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E MEDIEVAL
CURSOS DE BACHARELADO EM TEOLOGIA – EAD
Plano de Ensino
Caderno de Referência de Conteúdo
Caderno de Atividades e Interatividades
© Ação Educacional Clareana, 2010 – Batatais (SP)
Trabalho realizado pelo Centro Universitário Clareano de Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
PLANO DE ENSINO
1 APRESENTAÇÃO.................................................................................................. 9
2 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA........................................................................... 10
3 CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................................................... 12
4 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ........................................................................................ 12
5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................ 12
1
PE
1. APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo ao estudo da disciplina História da Igreja
Antiga e Medieval, disponibilizada para você em ambiente virtual
(Educação a Distância).
Como você poderá observar, nesta parte, denominada Ca-
derno de referência de conteúdo, encontraremos o conteúdo bási-
co das seis unidades em que se divide a presente disciplina.
O estudo que ora se inicia irá levá-lo ao conhecimento do
ambiente do nascimento da Igreja do mundo romano e judaico,
bem como a reconhecer Jesus Cristo, fontes relacionadas à sua his-
tória e sua cronologia.
Estudaremos a comunidade de Jerusalém e sua expansão
inicial, bem como vamos reconhecer a expansão do Cristianismo
fora da Palestina.
10 © História da Igreja Antiga e Medieval
Ementa
Temas introdutórios e comunidade primitiva. Constituição e
organização da Igreja. Heresias antigas, escritores cristãos e con-
cílios ecumênicos. Perseguições romanas e aliança com o Estado.
Queda de Roma (476). Introdução ao Cristianismo medieval e Cris-
tandade, Feudalismo. Cisma de Oriente. Islamismo e Cruzadas.
Heresias Medievais e Inquisição. Cátaros, valdenses, apocalípticos.
Ciência escolástica e a mística medieval. Movimentos de renova-
ção eclesial (mendicantes). Transição entre Idade Média e Idade
Moderna Idade. Período pré-luterano.
Objetivo geral
Os alunos da disciplina História da Igreja Antiga e Medieval do
curso de Bacharelado em Teologia, na modalidade EaD do Claretiano,
Carga horária
A carga horária da disciplina História da Igreja Antiga e Medie-
val é de 60 horas. O conteúdo programático para o estudo das seis
unidades que a compõem está desenvolvido no Caderno de Referên-
cia de Conteúdo, anexo a este Plano de Ensino, e os exercícios propos-
tos constam no Caderno de Atividades e Interatividades (CAI).
12 © História da Igreja Antiga e Medieval
3. CONSIDERAÇÕES GERAIS
Neste Plano de Ensino, você encontrou as orientações e in-
formações práticas necessárias para o estudo da disciplina Histó-
ria da Igreja Antiga e Medieval e suas etapas de desenvolvimento
ao longo do curso.
É importante que você tenha uma visão clara dos objetivos
que desejamos atingir com o estudo da presente disciplina. Se for
necessário, recorra ao Guia acadêmico do curso para esclarecer
eventuais dúvidas a respeito da metodologia de estudo de um
curso EaD, que privilegia a autonomia como fator importante na
modalidade a distância. Chamamos sua atenção para a leitura e
pesquisa das obras indicadas, para o aprofundamento dos conteú-
dos e para a interação na Sala de Aula Virtual.
4. BIBLIOGRAFIA BÁSICA
FROHLICH, R. Curso básico de história da igreja. São Paulo: EP, 1987.
PIERRARD, P. História da igreja. São Paulo: EP, 1982.
VV. AA. Nova história da Igreja I. Petrópolis: Vozes, 1973.
5. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
AMARAL, A. C. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1990.
BIHLMEYER, K.; TUECHLE, H. História da igreja I. São Paulo: EP, 1964.
COMBY, J. Para leer la historia de la iglesia I. 3. ed. Estella: Verbo Divino, 1989.
______; LEMONON, P. Vida e religiões no império romano. São Paulo: EP, 1988.
DEDIEU, J. P. A inquisição. Porto: Editorial Perpétuo Socorro, 1997.
DEL ROIO, J. L. Igreja medieval: a cristandade latina. São Paulo: Ática, 1997.
DRANE, J. A vida da igreja primitiva. São Paulo: EP, 1985.
GIBBON, E. Declínio e queda do império romano. São Paulo: Cia. Letras, 1989.
GÓMEZ, J. A. Historia de la vida religiosa II. Madrid: Instit. de Vida Religiosa, 1989.
______. Manual de historia de la iglesia. Madrid: Publicaciones Claretianas, 1987.
GONZAGA, B. J. A inquisição em seu mundo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1993.
GONZALES, J. L. Uma história ilustrada do cristianismo: a era dos mártires I-II. São Paulo:
Vida Nova, 1989.
______. Uma história ilustrada do cristianismo: a era dos sonhos frustrados. São Paulo:
Vida Nova 1989. v. 5.
GRIGULÉVITCH, I. História da inquisição. Lisboa: Editorial Progresso, 1990.
JEDIN. H. Manual de historia de la iglesia. I-II. Barcelona: Herder, 1966.
______. Manual de historia de la iglesia. Barcelona: Herder, 1986. v. 4-5
JEREMIAS, J. Jerusalém no tempo de Jesus. Madrid: Cristiandad, 1977.
KEE, H. C. As origens cristãs em perspectiva sociológica. São Paulo: EP, 1983.
KÜNG, H. Igreja católica. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
LE GOFF, J. A civilização do ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2005.
______; SCHMITT, J-C. Dicionário temático do ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2002.
LENTSMAN, I. A origem do cristianismo. São Paulo: Caminho, 1984.
MARTINA, G. História da Igreja: de Lutero a nossos dias. São Paulo: Loyola, 1995. v. 1.
MATOS, J. H. C. Caminhando pela história da igreja I. Belo Horizonte: Lutador, 1995.
MELLO, J. R. As cruzadas. São Paulo: Ática, 1989.
MONDONI, D. Teologia da espiritualidade cristã. São Paulo: Loyola, 2000.
NABHAN, N. N. Islamismo de Maomé a nossos dias. São Paulo: Ática, 1996.
NOVINSKY, A.; CARNEIRO; M. L. T. Inquisição: ensaio sobre mentalidade, heresias e arte.
São Paulo: Edusp, 1992.
______. A inquisição. São Paulo: Brasiliense, 1982.
PIERINI, F. A idade antiga I. São Paulo: Paulus, 1998.
_______. A idade média II. São Paulo: Paulus, 1998.
PIRENNE, H. Maomé e Carlos Magno. Lisboa: Dom Quixote, 1970.
SANZONI, L. La inquisición. Barcelona: Liberduplex, 2004.
SAULNIER, C.; ROLLAND, B. A Palestina no tempo de Jesus. São Paulo: EP, 1983. (Cadernos
Bíblicos).
SCHLESINGER, H.; PORTO H. Dicionário enciclopédico das religiões. Petrópolis: Vozes, 1995. v. 1.
SOUTHERN, R. W. A igreja medieval. Lisboa: Ulisséia, 1970.
Centro Universitário Claretiano – Anotações
Caderno de
Referência de
Conteúdo
CRC
1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo!
Você iniciará o estudo de História da Igreja Antiga e Medie-
val, que é uma das disciplinas que compõem o curso de Bacharela-
do em Teologia na modalidade EaD. Teremos satisfação em desen-
volver esta disciplina com você!
Inicialmente, este estudo nos permitirá refletir sobre os te-
mas introdutórios relacionados à história da Igreja antiga. Isso sig-
nifica que construiremos conhecimentos sobre a comunidade pri-
mitiva da Igreja e estudaremos a constituição e a organização da
Igreja antiga e sua relação com o Estado. Como você verá, a Igreja
fundamenta-se na ação de Deus, bem como de homens e mulhe-
res, discípulos de Cristo. Dessa forma, ela é, simultaneamente, um
fato histórico e um fato revelado – é a "Igreja da fé" e a "Igreja da
história", a Igreja divina e humana.
16 © História da Igreja Antiga e Medieval
Fundação do Cristianismo
O Cristianismo foi fundado por Jesus Cristo e teve continui-
dade com seus discípulos, com destaque inicial para Pedro, Paulo
e os apóstolos. A fundação ocorreu na Palestina, na época, domi-
nada política e militarmente pelos romanos, que estavam vivendo
o seu apojeu.
Idade Média
O período medieval é extenso e vai do século 5º ao 15. É marcado
pela grande influência da Igreja Católica na política, economia e socie-
dade. É o período de maior e mais expressiva influência do Cristianis-
mo na sociedade com o chamado Sistema de Cristandade. Os valores
cristãos permeavam a vida de todos; as verdades eram as verdades da
Igreja; as doutrinas eram as defendidas e propagadas pelo Cristianismo.
Vejamos alguns acontecimentos da cristandade medieval.
Cruzadas
As Cruzadas foram convocadas para reconquistar Jerusalém,
os "lugares santos" resgatar os cristãos que caíram em mãos mu-
çulmanas. A primeira foi convocada pelo Papa Urbano II, no ano
de 1095. Foram um total de nove Cruzadas, a última aconteceu no
ano de 1270. Os cristãos tiveram algumas vitórias, mas não conse-
guiram a reconquista total da região.
Inquisição
A Inquisição é a instituição cristã mais criticada em toda a Histó-
ria da Igreja. Em função do surgimento de algumas heresias medievais
e da crise no mundo feudal, o surgimento das cidades e pré-humanis-
mo e pré-modernismo, a Igreja e o Império tentaram manter as estru-
turas políticas, econômicas e sociais. O Papa Lúcio III e o Imperador
Frederico Barba-Roxa, em 1184 optaram pela excomunhão e punição
aos hereges. Em 1232, a Inquisição passou cometer muitos atos ilíci-
tos, que cresceram quando ela passou a ser dirigida e instrumentali-
zada pelas lideranças políticas medievais e modernas.
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados na disciplina História da Igreja
Antiga e Medieval. Veja, a seguir, a definição dos principais concei-
tos desta disciplina:
1) Apócrifos: escritos cristãos dos primeiros séculos que
visavam dar notícias e einformações da vida de cristo,
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Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de História da Igreja pode ser
uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a
resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se
preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso,
essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos
e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus es-
tudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliogra-
fias apresentadas no Plano de Ensino e no item Orientações para o
estudo da unidade.
Dicas (motivacionais)
O estudo desta disciplina convida você a olhar, de forma
mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser
humano. É importante que você se atente às explicações teóricas,
práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica-
ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois,
ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, per-
mite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a
ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é,
portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
30 © História da Igreja Antiga e Medieval
2. CONTEÚDOS
• Noções preliminares: historicidade da Igreja e historiografia
eclesiástica.
• O nascimento da Igreja: Mundo Romano e Mundo Judaico.
32 © Bacharelado em Teologia
5. HISTORICIDADE DA IGREJA
O processo por meio do qual se estabelece a compreensão e assi-
milação do conceito da historicidade da Igreja se inicia, fundamentalmen-
te, pelo seguinte questionamento: qual a base de sustentação em que se
processa o desenvolvimento histórico da Igreja?
Com efeito, a história da Igreja tem suas bases na revelação divina,
na manifestação das obras de Deus e na encarnação de Jesus Cristo no
mundo, evento no qual se materializa a ação de Deus, que, fazendo-se
homem e assumindo a natureza humana, interfere na História.
Em Jesus Cristo, a propósito do transcurso de sua vida, da sua pre-
sença e de seus ensinamentos no mundo, inicia-se a história do Cristia-
Método
A configuração do método que fundamenta a História da Igre-
ja é ditada pelos mesmos princípios que regulam a investigação his-
tórica de modo geral, levando-se em conta as peculiaridades que
emanam da vertente da fé, muito embora estas especificidades não
representem um impedimento na aplicação do rigor metodológico.
Segundo essa perspectiva, Gómez (1995, p. 6-7), ao abordar
as características do método a ser utilizado, em se tratando da dis-
ciplina em questão, destaca que este deve ser:
a) crítico: deve examinar rigorosamente as fontes;
d) religioso: a Igreja é obra divina e obra humana, por isso sua his-
tória precisa ser tratada com base em uma 'perspectiva religiosa',
sem que isso prejudique a vertente científica propriamente dita.
Divisão
A divisão da História da Igreja, que também pode ser enten-
dida como a vida da comunidade cristã ou como o percurso da
Igreja na história, pode ser analisada com base em vários aspectos
e sob diversas perspectivas.
Entre essas perspectivas, destaca-se a que se baseia nas
ideias de Gómez (1987, p. 7), segundo o qual: "A história, como a
vida, não conhece pausas nem censuras, nem saltos no vazio. No
entanto, também na história existem épocas e períodos com ca-
racterísticas muito acentuadas que os diferenciam de outras épo-
cas e períodos".
Com efeito, sob essa perspectiva, a História da Igreja é vista
como um processo contínuo, na medida em que os eventos que
o constituem são interligados. Em contrapartida, esse caráter de
continuidade não invalida a possibilidade de se estabelecer uma
segmentação temporal desse processo em "períodos" e "épocas",
como afirma o autor.
a) Idade Antiga
1º período (1-313): marcado pela atuação da Igreja no
Império Romano pagão (perseguições dos mártires).
2º período (313-692): marcado pela atuação da Igreja
no Império Romano cristão (oficialização do Cristia-
nismo e dos grandes concílios).
b) Idade Média
1º período (692-1073): marcado pela atuação da Igreja
na formação da Europa (cristandade medieval).
2º período (1073-1303): em que se deu o apogeu do po-
der temporal dos papas (auge da cristandade).
c) Idade Moderna
3º período (1303-1517): marcado pelo clamor pela re-
forma (crise eclesial pré-luterana).
4º período (1517-1648): marcado pelas Reformas Protes-
tante e Católica (renovação e fechamento tridentino).
Sociedade romana
A sociedade romana era chamada de "cooperativa da felici-
dade", felicidade que pertencia aos mais privilegiados (aristocra-
tas e comerciantes), pois quase um terço da população era formada
por escravos e pobres, excluídos do sistema político-econômico.
52 © Bacharelado em Teologia
Comunicação
No que diz respeito à integração entre as regiões que consti-
tuíam o Império Romano, observa-se que o império era entrecorta-
do por grandes estradas que levavam o nome dos seus respectivos
construtores, dentre as quais ganhavam relevância as seguintes:
• Via Ápia: que se estendia de Roma a Brindisi.
• Via Aurélia: de Roma a Genova.
• Via Domicia: que se estendia da Itália à Espanha, passan-
do pela Gália.
Como o império expandiu intensamente seus limites na ba-
cia mediterrânea, a navegação desenvolveu-se e o caminho do
mar tornou-se preferível em detrimento das rotas terrestres.
A propósito dessa configuração estrutural, o bispo cristão
Melitão de Sardes (+175) dizia, em síntese, que o Cristianismo e o
Império Romano tinham sido ordenados, pela Providência divina,
um para o outro (GÓMEZ, 1995, p. 18).
É verdade que o Império Romano foi benéfico ao Cristianis-
mo em certos aspectos por conta dos seguintes elementos: tole-
rância religiosa; unificação política (diversidade de povos dentro do
mesmo Estado); a unidade cultural helenística; intenso comércio e
rápidas vias de comunicação; organização em províncias. Mas, ao
mesmo tempo, o império constituiu um perigo para a Igreja nas-
Judaísmo
Para compreender o ambiente em que nasceu a Igreja é es-
sencial, também, conhecer a dinâmica do Judaísmo, outra grande
religião muito presente no contexto em questão. E para alcançar
essa compreensão, abordaremos, nesse item do material, elemen-
tos básicos que compõem a história, a dinâmica social e geográfi-
ca, bem como o desenvolvimento da religiosidade judaica que se
desenvolveu em Israel.
Israel está localizada em uma pequena e estreita faixa de ter-
ra entre a África e a Ásia. Trata-se de uma região muito cobiçada
pelas potências antigas, posto que configurava uma área estrategi-
camente muito bem situada.
O povo judeu sofreu com várias invasões e exílios. Em mea-
dos do ano 200 a.C., por exemplo, toda a região foi dominada pelo
Império Selêucida da Síria, quando se iniciou o que foi chamado
de "helenização forçada" da região, que por sua vez gerou uma
resistência muito forte da parte dos Macabeus. Mais tarde, antes
mesmo do nascimento de Cristo, no ano 63 a.C., os romanos domi-
naram a região confiando o governo local aos idumeus Herodes e
Arquelau, líderes regionais nessa época.
Neste ambiente, proliferou o gênero literário apocalíptico,
bem como o desejo de libertação fundamentado na crença da vin-
da do Messias, daí o fortalecimento da expectativa messiânica.
Inicialmente, a sociedade judaica organizava-se em tribos
nômades que viviam no deserto. Já à época do nascimento de Je-
sus Cristo predominava, há séculos, uma organização baseada no
sedentarismo, em que a propriedade se submetia a um sistema
patriarcal, com evidente supremacia masculina.
54 © Bacharelado em Teologia
Hassidins
Os Hassidins constituíram uma comunidade de homens sé-
rios, que buscavam a última e mais profunda vontade de Deus,
expressa na Lei; eram fechados, não se envolviam com o povo e
representavam uma certa elite político-espiritual.
Saduceus
Os Saduceus constituíam um grupo de origem incerta que
teria surgido há pelo menos 120 anos antes de Cristo. O grupo era
composto pelos mais ricos e altos sacerdotes e, por isso, estavam
muito vinculados ao templo e eram rejeitados por fariseus e zelotas.
Tinham uma visão racionalista, mais aberta à cultura helenística.
A respeito dos Saduceus, Morin (1982, p. 108-109), explicitan-
do características relevantes desse segmento, afirma o seguinte:
[...] Herodes os tratou duramente. Do ano 6 ao ano 70, comanda-
ram uma política de conciliação com o invasor romano. A partir do
ano 6 o sumo sacerdote, Joazar, persuadia os judeus a declararem
seus bens. Acalmavam os movimentos populares. Entre eles é que
se deve procurar os responsáveis pela morte de Jesus.
Suas tendências doutrinais conservadoras são coerentes com sua
posição política. São defensores da ordem estabelecida. Em maté-
ria cultual, apegam-se à letra da Torá e, neste ponto, muitas vezes,
entram em conflito com os fariseus. Assim, a presença de Deus é
muito localizada no Santo dos Santos do templo.
Fariseus (Separados)
Os Fariseus constituíam o maior grupo na época de Jesus,
composto por uma classe média separada do povo e das elites
sacerdotais. Formavam um grupo bem organizado, que conhecia
profundamente a Lei mosaica, observando-a de modo incansável
e escrupuloso.
Nesse grupo, majoritariamente laical, existiam alguns escri-
bas e poucos sacerdotes.
Na época de Jesus, eles estavam separados do poder políti-
co, personificado em Herodes, antigo aliado deles. Em contrapar-
tida, tinham uma grande influência junto ao povo e isso lhes dava
um grande poder no contexto político, o que se explica, segundo
Morin (1982, p. 111-112), da seguinte maneira:
O segredo de sua influência é conseqüência de dupla oposição. Pri-
meiramente, diante da massa popular, afirmavam sua origem judaica
com uma piedade bastante desenvolvida. A interpretação escrupu-
losa da Lei os levava a uma observância rigorosa do sábado, a um
extremo cuidado com a pureza legal, ao pagamento integral dos dízi-
mos dos mínimos produtos. Com isso, pretendiam impor ao povo em
geral, em toda a sua vida, uma pureza totalmente semelhante àquela
que devia caracterizar o sacerdote oficiante do templo. Os saduceus
não exigiam tanto, pois tinham que manter as distinções. Os fariseus,
mais católicos que o papa, mostravam-se, assim, como exemplo ao
povo. Fascinavam a todos e a todos desprezavam.
Por outro lado, opunham-se à nobreza sacerdotal e leiga na área re-
ligiosa, constituindo-se uma nova casta de intérpretes da Escritura
com espírito renovador. Diante dos que se agarravam apenas ao livro
da Lei, os fariseus escribas combinavam a exegese da Lei escrita com
as contribuições da Tradição oral para a elaboração de uma teologia
mais aberta e mais espiritualista. Eles tinham uma idéia bastante ele-
vada das relações entre o homem e o Criador, da liberdade humana
e da providência. Manifestavam uma viva fé messiânica e afirmavam
a existência dos anjos, o julgamento depois da morte e a ressurrei-
ção dos justos. Ao contrário dos saduceus que desconfiavam de toda
abertura da história, os fariseus admitiam as crenças dos apocalípti-
cos e esperavam uma era verdadeiramente nova [...]
58 © Bacharelado em Teologia
Essênios
Os Essênios tratavam-se de grupo formado por judeus que se
articulou no século 2º a.C. Repudiavam o culto do templo e os sa-
crifícios, levando uma vida de rigor ascético, ao estilo dos monges,
com celibato, vida comum, partilha dos bens etc. Não se permi-
tiam a convivência nem com os pecadores do povo judaico e tam-
pouco com os pagãos. Eram extremamente radicais na fidelidade à
8. JESUS CRISTO
Em Jesus de Nazaré está a origem da História da Igreja. A
Igreja apresenta-se a si mesma como fundada por Cristo. Mas Cris-
to existiu realmente? Para responder a esta pergunta, é preciso
remontar às "fontes históricas" da vida de Jesus, que podem ser
divididas em três categorias:
1) Fontes cristãs: Os "Evangelhos" (Mateus, Marcos, Lucas
e João) e as "Cartas" de Paulo. Infelizmente, Jesus não
deixou nada escrito, mas, por meio destas obras, pode-
mos conhecer bem a sua vida e seu ensinamento, apesar
de que essas fontes apresentam algumas lacunas.
2) Fontes não cristãs: "fontes judias" (Flávio Josefo, 37-100)
e a tradição talmúdica.
3) Fontes pagãs: Tácito (55-120), Suetônio (70-128) e Plí-
nio, "O Jovem" (61-114).
Vida pública
Alguns autores modernos como Van Beber, Belser, entre ou-
tros, fundamentando-se no testemunho de determinados Padres
da Igreja, restringem a vida pública de Jesus a um ano de dura-
ção. No entanto, a maioria dos autores inclina-se para dois anos
e meio.
Morte
Como Cristo começou sua atividade pública aos trinta anos
(Lc 3, 23), sua morte teria ocorrido nos anos 32-33, ou, 14 Nisan (1º
mês do ano judaico) de 783 de Roma, isto é, 7 de abril do ano 30.
Pierini (1998, p. 41-43), tratando deste tema, conceitua uma
"cronologia relativa da vida de Cristo" e uma "cronologia absoluta
da vida de Cristo". Na primeira, confrontam-se os quarto evange-
lhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) e são colocadas algumas di-
ferenças de disposição e proporção (PIERINI, 1998). A respeito da
mencionada "cronologia absoluta", por sua vez, Pierini (1998, p.
43-45) diz o seguinte:
Todavia, além dos problemas da cronologia relativa existem os da
cronologia absoluta: isto é, trata-se de atribuir a cada etapa da
vida Cristo uma data, segundo um calendário que estabeleça anos,
meses e dias precisos e até, se possível, horas e minutos. Mas as
dificuldades que se encontram são consideráveis, às vezes até in-
superáveis.
A primeira questão refere-se ao ano e ao dia do nascimento de Cris-
to. A esse respeito, Mateus diz que Jesus nasceu "no tempo do rei
Herodes" (MT 2,1), e Lucas, que o evento se verificou durante o cen-
so realizado "enquanto Quirino era governador da Síria" (Lc 2,2). As
indicações, como se vê, são muito vagas, e devem ser completadas
com informações oferecidas por outros autores. Quanto a Herodes,
o escritor hebreu Flávio Josefo afirma que ele morreu antes da Pás-
coa (=11 de abril) do ano 750 da fundação de Roma. Deve-se deduzir,
então, que o nascimento de Jesus, ocorrido muito antes da morte de
Herodes, verificou-se necessariamente antes de 750, e que Dionísio,
o Pequeno, estabelecendo o ano do nascimento em 753 da fundação
de Roma, errou em três anos: Cristo, então, nasceu ao menos três
anos [...] antes de Cristo. Pelo menos três anos, mas provavelmente
também não mais do que sete anos. De fato, o censo a que Lucas se
64 © Bacharelado em Teologia
Atividade de Cristo
Jesus nasceu, milagrosamente, de acordo com textos ne-
otestamentários, de Maria Virgem em Belém. Até a idade de 30
anos levou uma vida oculta na pequena vila de Nazaré com seus
pais. Depois disso, começou sua atividade de Mestre, ensinando
uma mensagem de paz, amor e respeito; curando muitas pes-
soas de vários males e fazendo muitos milagres. Cristo não se
apresentou como um reformador da religião judaica, e sim como
o instaurador de um novo modo de viver a relação com Deus e
com o próximo.
Nesse dia, cerca de três mil pessoas se agregam ao grupo dos cren-
tes (At 2,41), que gradativamente chega a cinco mil (At 4,4).
A partilha dos bens não era coisa nova; era considerada como um
ideal pelos escritores gregos, ao passo que os judeus estavam bem
cônscios da necessidade de serem caridosos. A comunidade que
morava às margens do Mar Morto, em Qumrã, praticava uma se-
melhante partilha de recursos, embora nesse caso um convertido
não dispunha de todas as suas posses até completar um ano desde
sua admissão na seita.
A marca distintiva do "comunismo" cristão era sua espontaneida-
de. Em Qumrã, a partilha era cuidadosamente regida por normas,
como o era a distribuição das esmolas entre os judeus em geral.
Mas Jesus não tinha determinado nenhuma política inflexível para
seus discípulos seguirem. Ele próprio viveu, como todos sabiam,
em relativa pobreza, e seus seguidores imediatos deixaram tudo
quanto tinham para segui-lo. Quando certo homem rico desejou
tornar-se discípulo, foi-lhe dito: "Vai, vende o que tens e dá o di-
nheiro aos pobres" (Mc 10,21) – e é difícil não concluir que Jesus
acreditasse que um rico achasse mais duro segui-lo que um pobre
(MT 19,24). Mas mesmo os pobres podiam ter obsessão pelas ri-
quezas, e deles também se esperava que cedessem sua última mo-
eda para o serviço de Deus (Mc 12, 41-44).
Assim, não é difícil entender por que esses primeiros cristãos quiseram
partilhar seus bens com os outros. Contudo, parece que não foi uma
iniciativa de êxito completo, pois nada mais se ouve a respeito de tal
partilha generosa, quer em Jerusalém, quer em outros lugares. Confor-
me o historiador marxista Karl Kautsky, a razão é que, após ter come-
çado entre o proletariado humilde, a Igreja logo se instalou na classe
média da sociedade, e aí os ideais de vida comunística não eram tão
atraentes. Certamente é verdade que quando a Igreja se espalhou pelo
vasto mundo romano alguns de seus convertidos eram provenientes
das classes sociais mais elevadas. Mas tal não acontecia na Palestina.
Tudo que sabemos da igreja de Jerusalém sugere que ela continuou
sendo pobre enquanto existiu. A igreja de Antioquia mandou um do-
nativo para Jerusalém (At 11, 27-30), e as igrejas gentias de Paulo fize-
ram o mesmo (Rm 15, 22-29). Paulo duas vezes se refere à igreja de
Jerusalém qualificando-a de "pobre" (Rm 15,26; Gl 2,10), e mais tarde
os judeus cristãos da Palestina se autodenominam "ebionitas", o que
significa simplesmente "os pobres".
Separação da sinagoga
Os cristãos eram, desde o princípio, uma comunidade distinta,
mas continuavam observando a Lei mosaica e participavam das ceri-
mônias do Templo. As autoridades judaicas olhavam com bons olhos
e simpatia aquele grupo de "judeus fervorosos"; mas, ao crescer a ex-
70 © Bacharelado em Teologia
2) De acordo com o que você estudou até aqui, de que modo as culturas roma-
na e judaica contribuíram para o desenvolvimento do Cristianismo?
12. CONSIDERAÇÕES
Ao longo do que se expôs nesta unidade, privilegiou-se a
aquisição de noções preliminares sobre a historicidade da Igreja
e a historiografia eclesiástica, as quais são imprescindíveis para a
compreensão da história da Igreja Antiga.
Além disso, estabeleceu-se a reflexão sobre o ambiente em
que nasceu a Igreja; sobre a historicidade e vida de Jesus Cristo;
sobre a comunidade de Jerusalém e sua expansão inicial e sobre a
expansão do Cristianismo para além dos limites da Palestina, bem
como sobre suas principais características.
Na Unidade 2, ampliaremos a perspectiva abordando a orga-
nização do Cristianismo antigo; as heresias e cismas dos três pri-
meiros séculos; os escritores eclesiásticos; os concílios e os Padres
da Igreja.
COMBY, J. Para ler a História da igreja. Tradução de Maria Stela Gonçalves-Adail V. Sobral.
São Paulo: Loyola, 1994. v.2.
CESARÉIA, Eusébio de. História eclesiástica. Tradução de Wolfgang Fischer. São Paulo:
Novo Século, 2002.
DEBARROS A. C. Doze homens, uma missão. Curitiba: Luz e Vida, 1999.
DRANE, J. A vida da Igreja primitiva. Tradução de José Raimundo Vidigal São Paulo:
Paulinas, 1985.
FIGUEIREDO, F. A. Introdução à patrística. Petrópolis: Vozes, 2009.
FREYNE, S. Jesus, um Judeu da Galiléia. Tradução de Élcio. V. Filho. São Paulo: Paulus,
2008.
GÓMEZ, J. A. Manual de historia de la iglesia. Madrid: Publicaciones Claretianas, 1987.
JEDIN, H. Manual de historia de la iglesia. Barcelona: Herder, 1980. v. 1.
KEE, H. C. As origens cristãs em perspectiva sociológica. Tradução de J. Rezende Costa.
São Paulo: Paulinas, 1983.
MORIN, E. Jesus e as estruturas de seu tempo. Tradução de Vicente R. de Souza. São
Paulo: Paulinas, 1982.
PIERINI, F. A Idade antiga I. Tradução de José M. Almeida. São Paulo: Paulus, 1998.
PIERRARD, P. História da igreja. Tradução de Álvaro Cunha. São Paulo: Paulinas, 1982.
PRIETO, C. Cristianismo e paganismo. Tradução de Euclides M. Balancin. São Paulo:
Paulus, 2007.
SAULNIER, C-ROLLAND B. A Palestina no tempo e Jesus. São Paulo: Paulinas, 1979.
Centro Universitário Claretiano – Anotações
EAD
Organização do Cristianismo
Antigo, Liturgia, Vida
Monástica, Heresias,
Escritores Cristãos e
Concílios Ecumênicos 2
1. OBJETIVOS
• Compreender a organização do Cristianismo Antigo (cons-
tituição, liturgia e vida monástica).
• Identificar as heresias e os cismas dos três primeiros sé-
culos (heresias judaizantes, gnosticismo, montanismo,
milenarismo, heresias antitrinitárias, controvérsias peni-
tenciais e cismas).
• Caracterizar e analisar as controvérsias trinitárias, cristo-
lógicas e soteriológicas, heresias, cismas e concílios, situ-
ados no contexto dos séculos 4º ao 7º.
• Reconhecer os escritores eclesiásticos (padres apostóli-
cos, apologistas, apócrifos e escritores eclesiásticos).
• Identificar os "Padres da Igreja" (escritores latinos e gre-
gos dos séculos 4º ao 8º).
86 © História da Igreja Antiga e Medieval
2. CONTEÚDOS
• Organização e constituição da Igreja - culto e liturgia; vida
monástica.
• Heresias e cismas dos três primeiros séculos - heresias ju-
daizantes, gnosticismo, montanismo, milenarismo, here-
sias antitrinitárias, controvérsias penitenciais e cismas.
• Escritores eclesiásticos - padres apostólicos, apologistas,
apócrifos e escritores eclesiásticos.
• Heresias, cismas e concílios - controvérsias trinitárias,
cristológicas e soteriológicas.
• "Padres da Igreja" - escritos latinos e gregos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você teve a oportunidade de adquirir
noções preliminares sobre a historicidade da Igreja, a historiogra-
fia eclesiástica e o ambiente no qual se deu o nascimento da Igre-
ja. Estudamos, também, a cronologia fundamental e as principais
fontes disponíveis sobre a história de Jesus Cristo, a dinâmica da
chamada "comunidade de Jerusalém", bem como os eventos que
determinaram os contornos de sua expansão inicial e, finalmente,
a expansão do Cristianismo para além dos limites da Palestina.
Um domínio razoável desses temas credencia você a se aventu-
rar por outros domínios, quais sejam a organização e constituição do
Cristianismo, a instituição e expansão da vida monástica, o advento
das heresias e cismas dos primeiros séculos, o despontar da obra dos
pensadores cristãos (escritores eclesiásticos e Padres da Igreja) e a
convocação dos concílios ecumênicos a partir do século 4º.
Esse novo percurso que ora se inicia está fundamentado nos
seguintes questionamentos:
88 © História da Igreja Antiga e Medieval
6. HIERARQUIA DA IGREJA
Nas primeiras décadas em que se desenvolveu o Cristianismo,
toda a autoridade eclesial foi centralizada na pessoa de Pedro (por
mandato do próprio Cristo) e dos apóstolos. Ao abordar este tema,
Debarros (1999, p. 32-33), escritor evangélico, esclarece que:
Em fins do primeiro século a Igreja presenciou o surgimento e a
expansão de seu mais sutil inimigo, o chamado gnosticismo cristão
[...]. Os gnósticos cristãos arrebanhavam inúmeros fiéis nas fileiras
da Igreja ao se apresentarem como possuidores de uma teologia
secreta – a verdadeira gnosis ou conhecimento – herdada direta-
mente dos apóstolos, que, por sua vez a teriam recebido de Cristo.
Como reação a essa corrente herética, a Igreja suscitou a chamada
Sucessão Apostólica, ou seja, um mecanismo de defesa da ortodo-
xia cristã, segundo o qual se afirmava que, se Jesus de fato passara
algum ensino secreto a alguém, teria de ser, necessariamente, aos
seus discípulos, isto é, àqueles aos quais confiara a direção de sua
Igreja. Estes, por sua vez, só poderiam ter perpetuado tal ensina-
mento passando-o aos líderes das comunidades que iam fundando,
e assim sucessivamente (conf. 2 Tm 2.2). Deste modo, desmasca-
rava-se os intentos obscuros daqueles hereges, cuja procedência
nada tinha de apostólica.
A Sucessão Apostólica, enquanto dispositivo teológico, teve, por-
tanto, seu mérito no que diz respeito a estratégia de defesa da fé
cristã naqueles dias, quando era grande a ameaça do gnosticismo.
De fato, para algumas comunidades cristãs como as de Roma, Éfe-
so, Antioquia e Corinto, não foi tarefa difícil rastrear suas origens
apostólicas. Muitas delas possuíam seus próprios registros episco-
pais, os quais documentavam a ligação do presente com seu pas-
sado apostólico. Por outro lado, como diversas congregações de
localidades menores não podiam reclamar para si qualquer base
apostólica sustentável para suas origens – já que em várias cidades
do Império o cristianismo tinha chegado por vias desconhecidas
– muitas delas trataram de criar suas próprias lendas e tradições
acerca de suas pretensas matrizes apostólicas.
Diáconos
Os diáconos assistiam ao bispo na celebração da eucaristia
e na administração do batismo. Ao seu cuidado estavam a distri-
buição das esmolas, a administração, sob a vigilância do bispo, dos
bens temporais da comunidade. Esse caráter de suporte ao traba-
lho do bispo, bem como seu status na hierarquia da Igreja são bas-
Sacerdotes
O ofício de sacerdote, por sua vez, também se submetia ao
de bispo. Sob essa perspectiva, os sacerdotes não podiam exercer
nenhum ministério sem sua aprovação e somente por encargo ou
delegação do bispo poderiam presidir a eucaristia e a administra-
ção dos sacramentos. Segundo Bihlmeyer–Tuechle (1964, p. 108),
os sacerdotes:
[...] formavam o seu conselho ("senado" segundo Inácio); no ensino
e no culto eram os seus assistentes [...] No conjunto, feita exceção
de algumas comunidades maiores, o seu cargo não os empenhava
muito; era antes honorífico [...] Somente no período sucessivo, com
a criação das paróquias, os presbíteros adquiriram maior importân-
cia (§ 62); contudo, em Roma e noutras cidades bastante grandes
esse desenvolvimento já se iniciara antes.
cân. 77) e, pela primeira vez na Síria, também de bispos de zonas rurais
(Eus.VII, 30,10; concílio de Elvira [314] cân 13). Mas com essa evolução
não foi afetada em nada a autoridade do bispo da cidade. Ele conti-
nuou a ser o superior das diversas igrejas urbanas como também das
rurais, situadas dentro do território dependente da cidade.
2. Como os fiéis de uma cidade formavam uma "paróquia" assim
diversas "paróquias" constituíam, por sua vez, uma província
eclesiástica, cujos confins regularmente coincidiam com os das
províncias do império romano; igualmente, como chefes dessas
eparquias achavam-se os bispos das capitais de província, que
desde o século 4º tomaram o nome de metropolitas. A adequa-
ção da divisão eclesiástica com a política era sugerida por razões
geográficas e históricas, mas havia também um motivo religioso,
enquanto habitualmente as outras igrejas das províncias deviam
sua origem à igreja da capital e, portanto, se encontravam em
condição de igrejas filiais em confronto com a igreja matriz ou
igreja originária. No Oriente, exceto no Egito, a articulação da
Igreja em províncias concluiu-se essencialmente já no século 2º,
no Ocidente, ao invés um pouco mais tarde. Desde a metade do
século 2º os bispos de uma província costumavam reunir-se em
sínodos, para discutir assuntos de importância; os primeiros de
que se tem notícia foram os que se celebravam na Ásia Menor
pelas controvérsias montanistas. Também aqui se pode recordar
um modelo político, isto é, as dietas provinciais da Ásia Menor
(conventos). Os sínodos se demonstraram meio eficaz para man-
ter e consolidar a unidade da Igreja; mais tarde na Ásia Menor
tornaram-se anuais.
3. Acima das organizações provinciais existiam organizações ecle-
siásticas mais vastas. O concílio de Nicéia, de 325, fala destas
como de uma instituição já em ato havia muito e atribui de
modo explícito uma autoridade de supermetropolita – assim se
poderia chamar estes altos dignitários da Igreja - aos bispos de
Roma, Alexandria e Antioquia. As três jurisdições compreendiam
uma o Ocidente, outra o Egito e as províncias limítrofes, a ter-
ceira a diocese política do Oriente (Síria, Cilícia, Mesopotâmia,
Palestina). Neste ordenamento devem ser vistas as origens da
constituinte patriarcal sucessiva. Parece que o concílio aluda, no
mesmo cânon, à existência de outros metropolitas de grau supe-
rior e a este propósito cogitou-se, em primeiro lugar, nos bispos
de Éfeso (Ásia proconsular), Cesaréia de Capadócia, Cesaréia de
Palestina, Heracléia na Trácia. No mesmo plano se encontra tam-
bém, de fato, e não só juridicamente, o bispo de Cartago para a
África norte-ocidental. Em todos estes casos tinha valor decisivo
a relação entre igreja matrizes e igrejas filiais; os bispos daquelas
capitais faziam valer antigos direitos de consagração e eventual-
mente de deposição sobre os bispos das igrejas dependentes.
8. SÍNODOS E CONCÍLIOS
A instituição conciliar não era desconhecida na Igreja primiti-
va, mas adquiriu importância após a conversão de Constantino.
A proliferação dos sínodos, por sua vez, ocorreu a propósito
do advento das heresias e também da consideração de que estes
constituíam uma instituição necessária para o exercício harmonio-
so e regular do governo da Igreja.
Os principais concílios ecumênicos da Antiguidade foram os
seguintes:
1) Niceia (325), em que se deliberou o posicionamento
contrário ao arianismo.
2) Constantinopla (381), em que se reafirmou a posição
contrária ao arianismo e a outras heresias.
3) Éfeso (431), em que se firmou posição contrária a Nestório.
4) Calcedônia (451), em que se firmou posição contrária ao
monofisismo.
5) II de Constantinopla (553), marcado pela negação dos
chamados "três capítulos".
6) III de Constantinopla (680-681), em que a Igreja marca
posição contra os monoteletas.
102 © História da Igreja Antiga e Medieval
9. CULTO E SACRAMENTOS
Para compreender a dinâmica do culto cristão, bem como o
lugar que os sacramentos ocupam nessa dinâmica, é fundamental
Batismo
O batismo, administrado pelos apóstolos aos convertidos
no momento imediatamente posterior em que estes realizavam a
profissão de fé em Cristo, configura a admissão à Igreja.
Até o século 2º, ao que tudo indica, o batismo era adminis-
trado somente aos adultos, muito embora o ato de se batizar as
crianças configure, para Irineu (180) e para Orígenes (254), uma
tradição apostólica.
O batismo podia ser administrado por qualquer cristão, mas,
geralmente, era conduzido pelo bispo. Ocorria, inicialmente, so-
mente por ocasião da vigília pascal, situação que se modificou pos-
teriormente, admitindo-se a realização da cerimônia em outros
momentos do ano litúrgico.
Catecumenato
O catecumenato é definido como o tempo destinado à pre-
paração que antecede o batismo do neófito, que por sua vez pode
ser definido da seguinte maneira: "pagão recém-convertido ao
cristianismo; cristão-novo [...] pessoa que vai receber o batismo
ou recentemente batizada" (HOUAISS, 2009).
Na verdade, não podemos falar de uma catequese propria-
mente dita nas primeiras décadas de existência do Cristianismo,
já que os primeiros convertidos eram judeus que eventualmente
tiveram acesso à pregação apostólica e se integraram à comunida-
de cristã primitiva em Jerusalém ou em comunidades oriundas da
Diáspora.
A despeito disso, a preparação para a profissão do Cristianismo,
de início, centrava-se nos ensinamentos de Jesus e na sua ressurrei-
ção. Posteriormente, com o advento de obras escritas, como os evan-
gelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, bem como outros escritos e
cartas neotestamentárias, enfatizava-se não somente os ensinamen-
tos de Jesus, mas também relatos sobre a vida de Jesus e das comu-
106 © História da Igreja Antiga e Medieval
Eucaristia
A eucaristia ou "fração do pão", no tempo dos apóstolos, era
celebrada pela tarde, constituindo-se como uma "comida de frater-
108 © História da Igreja Antiga e Medieval
nidade" ou ágape, termo que designa uma "festa dos primitivos cris-
tãos que consistia em uma refeição comum com a qual era celebra-
do o rito eucarístico" (HOUAISS, 2009) em recordação à última Ceia
do Senhor e que desapareceu definitivamente no século 4º.
Por ocasião da proibição das "eterias" por obra do imperador
Trajano (98-117), os cristãos passaram a celebrar a Eucaristia pela
manhã, afastando a cerimônia do conceito de "comida da fraterni-
dade", que, por sua vez, acabou por se converter, paulatinamente,
em mero evento beneficente em proveito aos pobres.
Ordem
Os candidatos ao sacerdócio, inicialmente, eram escolhidos
pelos apóstolos e se exigia deles qualidades morais e intelectu-
ais. Podiam ser recrutados também entre homens casados, mas,
com o passar do tempo, foi se exigindo o celibato dos candidatos.
Com a expansão do Cristianismo, os bispos foram assumindo esta
função e cuidavam da preparação destes. A ordenação, ministra-
da unicamente pelo bispo, essencialmente, acontecia mediante a
imposição das mãos e oração consecratória. Posteriormente à ad-
ministração do sacramento da ordem, foram acrescentadas algu-
mas cerimônias simbólicas (entrega do cálice e patena, prostração,
unção com óleo etc.).
Matrimônio
A santidade do matrimônio é defendida pelos Santos Padres
desde o século 2º. A despeito disso, foi somente no século 4º que
se estabeleceu e clarificou as posições da Igreja em relação a esse
sacramento, bem como em relação à virgindade.
Paralelamente a esse processo, a legislação civil, que regu-
lava o matrimônio, conformou-se à legislação eclesiástica durante
os séculos 4º e 5º.
Muitas peculiaridades marcavam a dinâmica do matrimônio
no contexto desse momento da História da Igreja. Entre essas pe-
culiaridades merece destaque, em primeiro lugar, o fato de que,
no Ocidente, a bênção nupcial era celebrada durante o transcur-
110 © História da Igreja Antiga e Medieval
Penitência
A propósito das conversões do século 4º, pessoas com pouco
espírito de fervor ingressaram na dinâmica da Igreja. Essa situação
promoveu a multiplicação de escândalos, cuja marca era a inob-
servância evidente da doutrina e dos mandamentos defendidos
pela Igreja (pecado), escândalos esses que estimularam a Igreja a
desenvolver e exercitar o seu "direito penal".
A pena mais grave, nesse contexto, era a "excomunhão",
por meio da qual o fiel ficava excluído da Igreja. A aplicação desta
pena se dava a propósito da incidência dos três pecados canôni-
cos: apostasia, adultério e homicídio.
Os clérigos, por sua vez, eram castigados mediante a "sus-
pensão" e "deposição" do cargo. Na Espanha, os bispos eram cas-
tigados mediante a privação da "comunhão fraterna" e do direito
de assistir aos sínodos.
Heresias judaizantes
As heresias judaizantes são definidas, de modo geral, como
a incidência, da parte dos chamados "judeus-cristãos" (século 1º),
que não aceitaram a universalidade do Cristianismo e defenderam
a vigência da Lei Mosaica, em erro caracterizado como a inobser-
vância à doutrina e regras vigentes.
As correntes ligadas a essa modalidade herética dividem-se
em duas categorias principais: a dos que se limitavam a perma-
necer fiéis à Lei de Moisés e os que ousaram impor a observân-
cia dessa lei, sobretudo a circuncisão, aos cristãos provenientes
Gnosticismo
O termo "gnosticismo" refere-se a um movimento anterior
ao Cristianismo, cuja origem etimológica nos remete ao sentido do
termo gnosis (ciência). As primeiras influências desse movimen-
to na dinâmica do Cristianismo deram-se nas chamadas comuni-
dades paulinas, a despeito de que Paulo, nesse contexto, previne
seus fiéis da "falsa gnose" (Cl 2, 2).
A gnose, com efeito, é considerada, de acordo com Ribei-
ro (1989, p. 24): "[...] a heresia mais complexa, que compreende
elementos filosófico-religiosos orientais e cristãos", afirmação que
define o termo e, ao mesmo tempo, determina sua importância no
contexto do desenvolvimento do Cristianismo.
Ribeiro (1989, p. 24-25), em seu discurso sobre a gnose, ain-
da afirma o seguinte:
Os gnósticos não compunham uma seita, porém vários movimentos
sincréticos que absorviam todas as tradições religiosas da época: a
filosofia helênica (sobretudo Platão), o dualismo persa, as doutrinas
dos cultos de mistério (Elêusis e Dionísio), o judaísmo e o cristianismo.
Ao contrário das heresias judaicas, apegadas ainda às tradições mo-
saicas, os gnósticos eram pagãos que, aceitando a fé cristã, queriam
nela introduzir suas concepções pessoas e suas teorias filosóficas.
Esta heresia sempre esteve em contínua evolução, mas os diversos
sistemas dela nascidos têm um ponto em comum, que é o conceito
de que entre Deus e a matéria existem uma série de seres intermedi-
ários que tornam possível ao homem alcançar a divindade.
Montanismo ou milenarismo
O Milenarismo representou a esperança e crença em um
eventual e próximo retorno de Cristo ao mundo para fundar um
"reino milenar" com seus eleitos. Ao final do transcurso de mil
anos da fundação desse reino, ocorreria a ressurreição geral e o
juízo universal.
Seu advento está ligado à ação de Montano, sacerdote pagão
da deusa Cibeles que, convertido ao Cristianismo, se desviou logo
da fé ortodoxa, elaborando e introduzindo suas ideias heréticas na
Frígia, região da Ásia Menor, em torno do ano 150.
O sacerdote Montano considerava a si mesmo como instru-
mento do Espírito Santo para conduzir a Igreja à perfeição. Sua dou-
trina destacava o iminente retorno de Cristo, que, por sua vez, o teria
enviado por meio do Espírito Santo para estabelecer o reino milenário
na Terra. Essa doutrina baseava-se no rigorismo moral (inicialmente,
os montanistas pregavam a renúncia ao matrimônio, o jejum rigoroso
três dias por semana e proibiam que se fugisse diante de eventual
possibilidade de submissão ao martírio) e no rigorismo penitencial
(admitiam o poder da Igreja para perdoar os pecados, mas recomen-
davam que não se fizesse uso desse poder, pois entendiam que os
fiéis, contando com a alternativa de receber o perdão da Igreja, po-
deriam incorrer em negligência deliberada em relação à observância
das regras da Igreja às quais se submetiam). Os montanistas também
128 © História da Igreja Antiga e Medieval
Heresias antitrinitárias
Foi em meados do ano 180 d.C. que o escritor cristão Teófilo
de Antioquia utilizou pela primeira vez a palavra 'tríade' ou 'trinda-
de' para explicar a fé num só Deus em três pessoas que configura o
dogma da Santíssima Trindade. Com efeito, segundo esse dogma,
a Trindade Sagrada representa um só Deus (em outras palavras, o
Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus).
A oposição a esse dogma é o que define mencionada heresia
antitrinitária, cujas primeiras ocorrências caracterizaram-se pela
negação da divindade de Cristo a propósito da dificuldade encon-
trada pelos indivíduos que incorreram na prática dessas heresias
em conciliá-la com o monoteísmo.
A origem das heresias antitrinitárias está ligada aos seguin-
tes movimentos:
• Monarquianismo ou "unidade de Deus" – O fundamento
desse movimento consiste no sacrifício da divindade do
Verbo e do Espírito Santo ou na negação da distinção real
entre as três Pessoas Divinas em favor da ideia que no-
meia o movimento, qual seja a da unidade de Deus.
• Monarquianismo dinamista ou adocionista – Esse movi-
mento foi criado por Teodoto, Teodoto "O Jovem" e Paulo
de Samosata. O fundamento do movimento está ligado à
crença de que Cristo foi um homem puro que nasceu mi-
lagrosamente da Virgem Maria. Além disso, no batismo,
Deus infundiu a Cristo um poder (dynamis) sobrenatural e
o adotou por Filho (daí a nomenclatura adocionista). Teo-
doto foi condenado no ano 190 pelo papa Vítor, mas a he-
resia sobreviveu, tendo, inclusive, dado origem a outras.
• Monarquianismo modalista ou patripasiano - Movimento
criado por Noeto de Esmirna, Praxeas e Epígono que en-
sina que Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo são
uma só e mesma Pessoa. Esta única Pessoa, existente em
Deus, manifesta-se de diversos modos (o que explica a
nomenclatura modalista): como Criador, como Redentor
(o Pai é quem padece = patripasianos), como Santificador
etc. Segundo essa perspectiva, foi o Pai que se encarnou
e que, ao nascer, toma o nome de Filho (que morre na
cruz), mas continua na condição de Pai.
Controvérsias soteriológicas
Enquanto no Oriente desenvolviam-se as lutas trinitárias e
cristológicas, no Ocidente ventilavam-se questões prático-religio-
sas que tinham por objeto a Igreja como instituição salvífica (dona-
tismo), a condição originária do homem e as relações entre a graça
e a liberdade humana (pelagianismo e semipelagianismo).
Essas discussões remetem a reflexão ao conceito da Sote-
riologia, bem como às doutrinas que, no contexto mencionado,
se filiaram a esse conceito. Com efeito, a Soteriologia, segundo o
Dicionário Houaiss (2009), refere-se à "parte da teologia que trata
da salvação do homem" ou à "doutrina da salvação da humanida-
de por Jesus Cristo". E entre as doutrinas criadas sob esse funda-
mento, destacam-se o Donatismo e o Pelagianismo, cuja natureza
é detalhada nos itens seguintes.
Donatismo
O Donatismo expressou-se em doutrinas rigoristas, rebatiza-
ção dos hereges e novacionismo, que faziam depender a eficácia
dos Sacramentos não somente da fé ortodoxa, mas também da
moralidade da autoridade que os ministra (dispensa). Os adeptos
dessas doutrinas erravam também no que diz respeito à organiza-
ção da Igreja, a qual não admite pecadores em seu seio. O cisma
134 © História da Igreja Antiga e Medieval
Padres apostólicos
Os chamados Padres Apostólicos foram discípulos dos após-
tolos que atuaram como escritores, tendo sido os seus escritos
produzidos e divulgados após o advento do Novo Testamento, em
especial no período que se estende do final do século 1º até a
primeira metade do século 2º. A obra inclui importantes escritos
de tipo pastoral para edificação e instrução (Koiné, em grego vul-
gar), importância essa que é reconhecida por Bihlmeyer e Tuechle
136 © História da Igreja Antiga e Medieval
Apologistas
Os cristãos, durante os três primeiros séculos, foram objeto
de ódio da parte do Estado, dos intelectuais e do povo.
As apologias, produzidas ao longo do período entre os séculos
2º e 4º, após a morte de Juliano, o Apóstata, em 363, não configura-
ram obras sistemáticas ou tratados de religião, mas obras polêmicas
produzidas para refutar as objeções de seus adversários e, por isso,
dirigiam-se contra e hereges oponentes do Cristianismo.
Os principais apologistas foram:
• Gregos: Quadrato (123-124), Aristides (136-161), Taciano
(170), Aristo de Pela (140), Teófilo de Antioquia (180), Me-
litão de Sardes (170), Atenágoras (177) e Justino (165).
• Latinos: Minúcio Félix (200), Tertuliano, Arnóbio de Sicca
(300) e Lactâncio (+317).
17. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você pôde construir conhecimentos sobre a
organização e constituição da Igreja, tendo em vista os cultos que a
caracterizam, tais como o batismo, o catecumenato e a eucaristia.
Você também teve a oportunidade de estudar, em se tratando da
dinâmica cristã, a liturgia, os sacramentos, as festas e a origem e
o desenvolvimento da vida monástica no Oriente e no Ocidente,
além das heresias e cismas que marcaram os três primeiros sécu-
los da Era Cristã, bem como a obra dos escritores eclesiásticos, os
concílios e a atuação dos Padres da Igreja.
Na perspectiva da continuidade dos estudos da disciplina
História da Igreja Antiga e Medieval, abordaremos, na próxima
18. EREFERÊNCIAS
Sites pesquisados
ACIDIGITAL. Sacramentos. Disponível em: <http://www.acidigital.com/sacramentos/>.
Acesso em: 10 mar. 2011.
MERCABÁ - WEB CATÓLICA DE FORMACIÓN E INFORMACIÓN. Las persecuciones
contra los cristianos. Disponível em: <http://www.mercaba.org/Fichas/catacombe/2_
las_persecuciones_contra_los_c.htm>. Acesso em: 15 fev. 2011.
2. CONTEÚDOS
• Perseguições do Império Romano aos cristãos.
• Igreja no Império Romano Cristão.
146 © História da Igreja Antiga e Medieval
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 2, você pôde compreender a organização e a
constituição da Igreja. Nesta unidade, focalizaremos a relação de
poder estabelecida pelo Império Romano contra os cristãos. Fo-
ram diversas as frentes de hostilidades levantadas contra os cris-
tãos: as judaicas, as dos pagãos, as calúnias populares e as dos
intelectuais.
Veremos, também, a expansão do Cristianismo nos três pri-
meiros séculos, a conversão de Constantino, sua política religiosa
e seus sucessores até Teodósio.
Vamos, então, aos acontecimentos no mundo cristão daque-
la época!
Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Quando se trata o tema das perseguições sofridas pelos cristãos, é preciso es-
clarecer alguns pontos importantes:
• Nesta unidade, ponderaremos as perseguições sofridas pelos cristãos no perí-
odo que vai do século 1º ao 4º. No decorrer da História do Cristianismo, houve
muitas perseguições contra os seguidores de Cristo e, ainda hoje, ocorrem
perseguições contra cristãos.
• Outras religiões também sofreram perseguições em outros momentos da his-
tória humana.
• Os primeiros séculos da história cristã são chamados da época das perseguições.
Também se fala da época da Igreja das catacumbas, ou ainda, da Igreja das per-
seguições, ou Igreja dos mártires. Estas expressões são oportunas, mas histo-
ricamente apresentam limitações. Nem todos os cristãos dos primeiros séculos
148 © História da Igreja Antiga e Medieval
Hostilidades judaicas
Desde as primeiras décadas do Cristianismo, os judeus hosti-
lizaram os cristãos (morte de Jesus, de Estevão, prisão de Pedro e
dos apóstolos etc.), e muitos escritores cristãos falam que as sina-
gogas judaicas eram "mananciais das perseguições".
Assim, o primeiro desafio do Cristianismo foi libertar-se das
influências judaicas, pois tanto Jesus como seus discípulos eram
todos judeus. Tanto que, inicialmente, os cristãos conviviam har-
monicamente com os costumes sociais e religiosos judaicos, e só
com o decorrer de algumas décadas, é que foram se separando da
tradição judaica.
Calúnias populares
O povo das várias cidades onde os cristãos fundavam suas
comunidades não tinha acesso ao culto cristão e isso deixava vá-
rias interrogantes ou dívidas sobre o que era e como se desenvol-
viam os ritos cristãos. Por outro lado, os cristãos não participavam
dos cultos públicos. Assim, os cristãos foram acusados de ateísmo
(negavam-se a participar dos cultos tradicionais, do culto imperial
e das religiões orientais) – o povo supunha que os cristãos não ti-
nham religião. Para a mentalidade antiga, isso era uma aberração
que ameaçava o equilíbrio social, com ofensas aos deuses que, por
isso, enviavam calamidades (inundações, terremotos, epidemias,
povos bárbaros) ao império, atingindo toda a população.
Muitos romanos acreditavam que os cristãos tinham um culto
abominável, o culto ao asno crucificado ou a um bandido condenado
à cruz. Deturpando a celebração da ceia eucarística, o povo acusava
os cristãos de prática do incesto, já que se amavam com os irmãos e
isto levava a crer que o culto tinha muitas orgias; também afirmavam
que a eucaristia tinha como momento mais importante um "banque-
te infanticida", em que se comia o corpo de Cristo e se bebia o seu
sangue (isso podia ocorrer com o sacrifício de uma criança).
Aprofundando esta questão, Jedin (1980, p. 204-205) afirma:
As comunidades cristãs que, como fruto do trabalho missionário,
surgiram por várias cidades do império, dado sua separação de tudo
o que tinha relação com o culto pagão, tinham que atrair sobre si,
Os povos bárbaros
A partir do Edito de Milão, os cristãos tiveram mais liberdade
de ação. É claro que, mesmo no primeiro século, os cristãos já che-
gavam a várias regiões que não eram dominadas pelos romanos.
O Império Romano era o grande fascínio dos povos germâ-
nicos e eslavos, conhecidos como bárbaros, por serem rudes e não
terem alcançado o progresso dos romanos. Por isso, vários povos
do norte e leste europeu ameaçam as fronteiras do império, que
vai se debilitando, até a queda em 476.
Vários destes povos eram pagãos, alguns já conheciam ru-
dimentos da fé cristã e outros já conheciam várias heresias. Tan-
to os que já estavam dentro das fronteiras do império como os
que estavam fora precisavam ser evangelizados. Foi necessário um
trabalho intenso e árduo, que durou vários séculos. Os missioná-
rios, em sua grande maioria, monges, percorreram toda a Europa,
O Papado fortalecido
Quando os povos bárbaros começaram a invadir as frontei-
ras do Império Romano, este começou a entrar em crise, a qual
teve seu ponto alto na deposição do Imperador Rômulo Augústu-
lo, no ano de 476.
A queda do Império Romano não se deu só por causa dessas
invasões, outros motivos contribuíram para isso: a depravação dos
costumes, as imoralidades, a falta de seriedade e espírito de sa-
crifício e de trabalho dos cidadãos do império, as lutas pelo poder
que geravam muitas mortes, golpes militares e desestabilização
política, a crise econômica, a manutenção de um grande exército
etc. Era, pois, inevitável a queda.
Estejamos atentos, porque esta queda do Império Romano só
se deu na parte Ocidental do império. A parte Oriental só caiu no ano
de 1453, quando os turcos otomanos dominaram Constantinopla.
O MONACATO CRISTÃO
No primeiro século, já existiam no seio da Igreja primitiva
os ascetas, ermitães ou anacoretas (homens que deixam tudo e
retiravam-se à solidão dos desertos, das florestas e dos lugares
182 © História da Igreja Antiga e Medieval
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Como era a relação dos cristãos com o mundo romano e quais as principais
causas das perseguições?
8. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você foi convidado a compreender o proces-
so histórico de perseguição sofrido pelos cristãos na antiguidade,
bem como as diversas frentes de hostilidades judaicas e pagãs
contra a fé cristã, por meio das calúnias populares e intelectuais
articuladas contra os seguidores de Cristo. Mas o Cristianismo re-
sistiu a tudo isso e foi se estruturando internamente e conquistan-
do espaços externamente. Precisamos, contudo, refletir sobre isto:
a religião cristã, vítima de tamanha perseguição, tornou-se livre e,
posteriormente, veio a ser a religião oficial do Império Romano.
Na proxima unidade, veremos as características do mundo
medieval, queda de Roma e ascensão do Cristianismo.
Até lá!
9. E!REFERÊNCIA
Celso – Texto: SUBSOLO. Celso. Disponível em: <http://www.subsolo.org/hermenauta/
archives/2007/01/eterno_retorno.html>. Acesso em: 13 maio 2011.
2. CONTEÚDOS
• Idade Média.
• Queda de Roma (476), povos germânicos e eslavos (bár-
baros).
• Ascensão da Igreja, o Estado Pontifício e o Feudalismo.
• Espiritualidade Cristã .
• Vida monástica.
186 © História da Igreja Antiga e Medieval
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 3, você foi convidado a compreender a relação
de poder estabelecida pelo Império Romano contra os cristãos.
Nesta unidade, vamos reconhecer a terminologia e as ca-
racterísticas do mundo medieval, estudar a queda de Roma (476),
as características dos povos germânicos e eslavos (bárbaros), a as-
censão da Igreja e a organização do Cristianismo medieval.
Bom estudo!
5. IDADE MÉDIA
A Idade Média é um dos períodos mais interessantes de se
estudar, seja no âmbito social, seja no âmbito eclesial.
Quando se fala em Idade Média, pensa-se no "século de ferro"
da Igreja, na papisa Joana, no Feudalismo, na Cristandade e no auge
do papado, no surgimento do Islamismo, nas Cruzadas, na Inquisição,
na perseguição aos hereges e às mulheres acusadas de bruxaria, no
Humanismo e no início do Renascimento (porque o Renascimento
continua até o século 16), temas que até hoje são discutidos com evi-
dência e nem sempre analisados criticamente.
Para entender melhor, vejamos alguns esclarecimentos in-
trodutórios para nos situar no contexto da Idade Média:
1) A Idade Média está inserida no período entre os séculos
8º e 13. Porém, para alguns historiadores eclesiásticos,
a Idade Média já começa com o Edito de Milão, em 313;
para outros, inicia-se com a derrocada do Império Roma-
no do Ocidente, ocorrida no ano 476, ou com o fim das
controvérsias doutrinais antigas, no 3º Concílio de Cons-
tantinopla, em 681. E ela se estenderia até o início da
crise eclesial do século 13, ou até a queda de Constanti-
nopla, em 1453; ou ainda, até a descoberta da América e
a vitória espanhola contra os muçulmanos, em 1492; ou
até o início da reforma luterana, em 1517.
188 © História da Igreja Antiga e Medieval
Queda de Roma
A partir do século 2º, o grande Império Romano passou por vá-
rias crises e, de modo especial, sofreu com o processo migratório de
vários povos do norte e leste europeu que ameaçavam as fronteiras.
192 © História da Igreja Antiga e Medieval
Islamismo
Igualmente importante, é ressaltar neste momento o sur-
gimento do Islamismo (nome que significa "submetido à vontade
divina"), com Maomé. Após uma vida de comerciante, Maomé foi
aos poucos articulando a nova religião surgida na Península Arábi-
ca, com uma profissão de fé simples: fé e adoração só em Alá, o
Deus único; obediência ao Corão como livro sagrado; e o respeito e
obediência a Maomé, o profeta. A partir do ano 622, começou-se a
sua expansão religiosa e militar, fenômeno conhecido como "Égira
muçulmana". Nos séculos 7º e 8º, os muçulmanos conquistaram o
Oriente Médio, chegaram às portas de Constantinopla em 718 e to-
maram todo o norte africano, de onde chegaram na Espanha no ano
711, sendo barrados na França, na famosa batalha de Poitiers, pelo
franco Carlos Martelo.
8. ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
A Idade Média marca o robustecimento da espiritualidade
cristã, o qual, com as bases na antiguidade cristã e com os novos
dogmas, adquiriu estabilidade. Nesse período, destacamos os se-
guintes aspectos:
1) Cresceu a piedade eucarística e a instituição da festa de
Corpus Christi, em 1264.
2) Desenvolveu as imagens de Cristo: ícones, vitrais, pinturas
etc.
3) Criou-se a Via-Sacra, a partir do ano 1150.
4) Verificou-se o aumento da devoção mariana: orações,
dedicação de Igrejas a Maria. O sábado torna-se o dia
9. VIDA MONÁSTICA
O desenvolvimento e a expansão do Cristianismo, nos primei-
ros séculos, foram muito enriquecidos com o testemunho de muitos
de seus seguidores, com especial destaque para os mártires. Um dos
grupos que mais se desenvolveu e ajudou na sua consolidação foi a
vida monástica. Já nos primeiros séculos, surgiram ascetas, anacore-
tas e virgens, homens e mulheres que se consagravam ao seguimento
de Jesus Cristo e abandonavam tudo para viver o ideal do deserto.
Com o tempo, este estilo de vida foi se organizando e deu origem à
vida comum ou cenobitismo, com o surgimento de várias regras mo-
násticas (Pacômio, Agostinho, Basílio, Isidoro de Sevilha etc.) e com
a construção de grandes mosteiros no Oriente e no Ocidente. No
Ocidente, uma figura de grande destaque foi São Bento de Núrsia, a
partir do início do século 6º, considerado o pai do monacato do Oci-
dente: a partir de Subíaco e Montecassino (mosteiro fundado no ano
529), seus monges percorreram toda a Europa, fundando mosteiros,
convertendo povos bárbaros e romanos, construindo cidades e con-
servando a ciência. Com o tempo, os mosteiros tornaram-se muito
ricos e fontes de grande poder, também eles nas mãos dos senho-
res feudais e reis. Houve um processo de grande decadência que só
foi superado com as reformas monásticas medievais, com destaque
para a de São Bento de Aniane, no início do século 9º e a reforma de
Cluny, a partir do ano 909, na Borgonha francesa. Este mosteiro tinha
vínculos com Roma e ficou livre da ingerência das autoridades locais
e também dos bispos; com abades íntegros e firmes, foram fundados
centenas de mosteiros reformados que conduziram o Cristianismo a
viver uma das suas maiores reformas até a sua consolidação medieval
com o apogeu da Cristandade, representada especialmente por um
papa saído do movimento reformístico de Cluny: papa Gregório VII
(1073-1085). Sobre Cluny, Del Roio assim escreve:
Uma inovação que teria inúmeras conseqüências se daria com a mu-
dança da antiga regra beneditina do ora et labora. O trabalho manual
seria reservado aos leigos, para que os monges se concentrassem
plenamente na oração. Esta deveria ser vista não mais como súplica
para alcançar graças, mas como glorificação de Deus, através da qual
4) Como você analisa a posição cristã diante da invasão dos povos germânicos
e eslavos?
11. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você teve a oportunidade de compreender a
terminologia e as características do mundo medieval, bem como
a queda de Roma (476) e as particularidades dos povos germâni-
cos e eslavos (bárbaros). Com esses conhecimentos, foi possível
analisar a ascensão da Igreja, o Estado Pontifício, o feudalismo e a
organização eclesial na Idade Média.
Na Unidade 5, vamos estudar o Cisma do Oriente (1054), as
Igrejas ortodoxas, o Islamismo e as Cruzadas.
206 © História da Igreja Antiga e Medieval
2. CONTEÚDOS
• Cisma do Oriente (1054) e as Igrejas Ortodoxas.
• Islamismo.
• Cruzadas (as ordens militares).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 4, você pôde estudar e refletir sobre os concei-
tos relacionados às terminologias e às características do mundo
medieval, especialmente da "primeira Idade Média".
Agora, na Unidade 5, você terá a oportunidade de refletir
sobre a situação do Cristianismo entre os séculos 10 e 13, tendo
como temas principais o Cisma do Oriente (1054), as Igrejas Orto-
doxas e o Islamismo. Compreenderemos, ainda, os objetivos e as
estratégias das Cruzadas.
Está pronto para o desafio?
Bom estudo!
Como você pode notar, é por meio deste contexto, com mui-
tas mudanças e transformações, que é preciso analisar a vida do
Cristianismo e suas mudanças, que pouco a pouco o inseriram no
mundo da modernidade com suas rupturas e desafios.
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Podemos resumir o pontificado de Inocêncio III como a época do auge e do apo-
geu da hierocracia, ou também, eclesiocracia ou eclesiocentrismo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os sucessores de Inocêncio III continuaram a sua obra, tanto
na relação política com os imperadores como nos assuntos eclesi-
ásticos. As relações da Igreja com a monarquia alemã foi se enfra-
quecendo e, simultaneamente, fortaleceu-se a aliança daquela
com a monarquia francesa, de modo especial com o rei São Luís IX
(1226-1270). O sinal do estreitamento da relação e dependência
da Igreja com a França se deu com a convocação do Concílio Ecu-
mênico de Lyon, em 1274, para fortalecer a reforma eclesiástica,
buscar ajuda para a Terra Santa e se tentar a união com a Igreja
Grega. Com o Papa Bonifácio VIII (1294-1303), foi iniciada a fase de
decadência do poder temporal dos papas em função do enfraque-
cimento da Igreja. As nações europeias buscavam o fortalecimento
da autonomia. Estavam mais preocupadas com os seus assuntos
internos, com o fortalecimento das novas classes burguesas em
detrimento da nobreza feudal, com o surgimento do humanismo
e da sociedade e cultura modernas. Bonifácio VIII não conseguiu
dialogar com as novas realidades que surgiam e nem com o poder
político estabelecido e acabou ficando sozinho.
Causas políticas
Já nos primeiros séculos, com o surgimento da discussão em
torno da data pascal, no século 2º, e das heresias e de discursos
Causas eclesiástico-doutrinais
Além das questões políticas, outro fator importante na divi-
são foram as heresias.
Como muitas delas brotaram e tiveram seu apoio em segmen-
tos das Igrejas do Oriente, automaticamente se produziram tensões
entre as autoridades locais e a autoridade romana. Assim, podemos
destacar o Arianismo, o Nestorianismo, o Monofisismo etc.
A questão da Iconoclastia (guerra das imagens), no século
8º, e a do Filioque (procedência do Espírito Santo), no século 9º,
222 © História da Igreja Antiga e Medieval
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Dentre as tentativas de união ou diálogo, podemos citar o II Concílio de Lyon, em
1274 e os Concílios de Ferrara e Florença, em 1431-1443.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Atualmente, as Igrejas Ortodoxas Orientais dividem-se nos
seguintes patriarcados: Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Bulgária,
Constantinopla, Romênia, Moscou e Sérvia. Além disso, existem as
Igrejas "autocéfalas" da Grécia, Chipre, Polônia e República Tche-
ca. Calcula-se que os ortodoxos são atualmente uns 150 milhões
fiéis. Não há um magistério central, elas se articulam em um regi-
me sinodal de colegiado.
Dessa maneira, entre as Igrejas Ortodoxas, temos as cha-
madas Igrejas Antigas Orientais: a Igreja Apostólica da Armênia,
a Igreja Síria Ortodoxa, a Igreja copta Ortodoxa e a Igreja Etíope
8. ISLAMISMO E CRUZADAS
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais são as características da Cristandade medieval?
5) Qual a importância deste estudo medieval para minha vida acadêmica e pro-
fissional?
10. CONSIDERAÇÕES
A Unidade 5 encerra-se aqui. No decorrer deste estudo, você
pôde estudar e refletir sobre alguns conceitos relacionados à Cris-
tandade medieval, ao Cisma do Oriente (1054), às características
do Islamismo e às Cruzadas.
Na próxima unidade, você vai estudar conceitos relacionados
ao auge e à crise da Cristandade, às heresias medievais, à Inquisi-
ção e à Reforma da Igreja na passagem para a Idade Moderna.
Até lá!
2. CONTEÚDOS
• Auge e crise da Cristandade (investiduras).
• Heresias medievais (cátaros, valdenses, apocalípticos).
• Movimentos de renovação eclesial (mendicantes).
• Inquisição.
• Transição entre Idade Média e Idade Moderna.
• Ciência escolástica e a mística medieval.
• Crise da Cristandade e os movimentos pré-luteranos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A unidade anterior abordou o tema da Cristandade medieval,
o Cisma do Oriente, o Islamismo e as Cruzadas. Agora, na Unidade
6, última unidade da disciplina História da Igreja Antiga e Medie-
val, você terá a oportunidade de estudar conceitos relacionados
ao auge e à crise da Cristandade medieval, às heresias medievais e
aos movimentos de renovação eclesial, à Inquisição e à transição
entre Idade Média e Idade Moderna, destacando a ciência esco-
lástica, a mística medieval, a crise da Cristandade e os movimentos
pré-luteranos.
Vamos lá?
Reformas monásticas
Como já vimos, na segunda fase da Idade Antiga da Igreja
(séculos 4º ao 7º), surgiram várias Ordens Religiosas no Cristia-
nismo. Elas se desenvolveram a partir do Oriente, e dali, poste-
riormente, se expandiram para o Ocidente cristão. Como muitas
instituições sociais ou religiosas, já na Idade Média, várias dessas
Ordens desapareceram.
Em contrapartida, outras, especialmente a Ordem Benedi-
tina, desenvolveram-se muito, trazendo uma grande contribuição
para a Igreja e ajudando no fortalecimento do sistema de Cris-
tandade. A Ordem Beneditina teve um grande destaque em todo
este processo. Em 529, São Bento de Núrsia fundou, na Itália, o
mosteiro de Monte Cassino.
Na Europa, aconteceu uma grande expansão de mosteiros e
a regra beneditina, muito precisa e fundamentada no ora et labo-
ra (oração e trabalho), foi, aos poucos, impondo-se sobre as outras
regras do Ocidente. No início do século 8º, com o apoio dos impe-
radores em seus projetos de reforma eclesial, ela foi imposta a todo
o Ocidente e os mosteiros foram fundados em todos os países, nos
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A reforma monástica de Cluny, na França, foi iniciada por um nobre, Guilherme, o
Pio, de Aquitânia e São Berno, um grande reformador, e expandiu-se pela Fran-
ça, Itália, Espanha, Inglaterra, Portugal, Alemanha etc. No seu apogeu, foram
mais de 1.500 mosteiros dependentes.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Nesse mesmo período, novas ordens surgiram:
1) Em 950, São Nilo fundou o mosteiro na Calábria e, de-
pois, assumiu a abadia de Grottaferrata, em Roma.
2) Camaldolenses de São Romualdo, fundados em 982, na
Itália.
3) Valombrosa de São João Gualberto.
4) Congregação da Cava etc.
Houve, também, as reformas do clero secular, a partir do sé-
culo 11, que iniciaram, em muitas regiões, um tipo de "vida comum"
ou "vida canônica".
Desse modo, com a Reforma Gregoriana (1073-1085), foi
fortalecida a autoridade papal e a tentativa de se acabar com a
intromissão leiga dos nobres e príncipes nos assuntos da Igreja.
238 © História da Igreja Antiga e Medieval
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O ponto culminante dessa obra foi o IV Concílio de Latrão, em 1215, que promul-
gou pela primeira vez a doutrina da transubstanciação (no ato da consagração, o
pão e o vinho da comunhão se transformam substancialmente no corpo e sangue
de Cristo).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Além disso, vale destacar os seguintes acontecimentos:
1) Foram condenados os valdenses, os albigenses e as dou-
trinas de Joaquim de Fiore.
2) Foi decretada a Inquisição episcopal, que ordenava a cada
bispo investigar as heresias de sua diocese e extirpá-las.
3) Foi proibido fundar ordens religiosas com novas regras
monásticas.
4) Ordenou-se que fossem criadas escolas nas catedrais
para a educação dos pobres.
5) Foi proibido que os clérigos participassem de teatro, de
jogos, de caça e de outros passatempos semelhantes.
240 © História da Igreja Antiga e Medieval
Heresias medievais
A formação da ortodoxia cristã teve o seu auge entre os sé-
culos 4º e 7º, época dos grandes concílios ecumênicos. Com o Con-
cílio Ecumênico de Constantinopla (680-681), terminou a fase das
discussões antigas sobre a doutrina da Igreja.
Na primeira fase da Idade Média (692-1073), em função das
várias mudanças sociais e eclesiais, especialmente a questão das
instabilidades ocorridas pelas invasões bárbaras e expansão mu-
çulmana, o ambiente não foi muito favorável para a reflexão teo-
lógica.
Dentre as mudanças sociais na primeira fase da Idade Média,
estão: queda do império, invasões dos "bárbaros", fortalecimento
do sistema feudal, expansão muçulmana etc.
Assim, não surgiram heresias, mas sim várias discussões te-
ológicas sobre a doutrina cristã que não saíram do ambiente dos
mosteiros e escolas teológicas:
1) questão da Iconoclastia sobre a veneração das imagens
sagradas, iniciada em Constantinopla e esclarecida no II
Concílio de Niceia, em 787;
2) questão do Filioque, essa discussão provocou o aumen-
to das diferenças entre as Igrejas latina e grega e persiste
ainda hoje;
3) questão do Adocianismo (Jesus teria sido adotado como
Filho de Deus, desde o batismo), surgida na Espanha
com os bispos Elipando de Toledo e Félix de Urge e con-
denada no sínodo romano de 798;
4) controvérsia sobre a Predestinação, levantada pelo
monge Godescalco, do mosteiro de Fulda, na Alemanha
e condenada em vários sínodos alemães;
8. INQUISIÇÃO
Agora, estudaremos a "inquisição", entidade mais criticada
e mais incompreendida de toda a História do Cristianismo. Ela foi
um tribunal criado pela própria Igreja para combater os hereges
e aqueles que não se adequavam ao sistema da Cristandade me-
dieval. Aprofundando, podemos dizer que ela foi uma instituição,
com aspectos jurídicos precisos, que teve sua atenção voltada para
investigação dos hereges medievais e suas teorias, tendo como ob-
jetivo identificá-los e tomar as medidas para controlá-los e excluí-
los do contexto da Cristandade latina medieval.
O Pe. Giacomo Martina, historiador jesuíta, faz um juízo da
Inquisição com estas palavras, traduzidas do original italiano:
A Inquisição representa um dos pontos nevrálgicos da cristandade me-
dieval, e, em geral, da História da Igreja. É necessário, porém, compre-
ender o espírito que permitiu o seu nascimento e desenvolvimento: a
intolerância era comum em toda a Idade Média e a tolerância se afir-
mou fatidicamente só na idade moderna mais recente. A Igreja, pois,
fez uso dos meios que o procedimento penal daquele tempo lhe colo-
cava à disposição. Compreender isto, porém, não significa justificar ou
absolver. Não temos necessidade de justificar a Inquisição medieval e
não o faremos. A aceitação de algumas denúncias, também anônimas
e a conservação do segredo acerca de textos pesados, a exclusão qua-
se geral de um defensor, a excessiva extensão do conceito de here-
sia, a aplicação da tortura, apesar dos limites e cautelas previstos pelo
Direito, a pena de morte, são atos tão distantes do genuíno espírito
evangélico: não resta senão reconhecer que, ao menos nisto, a idade
moderna, mesmo com erros e desvios, compreendeu melhor as exi-
gências da mensagem cristã ( 1980, p. 130).
6) adultério;
7) bigamia;
8) prostituição;
9) ler livros proibidos;
10) infanticídio etc.
Entre os inquisidores mais conhecidos, destacam-se:
1) Bernardo Gui.
2) Tomás de Torquemada.
3) Conrado de Marburgo.
4) Pedro de Verona.
Calcula-se que, dos processos levados a termo, só foram
condenados à pena de morte 5% dos acusados. Tristes foram, tam-
bém, as acusações contra centenas de milhares de mulheres, acu-
sadas inocentemente de bruxaria, em vários países da Europa.
A Inquisição instalou-se também na Espanha, em 1480, e
em Portugal, em 1540. Calcula-se que nesses dois países houve
mais de 30 mil hereges queimados. Grande parte dos persegui-
dos e condenados era de judeus (conhecidos como cristãos-no-
vos) e muçulmanos, às vezes convertidos forçadamente ao Cris-
tianismo.
Todavia, segundo os inquisidores, continuavam praticando
suas antigas religiões. A Inquisição foi abolida em Portugal, em
1821, e, na Espanha, em 1834.
Por meio de Portugal, a Inquisição chegou também ao Brasil.
Aqui, "o Santo Ofício nunca instalou um tribunal permanente; mas
sua ação se exerceu através dos visitadores":
• Heitor Furtado de Mendonça, entre 1591 e 1595.
• Marcos Teixeira, entre 1618 e 1619.
Entretanto, eram delegados poderes aos bispos para efe-
tuarem prisões, confiscar bens e enviar para Lisboa os prisioneiros
a serem julgados.
8) Benedito Spinoza.
9) René Descartes.
10) Ernest Renan etc.
A Inquisição precisa ser entendida a partir do contexto em
que ela surgiu e se expandiu. A Igreja reconheceu os erros e exces-
sos da Inquisição e deseja que não haja mais atentados contra a
vida humana por causa de assuntos religiosos.
O aspecto mais nefasto da prática inquisitorial, justificada no início
pela periculosidade não só religiosa, mas também social de certos
hereges – como os cátaros ou albigenses-, foi o de ter implantado
de maneira cada vez mais decidida e indiscriminada a luta contra a
dissidência, que se tornou perseguição contra qualquer ideologia
diferente e intolerância em relação ao legítimo pluralismo ideológi-
co (PIERINI, 1998, p. 117).
Espiritualidade
As heresias medievais (catarismo, valdenses, fraticelli etc.)
questionaram as estruturas eclesiais e sociais e os sacramentos
cristãos. Isso fez com que a Igreja refletisse sobre esse assunto e,
aos poucos, sistematizasse a "teologia dos sacramentos", até defi-
ni-los em sete, no Concílio de Trento, no século 16.
As devoções fortaleceram-se e se expandiram em torno do
"Cristo homem, crucificado e misericordioso" e também nas devo-
ções à Virgem Maria e no culto aos santos (apesar do comércio de
relíquias e do crescimento das superstições). Surgiram iniciativas
de beneficência e caridade.
Ao mesmo tempo em que se desenvolvia a Ciência Esco-
lástica, foi-se fortalecendo a Mística, a qual tinha por objetivo le-
var o cristão a se aprofundar nas verdades reveladas por meio da
"contemplação interior". Assim, se a Escolástica estudava a fé por
meio da dialética, a Mística estudava a fé por meio da contempla-
ção. Nos séculos 12-14 surgiram grandes místicos, como:
1) Bernardo de Claraval.
2) Hugo de São Vítor.
3) Mestre Eckart.
4) João Tauler.
5) Henrique Suso.
6) João Ruisbroeck.
7) Santa Hildegarda de Bingen.
8) Santa Catarina de Sena.
9) Santa Gertrudes a Grande.
10) Santa Ângela de Foligno etc.
Ciência Escolástica (séculos 11-14)
Com o surgimento da cultura burguesa, aos poucos foram funda-
das as universidades em várias cidades do Ocidente cristão, quase sem-
pre, nas mãos do clero e das ordens religiosas. Nelas, havia um grande
espaço para os estudos teológicos e filosóficos, o que não tinha ocorri-
264 © História da Igreja Antiga e Medieval
Movimento humanista
A situação da Igreja na Idade Moderna foi muito difícil, pois
o mundo medieval, marcado por uma fé teocêntrica (Deus e Igreja
no centro de tudo), e que originou o Sistema de Cristandade, en-
trou em crise. A Idade Moderna ou Nova, cronologicamente, situa-
se do começo do século 14, e estendeu-se até o fim do século 18
(Revolução Francesa e a crise das monarquias).
A Europa está passando por grandes mudanças. Um aspecto
importante a se ressaltar foi a expansão das universidades:
As crises de crescimento típicas do período 1250-1500, embora
agravadas pelos mais diversos fatores (climáticos, higiênicos, re-
ligiosos, ambientais, econômicos, demográficos, sociais, políticos),
266 © História da Igreja Antiga e Medieval
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O começo do século 14 é marcado pela crise da Igreja e o declínio do poder
temporal do Papado, com o Exílio de Avinhão.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Desse modo, o Humanismo é definido como:
[...] doutrina ou atitude que se orienta expressamente por uma
perspectiva antropocêntrica. Afirma ser o homem o criador dos va-
Papas simultâneos
O papa Gregório XI foi o último papa de Avinhão e morreu logo
depois de chegar a Roma. Mas a influência dos reis franceses era mui-
to grande em função do grande número de cardeais franceses. Neste
contexto, foi eleito o papa Urbano VI (1378-1389). Sua eleição foi du-
vidosa, segundo alguns, pois houve muita pressão no conclave para
que se elegesse um papa italiano e não um francês. O papa era um
homem piedoso e reformador, mas orgulhoso, áspero e imprudente,
272 © História da Igreja Antiga e Medieval
e ameaçou criar mais cardeais italianos para fazer frente aos france-
ses. Isso tudo fez com que ele se voltasse contra muitos cardeais que
se afastaram dele e elegesse outro papa, mais próximo dos interes-
ses franceses: Clemente VII (1378-1394), que se instalou em Avinhão.
Cada papa teve apoio de várias nações. O Cisma durou 37 anos.
Tentativas de solução
Houve várias tentativas de se solucionar o Cisma, todas
em vão. O Concílio de Pisa, convocado em 1409 para resolver a
questão, não conseguiu depor os dois papas e elegeu um terceiro,
Alexandre V (1409-1410), conciliador que poderia ter resolvido a
questão, mas morreu logo em seguida. Alexandre V foi sucedido
por João XXIII, totalmente indigno e mundano.
Um só papa novamente
Somente no ano de 1414 foi solucionada a questão, no Concílio de
Constança. Com o apoio do rei Sigismundo da Alemanha, os três papas
foram depostos e eleito o papa Martinho V (1417-1431), que reconduziu
a Igreja a tão esperada paz e tranquilidade. O Concílio criou vários decre-
tos de reforma e condenou as heresias de João Wiclif e João Huss.
3) Olivier Maillard.
4) O dominicano Vicente Ferrer, chamado de "o pregador
do fim do mundo".
Em pleno pontificado de Alexandre VI, da família dos Borja,
um dos papas mais indignos, Jerônimo Savonarola (1498), abalou
a opulenta Florença.
Inicialmente, por meio de sermões à moda da época:
Vede esses prelados dos nossos dias: só pensam na terra e nas coi-
sas terrestres; a preocupação pelas almas não lhes fala mais ao co-
ração. Nos primeiros tempos da Igreja, os cálices eram de madeira
e os prelados de ouro; hoje, a Igreja tem cálices de ouro e prelados
de madeira [...].
Evangelismo
Foi um movimento cristão que surgiu dos Círculos Humanis-
tas Cristãos. Esse Humanismo cristão estava:
[...] marcado pelo culto da exegese bíblica, caracterizado por uma
concepção otimista do homem, por interpretações amplas dos
dogmas, pelo apego mais às experiências místicas do que às disser-
tações teológicas, pelo anseio de uma Igreja evangélica e tolerante,
mas também pela fidelidade ao corpo da Igreja romana (PIERRARD,
1982, p. 162).
Devoção moderna
Do século 14 ao 16, nasceu e se desenvolveu na Igreja um
movimento espiritual que, ligado às tendências modernas, propu-
nha uma "nova orientação da vida espiritual", caracterizada pela
perda de prestígio das teorias sábias e por um método de oração
simples, razoável, acessível a todos, visando à perfeição cristã e à
união com Deus em um abandono que, aliás, não é quietismo, mas
ascese.
As causas deste novo movimento foram o culto individualista
medieval, as crises eclesiais deste período e as falhas da vida cristã
(excomunhões aleatórias, interditos, tráfico de relíquias, práticas
supersticiosas, grande parte do clero mal preparado e ineficiente).
As principais características deste movimento foram:
1) cristocentrismo prático que reforça a humanidade do
Redentor e não discute os temas teológicos, pois o fiel
deve imitar os exemplos de Cristo;
2) oração metódica, inflamada e simples;
3) tendência moralista e antiespeculativa;
4) afeto expresso no fervor e desejo de Deus;
5) biblismo, ou seja, apego à Bíblia como base da Revelação;
280 © História da Igreja Antiga e Medieval
6) interioridade e silêncio;
7) ascetismo e esforço da vontade: fala-se mais do exercí-
cio das virtudes e da vitória contra os vícios do que da
fidelidade às aspirações do Espírito Santo.
Os principais representantes desta corrente espiritual foram:
1) Geraldo, o Grande (1340-1381).
2) Fiorenzo Radewijnis (+1400).
3) Teodorico de Herxen.
4) Henrique Mande.
5) João Busch.
Um dos maiores representantes foi Tomás Kempis (1380-
1471), autor da Imitação de Cristo, que propõe a conformidade e a
configuração com Cristo.
Infelizmente, esses movimentos de reforma não conseguiram
o apoio esperado junto às altas esferas da hierarquia eclesiástica e
não puderam evitar o advento da Reforma Protestante, iniciada com
Martinho Lutero, a partir do ano de 1517. Mesmo assim, esses mo-
vimentos foram importantes para a Igreja porque serviram de base
para reforma eclesial articulada após o Concílio de Trento.
13. CONSIDERAÇÕES
Esta unidade abordou, também, conceitos relacionados à
transição entre Idade Média e Idade Moderna, destacando a ci-
ência escolástica, a mística medieval, a crise da Cristandade e os
movimentos pré-luteranos.
Chegamos ao final da disciplina: História da Igreja Antiga e
Medieval. É oportuno observar que o presente trabalho não teve a
pretensão de esgotar o assunto, pois nosso objetivo era o de traçar
os principais pontos que o envolvem a fim de despertar o interesse
pela pesquisa nessa área.
Continue pesquisando e discuta com seus colegas diferentes
respostas para os antigos problemas. Afinal, o caminho é construí-
do a cada passo! Esperamos que, nessa caminhada rumo ao saber,
nos encontremos novamente para outras buscas.
Resta, por fim, desejar a todos sucesso nos estudos e que os
ensinamentos adquiridos na presente disciplina sejam o primeiro
passo de uma caminhada de reflexão profunda sobre os funda-
mentos teológicos dos cristãos.
Foi um prazer conhecê-lo, ensinar e aprender com você!
GONZALEZ, J. L. Uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1978. v.
4-5.
GRIGULÉVITCH, I. História da inquisição. Lisboa: Editorial Progresso, 1990.
HUBERT, J. Manual de historia de la Iglesia. Barcelona: Editorial Herder, 1986.
JEDIN, H. Manual de historia de la iglesia. Barcelona: Herder, 1986. v. 4-5
MARTINA G. História da Igreja: de Lutero a nossos dias. São Paulo: Loyola, 1995. v. 1
MARTINA, G. Storia della Chiesa. Roma: Centro Ut Unum Sint ,1980.
MATHIEU-ROSAY, J. Dicionário do Cristianismo: Rio de Janeiro: Ediouro, 1990.
NIEL, F. Cátaros y Albigenses. Barcelona: Obelisco, 1998.
NOVINSKY, A.; CARNEIRO, M. L. T. Inquisição: ensaio sobre mentalidade, heresias e arte.
São Paulo: Edusp, 1992.
______. A inquisição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982.
PIERINI, F. A idade média. São Paulo: Paulus, 1998.
RIBEIRO JUNIOR, J. Pequena história das heresias. São Paulo: Papirus, 1989.
SANZONI, L. La inquisición. Barcelona: Liberduplex, 2004.
PIERRARD, P. História da Igreja. São Paulo: EP, 1982.
SCHLESINGER, H.; PORTO H. Dicionário enciclopédico das religiões. Petrópolis: Vozes,
1995. v. 1.