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DISTÂNCIA
HISTÓRIA DA FILOSOFIA
JORGE BENEDITO DE FREITAS TEODORO
1
HISTÓRIA DA FILOSOFIA
JORGE BENEDITO DE FREITAS TEODORO
2
3
Jorge Benedito de Freitas Teodoro
HISTÓRIA DA FILOSOFIA
1° edição
Ipatinga, MG
Faculdade Única
2020
4
5
LEGENDA DE
Ícones
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão
do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar
ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção
para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função
específica, mostradas a seguir:
FIQUE ATENTO
FIXANDO O CONTEÚDO
GLOSSÁRIO
CITAÇÕES
6
SUMÁRIO UNIDADE 1
MITO E CULTURA GREGA
UNIDADE 2
O SURGIMENTO DOS LOGOS
2.1 Do mito ao logos....................................................................................................................................................................................18
2.2 Cosmologias: Filosofias naturalistas.....................................................................................................................................20
2.3 Heráclito e Paramênides................................................................................................................................................................22
UNIDADE 3
O SOFISTA E A PALAVRA
3.1 Os sofistas: palavras e persuasão.............................................................................................................................................30
3.1.1 Gógias de leontinos..........................................................................................................................................................................32
UNIDADE 4
A FILOSOFIA DE PLATÃO
4.1 Sócrates........................................................................................................................................................................................................39
4.2 Platão.............................................................................................................................................................................................................41
4.2.1 O idealismo de Platão...................................................................................................................................................................42
4.2.2 A república de Platão...................................................................................................................................................................42
UNIDADE 5
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
5.1 Aristóteles....................................................................................................................................................................................................50
5.2 O pensamento de Aristóteles......................................................................................................................................................51
5.2.1 O conhecimento e a lógica.........................................................................................................................................................51
5.2.2 A metafísica..........................................................................................................................................................................................52
5.2.3 A ética e a poética............................................................................................................................................................................53
UNIDADE 6
A FILOSOFIA HELENISTA
6.1 A cultura Helenista............................................................................................................................................................................58
6.2 As escolas de filosofia Helenista............................................................................................................................................59
6.2.1 O cinismo..............................................................................................................................................................................................59
6.2.2 O epicurismo....................................................................................................................................................................................60
6.2.3 O estoicismo.......................................................................................................................................................................................61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................................................................67
7
UNIDADE 1
Na primeira unidade, “Mito e cultura grega”, apresentaremos o surgimento da
mitologia grega como instrumento simbólico de entendimento da natureza. Nesse
sentido, destacaremos algumas características específicas da tradição mitológica
CONFIRA NO LIVRO
UNIDADE 2
A segunda unidade, “O surgimento do logos”, terá como finalidade explicitar a
superação da tradição mitológica como organizadora do cosmo/realidade em face
da preponderância do logos, isto é, da razão como modelo central de investigação/
explicação da realidade e, consequentemente, da natureza. Nesse sentido,
discutiremos o surgimento dos primeiros filósofos, os pré-socráticos (filósofos
naturalistas) e a determinação da physis como princípio originário/ordenador do
cosmos.
UNIDADE 3
Na terceira unidade, “o sofista e a palavra”, descobriremos a importância do sofista
na consolidação da palavra como instrumento de poder na polis grega. Diante disso,
discutiremos a palavra como técnica retórica de persuasão e de convencimento.
UNIDADE 4
A unidade quatro, “A filosofia de Platão”, tomará o pensamento de Platão como
direcionamento reflexivo. Assim, percorreremos o pensamento platônico destacando
a importância de Sócrates na configuração do mundo grego e, principalmente, as
determinações conceituais do Idealismo e do Dualismo como motores centrais da
filosofia dialógica de Platão.
UNIDADE 5
Na quinta unidade, “A filosofia de Aristóteles”, objetivaremos pensar as rupturas que
o filósofo Aristóteles impõe à filosofia feita após Platão. Para tanto, destacaremos
a relação direta entre pensamento e realidade na configuração de uma filosofia
sistemática que busca se debruçar sobre a totalidade das produções humanas.
UNIDADE 6
Na última unidade, “A filosofia helenista”, pensaremos a revolução ocorrida no
mundo grego após a sua incorporação ao império de Alexandre, o Grande, e como
tal incorporação modifica as determinações da polis, do sujeito e, principalmente,
da filosofia. Nesse sentido, objetivaremos apresentar três escolas filosóficas centrais
para a configuração dos modos de vida e de pensamento característicos do período
helenista, a saber: o cinismo, o epicurismo e o estoicismo.
8
O presente livro didático convida o
leitor a se aventurar pelo surgimento
Aristóteles, procurando, sobretudo,
percorrer as principais destinações
da filosofia ocorrido na Grécia e a teóricas desses filósofos na busca pelo
refletir sobre os processos humanos conhecimento verdadeiro, ilustrando,
de significação da realidade que, portanto, os procedimentos socráticos
consequentemente, determinam na construção da verdade; o idealismo
INTRODUÇÃO
9
UNIDADE 1
10
A mitologia grega surge do deusas, ou conforme compreendida por
imperativo de entendimento da natureza. Yuval N. Harari, em “Sapiens”, como a
Diante do tamanho avassalador ideia de que:
1.1 MITOLOGIA GREGA: TEOGONIA E NARRATIVAS DE ORIGEM
11
Trata-se, portanto, de uma troca de escuta entre o poeta e o ouvinte, partindo do
pressuposto que o poeta, inspirado, possui acesso à verdade dos deuses. Frente a tal destinação,
a palavra de autoridade do poeta organiza a vida e a sociedade grega em torno dos deuses
e das atividades ritualísticas que conferem, ao fim e ao cabo, a segurança necessária para a
consolidação da organização comunitária grega.
FIQUE ATENTO
Jean-Pierre Vernant (2001), na obra Entre mito e política assentua a necessidade do interpréte do mito de:
[...] Sair dos quadros de pensamento que lhe são costumeiros: entre a literatura e a religião, bem
como entre a narrativa fictícia e a verdade do que é contado, entre a fabulação do mito e a auten-
ticidade do divino implicado na narração [...] não existia, nos tempos arcaicos da Grécia, esse corte,
essa incompatibilidade que somos levados a estabelecer (VERNANT, 2001, p. 230)
Em outros termos, trata-se da necessidade da compreensão inicial da ausência de separação entre o mito e a
realidade, isto é, a narrativa era considerada, de fato, como conhecimento verdadeiro e modelo de organização
social. Como veremos adiante, e´, principalmente, com a instituição do pensamento lógico/racional/sistemático
da filosofia que se dá o questionamento e, posteriormente, a superação da estruturação mitológica como dis-
curso organizador e verdadeiro.
Ademais, em um período anterior a escrita, o poeta (o sábio) repassa, através das narrativas
mitológicas, o segredo do religioso, isto é, torna pública a “descoberta de uma realidade superior
que ultrapassa em muito o comum dos homens” (VERNANT, 2002, p. 58), que, consequentemente,
atua diretamente na consolidação do imaginário político social do sujeito grego.
Com efeito, devido as suas atribuições organizadoras e funções de conhecimento da
natureza, a mitologia figura-se como a principal narrativa do nascente mundo grego. Ademais, a
mitologia compreende que os “homens, a divindade e o mundo formam um universo unificado,
homogêneo, todo ele no mesmo plano” (VERNANT, 2002, p. 110) e, para tanto, são tecidas narrativas
que buscam configuram o surgimento e a ordenação inicial do cosmos, as cosmogonias.
A Teogonia, do poeta Hesíodo (750 a.C. – 650 a.C.), destaca-se como uma das mais
importantes cosmogonias, justamente, por fornecer a imagem do surgimento do mundo e a
organização dos poderes naturais sob a tutela de Zeus, o maior dos deuses olímpicos.
Trata-se da narrativa mitológica que apresenta a superação inicial do caos com o
surgimento dos elementos primordiais Uranos (o céu) e de Gaia (a terra) e, a consequente,
superação de Uranos e Gaia pelos seus filhos: os Titãs, compreendidos como forças naturais
essenciais, tendo Cronos (o tempo) à frente dos poderes da natureza e, finalmente, a instituição
de Zeus como o regente de uma nova ordem cósmica.
Como ordenador autoritário, Cronos devora seus filhos (os futuros deuses olímpicos)
com a finalidade de impedir que algum deles lhe tome o seu trono. Contudo, Reia, esposa de
Cronos, descontente com a situação, entrega a Cronos uma pedra envolta em trapos no lugar
de seu filho Zeus escondendo o mesmo em uma caverna. Após passar anos escondido em uma
caverna, Zeus, já adulto, retorna e desafia Cronos, libertando seus irmãos, Hades e Poseidon
e, consequentemente, dando início a Titanomaquia, ou seja, a guerra entre os deuses e os
titãs.
12
Figura 2 - Zeus fulmina os titãs (1533) – Perin del Varga
Fonte: Wikimedia Commons
A vitória dos deuses olímpicos, sob o comando de Zeus, não instaura tão somente uma nova
ordem cósmica, mas, sobretudo, ela destaca o surgimento de um mundo novo no qual as forças
primordiais da natureza encontram-se dominadas e, para tanto, segundo Vernant (2002), torna-
se possível avistar os processos de racionalização que, posteriormente, atuarão sobre a natureza
dominando-a e instrumentalizando-a segundo os desígnios do logos.
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O canal do Youtube, “Foca na história” apresenta uma interessante narração da Guerra dos Titãs (Titanomaquia).
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=6H8Nlzkx7SE
O segundo capítulo, “II História dos Titãs”, da obra de Kerényi, “A mitologia dos gregos: vol. 1: a história dos deuses e
dos homens” apresenta uma descrição precisa da obra de Hesíodo destacando, principalmente, a estrutura com-
bativa entre titãs e deuses.
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/114707
A série de jogos eletrônicos God of War, produzidos pela Sony Computer Entretainment e dispo-
níveis para os consoles da linha Playstation, envereda-se pelas narrativas mitológicas gregas for-
necendo um riquíssimo conteúdo cognitivo para iniciação à compreensão das narrativas míticas.
Figura 3 - God of
War
13
A estrutura da poesia homérica apresenta
1.2 AS EPOPEIAS HOMÉRICAS
uma caraterística determinante das narrativas
míticas gregas, a saber: a ausência de separação
Homero (850 a.C.) é o autor de duas
entre o mundo dos deuses e o mundo dos
das grandes narrativas fundadoras do
homens. Assim, deuses, deusas, homens e
pensamento e da cultura ocidental, a “Ilíada” e
mulheres dividem a mesma realidade, isto é,
a “Odisseia”. As narrativas homéricas possuem
caminham entre si, relacionam-se entre si e, de
um valor pedagógico, isto é, fornecem ao
modo magistral, dividem o mesmo campo de
cidadão grego modelos educacionais para
batalha, conforme tematizado na epopeia Ilíada.
a vida social, principalmente, ao ressaltar
Na Ilíada, Homero narra os últimos anos da
exemplos heroicos de coragem e de astúcia,
Guerra de Tróia, representando os feitos do herói
virtudes determinantes para o sujeito da
e semideus Aquiles. A ocasião da Guerra possui
Grécia Clássica.
profundas raízes mitológicas, pois, é motivada por
uma disputa entre as deusas Atena, Hera e Afrodite
para determinação da deusa mais bela. Tal disputa
é solucionada por um mortal, Páris, um pastor de
GLOSSÁRIO
ovelhas que, mais tarde, irá se revelar como um
Epopeia: a epopeia, também conhecida domo poe- príncipe troiano marcado por uma funesta profecia.
ma épico, é um extenso poema que narra os feitos
Afrodite, a vencedora da disputa, confere
e as ações de heróis históricos e lendários represen-
tando, portanto, uma coletividade ao fazer referência a Páris, como prêmio por tê-la escolhido, o amor
aos usos, costumes e mitos. da mulher mais bela, Helena de Tróia. Contudo,
Helena é esposa de Menelau, irmão de Agamenon,
Para Jaeger ( 1994), as poesias de o maior dos reis da Grécia. Diante da fuga de Helena
Homero destacam a vasta e complexa e de sua chegada à Tróia como amante de Páris,
formação educacional do grego e, Agamenon e Menelau convocam os heróis e reis
consequentemente, contribuem para da Grécia, entre eles Aquiles e Ulisses (ou Odisseu),
a fundamentação da sociedade arcaica e partem rumo à Guerra em Tróia. Por anos a fio,
enquanto categorias fundamentais “da vida a Guerra se desenrola demonstrando os embates
e do pensamento”. Deste modo, a Ilíada e a entre gregos e troianos e, por vezes, entre os
Odisseia conferem referências fundamentais próprios deuses que possuem os seus protegidos
para a formação do sujeito, revelando nos campos de batalha. Aquiles, por sua vez, situa-
configurações das relações sociais na Grécia se como o indomável guerreiro armado com armas
Clássica. e armadura divinas que, atinge o seu clímax ao
vingar o seu amante Pátraclo derrotando Heitor, o
príncipe e o principal guerreiro de Tróia.
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VAMOS PENSAR?
14
A narrativa homérica deposita em
SCANEIE O CÓDIGO
Aquiles o modelo da excelência (aretê) na E ACESSE O LINK
atividade da guerra, dando a margem para BUSQUE POR MAIS
15
Compreendidos como produtores
de cultura, os gregos destacam-se, além da
proeminência de suas narrativas mitológicas,
com a invenção da tragédia, isto é, com a
1.3 AS TRAGÉDIAS GREGAS
16
FIXANDO O CONTEÚDO
3 - Leia o texto abaixo e responda o que se segue (Fonte: Filosofia na Escola – Adaptado).
17
a) o campo do conhecimento mítico limita-se ao que se manifesta no campo concreto
comum.
b) a magia e a mitologia não se confundem com o conhecimento concreto comum.
c) o conhecimento no mito, por ser uma revelação, é acessível igualmente a todos os
homens.
d) o mito não distingue o plano natural do sobrenatural, sendo o conhecimento do
sobrenatural superior narrado pelo poeta.
e) o mito é narrado pelo filósofo e, portanto, tem compromisso direto com a verdade.
5 - Na “Ilíada”, de Homero, o mundo dos deuses e dos seres humanos se mistura. Diante
disso, o herói Aquiles destaca-se, sobretudo
6 - UNICENTRO (Adaptado).
“Os poemas homéricos têm por fundamento uma visão de mundo clara e coerente.
Manifestam-na quase a cada verso, pois colocam em relação com ela tudo quanto cantam
de importante – é, antes de mais nada, a partir dessa relação que se define seu caráter
particular. Nós chamamos de religiosa essa cosmovisão, embora ela se distancie muito
da religião de outros povos e tempos. Essa cosmovisão da poesia homérica é clara e
coerente. Em parte alguma ela enuncia fórmulas conceituais à maneira de um dogma;
antes se exprime vivamente em tudo que sucede, em tudo que é dito e pensado. E embora
no pormenor muitas coisas resultem ambíguas, em termos amplos e no essencial, os
testemunhos não se contradizem. É possível, com rigoroso método, reuni-los, ordená-los,
fazer-lhes o cômputo, e assim eles nos dão respostas explícitas às questões sobre a vida e
a morte, o homem e Deus, a liberdade e o destino (…). ”
OTTO. Os deuses da Grécia: a imagem do divino na visão do espírito grego. São Paulo:
Odysseus Editora, 2005.
Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a função dos mitos na Grécia arcaica,
assinale a alternativa correta.
18
homem o que este deveria escolher no momento de sua livre ação.
b) As poesias de Homero sempre mantiveram a função de educar o homem grego para o
pleno exercício da atividade racional que surgiria no século VI a.C., uma vez que, de acordo
com historiadores e helenistas, não houve uma ruptura na passagem do mito para o logos,
mas sim um processo gradual e contínuo de enraizamento histórico que culminou no
advento da filosofia.
c) Os mitos homéricos serviram de base para a educação, formação e visão de mundo que o
homem grego arcaico possuía. Em seus cânticos, Homero justapõe conceitos importantes
como harmonia, proporção e questionamentos a respeito dos princípios, das causas e do
porquê das coisas. Embora todas essas instâncias apresentavam-se como tal, os mitos não
deixaram de lado o caráter mágico, fictício e fabular em que eram narrados.
d) O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos de sua poesia, Homero inaugura uma
modalidade literária bem singular no ocidente. As ações dos deuses e dos homens, por
exemplo, sempre obedeceram a uma ordem pré-estabelecida, a qual sempre revelou uma
lógica racional em funcionamento.
e) Os mitos tiveram função meramente ilustrativa na educação do homem grego, pois o
caráter teórico e abstrato da cultura grega apagou em grande parte os aspectos que se
revelariam relevantes na poesia grega.
“Cada indivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione com sua própria
vida. Os mitos têm basicamente quatro funções. A primeira é a função mística – e é disso
que venho falando, dando conta da maravilha que é o universo, da maravilha que é você,
e vivenciando o espanto diante do mistério. Os mitos abrem o mundo para a dimensão do
mistério, para a consciência do mistério que subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar,
você não terá uma mitologia. Se o mistério se manifestar através de todas as coisas, o
universo se tornará, por assim dizer, uma pintura sagrada. Você está sempre se dirigindo
ao mistério transcendente, através das circunstâncias da sua vida verdadeira. A segunda é
a dimensão cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa, mostrando qual é a forma
do universo, mas fazendo-o de uma tal maneira que o mistério, outra vez, se manifeste. Hoje,
tendemos a pensar que os cientistas detêm todas as respostas. Mas os maiores entre eles
dizem-nos: “Não, não temos todas as respostas. Podemos dizer-lhe como a coisa funciona,
mas não o que é”. Você risca um fósforo. O que é o fogo? Você pode falar de oxidação, mas
isso não me dirá nada. A terceira função é sociológica – suporte e validação de determinada
ordem social. E aqui os mitos variam tremendamente, de lugar para lugar. Você tem toda
uma mitologia da poligamia, toda mitologia da monogamia. Ambas satisfatórias. Depende
de onde você estiver. Foi essa função sociológica do mito que assumiu a direção do nosso
mundo – e está desatualizada. A quarta função do mito, aquela, segundo penso, com que
todas as pessoas deviam tentar se relacionar – a função pedagógica, como viver uma vida
19
humana sob qualquer circunstância. Os mitos podem ensinar-nos isso. ”
CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athenas, 1990.
a) o mito é uma experiência singular que continua dando sentido à existência humana.
b) os mitos pertencem somente a comunidades pouco evoluídas.
c) o mito morreu e não diz mais nada para a sociedade.
d) não necessitamos dos mitos e que eles são ultrapassados.
e) o mito não foi capaz de se firmar como um universo simbólico.
20
UNIDADE 2
O SURGIMENTO DOS LOGOS
21
A passagem do mito ao logos Mileto e de Éfeso, na Ásia menor) motivada,
caracteriza a chegada da razão principalmente, por novas determinações e
como modelo lógico, crítico, reflexivo laços econômicos. Ademais, o fortalecimento
e sistemático de compreensão/ do comércio aliado ao conhecimento de
organização do mundo e da natureza. novas culturas exige da sociedade grega a
Trata-se, portanto, da eleição do logos (da formulação de novos modos de compreensão
2.1 DO MITO AO LOGOS
22
Ademais, diferentemente do saber
mítico que não se preocupava com o teor de
verdade presente nos elementos mágicos,
fabulosos ou, até mesmo, com as contradições
de seu discurso, o logos filosófico assenta-
se, sobretudo, na sistematicidade universal
dos procedimentos racionais de busca pela
verdade que, ao fim e ao cabo, irá promover
uma desconstrução do imaginário mítico
e, principalmente, da autoridade divina da
palavra do poeta (do sábio) para propor-se,
como veremos adiante, como um discurso da
pólis, ou seja, como uma palavra de organização
política.
FIQUE ATENTO
23
Os primeiros modelos filosóficos se no conceito de physis, a determinação
de organização do real são fornecidos originária das coisas.
2.2 COSMOLOGIAS: FILOSOFIAS NATURALISTAS
24
É preciso salientar que, como
SCANEIE O CÓDIGO
E ACESSE O LINK traço essencial e comum, de acordo
BUSQUE POR MAIS com Ghiraldelli Júnior (2003), “em suas
cosmologias” esses pensadores “tentam
Tales de Mileto destacou-se em diversos
encontrar uma substância única, ou
campos do saber humano. Têm-se ciência
de que, além de contribuir com análises ge-
força exclusiva, ou princípio básico capaz
ométricas das Pirâmides e com teorias sobre de ser apresentado como elemento
o plantio, Tales foi capaz de prever um eclip- efetivamente real e primordial do cosmos”
se solar total em 585 a.C.
(GHIRALDELLI JÚNIOR, 2003, p. 08).
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=34n8FBzf-fI
Diante disso, na tentativa de compreensão
da physis e, consequentemente, da
Falando ainda dos filósofos pré-socráticos ampliação da filosofia, os pré-socráticos
detentores de um pensamento monista, isto é, Heráclito e Parmênides demandam uma
da ideia de que através da observação de um atenção especial, como veremos a seguir.
elemento da natureza seria possível determiná-lo
como o princípio natural imperecível e originário Pré-socráticos Physis
de todas as coisas, temos Anaxímenes (588 a.C.
Anaximandro (610 a.C.-546 O infinito/ o ilimitado
– 524 a.C.) que, por sua vez, determinou que a
a.C.) (apeíron)
physis seria o ar.
Empédocles (490 a.C. - 430 Terra, fogo, água e ar
Pitágoras de Samos (570 a.C. – 490 a.C.), a.C.)
filósofo, astrônomo e matemático, pensa a physis
Anaxágoras (500 a.C. - 428 Sementes, amor e ódio
como uma complexa organização numérica, a.C.)
atribuindo ao número 1 (um) a ideia de origem, Demócrito (460 a.C. - 370 Átomos
isto é, de ponto de partida para a fundação do a.C.)
Universo. Ademais, o pensamento pitagórico Zenão (490 a.C. - 430 a.C.) Imobilidade
oferece contribuições determinantes não apenas
Quadro 1 - Alguns pensadores pré-socráticos e a physis
para a consolidação da geometria (o teorema de Fonte: Elaborada pelo autor
Pitágoras) e da filosofia, mas também, acrescenta
ao entendimento da música ao descobrir uma
nova escala de tons (a escala pitagórica). Ademais,
a influência de Pitágoras pode ser observada em VAMOS PENSAR?
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=dTMNnikuyrc
25
Heráclito de Éfeso (540 a.C. - 470
a.C.) e Parmênides de Eleia (530 a.C.
2.3 HERÁCLITO E PARMÊNIDES
26
Ressalta-se ainda que o fluxo de
movimento e transformação próprio à
realidade do mundo revela a “luta dos
contrários” (CHAUÍ, 2002, p. 82), isto é, um
movimento dialético de oposição entre
elementos contrários que, ao fim e ao cabo,
irão se harmonizar em um jogo de tensões
que revela a realidade como “inquieta e
móvel, tensa, concordante e discordante,
e da guerra nasce a ordem ou o cosmos,
Figura 15 - Busto de Parmênides
equilíbrio dinâmico de forças contrárias que Fonte: (TOTALLY HISTORY, s.d.)
coexistem e se sucedem se cessar” (CHAUÍ,
É com Parmênides que se tem a
2002, p. 82). Em outros termos, Heráclito fala
fundação da disciplina Ontológica como
de uma realidade marcada por um constante
campo reflexivo sobre a essencialidade do
movimento de harmonização dos contrários.
ser enquanto modelo originário imutável.
Dando a entrever, portanto, que o todo da
Assim, compreendido como essencial, a
realidade é composto pela multiplicidade
ontologia de Parmênides lança as bases,
característica de seu devir constante.
como destaca Chauí (2002), para uma
Parmênides da escola Eleata, em
condenação/separação entre essência e
franca oposição ao pensamento de Heráclito,
aparência. Condenação/separação que, como
determina que a physis, o elemento originário,
se sabe, será fundamental ao pensamento de
é o ser pensado como instância essencial,
Platão, pois, de acordo com o pensamento
imutável e estática. Deste modo, o “ser é o
parmenidiano, “o pensamento puro se
que permanece idêntico a si mesmo” (CHAUÍ,
afasta da percepção sensorial e o opera por
2002, p. 92), ou seja, aquilo que não muda,
argumentos lógicos” (CHAUÍ, 2002, p. 93), ou
que não se transforma, o elemento essencial,
seja, a verdade (alétheia) do ser só pode ser
a unidade, finalmente: aquilo que é.
conhecida por meio do pensamento/razão.
O ser é imóvel/imutável. De fato, o pensamento do filósofo
de Eleia já aponta para destinações
O ser é eterno/indestrutível.
fundamentais à filosofia vindoura,
O ser é uno/unitário.
principalmente, ao salientar a distinção entre
O ser é indivisível. a alétheia, a verdade obtida racionalmente,
O ser é pleno. e a dóxa, a opinião é fundamentada pelas
circunstâncias, para tanto, é mutável/efêmera
Quadro 2 - O ser segundo Parmênides
Fonte: Adaptado de Chauí. (2002. p. 93-94). e perecível ou, como veremos adiante, diz
respeito a um tipo falso de conhecimento
Segundo Parmênides, o pensamento provido do senso comum.
só pode alcançar aquilo que permanece, isto é, Enfim, os pensamentos de Heráclito
aquilo que se oferece à identidade, em suma, e de Parmênides influenciaram a toda uma
segundo o pensamento do filósofo Eleata: “o teoria filosófica que virá a seguir, sobretudo,
ser é e o não ser não é”. Diante disso, pensar no que diz respeito às oposições iniciais
o ser (dizer a origem) é, portanto, pensar o entre uma realidade constituída tendo
imutável. o movimento e a mudança como bases
fundamentais e, em divergentemente disso,
uma realidade essencialmente centrada
na ideia de um ser imutável/imóvel do qual
todas as coisas provêm.
27
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Os paradoxos de Zenão
O filósofo pré-socrático Zenão de Eléia (490 a.C. - 430 a.C.),
discípulo de Parmênides, elenca uma série de paradoxos
com a finalidade de questionar a ideia de movimento e,
consequentemente, reafirmar o argumento da imobilida-
de das coisas.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=ZDvH8hGhvBk
28
FIXANDO O CONTEÚDO
4 - (UEG) – Adaptada
A influência de Sócrates na filosofia grega foi tão marcante que dividiu a sua história em
períodos: período pré-socrático, período socrático e período pós-socrático. O período pré-
socrático é visto como uma época de formação da filosofia grega, na qual predominavam
29
os problemas cosmológicos. Ele se desenvolveu em cidades da Jônia e da Magna Grécia.
Grandes escolas filosóficas surgem nesse período e muitos pensadores se destacam.
Entre eles, um jônico, que ficou conhecido como pai da filosofia. Seu nome é:
a) Sócrates de Atenas.
b) Parmênides de Eléia.
c) Heráclito de Éfeso.
d) Tales de Mileto.
e) Demócrito de Abdera.
De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que ter um
começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a partir
de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa,
então essa outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum dia. Sofia
entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma
coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir da qual tudo é
feito? A grande questão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do
nada. O que os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou
como a terra sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas.
Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995. p.43-44.
30
que se encontra na origem da natureza e de suas transformações) ponto crucial de toda
formulação filosófica. Em tal contexto, Leucipo e Demócrito afirmam ser a realidade
percebida pelos sentidos ilusória. Eles defendem que os sentidos apenas capturam uma
realidade superficial, mutável e transitória que acreditamos ser verdadeira. Mesmo que
os sentidos apreendam “as mutações das coisas, no fundo, os elementos primordiais que
constituem essa realidade jamais se alteram. ” Assim, a realidade é uma coisa e o real outra.
a) pelo fogo.
b) pela água.
c) pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio.
d) pelo ilimitado
e) pelos átomos.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre as relações entre mito e filosofia, seguem
as seguintes proposições:
I. Os filósofos pré-socráticos são conhecidos como filósofos da physis porque as
explicações racionais do mundo por eles produzidas apresentam não apenas o início, o
princípio, mas também o desenvolvimento e o resultado do processo pelo qual uma coisa
se constitui.
II. Os filósofos pré-socráticos não foram os primeiros a tratarem da origem e do
desenvolvimento do universo, antes deles já existiam cosmogonias, mas estas eram de tipo
mítico, descreviam a história do mundo como uma luta entre entidades personificadas.
III. Tales de Mileto, um dos Sete Sábios, além de matemático e físico é considerado
filósofo – o fundador da filosofia, segundo Aristóteles – porque em sua proposição “A água
é a origem e a matriz de todas as coisas” está contida a proposição “Tudo é um”, ou seja, a
representação de unidade.
IV. As explicações racionais do mundo elaboradas pelos pré-socráticos seguem o mesmo
esquema de orientação das narrativas mitológicas, pois, ao fim e ao cabo, os pré-socráticos
constroem cosmogonias.
31
Relacione corretamente as frases apresentadas a seguir com os respectivos autores,
numerando a Coluna II de acordo com a Coluna I.
COLUNA 1
1. A physis é o átomo.
2. A realidade encontra-se em constante devir.
3. Tudo é uno/imutável.
4. A physis corresponde a uma organização numérica.
5. Aquiles e a tartaruga.
COLUNA 2
( ) Heráclito de Éfeso.
( ) Zenão de Eléia.
( ) Pitágoras de Samos.
( ) Demócrito de Abdera.
( ) Parmênides de Eléia.
a) 5,4,3,2,1.
b) 4,5,2,3,1.
c) 3,2,1,4,5.
d) 1,2,3,4,5.
e) 3,5,4,1,2.
32
UNIDADE 3
O SOFISTA E A PALAVRA
33
Com a afirmação da racionalidade Diante disso, as decisões políticas
como modelo de orientação da e legislativas tomadas no âmbito da
realidade têm-se a eclosão de profundas polis são realizadas na Ágora, isto é,
modificações no cenário grego, nas Assembleias coletivas realizadas
3.1 OS SOFISTAS: PALAVRA E PERSUASÃO
sobretudo, no que diz respeito à utilização nas praças públicas, nas quais os
da palavra. Com efeito, a palavra que, “bem-nascidos” (Eupátridas) exerciam
anteriormente, era de uso restrito dos o papel de cidadão ao discutirem os
sábios enquanto inspirados pelos deuses, direcionamentos políticos e legais da
agora é de posse do cidadão em seu polis.
caráter coletivo e desvinculado da postura
ritualística/divina. De fato, a palavra torna-
se, efetivamente, um exercício de política
e, assim, de poder.
Como dito por Jean-Pierre Vernant
(1981), a filosofia é a filha da cidade, por isso,
o advento do pensamento racional ancora-
se e no modo de vida social proposto pela
polis (Cidade-Estado), sobretudo, em
Atenas, e, consequentemente, contribui,
efetivamente, para a determinação do
modelo político grego que se organizara
Figura 16 - Ruínas da Ágora antiga – Atenas
em torno da coletividade dando ensejo, Fonte: Lugares inesquecíveis
portanto, ao ideal de democracia.
Superando as imposições da
narrativa mítico/religiosa e transformada
em sinônimo de poder, a palavra racional
passa a ser disputada no âmbito da
FIQUE ATENTO
polis grega. Frente a isso, o campo
A democracia ateniense discursivo da polis torna-se múltiplo
No livro didático da disciplina Introdução à Filosofia, res- e, consequentemente, dotado dos
saltamos que a democracia grega possui um caráter ex-
seguintes discursos: a) o mítico/religiosos
clusivo, isto é:
[...] Exclui as mulheres, os estrangeiros (Metecos) e os despos-
que, mesmo desprovido de sua antiga
suídos, assentando-se sobre a manutenção de uma estrutu-
ra escravocrata que garantiria a participação dos Eupátridas
tarefa de organização do real, ainda
na vida pública da polis. Portanto, por mais que a fundação existe na polis com papel de manutenção
democrática tenha significado um ganho social importan-
te com a instituição de leis coletivas, a abertura da Ágora do aspecto ritualístico do mundo; b) o
como um espaço público para a tomada de decisões e,
sobretudo, o questionamento sobre as noções de política, filosófico ancorado na busca racional
de ética e de justiça, mantém-se intacta a estruturação de
uma sociedade dividida em classes sociais. Nesse sentido, a pela verdade das coisas; e c) o discurso do
máxima aristotélica do homem enquanto ser político e, con-
sequentemente, cidadão, é válida, tão somente, para aque- sofista cujo aspecto central é o manejo
les que se enquadram nas condições para serem Eupátridas.
(TEODORO, 2020, p. 29) da palavra racional em prol do efeito de
persuasão e convencimento.
34
c) O convencionalismo: as normas,
SCANEIE O CÓDIGO as leis e os costumes não são instâncias
E ACESSE O LINK
BUSQUE POR MAIS
fixas e imutáveis, pelo contrário, as normas,
as leis os costumes são acordos/convenções
A retórica é um conjunto de técnicas discursivas e argu-
mentativas se origina na Grécia Antiga com a finalidade travadas frente às necessidades.
de atuar com um instrumento para persuadir o ouvinte Peritos na arte retórica, isto é, na
em assuntos relacionados aos direcionamentos políticos arte do bem falar e, consequentemente, no
da polis.
manejo do discurso em prol de obtenção
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=ypeVH_XQvdU de ganhos políticos, sociais e econômicos,
os sofistas destacam-se como professores
remunerados pelos ensinamentos da
O sofista é compreendido, inicialmente,
arte do convencimento destinada aos
como um ‘especialista do saber’, isto é, como
aristocratas atenienses. Deste modo,
um mestre/professor de retórica (técnicas
segundo Chauí (2002), a expertise dos
voltadas para o bem falar/ a eloquência/ do bem
sofistas se dava, principalmente, pela:
argumentar/o bom emprego da palavra) que irá
[...] arte de argumentar e persuadir,
se relacionar, diretamente, com o modo de vida decisiva para quem exerce a cidadania
da polis delimitado pelo uso da palavra como numa democracia direta, em que as
discussões e decisões são feitas em
instrumento de decisão política. Ademais, como público e nas quais vence quem melhor
estabelecido por Braga Júnior e Lopes (2015), os souber persuadir os demais, sendo
hábil, jeitoso, astuto na argumentação
sofistas apresentam-se como: em favor de sua opinião e contra o
adversário. (CHAUÍ, 2002, p. 162)
[...] o primeiro grupo de pessoas a
realizar uma verdadeira revolução nas Destaca-se, assim, a atividade
preocupações filosóficas da filosofia sofística como a utilização das técnicas
antiga, deslocando suas análises da
physis e da busca por uma arché para de retórica e da oratória (a arte do bem
se preocupar essencialmente com a
problemática sobre quem é o homem, falar) discurso enquanto meio/modo de
concentrando suas análises nos temas convencimento (persuasão) carregado de
da ética, da política, da retórica e da
educação. (BRAGA JÚNIOR; LOPES, páthos (emoção) que visa capturar o ouvinte
2015, p. 126) em busca de poder político, operando, para
Nota-se, com a citação acima, uma primeira tanto, por meio do argumento sedutor
concepção positiva acerca do sofista, pois, centrado provido pelo manejo certeiro do discurso
nas modificações proporcionadas pelo surgimento breve e claro, pois, conforme dito pelo
da polis, dos debates públicos e, sobretudo, do sofista Górgias de Leontinos (484 a.C. – 376
fazer político, os sofistas direcionam o logos rumo a.C.): “Um discurso é um grande senhor
à compreensão de atividades humanas que, que, por meio do menor e mais inaparente
aparentemente, distanciam-se da natureza e corpo, leva à cabo as obras mais divinas”
fundamentam aspectos socioculturais. Contudo, (GÓRGIAS, 2009, p. 03).
posteriormente, com as críticas empreendidas por
Sócrates e por Platão, a palavra e o posicionamento
do sofista irão se caracterizar, sobretudo, pela
defesa do relativismo ao afirmar que não existem
verdades absolutas, diferentemente do filósofo
cuja preocupação principal é, justamente, a busca
pela verdade. Frente a isso, destacam-se três
posicionamentos centrais da atividade sofística:
a) O relativismo: a verdade é relativa.
b) O ceticismo: não existe verdade absoluta,
mas, caso ela exista, o homem não pode conhecê-
la.
35
SCANEIE O CÓDIGO 3.1.1 GÓRGIAS DE LEONTINOS
E ACESSE O LINK
36
e opinião (dóxa) e, finalmente, amplia as
possibilidades de alcance das técnicas da
retórica e, principalmente, assenta a palavra
no reino da relatividade, isto é, como não há
nenhuma verdade absoluta, a palavra tem
de se preocupar, tão somente, com as suas
capacidades argumentativas de persuasão e
de defesa da opinião. Frente a isso, os filósofos
Sócrates e Platão irá se declarar como um
inimigo dos sofistas na tentativa de restaurar
a primazia do logos racional na tentativa de
fornecer as bases para a condução de uma
reflexão em busca da verdade ideal das
coisas distanciando-se, portanto, das simples
opiniões provindas do senso comum.
O filósofo Platão possui um diálogo intitulado Górgias. No discurso O elogio de Helena, Górgias
No Górgias, Platão adverte que a retórica nada mais é
argumenta em favor de Helena com vistas
do que um conhecimento falso (empírico) que não se
destina à verdade das coisas. Ademais, é nesse diálogo
a não culpá-la pelo ocorrido em Tróia – como
que Platão, com as palavras de Sócrates, realiza uma costumeiramente era feito –, pois, segundo o
defesa da filosofia e lança importantes considerações sofista, o seu rapto não se deu devido a um ardil
de fundamentação moral e política. planejado por ela em traição ao seu marido
(Menelau – o rei de Esparta) em conluio com
Pensado ainda com Górgias, é Páris (o príncipe troiano que era seu amante),
necessário ressalta a proeminência do caráter mas sim, por causas incontornáveis. Diante
persuasivo de sua palavra com o exemplo do disso, logo de início, o sofista deixa claro o
discurso O elogio de Helena, proferido por propósito de seu discurso, a saber:
Górgias sobre Helena de Tróia e as ocorrências
[...] Refutar os que repreendem Helena,
que conduziram os gregos à guerra em Tróia. mulher acerca da qual veio a ser
uníssono e unânime tanto a crença dos
que deram ouvidos aos poetas, quanto
a fama do nome que, de desgraças,
tornou-se memória. Eu, porém,
pretendo – dando ao discurso alguma
lógica – por um lado, fazer cessar a
acusação sobre a que foi mal falada;
por outro lado, demonstrar que os que
a repreendem estão mentindo e expor
a verdade [ou] fazer cessar a ignorância.
(GÓRGIAS, 2009, p. 01)
37
fortes que os humanos. Com efeito, o sofista
apresenta causas incontornáveis às quais o puro
espírito de Helena não era suficientemente forte
para oferecer resistência, procurando, portanto,
convencer os ouvintes da inocência de Helena.
FIQUE ATENTO
38
FIXANDO O CONTEÚDO
No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse mesmo período, os teatros
estavam lotados, afinal, as tragédias chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto
importante da civilização grega da época eram os discursos proferidos na ágora. Para
obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter argumentos
sólidos e persuasivos. Nesse caso, alguns cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade
de discursar. Isso favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam a arte
da oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e ensinavam sua arte em troca de
pagamento. Eles foram duramente criticados por Sócrates e são conhecidos como
a) Epicuristas.
b) Maniqueístas.
c) Sofistas.
d) Hedonistas.
e) Comunistas.
4 - (UESPI) – Adaptada
39
cultura. Os sofistas contribuíram com essas reflexões, quando
De acordo com o texto acima, Sócrates não era um sofista, pois ele
a) era cético, seu lema era “só sei que nada sei”, enquanto os sofistas defendiam uma
verdade.
b) ensinava nas praças públicas apenas de Atenas, enquanto os sofistas eram itinerantes.
c) buscava a verdade da episteme, enquanto os sofistas despertavam a verdade dentro de
cada um.
d) defendia a existência de uma verdade universal, enquanto os sofistas eram relativistas.
e) persuadia através da retórica de que estava certo, enquanto os sofistas eram dialéticos.
“Na Grécia Antiga, havia ‘professores’ itinerantes, os sofistas, que percorriam as cidades
ensinando a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus
ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o que temos desses professores
são fragmentos e citações e, por isso, não podemos saber profundamente sobre o que eles
pensavam. Aquilo que temos de mais importante a respeito deles foi aquilo que disseram
Platão e Aristóteles. ”
(Disponível em: mundoeducacao.bol.uol.com.br.)
40
I. Seu saber era aparente e não efetivo, pois não possuía compromisso com a verdade, sim
com o lucro.
II. Ensinavam a arte de argumentar e persuadir, indispensável para exercer a cidadania
numa democracia direta.
III. Contribuíram para o ensino. Formaram um currículo de estudos que foi resgatado no
período medieval.
IV. Há periculosidade do pensamento no ponto de vista moral, bem como inconsistência
teórica.
V. Os sofistas representam um fenômeno imprescindível. É impensável a filosofia sem eles.
A respeito do pensamento direto dos principais socráticos sobre os sofistas estão corretas
apenas as afirmativas:
a) I e IV.
b) I e V.
c) II e III.
d) III e IV.
e) IV e V.
41
UNIDADE 4
A FILOSOFIA DE PLATÃO
42
Com a entrada de Sócrates reflexão. O método proposto por Sócrates é a
(469 a.C. – 399 a.C.) no cenário da polis maiêutica, pensada como um procedimento
4.1 SÓCRATES
43
falas doutrinas e, consequentemente, de
ofender aos deuses. Assim, no diálogo
platônico, Apologia de Sócrates, tem-se a
condenação de Sócrates.
Julgado em um tribunal formado
pelos seus próprios acusadores, Sócrates
é condenado e recusa-se a apelar para
argumentos emocionais desprovidos de
estrutura lógica e, muito menos, a pedir
por misericórdia, pelo contrário, o filósofo
continua a apontar as contradições inerentes
aos discursos acusadores e a demonstrar a
falta de veracidade das acusações. Contudo,
seus argumentos não são aceitos pelos
seus acusadores, nem Sócrates aceita o
cumprimento de penas alternativas caso
renegue todos os ensinamentos que havia
transmitido anteriormente, portanto, o
pensador é condenado à morte. Enfim, o
filósofo, com as próprias mãos, bebe o cálice
de cicuta e morre, sem, contudo, abdicar-se de
sua busca pelo conhecimento verdadeiro.
44
Platão (428 a.C.-347 a.C.), discípulo como seu protagonista, o platonismo
de Sócrates, coloca-se como um dos empreende uma busca pelo conhecimento
mais importantes pensadores da história verdadeiro, fundamentando o idealismo
4.2 PLATÃO
45
racionalidade como procedimentos referentes
4.2.1 O IDEALISMO DE PLATÃO às disciplinas intrinsecamente racionais (de
A centralidade do pensamento de puro pensamento), tais como a matemática e,
Platão repousa na teoria do idealismo como principalmente, a filosofia, como demonstrados
mote central para a teoria do conhecimento na alegoria da linha:
(epistemologia) na filosofia platônica. Assim,
tendo como base a busca pelo conhecimento
verdadeiro, o pensador elaborou uma teoria
fundamentada no dualismo, isto é, na divisão
do mundo em duas categorias: o mundo
sensível e o mundo das ideias.
No idealismo, portanto, Platão SCANEIE O CÓDIGO
E ACESSE O LINK
privilegia o mundo das ideias em BUSQUE POR MAIS
46
modelo degradado, tomado pelas paixões, da racionalidade em detrimento dos
pelos desejos e pela pluralidade de aspectos advindos da sensibilidade e,
opiniões (dóxa) e, para tanto, distanciado consequentemente, na busca pela verdade
da racionalidade. essencial das coisas. Ademais, Platão, tendo
Sócrates como personagem principal,
empreende uma crítica aos posicionamentos
políticos existentes na polis, procurando, para
tanto, demonstrar as contradições existentes
nos discursos relativistas proferidos pelos
Sofistas que, ao fim e ao cabo, determinavam
os rumos políticos da cidade-estado.
É, justamente, na República que Platão
fornece as principais alegorias (ilustrações)
que fundamentam a sua filosofia procurando,
sobretudo, exemplificar a soberania das ideias
Figura 24 - Platão apontado para o mundo ideal (Trecho sobre a sensibilidade. Deste modo, podemos
da pintura “A escola de Atenas” (1509 – 1511) – Rafael San-
zio)
ressaltar, principalmente, a alegoria da
Fonte: Arquivo do autor Caverna, apresentada no Livro VII, como ponto
central da fundamentação da filosofia idealista,
no qual, a superação do conhecimento-falso
VAMOS PENSAR? proveniente dos sentidos, se dá por meio
da elevação racional do sujeito em busca da
De acordo com Quadros (2016), “A visão de Platão so-
verdade, ou, em outros termos, em busca do
bre a democracia é restrita porque se concentra na
necessidade de se evitar a degradação da unidade conhecimento verdadeiro (episteme).
do poder do governante” (QUADROS, 2016 p. 27), ou- Com efeito, no diálogo platônico, a
tro ponto crucial do posicionamento platônico sobre busca pela verdade se desdobra por meio do
a democracia é que, para o filósofo, “a democracia é
método dialético, isto é, na oposição entre
tida como um governo em que o povo ocupa o poder
e dispõe uma liberdade desenfreada, sem limites e discursos contrários visando à contemplação
sem responsabilidade para prestar contas à socie- do conhecimento verdadeiro alcançado
dade” (QUADROS, 2016, p. 27). Contudo, é importante racionalmente. Tal dialética, consiste na
ressaltarmos que a democracia, como pensada por
superação do caráter relativo/opinativo do
Platão, passa por diversas transformações ao longo
da história demonstrando-se como o melhor mo-
discurso por meio da reflexão racional e
delo de governança, principalmente, por propiciar sistemática que, não obstante, conduz o sujeito
ao povo, em sua ampla maioria (sem distinções de à contemplação das ideias.
gênero, raça ou classe social) a participação nas de- Podemos ressaltar ainda que o
cisões político-sociais. Logo, a crítica platônica à de-
interesse fundamental de Platão, conforme
mocracia não resiste as concepções futuras de um
estado democrático, sobretudo, quando comparada dito na República, reside na construção de
ao pensamento de Jean-Jacques Rousseau sobre o um direcionamento educativo centrado na
contrato social e a possibilidade de fundamentação soberania da racionalidade. Assim, a educação
da sociedade civil
platônica possuiu um caráter formativo geral,
O diálogo platônico procura configurando-se, portanto, uma Paideia, isto
fundamentar o que seriam a essência é, um processo educativo que procura formar
da bondade, da ética, da legalidade, o sujeito integralmente no que diz respeito a
da justiça e da formação tendo em uma educação voltada para o corpo e para a
vista o direcionamento de cidadãos alma (mente).
racionalmente conduzidos. Em outros A Paideia de Platão apresentada,
termos, a cidade ideal, para Platão, sobretudo, no Livro III, da República, relaciona-
fundamentar-se-ia na afirmação se diretamente com a suas teorias sobre a
47
política e sobre as almas. De acordo com o uma nobre mentira, composta do seguinte
filósofo, a alma seria dividida em três partes: conteúdo: em cada uma das almas descritas
a alma racional; a alma irascível (emotiva/ acima estaria contido um elemento mineral
afetiva) e a alma apetitiva (desejosa/ imutável que conferiria às classes o seu local
objetal), sendo que cada uma dessas social estratificado, por exemplo, na alma
almas corresponderia a uma classe social racional dos governantes estaria contido o
habitante da polis e, consequentemente, a ouro; na alma irascível dos guardiões estaria
cada uma delas corresponderia um modelo contida a prata e, na alma apetitiva dos
educacional/formativo ideal. Nesse sentido, trabalhadores estaria contido o bronze.
a alma racional corresponderia à educação
filosófica direcionada aos governantes que,
Platão, denominará como Reis Filósofos; já a
alma irascível seria de posse dos guerreiros
e, portanto, a educação/formação seria
destinada ao controle das emoções e a elevação
da coragem para a defesa militar da polis;
por sua vez, a alma apetitiva corresponderia
aos trabalhadores (comerciantes; Figura 25 - O banquete de Platão (1873) - Anselm Feuerbach
Fonte: (FEUERBACH, 1829–1880)
lavradores; artesões e camponeses) e o seu
Finalmente, na República e,
modelo educacional seria fundamentado,
consequentemente, no pensamento
prioritariamente, no controle racional dos
platônico, a busca pela verdade compreende
desejos e na consequente manutenção da
a determinação de uma esfera idealista
polis.
alcançada pela racionalidade, compreendida
CLASSE ALMA FUNÇÃO VIRTUDE como vetor de busca do conhecimento
verdadeiro (episteme), em oposição à
Governante Racional Governar Sabedoria
(Rei Filósofo) realidade sensível que, durante grande parte
Guerreiros Irascível Defesa Coragem da história da filosofia, será condenada como
vetor de um falso conhecimento.
Trabalhadores Apetitiva Manutenção Equilíbrio
48
FIXANDO O CONTEÚDO
2 - UNCISAL – (Adaptada)
Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e fazer
perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o
diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua
própria ignorância. Em virtude de sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte
sob a acusação de corromper a juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar
certos valores religiosos.
Considerando essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela qual
seu pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que sua filosofia
3 - UNICAMP - Adaptada
A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto
de partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase
foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar
49
artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos
demais por reconhecer a sua própria ignorância.
5 - UFU – (Adaptada)
No pórtico da Academia de Platão, havia a seguinte frase: “não entre quem não souber
geometria”. Essa frase reflete sua concepção de conhecimento: quanto menos dependemos
da realidade empírica, mais puro e verdadeiro é o conhecimento tal como vemos descrito
em sua Alegoria da Caverna.
“A ideia de círculo, por exemplo, preexiste a toda a realização imperfeita do círculo na areia
ou na tábula recoberta de cera. Se traço um círculo na areia, a ideia que guia a minha mão
é a do círculo perfeito. Isso não impede que essa ideia também esteja presente no círculo
imperfeito que eu tracei. É assim que aparece a ideia ou a forma. ”
JEANNIÈRE, Abel. Platão. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. 170 p.
a) As ideias são as verdadeiras causas e princípio de identificação dos seres; o “mundo das
ideias” é onde se obtêm os conhecimentos verdadeiros.
b) Quando traçamos um círculo imperfeito, isto demonstra que as ideias do “mundo
inteligível” não são perfeitas, tal qual o “mundo sensível”.
c) A Alegoria da Caverna demonstra, claramente, que o verdadeiro conhecimento não
deriva do “mundo inteligível”, mas do “mundo sensível”.
d) Todo conhecimento verdadeiro começa pela percepção, pois somente pelos sentidos
podemos conhecer as coisas tais quais são.
e) Os sentidos, conforme demonstrado na Alegoria da Caverna, são os vetores fundamentais
para a obtenção do conhecimento verdadeiro.
50
Platão:
A massa popular é assimilável por natureza a um animal escravo de suas paixões e de
seus interesses passageiros, sensível à lisonja, inconstante em seus amores e seus ódios;
confiar-lhe o poder é aceitar a tirania de um ser incapaz da menor reflexão e do menor
rigor. Quanto às pretensas discussões na Assembleia, são apenas disputas contrapondo
opiniões subjetivas, inconsistentes, cujas contradições e lacunas traduzem bastante bem
o seu caráter insuficiente.
Citado por: CHATELET, F. História das Ideias Políticas. Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p. 17
a) Monarquia.
b) Democracia.
c) República.
d) Plutocracia.
e) Oligarquia.
Coluna 1:
1. Alma Racional.
2. Alma Irascível.
3. Alma Apetitiva.
Coluna 2:
( ) Guerreiros.
( ) Governantes.
( ) Trabalhadores.
a) 2,3,1.
b) 1,3,2.
c) 2,1,3.
d) 3,2,1.
e) 1,2,3.
8 - ENEM – (Adaptado)
Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento
é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre
objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento
do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012
(adaptado).
51
O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina
das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo como texto, como Platão se situa diante
dessa relação?
52
UNIDADE 5
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
53
O filósofo Aristóteles (384 a. se à investigação da totalidade do real
C. – 322 a.C.), apresenta-se como um englobando-o em um sistema conhecível
5.1 ARISTÓTELES
54
OBRA TEMA a determinação da veracidade/validade
do conhecimento. Assim, a validade da
Orgánon Lógica e Linguagem conclusão é determinada a partir da sua
Física/ História dos animais Filosofia Natural
relação com suas premissas, conferindo,
portanto, uma conexão perfeita entre
Sobre a alma/ Metafísica Metafísica
os termos argumentativos. Ademais, a
Ética a Nicômaco / Política Ética/Política lógica silogística gera uma relação de
dependência entre as preposições e as
Poética / Retórica Arte e Linguagem
conclusões, uma vez que a veracidade das
Quadro 5 - Os escritos filosóficos aritotélicos
Fonte: Adaptado de REALE, G.; ANTISERI, D. (1990. P. 175 – 176) premissas confere a validade da conclusão.
Pode-se demonstrar o procedimento
5.2 O PENSAMENTO DE dedutivo/silogístico de Aristóteles com o
ARISTÓTELES seguinte exemplo abaixo:
55
parte de generalizações (particulares) para
a determinação do universal e, sobretudo,
5.2.2 A METAFÍSICA
porque as suas conclusões não se determinam A metafísica insere-se no sistema
como verdades, mas sim como conclusões filosófico aristotélico como a filosofia primeira,
racionais ou prováveis. Deste modo, as ao perguntar-se sobre a essência dos seres.
relações entre as premissas e as conclusões Com efeito, a metafísica ocupa-se daquilo
não são completamente determinantes, uma que se encontra além da realidade, contudo,
vez que o importante é a probabilidade de diferentemente do proposto pelo pensamento
induzir a argumentação na concepção de platônico de uma metafísica fundada no
conhecimentos novos. mundo inteligível, a filosofia primeira, de
Com efeito, na indução a conclusão pode acordo com Aristóteles, pergunta-se pelo
ser induzida pelas premissas, mas não provém “ser enquanto ser” na local onde as coisas
necessariamente delas, como no método acontecem, isto é, na própria realidade.
dedutivo. Assim, as conclusões precisam, de Portanto, a busca pela essência, de
fato, serem testadas e comprovadas para a acordo com Aristóteles não prevê uma
superação da realidade física, mas, pelo
determinação de sua validade. Posteriormente, contrário, trata-se de conhecer o ser
na modernidade, a indução aristotélica será dos sujeitos e das coisas na realidade
em que se encontram inseridos
alvo de crítica devido a sua insegurança demarcando, enfim, um afastamento do
modelo dualista platônico de horizonte
como método científico, justamente, porque, metafísico. Assim, as elaborações da
por meio dela, pode-se chegar a conclusões metafísica aristotélica estão ancoradas
numa relação de reciprocidade com
errôneas. Diante disso, o método indutivo foi a Natureza. (TEODORO, 2020, p. 72 –
aprimorado pelo pensador Francis Bacon na grifos nossos)
LINK:https: //www.youtube.com/watch?v=4cZLlV-
t13WM
56
ética aristotélica: a felicidade (eudaimonia).
5.2.3 A ÉTICA E A POÉTICA Na Poética, o filósofo preocupa-se com
o local da arte na polis, pois, se o pensamento
O sistema filosófico de Aristóteles de Platão impõe uma condenação à arte ao
apresenta considerações fundamentais a dois considerá-la afastada da verdade por imitar
campos do saber filosófico, os campos da ética a realidade sensível, Aristóteles, por sua
e da poética. No que diz respeito à ética, a obra vez, reabilita a arte e, consequentemente, a
aristotélica Ética à Nicômaco apresenta-se mímesis (imitação) como parte fundamental
como uma importante fundamentação ética do humano e da vida social.
universal ao determinar-se como um modelo Segundo Aristóteles, a mímesis tem
de doutrina a ser seguido pelos habitantes da um papel determinante na constituição do
polis. No âmbito das investigações sobre as sujeito que, inicialmente, apreende o mundo
artes, A poética de Aristóteles reabilita a arte através da imitação, isto é,
como modelo de atuação pedagógico para a
[...] trata-se da reconsideração da
formação dos cidadãos da polis. arte imitativa em suas dimensões
antropológicas e culturais,
compreendendo a imitação como um
traço congênito ao sujeito, pois, desde
o nascimento, o ser humano apreende
o mundo por meio da imitação (o bebê
que imita os gestos dos pais) e, não
somente, passa a fazer parte da cultura
dos habitantes da polis o deleite com as
artes da imitação. (TEODORO, 2020, p.
85)
57
FIXANDO O CONTEÚDO
2 - UEL – (Adaptado)
A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa
mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional
próprio do homem dotado de sabedoria prática.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada ética em Aristóteles, pode-se dizer
que a virtude ética
a) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a natureza é que nos
torna mais perfeitos.
b) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o excesso ou
a falta.
c) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências pragmáticas.
d) implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que é prazeroso na falta.
e) reside no equilíbrio, que consiste numa escolha situada entre o excesso e a falta.
Ninguém delibera sobre coisas que não podem ser de outro modo, nem sobre as que lhe
é impossível fazer. Por conseguinte, como conhecimento científico envolve demonstração,
mas não há demonstração de coisas cujos primeiros princípios são variáveis (pois todas
elas poderiam ser diferentemente), e como é impossível deliberar sobre coisas que são
por necessidade, a sabedoria prática não pode ser ciência, nem arte: nem ciência, porque
58
aquilo que se pode fazer é capaz de ser diferentemente, nem arte, porque o agir e o produzir
são duas espécies diferentes de coisa. Resta, pois, a alternativa de ser ela uma capacidade
verdadeira e raciocinada de agir com respeito às coisas que são boas ou más para o homem.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
Aristóteles considera a ética como pertencente ao campo do saber prático. Nesse sentido,
ela difere-se dos outros saberes porque é caracterizada como
a) um pensamento dialético que propõe uma ruptura entre os âmbitos físicos e metafísicos.
b) um pensamento racionalista fundado na certeza do cogito e superação da realidade
física.
c) um pensamento sistemático que toma o conhecimento empírico como parte
fundamental da compreensão dos âmbitos físicos e metafísicos.
d) um pensamento unitário que propõe apenas a experiência como fundamento da
filosofia.
59
e) um pensamento político filosófico fundado na proeminência do físico sobre o metafísico.
Ao falar do caráter de um homem não dizemos que ele é sábio ou que possui entendimento,
mas que é calmo ou temperante. No entanto, louvamos também o sábio, referindo-se ao
hábito; e aos hábitos dignos de louvor chamamos virtude.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1973.
É pois manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras (pois dizemos que
conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa); ora,
causa diz-se em quatro sentidos: no primeiro, entendemos por causa a substância e a
essência (o “porquê” reconduz-se pois à noção última, e o primeiro “porquê” é causa e
princípio); a segunda causa é a matéria e o sujeito; a terceira é a de onde vem o início do
movimento; a quarta causa, que se opõe à precedente, é o “fim para que” e o bem (porque
este é, com efeito, o fim de toda a geração e movimento).
Adaptado de: ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Abril S. A. Cultural, 1984. p.16. (Coleção
Os Pensadores.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, assinale a alternativa que indica,
corretamente, a ordem em que Aristóteles apresentou as causas primeiras.
60
UNIDADE 6
A FILOSOFIA HELENISTA
61
6.1 A CULTURA HELENISTA
O termo helenista demarca um FIQUE ATENTO
período histórico que engloba o imperador “Com a expansão de Felipe II e Alexandre, o Grande, as
macedônio Alexandre Magno (356 a.C. - 323 cidades gregas perderam grande parte da autonomia
a.C.), o Grande, até a anexação da Grécia e passaram a ser parte de um império. Depois da morte
pelo Império Romano. Com efeito, devido de Alexandre, sem herdeiros, o império entrou em deca-
dência e se dividiu em três reinos. Os reinos helenísticos
à expansão das relações dos gregos com
(macedônicos, selêucidas e ptolomaico) concentravam
outros povos, permite a configuração de uma o poder no soberano absoluto, com uma corte vasta e
estrutura cosmopolita. Nesse sentido, tem-se uma poderosa burocracia – algo que, aliás, inexistia na
a noção de que os sujeitos não se restringem Grécia clássica. As assembleias democráticas desapare-
ceram, e a terra e a manufatura (cerveja, têxteis, papiro
apenas ao espaço delimitado pela polis grega,
ou óleo) tornaram-se monopólio estatal. Uma série de
mas, pelo contrário, são cidadãos do mundo golpes e contragolpes se sucedeu, e esses Estados logo se
capazes de se relacionarem com diversas fragmentaram e foram paulatinamente anexados, nos
culturas. séculos II e I a.C., pelos romanos. ”
GLOSSÁRIO
SCANEIE O CÓDIGO
E ACESSE O LINK Ademais, o período helenista demarca-se
BUSQUE POR MAIS pela profusão de escolas filosóficas preocupadas
com a difusão do modo de razão grego marcada
Alexandre, o Grande
Alexandre, o Grande (356 a.C. - 323 a.C.), pela investigação em busca da sabedoria. Nesse
foi um rei da Macedônia, líder militar e sentido segundo Reale e Antiseri (1990):
grande imperador.
Por ter sido educado pelo filósofo grego
Aristóteles dos 13 aos 16 anos, Alexandre Compreende-se assim que o
tinha uma grande admiração pela cultu- pensamento helenístico tenha se
ra helênica. ‘Era preocupação de Alexan- concentrado sobretudo nos problemas
dre difundir a cultura grega (helênica) por morais que se impunham a todos
cada lugar que passava. A união de todo o
Mediterrâneo oriental sob o seu comando
os homens. E, propondo os grandes
propiciou a criação de uma cultura única problemas da vida e algumas soluções
em que traços gregos foram misturados a para eles, os filósofos dessa época
traços regionais. ’ (NAVARRO, 2011 – grifos criaram algo de verdadeiramente
nossos). grandioso e excepcional, o cinismo, o
epicurismo e o estoicismo, propondo
LINK:https: //super.abril.com.br/mundoestranho/ modelos de vida nos quais os homens
quem-foi-alexandre-o-grande/ continuaram a se inspirar ainda
durante outro milênio e que, ademais,
tornaram-se paradigmas espirituais,
verdadeiras “conquistas para todo o
A cultura helenista marca-se pela sempre”. (REALE; ANTISERI, 1990, p. 230)
difusão dos modos de vida e cultura gregos
Com efeito, a filosofia helenística
colocados em diálogo com a pluralidade
determina a ruptura com modelo clássico
de outros saberes advindos dos povos que
proposto pela filosofia anterior e ao preocupar-
preenchiam a extensão do Império de
se com a reflexão sobre os problemas éticos e
Alexandre, dando ensejo, portanto, a uma
morais torna-se, principalmente, uma tentativa
cultura híbrida, ou seja, helenística que,
terapêutica de responder ou de cuidar dos
consequentemente, atuou como influência à
sujeitos em meio às angústias provindas das
formação do Império Romano.
obrigações resultantes da vida social. Para tanto,
conforme veremos a seguir, a filosofia helenista
62
divide-se em três modelos de compreensão
e, consequentemente, de existir no mundo
segundo três escolas de pensamento: o
cinismo, o epicurismo e o estoicismo.
63
Os ensinamentos provindos do Jardim
de Epicuro podiam, segundo Reale e Antiseri
VAMOS PENSAR? (1990), serem resumidos nas seguintes
proposições:
O Cínico e o Imperador
Conta-se que certa vez, Dióge- a) a realidade é perfeitamente penetrável
nes, o Cínico, foi surpreendido e cognoscível pela inteligência do
homem; b) nas dimensões do real existe
pelo Imperador Alexandre, o espaço para a felicidade do homem; c) a
Grande, que, com voz impera- felicidade é a falta de dor e perturbação;
tiva, perguntou-lhe sobre sua d) para atingir a felicidade e essa paz, o
homem só precisa de si mesmo; e) não
origem e sabedoria. O Cínico, sentado no chão na lhe servem absolutamente a cidade,
companhia dos cães, fez pouco caso daquele que as instituições, a nobreza, as riquezas,
lhe fazia as perguntas. Insatisfeito com a posição todas as coisas e nem mesmo os deuses:
o homem é perfeitamente “autárquico”.
de Diógenes, o Imperador apresentou-se como (REALE; ANTISERI, 1990, p. 237)
sendo Alexandre e fez a seguinte colocação:
– Venho para tirar-lhe de tal miséria, diga-me o Na filosofia epicurista a plenitude
que queres e lhe será concedido. da felicidade humana só pode ser
Tendo rompido o silêncio com um gesto das mãos,
encontrada, de fato, no próprio homem.
Diógenes lhe respondeu:
– Então movas este cavalo que estás a fazer som- Em outros termos, a felicidade seria a
bra em meu sol! manifestação do homem em seu estado
Incrédulo, Alexandre, o Grande, seguiu a sua con- de autarquia, compreendido como alguém
quista pelo mundo. Enquanto Diógenes, em sua
pleno de liberdade, de autossuficiência e
vida desprendida de bens materiais, seguiu apre-
ciando o sol na companhia dos cães. de autonomia do pensamento e das ações
realizadas consigo mesmo.
6.2.2 O EPICURISMO
64
Assim, o sujeito epicurista fundamentar-se- Epicuro, “admitia-se a discussão crítica em
ia na busca “pelo prazer de uma alma sem torno dos dogmas fundadores da escola,
perturbação (ataraxia) ” e na “fuga da dor fazendo com que tais dogmas ficassem
(aponia) ” (BRAGA JÚNIOR; LOPES, 2015, p. sujeitos a aprofundamentos, revisões e
205), ambas alcançadas, principalmente, pelo reformulações” (REALE; ANTISERI, 1990, p.
prazer filosófico. 252), deste modo, o estoicismo, em relação
às demais filosofias helenistas, beneficia-
se por meio da constante evolução de seu
FIQUE ATENTO
modelo de pensar.
LINK:https://www.youtube.com/watch?v=SQzV_dx-
Q8PQ
6.2.3 O ESTOICISMO
Apesar de ter sido fundada na
Grécia como uma filosofia da ação é,
O estoicismo, fundado por Zenão de
precisamente, em Roma que a filosofia
Cítio (333 a.C. – 263 a.C.), destaca-se no período
estoica irá se destacar, sobretudo, através
helenista como uma filosofia que afirma as
dos ensinamentos de Lucius Annaeus
virtudes através dos comportamentos ao invés
Sêneca (4 a.C – 65 d.C.) que se destacou
das palavras, em outros termos, as ações devem
como membro de Senado Romano.
ser tomadas de acordo com as crenças dos
sujeitos que as realizam.
Por ser estrangeiro, a Zenão de Cítio
não foi permitida a posse de um imóvel no
território ateniense, portanto, ele ministrava seus
ensinamentos no pórtico (stoá) da cidade. Diante
disso, os discípulos de Zenão foram chamados de
os da Estoá ou, simplesmente, estoicos.
Com efeito, tem-se como determinação
central de um estoicismo inicial pensado por
Zenão a ideia de que: “Não podemos mudar
este mundo, mas podemos compreender e viver
segundo o que essa Razão Universal propõe,
mediante a filosofia” (BRAGA JÚNIOR; LOPES,
2015 , p. 208), ou seja, há uma determinação
traçada pela racionalidade, em consonância com
as virtudes morais e com a natureza, que permite
ao sujeito adequar-se à realidade racional na qual Figura 38 - Busto de Sêneca
Fonte: (GRANDMONT, s.d)
todos os sujeitos pertencem.
De acordo com Reale e Antiseri (1990), no
Pórtico de Zenão, diferentemente do Jardim de
65
Sêneca, educado em retórica e filosofia,
pensa o estoicismo como uma modalidade
de vida moral demonstrando que a atividade
filosófica “seria um remédio para os males da alma
e uma forma de educar os homens no exercício
de ações virtuosas” (BRAGA JÚNIOR; LOPES, 2015,
p. 210). Nesse sentido, remediar os males seria a
propedêutica de uma filosofia direcionada à
condução virtuosa dos comportamentos dos
seres humanos.
Educar virtuosamente para Sêneca seria,
portanto, direcionar o sujeito racional para a
realização da distinção entre o bem e o mal e,
não muito distante dos ensinamentos propostos
pelo cínico Diógenes, ensinar é abandonar as
diretrizes que impõe a constante necessidade da
elevação material.
Finalmente, na filosofia de Sêneca, trata-se
da consolidação do ser humano como capaz de
aceitar os desmandos da fortuna, isto é, pensa-
se na construção de um homem de ataraxia e de
resiliência capaz de, com serenidade, absorver os
revezes da sorte e das coisas que se colocam como
exteriores e distantes das suas possibilidades de
determinação.
SCANEIE O CÓDIGO
E ACESSE O LINK
BUSQUE POR MAIS
O NEOPLATONISMO DE PLOTINO
Plotino (204 d.C. – 270 d.C.), destaca-se como um dos funda-
dores do neoplatonismo, doutrina filosófica que retoma os
ensinamentos de Platão e que, posteriormente, fundamen-
taram o período filosófico da Idade Média, sobretudo, a filo-
sofia patrística de Santo Agostinho (354 - 430). Para Plotino,
haveria o Uno que:
[...] Seria origem de tudo e finalidade essencial de
todos os seres – é todas as coisas e nenhuma de-
las é o uno. Ele é radicalmente transcendente, está
acima do ser e, por isso, não pode sequer ser nome-
ado. Dele procedem emanações: o noús (o intelecto
divino) e, em seguida, a alma, que se projeta para
o mundo, identifica-se com a natureza e se ema-
ranha na encarnação física. Os seres humanos, em
última análise originários do uno, devem – através
da contemplação do belo – fazer o caminho inverso,
retornar até a alma “sem mescla” e dali unir-se ao
princípio intelectual, a fim de “ver o que ele (o uno)
vê”.]” (CASTRO).
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=FDLDYQrHfjc
66
FIXANDO O CONTEÚDO
1 - (Enem 2014)
Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros,
nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem
dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito,
quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.
EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de
Janeiro: Eduff, 1974.
2 - Uenp (Adaptada)
a) apenas III.
b) apenas I e II.
c) apenas II e III.
d) todas as alternativas.
e) apenas I.
67
d) Cinismo; Platonismo. Estoicismo.
e) Materialismo; Platonismo; Estoicismo.
a) a predileção por uma vida complexa, ornamentada pelo acumulo de bens materiais.
b) a determinação de uma vida em direção à transcendência provinda pelas riquezas da
alma.
c) a busca pelo exercício do pleno prazer material.
d) a busca por uma vida simples, autossuficiente e vivida segundo suas próprias convicções.
e) a delimitação de uma vida segundo critérios de exterioridade.
a) Materialismo e epicurismo.
b) Cinismo e idealismo.
c) Estoicismo e epicurismo.
d) Existencialismo e cinismo.
e) Epicurismo e platonismo.
a) que o ser humano deve resignar-se à fortuna e desesperar-se diante dos acontecimentos
exteriores.
b) que o ser humano deve aceitar os desmandos da fortuna e possuir resiliência e serenidade
para compreender que os acontecimentos exteriores ocorrem independentemente da sua
vontade.
c) que o ser humano deve ater-se a fortuna que lhe impõe os valores materiais como
determinações infalíveis.
d) que a vida do ser humano pode ser estritamente controlada segundo as determinações
exteriores.
e) que não há direcionamento que não possa ser remediado pelas ações de homens não
virtuosos.
a) Racionalidade.
b) Materialidade.
c) Idealismo.
d) Empirismo.
68
e) Prazer.
69
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO
QUESTÃO 1: C QUESTÃO 1: B
QUESTÃO 2: D QUESTÃO 2: C
QUESTÃO 3: D QUESTÃO 3: E
QUESTÃO 4: C QUESTÃO 4: D
QUESTÃO 5: A QUESTÃO 5: A
QUESTÃO 6: C QUESTÃO 6: E
QUESTÃO 7: B QUESTÃO 7: D
QUESTÃO 8: A QUESTÃO 8: E
QUESTÃO 1: B QUESTÃO 1: C
QUESTÃO 2: E QUESTÃO 2: B
QUESTÃO 3: C QUESTÃO 3: D
QUESTÃO 4: C QUESTÃO 4: C
QUESTÃO 5: C QUESTÃO 5: A
QUESTÃO 6: A QUESTÃO 6: B
QUESTÃO 7: D QUESTÃO 7: C
QUESTÃO 8: A QUESTÃO 8: C
QUESTÃO 1: B QUESTÃO 1: A
QUESTÃO 2: E QUESTÃO 2: D
QUESTÃO 3: A QUESTÃO 3: C
QUESTÃO 4: C QUESTÃO 4: D
QUESTÃO 5: A QUESTÃO 5: C
QUESTÃO 6: C QUESTÃO 6: B
QUESTÃO 7: A QUESTÃO 7: E
QUESTÃO 8: D QUESTÃO 8: A
70
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