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TEMA II | EU

A COGNIÇÃO - Síntese

1. O que se entende por cognição?

A cognição é o conjunto de mecanismos através dos quais cada um de nós adquire, trata,
conserva e explora informação produzindo conhecimento. Diz respeito a importantes funções
que asseguram ao organismo os ganhos de informação necessários às suas trocas ativas com o
meio, incluindo sensação e perceção, memória e atenção, aprendizagem e inteligência.

2. O que é a sensação?

Sensação é a reação dos órgãos recetores sensoriais aos estímulos do meio. Permite
transformar a energia do estímulo (luminoso, mecânico ou químico) num impulso elétrico, que
segue, através dos neurónios, até ao cérebro.

3. Como se distingue sensação de perceção?

A sensação diz respeito ao modo como os órgãos sensoriais captam os estímulos e aos
mecanismos que permitem que essas informações sejam transmitidas ao cérebro enquanto a
perceção se refere ao processamento posterior da informação sensorial, cujo resultado são as
representações ou construções mentais dos estímulos.

4. Como se relacionam sensação e perceção?

Sensação e perceção são, respetivamente, o princípio e o fim de um processo relativamente


contínuo. Ao contrário da sensação, a perceção é um processo cognitivo, embora se trate do
mais elementar e básico de todos os processos cognitivos.

5. Que fatores influenciam a perceção?

Os fatores que influenciam a perceção são de duas ordens: inata (biológica) e aprendida
(social). Ou seja, no que respeita à perceção, ao modo como compreendemos o mundo, somos
influenciados por mecanismos fisiológicos (figura/fundo, agrupamento, profundidade e
constância percetiva), mas também por necessidades, crenças, emoções, expectativas. As
experiências com o precipício visual, de Eleanor Gibson e Richard Walk, apontam para a
importância da dimensão inata da perceção, mostrando como a perceção de profundidade nos
bebés se reflete na relutância em se aproximarem de áreas percebidas como profundas. As
várias experiências com ilusões alertam para o papel do meio e da cultura na forma como
percebemos o mundo. Por exemplo, a ilusão de Ponzo mostra como o facto de estarmos
habituados a recorrer a determinados indicadores de profundidade nos leva a interpretar
incorretamente a informação.

6. Que papel desempenha a perceção na vida quotidiana?

Por um lado, a perceção permite-nos interpretar o mundo que nos rodeia e, nesse sentido,
desenvolver mecanismos, por exemplo, de autoproteção face à perceção de um ambiente
potencialmente perigoso ou hostil; por outro lado, torna possíveis todos os demais processos
cognitivos (memória e aprendizagem, por exemplo).

7. O que é a memória?

A memória é a habilidade de adquirir e conservar informação ou representações da


experiência passada com base nos processos mentais de codificação, retenção e recuperação.

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8. Como se distinguem os três tipos de memória?

As memórias sensorial, de curto prazo e de longo prazo diferem entre si quanto à natureza,
período de permanência da informação e capacidade.

9. Qual o papel da atenção?

Para que a informação não se desvaneça e possa ser transferida da memória sensorial (MS)
para a memória de curto prazo (MCP), é necessário o envolvimento da atenção, que
corresponde, de forma simples, à capacidade de focar um evento ou situação. Falamos em
propriedades seletivas da atenção quando nos referimos à capacidade de nos concentrarmos
em alguns estímulos e ignorarmos outros. Falamos em atenção dividida quando tentamos
focar os sentidos em mais do que um estímulo ou quando intercalamos a nossa atenção com
outra tarefa.

10. Como se distinguem memórias explícitas de memórias implícitas?

As memórias implícitas (procedimentais) incluem procedimentos e ações, são coisas que


sabemos mas nas quais não pensamos de forma consciente, são hábitos e capacidades
motoras, como andar de bicicleta ou desenhar uma forma. As memórias explícitas
(declarativas) incluem factos e proposições e dizem respeito às coisas que sabemos por termos
lembrança.

11. Quais as diferenças entre memória episódica e memória semântica?

Dentro das memórias explícitas (declarativas), distingue-se entre memória episódica ou


autobiográfica, que diz respeito à nossa narrativa e história pessoal, e memória semântica, que
está associada ao conceito de cultura geral.

12. Como se relacionam os três tipos de memória?

As três memórias funcionam interdependentemente. A MS constitui a primeira etapa no


estabelecimento de um registo duradouro das nossas experiências. Permite conservar as
características físicas de um estímulo (visual, auditivo, olfativo, tátil ou gustativo) captado
pelos órgãos sensoriais durante algumas frações de segundo. A MCP permite guardar
informação durante cerca de 20 segundos. Funcionando como uma unidade processadora
ativa e extremamente útil, a MCP constitui uma importante memória de trabalho, permitindo
a exploração da informação da MS (através da repetição) e mantendo presente informação
guardada na MLP (através da recuperação). Dos três tipos de memória, a MLP é aquela que se
aproxima mais daquilo a que vulgarmente chamamos «memória». É relativamente ilimitada,
permanente e construída, tal como a MS e a MCP, a partir de todas as modalidades dos
sentidos, armazenando os conhecimentos que possuímos de nós mesmos e do mundo durante
longos períodos de tempo.

13. A memória humana é fiável? Porquê?

A memória humana está muito longe de ser um registo fotográfico fiel e objetivo de factos e
acontecimentos. Inclui esquecimentos, distorções, falsas atribuições e, inclusivamente,
efabulações e mentiras, mesmo que inconscientemente construídas (investigações de
Elizabeth Loftus e Daniel Schacter).

14. Qual o papel do esquecimento?

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É preciso, constantemente, adquirir e esquecer. O esquecimento é uma condição necessária à
memória, sem a qual não poderemos continuar a recordar. É não apenas uma realidade
inerente à memória como também, e essencialmente, uma necessidade.

15. Que ordens de fatores estão implicados na memória?

Como nos demais processos cognitivos, biológicas e sociais.

16. Qual o papel da memória na vida quotidiana?

A nossa relação com o meio exterior não faria sentido se não existisse uma forma de registar e
relembrar os resultados de interações prévias. Disso nos dá exatamente conta o trágico
destino de H. M. com que se abre o capítulo da cognição. Incapaz de formar novas
recordações, H. M. nada pode aprender, desconhece quem é, onde vive e nada sabe sobre a
sua própria vida.

17. O que se entende por aprendizagem?

Aprendizagem é uma mudança relativamente estável e duradoura do comportamento ou das


capacidades do indivíduo, adquirida como resultado da observação, estudo ou experiência,
que se traduz num aumento do seu reportório de competência e saberes.

18. O que distingue a aprendizagem comportamental da aprendizagem cognitiva?

Enquanto na aprendizagem comportamental o enfoque está apenas nos eventos observáveis,


na aprendizagem cognitiva são feitas inferências sobre os processos mentais que não são
diretamente observáveis (mapas mentais de um labirinto, por exemplo). No primeiro caso, a
aprendizagem resulta da associação entre estímulos e respostas; no segundo caso, a
aprendizagem decorre do processamento da informação, isto é, o sujeito procura a
informação mais relevante do estímulo. A aprendizagem cognitiva defende, pois, que entre o
estímulo e a resposta existe a dimensão cognitiva dos indivíduos e o seu espaço mental.

19. Como acontece a aprendizagem na perspetiva do condicionamento clássico?

No condicionamento clássico utilizamos a associação entre estímulos para antecipar um


evento, ou seja, um estímulo condicionado provoca uma resposta condicionada após o
organismo ter passado por um processo de treino ou aprendizagem.

20. Como se enuncia a lei do efeito de E. Thorndike?


A lei do efeito postula que numa dada situação, todo o ato que produz um estado de coisas
satisfatório é mantido ou reforçado. Inversamente, as ações cujos resultados conduzem a um
estado de coisas incómodo ou nulo serão tendencialmente enfraquecidas ou eliminadas.

21. Como acontece a aprendizagem na perspetiva do condicionamento operante?


No condicionamento operante utilizamos a associação entre o nosso comportamento e as suas
consequências, repetindo-o ou evitando-o consoante produza, respetivamente, bons ou maus
resultados.

22. Que papel têm o reforço e a punição?

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Ao contrário do reforço, que pretende aumentar a frequência do comportamento, a punição
visa reduzir a sua ocorrência. Num caso e no outro, o positivo e o negativo querem dizer
adicionar e eliminar, respetivamente, não tendo nada a ver com bom ou mau, prazeroso ou
doloroso.

23. Quais as principais diferenças entre condicionamentos clássico e operante?


O condicionamento clássico assenta, fundamentalmente, na ideia que os comportamentos se
modificam a partir da introdução de estímulos, ao passo que o condicionamento operante
defende que as alterações comportamentais estão essencialmente ligadas à existência de
reforços (positivos ou negativos). As principais diferenças prendem-se com os seguintes
aspetos: princípio básico (aprendizagem passiva e por associação de estímulos, versus uma
aprendizagem ativa, por reforço e punição; a natureza do comportamento: automático e
involuntário, versus instrumental e voluntário; ordem dos eventos: depois do
condicionamento, o estímulo condicionado gera uma resposta condicionada (um novo
estímulo produz uma resposta reflexa antiga), versus uma aprendizagem que depois da
consequência, reforço ou punição, a frequência do comportamento aumenta ou diminui,
respetivamente, por isso, um novo estímulo produz um novo comportamento. Exemplos: a
salivação de um animal na expetativa de comida quando soa uma campainha; no caso do
condicionamento operante: carregar numa alavanca para receber comida (reforço positivo);
pôr o cinto de segurança para evitar uma multa (reforço negativo) e suspender as saídas com
os amigos até melhorarem as notas (punição).

24. Como se desenrola a aprendizagem por insight?


A aprendizagem por insight relaciona-se com a compreensão súbita da ligação entre
elementos de uma mesma situação, ligação essa que permite resolver uma situação ou
problema. Por exemplo, os chimpanzés de Köhler, que estavam presos em jaulas, conseguiam
ver bananas e varas. Estas tinham que ser percebidas como elementos do mesmo problema,
pois só assim os chimpanzés conseguiriam usar os utensílios à sua disposição para chegar às
bananas.

25. Em que consiste a aprendizagem por mapas cognitivos?


A aprendizagem por mapas cognitivos (ou latente) desafia a exclusividade da aprendizagem
comportamental e mostra a relevância dos processos mentais na mudança de
comportamento. Tolman concluiu, através das experiências realizadas com ratos num

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labirinto, que estes criavam mapas mentais do labirinto, apesar de só alterarem
comportamento quando era introduzida uma recompensa.

26. Como acontece a aprendizagem vicariante?


O sujeito observa um modelo cujo comportamento é reforçado. Esse reforço vicariante
(reforço do comportamento do modelo observado) funciona como motivação para imitação do
conjunto de respostas observado, na medida em que cria a expectativa de uma recompensa,
passando a conduta a fazer parte do conjunto de respostas comportamentais do sujeito.

27. Qual o papel da aprendizagem na vida quotidiana?


Uma boa parte daquilo que somos ou sabemos resulta de uma ou de outra forma de
aprendizagem. Aprender não é apenas adquirir, é também, por exemplo, abandonar condutas
consideradas impróprias ou desajustadas. Nesse sentido, a aprendizagem não só é
fundamental para conhecermos o mundo mas também para a ele nos ajustarmos.

28. É tarefa fácil definir inteligência? Porquê?


Não é tarefa fácil, uma vez que se trata de um conceito com uma forte componente
intracultural, encerrando inúmeras definições e questões, nomeadamente as que se prendem
com a sua estrutura e organização.

29. Como se caracteriza a inteligência para a teoria bifatorial da inteligência?


A teoria bifatorial a inteligência tem por base um único fator geral – fator G. Esta inteligência
geral, comum a todas as atividades inteligentes, expressa uma energia mental sobre a qual se
estabelecem e desenvolvem fatores S (ou aptidões específicas). A inteligência supõe, pois, a
combinação do fator G (capacidade para discernir relações complexas), o qual está presente
num mesmo indivíduo no mesmo grau, independentemente dos atos intelectuais, e de fatores
específicos, ou fatores S, responsáveis por atividades intelectuais específicas.

30. Como se caracteriza a inteligência para a teoria multifatorial da inteligência?


Para a teoria multifatorial, a inteligência não reside num único fator geral, mas na combinação
de sete aptidões gerais, designadas aptidões mentais primárias, diversas na sua natureza e
relativamente independentes entre si: compreensão verbal, fluência verbal, numérica,
espacial, memória, velocidade percetiva e raciocínio.

31. Como é entendida a inteligência para a teoria das inteligências múltiplas?

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Para a teoria das inteligências múltiplas, a inteligência é entendida holisticamente: as
capacidades cognitivas humanas, independentes entre si, envolvem oito inteligências
(linguística, lógico-matemática, corporal-cinetésica, musical, espacial, interpessoal,
intrapessoal e naturalista).

32. O que se defende na teoria triárquica da inteligência?


A teoria triárquica da inteligência defende que esta é a súmula de três inteligências (ou três
maneiras diferentes de se ser inteligente): inteligência criativa, inteligência analítica e
inteligência prática. Cada indivíduo pode aplicar a inteligência a muitos problemas de diferente
natureza, podendo ser mais bem-sucedido perante uns do que outros.

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