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N. Brox, La primeira carta de Pedro, Salamanca 1994, 214-216.
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UM BALANÇO HISTÓRICO
I. Evocação histórica desta disciplina
O uso mais antigo da expressão “teologia fundamental ˮ, o podemos encontrar no início
do século XVIII, mesmo que a sua formulação como disciplina não aparece até XIX, em
particular com o título de «apologética». Não obstante isto, devemos ter presente que a
teologia fundamental ou apologética, assim como apareceu no século passado, afunda as
suas raízes mais propriamente no tratado de “ lugares teológicos (loci theologici) da fé e,
ainda, nas “ questões disputadas ˮ medievais referidas em modo particular as analises da
fé (analysis fidei), nonché nas controvérsias contro o luteranismo e o calvinismo até em
1550 – com um testemunho clara na Catecismo Romano de 1556, no capítulo dedicado
às quatro notas da Igreja – pelos quais vem desenvolver uma apologética a dois níveis : o
tratado De Vera Religiao e, em seguida, aquele De Vera Ecclesia.
Mas o movimento filosófico e cultural representado pelo iluminismo no século XVIII,
refuta ou nega os fundamentos do pensar teológico e prepara o “ nascimentoˮ
propriamente dito, já no século XIX, de uma nova disciplina académica, com o nome ou
de teologia fundamental ou, de apologética. Como consequência da nova situação
espiritual, cultural e política do iluminismo, no qual o cristianismo e a religião de
identificar-se e o cristianismo tornou-se alguma coisa de particular em relação à
sociedade, nos inícios do século XIX, a apologia veio a constituir-se como disciplina
teológica autónoma. O que se verificou seja em campo protestante, onde F.D.E.
Schleiermarcher (1768-1834), foi o primeiro a falar de prolegomeni apologéticos a toda
a teologia, sendo ele o iniciador da filosofia da religião, seja em campo católico, com o
fundador da Escola de Tubinga e verdadeiro iniciador da apologética, J.S. Drey (1777-
1853). Contemporaneamente, no Colégio Romano – a Universidade Gregoriana daquele
tempo – G. Perrone S.J. (1794-1876), e a Escola Romana, isolaram definitivamente a
apologética. Mas vejamos, agora, mais detalhadamente, o contexto do nascimento desta
disciplina, para compreender melhor a sua impostação e as suas características iniciais.
II. O contexto do nascimento desta disciplina: o iluminismo
O iluminismo tornou-se um termo que não só indica uma época (do século XVIII até ao
XIX), mas também um movimento histórico-cultural. Este movimento se
autocompreende como o início de uma transformação mundial, como uma nova época
que quer mudar radicalmente o pensamento e o comportamento dos homens, mas também
as instituições estatais e sociais. Neste modo, a história da humanidade vem entendida
4
como história do progresso e da liberdade que se faz sempre mais grande, tanto que razão
e liberdade se unem numa forte aliança: a razão se coloca ou se põe como fim, a liberdade
e a liberdade entende ligar-se só á razão. Com o iluminismo, o Ocidente cessa de ser
inequivocamente cristão e emergem tendências de tipo «deístico» - vale a dizer um
«deus» só natural – e sucessivamente tomada de posições filosóficas e científicas de
inspiração ateia ou quanto menos agnóstica. Se produz, de consequência, uma grande
fratura e contraposição entre o universo religioso de uma parte e, da outra, o universo
cultural no qual, também quando permanece a referência à transcendência, é prevalente a
evocação à autonomia da razão crítica. Neste sentido, é emblemático o título da obra de
I. Kant (1724-1804), A religião entre os limites da só razão (1793), como a realização da
religião seguindo o insistente convite do iluminismo: Sapere aude ! (osa pensar!), vale a
dizer: tenha a coragem de usar a tua cabeça!), convite este que em seguida assumirá um
tom muito mais ameaçador nas paginas do pai do ateísmo de massa, L. Feuerbach (1804-
1872).
Ora bem, a crítica iluminística, enquanto verificação da condição da possibilidade da
revelação, do reconhecimento do seu acontecer histórico da determinação do seu valor
referido ao conhecimento e relação com Deus, não tem um significado exclusivamente
negativo e destrutivo da revelação, mas também um significado positivo. De facto, as
repercussões da moderna crítica da religião e da revelação sobre a autoconsciência da fé
cristã, são enormes: se pode dizer que o interesse para a revelação, se fez mais forte
próprio por causa da insistência desta critica, também se não é esta a causa última,
naturalmente. E então, em concomitância com esta critica iluminista, aparecem os
primeiros tratados sistemáticos sobre a revelação, e vem assim configurando-se uma nova
disciplina: a apologética da religião e da revelação. De facto, o que interessa tanto ao
iluminismo quanto à revelação, é a iluminação; neste sentido, ambos evocam a
experiência de luz e, em definitiva, à Deus como fonte de qualquer luz, ambos perseguem
o próprio empenho ao serviço da verdade. A este ponto, se coloca como problema
permanente a questão acerca da relação entre a fé revelada e pensamento iluminado.
Se nota, pois de facto, que a critica iluminista do conceito de revelação, se move numa
relação de odie t amo (odio e amor) em relação ao cristianismo, passando frequentemente
por uma posição inicialmente mais reducionista a um final mais aberto, como
testemunham por exemplo Fichte e Schelling, e o mesmo Kant. Tudo isto mostra ou
evidencia claramente aquilo que tinha sido dito a «dialética» do iluminismo, segundo a
definição de M. Horkheimer e Th. Adorno, isto é, a necessidade intrínseca da sua
5
manuais apologéticos mais difusos, na explicação que dão as mesmas Atas do concílio, o
verbo demonstrar aparece mitigado pelas palavras «em certo sentido» (aliquo vero
sensu). E ainda: a fórmula, também essa muito difusa, sobre «credibilidade evidente» da
revelação (DH 3013), foi lida como «evidência racional vinculante», enquanto nas Actas
conciliares, essa vem explicada nestes termos: «credível é enquanto se pode acreditar
prudentemente (prudenter credi potest): podemos e devemos acreditar alguma coisa se é
moralmente certo que, foi revelada, ou que existem motivos moralmente certos (moraliter
certum). Podemos dizer, que alguns outros aspectos de Dei Filius, favoreceram uma
leitura estrinsecista da revelação. Por exemplo, a afirmação que existe uma «dupla
ordem» de conhecimento (DH 3015; 3004s.) favoreceu uma visão sobreposta da
revelação. Também a definição da fé como «obséquio da inteligência e da vontade» e
«credente com a razão» (DH 3008.) consolidou uma certa visão prevalente intelectualista
da fé. Do outro lado, a falta de referência explicita a Jesus Cristo, se se acentua a única
citação de Hebreus 1,1 (DH 3034), deixou na sombra o cristocentrismo da revelação. Em
compenso, teve a sorte de melhorar a recta ratio fide illustrata que abriu a estrada à
tríplice missão específica da reflexão teológica – reconhecido agora como clássico –
centrado sobre a «analogia», sobre a conexão dos mistérios entre eles e com o fim último
do homem (cfr. Dh 3016). Assim, a teologia dos manuais mais difundido, sem um
conhecimento das Actas conciliares, viu no Vaticano I uma confirmação da orientação
apologético – demonstrativo, radicado numa compreensão literal deste concílio. E uma
tal orientação neo-escolástico contribui para consolidar a mais nota e influente
apologética católica de tipo especificamente defensivo, inspirada ao estrinsecismo
nominalístico: a assim dita “ via modernaˮ, iniciada no século XIX, que foi a mais difusa
na ensinamento da teologia até ao Vaticano II2. O esquema habitual desta apologética
demonstrativa, é, aquela dividida em três partes: 1) a existência de Deus e da religião
(demonstrativo religiosa); 2) a existência da verdadeira religião (demonstrativo
christiana); 3) a existência da verdadeira Igreja (demonstrativo catholica). É, desde os
inícios do século XX que, aparecem tratados consagrados a justificar
epistemologicamente as suas posições, tanto respeito à filosofia, quanto em relação com
a teologia dogmática. Assim, os escritos de A. Gardeil, La crédibilité et l´apologétique
(1908) e de R. Garrigou, De Revelatione (1930), com o influente Dictionnaire
2
Nota n. 20..
8
3
Nota 21
9
seus significados de fé. Era esta, portanto, a colocação dominante nos manuais até ao
Vaticano II.-----------------------------------------------------p. 23.
4
Nota 22.
10
A raiz hebraica fundamental que exprime o crer: “ amanˮ, significa «ser estável e
seguro» e é expressa com Ámen que indica um empenho solene, preciso e irrevogável,
sempre num teológico. Analogamente, o verbo grego pistéuein, presente nos LXX e no
Novo contexto Testamento, conserva o significado hebraico do ato total da pessoa que
descreve a reta relação com Deus e, portanto, a essência da religião6. Como síntese da
visão do Antigo Testamento e do Novo Testamento, se pode afirmar que a fé é adesão
total – o Amén7 - do homem à palavra definitiva e salvadora de Deus. E na totalidade
humana deste ato, aparecem estes três aspetos:
1) o conhecimento e confissão da acção salvífica de Deus na história;
2) a confiança e submissão à palavra de Deus e aos seus preceitos, se não que
3) a comunhão de vida com Deus, e junto orientada para a escatologia. Existe, porém,
uma clara diferença de acento entre a fé antigo testamentária e aquela neotestamentária,
pois que na primeira o aspeto de confiança é aquele dominante e, invés, na segunda é
primordial o aspeto de conhecimento e de confissão. Esta diferença é determinada pela
singularidade do evento de Cristo, que a define como fé propriamente cristã8.
5
Nota n. 23.
6
Cap. I p. 160, nota n. 157
7
N. n. 158.
8
Nota n. 159.
11
1Pt 3,15
«prontos sempre a dar resposta (απολογίαν)
A qualquer que vos pergunte a razão (λόγον)
da (fé e da) esperança que está em vós»
9
Nota 160.
10
Nota n. 161 --------------------------
11
Ibid, nota 162
12
Ibid, nota 163.
12
resposta podem indicar uma explicação raciocinada ou pensada, a àqueles que mostram
interesse para o tema da fé ou da esperança. Talvez, estas expressões seriam explicadas
aqui a partir de uma terminologia de diálogo explícito, e então, significariam o desenrolar
de um debate. Partindo da missão da Igreja antiga, que no período pos-apostolico devia
consistir, em diálogos em provocados pela convivência dos cristãos e com os nãos
cristãos, acerca o fundamento da sua conduta nova e do seu ʻ bem operar ʼ, que para a
linguagem cristã é, exatamente, a razão sua esperança, se pode pensar que a necessidade
de dar estas explicações, representasse uma situação relativamente normal. Parece que
isto, se refira o texto, visto que a carta fala constantemente do comportamento estimulante
dos cristãos: um comportamento muito fecundo, como testemunho da fé para os outros
(1,12; 3, 1s.). de facto, numa situação de calúnia e de difamação, o eventual sofrimento a
renúncia à vingança (v.9) não eram suficientes em todos os casos e se impunha, além
disto, a confissão pública da fé. Por este motivo, o nosso texto exige expressamente a
disposição a dar uma resposta à pergunta sobre a esperança e sobre a fé. Neste modo se
compreende a presentação da comunidade cristã como « estirpe eleita, sacerdócio real,
nação santa, povo que Deus --------------» 1 Pt 2,9) que se transforma em «casa para
aqueles que não têm casa»13.
Desde antiguidade este texto tinha sido usado numa perspetiva apologética graças à sua
aureola apostólica. Assim, o encontramos em Clemente de Alexandria (Strom. IV, 7, 46),
em Origenes (contra Celsum III, 33; VII, 12, com fé e esperança), em Eusébio (Praep.
Evang. I, 3,5) e, mais tarde, em Crisostomo (De sacerdotio IV,3) e em Cirilo de
Alexandria (In Zach. VIII, 16s;. Exp. Simboli Nicaeni, 6).
Entre os latinos, encontramos em santo Agostinho um
uso inicial e muito significativo na sua epístola ad Consentium, na qual sintetiza as
relações entre a fé e a razão. Mostra, assim, a diferença segundo o pedido de dar razão da
própria fé – e aqui Agostinho se refere a 1 Pt 3,15 – provenha de um não crente ou de um
crente. No primeiro caso, se deve em modo de «de dar uma razão na qual se possa ver, se
é possível, que coisa se pressupõe primeiro ou antes da fé» (rationem in qua, si fieri
potest, videat quam praeponere ante fidem poscat rationem); no segundo caso, se deve
tornar possível «uma inteligência da fé» (ut quod credit intelligat: Ep. 120, 1,4). Não
muito tempo depois, também são Jerónimo, se rifará brevemente a 1 Pt 3, 15 (Ep 52,7).
13
Ibid, nota 164.
13
14
Nota n. 165.
14
Hebreus 11,1:
«a fé é o fundamento (ύπόϭταϭις /substantia)
De realidade que se esperam (sperandarum)
e prova (argumentum)
de realidade que não se veem (não apparentium)».
Dentro do capítulo dedicado às realizações da fé, encontramos o primeiro versículo
considerado desde à antiguidade como a definição da fé (Cfr. por ex, Clemente de
Alexandria, nos seus Stromata, que são o primeiro tratado cristão sobre a fé; Gregório de
Nissa, João Crisóstomo, Gregório Magno).
De facto, insistindo sobre a fé e sobre o testemunho (vv. 2ss), o texto, dá o princípio de
interpretação que virá aplicado a todos os eventos que serão recordados ao longo de todo
o capítulo. Aqui a fé vem definida em forma impessoal em relação com a esperança,
porque tende para o futuro e para o invisível15.
ύπόϭταϭις /substantia: palavra que teve um grande número de possíveis interpretações.
Para João Crisostomo, Agostinho e Tomás, significa ʻ substância ʼ que equivale a ʻ
fundamentoʼ ou garantia, como para Gregório de Nissa, Calvino e um número de
comentadores contemporâneos e significa que a fé torna possível que em nós existam os
bens espirituais esperados. Invés, Erasmos, Lutero, Zwingli e muitos comentadores
sobretudo de tradição luterana, preferem o significado subjetivo sólido, segura
confiançaʼ16.
argumentum : significa ʻ provaʼ, e ʻargumento ʼ, entendida não em forma demonstrativa
mas sim como ʻ meio de conhecimentoʼ. Lutero, entende em forma subjetiva como
«fidúcia e ausência de dúvida». Os Padres gregos insistem sobre a evidência que dá a fé
como «visão do invisível», segundo 11,27, como «um ser conhecidos» do poder do
mundo futuro prometido por Deus17
------------------------p. 168---…………………………….
15
Nota 170.
16
Nota 171.
17
Nota 172.
16
18
Nota 177.
19
Nota 178.
17
3013) vem explicada como fruto de uma certeza unicamente moral, porque «é credível
aquele que pode ser acreditado prudentemente e por isso podemos e devemos acreditar
alguma coisa se, moralmente é certa que tinha sido revelado ou se existem razões
moralmente certas que o aconselham»20. Se trata da evidência da boa vontade da opcão
de fé, pela qual é suficiente uma certeza moral do facto da revelação. Em síntese, portanto,
a partir da discussão conciliar sobre esta fórmula resulta claro que, o concílio Vaticano I
não afirmou que existe uma demonstração ʻ evidenteʼ do facto da revelação através dos
sinais;
6/ enfim, é preciso observar que o Vaticano I tinha considerado a situação real e concreta
do homem chamado à fé não exclusivamente pelos sinais externos, mas bem sim também
pela graça interna: de facto, «Deus quis que às interiores ajudas do Espírito Santo se
acompanhassem também provas exteriores da sua revelação» (DH 3009), e «a este
testemunho [aquela da igreja como ʻsinalʼ] se acrescenta a ajuda eficaz da graça que vem
do alto» (DH 3014). Tudo isto, significa que a graça interna é sempre presente na situação
existencial do homem. Se trata de facto, do mesmo princípio aplicado à questão do
conhecimento natural de Deus, princípio do qual se afirma a possibilidade teórica de iure,
mas, pois, se constata a necessidade prática da revelação de facto, porque «é graças a esta
revelação que todos os homens podem, na presente condição do género humano, conhecer
facilmente, com absoluta certeza e sem algum erro o que nas coisas divinas não é de por
si inacessível à razão» (DH 3004.).
Concílio Vaticano II: mesmo se não trata explicitamente a relação entre fé e a razão, se
podem encontrar nele, três indicações significativas que já assinalamos21:
1/DV 5 acrescenta à definição do Vaticano I sobre a fé, como «plena submissão da
inteligência e da vontade à Deus revelante» (DH 3008), a formula bíblica «obediência da
(=que é a) fede»: Rm 1,5; 16,26 e, para sublinhar o empenho global da pessoa e da
liberdade que isto comporta, acrescenta que «o homem abandone livremente tudo de si
mesmo». Além disso, o concílio afirma que é o Espírito Santo a tornar possível que «a
inteligência da revelação seja sempre mais profunda»;
2/DV 6, citando o Vaticano I, muda a ordem e coloca ao primeiro lugar o conhecimento
de Deus por revelação (cfr. DH 3005) e envia ao segundo lugar o conhecimento natural
de Deus através as criaturas (cfr. DH 3004). Esta significativa mudança, põe em relevo o
primado do conhecimento por revelação sobre o conhecimento “naturalˮ.
20
Nota n. 179
21
Nota n. 180.
18
II CAPÍTULO
A REVELAÇÃO CRISTÃ: A PALAVRA «UNIVERSAL E
DEFINITIVA» DE DEUS
«A Revelação é a verdadeira
estrela de orientação para o
homem» (FR 15)
22
NOTA 1.
23
Ibid. 2.
20
24
Nota n. 3
25
Nota n. 4
26
Nota 5.
27
Nota 6.
28
Nota 7.
21
29
Nota 8.
30
Nota 9.
31
Nota 10.
32
Nota 11.
33
Nota 12.
34
Nota 13
35
Nota 14.
36
Nota 15.
37
Teologia della rivelazione (1966).
38
Nota 17.
22
39
Nota 18.
40
Nota 19.
41
Nota 20.
42
Nota 21.
43
Nota 22.
44
Nota 24
45
N. 25
23
51
Entrando ora na estrutura do presente capítulo sobre a revelação cristã, e uma vez
situado o tema a partir da introdução sobre o nascimento desta trattazione e seus
contributos mais significativos sobre este tema em teologia fundamental, se apresentam
as seguintes partes:
a) A Revelação cristã: a palavra ʻuniversal e definitivaʼ de Deus : o
homem procura uma palavra última na sua existência e, a revelação se apresenta
como «a verdade universal e última» (FR 14). Se faz uma breve síntese bíblica do
46
Nota 26.
47
A. Dulles, Revelation Theology . A History, London 1969, e A History of Apologetics, London 1971.
48
A. Dulles, Models of Revelation, New York 1983, 19932 .
49
Nota n. 29.
50
A Revelação de Deus na realização do homem, Vigo 1985.
5151
24
A.
A REVELAÇÃO CRISTÃ: A PALAVRA ʻ UNIVERSAL E
DEFINITIVA ʼ DE DEUS
26
O homem tem a capacidade de escutar uma palavra que resulta definitiva e, por isso a
revelação cristã se apresenta precisamente como àquela que « emite na nossa história uma
verdade universal e última» (FR 14). De facto, a vida humana não pode prescindir desta
realidade ʻpolifónica ʼ qual é, o homo loquens, onde a centralidade da palavra humana
entendida em sentido comunicativo global que abraça a totalidade das diversas
expressividades por meio dos quais, o ser humano conhece e se conhece, as quais não
podem reduzir a ʻ palavra ʼ nem à pura expressão oral, nem ao discurso puramente ʻ lógico
ʼ, bem sim, à sua realidade global de ʻ sinal ʼ oral e gestual juntos, como comunicação
realizada em chave de palavra - imagem52.
No primeiro capítulo, nos tínhamos concentrado sobre o acesso do homem à revelação e
a sua passagem de ouvinte a crente. Agora devemos analisar que coisa é esta revelação,
para a qual o homem manifesta uma capacidade radical graças à sua abertura ao
transcendente e à questão do sentido definitivo que o inquieta, representado no proverbio
delfico «conhece-te a ti mesmo» - relançado na Fides et Ratio 1- e na fórmula cristã «o
homem capaz de Deus» - retomada pelo Catecismo da Igreja Católico n. 27-, abertura
e questão do sentido, analisadas ambas no capítulo precedente. Mais ainda: a adesão por
meio da fé que dá ao homem esta capacidade e o dom de Deus graças ao qual pode realizá-
la são os rostos ou rostos para aquela que vem habitualmente qualificada como revelação
de Deus, entendida como palavra ʻ universal e últimaʼ de Deus através Jesus Cristo na
Igreja. Mas: que coisa é a revelação e em que modo se apresenta como palavra última de
Deus e «verdadeira estrela de orientação para o homem» (FR 14s.)?53.
A palavra revelação deriva do latim revelar, que corresponde ao grego ἀποκαλύτειν. Um
e o outro significam, etimologicamente, remover, tirar o véuʼ (velum-κάλυμνα), mas
graças ao duplo sentido presente no prefixo ʻre-ʼ (e ἀπ-), que é tanto re – petição quanto
re-mocão, podem significar também ʻ velar de novo ʼ. Neste sentido, se manifesta já
dialética inicial na mesma palavra que distancia a revelação de uma simples exibição,
dado que se trata de um ʻ desvelar /velar ʼ54. Na linguagem comum, fora da linguagem
religiosa, a revelação implica usualmente uma comunicação surpreendente e inesperada
de um conhecimento que tem um significado profundo para a vida e, eventualmente, para
o circunstante. Frequentemente, designa também a ação com a qual uma pessoa confia
livremente os próprios pensamentos íntimos a uma outra, introduzindo-a assim no seu
52
Nota n. 41.
53
Nota 42
54
Nota n. 43.
27
I. Nota bíblica55
No Antigo Testamento, a noção dominante para a compreensão da
revelação, é o conceito de ʻ palavra de Deusʼ, seja presente na
criação, seja direta á Israel através da história. A palavra de Deus,
em efeito, é precisamente uma força dinâmica que pede ou requer
obediência e induz o homem a agir. O ponto central desta revelação
vetero-testamentária é a aliança de Deus com o seu povo, que torna
a ʻ palavra de Deus ʼ por excelência, plasmada na Lei, anunciada
pela Profecia e mediada como Sapiência. Se deve notar que a
fórmula da revelação é sempre dada pelo evento e palavra,
expressão recuperada da DV 2.4.14.1556.
No Novo Testamento, a comunicação de Deus, qual ponto central
da revelação se realiza plenamente em Jesus Cristo como «logos
incarnado» (Jo 1,14), palavra de Deus (λόγος τοΰ θεοΰ: Jo 1; Ap
19,13) por excelência, que não só revela, mas é Auto comunicação
pessoal de Deus em Jesus Cristo por meio do Espírito Santo. E esta
revelação é oferecida tanto aos judeus quanto a todos os homens
que neste modo podem fazer parte da comunidade dos crentes em
na comunidade cristã qual é a igreja, que deve pregar «esta palavra
55
Nota 44.
56
NOTA 45.
28
57
Nota n. 46.
29
58
Nota n. 47.
59
Nota n. 48.
30
60
NOTA n. 49.
61
Nota n. 50
31
62
N. n. 52.