Guerreiros.
( ) Governantes.
( ) Trabalhadores.

a) 2,3,1.
b) 1,3,2.
c) 2,1,3.
d) 3,2,1.
e) 1,2,3.

8 - ENEM – (Adaptado)

Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento
é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre
objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento
do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012
(adaptado).

51
O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina
das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo como texto, como Platão se situa diante
dessa relação?

a) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão.


b) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis.
c) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não.
d) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles. Estabelecendo um
abismo intransponível entre as duas.
e) Discordando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não.

52
UNIDADE 5
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES

53
O filósofo Aristóteles (384 a. se à investigação da totalidade do real
C. – 322 a.C.), apresenta-se como um englobando-o em um sistema conhecível
5.1 ARISTÓTELES

dos mais importantes pensadores de através do método investigativo filosófico-


todos os tempos. ‘Mestre daqueles sistemático. Assim, o pensamento aristotélico
que sabem’, o pensamento aristotélico interroga-se sobre as questões mais
determina-se como a primeira grande fundamentais acerca da natureza indo até
sistematização do saber filosófico. aquelas de fundamentação metafísica, tais
Nascido na cidade fronteiriça como a busca pela origem/essência dos seres.
de Estágira, próximo à Macedônia, Ressalta-se ainda que Aristóteles foi o fundador,
Aristóteles, aos dezoito anos, dirigiu- em oposição a Academia de Platão, da Escola
se a cidade de Atenas com o propósito Peripatética como um modelo de educação
de tornar-se discípulo de Platão em filosófica baseado na prática de ensino por meio
matéria de filosofia. Não obstante, da caminhada, isto é, do passeio (peripatein)
após os ensinamentos do platonismo, pelos jardins onde as aulas eram ministradas.
Aristóteles fundamentou o seu sistema
filosófico divergindo de seu mestre em
SCANEIE O CÓDIGO
questões centrais para a apresentação e E ACESSE O LINK
o direcionamento da filosofia. BUSQUE POR MAIS

Escolas de Filosofia: Os Peripatéticos


Peripatéticos era o nome dado aos alu-
nos do Liceu aristotélico. No método
do peripatético, o professor caminha à
frente, como uma espécie de guia, ensi-
nando dos caminhos dos saberes para

os alunos que, posteriormente, serão os responsáveis


por traçarem os seus próprios caminhos.
O primeiro episódio da série catalã Merlí, produzida
pela Netflix, aborda, justamente, a concepção de uma
filosofia peripatética ao instigar os alunos a caminha-
rem e a conhecerem a realidade material da escola
através de questionamentos e descobrimentos.
Figura 26 - Busto de Aristóteles
Fonte: (RECORDER, s.d) LINK: https://www.netflix.com

Logo de início, o pensamento


Segundo Reale e Antiseri (1990), os
aristotélico propõe a apresentação da
escritos de Aristóteles dividem-se em dois
filosofia sistemática “em direção a um
grupos: os exotéricos e os esotéricos. O primeiro
método rigoroso de argumentação
grupo, destinado ao público, perdeu-se
crítica” (TEODORO, 2020, p. 71) e,
completamente ao longo da história, contudo, o
principalmente, Aristóteles situa a
segundo, os escritos esotéricos, “o fruto e a base
reflexão filosófica, como veremos
da atividade didática” (REALE; ANTISERI,1990,
adiante, a partir das questões empíricas
p. 175) destinada aos peripatéticos, não apenas
provindas da observação da realidade
permaneceu intocado, como também, é a
material, posicionamentos que, por
parte principal do sistema filosófico aristotélico
sua vez, fazem-se completamente
podendo, inclusive, ser dividido do seguinte
diferentes da filosofia platônica que
modo:
se apresenta por meio de diálogos e
importa-se com o inteligível (ou ideal)
renegando a realidade material.
A filosofia de Aristóteles dirige-

54
OBRA TEMA a determinação da veracidade/validade
do conhecimento. Assim, a validade da
Orgánon Lógica e Linguagem conclusão é determinada a partir da sua
Física/ História dos animais Filosofia Natural
relação com suas premissas, conferindo,
portanto, uma conexão perfeita entre
Sobre a alma/ Metafísica Metafísica
os termos argumentativos. Ademais, a
Ética a Nicômaco / Política Ética/Política lógica silogística gera uma relação de
dependência entre as preposições e as
Poética / Retórica Arte e Linguagem
conclusões, uma vez que a veracidade das
Quadro 5 - Os escritos filosóficos aritotélicos
Fonte: Adaptado de REALE, G.; ANTISERI, D. (1990. P. 175 – 176) premissas confere a validade da conclusão.
Pode-se demonstrar o procedimento
5.2 O PENSAMENTO DE dedutivo/silogístico de Aristóteles com o
ARISTÓTELES seguinte exemplo abaixo:

Além da concepção da filosofia como um


conjunto unitário, isto é, um todo composto de
diversas unidades intercambiáveis, o pensamento
aristotélico determina a observação da natureza
como ponto de partida para obtenção do
conhecimento empírico e, consequentemente,
o pensador de Estágira determina a realidade
como um apoio factual para as suas elaborações Figura 28 - Silogismos de Aristóteles
metafísicas. Fonte: (COLEGIO WEB, 2014)

Diante disso, é com Aristóteles que a


investigação da natureza se torna objeto de um Com auxílio da figura acima
método, em outros termos, o filósofo determina é possível deduzirmos o modo de
caminhos metodológicos dedutivos e indutivos funcionamento do silogismo aristotélico,
para o conhecimento formal da realidade uma vez que, logicamente, a conclusão
pautado nos seguintes passos: a) Definição do é confirmada pelas premissas. De fato, a
objeto; b) Enumeração das soluções históricas; c) primeira premissa, “Todos os homens são
Proposição de dúvidas; d) Soluções; e) Refutação mortais”, configura-se como a premissa
dos sentidos contrários. maior dotada de um caráter universal,
pois diz respeito a “Todos”; a segunda
5.2.1 O CONHECIMENTO E A LÓGICA premissa, “Sócrates é homem”, a premissa
menor, apresenta-se com um caráter
Os métodos dedutivo e indutivo de particular, isto é, individual, remetendo-
Aristóteles pressupõem um avanço considerável se ao indivíduo Sócrates; deste modo, a
no que diz respeito à configuração do raciocínio conclusão, “Portanto, Sócrates é mortal”,
filosófico. deriva-se do jogo lógico argumentativo
O primeiro deles, o método dedutivo, apresentado pelas premissas. Ademais,
será o precursor da lógica aristotélica baseada, é imprescindível ressaltar que o método
sobretudo, no entendimento de que o ser humano dedutivo de Aristóteles se apresenta como
racional é capaz de deduzir conclusões. Nesse a produção de verdades confirmando
sentido, o pensador apresenta o método dedutivo particularidades por meio de uma remissão
fundamentado no modo de argumentação direta ao universal.
lógico-silogístico, segundo o qual é possível O método indutivo proposto
de afirmar a ligação entre três proposições (a por Aristóteles coloca-se na direção
premissa 1; a premissa 2; e a conclusão) para contrária ao método dedutivo, pois

55
parte de generalizações (particulares) para
a determinação do universal e, sobretudo,
5.2.2 A METAFÍSICA
porque as suas conclusões não se determinam A metafísica insere-se no sistema
como verdades, mas sim como conclusões filosófico aristotélico como a filosofia primeira,
racionais ou prováveis. Deste modo, as ao perguntar-se sobre a essência dos seres.
relações entre as premissas e as conclusões Com efeito, a metafísica ocupa-se daquilo
não são completamente determinantes, uma que se encontra além da realidade, contudo,
vez que o importante é a probabilidade de diferentemente do proposto pelo pensamento
induzir a argumentação na concepção de platônico de uma metafísica fundada no
conhecimentos novos. mundo inteligível, a filosofia primeira, de
Com efeito, na indução a conclusão pode acordo com Aristóteles, pergunta-se pelo
ser induzida pelas premissas, mas não provém “ser enquanto ser” na local onde as coisas
necessariamente delas, como no método acontecem, isto é, na própria realidade.
dedutivo. Assim, as conclusões precisam, de Portanto, a busca pela essência, de
fato, serem testadas e comprovadas para a acordo com Aristóteles não prevê uma
superação da realidade física, mas, pelo
determinação de sua validade. Posteriormente, contrário, trata-se de conhecer o ser
na modernidade, a indução aristotélica será dos sujeitos e das coisas na realidade
em que se encontram inseridos
alvo de crítica devido a sua insegurança demarcando, enfim, um afastamento do
modelo dualista platônico de horizonte
como método científico, justamente, porque, metafísico. Assim, as elaborações da
por meio dela, pode-se chegar a conclusões metafísica aristotélica estão ancoradas
numa relação de reciprocidade com
errôneas. Diante disso, o método indutivo foi a Natureza. (TEODORO, 2020, p. 72 –
aprimorado pelo pensador Francis Bacon na grifos nossos)

formulação do método científico empírico. Ademais, a metafísica de Aristóteles


toma os seguintes direcionamentos como
princípios investigativos fundamentais: a) o
primeiro motor ou o ser divino no qual está
FIQUE ATENTO contida toda a realidade suprema e cuja
essencialidade é perfeita e imutável; b) a
OS MÉTODOS DO CONHECIMENTO:
METODO DEDUTIVO X INDUTIVO investigação causas e princípios primeiros de
DEDUTIVOS INDUTIVOS
todas as coisas e de todos os seres naturais
• Se todas as premissas • Se todas as premissas existentes mediante o questionamento das
são verdadeiras, a con- são verdadeiras, a con- causas materiais (o material que faz o ser/ sua
clusão deve ser verda- clusão é provavelmen- potência a ser transformada), causa formal (a
deira te verdadeira, mas não
forma que o ser possui/ o ato que dá forma
• Toda a informação ou necessariamente verda-
conteúdo factual da deira. ao material), a causa eficiente (a explicação
conclusão já estava, nas • A conclusão encerra a da transformação da matéria em forma) e a
premissas. informação que não es- causa final (a finalidade); e, finalmente, c) as
tava, nem implicitamen-
substâncias e os predicados determinados
te, nas premissas.
como os elementos essenciais e acidentais
Os métodos do conhecimento fornecidos que constituem o ser.
por Aristóteles relacionam-se, diretamente,
com a apreensão empírica da natureza que, SCANEIE O CÓDIGO
diferentemente de Platão, fornece substratos E ACESSE O LINK

determinantes para a compreensão do BUSQUE POR MAIS

conhecimento metafísico. A metafísica de Aristóteles

LINK:https: //www.youtube.com/watch?v=4cZLlV-
t13WM

56
ética aristotélica: a felicidade (eudaimonia).
5.2.3 A ÉTICA E A POÉTICA Na Poética, o filósofo preocupa-se com
o local da arte na polis, pois, se o pensamento
O sistema filosófico de Aristóteles de Platão impõe uma condenação à arte ao
apresenta considerações fundamentais a dois considerá-la afastada da verdade por imitar
campos do saber filosófico, os campos da ética a realidade sensível, Aristóteles, por sua
e da poética. No que diz respeito à ética, a obra vez, reabilita a arte e, consequentemente, a
aristotélica Ética à Nicômaco apresenta-se mímesis (imitação) como parte fundamental
como uma importante fundamentação ética do humano e da vida social.
universal ao determinar-se como um modelo Segundo Aristóteles, a mímesis tem
de doutrina a ser seguido pelos habitantes da um papel determinante na constituição do
polis. No âmbito das investigações sobre as sujeito que, inicialmente, apreende o mundo
artes, A poética de Aristóteles reabilita a arte através da imitação, isto é,
como modelo de atuação pedagógico para a
[...] trata-se da reconsideração da
formação dos cidadãos da polis. arte imitativa em suas dimensões
antropológicas e culturais,
compreendendo a imitação como um
traço congênito ao sujeito, pois, desde
o nascimento, o ser humano apreende
o mundo por meio da imitação (o bebê
que imita os gestos dos pais) e, não
somente, passa a fazer parte da cultura
dos habitantes da polis o deleite com as
artes da imitação. (TEODORO, 2020, p.
85)

Diante disso, a arte imitativa, em


especial, a tragédia grega, assume um
local central na polis enquanto meio/modo
educativo. Logo então, a tragédia coloca-se
como uma imitação verossímil da realidade
com a função da produção da catarse dos
sentimentos conflitantes existentes no
Figura 30 - Aristóteles apontando para a materialidade. (Trecho meio social. Por catarse, podemos entender
da pintura “A escola de Atena” (1509 –1511) – Rafael Sanzio)
Fonte: (JPHYLOSOPHYA, s.d ) o movimento de purificação/purgação
Aristóteles definiu a sua doutrina ética dos sentimentos de terror e de piedade no
como uma ética das virtudes, ou seja, trata- momento em que o espectador se reconhece
se de um modelo doutrinário de conduta no espetáculo cênico, evitando, portanto, que
que possui como fundamento a educação tais sentimentos sejam, de fato, realizados no
das virtudes para que o sujeito seja capaz de cenário da realidade social.
atuar politicamente na cidade visando o bem Não é exagerado pensar que
comum. Aristóteles buscou trafegar por diversos
O alcance do bem comum ocorre saberes e campos de atuação que envolvem
por meio da educação virtuosa que procura o humano procurando, principalmente,
equilibrar as demandas das paixões e os desvelar as ações deste na materialidade do
ditames da razão procurando, sobretudo, empírico/natural. Assim, o sistema filosófico
efetivar a elevação da temperança entre o aristotélico procurou, efetivamente, abarcar
excesso e a falta como modelo ético de vida a totalidade dos saberes sem considerar
ativa. O bom cidadão seria, portanto, aquele as infrutíferas fronteiras que limitavam a
sujeito capaz de equilibrar as paixões e as filosofia.
razões para o exercício do trato político e,
finalmente, alcançar a finalidade visada pela

57
FIXANDO O CONTEÚDO

1 - ENEM 2013 – (Adaptado)


A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses
atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a
mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”.
Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a
melhor, nós a identificamos como felicidade.
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.

Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristóteles a identifica


como

a) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.


b) finalidade das ações e condutas humanas.
c) expressão do sucesso individual e reconhecimento público.
d) plenitude espiritual e ascese pessoal.
e) busca por bens materiais e títulos de nobreza.

2 - UEL – (Adaptado)

A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa
mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional
próprio do homem dotado de sabedoria prática.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada ética em Aristóteles, pode-se dizer
que a virtude ética

a) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a natureza é que nos
torna mais perfeitos.
b) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o excesso ou
a falta.
c) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências pragmáticas.
d) implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que é prazeroso na falta.
e) reside no equilíbrio, que consiste numa escolha situada entre o excesso e a falta.

3 - ENEM (2016) – (Adaptado)

Ninguém delibera sobre coisas que não podem ser de outro modo, nem sobre as que lhe
é impossível fazer. Por conseguinte, como conhecimento científico envolve demonstração,
mas não há demonstração de coisas cujos primeiros princípios são variáveis (pois todas
elas poderiam ser diferentemente), e como é impossível deliberar sobre coisas que são
por necessidade, a sabedoria prática não pode ser ciência, nem arte: nem ciência, porque

58
aquilo que se pode fazer é capaz de ser diferentemente, nem arte, porque o agir e o produzir
são duas espécies diferentes de coisa. Resta, pois, a alternativa de ser ela uma capacidade
verdadeira e raciocinada de agir com respeito às coisas que são boas ou más para o homem.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

Aristóteles considera a ética como pertencente ao campo do saber prático. Nesse sentido,
ela difere-se dos outros saberes porque é caracterizada como

a) a conduta doutrinária definida pela capacidade racional de escolha.


b) capacidade de escolher de acordo com padrões científicos.
c) conhecimento das coisas importantes para a vida do homem.
d) técnica que tem como resultado a produção de boas ações.
e) política estabelecida de acordo com padrões democráticos de deliberação.

4 - A definição de Silogismo para Aristóteles pode ser compreendida do seguinte modo:

a) o silogismo é um modelo de conduta ética.


b) o silogismo é uma determinação poética de contemplação do belo.
c) o silogismo é uma forma lógica-argumentativa.
d) o silogismo é um método de investigação metafísica.
e) o silogismo é uma substância inerente ao político.

5 - A filosofia de Aristóteles pode ser definida como

a) uma filosofia sistemática em direção a um método rigoroso de argumentação.


b) uma filosofia dialógica fundamentada na busca por um mundo ideal.
c) uma filosofia empírica direcionada ao entendimento da realidade como algo ausente de
materialidade.
d) uma filosofia retórica fundada na capacidade de persuasão.
e) uma filosofia idealista e metafísica.

6 - Leia o texto e responda a seguir:

Além da concepção da filosofia como um conjunto unitário, isto é, um todo composto


de diversas unidades intercambiáveis, o pensamento aristotélico determina a observação
da natureza como ponto de partida para obtenção do conhecimento empírico e,
consequentemente, o pensador de Estágira determina a realidade como um apoio factual
para as suas elaborações metafísicas.

A partir do texto, o pensamento aristotélico pode ser entendido como

a) um pensamento dialético que propõe uma ruptura entre os âmbitos físicos e metafísicos.
b) um pensamento racionalista fundado na certeza do cogito e superação da realidade
física.
c) um pensamento sistemático que toma o conhecimento empírico como parte
fundamental da compreensão dos âmbitos físicos e metafísicos.
d) um pensamento unitário que propõe apenas a experiência como fundamento da
filosofia.

59
e) um pensamento político filosófico fundado na proeminência do físico sobre o metafísico.

7 - ENEM – 2014 (Adaptado)

Ao falar do caráter de um homem não dizemos que ele é sábio ou que possui entendimento,
mas que é calmo ou temperante. No entanto, louvamos também o sábio, referindo-se ao
hábito; e aos hábitos dignos de louvor chamamos virtude.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1973.

Em Aristóteles, o conceito de virtude ética expressa a

a) excelência de atividades praticadas em consonância com o bem comum.


b) concretização utilitária de ações que revelam a manifestação de propósitos privados.
c) concordância das ações humanas aos preceitos emanados da divindade.
d) realização de ações que permitem a configuração da paz interior.
e) manifestação de ações estéticas, coroadas de adorno e beleza.

8 - (Uel 2015) Leia o texto a seguir.

É pois manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras (pois dizemos que
conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa); ora,
causa diz-se em quatro sentidos: no primeiro, entendemos por causa a substância e a
essência (o “porquê” reconduz-se pois à noção última, e o primeiro “porquê” é causa e
princípio); a segunda causa é a matéria e o sujeito; a terceira é a de onde vem o início do
movimento; a quarta causa, que se opõe à precedente, é o “fim para que” e o bem (porque
este é, com efeito, o fim de toda a geração e movimento).

Adaptado de: ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Abril S. A. Cultural, 1984. p.16. (Coleção
Os Pensadores.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, assinale a alternativa que indica,
corretamente, a ordem em que Aristóteles apresentou as causas primeiras.

a) Causa final, causa eficiente, causa material e causa formal.


b) Causa formal, causa material, causa final e causa eficiente.
c) Causa formal, causa material, causa eficiente e causa final.
d) Causa material, causa formal, causa eficiente e causa final.
e) Causa material, causa formal, causa final e causa eficiente.

60
UNIDADE 6
A FILOSOFIA HELENISTA

61
6.1 A CULTURA HELENISTA
O termo helenista demarca um FIQUE ATENTO

período histórico que engloba o imperador “Com a expansão de Felipe II e Alexandre, o Grande, as
macedônio Alexandre Magno (356 a.C. - 323 cidades gregas perderam grande parte da autonomia
a.C.), o Grande, até a anexação da Grécia e passaram a ser parte de um império. Depois da morte
pelo Império Romano. Com efeito, devido de Alexandre, sem herdeiros, o império entrou em deca-
dência e se dividiu em três reinos. Os reinos helenísticos
à expansão das relações dos gregos com
(macedônicos, selêucidas e ptolomaico) concentravam
outros povos, permite a configuração de uma o poder no soberano absoluto, com uma corte vasta e
estrutura cosmopolita. Nesse sentido, tem-se uma poderosa burocracia – algo que, aliás, inexistia na
a noção de que os sujeitos não se restringem Grécia clássica. As assembleias democráticas desapare-
ceram, e a terra e a manufatura (cerveja, têxteis, papiro
apenas ao espaço delimitado pela polis grega,
ou óleo) tornaram-se monopólio estatal. Uma série de
mas, pelo contrário, são cidadãos do mundo golpes e contragolpes se sucedeu, e esses Estados logo se
capazes de se relacionarem com diversas fragmentaram e foram paulatinamente anexados, nos
culturas. séculos II e I a.C., pelos romanos. ”

GLOSSÁRIO

Cosmopolita: cidadão do mundo. Sujeito que trans-


cende os limites geográficos em suas relações sociais.
Figura 32 - Império Grego (Cultura helenista)
Fonte: Arquivo do autor

SCANEIE O CÓDIGO
E ACESSE O LINK Ademais, o período helenista demarca-se
BUSQUE POR MAIS pela profusão de escolas filosóficas preocupadas
com a difusão do modo de razão grego marcada
Alexandre, o Grande
Alexandre, o Grande (356 a.C. - 323 a.C.), pela investigação em busca da sabedoria. Nesse
foi um rei da Macedônia, líder militar e sentido segundo Reale e Antiseri (1990):
grande imperador.
Por ter sido educado pelo filósofo grego
Aristóteles dos 13 aos 16 anos, Alexandre Compreende-se assim que o
tinha uma grande admiração pela cultu- pensamento helenístico tenha se
ra helênica. ‘Era preocupação de Alexan- concentrado sobretudo nos problemas
dre difundir a cultura grega (helênica) por morais que se impunham a todos
cada lugar que passava. A união de todo o
Mediterrâneo oriental sob o seu comando
os homens. E, propondo os grandes
propiciou a criação de uma cultura única problemas da vida e algumas soluções
em que traços gregos foram misturados a para eles, os filósofos dessa época
traços regionais. ’ (NAVARRO, 2011 – grifos criaram algo de verdadeiramente
nossos). grandioso e excepcional, o cinismo, o
epicurismo e o estoicismo, propondo
LINK:https: //super.abril.com.br/mundoestranho/ modelos de vida nos quais os homens
quem-foi-alexandre-o-grande/ continuaram a se inspirar ainda
durante outro milênio e que, ademais,
tornaram-se paradigmas espirituais,
verdadeiras “conquistas para todo o
A cultura helenista marca-se pela sempre”. (REALE; ANTISERI, 1990, p. 230)
difusão dos modos de vida e cultura gregos
Com efeito, a filosofia helenística
colocados em diálogo com a pluralidade
determina a ruptura com modelo clássico
de outros saberes advindos dos povos que
proposto pela filosofia anterior e ao preocupar-
preenchiam a extensão do Império de
se com a reflexão sobre os problemas éticos e
Alexandre, dando ensejo, portanto, a uma
morais torna-se, principalmente, uma tentativa
cultura híbrida, ou seja, helenística que,
terapêutica de responder ou de cuidar dos
consequentemente, atuou como influência à
sujeitos em meio às angústias provindas das
formação do Império Romano.
obrigações resultantes da vida social. Para tanto,
conforme veremos a seguir, a filosofia helenista

62
divide-se em três modelos de compreensão
e, consequentemente, de existir no mundo
segundo três escolas de pensamento: o
cinismo, o epicurismo e o estoicismo.

6.2 AS ESCOLAS DE FILOSOFIA


HELENISTA
Como dito acima, a filosofia helenista
divide-se em diferentes escolas de
pensamento, o cinismo, cuja determinação
principal é o desprezo por todos os bens
materiais e pelo prazer; o epicurismo
determinando a constante busca pelo prazer; Figura 33 - Diógenes sentado em seu barril cercado por cães
(1860) - Jean-Léon Gérôme
e o estoicismo que, ao se colocar como um Fonte: (GÉRÔME, 1824–1904)
modelo de vida ética, acentuava a filosofia Com efeito, o Diógenes, “O cínico”,
como um exercício de vida e não, tão somente, aprofunda os ensinamentos de Antístenes
uma atividade teórica. e propõe a filosofia cínica como um modo
de vida filosófico fundamentado na decisão
6.2.1 O CINISMO inquebrantável de viver uma vida simples,
despojada de conforto, ausente de bens
Criada pelo filósofo Antístenes (445 a.C.
materiais e, principalmente, devotado a
– 365 a.C.), e Escola Cínica fundamenta-se
autossuficiência e a coragem de agir/viver
como um modo de vida que se põe contrário
segundo as próprias convicções.
a acumulação de bens materiais e ao exercício
De acordo com Reale e Antiseri (1990, p.
pleno do prazer. Com efeito, o modo de
231) em sua radicalidade, “Diógenes rompeu
vida cínico rejeita a “vida que se baseia na
com a imagem clássica do homem grego” e,
investigação científica, bem como também
em seu lugar, determinou a busca por um ser
aquilo que os homens em geral consideram
humano livre de toda exterioridade material e
indispensável: as regras, a vida em sociedade,
de todas as convenções sociais, em suma, um
a propriedade, o governo, a política, etc.”
sujeito que “sabe reencontrar sua genuína
(CABRAL) Não obstante, a palavra cinismo
natureza, sabe viver conforme essa natureza
tem como significado viver como um cão, ou
e, assim, sabe ser feliz” (REALE; ANTISERI, 1990,
seja, viver completamente livre de quaisquer
p. 231).
determinações sociais ou materiais.
O reencontro com a natureza de que
De acordo com Braga Júnior e Lopes
fala Diógenes diz respeito, principalmente, ao
(2015) o movimento delimitado como cinismo
proclame da (re)afirmação das necessidades
difunde a ideia de que não é possível buscar
mais primárias do ser humano, aquelas que,
os conhecimentos nos saberes científicos,
finalmente, o levam, segundo o Cínico, ao
mas sim, no autoconhecimento promovido
encontro com a sua animalidade.
pelo desprezo dos bens materiais e na vida
Trata-se ainda, do posicionamento cínico com
simples, isto é, na vida vivida como um cão,
relação às afirmações científicas provenientes
completamente desprovida de conforto
do logos filosófico/matemático, isto é, para
material.
Diógenes, trata-se de viver segundo os
Diógenes de Síncope (413 a.C. – 323 a.C.) é
meios fáceis da vida distantes dos modelos
considerado o maior expoente da escola cínica
f ilosóf icos/matemáticos/astron ômicos/
e defensor da vida segundo as suas próprias
platônicos/aristotélicos fundamentais à vida
convicções.
na Grécia Clássica.

63
Os ensinamentos provindos do Jardim
de Epicuro podiam, segundo Reale e Antiseri
VAMOS PENSAR? (1990), serem resumidos nas seguintes
proposições:
O Cínico e o Imperador
Conta-se que certa vez, Dióge- a) a realidade é perfeitamente penetrável
nes, o Cínico, foi surpreendido e cognoscível pela inteligência do
homem; b) nas dimensões do real existe
pelo Imperador Alexandre, o espaço para a felicidade do homem; c) a
Grande, que, com voz impera- felicidade é a falta de dor e perturbação;
tiva, perguntou-lhe sobre sua d) para atingir a felicidade e essa paz, o
homem só precisa de si mesmo; e) não
origem e sabedoria. O Cínico, sentado no chão na lhe servem absolutamente a cidade,
companhia dos cães, fez pouco caso daquele que as instituições, a nobreza, as riquezas,
lhe fazia as perguntas. Insatisfeito com a posição todas as coisas e nem mesmo os deuses:
o homem é perfeitamente “autárquico”.
de Diógenes, o Imperador apresentou-se como (REALE; ANTISERI, 1990, p. 237)
sendo Alexandre e fez a seguinte colocação:
– Venho para tirar-lhe de tal miséria, diga-me o Na filosofia epicurista a plenitude
que queres e lhe será concedido. da felicidade humana só pode ser
Tendo rompido o silêncio com um gesto das mãos,
encontrada, de fato, no próprio homem.
Diógenes lhe respondeu:
– Então movas este cavalo que estás a fazer som- Em outros termos, a felicidade seria a
bra em meu sol! manifestação do homem em seu estado
Incrédulo, Alexandre, o Grande, seguiu a sua con- de autarquia, compreendido como alguém
quista pelo mundo. Enquanto Diógenes, em sua
pleno de liberdade, de autossuficiência e
vida desprendida de bens materiais, seguiu apre-
ciando o sol na companhia dos cães. de autonomia do pensamento e das ações
realizadas consigo mesmo.

6.2.2 O EPICURISMO

A Escola epicurista, conduzida por


Epicuro (341 a. C –270 a.C.), fundamenta-se
como uma verdadeira revolução no que diz
respeito à educação no período helenista.
Em contraposição a Academia de Platão e a
Escola Peripatética de Aristóteles, símbolos
teóricos e arquitetônicos do passado clássico,
as lições hedonistas propostas por Epicuro
eram ministradas no silêncio do Jardim,
distante do burburinho do centro de Atenas Figura 36 - Busto de Epicuro
Fonte: (DESCONHECIDO ARTIST, s.d)
e propicio a nova sensibilidade contemplativa
do helenismo. O cânone filosófico de Epicuro
assenta-se sobre o ideal hedonismo, isto
é, no exercício do prazer enquanto busca
pela felicidade. Nesse sentido, conforme
determinam Braga Júnior e Lopes (2015), a
felicidade, para os epicuristas, é a ausência
de dor e de perturbações que somente seria
encontrada no exercício pleno do prazer
enquanto a finalidade última da existência.
Ressalta-se, ainda, que para Epicuro existem
prazeres de diferentes ordens: os prazeres
Figura 35 - O Jardim dos filósofos (1834) - Antal Strohmayer imediatos ligados às paixões e os prazeres
Fonte: (STROHMAYER, 1834)
duradouros ligados às artes e ao intelecto.

64
Assim, o sujeito epicurista fundamentar-se- Epicuro, “admitia-se a discussão crítica em
ia na busca “pelo prazer de uma alma sem torno dos dogmas fundadores da escola,
perturbação (ataraxia) ” e na “fuga da dor fazendo com que tais dogmas ficassem
(aponia) ” (BRAGA JÚNIOR; LOPES, 2015, p. sujeitos a aprofundamentos, revisões e
205), ambas alcançadas, principalmente, pelo reformulações” (REALE; ANTISERI, 1990, p.
prazer filosófico. 252), deste modo, o estoicismo, em relação
às demais filosofias helenistas, beneficia-
se por meio da constante evolução de seu
FIQUE ATENTO
modelo de pensar.

Carta sobre a felicidade, de Epicuro.


[...] a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao
velho: para quem está envelhecendo sentir-se SCANEIE O CÓDIGO
rejuvenescer por meio da grata recordação das E ACESSE O LINK
coisas que já se foram, e para o jovem poder en- BUSQUE POR MAIS
velhecer sem sentir medo das coisas que estão
por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas
que trazem a felicidade, já que, estando esta, Zenão de Cítio, ensinamentos de virtude, to-
presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos lerância e autocontrole. O logos em torno da
para alcançá-la. Pratica e cultiva então aqueles
ensinamentos que sempre te transmiti, na cer- sabedoria; da moderação; da justiça e da co-
teza de que eles constituem os elementos fun- ragem.
damentais para uma vida feliz. (EPICURO, 2002,
p. 21-23)

LINK:https://www.youtube.com/watch?v=SQzV_dx-
Q8PQ
6.2.3 O ESTOICISMO
Apesar de ter sido fundada na
Grécia como uma filosofia da ação é,
O estoicismo, fundado por Zenão de
precisamente, em Roma que a filosofia
Cítio (333 a.C. – 263 a.C.), destaca-se no período
estoica irá se destacar, sobretudo, através
helenista como uma filosofia que afirma as
dos ensinamentos de Lucius Annaeus
virtudes através dos comportamentos ao invés
Sêneca (4 a.C – 65 d.C.) que se destacou
das palavras, em outros termos, as ações devem
como membro de Senado Romano.
ser tomadas de acordo com as crenças dos
sujeitos que as realizam.
Por ser estrangeiro, a Zenão de Cítio
não foi permitida a posse de um imóvel no
território ateniense, portanto, ele ministrava seus
ensinamentos no pórtico (stoá) da cidade. Diante
disso, os discípulos de Zenão foram chamados de
os da Estoá ou, simplesmente, estoicos.
Com efeito, tem-se como determinação
central de um estoicismo inicial pensado por
Zenão a ideia de que: “Não podemos mudar
este mundo, mas podemos compreender e viver
segundo o que essa Razão Universal propõe,
mediante a filosofia” (BRAGA JÚNIOR; LOPES,
2015 , p. 208), ou seja, há uma determinação
traçada pela racionalidade, em consonância com
as virtudes morais e com a natureza, que permite
ao sujeito adequar-se à realidade racional na qual Figura 38 - Busto de Sêneca
Fonte: (GRANDMONT, s.d)
todos os sujeitos pertencem.
De acordo com Reale e Antiseri (1990), no
Pórtico de Zenão, diferentemente do Jardim de

65
Sêneca, educado em retórica e filosofia,
pensa o estoicismo como uma modalidade
de vida moral demonstrando que a atividade
filosófica “seria um remédio para os males da alma
e uma forma de educar os homens no exercício
de ações virtuosas” (BRAGA JÚNIOR; LOPES, 2015,
p. 210). Nesse sentido, remediar os males seria a
propedêutica de uma filosofia direcionada à
condução virtuosa dos comportamentos dos
seres humanos.
Educar virtuosamente para Sêneca seria,
portanto, direcionar o sujeito racional para a
realização da distinção entre o bem e o mal e,
não muito distante dos ensinamentos propostos
pelo cínico Diógenes, ensinar é abandonar as
diretrizes que impõe a constante necessidade da
elevação material.
Finalmente, na filosofia de Sêneca, trata-se
da consolidação do ser humano como capaz de
aceitar os desmandos da fortuna, isto é, pensa-
se na construção de um homem de ataraxia e de
resiliência capaz de, com serenidade, absorver os
revezes da sorte e das coisas que se colocam como
exteriores e distantes das suas possibilidades de
determinação.

SCANEIE O CÓDIGO
E ACESSE O LINK
BUSQUE POR MAIS

O NEOPLATONISMO DE PLOTINO
Plotino (204 d.C. – 270 d.C.), destaca-se como um dos funda-
dores do neoplatonismo, doutrina filosófica que retoma os
ensinamentos de Platão e que, posteriormente, fundamen-
taram o período filosófico da Idade Média, sobretudo, a filo-
sofia patrística de Santo Agostinho (354 - 430). Para Plotino,
haveria o Uno que:
[...] Seria origem de tudo e finalidade essencial de
todos os seres – é todas as coisas e nenhuma de-
las é o uno. Ele é radicalmente transcendente, está
acima do ser e, por isso, não pode sequer ser nome-
ado. Dele procedem emanações: o noús (o intelecto
divino) e, em seguida, a alma, que se projeta para
o mundo, identifica-se com a natureza e se ema-
ranha na encarnação física. Os seres humanos, em
última análise originários do uno, devem – através
da contemplação do belo – fazer o caminho inverso,
retornar até a alma “sem mescla” e dali unir-se ao
princípio intelectual, a fim de “ver o que ele (o uno)
vê”.]” (CASTRO).

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=FDLDYQrHfjc

66
FIXANDO O CONTEÚDO

1 - (Enem 2014)

Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros,
nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem
dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito,
quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.
EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de
Janeiro: Eduff, 1974.

No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim

a) alcançar o prazer moderado e a felicidade.


b) valorizar os deveres e as obrigações sociais.
c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.
d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.
e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.

2 - Uenp (Adaptada)

Julgue as afirmações sobre a filosofia helenista.

I. É o último período da filosofia antiga, quando a polis grega desaparece em razão de


invasões sucessivas, por persas e romanos, sendo substituída pelo cosmopolitismo,
categoria de referência que altera a percepção de mundo do grego, principalmente no
tocante à dimensão política.
II. É um período constituído por grandes escolas filosóficas que apresentam explicações
situadas no âmbito da vida e dos comportamentos dos sujeitos.
III. Surgem nesse período a filosofia estoica, o epicurismo, o ceticismo e o cinismo.

Estão corretas as afirmativas:

a) apenas III.
b) apenas I e II.
c) apenas II e III.
d) todas as alternativas.
e) apenas I.

3 - Quais das correntes filosóficas abaixo podem ser consideradas helenistas?

a) Epicurismo; Marxismo; Cinismo.


b) Platonismo; Estoicismo; Epicurismo.
c) Cinismo; Epicurismo; Estoicismo.

67
d) Cinismo; Platonismo. Estoicismo.
e) Materialismo; Platonismo; Estoicismo.

4 - Diógenes, o Cínico, aprofunda os ensinamentos de Antístenes, ao salientar que o cinismo


tem como ponto de partida

a) a predileção por uma vida complexa, ornamentada pelo acumulo de bens materiais.
b) a determinação de uma vida em direção à transcendência provinda pelas riquezas da
alma.
c) a busca pelo exercício do pleno prazer material.
d) a busca por uma vida simples, autossuficiente e vivida segundo suas próprias convicções.
e) a delimitação de uma vida segundo critérios de exterioridade.

5 - (Fundação Carlos Chagas – SP) – (Adaptada)

O termo ataraxia designa o ideal da imperturbabilidade ou da serenidade da alma, em


decorrência do domínio sobre as paixões ou da extirpação destas.
(Abbagnano, N. Dicionário de filosofia)

a) Materialismo e epicurismo.
b) Cinismo e idealismo.
c) Estoicismo e epicurismo.
d) Existencialismo e cinismo.
e) Epicurismo e platonismo.

6 - O estoicismo se caracteriza como uma filosofia da ação, ou seja, é o comportamento


e não a teoria que determina as ações virtuosas do sujeito. Deste modo, Sêneca, um dos
mais influentes pensadores da escola estoica determina

a) que o ser humano deve resignar-se à fortuna e desesperar-se diante dos acontecimentos
exteriores.
b) que o ser humano deve aceitar os desmandos da fortuna e possuir resiliência e serenidade
para compreender que os acontecimentos exteriores ocorrem independentemente da sua
vontade.
c) que o ser humano deve ater-se a fortuna que lhe impõe os valores materiais como
determinações infalíveis.
d) que a vida do ser humano pode ser estritamente controlada segundo as determinações
exteriores.
e) que não há direcionamento que não possa ser remediado pelas ações de homens não
virtuosos.

7 - O hedonismo, segundo Epicuro, é a fonte da felicidade humana. Assim, podemos definir


o hedonismo como

a) Racionalidade.
b) Materialidade.
c) Idealismo.
d) Empirismo.

68
e) Prazer.

8 - Retornar à natureza, segundo Diógenes significa

a) retornar a animalidade e as necessidades primárias do sujeito.


b) retornar a physis como determinação da origem do cosmos.
c) retornar a uma instância delimitada pelo saber científico.
d) retornar as necessidades impostas pelo acumulo de bens materiais.
e) retornar aos elementos naturais desprovidos de sua autenticidade.

69
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 1: MITO E CULTURA UNIDADE 2: O SURGIMENTO DO LOGOS


GREGA

QUESTÃO 1: C QUESTÃO 1: B
QUESTÃO 2: D QUESTÃO 2: C
QUESTÃO 3: D QUESTÃO 3: E
QUESTÃO 4: C QUESTÃO 4: D
QUESTÃO 5: A QUESTÃO 5: A
QUESTÃO 6: C QUESTÃO 6: E
QUESTÃO 7: B QUESTÃO 7: D
QUESTÃO 8: A QUESTÃO 8: E

UNIDADE 3: O SOFISTA E A UNIDADE 4: A FILOSOFIA DE PLATÃO


PALAVRA

QUESTÃO 1: B QUESTÃO 1: C
QUESTÃO 2: E QUESTÃO 2: B
QUESTÃO 3: C QUESTÃO 3: D
QUESTÃO 4: C QUESTÃO 4: C
QUESTÃO 5: C QUESTÃO 5: A
QUESTÃO 6: A QUESTÃO 6: B
QUESTÃO 7: D QUESTÃO 7: C
QUESTÃO 8: A QUESTÃO 8: C

UNIDADE 5: A FILOSOFIA DE UNIDADE 6: A FILOSOFIA HELENISTA


ARISTÓTELES

QUESTÃO 1: B QUESTÃO 1: A
QUESTÃO 2: E QUESTÃO 2: D
QUESTÃO 3: A QUESTÃO 3: C
QUESTÃO 4: C QUESTÃO 4: D
QUESTÃO 5: A QUESTÃO 5: C
QUESTÃO 6: C QUESTÃO 6: B
QUESTÃO 7: A QUESTÃO 7: E
QUESTÃO 8: D QUESTÃO 8: A

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