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O conhecimento

e implicaçoes
para a Educaçao
O conhecimento e
implicações para a Educação
Qual a diferença entre conhecimento e sabedoria? Por que dizemos
“sabedoria” e não conhecimento? Há diferença entre os dois termos?
Sim.

Entende-se que a sabedoria é um passo que se dá a mais no conhecimento.


A filosofia define o conhecimento em dois sentidos:
Sentido amplo, geral, e
Sentido restrito.

Segala e Streck, (2014, p. 41)


O conhecimento e implicações para a Educação

Sentido amplo ou geral:


Significa a percepção ou a consciência que se tem de algo. Por exemplo, o
conhecimento de quem é atualmente o Presidente da República, o
conhecimento do que disse fulano na TV, o conhecimento de que o efeito
estufa é uma realidade. Trata-se de uma consciência superficial, que pode
ser fruto de uma experiência vivenciada por mim ou pode ser alguma
informação recebida, que, por sua vez, pode tanto estar certa, quanto
equivocada.

Segala e Streck, (2014, p. 41)


O conhecimento e implicações para a Educação

Sentido restrito e específico:


O conhecimento significa a tomada de consciência do que entendemos por
verdade. A verdade consiste em buscar sempre. É um estar a caminho, pois ela
não pertence a ninguém, e também, não é posse. Ela está diante de nós.

Segala e Streck, (2014, p. 41)


O conhecimento e implicações para a Educação

O filósofo é, então, um peregrino, inquieto e insatisfeito, na busca da verdade n


ão como algo já pronto, estático, mas, que está sempre em construção.
Nesse sentido, existe uma pretensão e busca da verdade, mas essa
verdade, também é contingente (JASPERS, 1976).
Nessa busca incansável, os filósofos foram mais além. Era preciso
buscar um tipo de conhecimento que possibilitasse o ser humano a
manter a clareza de consciência diante de sua existência. Esse
conhecimento é o que conduz à vida boa, chamado de sabedoria.

Segala e Streck, (2014, p. 41)


O conhecimento e implicações para a Educação

Segala e Streck (2014), definem três etapas ou gêneros de conhecimento:


1. Sensação e Percepção;
2. Memória;
3. Imaginação.

1. Sensação e Percepção

O que é sensação:
É a forma como nossos sentidos captam as informações que chegam até nós
(cheiro, sabor, cor, toque, audição, toque). Você pode perceber que, muitas
vezes, damos mais atenção a um sentido do que a outro. Dependendo da
situação, alguns deles podem passar despercebidos.

Segala e Streck, (2014, p. 48)


O conhecimento e implicações para a Educação

1. Sensação e Percepção

O que é percepção:
Percepção: é tudo aquilo que captamos por meio dos
sentidos, porém com uma intencionalidade.
Mas o que vem a ser intencionalidade? Mais uma vez, vamos recorrer
à raiz da palavra intencionalidade, que vem de intenção e significa um plano,
um propósito, um desejo, uma ideia, uma aspiração. (p. 49)
Segundo os filósofos intenção é a relação entre consciência e objeto.

Segala e Streck, (2014, p. 49)


O conhecimento e implicações para a Educação

A percepção apresenta as seguintes características:


Sensorial;
Corporal;
Significativa;
Relação entre o sujeito e o mundo;
Tudo é parte de um todo;
Percepção é comunicação;
É parte de nossa história;
Sociabilidade.

Segala e Streck, (2014, p. 43/44/45)


O conhecimento e implicações para a Educação

Percepção e teoria do conhecimento:


A teoria do conhecimento apresenta três concepções principais da percepção:
Visão das Teorias Empiristas;
Visão das Teorias Racionalista;
Na concepção Fenomenológica.

Existem diferentes percepções. Essas distintas percepções têm o


seu modo peculiar de ser, porque ao percebermos, sempre percebemos
as coisas, os objetos, a partir de âmbitos diferentes. Isso possibilita
corrigir uma percepção por meio de outra.

Segala e Streck, (2014, p. 47)


O conhecimento e implicações para a Educação

Depois de esclarecermos o significado dos vocábulos sensação, percepção e intencionalidade,


vamos focar nosso estudo na percepção, pois ela é um dos caminhos necessários para a
construção do conhecimento. Vejamos dois exemplos de funcionamento da percepção em nosso
dia a dia.
É preciso pensar que, quando percebemos a realidade, devemos percebê-la como um todo e não
em pedaços. Assim, se você olha uma casa a uma distância de mais ou menos trinta metros, você
não vai dizer que viu apenas uma janela, ou uma porta. Provavelmente, dirá que viu uma casa e
o que mais lhe chamou a atenção foram suas janelas brancas.
Outro exemplo. Se eu for a um concerto, não vou dizer que ouvi o som do violoncelo, do trompete,
ou do violino. Vou dizer que ouvi a música.Isso mostra que, apesar de termos intencionalidade
maior sobre algumas coisas que chegam até nós através dos sentidos, nossa percepção aplicasse
sempre a um todo do que é observado.

Segala e Streck, (2014, p. 49/50).


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2. Memória:
Como guardar tudo aquilo que captei por meio da percepção? Será que o
cérebro é capaz de guardar e processar tudo o que ele apreende? O que fazer
com essas informações?
A palavra memória origina-se do grego mnemis ou do latim, memoria e, nas
duas línguas, significa conservar uma lembrança.
Segala e Streck, (2014, p. 51)
Nossa mente é capaz de guardar muitas coisas. A memória toma esses dados e
busca organizá-los de modo que possamos presentificar essas lembranças.
Neste sentido, a memória é ativa, pois atua como uma interface nas nossas
recordações e lembranças.

Segala e Streck, (2014, p. 52)


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2. Memória
Lembrança e identidade do Eu

A memória é responsável pelo armazenamento das coisas importantes que


sentimos e vivemos no passado. Ela guarda tudo o que já não existe
fisicamente, mas que podemos vivenciá-la a partir das lembranças. Nossa
primeira experiência do tempo é a memória.
Proust, em seu livro Em busca do tempo perdido, aponta que, para alguns
filósofos, a memória é a garantia de nossa própria identidade. Também se
pode dizer que a memória é como se fosse o “eu” de cada um que reúne
tudo o que um dia já fomos e tudo o fizemos (apud Chauí, p. 125).

Segala e Streck, (2014, p. 53)


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2. Memória
O que é a memória?

É a própria atualização do passado. É o registro de tudo aquilo que vivenciamos


no presente de modo a conservá-lo vivo na lembrança.
Existem dois fatores que contribuem para o processo de memorização: o fator
subjetivo e o objetivo. Segala e Streck, (2014, p. 54)
Fatores objetivos:

Podemos dizer que os elementos objetivos são “as atividades físico-fisiológicas


e químicas degravação e registro cerebral das lembranças bem como a estrutura
do objeto que será lembrado” (p.128).

Segala e Streck, (2014, p. 54)


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Fatores subjetivos:
Os elementos subjetivos são importantes para a memorização porque
trazem em seu bojo o significado emocional e afetivo do fato ou das coisas
para nós. Faz parte do subjetivo a forma como algo ou alguma coisa nos
impressionou e ficou gravada em nós e, assim por diante.

Segala e Streck, (2014, p. 55)


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2. Memória
Memória, teoria e conhecimento

Vamos refletir agora a partir do ponto de vista da teoria do conhecimento


quais são as quatro funções da memória:
Retenção;
Reconhecimento;
Recordação;
Evocar o passado.
As funções da memória fazem com que ela seja fundamental para a “elaboração
da experiência e do conhecimento científico, filosófico e técnico” (p.130).

Segala e Streck, (2014, p. 56)


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Memória
Memória, teoria e conhecimento

Existem dois tipos de perturbação que podem ocorrer na memória:


Afasia e Apraxia.

A afasia é a perda da capacidade de lembrar palavras e de construir frases.


Já a apraxia é a perda da capacidade para lembrar e também de realizar gestos
e ações. Esse transtorno pode ser causado por “lesões físicas (no cérebro ou no
sistema nervoso) ou traumas psicológicos, isto é, por situações de grande
sofrimento psíquico que nos forçam a esquecer alguma coisa, algum fato,
alguma situação”(p.130).

Segala e Streck, (2014, p. 56)


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3. Imaginação
Cotidiano e imaginação

Continuando nossa reflexão passemos agora para o tema


imaginação (imagem + ação).
A imaginação é a capacidade que temos “para elaborar mentalmente
alguma coisa possível, algo que não existiu, mas poderia ter existido, ou
que não existe, mas poderá vir a existir” (p.131).
Tanto de forma positiva como negativa, a imaginação refere-se ao que não existe.

Segala e Streck, (2014, p. 57-58-59)


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3. Imaginação
A fenomenologia e a imaginação

Sempre que falamos em imagens, estamos nos referindo a coisas bastante


diversas tais como quadros, ficções literárias esculturas, filmes fotografias,
reflexos em um espelho ou nas águas, lendas contos e mitos, figuras de
linguagem (como a metáfora e a metonímia), sonhos, alucinações, devaneios,
dança, sons musicais, poesia e imitações pela mímica, etc.

Segala e Streck, (2014, p. 59)


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3. Imaginação
A fenomenologia e a imaginação

Entre essas imagens uma primeira diferença pode ser logo percebida: algumas
imagens são exteriores tais como as pinturas, esculturas, fotos, filmes, mímica
etc.; já outras, são interiores ou mentais. Por exemplo, um sonho, uma fantasia
ou uma alucinação.
Segala e Streck, (2014, p. 59)

A imagem, embora seja irreal é dotada de um poder especial, qual seja, o poder
de presentificar algo ausente seja porque esse algo existe e não se encontra onde
estamos, seja porque é inexistente.

Segala e Streck, (2014, p. 60)


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3. Imaginação
Consciência imaginativa

A fenomenologia, diferente da tradição, afirma que a consciência imaginativa


é uma consciência diferente da percepção e da memória.
Nessa concepção, o papel da imaginação é fazer com que entremos em contato
com aquilo que está ausente e também com aquilo que não existe.Um exemplo é
o livro e o modo como percebo e me relaciono com ele.
Com sua presença, pois o livro existe. Então, “imaginar um livro, é criar uma
relação com a imagem do livro percebido ou com um livro ausente e inexistente,
que ainda não foi escrito e é apenas o-livro-possível” (p.133).

Segala e Streck, (2014, p. 60-61)


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3. Imaginação
Consciência imaginativa
Por esse motivo, a imaginação não contém a totalidade de um objeto. Se você
imaginar um edifício ou uma rua terá que imaginá-lo de uma só vez, por inteiro.
Portanto, na sua imaginação a rua ou o edifício possuem uma única face e é essa
face que existe em imagem. Assim,
“podemos ter muitas imagens da mesma rua ou do mesmo edifício,
mas cada uma delas é uma imagem distinta das outras” (p.134).

Segala e Streck, (2014, p. 61)


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3. Imaginação
As modalidades de imaginação

Tendo presente a diferença entre imaginação reprodutora e imaginação


criadora, podemos distinguir cinco modalidades de imaginação.
Imaginação reprodutora;
Imaginação evocadora;
Imaginação irrealizadora;
Imaginação fabuladora;
Imaginação criadora.

Segala e Streck, (2014, p. 62-63)


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3. Imaginação
Imaginação e teoria do conhecimento

Existem duas faces da imaginação:


A primeira é auxiliar para o conhecimento da verdade e a segunda de perigo
imenso para o conhecimento verdadeiro. Quando lemos os relatos dos cientistas
sobre suas pesquisas e investigações, com frequência eles se referem aos
momentos em que tiveram que imaginar, isto é, criar pelo pensamento a
imagem total ou completa do fenômeno pesquisado para, graças a ela,
orientar os detalhes e pormenores da pesquisa concreta que realizavam (p.135).

Segala e Streck, (2014, p. 64)


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3. Imaginação
Imaginação e teoria do conhecimento

Essa imagem possui dois aspectos contrários. A primeira é negadora e a


segunda é antecipadora. Diz-se negadora porque possibilita ao cientista a
liberdade de negar, de recusar as teorias já existentes. E antecipadora porque
é possível ao cientista ver de antemão qual o significado de sua própria
pesquisa, mesmo que ela ainda esteja inacabada, em andamento. Assim,
imaginação, ao mesmo tempo, orienta e encoraja o pensamento para que
negue os conhecimentos já existentes e parta em busca de novos
conhecimentos.

Segala e Streck, (2014, p. 64)


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3. Imaginação
Imaginação e teoria do conhecimento

Existe outro tipo de imaginário: o reprodutor. Agora surge um tecido de imagens


ou um imaginário, que esse, desvia nossa atenção da realidade e é utilizado, ou
que serve para nos dar compensações ilusórias para as desgraças de nossas vidas
ou de nossa sociedade, ou que é usado como máscara para ocultar a verdade. O
imaginário reprodutor (nas ciências, na Filosofia, no cinema, na televisão, na
literatura etc.) bloqueia nosso conhecimento porque apenas reproduz nossa
realidade, mas dando a ela aspectos sedutores, mágicos, embelezados, cheios
de sonhos que já parecem realizados e que reforçam nosso presente como algo
inquestionável e inelutável (p.136).

Segala e Streck, (2014, p. 64)


O conhecimento e implicações para a Educação

3. Imaginação
Imaginação e teoria do conhecimento

É o imaginário das explicações prontas e acabadas que justificam a realidade.


É nesse ponto que o imaginário reprodutor precisa ser visto e analisado com
cautela, pois ele pode tornar-se uma ideologia no momento em que passa a
se reproduzir socialmente.

Segala e Streck, (2014, p. 64)


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3. Imaginação
Imaginação e teoria do conhecimento

Existe também uma diferença entre que a imaginação reprodutora que se


distingue da imaginação utópica. A palavra utopia deriva do grego. Seu
significado é “em lugar nenhum e em tempo nenhum” (p.136). Desse modo,
a imaginação utópica é capaz de criar outras realidades. Seu objetivo é
mostrar desgraças, erros, angústias, violências e opressões que surgem
ou estão presentes na realidade. Diante dessa realidade cruel, o objetivo
da utopia é despertar em nossa imaginação o desejo de mudança.
Segala e Streck, (2014, p. 64-65)
O conhecimento e implicações para a Educação

3. Imaginação
Imaginação e teoria do conhecimento

A diferença está nesse ponto: “enquanto o imaginário reprodutor procura abafar


o desejo de transformação, o imaginário utópico procura criar esse desejo em
nós” (p.136). Assim, a utopia nos permite sonhar e acreditar numa sociedade que
não existe em tese. A utopia nos ajuda a conhecer a realidade presente e lutar
pela transformação dessa sociedade sempre buscando o melhor. Enquanto o
imaginário reprodutor trabalha com o mundo das ilusões, a imaginação criadora
e a imaginação utópica atuam no campo da invenção do novo, das mudanças.
Isso só é possível através do conhecimento crítico do presente.

Segala e Streck, (2014, p. 65)


O conhecimento e implicações para a Educação

3. Imaginação
Imaginação e teoria do conhecimento

Na prática educacional, trabalhamos muito com a construção do conhecimento.


Somos “profissionais do conhecimento”. Assim, contemplamos e respeitamos as
três etapas do conhecimento apresentadas por Chauí (percepção, memória e
imaginação) ou deixamos acontecer “ao natural”?

Segala e Streck, (2014, p. 66)


Referências
SEGALA, Aldino L.; STRECK, Danilo R. Filosofia da Educação. São Leopoldo:
Editora Unisinos, 2014. E-book (Coleção Unisinos).
Disponível em: http://www.biblioteca.asav.org.br/biblioteca.
Acesso em: 08 jul. 2021.
Material produzido por
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