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DA ANTIGUIDADE TARDIA
PROF. DR. JOEL GRACIOSO
REITORIA:
Dr. Roberto Cezar de Oliveira
PRÓ-REITORIA:
Prof a . Ma. Gisele Colombari Gomes
DIREÇÃO DE GESTÃO EAD:
Prof. Me. Ricardo Dantas Lopes
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS:
Diagramação
Revisão textual
Produção audiovisual
Gestão
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
01
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA FILOSOFIA DA ANTIGUIDADE TARDIA
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................4
1. AS ESCOLAS HELENÍSTICAS....................................................................................................................................5
1.1 O EPICURISMO.........................................................................................................................................................5
1.2 O ESTOICISMO........................................................................................................................................................5
1.3 O CETICISMO...........................................................................................................................................................6
2. NEOPLATONISMO..................................................................................................................................................... 7
2.1 PLOTINO................................................................................................................................................................... 7
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................ 10
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. AS ESCOLAS HELENÍSTICAS
1.1 O Epicurismo
O fundador da primeira escola helenística foi Epicuro, nascido no ano 341 a.C., em
Samos. Em torno do ano 306, funda a sua Escola, que, pelo fato de se reunir com seus discípulos
em torno de um Jardim, assim será conhecida.
Epicuro retoma muitas teses do atomismo antigo, mostrando, assim, sua perspectiva
materialista, seja no âmbito da física, seja na compreensão que tinha do conhecimento humano.
Para ele, a experiência imediata e a conservação dos elementos provenientes dela serão os
referenciais fundamentais para se entender o modo como conhecemos.
Sua reflexão ética, assim como as das outras escolas, terá a preocupação de encontrar qual
o bem que devemos possuir para que, assim, consigamos atingir a ataraxia e, por conseguinte, a
vida feliz. A felicidade para Epicuro estará vinculada ao prazer. O que significa isso?
Desde a Antiguidade, muitos o acusaram de hedonista e escravo das paixões. Porém,
1.2 O Estoicismo
A dimensão sistemática da Filosofia é bastante salientada pelos estoicos. Esta teria três
partes fundamentais: a física, a lógica e a ética. Por intermédio da metáfora da árvore, explicavam
a relação entre essas três partes. A física seria a raiz; a lógica, o tronco; e a ética, os frutos. Assim,
a dimensão mais elevada seria a ética, pois indica justamente os frutos que poderão ser colhidos
da árvore do saber. Todavia, isso não é possível sem as raízes (física) e o tronco (lógica).
Assim, o mundo das ações humanas deve ser compreendido a partir do mundo natural,
da natureza, do universo, pois a realidade humana é um pequeno mundo dentro desse grande
Cosmos. Ora, o mundo natural, para os filósofos do pórtico, é uma estrutura racionalmente
organizada, sendo possível, portanto, estabelecer uma explicação meramente racional da
realidade. O real é racional. Assim, na doutrina da apropriação defendia-se que há um logos
divino que penetra a realidade e rege todas as coisas, inclusive o mundo humano.
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Dessa forma, para agir eticamente e assim atingir a vida feliz, o homem precisa agir
conforme os princípios e leis naturais. É necessário estar em harmonia com o cosmos. A boa
ação, portanto, é aquela que está de acordo com a Natureza que se identificará com o divino.
Dessa maneira, viver segundo a natureza é viver segundo a razão, pois o real é racional.
Mas também é viver segundo as virtudes, pois, com a aquisição e ajuda delas, consigo, por
exemplo, distinguir o bem do mal, o que temer e o que não temer e estar de fato em harmonia
com o Cosmos. Elas seriam a causa e perfeição da vida feliz, mostrando a autossuficiência do
homem. O homem, portanto, para ser feliz não pode ser dominado pelas suas paixões, desejos
ou prazeres. O princípio ou o comando do seu agir deve ser a razão com o auxílio das virtudes.
Todavia, desde a Antiguidade muitos questionamentos foram feitos ao pensamento
estoico devido à sua concepção de mundo, de natureza, pois implicaria a noção de destino e de
necessidade. Ora, esse contexto fatalista não anularia a liberdade humana? Para os estoicos, não. O
homem deve escolher agir de acordo com a lei natural, conforme os preceitos éticos e fazer o que
deve ser feito. Todavia, precisa também entender que os acontecimentos são predeterminados pelo
destino. Assim, por um lado, deve realizar as ações eticamente corretas, mas, concomitantemente,
precisa ter um espírito de resignação, isto é, aceitar as consequências de nossas escolhas e ações e,
1.3 O Ceticismo
O Ceticismo no mundo antigo tem três momentos. Primeiramente, encontramos a
filosofia de Pirro, que, apesar de não ser considerado o fundador do ceticismo, seu pensamento
sempre é correlacionado com a tradição cética. Num segundo momento, temos a figura de
Arcesilau e Carnéades no contexto da Academia platônica em sua fase cética. E, por fim, Sexto
Empírico com seu ceticismo suspensivo.
Conhecemos alguns pontos da filosofia pirrônica por intermédio de seu discípulo Tímon
de Flios, pois o mestre nada escreveu. Segundo seu relato, Pirro defendia a impossibilidade de
conhecermos a realidade tal como ela é em si mesma, pois tanto a razão quanto os sentidos
não nos fornecem os elementos necessários para atingirmos esse conhecimento. Ora, se é assim,
deve-se, então, evitar estabelecer uma posição sobre essas questões sobre a realidade das coisas e,
dessa maneira, atingir a tranquilidade de espírito e, por conseguinte, a felicidade.
Para os Acadêmicos, primeiramente Arcesilau, não há de fato critérios seguros para
distinguir o verdadeiro do falso. Assim, o encontro da verdade é algo impossível, e a melhora
postura seria, em geral, evitar emitir juízos sobre as coisas, ou seja, a prática da époche. Todavia,
a necessidade de se fazerem escolhas e tomar decisões continua na vida cotidiana. Dessa forma,
devido a essa necessidade, o razoável será considerado o critério residual para se fazer essas
escolhas. Carnéades, num segundo momento da escola, irá salientar mais a noção de provável
como referência para a tomada de decisões.
Entretanto, Sexto Empírico, retomando alguns elementos do pensamento de Pirro, irá
criticar o pensamento dos Acadêmicos, que não eram considerados céticos autênticos por ele.
O cético autêntico seria aquele que sempre está procurando, não afirmando ou negando nada.
Segundo Sexto, os acadêmicos, ao afirmarem que é impossível encontrar a verdade, estariam
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caindo num dogmatismo negativo, mas que não deixa de ser uma postura dogmática, oposta ao
ceticismo.
A posição cética por excelência seria caracterizada pela suspensão de juízo quanto à
questão de algo ser verdadeiro ou falso. Assim, o único ceticismo que mereceria esse nome seria
o ceticismo suspensivo defendido por ele.
Notamos, portanto, que, no contexto helenístico, o pensamento cético está geralmente
vinculado à noção de époche, mesmo que tenha sido interpretado de maneiras diferentes por
Arcesilau e Sexto Empírico. Assim, no entendimento dos céticos, na procura pela verdade o
homem acaba se deparando com uma diversidade enorme de opiniões e posicionamentos sobre as
mais variadas questões. O problema é que há uma oposição e contradição entre essas perspectivas
teoréticas e, na medida em que cada uma se considera a única verdadeira, uma acaba anulando a
outra. Logo, é preciso escolher uma e rejeitar as outras. Contudo, na medida em que não há um
critério totalmente seguro para fazer esse discernimento, não é possível identificar qual resposta é
a mais verdadeira e, dessa forma, parece que todas estão no mesmo nível. Nessa situação, segundo
o cético, parece que o melhor a fazer é suspender o juízo sobre as coisas, libertando-se de qualquer
perturbação na alma e, assim, atingindo a ataraxia e a vida feliz.
2.1 Plotino
O que sabemos sobre Plotino procede principalmente da obra feita por Porfírio, Vida de
Plotino. Nasceu em Licópolis, em 205 d.C. A partir de um determinado momento de sua vida,
dedicou-se totalmente à filosofia. Participou da escola de Amônio Sacas durante onze anos. Teve
a oportunidade de fazer uma expedição ao Oriente, coisa que lhe interessava muito, e, assim,
conhecer melhor a sabedoria oriental, assimilando muitos elementos dessa tradição. No ano 244,
estabelece estadia em Roma e cria sua escola, com um viés religioso e místico muito claro. Sua
reputação e prestígio como filósofo aumentará cada vez mais, sendo procurado e consultado por
diversas razões.
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Ora, a partir dessa perspectiva metafísica, segundo a qual tudo procede do uno e precisa
retornar a ele, se estabelece um princípio ético basilar, ou seja, cada alma humana precisa,
livremente, querer e alcançar o uno. O êxtase, isto é, o tocar o uno, para Plotino é possível nesta
vida. Enfim, para de fato retornar ao princípio absoluto, é necessário e suficiente percorrer o
caminho das virtudes, da beleza e da dialética.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
02
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA FILOSOFIA DA ANTIGUIDADE TARDIA
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................ 12
1. OS PADRES DA IGREJA............................................................................................................................................ 13
2. SANTO AGOSTINHO................................................................................................................................................. 13
2.1 O ITINERÁRIO AGOSTINIANO................................................................................................................................ 13
2.2 A RELAÇÃO ENTRE FÉ E RAZÃO ......................................................................................................................... 15
2.3 DEUS E A VIA DA INTERIORIDADE....................................................................................................................... 17
2.4 O DRAMA HUMANO E O DESEJO POR DEUS...................................................................................................... 19
2.5 O MAL......................................................................................................................................................................20
2.6 SANTO AGOSTINHO E PLOTINO...........................................................................................................................22
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................24
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INTRODUÇÃO
A Patrística é o período dos Padres da Igreja e é nela que encontramos o início da Filosofia
Cristã. Mas quem foram os Padres da Igreja? Qual a importância deles?
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1. OS PADRES DA IGREJA
Nos primeiros séculos da Igreja, existiram vários escritores que colaboraram para a
elaboração da doutrina cristã, dos dogmas, tendo, assim, uma importância muito grande no
desenvolvimento da Igreja Cristã e da reta explicitação das verdades da fé, combatendo as mais
diversas heresias. Esses autores são os Padres da Igreja, havendo, entre eles, bispos, presbíteros,
diáconos e leigos.
Pelo fato de estarem mais próximos do cristianismo primitivo e, por conseguinte, da
tradição apostólica, os seus textos possuem uma autoridade muito peculiar segundo a fé católica,
pois deixaram um conjunto de reflexões filosóficas, meditações bíblicas e explicitações teológicas,
formando um patrimônio perene na sua essência.
Desde o início da Igreja, a Patrística, esse período dos Padres, foi se dividindo entre
Patrística Grega e Patrística Latina, havendo grandes nomes dos dois lados, tais como: Santo
Atanásio, São Basílio, São João Crisóstomo, São Cirilo de Alexandria, São Gregório de Nissa, no
Oriente. Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho, São Gregório Magno, no Ocidente.
2. SANTO AGOSTINHO
No desenvolvimento do pensamento patrístico, muitos Padres da Igreja foram relevantes.
Todavia, no mundo Ocidental Santo Agostinho foi aquele que mais se destacou e influenciou o
desenvolvimento do pensamento filosófico.
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decepciona Agostinho, vendo nas Escrituras algo muito rudimentar se comparado ao pensamento
de Cícero. Devido a essa dificuldade de aceitar as Escrituras e dando continuidade à sua busca,
ele se aproxima do maniqueísmo, uma corrente filosófico-religiosa que lhe parecia, naquele
momento, propor a verdadeira forma de cristianismo.
Os maniqueus prometiam levar a fé por intermédio da razão e apresentavam uma resposta
para o problema da existência do mal no mundo que tanto incomodava Agostinho: se Deus é o
Sumo Bem e o Criador de todas as coisas, como explicar a existência do mal no mundo, que tem
por origem o Sumo Bem? Deus pode ser a causa do mal? De onde vem o mal?
O maniqueísmo era um tipo de gnose, ou seja, um movimento que defendia existência
de um conhecimento superior prometido a um grupo de privilegiados, os seus iniciados.
Ademais, era uma doutrina que prometia a salvação, a qual consistiria em adquirir um certo tipo
de conhecimento que revelaria à alma sua verdadeira natureza. A alma, para o maniqueísmo, é
concebida como uma parcela do divino perdida no mundo, na matéria, da qual é preciso libertar-
se. Dessa maneira, a alma humana só consegue se salvar na medida em que toma consciência do
seu estado de prisioneira.
Para explicar a existência do mal no mundo, o pensamento maniqueísta parte de uma
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Agostinho não leu tanto os textos do próprio Platão, e, sim, alguns tratados das
Enéadas, de Plotino, como também textos de Porfírio e outros.
A questão do termo materialismo em Agostinho é algo controverso, pois a noção
de matéria no pensamento agostiniano possui algumas peculiaridades. A noção
de matéria espiritual, por exemplo, é algo que se insinua nos textos, mas que é
interpretada de maneira diversa pelos comentadores. Ademais, o materialismo
para ele parece incluir numa mesma escola filosófica maniqueístas, epicuristas e
estoicos. Os primeiros, com seu orgulho absolutizando o mal e problematizando
a imutabilidade divina. Os segundos buscando a felicidade na satisfação das
necessidades naturais. E os últimos na identificação da sabedoria/felicidade com
a apatia. Enfim, para Agostinho o materialismo parece ser a expressão filosófica
que absolutiza o temporal e o espacial, identificando-o com a vida feliz e a
totalidade do real. Assim, nessa perspectiva só é real algo sujeito ao tempo e ao
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verdade revelada pelo próprio Deus. Logo, para esses autores, precisamos apenas do Evangelho
de Cristo, da fé. Contudo, ele não concorda com essa postura.
Na sua obra A fé nas coisas invisíveis, como também na sua carta 120, ele mostra como a
fé é algo imprescindível na vida humana e como fé e razão precisam caminhar juntas.
Para Santo Agostinho, a vida em sociedade e as relações humanas se tornariam impossíveis
se não houvesse o exercício da crença. Eu não tenho acesso direto ao íntimo do outro. Eu não
tenho conhecimento de tudo e não consigo verificar tudo. Logo, em diversas situações mostra-se
a necessidade da fé.
Porém, a fé não substitui a razão, mas a pressupõe. Crer é um pensar com assentimento.
Ora, se de fato a fé é isso, então, está implicado tanto a presença da razão quanto da vontade, pois,
ao pensar sobre aquilo que está sendo proposto como objeto de fé, é preciso a presença da razão
e o seu uso. Todavia, a fé não se configura, apenas, como um pensar sobre algo que está sendo
oferecido como objeto de crença, mas, sim, um pensar com assentimento, ou seja, um pensar no
qual já vai ocorrendo também o ato de aceitar livremente aquilo sobre o que estou pensando. Isso
mostra, portanto, que há uma presença e exercício da razão no próprio ato de fé. Se, por um lado,
a fé é um dom de Deus, por outro lado, pressupõe a presença de uma natureza específica para
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Ao entender isso, a razão, a partir do exercício que lhe é próprio, vai compreendendo suas
limitações e vendo a necessidade de ir além de si mesma. Entende que sua origem e identidade
estão numa Razão Superior Transcendente e que, para atingir essa realidade, precisa da fé.
Por isso a investigação sobre a relação entre fé e razão é tão importante para Santo
Agostinho.
Nos Solilóquios, a própria razão, após questionar Agostinho sobre o que ele quer conhecer,
manda-o rezar. Essa postura oracional mostra a necessidade da humildade na busca pela verdade.
A fé amplia os horizontes da razão, mostrando que a realidade não se reduz àquilo que
pode ser apreendido por ela. Ao mesmo tempo, colabora para que seja uma razão humilde, e não
soberba. Ao desafiar a razão com as verdades reveladas, a fé mostra para ela que, apenas com
suas capacidades naturais, não consegue entender e explicar tudo. Da mesma forma que a fé gera
esperança, pois estimula a razão a continuar buscando entender.
É assim que devemos interpretar o famoso lema agostiniano: creio para compreender.
Agostinho usa a expressão Filosofia Cristã. Com isso, no fundo quer indicar o próprio
cristianismo. Fé e razão, apesar de serem distintas, não podem trabalhar separadas. O Deus
adorado deve ser conhecido. E o Deus conhecido deve ser adorado. Filosofia e Teologia estão
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encontro com a tradição platônica. O contato com ela possibilita a Agostinho a descoberta do
Nosce te ipsum do oráculo de Delfos. Em vários momentos, no seu itinerário e nas suas obras,
salienta a importância do conhecimento de si. Reconhece que a filosofia tem um duplo objeto, a
alma e Deus, isto é, o conhecimento de nós mesmos e de nossa origem. A partir dessa descoberta,
a busca da verdade, da beatitude, não se dará mais a partir do exterior, com os olhos sensíveis e
seus critérios, mas, sim, a partir do interior e no mais íntimo dele.
Mas o que seria a interioridade para Agostinho? Ela se identificaria apenas com o ato de
reflexividade ou com a estrutura do espírito humano?
Para Agostinho, a interioridade parece ser também um processo, um voltar-se cada vez
mais para o interior até o mais íntimo de si, do que apenas a estrutura da alma, do homem
interior. É o movimento em si da interiorização.
O bispo de Hipona, na sua releitura desse seu encontro com a tradição platônica, reconhece
a dimensão providencial de tudo isso, a ajuda divina. A inspeção do espírito ocorre sob a guia
de Deus e devido ao seu auxílio. Isso posto, Agostinho descreve que viu uma luz imutável com o
olhar da sua alma, a mente (mens), e que essa luz estava acima dela.
Num segundo momento, estabelecida a mudança de registro da exterioridade para o
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Percebe-se, então, que a inquietude humana, segundo Agostinho, está, por um lado,
ligada a esse chamado do criador para com a criatura humana e, por outro lado, à condição de
pecador do homem. Pelo fato de ter sido criado para Deus, o homem só encontra repouso em
Deus. Todavia, como superar esse antagonismo entre o homem pecador, miserável e a grandeza
de Deus a fim de atingir e possuir o repouso tão desejado?
É preciso um mediador para que isso ocorra. Cristo é esse mediador. O ser humano
necessita da graça. Ora, a realidade encarnada do Lógos ou o mistério da encarnação é importante,
segundo o bispo de Hipona, porque revela ao homem seu verdadeiro estado por meio da via da
humildade.
Ou seja, o verbo encarnado pela sua humildade-humilhação revela ao homem sua situação
de dilaceração e debilidade e, ao mesmo tempo, mostra-lhe a necessidade da graça e indica-lhe
uma certa postura a ser seguida.
Para Agostinho, o objetivo principal do Cristo era ser um exemplum. Em que consistiria
esse exemplum salientado por Agostinho?
O Cristo com toda a sua vida veio nos mostrar o amor que devemos ter ao eterno, e não
tanto às realidades temporais. Contudo, o grande exemplum do Cristo, segundo Agostinho, foi a
2.5 O Mal
É preciso uma análise da questão da existência do mal no mundo, porque a origem e
fundamento do mundo é Deus, criador e sumo bem. Ora, como o mal pode existir num mundo
que tem por origem o Sumo Bem? Isso não seria uma grande contradição? Logo, a concepção de
Deus como Suma Bondade, Criador e Providente requer uma resposta razoável para a existência
do mal no mundo, pois, senão, a racionalidade do real estará abalada e a própria busca por Deus.
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Para Santo Agostinho, é preciso analisar o problema do mal e sua existência a partir
de aspectos diferentes e respeitando a ordem necessária. Ou seja, primeiramente é necessário
abordar a questão do mal do ponto de vista ontológico e, depois, na sua dimensão moral.
Assim, metafisicamente falando, pelo fato de as criaturas não serem como Deus (imutável,
incorruptível) e serem corruptíveis, isso não as transforma em algo mau. A partir desse princípio,
Agostinho procura estabelecer uma nova maneira de se entender a presença do mal no mundo.
Se as criaturas fossem absolutamente boas, não poderiam se corromper, mas não seriam
o que são, isto é, criaturas. Por outro lado, se não tivessem nenhum grau de bondade, pergunta
Agostinho, como poderiam ser corrompidas visto que a corrupção é a perda de um bem e, por
isso mesmo, um mal? Em outros termos, se as coisas criadas podem se corromper, diferentemente
de Deus, que é incorruptível, é porque elas são boas, e não más em si mesmas.
Assim, a corrupção, o mal, enquanto privação do ser, ou não existe de todo, ou existe como
carência de um bem e na medida em que esse bem subsiste. Por conseguinte, a corrupção total é
inconcebível, pois tudo o que é, pelo simples fato de ser, já é bom. Logo, se perder totalmente sua
bondade, deixa de existir. Assim, enquanto existem, são boas.
Consequentemente, o mal não é uma substância, porque, se fosse, seria um bem, afinal,
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Para Agostinho, além disso, há uma distinção entre criar e gerar. O fato de algo ser
originado em Deus não significa que tenha a mesma substância dele. Na Cidade de Deus, o bispo
de Hipona explicita a diferença entre criar, fabricar e gerar. A noção de criação implica a produção
a partir do nada. Deus tudo produziu ou chamou à existência sem matéria preexistente. Assim,
uma realidade pode proceder de outra, seja por criação, geração ou fabricação. O homem, imerso
no tempo em que também foi criado, pode gerar filhos, fabricar artefatos, mas não pode criar,
pois, com suas limitações de criatura, não pode doar o ser como ser, mas apenas produzir esta ou
aquela modalidade do ser. O criar pode ser apenas atribuído a Deus.
Assim, todos esses pontos mostram que, por mais que Santo Agostinho tenha sido
influenciado pelo pensamento de Plotino, há divergência em pontos cruciais.
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REFERÊNCIAS
BEZERRA, C. C. Compreender Plotino e Proclo. Petrópolis: Vozes.
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