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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE

CURSO DE PSICOLOGIA
INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO PSICÓLOGICA

A HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO BRASIL


1940 – 1950

Gabriella Alves da Silva Sant'anna


Habitat Andriato
Laíse Martins Duarte Andrade
Maria Gabriela Soares
Quélita Rafaely Rocha de Azevedo
Vitória Gabriela

Governador Valadares, 28 de Agosto de 2023


Década de 1940:

Em termos de mercado de trabalho, a partir das décadas de 1940 e 1950, o


psicólogo passou a atuar, cada vez mais, nas áreas de Educação e do Trabalho
(Esch & Jacó-Vilela, 2001). O processo de industrialização, sobretudo no governo de
Getúlio Vargas, abriu um novo espaço no mercado de trabalho para a psicologia.
Para a mentalidade de administração racional do trabalho, então predominante,
fazia-se necessário o ajustamento dos funcionários para o desempenho perfeito de
tarefas. Por essa razão, cresceu a demanda por classificação, seleção, e
recrutamento de pessoal. Essas funções careciam de mão de obra qualificada.
(PEREIRA e PERREIRA NETO, 2003)

No Rio de Janeiro, o Instituto de Seleção e Orientação Profissional da


Fundação Getúlio Vargas (ISOP/FGV), criado em 1947 sob a direção de Emílio Mira
y López (1896-1964), oferece inúmeros cursos de extensão. Mira y López é um
divulgador constante da Psicologia, através de conferências e artigos em jornais
diários (Rosas, 1997) e sua presença é, sem dúvida, relevante para os
acontecimentos dos anos 1940 a 1960 na Psicologia brasileira. Sua contribuição na
disseminação da Psicologia é evidente, realizando conferências e escrevendo
artigos que enriqueceram a compreensão da disciplina. (VILELA, 2012)

Aqui encontramos explicitamente a atuação profissional do psicólogo,


chamado às vezes de psicotécnico ou de psicologista. Não mais subsumido sob o
mando da educação, o profissional do final dos anos 40 em diante está no campo da
seleção e da orientação profissional, como no ISOP (ou na Estrada de Ferro
Sorocabana, em São Paulo, ou ainda no Banco da Lavoura, em Belo Horizonte),
está nas escolas, principalmente nas experimentais, e começa a atuar na clínica,
realizando psicodiagnóstico infantojuvenil, orientação de pais e mesmo orientação
vital. Em todos esses campos, os testes psicológicos serão o instrumental
privilegiado para a atuação do novo profissional. (VILELA, 2012)

Cabe ressaltar que em 1945, época da vinda Mira y Lopez ao Brasil, já não se
pode dizer que um slogan como “O Brasil precisa crescer” possa ser lido da mesma
forma que em 1930. Novos acontecimento já tomaram vulto no país e são outras as
necessidades a serem solucionadas pelos novos “senhores do conhecimento”.
Nesse prisma, é interessante lembrar que na primeira etapa da atuação dos
psicotécnicos (década de 30) o que prevaleceu foi a seleção profissional e não a
orientação profissional, ou seja, a busca de trabalhadores para um certo tipo de
serviço e não a orientação para uma melhor capacitação do indivíduo, buscando um
trabalho compatível com suas capacidades e qualidades. Já a década de 40 parece
trazer um novo espírito em relação às atribuições destinadas ao Estado, ao setor
privado e ao que tais instituições devem exigir do e propiciar ao trabalhador
brasileiro; ou seja, tais setores se mostram mais sensíveis em relação à formação e
potencialidades deste trabalhador. Houve uma mudança perceptível nas atitudes em
relação ao papel do Estado e do setor privado na formação e desenvolvimento dos
trabalhadores, refletindo em uma abordagem mais abrangente e sensível. (VIERA,
2004)

Conforme Viera, a primeira vinda de Mira y Lopez ao Brasil ocorre a convite


de várias entidades públicas (entre elas a USP, o SENAI, o DASP e o Centro de
Estudos Franco da Rocha) para que pronuncie conferências sobre Psicologia
Aplicada, em São Paulo e no Rio de Janeiro, em 1945. Suas palestras têm uma
repercussão surpreendente, o que acarreta nova vinda ao país neste mesmo ano.
Sua influência foi tão significativa que suas palestras tiveram um impacto notável,
resultando em sua estada prolongada no país para contribuir na criação do Instituto
de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), uma instituição que desempenhou um
papel crucial na disseminação e ensino da Psicologia Aplicada. Tal projeto será
realizado com a criação do Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP),
cujo objetivo principal era a difusão e o ensino da Psicologia Aplicada em seus
campos de atuação, ou seja, Psicologia do Trabalho, Educacional e Clínica. Para o
ISOP, a orientação profissional tinha como objetivo “oferecer a uma elite um
processo de escolha mais aperfeiçoado.” (LANGENBACH, 1982, p.52).

Década 1950:

A década de 1950-1960 foi muito produtiva para os pesquisadores brasileiros


interessados na construção de testes para a nossa realidade. Investimentos de
agências federais ou estaduais para a seleção e orientação profissional
colaboraram, decisivamente, destacando-se o impulso nesta área dado pelo Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) em 1942, e Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAC) em 1946 (Pasquali, 2016; Scheeffer, 1970). As
agências governamentais, como o SENAI e SENAC, desempenharam um papel
significativo no desenvolvimento da área de seleção e orientação profissional,
proporcionando um ambiente favorável para a criação de testes e medidas
adequados à realidade brasileira. No campo educacional, pesquisas de
desenvolvimento de testes e medidas foram impulsionadas por organizações
particulares, como a Sociedade Pestalozzi do Brasil (Campos, 2001) ou por
instituições de ensino e pesquisa, tais como o Instituto Nacional de Educação
Pública (INEP) (Pfromm Netto, 1981). Houve também uma ênfase na pesquisa
educacional, com organizações particulares e instituições de ensino
desempenhando um papel importante no desenvolvimento de testes e medidas para
avaliar inteligência, interesses e aptidões. (BASTOS, 2015)

Nesta época, foram criados testes brasileiros na área da inteligência,


interesses e aptidões, tais como: Inteligência Verbal de Jacyr Maia, em 1950, Bateria
de Aptidões - DAT, em 1953, Inteligência Não-Verbal – INV de Pierre Weill em 1955,
Inteligência Geral – AG3 do SENAI (Santos, 2003). Algumas baterias de aptidões
continuaram a ser utilizadas por várias décadas sem nenhuma preocupação com
atualização de normas, tais como a Bateria Fatorial do SENAC, e a Bateria Fatorial
do CEPA. O desenvolvimento de diversos testes de inteligência, interesses e
aptidões contribuiu para a avaliação mais abrangente dos indivíduos, destacando a
importância da medida desses aspectos para orientação educacional/profissional.
Assim se refletem as tendências próprias deste período com a preocupação pelas
diferenças individuais, motivação, aptidão e vocação, sobretudo, relacionadas à
orientação educacional/profissional e à valorização dos testes psicológicos (Antunes,
2002). Essa preocupação com a individualidade e a valorização dos testes
psicológicos se alinham com as mudanças na sociedade e no mercado de trabalho
da época. (BASTOS, 2015)

PRÁTICOS X ACADÊMICOS: QUEM TEM DIREITO SOBRE A TERRA


PROMETIDA?

Que clima propicia o surgimento de uma nova profissão? Quais são os fatores
que levam um saber a alcançar o estatuto de cientificidade? Quem determina se tal
ou qual conhecimento é legítimo ou não? Essas questões perpassam todo o
desenrolar do surgimento da Psicologia como profissão em nosso país, bem como o
de qualquer prática que tenha como ambição maior se dizer, ou se pretender,
científica. A implicação de Mira y Lopez quanto à regulamentação da profissão de
psicólogo está marcada desde o início desta história, já que o primeiro anteprojeto
de profissionalização foi criado pelo ISOP e pela Associação Brasileira de
Psicotécnica, dos quais Mira y Lopez era diretor e secretário-geral, respectivamente.
A presença dos psicotécnicos nos mais variados setores da vida pública nacional
acarreta a necessidade de se estabelecer algum mecanismo que normalizasse a
proliferação desses profissionais, conforme pode ser compreendido pela
argumentação de Rosas (1995, p. 105). (VIERA, 2004).

Conforme Cunha (2000), o ano de 1954 é marcado por dois grandes eventos:
cria-se a Associação Brasileira de Psicologia, a 10 de outubro, e o Arquivo Brasileiro
de Psicologia publica o anteprojeto da lei sobre a formação de Psicólogo. Esses
eventos marcantes em 1954, como a criação da Associação Brasileira de Psicologia
e a publicação do anteprojeto de lei sobre a formação de psicólogos, destacam o
compromisso crescente com a regulamentação e consolidação da profissão.

De 1941 a 1951, os interesses anteriores continuaram sendo


complementados pelo da Psicologia do Desenvolvimento e pela preocupação em
relação aos cuidados quanto ao uso e à aplicação dos testes psicológicos.
Posteriormente a 1951, o centro do interesse voltou-se para a avaliação da
personalidade, orientação profissional, desenvolvimento infantil como também na
adaptação de instrumentos à cultura brasileira. Nas décadas seguintes, o foco
passou também para as estratégias de intervenção grupal, desenvolvimento e
construção de testes e técnicas, sem, no entanto, haver equivalência com o número
de pesquisas realizadas no período anterior (1941 – 1951). Eram os anos de ouro da
Psicometria e da Avaliação Psicológica no Brasil (Noronha & Alchieri, 2002, p.10).
REFERÊNCIAS

Pereira, F. M., & Pereira Neto, A.. (2003). O psicólogo no Brasil: notas sobre seu
processo de profissionalização. Psicologia Em Estudo, 8(2), 19–27.

Vilela, A. M. J.. (2012). História da Psicologia no Brasil: uma narrativa por meio
de seu ensino. Psicologia: Ciência E Profissão, 32(spe), 28–43.

Viera, H. M (2004). Uma revolução e um revolucionário? A psicologia na época


de Mira Y Lopez. Mnemosine Vol. 1, nº0, p.193-198

Bastos, A. V. B. (2015). História da avaliação psicológica no Brasil: perspectivas


e tendências. Revista de Psicologia da UNESP, 14(1), 51-62.

Cunha, J. A. (2000). História da Psicologia no Brasil. Pioneiros e


contemporâneos. São Paulo: Editora EDUC.

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