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ANO LITÚRGICO E LITURGIA

DAS HORAS
CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA - EAD

Disciplina:

Ano Litúrgico e Liturgia das Horas – Prof. Ms. Pe. Vitor Pedro Calixto dos Santos

Meu nome é Pe. Vitor Pedro Calixto dos Santos cmf. Sou graduado
em Filosofia, Teologia e em Psicologia, pela PUCPR. Sou especialista
em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo em Roma
e em Psicologia Analítica pela PUCPR. Resido em Curitiba – PR, onde
trabalho no Studium Theologicum como administrador e professor de
Liturgia Sacramentária e de disciplinas da área de psicologia. Além
disso, também atuo como psicólogo clínico. No Claretiano, sou autor
das disciplinas Introdução à Liturgia e Ano Litúrgico e Liturgia
das Horas.

e-mail: vpcsantos@uol.com.br
Prof. Ms. Pe. Vitor Pedro Calixto dos Santos

ANO LITÚRGICO E LITURGIA


DAS HORAS

Guia de Disciplina
Caderno de Referência de Conteúdo
© Ação Educacional Claretiana, 2008 – Batatais (SP)

Trabalho realizado pelo Claretiano de Batatais (SP)

Curso: Bacharelado em Teologia


Disciplina: Ano Litúrgico e Liturgia das Horas
Versão: fev./2010

Reitor: Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor Piva


Vice-Reitor: Prof. Ms. Pe. Ronaldo Mazula
Pró-Reitor Administrativo: Pe. Luiz Claudemir Botteon
Pró-Reitor de Extensão e Ação Comunitária: Prof. Ms. Pe. Ronaldo Mazula
Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Ms. Luís Cláudio de Almeida

Coordenador Geral de EAD: Prof. Ms. Dyjalma Antônio Bassoli


Coordenador do Curso de Bacharelado em Teologia: Prof. Ms. Pe. Vitor Pedro Calixto dos Santos
Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Preparação Revisão
Aletéia Patrícia de Figueiredo Felipe Aleixo
Isadora de Castro Penholato
Aline de Fátima Guedes
Maiara Andréa Alves
Camila Maria Nardi Matos
Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Elaine Cristina de Sousa Goulart Projeto gráfico, diagramação e capa
Lidiane Maria Magalini Eduardo de Oliveira Azevedo
Luciana A. Mani Adami Joice Cristina Micai
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luiz Fernando Trentin
Luis Antônio Guimarães Toloi
Patrícia Alves Veronez Montera
Raphael Fantacini de Oliveira
Rosemeire Cristina Astolphi Buzelli Renato de Oliveira Violin
Simone Rodrigues de Oliveira Tamires Botta Murakami

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial


por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia,
gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco
de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.

Centro Universitário Claretiano


Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo
Batatais SP – CEP 14.300-000
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Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006
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Sumário

GUIA DE DISCIPLINA
1 APRESENTAÇÃO................................................................................................. VII
2 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA........................................................................... VII
3 CONSIDERAÇÕES . ............................................................................................ VIII
4 BIBLIOGRAFIA BÁSICA – ANO LITÚRGICO ............................................................ IX
5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR – ANO LITÚRGICO................................................. IX
6 BIBLIOGRAFIA BÁSICA – LITURGIA DAS HORAS.................................................... X
7 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR – LITURGIA DAS HORAS........................................ X

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


APRESENTAÇÃO.............................................................................................. 1

INTRODUÇÃO À DISCIPLINA
AULA PRESENCIAL........................................................................................... 2

UNIDADE 1 – TEMPO, LITURGIA E CELEBRAÇÃO DO DOMINGO


1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4
2 TEMPO E LITURGIA............................................................................................ 4
3 DOMINGO......................................................................................................... 10
4 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 14
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 14

UNIDADE 2 – TEMPO PASCAL: PREPARAÇÃO QUARESMAL, TRÍDUO PASCAL


E QÜINQUAGÉSIMA PASCAL
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 18
2 DA PÁSCOA SEMANAL À PÁSCOA ANUAL............................................................... 18
3 CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA................................................................................... 22
4 QÜINQUAGÉSIMA PASCAL................................................................................... 26
5 QUARESMA....................................................................................................... 27
6 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 32
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . ........................................................................ 32

UNIDADE 3 – TEMPO DA MANIFESTAÇÃO: ADVENTO, NATAL E EPIFANIA,


TEMPO COMUM E SANTORAL
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 34
2 TEMPO DA MANIFESTAÇÃO.................................................................................. 34
3 ADVENTO.......................................................................................................... 38
4 TEMPO COMUM.................................................................................................. 40
5 SANTORAL........................................................................................................ 44
6 CULTO AOS SANTOS .......................................................................................... 48
7 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 50
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 50
UNIDADE 4 – CELEBRAÇÃO DA LITURGIA DAS HORAS
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 52
2 ORIGEM DA LITURGIA DAS HORAS....................................................................... 52
3 CELEBRAÇÃO ATUAL DA LITURGIA DAS HORAS . ................................................... 54
4 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 58
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 58
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 59
GUIA DE DISCIPLINA
1 APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo! Você iniciará os estudos de Ano Litúrgico e Liturgia das
Horas, que é uma das disciplinas que compõem o curso de Bacharelado em Teologia na
modalidade EAD. Teremos muita satisfação em desenvolver esta disciplina com você.

A disciplina Ano Litúrgico e Liturgia das Horas é um estudo sobre a celebração


do mistério cristão, ou seja, o mistério pascal de Jesus Cristo (sua morte e ressurreição)
no tempo.

Este estudo irá percorrer os vários momentos do tempo em que celebramos a


liturgia: as horas, os dias, as semanas, os meses e o ano. Em cada um desses momentos
celebrativos, o mistério de Cristo se apresentará com um colorido diferente. Em outras
palavras, em cada momento do tempo em que se celebra a liturgia, há um sentido
teológico-litúrgico distinto.

Desse modo, no decorrer deste estudo, poderão ser aprofundados conceitos


relacionados ao sentido do tempo para liturgia, ao significado da celebração do domingo,
do tempo do Natal, do tempo Pascal e do tempo comum, sob o aspecto de comunidade
celebrante. O mesmo será analisado nas festas do Senhor, de Maria e dos Santos, que
marcam o transcorrer do Ano Litúrgico.

Como a celebração do mistério pascal no tempo estabelece também o ciclo


diário, você será convidado a estudar a Liturgia das Horas, com a qual se pode marcar os
diversos momentos do dia (manhã, meio-dia, tarde e noite) com um sentido cristão.

Vale ressaltar que tal disciplina representa uma das disciplinas centrais do estudo
da liturgia, pois compreende uma explicitação e aprofundamento do sentido teológico-
litúrgico presente em cada celebração litúrgica de maneira concreta, uma vez que se
participa sempre de uma celebração situada no tempo e no espaço.

Sugerimos que você não se limite ao conteúdo deste trabalho; em vez disso,
interprete-o como um referencial capaz de expandir seu horizonte de conhecimentos, com
o objetivo de formar sua própria opinião sobre o tema.

2 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA


Ementa

Apresentação do Ano Litúrgico e da Liturgia das Horas como celebração litúrgica


do mistério pascal de Cristo no tempo. História, estrutura e teologia. Celebração dos
tempos litúrgicos e das horas. Liturgia das Horas: história, estrutura e teologia. Celebração
das festas litúrgicas durante o ano: festas do Senhor, de Maria e dos Santos.

Objetivo geral

Os alunos de Ano litúrgico e Liturgia das Horas do curso de Bacharelado em


Teologia, na modalidade EAD do Ceuclar, dado o Sistema Gerenciador de Aprendizagem
e suas ferramentas, serão capazes de analisar e refletir sobre a celebração do mistério
de Cristo (Liturgia) no tempo, ou seja, enquanto este mistério é celebrado no decorrer de
horas, dias, semanas, meses e o ano. Para isso, contarão com recursos técnico-pedagógicos
facilitadores de aprendizagem, como Material Didático Mediacional, bibliotecas físicas e
virtuais, ambiente virtual, acompanhamento do tutor, complementados por debates no

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GUIA DE DISCIPLINA
Bacharelado em Teologia

Fórum e na Lista. Ao final da disciplina, sob a orientação do professor, realizarão atividades


que demonstrem sua aprendizagem dos conteúdos estudados, levando em consideração
as idéias debatidas no Fórum, disponibilizando-as no Portfólio.

Objetivos específicos

• Estudar e analisar a celebração da liturgia cristã no tempo: as categorias


temporais subjacentes à celebração litúrgica e os diversos momentos do tempo
em que as celebrações acontecem – horas, dias, semana, meses, ano.
• Reconhecer e interpretar cada um dos ciclos temporais litúrgicos: ciclo diário,
ciclo semanal, ciclo anual e os vários tempos litúrgicos – ciclo do Natal, ciclo
Pascal, tempo comum e ciclo santoral (festas do Senhor, de Maria e dos
Santos).
• Compreender o sentido teológico da Liturgia das Horas, como uma forma
particular de celebração do mistério pascal no ciclo diário.

Competências, habilidades e atitudes

Ao finalizar este estudo, o aluno do curso de Bacharelado em Teologia, por


meio de uma sólida base teórica, será capaz de fundamentar criticamente sua prática
ATENÇÃO! profissional. As habilidades que adquirirá não se restringem a cumprir seu papel de
O segredo do sucesso em um profissional nesta área do saber; elas referem-se, também, a uma ação pautada na moral,
curso na modalidade Educação
a Distância é PARTICIPAR, ou na ética e na responsabilidade social.
seja, INTERAGIR, procurando
sempre cooperar e colaborar
com seus colegas e tutores. Modalidade

( ) Presencial ( X ) A distância

Duração e carga horária

A carga horária da disciplina Ano litúrgico e Liturgia das Horas é de 30


horas. O conteúdo programático para o estudo das quatro unidades que a compõe está
desenvolvido no Caderno de referência de conteúdo, anexo a este Guia de disciplina, e os
exercícios propostos constam do Caderno de atividades e interatividades (CAI).

ATENÇÃO!

É importante que você releia no Guia Acadêmico do seu curso as


informações referentes à Metodologia e à Forma de Avaliação da
disciplina Ano litúrgico e Liturgia das Horas, descritas pelo tutor na
ferramenta “cronograma” na Sala de Aula Virtual – SAV.

3 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Neste Guia de disciplina você pôde obter informações práticas e orientações


para sua firme caminhada acadêmica. Consulte, também, o Guia Acadêmico para maiores
informações sobre a metodologia de ensino e sobre o método de avaliação.

A seguir, você conhecerá o Caderno de referência de conteúdo, no qual consta,


dividido em unidades, o tema que estudaremos ao longo das semanas.

CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas


VIII Claretiano – Batatais
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GUIA DE DISCIPLINA Bacharelado em Teologia

Isso quer dizer que nas páginas seguintes colocaremos à sua disposição conteúdos
referenciais para facilitar a elaboração de um conhecimento que o leve à reflexão sobre os
conteúdos relacionados ao ano litúrgico e a liturgia das horas.

Bom estudo! ATENÇÃO!


Com a pesquisa, você não impõe
fronteiras a sua aprendizagem;

4
assim, você pode construir
BIBLIOGRAFIA BÁSICA – ANO LITÚRGICO um conhecimento amplo e
profundo sobre determinado
assunto. Sugerimos, portanto,
AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico: história, teologia e celebração. Anámnesis 5. São Paulo: que você leia os livros citados
na bibliografia básica e
Paulinas, 1991. complementar.
BEINERT, W. O culto à Maria hoje. São Paulo: Paulinas, 1979. (Coleção teologia hoje)

______. O culto aos santos hoje. Estudo teológico-pastoral. São Paulo: Paulinas, 1990.
(Coleção teologia e liturgia)

BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano


litúrgico, São Paulo: Paulinas, 1994. (Coleção liturgia e participação)

BOROBIO, D. (Org.) A celebração na Igreja 3: ritmos e tempos da celebração. São Paulo:


Loyola, 2000.

CELAM – Manual de liturgia. A celebração do mistério pascal: outras expressões celebrativas


do mistério pascal e a liturgia na vida da Igreja. São Paulo: Paulus, 2007. v. 4.

LODI, E. Os santos do calendário romano: rezar com os santos na liturgia. São Paulo:
Paulus, 2001.

MAGGIONI, C. Maria na Igreja em oração: solenidades, festa e memórias marianas no ano


litúrgico. São Paulo: Paulus, 1998.

MARTIMORT, A. G. A Igreja em oração: introdução à liturgia. A liturgia e o tempo.


Petrópolis: Vozes, 1992. v. 4.

SARTORI, D., TRIACCA, A. M. (Org.). Dicionário de liturgia. São Paulo/ Lisboa: Paulinas/
Paulistas, 1992.

VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. In:


Compêndio do Vaticano II. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 259-306.

5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR – ANO LITÚRGICO


ADAM, A. O ano litúrgico: sua história e seu significado segundo a renovação litúrgica. São
Paulo: Paulinas, 1982. (Coleção liturgia e teologia 6)

AUGÉ, M. O domingo: festa primordial dos cristãos. São Paulo: Ave Maria, 2000.

______. Liturgia: história, celebração, teologia, espiritualidade. São Paulo: AM, 1996. p.
276 – 337.

BARREIRO, A. O itinerário da fé pascal: a experiência dos discípulos de Emaús e a nossa


(Lc 12, 13-35). São Paulo: Loyola, 2001.

BARROS, M.; CARPANEDO, P. Tempo para amar: mística para viver o ano litúrgico. São
Paulo: Paulus, 1997. (Coleção liturgia e teologia).

BECKHÄUSER, A. Viver em Cristo: espiritualidade do ano litúrgico. Petrópolis: Vozes,


1992.

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© Ano Litúrgico e Liturgia das Horas •
Batatais – Claretiano IX
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GUIA DE DISCIPLINA
Bacharelado em Teologia

BUYST, I. Celebração do domingo ao redor da palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002
(Coleção celebrar).

______. Preparando advento e natal. São Paulo: Paulinas, 2002.

______. Preparando a páscoa: quaresma, tríduo pascal, tempo pascal. São Paulo: Paulinas,
2002.

______. Presidir a celebração do dia do Senhor. São Paulo: Paulinas, 2004.

CULLMANN, O. Cristo e o tempo: tempo e história no cristianismo primitivo. São Paulo:


Custom, 2003.

DONADEO, M. O ano litúrgico bizantino. São Paulo: Ave Maria, 1998.

GOEDERT, V. M. Convertei-vos e crede no Evangelho: meditações para o temo da quaresma


e tríduo pascal. São Paulo: Paulinas, 2006.

IRMÃO NERY. Natal: teologia, tradição, símbolos. Aparecida: Santuário, 2004.

KEATING, T. O mistério de Cristo: a liturgia como experiência espiritual. São Paulo: Loyola,
2005.

SILVA, J. A. O domingo: páscoa semanal dos cristãos. Elementos de espiritualidade


dominical para as equipes de liturgia e o povo em geral. São Paulo: Paulus, 1998. (Coleção
celebrar a fé e a vida 5).

SIVINSKI, M. (Org.) Ano litúrgico como realidade simbólico-sacramental. São Paulo:


Paulus, 2002. (Cadernos de liturgia 11)

WILMSEN, K. C. Campanha da fraternidade, para onde vais? Algumas considerações para


uma melhor integração da campanha da fraternidade na quaresma. São Paulo: Paulus,
2004. (Cadernos de liturgia 13)

6 BIBLIOGRAFIA BÁSICA – LITURGIA DAS HORAS


BECKHÄUSER, A. O sentido da liturgia das horas. Petrópolis: Vozes, 1995.

CARPANEDO, P. Ofício divino das comunidades: uma introdução. São Paulo: Paulinas,
2006. (Coleção rede celebra 9)

DE REYNAL, D. Teologia da liturgia das horas. São Paulo: Paulinas, 1981. (Coleção Igreja-
Eucaristia)

SARTORI, D. TRIACCA, A. M. (Org.) Dicionário de liturgia. São Paulo/ Lisboa: Paulinas/


Paulistas, 1992.

7 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR – LITURGIA DAS HORAS


AUGÉ, M. Liturgia: história, celebração, teologia, espiritualidade. São Paulo: AM, 1996. p.
254 – 275.

BECKHÄUSER, A. Rezar em comunidade: o sentido da liturgia das horas. Petrópolis: Vozes,


1987.

BOISSINOT, A. O que é a liturgia das horas? São Paulo: Loyola, 1988. (Coleção temas de
espiritualidade 11)

BRAULT, I. M. Descobrir da liturgia das horas. São Paulo: Paulinas, 1990. (Coleção Liturgia
e teologia)

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X Claretiano – Batatais
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GUIA DE DISCIPLINA Bacharelado em Teologia

COSTA, V. S. Liturgia das horas: celebrar a luz pascal sob o signo da luz do dia. São Paulo:
Paulinas, 2005. (Coleção Tabor)

GARCIA PAREDES, J. C. R.; APARICIO, A. Os salmos: oração da comunidade. Para a


celebração da liturgia das horas. São Paulo: AM, 1991.

GARGANO, G. I. Do nascer ao pôr-do-sol: iniciação à liturgia das horas e à lectio divina.


São Paulo: Paulus, 1995. (Coleção Oração-vida)

HENGEMÜLE, E. O louvor perene: introdução à liturgia das horas. Petrópolis: Vozes,


2007.

LUTZ, G. A oração dos salmos. São Paulo: Paulinas, 1982.

MATOS, H. C. J. Liturgia das horas e vida consagrada. Belo Horizonte: O lutador, 2004.

MARTIMORT, A. G. A Igreja em oração: introdução à liturgia. A liturgia e o tempo, Petrópolis:


Vozes, 1992. v. 4. p. 147–242.

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© Ano Litúrgico e Liturgia das Horas •
Batatais – Claretiano XI
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Anotações
CADERNO DE REFERÊNCIA
DE CONTEÚDO
APRESENTAÇÃO

Seja bem-vindo ao estudo da disciplina Ano Litúrgico e Liturgia das Horas,


disponibilizada para você em ambiente virtual (Educação a Distância).

Como pôde observar no Guia de disciplina, nesta parte, chamada Caderno de


referência de conteúdo, você encontrará o referencial teórico das quatro unidades em que
se divide a presente disciplina.

Com o estudo aqui proposto você terá a oportunidade de refletir sobre a


celebração do mistério cristão, que é o mistério pascal de Jesus Cristo (sua morte e
ressurreição) no tempo, ou seja, esse mistério é celebrado no transcorrer do tempo:
horas, dias, semanas, meses e ano.

Desse modo, você perceberá que, em cada um desses momentos celebrativos, o


mistério de Cristo se apresentará com um colorido diferente. Em outras palavras, em cada
momento do tempo em que se celebra a liturgia há um sentido teológico-litúrgico distinto.

A relação entre a liturgia e o tempo acontece no ciclo diário com a celebração da


Liturgia das Horas, por meio da qual as diversas horas do dia (manhã, meio-dia, tarde e
noite) são assinaladas pela presença do mistério pascal.

Tal relação acontece também no ciclo semanal, mensal e anual. Assim, temos
o chamado Ano Litúrgico com seus vários tempos litúrgicos (ciclo do Natal, ciclo Pascal,
tempo comum) e suas várias festas (do Senhor, de Maria e dos Santos).

Os conteúdos desta disciplina têm como objetivo aprofundar o sentido que há na


celebração do mistério de Cristo no tempo, além dos sentidos que cada uma das horas, dias,
semanas, meses e o próprio ano adquirem ao serem tocados pela presença desse mistério.

Esperamos que, com este programa, você possa conhecer e aprofundar os


conceitos relacionados à disciplina Ano Litúrgico e Liturgia das Horas.

Bom estudo!

ATENÇÃO!

Aceite o desafio! Venha fazer parte deste novo processo de construção coletiva
e cooperativa do saber.

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INTRODUÇÃO À DISCIPLINA
AULA PRESENCIAL

Objetivos
• Estabelecer interação com os participantes do curso e
com o tutor, tendo em vista o necessário fortalecimento
do vínculo inicial para a construção do processo de
aprendizagem na modalidade EAD.

• Analisar e discutir os temas explicitados na disciplina Ano


Litúrgico e Liturgia das Horas.

Conteúdos
• Programa para o desenvolvimento da disciplina.

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UNIDADE 1
TEMPO, LITURGIA E
CELEBRAÇÃO DO DOMINGO

Objetivos
• Interpretar as diversas categorias temporais presentes na
História até a atualidade.

• Reconhecer o modo como as categorias temporais se


apresentam na Bíblia: Antigo e Novo Testamento e sua
incidência na liturgia.

• Interpretar a sacramentalidade do Ano Litúrgico e da


Liturgia das Horas.

• Identificar e interpretar o domingo como núcleo e centro do


Ano Litúrgico partindo de sua origem histórica e sua teologia,
além das conseqüências para sua celebração e pastoral.

Conteúdos
• Tempo e liturgia – compreendendo o que é o tempo.

• Tempo na Sagrada Escritura.

• Sacramentalidade do tempo litúrgico.

• Domingo – fundamentação bíblica, teologia e celebração.


UNIDADE 1
Bacharelado em Teologia

ATENÇÃO!

1
Para alcançar os objetivos
esperados nesta unidade,
selecione os períodos do dia
INTRODUÇÃO
em que você se sente mais
bem disposto para estudar. Há Ao iniciar a disciplina Ano Litúrgico e Liturgia das Horas, é preciso considerar
pessoas que trabalham melhor à
noite, outros logo ao amanhecer. que o objeto de nosso estudo será a relação existente entre a liturgia e o tempo.
Não se esqueça de consultar o
Guia de disciplina para verificar
a dedicação semanal média de A liturgia, como já foi estudado, é a celebração do mistério de Cristo que se
estudos para cada disciplina e atualiza cada vez que a comunidade cristã reúne-se para, dele, fazer a memória. Tal
separe suas horas para estudo.
Uma sugestão: entre uma hora memória se faz no decorrer do tempo que se estende ao longo do ano (Ano Litúrgico) ou
e outra, lembre-se de descansar ao longo do dia (Liturgia das Horas).
sua cabeça por alguns minutos.

Vale ressaltar que o Ano Litúrgico apresenta o mistério de Cristo em seus


mistérios: sua encarnação, vida pública, morte, ressurreição e ascensão.

Já a Liturgia das Horas apresenta o mesmo mistério pascal de Cristo presente na


oração diária da Igreja. Pode-se dizer que aquilo que é celebrado ao longo do Ano Litúrgico
apresenta-se sintetizado pela celebração das horas.

Além do mistério de Cristo em seus mistérios, o Ano Litúrgico e a Liturgia das


Horas manifestam a presença de Maria e dos santos como modelos de vivência. Por isso
se pode falar do culto mariano e do culto dos santos na liturgia.

Como você vê, esta disciplina apresenta-se, de um lado, multifacetada, por


apresentar vários temas, e por outro, unitária, quando se percebe que o fio condutor de
tudo é o mistério de Cristo.

Comecemos, então, a caminhada para compreender o Ano Litúrgico e a Liturgia


das Horas.

Bom estudo!

2 TEMPO E LITURGIA
Para iniciar nosso estudo sobre tempo e liturgia, vamos compreender o que é o
tempo.

Falar sobre o tempo não é coisa fácil. Agostinho já dizia: “O que é o tempo? Se
ninguém me pergunta, eu sei; porém, se quero explicá-lo a quem me pergunta, então não
sei” (AGOSTINHO, 1997, p. 14-17).

O tempo é algo sentido pelo homem que experimenta que a vida e a história se
cumprem do decorrer dos dias e dos anos. Sobre a base dos ritmos sazonais e mensais,
nos quais o ciclo anual se divide, bem como o ciclo semanal, conjunto menor no qual se
agrupam os dias, divididos, por sua vez, em horas e minutos, temos unidades temporais
convencionais que circunscrevem e medem as obras e os dias dos grupos humanos
(ROSSO, 2002).

Devido ao fato de o tempo ser, antes de tudo, algo vivenciado do que definido
é que, ao longo da história, ele se tornou objeto de estudo de várias ciências. Dentre as

CRC • • • © Ano Litúrgico e Liturgia das Horas


4 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 1 Bacharelado em Teologia

várias ciências, a filosofia tem um campo específico para o estudo do tempo e da vida ATENÇÃO!
Para ampliar seus conhecimentos
humana, considerando que o tempo também é estudado pela física, pela história, pela
sobre as categorias temporais na
história das religiões etc. atualidade, consulte o artigo de
Armido Rizzi. Categories culturali
odierne nell´interpretazione del
Assim, o tempo foi explicado segundo diversas categorias, umas mais antigas, tempo (Categorias culturais
hodiernas na interpretação
outras mais recentes, as quais continuam sendo utilizadas em nosso cotidiano. do tempo). In: Associazione
Professori di Liturgia (Org.)
L´anno liturgico, Brecia: Marietti,
A liturgia, em sua relação com o tempo, também adota algumas dessas 1983. p. 11-22.
categorias temporais, cujo uso tem origem na cultura judaica e no modo como a Bíblia
ATENÇÃO!
apresenta sua visão de tempo.
Para aprofundar seus
conhecimentos sobre a
experiência humana do tempo,
Desse modo, a experiência humana do tempo pode ser vista em algumas tríades, você poderá consultar as
as quais se referem aos usos diversos do termo, como: seguintes obras:
a) BERGAMINI, A. Cristo, festa
a) devir universal: o passado, o presente e o futuro; da Igreja: história, teologia,
espiritualidade e pastoral
b) ordem de sucessões: a simultaneidade (ao mesmo tempo em que), a do ano litúrgico, São Paulo:
Paulinas, 1994. (Coleção
sucessão (o tempo passa veloz) e a duração (não tive tempo de fazer); liturgia e participação).
b) LOPEZ MARTIN, J. Tempo
c) relações de estaticidade e dinamismo: velho e novo; estável e mutável; sagrado, tempo litúrgico
sistema e evento. e mistério de Cristo. In:
BOROBIO, D. (Org.). A
celebração na Igreja. Ritmos
No entanto não são, somente, essas as formas de compreender o tempo. De e tempos da celebração. São
Paulo: Loyola, 2000. v. 3. p.
acordo com Augé (1991), desde as culturas mais arcaicas já encontramos tentativas de 31-44.
definir a experiência do tempo.
INFORMAÇÃO:
Experimentamos este tempo a
Em primeiro lugar, fala-se do tempo cósmico como aquela dimensão universal cada dia, com a sucessão do
com a qual se mede o perdurar das coisas mutáveis, bem como a sucessão rítmica das dia (a presença da luz do sol, da
noite), com a lua e as estrelas,
fases em que se processa o devir da natureza. Este tempo se mostra como algo neutro, assim como na sucessão das
objetivo, independente do homem. estações do ano: primavera,
verão, outono, inverno. Este é o
tempo dos calendários, dividido
Assim, enquanto experimenta o devir da natureza, o homem primitivo percebe, em dias, semanas, meses.

antes mesmo de fazer uma reflexão filosófica sobre o tempo, que as vicissitudes de sua
vida pessoal, familiar e social estão contidas nos ritmos do tempo cósmico. Dessa forma, (1) Cosmogônica: referente à
cosmogonia – narrativas sobre a
surge o tempo histórico. origem do mundo e do homem.
Tais narrativas estão presentes
em todas as culturas. A Bíblia,
Os gregos, partindo de tal experiência temporal, explicam o tempo segundo a por exemplo, no Gênesis, traz
categoria da circularidade, ou seja, falam do tempo cíclico. Para eles o tempo não traz duas narrativas cosmogônicas:
1,1-2,4a (da tradição sacerdotal)
novidade, pois sempre volta ao seu ponto de origem, para se repetir novamente. e 2,4b-4,26 (da tradição javista).

Na base dessa visão grega estão o mito e as especulações cosmogônicas1, os INFORMAÇÃO:


É neste sentido que se entende
quais procuram explicar os ciclos do tempo e como a vida renasce. A história para eles é na mitologia grega a ação de
uma repetição indefinida de ciclos fechados, num movimento semelhante ao movimento Kronos, o deus do tempo, que
devora seus filhos. A experiência
dos astros. humana é que o tempo vai
passando inexoravelmente.

O tempo cíclico torna-se sinônimo de uma rotação sem sentido, e a história


é vazia, sem esperança, pois como uma realidade fechada no ciclo eterno dos astros, VOCÊ SABIA QUE...
Esta visão do tempo ainda se faz
recomeça sempre sem jamais se cumprir definitivamente. presente na atualidade, quando
alguns pensam que o destino já
está definido, que acontecerá
Desse modo, o homem sente-se um prisioneiro e vive seu destino na rotina que o que tiver de acontecer, que
não podemos mudar o curso
se repete indefinidamente. Para encontrar a salvação é preciso fugir, libertar-se do círculo
da história etc. Esta é uma
que o amarra à fatalidade. visão fatalista e pode levar ao
desespero.

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ATENÇÃO! É nesse contexto que se apresentam outras duas categorias temporais: o tempo
Amplie seus conhecimentos
sobre o tempo sagrado e o
sagrado e o tempo profano. Tais categorias estão presentes nas religiões primitivas e, de
tempo profano, consultando as alguma forma, estão relacionadas à visão fatalista da circularidade.
obras a seguir:
a) ELIADE, M. Mito do eterno
retorno. São Paulo: Mercuryo, Diante da circularidade do tempo cíclico para os gregos, ou do tempo histórico
1992. marcado por acontecimentos imprevisíveis e irreversíveis, o homem busca refúgio num
b) ELIADE, M. O sagrado e
o profano: a essência das tempo primordial, no qual possa transcender a contingência e a casualidade.
religiões. São Paulo: Martins
Fontes, 1992. Tal tempo primordial não é algo produzido pelo homem, mas nasce de arquétipos
divinos que estão inscritos no mais profundo da consciência humana e que respondem à
ordem mais profunda da realidade.

(2) Em grego, o termo profano É o tempo sagrado que caracteriza a prática ritual das diversas religiões, durante
significa aquilo que está diante as quais se atualiza o mito primordial das origens, permitindo ao homem transcender-se
do sagrado: pro – fanum (de
fainon – que é o mesmo termo e encontrar o sentido mais profundo de sua vida, ao mesmo tempo em que se opõe ao
usado na palavra fenômeno). tempo profano2, que é o tempo do dia-a-dia, no qual pesam a rotina e o cansaço.

Vale ressaltar que há ainda outras categorias para se compreender o tempo,


(3) Tempo da Igreja e tempo do dentre as quais destacam-se os estudos de Jacques Le Goff no seu livro Tempo da Igreja
mercador: LE GOFF, Jacques. e tempo do mercador3.
Tempo della Chiesa e tempo del
mercante. Torino: Einaudi, 1977.
O tempo da Igreja predomina no primeiro milênio depois de Cristo e apresenta-
se como o tempo que pertence a Deus. Assim, a visão do mundo e da história é
ATENÇÃO! influenciada pelas leis imutáveis da criação e pelo desígnio progressivo de salvação que
A visão de Jacques Le Goff,
marca a história da Igreja.
importante historiador da Idade
Média, é discutida por Rizzi
(apud APL, 1983, p. 13-14). As orações do monge e o trabalho do camponês são ritmados por esse tempo,
Confira!
que tem no toque do sino a sua voz. Toda a vida humana é marcada por esse tempo.

No início do segundo milênio, a economia vai deixando o campo e a informalidade


e vai se orientando e se desenvolvendo em sentido comercial. Isso exige do homem uma
nova relação com o tempo. O homem precisa controlá-lo para que se cumpram os prazos
comerciais, para a produção das mercadorias, para a sua venda e para que ele possa lucrar.

Há nesse tempo uma profunda transformação antropológica, pois não é mais


Deus e suas leis que governam a vida humana e o mundo. O homem torna-se o protagonista
da história, aquele que dá sentido ao tempo, à sua vida e ao mundo.

Assim, o tempo do mercador assume tal importância que o homem acaba


perdendo o poder de controlá-lo. Hoje, de fato, o homem é governado pelas leis do
INFORMAÇÃO: mercado e não pode parar de trabalhar, produzir sem encontrar um sentido para isso e
O lema “Tempo é dinheiro” é o para sua própria vida.
que caracteriza esta concepção
temporal.
Sentindo-se oprimido pelo tempo do mercador, o homem moderno busca
tempos alternativos, ou seja, novas maneiras de dar sentido ao tempo e à sua vida. Uma
alternativa, que é fruto do próprio tempo do mercador, é o tempo livre, durante o qual o
homem pode fazer o que quiser.

No entanto, mesmo para vivenciar o tempo livre, segundo sua própria vontade, o
homem acaba ficando preso às ofertas de sentido para seu tempo, as quais estão ligadas à
concepção do tempo do mercador: ir ao shopping, fazer compras, ir ao cinema, viajar etc.

Outras categorias temporais atuais são:

a) o tempo apocalíptico, que se caracteriza pelo anúncio do fim do mundo;

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b) o retorno do tempo cíclico, que procura levar o homem a seguir o ciclo da


natureza com propostas de técnicas de conhecimento, de reapropriação do
corpo, disciplina alimentar etc.

Desse modo, está ainda em atuação uma visão niilista do tempo, ou seja,
uma visão pessimista que prega um vazio de sentido da história. Diante de todas essas
categorias temporais, surgem estes questionamentos:

a) Como a liturgia se relaciona com o tempo?

b) Qual categoria é predominante na organização do Ano Litúrgico?


ATENÇÃO!
c) Como outras categorias influenciam a pastoral e a espiritualidade Para aprofundar o tema da
relação tempo e liturgia, você
litúrgicas? pode consultar o número
monográfico da Revista
Concilium Tempo e liturgia,
Tais perguntas poderão ser respondidas a seguir, com a visão que a Sagrada Escritura
162:2, 1981.
tem do tempo e como isso influenciou a liturgia judaica e em seguida a liturgia cristã.

Tempo na Sagrada Escritura

O tempo está presente de maneira particular em toda a Sagrada Escritura, pois


é a partir dele que a Bíblia enxerga o mundo. A revelação de Deus se abre e se encerra
com indicações temporais:

“No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1).

“Aquele que atesta estas coisas, diz: “Sim, venho muito em breve!”. Amém!
Vem, Senhor, Jesus” (Ap 22,20).

Ainda que a categoria temporal seja mais importante do que a categoria espacial,
para a visão bíblica não há uma única concepção do tempo na Sagrada Escritura.

Assim, pode-se dizer que há uma evolução e que a religião de Israel, num
primeiro momento, privilegia a visão mais simples do tempo como fluxo que mede a vida,
com a alternância de dia e noite, tempo físico-cronológico associado ao movimento dos
astros e à vida agrícola.

Num segundo momento dá-se a historicização das primitivas festas agrícolas


cananéias trocando os seus conteúdos pelos prodígios realizados por Deus no passado,
como é o caso da festa da Páscoa, por exemplo. Predomina agora a concepção histórico-
existencial do tempo, a qual pode ser vista na sua progressão linear.

Por fim, por meio dos profetas, prega-se uma nova manifestação de Deus na
história, convidando o povo para a conversão: como Deus agiu no passado, ele agirá no
futuro. O momento presente (o “hoje”) faz convergir o passado que se atualiza e o futuro
que se antecipa. Será essa concepção que se fará presente na liturgia judaica e cristã, por
meio do memorial (anámnesis) – hoje se atualiza o evento salvífico passado e por meio
dessa atualização se antecipa a futura intervenção de Deus na história (escatologia).

O Novo Testamento apresenta a maneira cristã de entender o tempo, a qual foi


herdada do judaísmo, que compreendia o tempo por meio de uma concepção histórica
marcada por eventos significativos de intervenção de Deus em favor de seu povo.

A novidade é que, do ponto de vista da fé cristã, o evento decisivo, a intervenção


definitiva de Deus na história, dá-se na pessoa de Jesus, o Cristo. Com sua
morte-ressurreição já se iniciou entre nós o “fim”, o eschatón, a eternidade,
a plenitude do tempo, o Reino de Deus, como visita de Deus, como graça
transformadora. Por isso, na vigília pascal, ao inscrever no círio pascal a cruz,
os números do ano corrente e as letras A e Z, o ministro diz:

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Cristo, ontem e hoje, Princípio e Fim, A e Z,

A ele o tempo e a eternidade, a glória e o poder pelos

séculos sem fim. Amém (BUYST apud BUYST; FRANCISCO, 2004, p. 107).

Pode-se afirmar, ainda, que:


No Novo Testamento o Kronos assumiu uma conotação salvífica, mediante o
kairós da morte-ressurreição de Cristo, que qualifica também a sua encarnação,
dando lugar ao eon presente, o qual, enquanto põe um termo ao passado,
antecipa a solução final, através das ações de Cristo e da Igreja. O tempo
cósmico continua seu curso, aparentemente inalterado; o tempo histórico
recebe uma nova orientação, mas a natureza dos acontecimentos que marcam
seu curso não se modifica (AUGÉ, 1991, p. 18).

Cabe aqui a distinção entre a abordagem quantitativa e a abordagem


qualitativa do tempo.

A abordagem quantitativa considera o tempo como uma sucessão de


entidades que podem ser medidas: um determinado número de dias, meses
ou anos – é kronos – o tempo cronológico, a duração do tempo o eon – que
representa uma era, uma idade.

Já a abordagem qualitativa considera o tempo como uma sucessão de


experiências essencialmente únicas e sem medida (kairós): cada dia é visto
como significativo em si mesmo, ou seja, cada dia é visto como revelador do
projeto de Deus. É a partir dessa abordagem que a Sagrada Escritura, Antigo
e Novo Testamento, compreende o tempo e celebra liturgicamente os eventos
de salvação ou kairós.

ATENÇÃO!
Você poderá aprofundar seus Sacramentalidade do tempo litúrgico
conhecimentos em relação ao
tempo da salvação radicado em O tempo da salvação está radicado em Cristo, no mistério de sua morte-
Cristo, consultando as obras:
ressurreição e de sua encarnação; é esse mistério que é atualizado na liturgia. Isso acontece
a) CULLMANN, O. Cristo e
o tempo. Tempo e história em cada celebração litúrgica, a qual acontecendo num determinado dia e hora, considera
no cristianismo primitivo. este evento salvífico na sua dimensão de kairós e é isto que faz do tempo litúrgico um
São Paulo: Custom, 2003.
Já em relação ao sentido tempo sacramental. De fato, em todo o Ano Litúrgico está presente a sacramentalidade
sacramental do Ano Litúrgico, que brota da celebração do mistério pascal.
você poderá consultar a obra:
b) SIVINSKI, M. (Org.) Ano
litúrgico como realidade
Assim, a organização do tempo na liturgia pertence a uma estrutura simbólico-
simbólico-sacramental. sacramental. É por isso que os momentos do tempo (amanhecer, entardecer, o domingo,
São Paulo: Paulus, 2002 determinados dias ou meses etc.) possuem um sentido simbólico, o qual pode se chocar
(Cadernos de liturgia 11).
com uma concepção temporal que não considere a ação de Deus na história.

No entanto, tal sentido simbólico pode tornar-se o meio pelo qual o homem,
VOCÊ SABIA QUE...
oprimido pelo tempo do mercador (marcado pela produção e lucro), encontre um sentido
Cada um dos tempos litúrgicos, para sua vida e para a história.
dias festivos ou horários
litúrgicos estão carregados de
conteúdo simbólico e, por isso, Desse modo, a celebração anual do mistério de Cristo, ao longo do Ano Litúrgico
sua celebração só pode ser e da Liturgia das Horas, torna-se anúncio, profecia e realização do Reino aqui e agora.
mudada mediante um processo
de inculturação, o qual considere Isto está presente no “hoje” litúrgico, característico do memorial ou anámnesis. É neste
todos os elementos simbólicos sentido que se pode dizer que a liturgia é História da Salvação em ato, ou seja, ela
envolvidos, para que não se continua acontecendo no tempo por meio da ação litúrgica.
perca seu sentido teológico-
litúrgico.

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INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR:

Os prefácios utilizados na celebração eucarística é que evidenciam esta


realidade, quando, por meio do HOJE litúrgico atualizam um determinado
mistério de Cristo e assim permitem celebrar ao longo do Ano Litúrgico a
totalidade de seu mistério pascal. Exemplos: “Revelastes, hoje, o mistério de
vosso Filho como luz para iluminar os povos no caminho da salvação” (Prefácio
de Epifania); “Hoje, nas águas do rio Jordão, revelais o novo Batismo...”
(Prefácio do Batismo do Senhor), “Vencendo o pecado e morte, vosso Filho
Jesus Cristo, Rei da Glória, subiu hoje antes os anjos maravilhados...” (Prefácio
da Ascensão do Senhor).

Observe no quadro a seguir, a descrição do Ano Litúrgico:

ANO LITÚRGICO
a) Tempo da manifestação:
• Advento.
• Natal.
• Epifania.
b) Tempo comum
c) Tempo pascal:
• Quaresma.
• Tríduo pascal.
• Qüinquagésima pascal.
d) Celebrações festivas do senhor, de Maria e dos Santos.

Ano Litúrgico a partir do Vaticano II INFORMAÇÃO:


Cada família litúrgica tem uma
A Constituição Litúrgica Sacrosanctum Concilium em sua reforma enriqueceu o organização e uma estrutura
diversa do Ano Litúrgico, ainda
Ano Litúrgico com uma teologia que acentuou o mistério pascal de Cristo como seu centro que sempre celebrem o mistério
e, de modo definitivo, como seu único objeto de celebração. de Cristo. Por exemplo: a
Liturgia Ambrosiana em Milão,
as Liturgias Orientais etc. Para
Assim, encontramos no número 102 uma síntese dos fundamentos do Ano saber mais sobre esse tema
Litúrgico: consulte a obra: DONADEO, M.
O ano litúrgico bizantino. São
A Santa Mãe Igreja considera que é seu dever celebrar a obra de salvação Paulo: Ave Maria, 1998.
de seu divino Esposo com uma sagrada recordação, em dias determinados,
ao logo do ano. Toda semana, no dia que chamou “do Senhor”, comemora
sua ressurreição, que uma vez ao ano celebra também, junto com sua santa
paixão, na solenidade máxima da Páscoa.

Além disso, no ciclo do ano, desenvolve todo o mistério de Cristo, desde a


Encarnação e o Natal até a Ascensão, Pentecostes e a expectativa de feliz
esperança e vinda do Senhor.

Ao comemorar assim os mistérios da Redenção, abre as riquezas do poder


santificador e dos méritos de seu Senhor, de modo que os torna presentes, de
certo modo, durante todo o tempo, aos fiéis para que os alcancem e plenifiquem-
se da graça da salvação (SC 102).

Foi mediante esta teologia do Ano Litúrgico que foi organizada a atual estrutura
INFORMAÇÃO:
do Ano Litúrgico e seu calendário, para que, assim, sua celebração pudesse, de fato, Outra síntese da teologia do Ano
tornar presente a cada dia a celebração do mistério de Cristo. Litúrgico pode ser encontrada no
Catecismo da Igreja Católica, n.
1168-1173.

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O calendário litúrgico é a lista ordenada cronologicamente das celebrações da


INFORMAÇÃO: Igreja Universal e de cada Igreja particular, ao longo dos dias de um ano. Tal calendário
O atual, chamado Calendário
Romano foi aprovado mediante pode ser encontrado no início do Missal Romano, de cada um dos volumes da Liturgia das
o motu-proprio do papa Paulo Horas e em diversas edições práticas, como calendários e agendas litúrgicas.
VI Mysterii paschalis de 14 de
fevereiro de 1969 e publicado
nesse mesmo ano, entrando em Desse modo, contendo as datas determinadas para a Igreja Universal (calendário
vigor em 1º de janeiro de 1970. geral), como as próprias de cada Igreja particular ou instituto religioso (calendários particulares),
é um instrumento pastoral tão indispensável como os rituais dos sacramentos.

VOCÊ SABIA QUE...


No Brasil a CNBB publica a

3
cada ano o Diretório Litúrgico
contendo o calendário litúrgico do
ano em vigor com todas as datas DOMINGO
e demais indicações litúrgicas
para as celebrações da eucaristia
e da Liturgia das Horas. A celebração do mistério pascal está no centro da “memória” que a comunidade
cristã faz de seu Senhor.

Tal celebração é realizada semanalmente e sobre ela a Sacrosanctum Concilium


afirma:

Devido à tradição apostólica que tem sua origem do dia mesmo da Ressurreição
de Cristo, a Igreja celebra cada oitavo dia o Mistério Pascal. Esse dia chama-se
justamente dia do Senhor ou domingo. Neste dia, pois, os cristãos devem reunir-
se para, ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se
da Paixão, Ressurreição e Glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que
os “regenerou para a viva esperança, pela Ressurreição de Jesus Cristo entre
os mortos” (1Pe 1,3). Por isso, o domingo é um dia de festa primordial que
deve ser lembrado e inculcado à piedade dos fiéis, de modo que seja também
um dia de alegria e de descanso do trabalho. As outras celebrações não se lhe
anteponham, a não ser que realmente sejam de máxima importância, pois que
o domingo é o fundamento e o núcleo do ano litúrgico (SC 106).

A citação da Sacrosanctum Concilium apresenta uma síntese daquilo que o domingo


representa para a comunidade cristã, desde a sua origem apostólica até o presente.

O domingo é evocado por meio de sua tradição apostólica, como o dia da celebração
da ressurreição de Cristo, chamado de dia do Senhor ou oitavo dia, dia em que se recorda o
batismo e se reúne para a palavra e a eucaristia, sendo um dia de festa e de descanso.
ATENÇÃO!
Para um estudo mais detalhado
do tema, consulte as obras a O domingo é o dia da comunidade cristã, pois ela se reúne para a celebração
seguir:
eucarística, sendo também o dia da caridade, já que é neste dia que os cristãos podem se
a) AUGÉ, M. O domingo: festa
primordial dos cristãos. São confraternizar na fraternidade cristã e rezar pelas intenções de todo o mundo, bem como
Paulo: Ave Maria, 2000. fazer a coleta que irá ajudar os mais necessitados.
b) SILVA, J. A. O domingo:
páscoa semanal dos cristãos.
Elementos de espiritualidade Vamos analisar brevemente cada uma das afirmações citadas sobre o
dominical para as equipes de domingo:
liturgia e o povo em geral. São
Paulo: Paulus, 1998. (Coleção
celebrar a fé e a vida 5). Dados do Novo Testamento

Os primeiros cristãos, muito embora, como judeus, tivessem arraigada em sua


vida a celebração do sábado como dia de descanso e com culto, escolheram desde
o começo o domingo como seu dia de reunião e de celebração da eucaristia. O
motivo parece evidente: nesse dia, o primeiro dia da semana, depois do sábado,
Jesus ressuscitou, convertendo-o assim em “o dia do Senhor” por excelência.
Podiam ter escolhido a quinta-feira por suas reminiscências eucarísticas, ou a
sexta-feira como dia da morte salvadora, ou mesmo o sábado, com conteúdo
novo (ALDAZÁBAL, 2000, p. 69).

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De fato, a razão para tal escolha pode ser encontrada em várias páginas do ATENÇÃO!
Não deixe de ler os textos
Novo Testamento: citados, na íntegra, em sua
Bíblia. Tal leitura será muito
a) O episódio de Emaús (Lc 24,13-35) apresenta como uma parábola as riquezas importante para compreender as
descrições apresentadas.
do domingo para os cristãos: é no “primeiro dia da semana” (Lc 24,1.13) que
os discípulos de Emaús, desanimados após a morte de Jesus, encontram-se
com um caminhante pela estrada, o qual vai revelando o mistério da morte
de Jesus por meio das Sagradas Escrituras e quando parte o pão durante (4) O termo Senhor, do grego
a ceia é que eles o reconhecem como o Senhor4. Esse texto traz a prática Kyrios aparece no Novo
Testamento sempre que se quer
dominical dos cristãos: reúnem-se para a palavra e para a fração do pão e indicar o Ressuscitado.
durante a reunião encontram-se com o seu Senhor, Jesus Ressuscitado. Isto
fica claro em nossa celebração eucarística dominical, a qual é dividida em
duas partes: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística.

b) O Evangelho de João (Jo 20,19-29) traz as aparições do Ressuscitado aos


seus discípulos no “oitavo dia”, que também é o primeiro dia da semana,
enquanto estavam escondidos por medo dos judeus. Nesse texto, encontram-
se outros aspectos teológicos do domingo: a reunião da comunidade, a
presença do ressuscitado, a fé dos discípulos, a paz que o Senhor dá aos
seus discípulos, a recordação da paixão, o envio missionário e a tarefa da
reconciliação (ALDAZABAL, 2000).

c) Os Atos dos Apóstolos (20, 7-12) fala-nos da reunião de Paulo com a


comunidade em Trôade: “no primeiro dia da semana, enquanto estávamos
reunidos para partir o pão”.

d) A primeira carta aos Coríntios (1Cor 16,1-2) apresenta o convite de Paulo


para que a comunidade, por ocasião de sua reunião semanal (“cada primeiro
dia da semana”), faça uma coleta em favor dos pobres da comunidade de
Jerusalém – o domingo é o dia da caridade.

e) O livro do Apocalipse (1,10) fala que João teve uma visão no “dia do Senhor”
– “fui arrebatado pelo espírito no dia do Senhor” – kyriaké hemera. Este
texto traz pela primeira vez o nome “dia do Senhor” aplicado a esse dia,
como sendo o dia que pertence ao Kyrios Jesus, o Ressuscitado.

Como é possível notar, o domingo é, segundo o Novo Testamento, o dia em que


a comunidade cristã celebra a vitória pascal de Jesus, do Senhor. Por isso que esse dia
é denominado “dia do Senhor” e é a celebração da páscoa semanal, a festa primordial,
fundamento e núcleo do Ano Litúrgico.

Nomes do domingo

Os textos do Novo Testamento usam alguns nomes diferentes para falar da


mesma realidade que é o domingo:

a) O primeiro dia da semana: isto porque na nomenclatura numérica aplicada


aos dias da semana pelos judeus, ele é o primeiro dia depois do sábado, que
é o sétimo e o último dia da semana. Este nome evoca um significado duplo:
recorda o “primeiro dia” em que Deus criou a luz (Gn 1,3-5) e dá início a
toda criação e indica que Jesus, pela sua morte e ressurreição, dá início a
uma nova criação.

b) O oitavo dia: este nome aparece em Jo 20, 26 – “oito dias depois...” e


também nos Santos Padres que querem ressaltá-lo como o dia que transcende
ao septenário e assim assume um sentido escatológico: tempo da plenitude e
ao mesmo tempo de antecipação. Cada domingo traz a presença da salvação
que já está acontecendo como memória da ressurreição salvadora de Cristo
e como antecipação da plenitude de seu Reino.

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c) O dia do Senhor: este é nome mais especificamente cristão dado a esse


dia – é o dia senhorial ou do Senhor (kyriaké hemera, dies dominicus) – “do
INFORMAÇÃO:
A palavra domingo deriva deste Senhor”. Como se vê, é um adjetivo (do grego kyriaké e do latino dominicus,
nome: dies dominicus, que passa dominica) que qualifica o dia como o dia do Ressuscitado, é de fato, o dia em
a ser abreviado como dominicus que Jesus ressuscitou dos mortos e apareceu aos seus e continua a se fazer
e daí domingo, em português e
espanhol, domenica em italiano, presente quando a comunidade de seus discípulos se reúne para ouvir sua
dimanche em francês. As linhas palavra e partir o pão em sua memória.
anglo-saxônicas conservaram
o nome dia do Sol (Sunday,
Sonntag) que era usado pelos Domingo e o sábado
romanos, que atribuíam o
nome de um planeta a cada O domingo, como foi visto nos textos neotestamentários, nasce mediante a
dia da semana, segundo uma
concepção mitológica. experiência que a comunidade cristã fez da presença do Ressuscitado em seu meio e, por
isso, distingue-se da instituição sabática dos judeus.

Há testemunhos no Novo Testamento de que Jesus e seus discípulos observassem


o sábado. No entanto, não será esse o dia adotado pela comunidade cristã para celebrar
o seu culto. Não se trata de uma substituição de um dia pelo outro, mas sim de uma
instituição nova, diferente, pois como se vê as características do sábado judaico, sobretudo,
o descanso semanal, não passou para o domingo.

De fato, o domingo, na sua origem não era feriado, dia de descanso, e só passou
a sê-lo após o Edito de Milão, promulgado pelo Imperador Constantino em 313. Por isso
é que os cristãos celebravam a eucaristia dominical na noite do sábado para o domingo
como uma vigília, concluindo-a ao nascer do sol, para que pudessem ir para o trabalho.
Justino, na sua Apologia I, refere-se a isso quando escreve que “lêem-se as memórias dos
apóstolos ou os outros escritos dos profetas até que o tempo permita...”).

O domingo, portanto, rompe com o sábado, superando-o e levando-o à plenitude


como dia da nova criação e da salvação plena, realizada na morte e ressurreição de Cristo.

O sábado judaico apresenta, contudo, uma teologia que, depois da paz


constantiniana, quando o domingo se torna dia de descanso, começará a ser aplicada
também pelos cristãos, para vivenciar esse dia.

Nessa teologia, encontram-se os seguintes elementos: o sábado exalta o poder


criador de Deus, convida à festa e ao descanso, tem um sentido social de fraternidade e
nele se atualiza a aliança pascal de Deus com seu povo, os quais podem ser percebidos na
celebração dominical da páscoa de Senhor.
INFORMAÇÃO:
Para compreender melhor o
sentido do domingo você poderá
consultar João Paulo II – Carta Celebração do domingo
Apostólica “Dies Domini” sobre
a santificação do domingo A celebração do domingo como páscoa semanal provém desde a comunidade
(1988), na qual o Papa chama primitiva e se estendeu durante os séculos com variações, segundo os lugares e os
a atenção para os principais
tempos, até chegar aos dias de hoje, quando o celebramos segundo o sentido e estrutura
valores cristãos desse dia e sua
celebração na atualidade. que assumiu desde o Vaticano II.

Um dos primeiros testemunhos sobre a celebração do domingo é encontrado


(5) A Didaqué é um compêndio
na Didaqué5 (do fim do século 1º), que apresenta no capítulo 14 a união da celebração
da doutrina cristã do primeiro
século, é chamada de Catecismo eucarística com o dia de domingo:
dos primeiros cristãos (ZILLES,
U., 1986, 39.76).
“Reuni-vos no dia do Senhor para a fração do pão e agradecei (celebrai a eucaristia),
depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro.”

Nota-se que desde então o domingo é celebrado com a eucaristia, a qual faz a
memória do Senhor Ressuscitado em meio aos seus (Lc 24).

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12 Claretiano – Batatais
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Outro testemunho importante é o texto da Apologia I6, que Justino escreve (6) Esta obra Apologia I
(apologia = defesa, justificativa)
ao imperador Antonino Pio, descrevendo amplamente a vida da comunidade cristã, em foi escrita por Justino ao redor
particular a eucaristia dominical: do ano 165 para explicar
ao Imperador Antonio Pio e
seus companheiros como
E no dia chamado do Sol, realiza-se a reunião num mesmo lugar de todos os os cristãos viviam, pois já
habitantes nas cidades ou nos campos... Fazemos a reunião todos juntos no havia perseguições contra a
dia do Sol, porque é o primeiro dia, em que Deus, transformando as trevas e a comunidade cristã, sendo que
o próprio Justino morreu mártir
matéria, fez o cosmos, e Jesus Cristo, nosso Salvador no mesmo dia ressuscitou em 165 (NOVAK; GIBIN, 1981,
de entre os mortos... (Apologia I, 67). p. 82-83).

O texto reafirma a praxe cristã de celebrar o domingo com a reunião comunitária,


na qual se celebra a eucaristia memorial do mistério pascal de Jesus. INFORMAÇÃO:
Este texto apresenta a
teologia dos nomes do
O Vaticano II, em sua reforma litúrgica, resgatou o sentido teológico-litúrgico domingo, conforme foi descrita
anteriormente.
do domingo, como aparece na Sacrosanctum Concilium nº 106, citado anteriormente,
reafirmando ser ele o dia de festa primordial e o fundamento e núcleo do Ano Litúrgico,
orientando que sua celebração não seja substituída por nenhuma outra.
ATENÇÃO!
Assim, para que isso se tornasse realidade tanto a eucologia como o lecionário Para aprofundar seus
dominical foram revistos de modo a expressarem mais claramente o conteúdo litúrgico do conhecimentos neste tema
consulte a obra: BERGAMINI, A.
domingo. Isso pode ser percebido mais plenamente nos domingos do Tempo comum (33 ou Cristo, festa da Igreja: história,
34 domingos no ano), mas também se manifesta nos domingos do Tempo da manifestação teologia, espiritualidade e pastoral
do Ano Litúrgico. São Paulo:
e do Tempo pascal, nos quais se inserem ainda os conteúdos próprios desses tempos. Paulinas, 1994. (Coleção liturgia e
participação). p.122-126.
Pode-se, contudo, perceber na pastoral litúrgica do Ano Litúrgico algumas
dificuldades para a celebração atual do domingo: a organização da sociedade capitalista
ancorada na concepção do tempo do mercador estruturou turnos de trabalho ininterruptos e
INFORMAÇÃO:
isto traz dificuldade para o descanso dominical e para a celebração eucarística dominical. Como esta é uma dificuldade
que atinge grande parte das
comunidades cristãs em todo
Pastoralmente tem se sugerido que as pessoas que trabalham no domingo o mundo, tem havido uma
celebrem sua páscoa semanal durante a semana, isto, no entanto, poderia suprir o reflexão sobre o tema por
preceito dominical, mas tal celebração fica reduzida em seu conteúdo simbólico próprio parte do magistério da Igreja,
por teólogos, liturgistas e
do domingo. pastoralistas, com o objetivo de
buscar soluções.
Outra dificuldade é a falta de sacerdotes para presidirem a eucaristia em
todas as comunidades cristãs, as quais, para não se privarem totalmente do dia do
ATENÇÃO!
Senhor, reúnem-se para a celebração da Palavra, em que se acrescenta, muitas vezes, Amplie seus conhecimentos
a comunhão eucarística com pré-santificados. Esta não é, contudo, a solução adequada sobre o dia do Senhor. Consulte
as obras a seguir:
para tal situação. a) CONGREGAÇÃO PARA O
CULTO DIVINO. Diretório para
as celebrações dominicais na
Por fim, nem sempre se cumpre o pedido da Sacrosanctum Concilium nº 106. ausência do presbítero, 1988.
A celebração do domingo acaba sendo substituída por outras celebrações, como as b) CNBB. Orientações para a
celebração da Palavra de
“jornadas”: dia do catequista, dia do religioso, dia do padroeiro, dia da Bíblia etc. Deus, 1994. (Documentos da
CNBB 52).
c) BUYST, I. Celebração do
Ainda que a celebração eucarística dominical atualize o mistério pascal para a domingo ao redor da palavra
realidade atual e tal realidade esteja presente na celebração por meio das orações e na de Deus. São Paulo: Paulinas,
oferenda que fazemos com Cristo ao Pai, ela não deve tomar o lugar do mistério de Cristo. 2002 (Coleção celebrar).
d) BUYST, I. Presidir a
celebração do dia do Senhor.
Assim, concluímos com o texto do Prefácio dominical IX do Missal Romano atual, São Paulo: Paulinas, 2004.
e) PALUDO, F. A celebração
o qual nos apresenta uma síntese teológica do domingo e de sua celebração: da palavra de Deus. In:
CELAM – Manual de liturgia.
Na verdade é justo e necessário, é nosso dever e salvação, dar-vos graças e A celebração do mistério
pascal: outras expressões
bendizer-vos, Senhor, Pai santo, fonte da verdade e da vida, porque, neste
celebrativas do mistério pascal
domingo festivo, nos acolhestes em vossa casa. e a liturgia na vida da Igreja.
São Paulo: Paulus, 2007. v. 4.
p. 155-186.

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UNIDADE 1
Bacharelado em Teologia

Hoje, vossa família, para escutar vossa Palavra e repartir o Pão consagrado,
recorda a Ressurreição do Senhor, na esperança de ver o dia sem ocaso, quando
a humanidade inteira repousará junto de vós. Então, contemplaremos vossa
face e louvaremos sem fim vossa misericórdia.

Por isso, cheios de alegria e esperança, unimo-nos aos anjos e a todos os


santos, cantando a uma só voz...

4 CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da primeira unidade da disciplina Ano Litúrgico e Liturgia
das Horas, com a qual você pôde estudar alguns conceitos introdutórios relacionados ao
tempo e a liturgia e a celebração do domingo.

Assim, entre os conteúdos abordados neste estudo destacaram-se as diversas


categorias temporais presentes na história até a atualidade e a sacramentalidade do Ano
Litúrgico e da Liturgia das Horas.

A próxima unidade vai abordar conceitos relacionados ao tempo pascal, com


base na preparação quaresmal, no tríduo pascal e na qüinquagésima pascal.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGOSTINHO, SANTO. Confissões. São Paulo: Paulus, 1997. (Coleção Patrística 10)

ALDAZABAL, J. Domingo, dia do Senhor. In: BOROBIO, D. (Org.) A celebração na Igreja:


ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. v. 3. p. 67–91.

AUGÉ, M. O domingo: festa primordial dos cristãos. São Paulo: Ave Maria, 2000.

______. Liturgia: história, celebração, teologia, espiritualidade. São Paulo: AM, 1996. p.
276–337.

______. Teologia do ano litúrgico. In: AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico: história, teologia e
celebração. Anámnesis 5. São Paulo: Paulinas, 1991. p. 11–34.

BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano


litúrgico, São Paulo: Paulinas, 1994. (Coleção liturgia e participação)

BUYST, I. Celebração do domingo ao redor da palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002
(Coleção celebrar)

______. O mistério celebrado ao longo do tempo. In: BUYST, I.; FRANCISCO, M. J. O


mistério celebrado: memória e compromisso. Teologia litúrgica 2. Valencia (Espanha):
Siquem, 2002. p. 105–121.

______. Presidir a celebração do dia do Senhor. São Paulo: Paulinas, 2004.

CULLMANN, O. Cristo e o tempo. Tempo e história no cristianismo primitivo. São Paulo:


Custom, 2003.

DONADEO, M. O ano litúrgico bizantino. São Paulo: Ave Maria, 1998.

ELIADE, M. Mito do eterno retorno. São Paulo: Mercuryo, 1992.

______. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes,
1992.

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14 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 1 Bacharelado em Teologia

LOPEZ MARTIN, J. Tempo sagrado, tempo litúrgico e mistério de Cristo. In: BOROBIO, D.
(Org.). A celebração na Igreja. Ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000.
v. 3. p. 31-44.

NOVAK, M. G., GIBIN, M. Tradição apostólica de Hipólito de Roma: Liturgia e catequese


em Roma no século III. Em apêndice Textos catequético-litúrgicos de São Justino Mártir.
2. ed. Petrópolis: Vozes, 1981. (Fontes da catequese 4)

PALUDO, F. A celebração da palavra de Deus. In: CELAM – Manual de liturgia. A celebração


do mistério pascal: outras expressões celebrativas do mistério pascal e a liturgia na vida
da Igreja. São Paulo: Paulus, 2007. v. 4. p. 155-186.

RIZZI, A. Categorie culturali odierne nell´interpretazione del tempo. In: APL –


Associazione Professori di Liturgia (Org.). L´anno litúrgico: Atti della XI Settimana di
Studio dell´Associazione Professori di Liturgia, Brescia, 1982. Casale Monferrato: Marietti,
1983. p. 11–22.

ROONEY, M. O domingo. In AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico: história, teologia e celebração.


Anámnesis 5. São Paulo: Paulinas, 1991. p. 71-94.

ROSAS, G. O ano litúrgico. In: CELAM – Manual de liturgia. A celebração do mistério


pascal: outras expressões celebrativas do mistério pascal e a liturgia na vida da Igreja.
São Paulo: Paulus, 2007. v. 4. p. 15–41.

SILVA, J. A. O domingo: páscoa semanal dos cristãos. Elementos de espiritualidade


dominical para as equipes de liturgia e o povo em geral. São Paulo: Paulus, 1998. (Coleção
celebrar a fé e a vida 5)

SIVINSKI, M. (Org.) Ano litúrgico como realidade simbólico-sacramental. São Paulo:


Paulus, 2002. (Cadernos de liturgia 11)

VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. In:


Compêndio do Vaticano II. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 259-306.

ZILLES, U. (Org.). Didaqué: catecismos dos primeiros cristãos. 5. ed. Petrópolis: Vozes,
1986. (Fontes da catequese 1)

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Anotações
TEMPO PASCAL: PREPARAÇÃO

UNIDADE 2
QUARESMAL, TRÍDUO PASCAL E
QÜINQUAGÉSIMA PASCAL

Objetivos
• Reconhecer os conteúdos históricos, teológicos e
celebrativos do Tríduo pascal, da Qüinquagésima pascal
e da Quaresma.

• Identificar os elementos que dão a unidade celebrativa ao


Tempo pascal, assim como os elementos que distinguem
cada uma de suas partes.

• Reconhecer nas estruturas celebrativas do lecionário


e eucológio os conteúdos do mistério pascal celebrado
neste tempo litúrgico.

Conteúdos
• Tríduo pascal: história, teologia e estrutura celebrativa
atual.

• Quinquagésima pascal como continuidade da Páscoa e


sua estrutura celebrativa.

• Quaresma: elementos históricos, teologia e estrutura de


sua celebração na atualidade.
UNIDADE 2
Bacharelado em Teologia

ATENÇÃO!

1
Conhecer o repertório de
estratégias de aprendizagem
constitui um passo fundamental
INTRODUÇÃO
para enriquecer sua capacidade
de aprender, para prevenir A primeira unidade de nossa disciplina abordou conceitos relacionados ao tempo,
dificuldades de aprendizagem e a liturgia e a celebração do domingo.
para avançar no desenvolvimento
de seu desempenho acadêmico.
Para tanto, releia o Guia de Agora, na Unidade 2, você terá a oportunidade de estudar o tempo pascal, com
disciplina e a página anterior
e aproveite esta oportunidade
base na preparação quaresmal, no tríduo pascal e na qüinquagésima pascal.
para posicionar-se criticamente
diante dos conteúdos e das Desse modo, no primeiro período da vida da Igreja, a Páscoa foi o único ponto
estratégias didáticas propostas.
Você é o protagonista de sua central da pregação, da celebração e da vida cristã. A liturgia nasce da Páscoa e, também,
aprendizagem! Pense nisso... para celebrar a Páscoa.
Tudo é visto no centro e a partir do centro, e este centro é o acontecimento
do Cristo morto e ressuscitado. [...] tudo está centrado neste único mistério
histórico-salvífico, atualizado no presente da celebração. A Igreja primitiva não
celebra “os mistérios” de Cristo, mas “o mistério”, ou seja, a Páscoa, como
acontecimento que resume e faz valer para a nossa salvação todo o conjunto
da vida e da ação salvífica de Cristo (AUGÉ, 1992, p. 294).

Este mistério é celebrado a cada domingo (Páscoa semanal), como vimos na


unidade anterior, mas a partir do final do século 2º começa a ser celebrado anualmente
(Páscoa anual).

Em seguida, houve desdobramentos dessa celebração anual com o surgimento


de um tempo de continuidade dessa solenidade, que se estende por cinqüenta dias até
Pentecostes (Qüinquagésima Pascal), além de um tempo de preparação para a Páscoa que
dura quarenta dias (Quaresma).

Veremos a seguir como isso aconteceu e como é celebrado atualmente em nossa


liturgia.

Bom estudo!

2 DA PÁSCOA SEMANAL À PÁSCOA ANUAL


A celebração do mistério pascal é central na “memória” que a Igreja faz do
seu Senhor a cada semana, num dia que recebe o nome de domingo (dia do Senhor),
exatamente por ser a atualização do evento pascal na vida da comunidade reunida por
meio da eucaristia.

A celebração anual da Páscoa é posterior à sua celebração semanal. Tal celebração


apareceu documentada em Roma pela primeira vez no final do século 2º, quando o Papa
(1) Mistério pascal de Cristo: Vitor I interveio na disputa sobre o dia da celebração da Páscoa.
paschale sacramentum.

Há, contudo, segundo os estudiosos, alguns indícios da importância dessa


celebração no Novo Testamento, mas ainda não se sabe nada de sua celebração anual.
ATENÇÃO!
Para aprofundar seus
conhecimentos sobre o Assim, para compreendermos os textos neotestamentários, que falam da
mistério pascal de Cristo
você poderá consultar a obra: Páscoa especificamente como o mistério pascal de Cristo1, é preciso ver como esta
CANTALAMESSA, R. O Mistério festa aparece no Antigo Testamento.
da Páscoa. Aparecida: Santuário,
1994. 150 p. (Espiritualidade,
n. 2)

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18 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 2 Bacharelado em Teologia

Páscoa no Antigo Testamento

Vejamos a síntese que faz Bergamini (1994, p. 247):


A Páscoa bíblica está intimamente ligada ao coração da experiência do povo
de Deus: êxodo e aliança. Ela se perpetua e é atualizada no rito do cordeiro, e
este, por sua vez, está ligado com as instituições representativas do povo de
Deus: templo, monarquia, Jerusalém. Pode-se dizer que a Páscoa, como evento
e como memorial litúrgico, tem função arquetípica na história de Israel.

Originalmente, a festa da Páscoa era a festa da primavera, celebrada por


pastores nômades. Por ser uma festa primaveril e pastoral, supôs-se que a
Páscoa já fosse celebrada pelos hebreus antes dos eventos do Êxodo e que
pudesse, portanto, ser identificada com a peregrinação (hag) que eles, ainda
escravos no Egito, se propuseram a celebrar no deserto (Ex 5,1). No início ela ATENÇÃO!
foi celebrada provavelmente em Guilgal, junto com outra festa parecida com os Você poderá ampliar os
Ázimos, celebração mais antiga do que a da Páscoa, pois consta nos calendários conhecimentos sobre o tema
das Instituições do Antigo
onde a Páscoa não é nomeada. Testamento, consultando a
seguinte obra: DE VAUX,
R. Instituições de Israel no
A Páscoa2 como festa primaveril e pastoral, ligada tanto aos povos nômades Antigo Testamento. São Paulo:
(pastores) como aos sedentários (agricultores), está inserida num contexto de passagem Teológica, 2003.
da morte para a vida, pois é celebrada no primeiro plenilúnio da primavera. Tal celebração
marca o início de uma vida nova, a qual se manifesta no “ressurgimento” de toda a criação
(vegetação, animais) que parecia morta durante o inverno. (2) O termo Páscoa deriva do
hebraico Pesah, que quer dizer
passagem.
Em seguida essa festa de celebração da vida nova apresenta como conteúdo
a celebração da passagem da morte (escravidão no Egito) para a vida (liberdade na
terra prometida), por meio da passagem de Deus que salva seu povo e da passagem
do Mar Vermelho.

Desse modo, é este o conteúdo que encontramos nos textos bíblicos que
fundamentam a celebração anual da Páscoa pelos hebreus:

Encontramos, como se sabe, a origem da celebração da páscoa no AT e


nomeadamente em dois textos: Ex 12 e Dt 16. O primeiro apresenta-nos o
sentido teológico da páscoa, sublinhando, sobretudo a ação salvífica de Deus
que “passa” para ferir os egípcios e salvar Israel. Páscoa é “Deus que passa”. No
segundo – assim como nos capítulos 13-14 do Êxodo – sobressai, porém, mais
“o homem salvo”, sua passagem da escravidão à liberdade. Foram se afirmando ATENÇÃO!
Não deixe de ler, na íntegra,
na celebração dois aspectos do conteúdo do evento pascal: de um lado, a os textos bíblicos citados.
imolação-comida do cordeiro e, de outro, a saída do Egito como passagem da Assim, você terá uma maior
escravidão à liberdade (ALIAGA, 2000, p. 95). compreensão do tema. O texto
de Ex 14 é lido como Terceira
Leitura na Vigília Pascal.
Inicialmente, como se pode ler nesses textos, a celebração era feita familiar e
tinha como vítima um cordeiro, mas logo se passou a uma celebração realizada por Israel,
INFORMAÇÃO:
em um único sacrifício cultual centralizado em Jerusalém, tendo um cordeiro ou mesmo Podemos ver algumas dessas
um touro como vítima (Dt 16). indicações rituais em Ex 12, cujo
texto é lido na Missa da Ceia do
Senhor, na Quinta-feira Santa
Páscoa no Novo Testamento à noite. Encontramos diversas
alusões a essa celebração anual
Há ainda muita discussão entre os estudiosos sobre como se deu a passagem da Páscoa nos Evangelhos:
“Quando estava para subir a
da instituição pascal do Antigo Testamento para o Novo Testamento. Isso se deve à Jerusalém...” (Mt 20,17), também
complexidade encontrada nas fontes históricas dessa instituição. Mt 21, em que Jesus fala de
preparar a celebração da Páscoa
e outros.
No entanto, existem no Novo Testamento, alguns textos que apresentam a
leitura que os cristãos fizeram da Páscoa hebraica, identificando o evento salvífico do
Êxodo com o evento da morte-ressurreição de Cristo.

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Batatais – Claretiano 19
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UNIDADE 2
Bacharelado em Teologia

A fórmula paulina “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” (ou melhor: a nossa Páscoa,
Cristo, foi imolada!). Portanto, celebremos a festa, não com o velho fermento,
nem com o fermento da malícia e da perversidade, mas com ázimos, isto é, na
sinceridade e na verdade” (1Cor 5,7-8) é o único texto que fala da Páscoa cristã
ATENÇÃO! e é também o primeiro testemunho da leitura cristológica da Páscoa bíblico-
Para aprofundar seus
hebraica. O texto indica a certeza da imolação pascal de Cristo como evento
conhecimentos sobre a Páscoa
de Jesus, consulte as obras: histórico. Esse evento deu à Igreja a “sua Páscoa (BERGAMINI, 1994, p. 251).
a) DURRWELL, F. X. Cristo
nossa Páscoa. Aparecida:
Santuário, 2006. Não se fala, ainda, se a Páscoa é celebrada como festa anual, semanal; é porque o
b) GARMUS, L. Leitura da que importa aqui é a leitura que os cristãos fizeram da Páscoa do Antigo Testamento.
Páscoa como memorial da
libertação. Petrópolis: Vozes,
1987. (Estudos bíblicos, n. 8); É nesta linha cristológica de releitura da Páscoa veterotestamentária que podem
c) SERRANO, V. A Páscoa de
ser lidos outros textos do Novo Testamento.
Jesus em seu tempo e hoje.
São Paulo: Paulinas, 1997.
(Liturgia e participação);
Os evangelhos sinóticos apresentam a última ceia de Jesus com seus discípulos
como a ceia pascal da nova aliança que será selada com o seu sangue na cruz (cf. Mt
26,17ss; Mc 14,12ss; Lc 22,7ss).

Assim, para o evangelista João, a nova Páscoa acontece quando Jesus se imola
INFORMAÇÃO: na cruz como cordeiro pascal (Jo 19,30.33.36 que espelha o texto de Ex 12). E, por fim, a
Para João, esta é a “hora” de
Jesus. A narrativa joanina, da Primeira Carta de Pedro seria, segundo alguns estudiosos, uma homilia pascal e batismal
paixão, coloca a morte de Jesus pronunciada na noite da Páscoa.
no mesmo horário em que eram
sacrificados os cordeiros, os
quais seriam consumidos na A seguir você terá uma síntese dos dados bíblicos sobre a Páscoa no Antigo e
festa anual da Páscoa.
Novo Testamento e sua celebração pelos cristãos.

ATENÇÃO!
Amplie seus conhecimentos Mistério pascal
sobre a Páscoa. Consulte a
obra: BERGAMINI, A. Cristo, Quadro 1 A festa de Pesâh.
festa da Igreja. História, teologia,
espiritualidade e pastoral do ano Pesâh – Πάσχα – Pascha - Páscoa
litúrgico, São Paulo: Paulinas,
1994 (Coleção Liturgia e Língua Grafia Significado
participação).
Mancar ou saltar
Língua dos beduínos e dos
(dança ritual)
egípcios
(Ex 12,12s.13)
Hebraico Pesah Saltar (figurado, metafórico)

Aramaico Pesâh, pasah, phase Passar (Êxodo)

Grego Πάσχα Passar

Latim Pascha (phase, passio) Padecer (de πασχείν)


Fonte: CASTELLANO, J. El año liturgico. Memorial de Cristo y mistagogia de la Iglesia. Barcelona: Centre de Pastoral
Liturgica, 1994; ROSSO, S. Il segno del tempo nella liturgia. Anno liturgico e Liturgia delle Ore, Leumann (TO):
Editrice ELLEDICI, 2002.

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Quadro 2 Páscoa judaica (festa de Pesâh + festa de Massôt) e cronologia de João.

Mês de Nisan
Fontes do Antigo Testamento Cronologia do Evangelho de João
(ligada ao ano da Páscoa de Jesus)
10
11
Escolha do cordeiro 12
13
14 Paixão e morte de Jesus

Parasceve - eliminação do pão 15


fermentado e sacrifício dos cordeiros Sábado - Jesus no sepulcro, descida no
Páscoa e 1º Dia dos Ázimos 16 inferno
1º Dia da Semana – Ressurreição
2º Dia dos Ázimos de Jesus = (primeiro) dia depois do
17 sábado, 1º Domingo
18
3º Dia dos Ázimos 19
4º Dia dos Ázimos 20
5º Dia dos Ázimos 21
6º Dia dos Ázimos 22 Sábado
7º Dia dos Ázimos “Oito dias depois” (Jo 20,26) = 2º
Domingo

Fonte: CASTELLANO, J. El año liturgico. Memorial de Cristo y mistagogia de la Iglesia. Barcelona: Centre de Pastoral
Liturgica, 1994; ROSSO, S. Il segno del tempo nella liturgia. Anno liturgico e Liturgia delle Ore, Leumann (TO):
Editrice ELLEDICI, 2002.

Quadro 3 Dimensões litúrgicas da ceia pascal.


Antecipação ritual Evento histórico Atualização ritual
(única) (único) (múltipla)
Fundacional Fundacional Memorial
AT – Ceia pascal do Êxodo no Passagem do Mar Vermelho e Ceia pascal anual
Egito Assembléia do Sinai Tamid, Sábado
Paixão, morte e ressurreição de Domingo, Vigília Pascal,
NT – Última ceia de Jesus
Cristo Eucaristia, sacramentos etc.
Fonte: CASTELLANO, J. El año liturgico. Memorial de Cristo y mistagogia de la Iglesia. Barcelona: Centre de Pastoral
Liturgica, 1994; ROSSO, S. Il segno del tempo nella liturgia. Anno liturgico e Liturgia delle Ore, Leumann (TO):
Editrice ELLEDICI, 2002.

Há algumas hipóteses quanto ao esquema e aos elementos rituais utilizados na


celebração da Vigília pascal na Antiguidade, segundo as tradições oriental e ocidental.

A seguir, será apresentada uma possível reconstrução com as particularidades


rituais da Páscoa ocidental (no domingo após o 1º plenilúnio de primavera) e oriental
(quartodecimana):

Quadro 4 A celebração ritual da Páscoa na grande vigília.


Páscoa ocidental Páscoa oriental
Preparação – jejum Preparação - jejum
Vigília durante a noite Vigília durante a noite
Leitura bíblica – Ex.14 Leitura bíblica – Ex 12
Batismo – Trad. apostólica Batismo – Const. apostólicas
Eucaristia Eucaristia
Ágape Ágape
Fonte: CASTELLANO, J. El año liturgico. Memorial de Cristo y mistagogia de la Iglesia. Barcelona: Centre de Pastoral
Liturgica, 1994; ROSSO, S. Il segno del tempo nella liturgia. Anno liturgico e Liturgia delle Ore, Leumann (TO):
Editrice ELLEDICI, 2002.

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Batatais – Claretiano 21
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3 CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA
Apesar da releitura cristã da Páscoa judaica, como vimos anteriormente, não
existem documentos do tempo apostólico (século 1º) que testemunhem a celebração
anual da Páscoa.

Entre os séculos 2º a 6º a celebração pascal caracteriza-se por um período de


dois ou três dias de jejum, os quais eram concluídos com a celebração eucarística. Tal
jejum tem um caráter penitencial que faz referência à paixão e morte do Senhor.

No entanto, surge um problema devido à diversidade no cômputo dos dias,


segundo duas correntes.

A primeira corrente é chamada de “quartodecimana”, ou oriental, pois se


baseia num costume oriental que parece ter origem no apóstolo João e predominava nas
comunidades da Ásia Menor. Tais comunidades celebravam a Páscoa na sexta-feira santa,
assim como os hebreus que a celebravam no dia 14 de Nisan. Insistiam na leitura joanina,
na qual Jesus morre na cruz como o cordeiro que é imolado para a Páscoa. Por isso,
jejuam durante toda a sexta-feira e concluem este dia com a eucaristia.

A segunda corrente conhecida, como ocidental, acentuava que o jejum devia


durar toda a sexta-feira e o sábado, e que a eucaristia, sacramento da Páscoa, fosse
celebrada nas primeiras horas do domingo, na hora em que Jesus ressuscitou segundo os
textos evangélicos.

VOCÊ SABIA QUE... Houve, por conta dessas visões, uma longa controvérsia, a qual exigiu a
Ainda hoje, essa questão da data intervenção de bispos e papas da época, considerando que houve no final do século 2º a
da Páscoa não está totalmente
convocação de um sínodo pelo papa Vitor para que as várias Igrejas discutissem o assunto
fechada, considerando que este
assunto foi discutido no Concílio e se chegasse à unidade. Tal unidade durou pouco e foi preciso esperar o Concílio de Nicéia
Vaticano II. Desse modo, a em 325, para que a data da Páscoa fosse celebrada no domingo seguinte à lua cheia do
Sacrosanctum Concilium declara
no seu apêndice que “não se equinócio da primavera, ou seja, entre 22 de março e 25 de abril.
opõe a que a festa da Páscoa
seja fixada num domingo certo
O costume de se celebrar o tríduo pascal — chamado de “triduum sacrum” por
do calendário gregoriano, com o
consentimento dos interessados, Ambrósio de Milão no século 4º e de “sacratissimum triduum” da morte por Agostinho,
principalmente os irmãos sepultura (descida aos infernos) e ressurreição com um jejum na sexta-feira e no sábado
separados da comunhão com a
Sé Apostólica”. e a eucaristia na madrugada do domingo — começou a se modificar quando, a exemplo de
Jerusalém, as comunidades cristãs passaram a historicizar os relatos evangélicos.

Isso trouxe desdobramentos e involuções na liturgia do tríduo pascal, pois sua


unidade celebrativa começou a se romper com a ênfase que passa a ter a instituição da
eucaristia na quinta-feira santa. Tal prática tirou a importância da eucaristia da vigília
pascal e mudou os dias do tríduo, de sexta-feira, sábado e domingo, para quinta-feira,
sexta-feira e sábado.

Nesses desdobramentos, encontramos o acréscimo de ritos à liturgia do tríduo


INFORMAÇÃO: pascal:
Esse costume começou a se
modificar com as reformas do a) na quinta-feira santa: o lava-pés, a transladação do santíssimo e desnudação
Papa Pio XII, mas somente dos altares;
o Vaticano II é que fez uma
ampla reforma da liturgia e do b) na sexta-feira santa: a adoração da cruz e, mais tarde, a comunhão;
ano litúrgico. Ainda hoje, em
alguns lugares, há o costume de c) no sábado: a antecipação da vigília, que chegará a ser celebrada inclusive na
malhar o Judas no sábado santo,
considerando que essa festa
manhã do sábado santo.
popular se fazia após a Vigília
Pascal.

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22 Claretiano – Batatais
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Celebração pascal no Vaticano II

Atualmente, como fruto da reforma litúrgica do Vaticano II, o tríduo pascal


recuperou o seu sentido unitário, ainda que isto nem sempre seja percebido e se vejam
na atualidade novos desdobramentos celebrativos que impedem a celebração dos três dias
como a celebração do único mistério pascal de Cristo.

Como Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de


Deus principalmente pelo seu mistério pascal, quando morrendo destruiu a
nossa morte e ressuscitando renovou a vida, o sagrado Tríduo pascal da Paixão
e Ressurreição do Senhor resplandece como o ápice de todo o ano litúrgico.
Portanto, a solenidade da Páscoa goza no ano litúrgico a mesma culminância (3) NUALC: Normas Universais
do domingo em relação à semana (NUALC3 nº 18) sobre o Ano Litúrgico e o
Calendário. Encontra-se no
Missal Romano.
Vejamos brevemente cada um dos três dias do tríduo pascal:

a) Início do tríduo pascal – a quinta-feira santa: segundo a maneira


litúrgica de contar o tempo, a partir das vésperas, já é um novo dia e por
isso o tríduo pascal tem início com a Missa da Ceia do Senhor4, na qual se (4) Ceia do Senhor: In Cena
Domini.
recorda a última ceia de Jesus com seus discípulos e a que ele nos mandou
celebrar como memória de seu sacrifício pascal. É a Páscoa ritual que antecipa
a morte-ressurreição de Jesus.

b) O primeiro dia do tríduo pascal – a sexta-feira santa: nesse dia, celebra-


se a morte vitoriosa do Senhor, sua gloriosa paixão. O fundamental nessa
celebração é a proclamação da Palavra, além de não se celebrar a eucaristia,
pois o “esposo nos foi tirado”. Os textos bíblicos deste dia enfatizam a entrega
sacrifical de Jesus.

c) O segundo dia do tríduo pascal – o sábado santo: é um dia alitúrgico


desde as origens, considerando que nesse dia não se faz nenhuma celebração,
mas se venera no silêncio e na espera o repouso de Jesus sepulcro e sua
descida aos infernos.

d) O terceiro dia do tríduo pascal – a vigília pascal na noite santa e o


domingo da ressurreição: – “poucas celebrações litúrgicas são tão ricas
de conteúdo e simbolismo como a da vigília pascal. [...] Nessa noite santa
a Igreja celebra, de modo sacramental mais pleno, a obra da redenção e da
perfeita glorificação de Deus como memória, presença e espera” (ALIAGA,
2000, p. 112).

Tal vigília é uma antiqüíssima tradição (Ex 12,42), a qual passou para os cristãos
e que hoje assume um sentido novo, pois ao celebrá-la estamos vivendo a Páscoa em
ATENÇÃO!
nossa vida à espera da Páscoa eterna. Nessa vigília são celebrados os sacramentos da Para aprofundar seus
iniciação cristã: batismo, crisma e eucaristia, por meio dos quais participamos da Páscoa conhecimentos sobre o sentido
do Hino Pascal ou Exultet,
de Jesus: com ele morremos e com ele ressuscitamos. consulte: BUYST, Ione. Cristo
Ressuscitou: meditação litúrgica
com um hino pascal. São
“A Vigília pascal, na noite santa em que o Senhor ressuscitou, seja considerada Paulo: Paulus, 1995. (Liturgia e
a “mãe de todas as santas vigílias”, na qual a Igreja espera, velando, a Ressurreição de teologia).

Cristo, e a celebra nos sacramentos (NUALC nº 21).

A seguir, segue um quadro com o esquema das celebrações do Tríduo Pascal


atual, com indicações das leituras, orações e breve comentário:

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Quadro 5 Tríduo Pascal.

Proêmio ou abertura
A ceia Páscoa ritual Missa “In Cena Domini”

Tríduo pascal propriamente dito


A cruz Imolação de Cristo Celebração da paixão
O sepulcro Deposição de Cristo Ofício de oração
Sepulcro vazio Ressurreição de Cristo Vigília pascal
Fonte: Acervo pessoal.

Início do Tríduo Pascal: A missa vespertina “In Cena Domini”

a) Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: Ex 12,1-8.11-14 - a ceia pascal de Israel.
Salmo responsorial: Sl 115 - Refrão: 1 Cor 10,6.
Segunda Leitura: 1 Cor 11, 23-26 - a instituição da eucaristia.
Evangelho: Jo 13,1-15 - o mandamento novo e o exemplo do amor-serviço.

b) O Lava-pés: exprime e condensa um rico conteúdo proclamado pela liturgia


da palavra e atuado pela eucaristia.

c) Liturgia eucarística.

d) A reserva do Santíssimo Sacramento.

Primeiro dia do Tríduo Pascal: Sexta-feira Santa, “Paixão do Senhor”


a) Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: Is. 52,13-15;53,1-12 - a profecia do Servo de Javé
(Quarto cântico):
Salmo responsorial: Sl 30.
Segunda Leitura: Hb 4,14-16;5,7-9 - a obediência do Filho.
Evangelho - Jo 18,1-19,42 - paixão de Jesus.

b) A solene oração dos fiéis - para as grandes intenções da Igreja e do


mundo.

c) A adoração da cruz.

d) A comunhão.

Segundo dia do Tríduo Pascal: Sábado Santo, “Sepultura do Senhor”


Contemplação do mistério da descida de Cristo à mansão dos mortos

Terceiro dia do Tríduo Pascal: Domingo de Páscoa, “Ressurreição do


Senhor”

Vigília Pascal na noite santa:

a) Solene início da vigília ou “Lucernário”: Celebração de Cristo, Luz do


mundo,
Bênção do fogo novo, preparação e acendimento do Círio Pascal, procissão
com o Círio Pascal, cântico do precônio pascal (Exultet).

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b) A Liturgia da Palavra: Celebração de Cristo, Palavra do Pai, Luz da


verdade:
Primeira Leitura: Gn 1,1-2,2 - o início, a criação.
Salmo responsorial: Sl 103 - a maravilha da criação.
Oração: memória da criação e da recriação em Cristo.
Segunda Leitura: Gn 22,1-18 - o sacrifício de Abraão.
Salmo responsorial: Sl 15 - referências messiânicas a Cristo ressuscitado.
Oração: da fé de Abraão à fé dos batizados em Cristo.
Terceira Leitura: Ex 14,15-15,1 - a passagem do Mar Vermelho.
Salmo responsorial: - Cântico de Moisés - Ex. 15.
Oração: a passagem do Mar Vermelho figura da Páscoa batismal.
Quarta Leitura: Is 54,5-14 - fidelidade de Deus Criador e Redentor.
Salmo responsorial - Sl 29 - Deus misericordioso e salvador.
Oração: da paternidade de Deus à esperança da salvação.
Quinta Leitura: Is 55,1-11 - vocação á uma aliança eterna.
Salmo responsorial: Cântico de Isaías 12.
Oração: os profetas anunciaram a salvação no Espírito.
Sexta Leitura: Br 3,9-15.31;4,4 - no esplendor da luz sapiencial.
Salmo responsorial - Sl 18 - bondade e beleza da lei do Senhor.
Oração: a Igreja cresça com novos filhos.
Sétima Leitura: Ez 36,16-28 - uma aliança nova, um coração novo.
Salmo responsorial: Sl 41 - sede de água viva, do Deus vivo.
Oração: hoje se cumprem as promessas.
Hino do Glória.
Oitava Leitura: Rm 6,3-11 - o batismo, mistério pascal.
Salmo responsorial: Sl 117 - este é o dia que o Senhor fez. A vitória pascal
de Cristo.
Aleluia: solene anúncio do canto novo.
Evangelho: Ano A - Mt 28,1-10/ Ano B - Mc 16,1-17/ Ano C - Lc 24,1-12 - o
kerigma da Ressurreição.

c) Liturgia batismal: Celebração de Cristo, fonte de água viva que jorra para
a vida eterna
Ladainha dos santos, bênção da água batismal, renovação das promessas
batismais, sacramentos da iniciação e aspersão da água batismal

d) Liturgia eucarística: Celebração de Cristo, nossa Páscoa, cordeiro imolado


e glorificado.

O dia de Cristo Senhor:


Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: At 10,34 a.37-43 - os apóstolos, testemunhas da
ressurreição.
Salmo responsorial: Sl 117 - este é o dia que o Senhor fez.
Segunda Leitura: Cl 3,1-4 - exigências da vida pascal nova.
Evangelho: Jo 20,1-9 - ele devia ressuscitar dos mortos.

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4 QÜINQUAGÉSIMA PASCAL
A qüinquagésima pascal, ou cinqüentina pascal, é o tempo pascal que durante
cinqüenta dias dá continuidade à celebração da Páscoa anual. Esse tempo teve sua origem na
tradição judaica a partir de uma releitura cristã. Vejamos uma síntese de sua origem histórica:

O tempo pascal é o mais antigo. Inicialmente, foi concebido de modo unitário,


como oitava dupla (7x7) da Páscoa. Um tal período já fazia parte do ano
litúrgico judaico e, por isso, Lucas diz, nos Atos: “Tendo-se completado o dia de
Pentecostes” (Atos 2,1), isto é, o dia em está terminando o período de cinqüenta
dias entre Páscoa e Pentecostes. Inicialmente, era a festa da colheita (Ex 23,14
ss); com os acontecimentos do Êxodo, ela perdeu o seu caráter naturalista
para tornar-se festa memorial do evento salvífico da aliança no Sinai. De fato,
a utilizando a indicação de Ex 19,1, segundo a qual os israelitas chegaram ao
Sinai no terceiro mês após a saída do Egito, que, por sua vez, aconteceu na
metade do primeiro mês, a Festa das Semanas (Pentecostes) foi transformada
em celebração da aliança. No tempo de Jesus, a festa dos cinqüenta dias após
a Páscoa era ainda celebrada no judaísmo oficial como festa da colheita, mas
já havia tomado, em alguns círculos religiosos, o sentido de comemoração da
teofania do Sinai. Por outro lado, o acento era colocado na aliança entre Deus
e o seu povo, mais do que sobre o dom da lei. Parece que essa concepção
desenvolveu-se no ambiente sacerdotal.É provável que a Igreja primitiva,
talvez até os próprios apóstolos, tenha se inspirado no costume hebraico ao
celebrar os cinqüenta dias pascais... (BERGAMINI, 1994, p. 377).

A comunidade cristã faz uma leitura cristológica desse tempo de festa e usa o
termo Pentecostes no seu significado etimológico: pentekosté hemera – o qüinquagésimo dia
(pentecostes) - para designar a plenitude da páscoa de Cristo, que se dá com a efusão do
Espírito Santo e pela vocação da comunidade do Crucificado-Ressuscitado ao universalismo.

Vemos tal teologia na celebração de Pentecostes:

Deus eterno e todo-poderoso, quisestes que o mistério pascal se completasse

INFORMAÇÃO: durante cinqüenta dias, até a vinda do Espírito Santo. Fazei que todas as nações
Nota-se referência aos textos dispersas pela terra, na diversidade de línguas, se unam no louvor do vosso
joaninos: “...eu rogarei ao Pai e
ele vos dará um outro Paráclito nome (Oração do Dia da Vigília da Solenidade de Pentecostes).
que permanecerá convosco para
sempre.[...] o Paráclito, o Espírito Para levar à plenitude os mistérios pascais, derramastes, hoje, o Espírito Santos
Santo que o Pai enviará em meu
prometido, em favor de vossos filhos e filhas. Desde o nascimento da Igreja, é
nome, vos ensinará todas as
coisas e vos fará tudo o que eu ele quem dá a todos os povos o conhecimento do verdadeiro Deus; e une, numa
vos disse.” (Jo 14,16.26). Como
se pode notar nesta eucologia só fé, a diversidade das raças e línguas. (Prefácio de Pentecostes).
e no lecionário, Pentecostes
não é a celebração do Espírito
Santo, como terceira pessoa da Percebe-se, nesses textos eucológicos, a confirmação do conteúdo teológico
Santíssima Trindade, mas sim
sua presença no mistério pascal, original dessa festa: ela completa plenamente o mistério pascal com o dom do Espírito do
que é o mistério da salvação que Ressuscitado e é neste Espírito que a comunidade dos discípulos de Cristo viverão a sua
acontece pela ação da Trindade
em toda a História da Salvação Páscoa e anunciarão a fé até os confins da terra.
que tem sua plenitude na Páscoa
de Cristo.
Esse tempo pascal é celebrado como o tempo da alegria (laetissimum spatium)
no dizer dos Padres da Igreja. Essa alegria pode ser vivenciada na Oitava da Páscoa,

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durante a qual se celebra a solenidade pascal como um único dia de festa e durante as ATENÇÃO!
Para aprofundar seus
sete semanas que fazem os cinqüenta dias de Pentecostes um tempo de cantar o aleluia conhecimentos sobre teologia,
e viver a vida nova. espiritualidade e indicações
celebrativas para o tempo pascal,
consulte as obras:
“Os cinqüenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes a) BARREIRO, A. O itinerário
da fé pascal. A experiência
sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um único dia de festa, ou
dos discípulos de Emaús e
melhor, “como um grande domingo”” (NUALC nº 22) a nossa (Lc 12,13-35). São
Paulo: Loyola, 2001.
b) BECKHAÜSER, A. Vida
A partir do século 4º o tempo pascal começa a sofrer modificações, com a pascal cristã e seus símbolos.
prática da historicização cultual. Sua unidade foi quebrada com a inserção da celebração Petrópolis: Vozes, 2006.
c) BROWN, R. E. A chegada
da Ascensão no 40º dia e da descida do Espírito Santo no 50º dia. do Espírito Santo em
Pentecostes: ensaios
Assim, a reforma conciliar do Vaticano II procurou restabelecer a unidade sobre as leituras litúrgicas
entre a Páscoa e
teológico-litúrgica desse tempo, para que, dessa forma, sua celebração tivesse como Pentecostes,extraídas dos
conteúdo a plenitude da Páscoa de Cristo e, também, para que a comunidade cristã, Atos dos Apóstolos e do
evangelho segundo São João.
imbuída pelo Espírito do Ressuscitado, pudesse anunciar ao mundo a boa-nova do São Paulo: Ave Maria, 1997.
Evangelho e a presença do Reino. d) BUYST, I. Preparando a
Páscoa: quaresma, tríduo
pascal, tempo pascal. São
Paulo: Paulinas, 2002.
e) GOEDERT, V. M. Ele está

5
no meio de nós: meditações
QUARESMA pascais. São Paulo: Paulinas,
2003. (Arte e mensagem);
f) LUTZ, G. Páscoa ontem e hoje.
A celebração da Páscoa anual tem também um período de preparação, chamado São Paulo: Paulus, 1995.
Quaresma, nome que deriva de quadragésima (quarenta dias). Desse modo:
INFORMAÇÃO:
Por isso que os domingos desse
O Tempo da Quaresma visa preparar a celebração da Páscoa; a liturgia
tempo são chamados Domingos
quaresmal, com efeito, dispõe para a celebração do mistério pascal tanto os da Páscoa: Segundo, Terceiro...
catecúmenos, pelos diversos graus da iniciação cristã, como os fiéis, pela Domingo da Páscoa. Não são
depois da Páscoa, mas DA
comemoração do batismo e penitência (NUALC nº 27).
Páscoa, pois ela é celebrada
como um único grande dia de
festa durante 50 dias.
Tal disposição reflete o que foi pedido pela Sacrosanctum Concilium em relação
ao sentido que tem esse tempo para Igreja de hoje: ATENÇÃO!
Amplie seus conhecimentos
Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica esclareça-se melhor a dupla sobre o período da
Quaresma. Consulte a obra:
índole do tempo quaresmal, que, principalmente pela lembrança ou preparação CONGREGAÇÃO PARA O
do Batismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais freqüência a CULTO DIVINO. Preparação e
palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do mistério celebração das festas pascais,
1988. Já em relação ao tema
pascal” (SC 109). espiritualidade litúrgica para este
tempo, você poderá consultar:
GOEDERT, V. M. Convertei-vos e
Pode-se notar que o tempo quaresmal caracteriza-se por ser um tempo de crede no Evangelho: meditações
preparação para a Páscoa. Desse modo, por meio de duas vertentes (o batismo e a para o tempo da Quaresma
e Tríduo Pascal. São Paulo:
penitência), e da escuta atenta da palavra de Deus e da oração, os fiéis poderão participar Paulinas, 2006.
de maneira “plena, consciente e ativa” (SC, 14) do mistério da Ressurreição do Senhor
pelos sacramentos celebrados no Tríduo pascal. ATENÇÃO!
Para aprofundar seus
conhecimentos sobre este conteúdo
Mas, como nasceu esse tempo na história da liturgia? histórico é interessante que você
consulte as obras a seguir:
a) BELLAVISTA, J. Preparação
A Quaresma não existia nos três primeiros séculos da Igreja. Nesse período, a para a Páscoa: a Quaresma.
celebração pascal consistia no jejum da sexta-feira e do sábado e na vigília na madrugada In: BOROBIO, D. (org.). A
celebração na Igreja. Ritmos
do domingo que culminava com a eucaristia. e tempos da celebração. São
Paulo: 2000. v. 3. p. 143–155.
Segundo os estudos históricos, sabe-se que o primeiro tempo de preparação b) BERGAMINI, A. Cristo, festa
da Igreja. História, teologia,
para a Páscoa consistiu em estender esse jejum de dois dias para toda a semana que espiritualidade e pastoral do ano
antecedia a vigília pascal, dando origem à Semana da Paixão (ou Semana Santa). litúrgico. São Paulo: Paulinas,
1994. (Coleção liturgia e
participação). p. 265-267.

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No século 4º, depois da paz constantiniana, ou seja, após o Edito de Milão em


313, percebeu-se a necessidade de um tempo de preparação para a Páscoa, durante o
INFORMAÇÃO: qual se pudesse exortar os fiéis a viverem de maneira mais autêntica o seu batismo.
As quartas-feiras eram dias de
jejum e eram chamados dias
“estacionais” (de statio=estação) Dessa maneira, após a segunda metade do século 4º, foram acrescentadas
em Roma, pois a cada
quarta-feira o dia de jejum era mais três semanas àquela primeira semana de jejum, formando, assim, um tempo de
encerrado com a eucaristia numa preparação de quatro semanas.
determinada Igreja da cidade
(estação).
Houve ainda outro desenvolvimento desse tempo.

INFORMAÇÃO: O costume de inscrever os pecadores à penitência pública quarenta dias antes


O simbolismo bíblico deriva dos 40
dias de jejum de Jesus no deserto; da Páscoa determinou a formação de uma “quadragesima” (Quaresma), a qual caía no
os 40 anos transcorridos pelo povo VI domingo antes da Páscoa (dominica in quadragesima). Como não se celebrava rito
no deserto; 40 dias em que Moisés
esteve no Monte Sinai; 40 dias em penitencial em dia de domingo (e tal era o rito de inscrição à penitência), fixou-se esse ato
que Jonas pregou a penitência em
para a quarta-feira anterior. Toda quarta-feira, de fato, era dia “estacional” e, portanto, de
Nínive etc.
jejum. Assim, nasceu a “Quarta-feira de Cinzas”.

ATENÇÃO!
No fim do século 4º, a estrutura da Quaresma passa a ser aquela dos “quarenta
O tema da Quaresma-
sacramento poderá ser dias”, considerados à luz do simbolismo bíblico, que dá a esse tempo um valor salvífico-
aprofundado com a consulta da
obra: BERGAMINI, A. Cristo,
redentor, cujo sinal é a denominação “sacramentum” (BERGAMINI, 1994).
festa da Igreja: história, teologia,
espiritualidade e pastoral do ano
litúrgico. São Paulo: Paulinas, Além da inscrição dos penitentes no início da Quaresma, esse tempo é também
1994. (Coleção liturgia e usado para a celebração dos escrutínios batismais dos catecúmenos, os quais receberão
participação). p. 265-267.
os sacramentos da iniciação cristã durante o Tríduo pascal.

Tais escrutínios são celebrados no terceiro, quarto e quinto domingo da


VOCÊ SABIA QUE...
Ainda hoje, os catecúmenos Quaresma. Desse modo, lêem-se respectivamente, os evangelhos da samaritana, do cego
participam dos escrutínios
de nascimento e da ressurreição de Lázaro, os quais, na liturgia atual, fazem parte do
durante o tempo da Quaresma
como última etapa de preparação lecionário dominical do ciclo A.
para os sacramentos da iniciação
cristã, que receberão durante a
Vigília Pascal, conforme prescrito
no Rito de Iniciação Cristã de
Adultos (RICA). Pode-se compreender, assim, de onde provém a dupla índole da Quaresma
(batismo e penitência).

ATENÇÃO!
Aprofunde seus conhecimentos
sobre o tema dimensão batismal- O batismo é o primeiro sacramento que nos insere na páscoa de Cristo. Desse modo,
penitencial da Quaresma com o tempo quaresmal parte dele para preparar os catecúmenos que serão batizados e os fiéis
a obra: BERGAMINI, A. Cristo,
festa da Igreja: história, teologia, batizados, para que, por meio da penitência tornem sua vida cristã mais autêntica.
espiritualidade e pastoral do ano
litúrgico. São Paulo: Paulinas,
1994, (Coleção liturgia e A celebração da Quaresma na atualidade tem início na Quarta-feira de Cinzas,
participação) p. 277-279. na qual se exorta os fiéis a viverem esse tempo de penitência, ouvindo com mais atenção
a palavra de Deus e com maior assiduidade na vida de oração.
ATENÇÃO!
Para enfatizar o sentido
penitencial desse tempo, Além disso, esse tempo apresenta também o jejum, a esmola e a oração (Mt
acrescentou-se ao longo da 6,16.16-18 – Evangelho da Quarta-Feira de Cinzas) como síntese e exemplo de toda a
história outras semanas à
Quaresma, dando origem às prática penitencial cristã que deve estar voltada para Deus (a oração), para o próximo (a
chamadas qüinquagésima esmola=caridade) e para si mesmo (o jejum).
(séc.6º), sexagésima e
septuagésima (séc.7º), as quais
foram abolidas depois. Assim, É nesse sentido que no Brasil se celebra a Campanha da Fraternidade,
vale destacar um sermão do Pe.
Vieira, denominado “Sermão da
durante a qual se reflete sobre um tema de importância atual para toda a sociedade
Sexagésima”. brasileira, de modo que todos possam unir fé e vida, ou seja, viver o batismo a cada

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dia nas relações sociais, de trabalho, construindo uma sociedade mais justa e fraterna, ATENÇÃO!
Para aprofundar o tema
marcada por valores éticos, para que o Reino de Deus possa se tornar mais presente em da relação Campanha da
nosso mundo. Fraternidade e Quaresma,
consulte a obra: WILMSEN, K.
C. Campanha da fraternidade,
para onde vais? Algumas
Os domingos da Quaresma seguem, em sua estrutura, os ciclos litúrgicos A considerações para uma melhor
(Mateus), B (Marcos) e C (Lucas) para o lecionário e trazem: integração da Campanha da
Fraternidade na Quaresma. São
a) no Primeiro domingo: o Evangelho da Tentação de Jesus no deserto; Paulo: Paulus, 2004 (Cadernos
de liturgia 13).
b) no Segundo domingo: o Evangelho da Transfiguração de Jesus;
ATENÇÃO!
c) nos Terceiro, Quarto e Quinto domingos: uma seqüência de evangelhos que Para aprofundar este conteúdo
consulte as obras:
em cada ciclo apresenta um tema unitário para a catequese quaresmal, a
a) BELLAVISTA, J. Preparação
qual, ainda que se mantenha fiel à dupla índole quaresmal, enfatiza aspectos para a Páscoa: a Quaresma. In:
BOROBIO, D. (org.) A celebração
diversos a cada ciclo, a saber:
na Igreja. Ritmos e tempos da
celebração. São Paulo: Loyola,
• ciclo A – Quaresma batismal: apresenta o esquema de leituras que era 2000. v. 3. p. 267-275.
b) BERGAMINI, A. Cristo, festa
usado nos escrutínios batismais; da Igreja: história, teologia,
espiritualidade e pastoral
• ciclo B – Quaresma cristológica: acentua a ação de Cristo que nos salva do ano litúrgico. São Paulo:
do pecado; Paulinas, 1994 (Coleção liturgia e
participação).
• ciclo C – Quaresma penitencial: traz o tema da penitência e da
reconciliação.

Veja a seguir a relação completa dos textos do lecionário desses três ciclos e as
linhas de catequese quaresmal para cada um deles:

ESQUEMAS DO LECIONÁRIO QUARESMAL

Quadro 1 Ciclo dominical A: o caminho batismal da Igreja.

Profeta (AT) Apóstolo (NT) Evangelho


Rm 5,12-19
Gn 2, 7-9;3,1-7 Mt 4,1-11
Domingo 1 Onde abundou o pecado
Criação e pecado Jejum e tentação
superabundou a graça
Gn 1,1-4 2Tm 1,8-19 Mt 17,1-9
Domingo 2
Vocação de Abraão Vocação e iluminação A transfiguração
Rm 5,1-2.5-8
Ex 17,3-7 Jo 4,5-42
Domingo 3 O Espírito derramado nos
A água da rocha A samaritana
corações
1Sm 16,1b.6-7.10.13 Ef 5, 8-14 Jo 9,1-41
Domingo 4
A unção de Davi Cristo te iluminará Cego de nascença
Ez 37, 12-14 Rm 8,8-11 Jo 11,1-45
Domingo 5
Promessa de vida O Espírito que habita em vós Lázaro ressuscitado
Fonte: CASTELLANO, J. El año liturgico. Memorial de Cristo y mistagogia de la Iglesia, Barcelona: Centre de Pastoral
Liturgica, 1994.

Leitura vertical:

a) AT: momentos progressivos da história da salvação.

b) NT: catequese progressiva em relação com o evangelho.

c) Evangelho: mistério de Cristo; o homem confrontado com Cristo.

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Leitura horizontal:

a) Primeiro domingo: criação e queda (AT); mistério do pecado e da Redenção


(NT); Cristo novo Adão é tentado e vence (EV).

b) Segundo domingo: a vocação de Abraão (AT); nossa vocação cristã (NT);


Cristo transfigurado é palavra que se deve escutar.

c) Terceiro domingo: o deserto e a sede (AT); o Espírito em nossos corações é


a água viva (NT); a Samaritana sedenta e saciada por Cristo (EV).

d) Quarto domingo: a unção de Davi (AT); o cristão despertado e iluminado


(NT); o cego iluminado e curado por Jesus luz do mundo (EV).

e) Quinto domingo: promessa da ressurreição (AT); o Espírito do Ressuscitado


habita no cristão (NT); Lázaro ressuscitado por Jesus que é Ressurreição e
a Vida (EV).

Quadro 2 O ciclo dominical B: a glorificação de Cristo.

Profeta (AT) Apóstolo (NT) Evangelho


Gn 9,8-15 1Pe 3, 18-22 Mc 1, 12-15
Domingo 1
Dilúvio e aliança Dilúvio e batismo Jesus tentado
Rm 8,31b-34 Mc 9,1-9
Gn 22, 1-2.9a.15-18
Domingo 2 Deus não perdoou seu Este é meu filho:
Sacrifício de Isaac
próprio Filho escutai-o.
Jo 2, 13-25
1 Cor 1,22-25
Ex 29,1-17 Destruí este templo
Domingo 3 Cristo crucificado força e
A lei mosaica e aliança e em três dias o re-
sabedoria.
edificarei
2 Cr 36, 14-23 Ef 2,4-11 Jo 3, 14-21
Domingo 4 Desterro e libertação de Mortos para o pecado, Deus mandou seu Filho
Israel ressuscitados pela graça para salvar o mundo
Jo 12, 20-33
Jr 31, 31-34 Hb 5, 7-9
O grão de trigo que
Domingo 5 Promessa de uma nova A obediência de Cristo,
morre produz muito
aliança. causa de salvação.
fruto.
Fonte: CASTELLANO, J. El año liturgico. Memorial de Cristo y mistagogia de la Iglesia, Barcelona: Centre de Pastoral
Liturgica, 1994.

Leitura vertical:

a) AT: progressivas alianças de Deus com seu povo.

b) NT: progressiva catequese em relação com o AT e o Evangelho.

c) Evangelho: mistério de morte e glorificação do Filho.

Leitura horizontal:

a) Primeiro domingo: o dilúvio e aliança com Noé (AT); o dilúvio figura do


batismo (NT); Jesus tentado e vencedor (EV).

b) Segundo domingo: sacrifício de Isaac e aliança com Abraão (AT); Deus


sacrificou a seu Filho (NT); Jesus transfigurado: o Filho amado sobre o qual
vela o Pai (EV).

c) Terceiro domingo: lei e aliança com Moisés (AT); Jesus crucificado revelação
da sabedoria de Deus para todos(NT); Jesus templo de Deus que anuncia seu
mistério de paixão e de ressurreição (EV).

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d) Quarto domingo: Deus não trai a aliança e liberta os prisioneiros (AT);


mortos pelos pecados mas ressuscitados pela graça (NT); o amor de Deus
manifestado em Cristo que não julga, mas que salva (EV).

e) Quinto domingo: promessa de nova aliança (AT); a oração e a obediência do Filho


(NT); a oração de Jesus e o valor de seu sacrifício que atrai todos a ele. (EV).

Quadro 3 Ciclo dominical C: a chamada à conversão e ao perdão.

Profeta (AT) Apóstolo (NT) Evangelho


Dt 26, 4-10 Rm 10, 8-13 Lc 4, 1-13
Domingo 1
Confissão de fé de Israel Confissão de fé cristã Tentação no deserto
Fl 3,17-4,1 Lc 9,28b-36
Gn 15, 5-12.17-18
Domingo 2 Transformará nosso A transfiguração de
Aliança com Abraão
corpo Jesus enquanto rezava
Ex 3, 1-8ª.13-15 1Cor 10, 1-6.10-12 Lc 13, 1-9
Domingo 3 “Eu sou”. Presença e O caminho de Israel Chamada à conversão
libertação.
Js 5,9a.10-12 2Cor 5, 17-21
Lc15,1-3.11-32
Domingo 4 A páscoa na terra Reconciliados com Deus
O filho pródigo
prometida em Cristo
Fl 3, 8-14
Is 43, 16-21 Jo 8,1-11
Domingo 5 Corro para a meta que
Olhai que faço algo novo A adúltera perdoada
é Cristo
Fonte: CASTELLANO, J. El año liturgico. Memorial de Cristo y mistagogia de la Iglesia, Barcelona: Centre de Pastoral
Liturgica, 1994.

Leitura vertical:

a) AT: episódios progressivos da história da salvação vividos na fé.

b) NT: catequese progressiva em relação com o Evangelho e o AT.

c) EV: Cristo chama à conversão e perdoa.

Leitura horizontal:

a) Primeiro domingo: a fé inicial de Israel (AT); a fé em Cristo (NT); Jesus


tentado e vencedor (EV).

b) Segundo Domingo: a fé de Abraão e a aliança (AT); chamados à transfiguração


de nossos corpos (NT); Cristo transfigurado revelador do Pai, fundamento de
nossa fé (EV).

c) Terceiro Domingo: um Deus que se revela como libertador (AT); também os


cristãos aprendem com o caminho dos Padres do deserto (NT); chamados à
conversão (EV).

d) Quarto Domingo: a Páscoa na terra prometida, renova-se a aliança (AT);


chamados em Cristo a ser reconciliados (NT); Deus Pai espera a conversão
do filho pródigo (EV).

e) Quinto Domingo: Deus faz novas todas as coisas (AT); chamados à


ressurreição (NT); o perdão da adúltera (EV).

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Batatais – Claretiano 31
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UNIDADE 2
Bacharelado em Teologia

6 CONSIDERAÇÕES
Podemos concluir esta unidade reafirmando a centralidade do mistério pascal na
vida da Igreja e na sua liturgia.

Assim, por meio do memorial, o mistério pascal se torna presente permitindo que
todos os que participam da liturgia e dos sacramentos possam viver como ressuscitados
em Cristo, além de trazer ao mundo essa vida nova.

O Tempo pascal, tendo como centro o Tríduo pascal com sua continuidade na
Oitava pascal e Cinquentina pascal e na preparação quaresmal, dispõe a comunidade
cristã para viver com intensidade esse mistério hoje, aqui e agora em que se vive.

Com os conhecimentos adquiridos nesta unidade, convidamos você a estudar na


Unidade 3 o tempo da manifestação, enfatizando o advento, o natal e a epifania, além do
tempo comum e o santoral.

ATENÇÃO!
Renove suas idéias! Pesquise
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
as obras citadas ao lado.
AUGÉ, M. Liturgia: história, celebração, teologia, espiritualidade. São Paulo: AM, 1996.
BELLAVISTA, J. Preparação para a Páscoa: a Quaresma. In BOROBIO, D. (org.). A
celebração na Igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. v. 3. p.
143–159.
BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano
litúrgico, São Paulo: Paulinas, 1994. (Coleção liturgia e participação).
BUYST, Ione. Cristo ressuscitou: meditação litúrgica com um hino pascal. São Paulo:
Paulus, 1995. (Liturgia e teologia).
CASTELLANO, J. El año liturgico. Memorial de Cristo y mistagogia de la Iglesia, Barcelona:
Centre de Pastoral Liturgica, 1994.
ROSSO, S. Il segno del tempo nella liturgia. Anno liturgico e Liturgia delle Ore, Leumann
(TO): Editrice ELLEDICI, 2002.
VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. In:
Compêndio do Vaticano II. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 259-306.

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32 Claretiano – Batatais
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TEMPO DA MANIFESTAÇÃO:

UNIDADE 3
ADVENTO, NATAL E EPIFANIA,
TEMPO COMUM E SANTORAL

Objetivos
• Reconhecer a história, teologia e celebração do tempo
da manifestação (Advento, Natal e Epifania), o tempo
comum e o santoral.

• Identificar as diferenças e semelhanças dos vários


aspectos do mistério de Cristo, celebrados nesses tempos
litúrgicos e no santoral.

• Analisar e compreender o sentido das celebrações das festas


do Senhor, de Maria e dos Santos ao longo do Ano Litúrgico.

Conteúdos
• Tempo da manifestação: o Natal – origem, teologia e
celebração.

• Tempo da manifestação: a Epifania – origem, teologia e


celebração.

• Tempo da manifestação: o Advento – origem, teologia e


celebração.

• Tempo comum – origem, estrutura e celebração do


mistério de Cristo na sua totalidade.

• Santoral: as festas do Senhor durante o Ano Litúrgico.

• Santoral: Maria na celebração do mistério de Cristo –


origem, teologia e celebração.

• Santoral: o culto aos Santos – origem, teologia e


celebração.
UNIDADE 3
Bacharelado em Teologia

ATENÇÃO!

1
Ao estudar esta unidade,
sugerimos que tente se
concentrar o máximo que
INTRODUÇÃO
conseguir. Evite receber visitas,
atender telefonemas, ouvir Após o estudo do tempo pascal, o qual pela celebração do mistério da morte
conversas paralelas ou músicas e ressurreição de Cristo representa o ápice do Ano Litúrgico, convidamos você a estudar
barulhentas etc. Procure
eliminar as causas externas nesta unidade o tempo da manifestação: Advento, Natal, Epifania, que constitui um
de perturbação, pois desse segundo núcleo celebrativo no Ano Litúrgico.
modo poderá reduzir eventuais
dificuldades internas de
concentração. Pense nisso... Além disso, será objeto de análise, nesta unidade, o tempo comum formado
por 33 ou 34 semanas, durante o qual não se celebra um aspecto particular do mistério
de Cristo, como acontece no tempo pascal ou no tempo da manifestação, mas sim a sua
globalidade.

Por fim, nesta unidade, entraremos em contato com o santoral, o qual envolve
as celebrações das festas do Senhor durante o ano, bem como o culto aos santos e o culto
mariano, que apresentam uma estrutura específica com suas festas distribuídas ao longo
do Ano Litúrgico.

Bom estudo!

2 TEMPO DA MANIFESTAÇÃO
A Igreja primitiva possuía uma única festa, a Páscoa, a qual era celebrada nas
suas duas expressões:

a) semanal (o domingo – desde as origens);

b) anual (a Páscoa – a partir do século 2º).

Sucessivamente, no século 4º apareceram as festividades que celebravam a


encarnação-vinda-manifestação do filho de Deus entre os homens.

Essas festas são:

a) o Natal, celebrado em 25 de dezembro e que nasce no ocidente.

(1) Solstício: época do ano em b) a Epifania, celebrada em 6 de janeiro e que é própria do oriente.
que o Sol passa pela sua maior
declinação boreal ou austral e
durante a qual cessa de afastar- Ambas podem ser consideradas uma aculturação de festas pagãs da luz e do sol,
se do Equador (DICIONÁRIO celebradas no solstício1 de inverno. Posteriormente, tais festas assumiram um caráter
AURÉLIO). As horas de luz se
prolongam durante o dia, o que
de sacramento (memorial) da redenção celebrada na Páscoa, da qual a encarnação do
simboliza para essas festas verbo é premissa e antecipação.
pagãs a vitória do Sol, da luz
sobre as trevas.
Segundo Chupungco:

A aculturação pode ser descrita como um processo graças ao qual elementos


que sejam compatíveis com a liturgia romana possam ser incorporados nela,
ou como substituição ou como ilustração de elementos eucológicos e rituais
próprios do rito romano. É necessário que os elementos culturais, para
serem aceitos, possuam uma conaturalidade que os torne aptos a exprimir
o significado dos elementos romanos que eles vão substituir ou ilustrar. Tais
elementos culturais, aliás, devem ser submetidos ao processo de purificação,
graças ao qual adquirem significado cristão. O processo consiste em revalorizá-
los e reinterpretá-los à luz do mistério cristão, impondo-lhes, como fez a praxe
patrística, uma tipologia bíblica (CHUPUNGCO, 1992, p. 9).

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34 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia

Por meio desse processo, pode ser explicada a passagem de vários ritos judaicos
e pagãos para a liturgia cristã: as festas judaicas da Páscoa e Pentecostes, o batismo, a
imposição das mãos, a unção do enfermos etc.

Natal

A celebração do Natal

A festa do Natal apareceu mencionada pela primeira vez no Cronográfo


Filocaliano do ano 354 (de Furio Dionisio Filocalo).

Esse primeiro calendário romano (espécie de almanaque de luxo) apresenta


duas listas de sepulturas locais (igreja particular de Roma): a Depositio martyrum e a
(2) Depositio: deposição, ou
Depositio2 episcoporum, que são dois elencos distintos de memórias, respectivamente seja, o dia em que alguém foi
de mártires e bispos. sepultado.

(3) Octavas Kalendas Januarri


No início da Depositio martyrum aparece o registro: VIII Kal (endas) Ian natus Christus in Bethleem
(uarii) natus Christus in Bethleem Iudae3, ou seja, a memória do nascimento humano Iudae: na oitava (oito dias) das
Calendas de Janeiro, nasceu
de Jesus Cristo. Jesus Cristo em Belém da
Judéia.
Além disso, de acordo com Santo Agostinho sabe-se que, como em Roma, o
Natal era celebrado também na África, na mesma data. Há documentos que atestam sua (4) Natale Christi:
Natal=nascimento de Cristo.
celebração na Espanha e depois em Constantinopla, como festa distinta de Epifania.

(5) Natalis Solis Invicti: Natal do


O surgimento da festa do Natal deve-se à cristianização da festa pagã do Sol, Sol Invencível.
pois para os cristãos, o sol era um sinal alusivo do messias, e este dia solene podia evocar
sua memória. A data e o lugar (25 de dezembro e Roma) explicitam a preocupação de INFORMAÇÃO:
opor a festa cristã àquela do Sol Invictus, resquício do paganismo. Uma festa do Natale Nesse processo de aculturação
Christi4, no dia do Natalis Solis Invicti5, procurava mostrar que o messias é o “sol de da festa do Sol Invencível,
ocorreu uma mudança no sentido
justiça” (Ml 4,2), a “luz do mundo” (Jo 8,12) ao qual se deve adorar e seguir. que os cristãos davam ao termo
Natal. De fato, até então, usavam
No momento em que se celebrava o nascimento astronômico do sol, era o termo Natal para indicar o dia
da morte de uma pessoa (Dies
apresentado aos cristãos o nascimento do verdadeiro sol, Cristo, que apareceu no Natalis), pois este era o dia de
mundo depois da longa noite do pecado. Essa origem, ao mesmo tempo ideológica seu verdadeiro nascimento para
e apostólica, de caráter bem diverso da celebração pascal, ligada aos grandes Deus. Com a instauração da
festa do Natal, o termo passou a
eventos da redenção, explica como o Natal pertencia ao calendário solar e, significar também o nascimento
portanto, como festa fixa, diferentemente da Páscoa, que é móvel, porque ligada na carne.
ao calendário hebraica, que é lunar (BERGAMINI, 1994, p. 196-197).
INFORMAÇÃO:
A data do Natal, 25 de dezembro,
Um segundo motivo que contribuiu para a instauração da festa do Natal foram as foi escolhida a partir dos
grandes heresias cristológicas dos séculos 4º e 5º, sobretudo as de Ario, Nestório e Eutiques. cômputos astronômicos, os quais
calculavam o solstício de inverno
e a festa do Sol. Além disso os
Tais heresias, de uma forma ou de outra, negavam a divindade consubstancial cômputos, também, calculavam
a possível data do nascimento
da pessoa do Verbo ou confundiam e misturavam as duas naturezas, a humana e a divina, de Jesus, partindo da data de
anulando assim a realidade teândrica6 de Cristo, Homem-Deus. Desse modo, o mistério da sua morte, que segundo alguns
aconteceu no mesmo mês de
encarnação perdia sua importância e, por seu turno, o valor da obra redentora de Cristo. sua encarnação (25 de março) e,
assim, seu nascimento seria 25
de dezembro. Outros calculavam
O dogma cristológico foi reafirmado pelos grandes concílios ecumênicos de a partir do solstício de verão (24
de junho) e a ligavam à festa do
Nicéia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451), os quais confutaram nascimento de João Batista. O
essas heresias. que é certo é que não se sabe a
data do nascimento de Jesus.

A instituição do Natal no Ocidente e da Epifania no Oriente, com sua rápida difusão,


serviu para afirmar a ortodoxia da fé nesses pontos fundamentais do cristianismo. (6) Teândrica: de Theos = Deus
e Andros = Homem, ou seja,
homem-deus.

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Batatais – Claretiano 35
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UNIDADE 3
Bacharelado em Teologia

(7) Os termos Teofania e Celebração da Epifania


Epifania, em grego, indicam a
vinda, a chegada, a manifestação O surgimento da Teophania7, nome original helenístico, tal qual o Natal no
e serão traduzidos para o latim
como Adventus. Tal termo referia- ocidente, corresponde à cristianização de festas pagãs no solstício de inverno no oriente.
se, por exemplo, ao cortejo de No entanto, desde sua origem, essa festa privilegiava o conteúdo da “manifestação” do
entrada do Imperador quando
Messias Salvador no Jordão.
visitava uma cidade. Nesse caso,
é vinda de Jesus.
No Egito e na Arábia, a solenidade do solstício de inverno, segundo cômputos
diversos do calendário, caía no dia 6 de janeiro. Nesta região, o culto do Sol tinha raízes
profundas e distantes. No Egito, país do sol, evocava o mito do parto virginal de Kore, que
(8) Hierogamia: casamento
gera Aton, o deus sol.
sagrado.
Nos anos 120-140, uma seita gnóstica tentou cristianizar esse mito, em
conseqüência da união do Verbo com a humanidade Jesus (vista como hierogamia8), que
ATENÇÃO!
Você pode encontrar maiores ocorreu, segundo a seita, no batismo de Jesus no Jordão. Celebravam, no dia 6 de janeiro,
informações sobre o batismo não o nascimento de Jesus, mas o início de sua vida pública a partir de seu batismo, que
de Jesus no Jordão em Mt 3,
13 – 17 e em paralelos sinóticos é o momento que ele se manifesta como filho de Deus.
(durante o batismo de Jesus
ouviu-se a voz de Deus): “Este
Assim, a Igreja oriental, deixando de lado os conteúdos pagãos, começa a
é meu Filho, aquele me aprouve
escolher”. celebrar, em 6 de janeiro, a Teofania/Epifania, enfocando inicialmente a manifestação de
Jesus como Filho de Deus em vários momentos de sua vida:

a) o batismo no Jordão;

INFORMAÇÃO: b) a adoração dos magos;


Esses três mistérios são citados
nas Antífonas ao Cântico c) as bodas de Caná.
Evangélico da celebração da
Liturgia das Horas deste dia.
O Natal no ocidente, por sua vez, terá como conteúdo primeiro o nascimento de
Jesus, ou seja, a encarnação do Verbo por meio de Maria.

Somente no final do século 4º é que Roma acolheu a festa da Epifania e,


posteriormente, o oriente passou a celebrar o Natal. Houve, desse modo, uma troca
dessas tradições e modificação de seu conteúdo celebrativo, pois no ocidente o Natal era
centrado no nascimento de Jesus e a Epifania na adoração dos magos (a manifestação
de Cristo ao mundo).

Natal – memória ou sacramento?

Desde sua origem, a festa do Natal foi objeto de discussão entre os Padres da
Igreja. Santo Agostinho, ao redor do ano 400, afirma que o Natal é uma celebração da
memória (recordação) do nascimento de Jesus, mas que não representa um “mistério” e
não é, portanto, um sacramento. A Páscoa é a única celebração sacramental.

São Leão Magno, Papa, em seus sermões, por ocasião do Natal, aprofundou o
(9) Nativitatis Dominicae conteúdo desta festa e afirmou que ele é um “mistério” – sacramentum natalis Christi
sacramentum: Sacramento do
Natal de Cristo ou Sacramento ou nativitatis Dominicae sacramentum9. Ele tem em mente o mysterium salutis (o
da natividade do Senhor. mistério da salvação), o qual se atualiza quando celebramos o Natal, pois entramos em
contato com as primícias do sacramento pascal.

ATENÇÃO! O Natal é o início da redenção que se cumpre na morte-ressurreição de Cristo na


Amplie seus conhecimentos Páscoa. Por isso, o Natal celebrava a humanidade como lugar da manifestação de Deus – o
em relação aos sermões sobre
o Natal de São Leão Magno Verbo se faz homem para que o homem se torne divino.
(Papa), consultando a obra:
LIMA, M. T., GOMES, C. F.
Tal teologia do Natal, defendida por Leão Magno, se conservou nos formulários
(org.). Sermões sobre o natal e a
epifania. São Leão Magno, Papa. eucológicos desta festa no Sacramentário Veronense e, depois se repetiu nos demais
Petrópolis: Vozes, 1974. (Fontes sacramentários, chegando até nossos dias.
da catequese 9).

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36 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia

Assim, tal qual a Páscoa, o Natal se tornou uma celebração mistérica, marcada ATENÇÃO!
As obras referenciadas, a
pela sacramentalidade, a qual brota do mistério de Cristo. A imitação da Páscoa passou a seguir, trazem informações que
contar com uma oitava e com um tempo de preparação (Advento), pois, tal qual na Vigília podem auxiliar na preparação da
celebração do Natal:
Pascal, os sacramentos da iniciação cristã começaram a ser celebrados no Natal. a) BOGAZ, Antonio Sagrado.
Natal, festa de luz e de
alegria: para animação
Celebração do Natal e Epifania hoje litúrgico pastoral. São Paulo:
Paulus, 1996. p. 150. (Ano
Em relação ao Natal e Epifania assim diz a NUALC: litúrgico)
b) BUYST, I. Preparando advento
e natal. São Paulo: Paulinas,
A Igreja nada considera mais venerável, após a celebração anual do mistério da 2002.
c) IRMÃO NERY. Natal: teologia,
Páscoa, do que comemorar o Natal do Senhor e suas primeiras manifestações, tradição, símbolos. Aparecida:
o que se realiza no Tempo do Natal (nº 32). Santuário, 2004;

A celebração desse tempo esta estruturada da seguinte maneira:

a) Solenidade do Natal – são celebradas:

• a Missa da Vigília; VOCÊ SABIA QUE...


As três missas do Natal (Noite,
• a Missa da Noite (conhecida como Missa do Galo); Aurora e Dia) nasceram por
razões pastorais da Igreja
• a Missa da Aurora; de Roma. Em Roma, o papa
celebrava a comemoração do
• a Missa do Dia. Natal com uma celebração
à meia-noite na Basílica de
Santa Maria Maior. Na manhã
Em cada uma destas celebrações manifesta-se um aspecto do mistério da seguinte, celebrava a missa da
mártir Santa Anastácia para a
encarnação do Verbo. comunidade grega do Palatino
e, depois, celebrava em São
Pedro uma missa do Natal para
b) Oitava do natal – durante a oitava do Natal celebram-se as festas de: as comunidades da periferia.
Na Idade Média, os liturgistas
• Santo Estevão, o primeiro mártir (25/12). da época viram nessas missas
ocasião para celebrar uma
espécie de missas devocionais
• São João, apóstolo e evangelista (27/12).
do Natal. Atualmente, elas
foram revistas para celebrarem
• Santos Inocentes (28/12).
numa unidade o mistério da
encarnação do Verbo.
No domingo, dentro da oitava do Natal, celebra-se a Festa da Sagrada Família de
Jesus, Maria e José; no fechamento da oitava, a Solenidade de Maria, Mãe de Deus.

c) Solenidade de Epifania – está colocada no dia 6 de janeiro, mas no Brasil


é celebrada no domingo entre os dias 2 e 8 de janeiro.

d) Festa do Batismo de Jesus – é celebrada no domingo após a Epifania, mas


no Brasil, como a Epifania cai no domingo, a festa do Batismo de Jesus acaba
comemorada na segunda-feira após a Epifania, após o período que tem início
no tempo comum.

Quadro 1 Lecionário das missas do Natal.

Missas Primeira Leitura Segunda Leitura Evangelho


Vigília Is 61,1-5 At 13,16-17.22-25 Mt 1,1-25 (genealogia de Cristo)
Da Noite Is 9,1-6 Tt 2,11-14 Lc 2,1-14 (o nascimento de Jesus)
Lc 2,15-20 (os pastores, Maria e o
Da Aurora Is 62,11-12 Tt 3,4-7
recém-nascido)
Do Dia Is 52,7-10 Hb 1.1-6 Jo 1,1-18 (o Verbo se fez carne)
Fonte: Acervo pessoal.

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Batatais – Claretiano 37
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UNIDADE 3
Bacharelado em Teologia

Vejamos alguns exemplos da eucologia dessas celebrações, nas quais


encontramos a teologia do Natal proposta por Leão Magno:

Dai-nos, ó Deus, celebrar com grande fervor esta Eucaristia que antecipa a
solenidade do Natal, pois neste mistério vós nos mostrais o início da nossa
salvação (Oração sobre as oferendas da Missa da Vigília).

Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente


restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade do vosso Filho,
que se dignou assumir a nossa humanidade (Oração do Dia – Missa do Dia).

Ele, no mistério do Natal que celebramos, invisível em sua divindade, tornou-


se visível em nossa carne. Gerado antes dos tempos, entrou na história da
humanidade para erguer o mundo decaído. Restaurando a integridade do
universo, introduziu no Reino dos Céus o homem redimido (Prefácio do Natal II)

Por ele, realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos dá vida nova em
ATENÇÃO! plenitude. No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza
É interessante que você consulte
a seguinte obra: DUMAS, B. A. humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se ele um de nós, nós
Natal, festa do homem: és tu nos tornamos eternos (Prefácio do Natal III).
aquele que há de vir? São Paulo:
Paulinas, 1983. (Fé e vida).
Transparece nestes textos a teologia do Natal como sacramento da redenção, da
qual é o início e a antecipação. Assim, pela encarnação do Verbo há uma nova criação, o
homem se torna eterno.
ATENÇÃO!
Para aprofundar seus
conhecimentos sobre a teologia A humanidade é o lugar onde Deus se revela e por isso é preciso reconhecer
e a espiritualidade da celebração a dignidade da pessoa humana, criada à imagem de Deus e redimida do pecado pela
do Natal, consulte as obras a salvação que Cristo realizou.
seguir:
a) BERGAMINI, A. Cristo,

3
festa da Igreja: história,
teologia, espiritualidade e
pastoral do ano litúrgico, São ADVENTO
Paulo: Paulinas, 1994. p.
209–218. (Coleção liturgia e A origem do Advento (de teophania e adventus – vinda, manifestação) ocorreu
participação) tardiamente na história da liturgia.
b) BOFF, L. Natal: a humanidade
e a jovialidade de nosso Deus.
Petrópolis: Vozes, 1976. Inicialmente, seus primórdios situaram-se na Espanha e na Gália, onde, entre
c) CANTALAMESSA, R. O o fim do século 4º e o início do século 5º, foi instaurado um tempo de catecumenato (à
mistério do natal. Aparecida: imitação da Quaresma) do dia 17 de dezembro a 5 de janeiro, em preparação à festa da
Santuário, 1993.
d) GOEDERT, V. M. Nasceu Epifania, durante a qual seriam celebrados os sacramentos da iniciação cristã.
o salvador: espiritualidade
natalina. São Paulo: Paulinas, Posteriormente, esse tempo se prolongou e assumiu um caráter ascético-
2004. (Arte e Mensagem)
e) RAVAGLIOLI, A. M.; Em clima penitencial recebendo o nome de Quaresma de São Martinho, pois começava no dia 11 de
de natal: refletir sobre o fato novembro, data da comemoração deste santo.
para vivenciar a festa. São
Paulo: Paulinas, 1995.
Em Roma, o Advento apareceu somente na segunda metade do século 6º,
ligado às Quatro Têmporas de dezembro. Os domingos colocados antes do Natal seriam
destinados a fechar o Ano Litúrgico com a lembrança da segunda vinda de Jesus. Não
houve em Roma um Advento ascético-penitencial como o Advento galicano, mas sim um
Advento voltado para a vinda de Jesus.

Celebração do Advento

Vejamos o que diz o calendário litúrgico sobre o Advento:

O Tempo do Advento possui uma dupla característica: sendo um tempo de


preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira
vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por
meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda
vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento
se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa (NUALC nº 39).

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38 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia

Tal número nos apresenta uma síntese de como o Advento é celebrado atualmente. VOCÊ SABIA QUE...
Ainda hoje temos na liturgia do
Em primeiro lugar, o Advento não é um tempo penitencial como a Quaresma, ainda que Advento resquícios de quando era
tenha como conteúdo a vigilância e a expectativa diante da vinda de Jesus. visto como tempo penitencial: a cor
roxa dos paramentos, a omissão
do hino do Glória, a sobriedade
O enfoque do Advento na vinda de Jesus se dá em duas direções: nos enfeites do altar etc.

a) na sua segunda vinda na parusia, cujo tema transparece nas leituras e


orações do 1º e do 2º Domingo do Advento; INFORMAÇÃO:
Os quatro domingos do
b) na sua primeira vinda, da qual será feita a memória no Natal, sendo que Advento são representados
simbolicamente na Coroa do
este conteúdo aparece nas leituras e orações do 3º e do 4º Domingo do
Advento, a qual se usa como
Advento. ornamento neste tempo em
muitas comunidades.

Os dias que vão de 17 a 24 de dezembro possuem leituras e orações próprias


para a preparação próxima ao Natal. ATENÇÃO!
Para aprofundar seus
conhecimentos sobre o enfoque
do advento na vinda de Jesus
Temos, assim, o Advento escatológico (referente à segunda vinda de Jesus) e o
consulte a obra: BECKHAUSER,
Advento natalício (referente à primeira vinda de Jesus). A. Símbolos do natal. Petrópolis:
Vozes, 1992. 54 p.

Alguns exemplos da eucologia sobre o advento escatológico e natalício:


INFORMAÇÃO:
Esses dias representam a
Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o “Novena do Natal” litúrgica e,
a exemplo dela, são feitas nas
reino celeste, para que, acorrendo com nossas boas obras ao encontro do Cristo comunidades as Novenas de
que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos (Oração do Natal em várias modalidades.
Assim, você pode compreender
Dia – Primeiro Domingo do Advento). – tema é o advento escatológico. melhor a Novena de Natal com
as obras:
Ó Deus de bondade, que vedes o vosso povo esperando fervoroso o natal a) FAUS, F. Natal: reunião dos
sorrisos: novena de natal.
do Senhor, daí chegarmos às alegrias da Salvação e celebrá-las sempre com São Paulo: Quadrante, 2001.
intenso júbilo na solene liturgia (Oração do Dia – Terceiro Domingo do Advento) (Temas cristãos, n. 102);
b) PEDRINI, A. J. Natal de
– tema é o advento natalício. Jesus, natal evangelizador:
celebrações em forma
Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno de novena. São Paulo:
Paulinas, 1997.
plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele
virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que
hoje, vigilantes, esperamos (Prefácio do Advento I) – tema são as duas vindas ATENÇÃO!
Para aprofundar seus
de Jesus: o seu nascimento e a parusia. conhecimentos sobre o advento
escatológico e o Advento
Predito por todos os profetas, esperado com amor de mãe pela Virgem Maria, natalício, consulte as obras:
Jesus foi anunciado e mostrado presente no mundo por São João Batista. O a) BROWN, R. E. Um Cristo
que vem no advento:
próprio Senhor nos dá a alegria de entrarmos agora no mistério do seu Natal, ensaios sobre as narrativas
para que sua chegada nos encontre vigilantes na oração e celebrando os seus evangélicas em preparação
para o nascimento de Jesus
louvores (Prefácio do Advento II) – enfoca a primeira vinda de Jesus, mas (Mateus 1 e Lucas 1). São
também fala que à sua chegada (2ª vinda) devemos estar vigilantes. Paulo: Ave Maria, 1996. p. 88.
b) RYAN, V. Do advento a
epifania. São Paulo: Paulinas,
1992 (Espiritualidade litúrgica).
Segue um quadro com as leituras do tempo do Advento:

INFORMAÇÃO:
Esta oração faz referência ao
discurso escatológico de Jesus
em Mt 25, 31-46 – as boas obras
(dar de comer, dar de beber...)
feitas aos pequeninos e a
separação entre bons e maus.

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Batatais – Claretiano 39
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UNIDADE 3
Bacharelado em Teologia

Quadro 2 Leituras do tempo do Advento.

Ano A Ano B Ano C

I Dom. Is 2,1-5 Is 63,16-17;64,1.3.8 Jr 33,14-16


Rm 13,11-14 1Cor 1,3-9 1Ts 3,12-4,2
Mt 24,37-44 Mc 13,33-37 Lc 21,25-28.34-36
II Dom. Is 11,1-10 Is 40,1-5.9-11 Br 5,1-9
Rm 15,4-9 2Pd 3,8-14 Fl 1,4-6.8-11
Mt 3,1-12 Mc 1,1-8 Lc 3,1-6
III Dom. Is 35,1-6.8.10 Is 61,1-2.10-11 Sf 3,14-18
Tg 5,7-10 1Ts 5,16-24 Fl 4,4-7
Mt 11,2-11 Jo 1.6-8.19-28 Lc 3,10-18
IV Dom. Is 7,10-14 2Sm 7,1-5.8-12.14.16 Mq 5,1-4
Rm 1,1-7 Rm 16,25-27 Hb 10,5-10
Mt 1,18-24 Lc 1,26-38 Lc 1,39-48
Fonte: BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. São Paulo:
ATENÇÃO!
Para aprofundar seus Paulinas, 1994. (Coleção liturgia e participação), p. 179.
conhecimentos sobre o tempo
comum, consulte as obras:
a) AUGÉ, M. et al. O ano
litúrgico: história, teologia e
celebração. Anámnesis 5.
São Paulo: Paulinas, 1991. p.
217–232.
4 TEMPO COMUM
b) BERGAMINI, A. Cristo,
festa da Igreja: história, Além do tempo pascal e do tempo da manifestação, o Ano Litúrgico possui em
teologia, espiritualidade e sua estrutura o tempo comum, no qual, durante 33 ou 34 semanas, tem como finalidade
pastoral do ano litúrgico, São
Paulo: Paulinas, 1994. p. celebrar o mistério de Cristo em sua totalidade.
415-426 (Coleção liturgia e
participação). Além dos tempos que têm característica própria, restam no ciclo anual trinta
c) BOGAZ, A. S. Tempo comum
e festas dos santos: tempo de e três ou trinta e quatro semanas nas quais não se celebra nenhum aspecto
crescer na fé e santificar para especial do mistério de Cristo; comemora-se nelas o próprio mistério de Cristo
a animação litúrgico pastoral. em sua plenitude, principalmente nos domingos. Este período é chamado
São Paulo: Paulus, 1997, (Ano
Tempo comum.
Litúrgico).
d) BORTOLINI, J. Tempo
O Tempo comum começa na segunda-feira que segue ao domingo depois do
comum: 40 perguntas e
respostas. São Paulo: Paulus, dia 6 de janeiro e se estende até a terça-feira antes da Quaresma inclusive;
2006. (Por que Creio). recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina antes
das Primeiras Vésperas do 1º Domingo do Advento (NUALC nº 43-44).

O tempo comum, também chamado tempo ordinário, é um tempo novo dentro da


estrutura do Ano Litúrgico, pois é fruto da reforma litúrgica do Vaticano II. Anteriormente,
esse tempo dividia-se em duas partes: domingos depois da Epifania e domingos depois
de Pentecostes.

ATENÇÃO!
Uma descrição mais detalhada Aos domingos do tempo comum, como vimos na citação anterior, procure-se dar
da história e desenvolvimento uma unidade – a celebração do mistério de Cristo em sua plenitude. Vale ressaltar que esse
desse tempo litúrgico pode ser
encontrada na obra: GAITAN,
tempo foi estruturado com um ordenamento de leituras e eucologia que manifestassem
J. D. La celebración del tiempo tal conteúdo.
ordinário. Barcelona: Centre
de Pastoral Litúrgica, 1994.
(Biblioteca litúrgica 2). A organização desse tempo obedece a três pedidos do Vaticano II:

a) a revisão do Ano Litúrgico acomodando-o às circunstâncias de nosso tempo e


colocando em destaque a centralidade do mistério pascal (SC 107);
(10) De tempore: compreende os
tempos pascal e da manifestação b) a necessidade de revalorizar o domingo e os ciclos de tempore10, acima
do Senhor. do calendário santoral ou festas dos santos, das quais se manda fazer
uma seleção para que não prevaleçam sobre a celebração dos mistérios da
salvação (SC 106.108.111);

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40 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia

c) a ordem de que a palavra de Deus fosse oferecida com mais abundância


aos fiéis, de modo especial na celebração da eucaristia, para que, em um
período de anos a determinar, se leiam ao povo as partes mais significativas
da Sagrada Escritura (SC 51).

Assim, o tempo comum não é, de forma alguma, um tempo secundário em


relação aos outros ciclos. Pelo contrário, possui como eles uma importância única:

a) o caráter pascal de toda celebração dominical são sua estrutura interna mais
importante;

b) o tempo comum é a expressão da estrutura básica semanal da celebração


da Páscoa do Senhor, ou seja, o domingo, que dá sentido e unidade a todo
Ano Litúrgico. De seu seio foram brotando, posteriormente, as distintas
celebrações mais específicas e particulares do mistério de Cristo.

A estrutura do tempo comum, como tempo unitário da celebração do mistério


de Cristo em sua plenitude, é nova, mas a sua idéia de fundo é muito antiga. De fato, na
igreja dos primórdios, a estrutura fundamental originária do Ano Litúrgico é a celebração
dominical (a páscoa semanal), para a qual foram se organizando esquemas de leituras e
orações ao longo dos séculos.

Cabe mencionar também a origem das celebrações diárias da eucaristia, as


quais se organizam a partir de alguns dias que tinham significado especial: a quarta-feira
e a sexta-feira, por serem dias estacionais (de jejum) com referência aos dias em que
Jesus foi preso e, depois, morto. Esses dias de jejum eram encerrados com a eucaristia.
O outro dia de destaque é o sábado, que também era dia de jejum e que recordava
semanalmente o grande jejum pascal.

Aos poucos, os demais dias da semana também passarão a ter celebrações


eucarísticas, às quais se darão um sentido “litúrgico” próprio (de caráter devocional).
Desse modo, todos os dias da semana contarão com a celebração eucarística.

Celebração do tempo comum

Para a celebração do tempo comum, o missal e a Liturgia das Horas possuem


uma organização própria do lecionário e da eucologia.

Eucologia
O missal romano apresenta para o tempo comum uma série própria de orações
para a missa: são 34 formulários que contam com orações do dia, orações sobre as
oferendas e orações depois da comunhão para cada um dos domingos desse tempo, as
quais se repetem durante a semana seguinte.

Além disso, foi composta uma série de nove prefácios para os domingos do
tempo comum, e mais seis prefácios comuns, para as celebrações durante a semana,
nesse tempo quando não há prefácio próprio.

Tais prefácios apresentam uma síntese da história da salvação, considerando


que o mistério de Cristo possa ser celebrado em sua totalidade e possam ser agrupados,
segundo o seu conteúdo em:
a) cristológico-soteriológicos: I,II,III,IV e VII;
b) cristológico-eclesiais: I,VII e IX;
c) trinitário-eclesiais: VI,VIII;
d) o mundo, obra de Deus e do homem: V;
e) pascais: I, VI e IX.

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Batatais – Claretiano 41
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Vejamos a seguir alguns exemplos da eucologia:


Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças,
sempre e em todo o lugar, Senhor Pai Santo, Deus eterno e todo-poderoso,
por Cristo, vosso Filho, que, pelo mistério da sua Páscoa, realizou uma obra
admirável.

Por ele, vós nos chamastes das trevas à vossa luz incomparável, fazendo-nos
passar do pecado e da morte à glória de sermos o vosso povo, sacerdócio régio
e nação santa, para anunciar, por todo o mundo, as vossos maravilhas (Prefácio
dos Domingos do Tempo comum I – O mistério pascal e o povo de Deus)

Segundo a classificação anterior, vemos que o conteúdo deste prefácio enfatiza


o tema cristológico-soteriológico (como Cristo nos salvou), o tema cristológico-eclesial (a
páscoa de Cristo é que congrega sua igreja) e o pascal (Cristo é nossa Páscoa).

“Ó Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído,


enchei os vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que libertastes da escravidão do
pecado o gozo das alegrias eternas” (Oração do dia do 14º domingo comum).

A citação anterior apresenta o tema da kénosis do Verbo, que se encarna e dá


sua vida por nossa salvação e libertação dos pecados, na qual participamos pela eucaristia
a cada domingo.

Lecionário

Para que a palavra de Deus fosse aberta a todos os fiéis, sobretudo nas celebrações
ATENÇÃO! litúrgicas, o tempo comum possui o lecionário, organizado segundo a tradição litúrgica da
Para ampliar seus
conhecimentos, confira a leitura semi-contínua e temática da sagrada escritura, com o seguinte resultado:
Unidade 2 da disciplina
Introdução à Liturgia. a) Lecionário dominical: organizado em três ciclos: A (Mateus), B (Marcos)
e C (Lucas), nos quais se lêem, respectivamente, de maneira semi-contínua
os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Nesses ciclos, a primeira leitura
será tirada do Antigo Testamento, de forma temática em relação ao tema
do Evangelho do dia. O mesmo se dá com o salmo responsorial. A segunda
leitura será tirada do Novo Testamento e será feita de maneira semi-continua,
mas sem uma referência direta ao Evangelho do dia.

b) Lecionário ferial: para as missas durante a semana, o lecionário apresenta


dois ciclos: I e II, ou ímpar e par, os quais serão seguidos conforme o ano
em que se está. Cada um dos ciclos trará os Evangelhos de Mateus, Marcos
e Lucas, lidos de maneira semi-contínua. A primeira leitura seguirá, variando
durante o ano, leituras semi-contínuas de livros do Antigo e Novo Testamento
divididos em dois ciclos, de modo que ao longo de dois anos serão lidos duas
vezes os Evangelhos sinóticos. Assim, se terá uma visão global dos livros
bíblicos de ambos os testamentos.

Observe, como exemplo, o esquema do ordenamento da segunda leitura e do


Evangelho nos domingos do tempo comum:

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42 Claretiano – Batatais
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Quadro 3 Esquema do ordenamento da segunda leitura e do Evangelho nos domingos do


tempo comum.

Fonte: BERGAMINI, A. Cristo, festa da igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. São Paulo:
Paulinas, 1994. p. 418. (Coleção liturgia e participação).

Observe, agora, o ordenamento das leituras nos dias da semana do tempo


comum:

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Batatais – Claretiano 43
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Quadro 4 Ordenamento das leituras nos dias da semana do tempo comum.

Fonte: BERGAMINI, A. Cristo, festa da igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. São Paulo:
Paulinas, 1994. p. 420. (Coleção liturgia e participação).

5 SANTORAL
Durante o Ano Litúrgico, celebra-se o mistério de Cristo, tanto na sua totalidade
(tempo comum) como em seus aspectos especiais (tempo pascal e tempo da manifestação).

Há, contudo, outra organização (ou esquema/ estrutura) ou ciclo celebrativo


referente ao mistério pascal, centro do Ano Litúrgico, o qual recebe o nome de santoral.
Este nome deriva do termo santo, considerando que esse ciclo envolve todas as festas do
Senhor, de Maria e dos Santos que a liturgia celebra durante o Ano Litúrgico.

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44 Claretiano – Batatais
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Solenidades do Senhor
(11) Oikonomica: quer dizer a
Ainda que a liturgia considere “a existência histórica de Cristo na sua unidade História da Salvação, na qual
e na sua dimensão oikonomica11, a saber, na sua tensão rumo ao evento pascal e em Deus dispôs seus desígnios
salvíficos, que tiveram na Páscoa
ordem à nossa salvação” (AUGÉ, 1991, p. 233), encontramos no calendário litúrgico uma de Cristo sua plena realização.
série de celebrações referentes a Cristo e que não têm como objeto de celebração um
aspecto particular do seu mistério, ou um conteúdo novo, particular, que já não esteja
presente nas outras celebrações do Ano Litúrgico.

Desse modo, as solenidades celebradas em datas móveis são:

a) Santíssima Trindade.

b) Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.

c) Sacratíssimo Coração de Jesus e cristo.

d) Rei do Universo.

Já as festas fixas são:

a) Apresentação do senhor (2 de fevereiro).

b) Anunciação do senhor (25 de março).

c) Transfiguração do senhor (6 de agosto).

d) Exaltação da santa cruz (14 de setembro). ATENÇÃO!


Amplie seus conhecimentos
Essas celebrações não são propriamente memoriais (mistéricas) e por isso são sobre as solenidades do Senhor,
consulte as obras:
chamadas festas de “idéia” (ideológicas) ou de “devoção”. Por essa razão, nem sempre é a) AUGÉ, M. As festas do senhor,
fácil sua articulação dentro do Ano Litúrgico, ainda que a reforma do Vaticano II tenha- da mãe de Deus e dos santos.
In: AUGÉ, M. et al. O ano
as revisto, dando-lhes novos textos bíblicos e eucológicos, o que, no entanto, não lhes litúrgico: história, teologia e
modificou seu conteúdo essencial. celebração. Anámnesis 5.
São Paulo: Paulinas, 1991. p.
233–238.
Tais solenidades do Senhor surgiram na sua maioria ao redor do ano 1000 e são b) BERGAMINI, A. Cristo,
fruto de idéias devocionais fundadas na compreensão dogmática da época. São elas : festa da igreja: história,
teologia, espiritualidade e
pastoral do ano litúrgico. São
a) Santíssima Trindade: sua celebração teve início ao redor do ano 800, após Paulo: Paulinas, 1994. p.
longa e contrastada pré-história, sendo introduzida no calendário litúrgico 427–438 (Coleção liturgia e
participação).
em 1334 pelo Papa João XXII. Essa solenidade traz como conteúdo o louvor,
c) GONZALEZ, R. Outras festas
a adoração e a confissão da Trindade Divina. No entanto, a Trindade é do Senhor. In: BOROBIO,
considerada mais na sua imanência do que na sua economia de salvação, ou D. (org.). A celebração na
igreja: ritmos e tempos da
seja, enfatiza-se mais o aspecto do dogma trinitário do que o modo como o celebração. São Paulo:
Pai, o Filho e o Espírito Santo se revelaram por sua ação ao longo da história Edições Loyola, 2000. v. 3. p.
da salvação, a qual culminou no mistério pascal. Apesar dos novos textos 185–198.
bíblicos e mudanças na eucologia, o seu conteúdo apóia-se numa concepção
tradicional e devocional, ou seja, mantém-se conceitual e temática.

b) Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo: esta solenidade, celebrada na


quinta-feira depois do domingo da Santíssima Trindade, nasceu a partir do
despertar da devoção eucarística, a qual se desenvolveu do século 12 em
diante, acentuando particularmente a presença real de Cristo no sacramento
— portanto, sua adoração. Ela foi prescrita para toda a igreja em 1264 por
Urbano IV, após a forte influência de Juliana de Cornillon, monja de Liège, e
suas visões. Vale ressaltar que essa festa acaba sendo uma duplicata, pois
a eucaristia encontra seu significado no mistério pascal, do qual ela faz a
memória. Tal celebração tem seu ponto alto a cada domingo e na solenidade
da Páscoa anual. Os textos eucológicos espelham uma “impostação
devocionalista e grande distância com respeito aos temas bíblicos e exigências
celebrativas da eucaristia” (GONZALEZ, 2000, p. 189).

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Batatais – Claretiano 45
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c) O Sacratíssimo Coração de Jesus: esta solenidade brota da devoção ao


Coração de Cristo crucificado, transpassado pela lança nascida na piedade
dos séculos 12 e 13. Ela se propagou pela ação da devotio moderna (século
16), de São João Eudes e de Santa Margarida Maria Alacoque (século 17). O
conteúdo desta festa é devocional, uma vez que não celebra particularmente
um evento salvífico, mas enfatiza o Coração de Jesus como símbolo da
ATENÇÃO! revelação do amor de Deus, o que pode ser encontrado, sobretudo, na sua
Entre os conceitos relacionados à entrega na morte de cruz.
Maria na celebração do ministério
de Cristo, merecem destaque as
d) Cristo, Rei do Universo: esta solenidade tem origem muito recente. Ela
seguintes referências, pelo seu
conteúdo histórico, teológico- foi instituída pelo papa Pio XI em 1925, por meio da encíclica Quas primas,
litúrgico e pastoral: na qual o pontífice declara que essa festividade deseja afirmar a soberana
a) BEINERT, W. (ed.). O culto
à Maria hoje. São Paulo:
autoridade de Cristo sobre os homens, e sobre as instituições, diante dos
Paulinas, 1979. (Coleção progressos do laicismo na sociedade moderna. Como se vê, uma festa de
teologia hoje). cunho ideológico, uma vez que não celebra um mistério particular de Cristo,
b) MAGGIONI, C. Maria na igreja
em oração: solenidades, festa mas que, por razões apologéticas, faz com que seja colocado como oposição
e memórias marianas no ano à modernidade. Na verdade, Cristo é o Senhor, mas seu soberano senhorio é
litúrgico. São Paulo: Paulus, celebrado a cada domingo (o dia do Senhor), quando se atualiza sua páscoa
1998.
redentora, assim como está presente em outras festas do Ano Litúrgico,
como Páscoa, Epifania e Ascensão.

INFORMAÇÃO:
Maria é vista como a mãe Maria na celebração do mistério de Cristo
e a imagem da igreja. Para
compreender um pouco mais A igreja celebra os mistérios da redenção no decorrer do Ano Litúrgico, como temos
você pode conferir todo o visto até agora e, ao fazê-lo, venera os “santos” por sua participação no mistério de Jesus.
capítulo VIII da Constituição
Dogmática Lumen Gentium: a
bem-aventurada virgem Maria Dentre os “santos” sobressai como primeira, pela sua comunhão e participação
mãe de Deus no mistério de no mistério salvífico de Jesus, sua mãe Maria. Assim, ao venerar os “santos”, a igreja
Cristo e da Igreja (n. 52–69).
Sobre o culto mariano em venera antes de tudo a memória de santa Maria, a virgem mãe de Deus.
particular: LG 66 – 67.
Nesta celebração anual dos mistérios de Cristo, a Santa Igreja venera com
especial amor a Bem-aventurada Mãe de Deus Maria, que por um vínculo
indissolúvel está unida à obra salvífica de seu Filho; nela admira e exalta o mais
ATENÇÃO!
Para aprofundar seus excelente fruto da Redenção e a contempla com alegria como uma puríssima
conhecimentos sobre o culto imagem daquilo que ela mesma anseia e espera ser (SC 103).
mariano, consulte as obras:
a) AUGÉ, M. As festas do senhor,
da mãe de Deus e dos santos. “No ciclo anual, a Igreja, celebrando o mistério de Cristo, venera também com
In: AUGÉ, M. et al. O ano
litúrgico: história, teologia e particular amor a Santa Virgem Maria, Mãe de Deus, e propõe à piedade dos fiéis as
celebração. Anámnesis 5. memórias dos Mártires e outros Santos” (NUALC nº 8).
São Paulo: Paulinas, 1991. p.
239-259.
b) BERGAMINI, A. Cristo, Nota-se, nesses textos, o sentido teológico-litúrgico do culto mariano. Aliás, o
festa da igreja: história, próprio termo “culto” merece esclarecimento, pois, neste caso, ele só pode ser entendido
teologia, espiritualidade e
pastoral do ano litúrgico. São em analogia ao culto devido a Deus. No caso de Maria e dos santos fala-se de veneração,
Paulo: Paulinas, 1994. p. pois a adoração cabe somente a Deus.
447–479; (Coleção liturgia e
participação).
c) LLABRÉS, P. O culto a Um pouco da história
santa Maria, mãe de Deus.
In: BOROBIO, D. (org.) A O sentido do culto mariano se expressa no reconhecimento de sua participação
celebração na igreja: ritmos
no mistério de Cristo e não em sua pessoa, considerada individualmente com suas
e tempos da celebração.
São Paulo: Loyola, 2000. p. características e virtudes.
199–221.
Ainda hoje os estudiosos não chegaram a um consenso em relação à origem
oficial do culto mariano, mas reconhecem sua antiguidade e, sobretudo, o fato de que o
(12) Sensus fidelium: o senso “sensus fidelium”12 precedeu a instituição desse culto.
(sentidos) dos fiéis – os fiéis
desde o início reconheceram Encontram-se já nos textos neotestamentários, e da antiga literatura cristã,
Maria como exemplo pela sua
participação no mistério de
citações em que Maria é considerada como uma testemunha privilegiada e ao mesmo
Cristo. tempo protagonista importante na economia da salvação (Lc 1, 38.46-55).

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46 Claretiano – Batatais
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A presença de Maria pode ser encontrada na oração da Igreja antiga e no século


3º. Ela é citada na Tradição Apostólica de Hipólito de Roma e no antigo Cânon Romano.

Assim, merece destaque a oração Sub tuum praesidium (século 3º), considerada
a mais antiga oração à Nossa Senhora, a qual já traz o conceito da Maternidade divina com
o termo técnico Theotokos13. (13) Theotokos: termo técnico
que significa mãe de Deus.

Outra remota oração é o hino litúrgico da igreja grega antiga, chamado


Akáthistos14, o qual é uma longa composição poética que celebra o mistério da Mãe de Deus. INFORMAÇÃO:
A oração Sub tuum praesidium
O culto mariano se expressa nas festas em sua honra e quase todas as primeiras é usada ainda hoje: “À vossa
proteção recorremos Mãe de
festividades mariana têm sua origem no oriente, de onde se propagam para o ocidente. Deus...”
Interessante notar que as primeiras festividades marianas surgem em Jerusalém (séculos 5º
e 6º) como memória dos eventos bíblicos, e nos lugares que viram a presença de Maria.

(14) Este hino é usado ainda


Em relação às origens do culto mariano, vale ressaltar que teve grande importância hoje nas liturgias orientais. Há,
o Concílio de Éfeso, em 431, no qual se proclamou a maternidade divina de Maria. inclusive, no tempo quaresmal o
sábado do Akathistos. O termo
akathistos significa em grego
Logo em seguida, apareceu no oriente a celebração da memória de Santa Maria, em – não (a) – sentado (kathistos),
15 de agosto, na qual se comemora a koimesis ou dormitio (dormição) de Maria, ou seja, o seu pois é um hino que se entoa
em pé.
dies natalis15, que é celebrado de maneira análoga dos mártires e dos santos em geral.
(15) O dies natalis é o dia da
Na origem dessa e demais festas marianas estão presentes, na maioria das morte, o qual é considerado o dia
vezes, os escritos apócrifos que trazem as narrativas de vários acontecimentos da vida de do verdadeiro nascimento.
Maria, de José, de Jesus etc.

Desse modo, surgiram em seguida outras festas marianas:

a) a natividade de Maria (8 de setembro), que marca o início do litúrgico


bizantino;

b) a apresentação de Maria no templo,

c) a apresentação do Senhor, na qual a presença de Maria se destaca e que hoje


é celebrada em 2 de fevereiro;

d) a anunciação do Senhor, que possui estreita relação com o Natal.

Vale ressaltar que o ocidente acolheu e celebrou todas estas festas marianas, de
origem oriental, por volta do século 7º. Antes, porém, já era celebrada na oitava do Natal
a festa de Maria, mãe de Jesus, como acontece ainda hoje.

Além dessas festas mais antigas, o culto mariano também teve grande propagação
e se desenvolveu com o aparecimento de uma grande quantidade de outras festas, as
quais tinham, sobretudo, a partir do século 11, um conteúdo devocional privilegiando uma
visão subjetiva sobre a visão histórico-bíblica das origens.

Essas festas tardias enfocaram a pessoa de Maria de modo autônomo, exaltando


suas virtudes e privilégios ou até mesmo suas aparições e revelações. A partir daí, criou-
se um “ciclo mariano”, quase independente do cristológico: a celebração semanal de Maria
nos sábados, os meses de maio, outubro dedicado a Maria etc.
ATENÇÃO!
A celebração do culto mariano hoje Para saber mais sobre o culto
mariano hoje, consulte as obras
O sentido do culto mariano na atualidade pode ser visto nas citações da a seguir:
a) PAULO VI. O culto da virgem
Sacrosanctum Concilium e do calendário, transcritas anteriormente e que expressam a Maria: apresentação didática.
recuperação, na reforma litúrgica do Vaticano II, do seu significado original – Maria é São Paulo: Loyola, 1974.
b) JOÃO PAULO II. Carta
venerada pela sua participação no mistério de Cristo. encíclica redemptoris mater.
São Paulo: Paulinas, 1987.

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Batatais – Claretiano 47
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Por isso que no calendário litúrgico as festas marianas foram revistas segundo
sua importância em relação ao mistério pascal e à história da salvação, considerando
sempre os eventos histórico-salvíficos e não a pessoa de Maria e suas virtudes. Foram
revistos, segundo tal perspectiva, o lecionário e a eucologia das festas marianas.

Atualmente o calendário litúrgico apresenta as seguintes celebrações


marianas:

a) Solenidades:
INFORMAÇÃO: • Imaculada Conceição da bem-aventurada virgem Maria (8 de dezembro).
As solenidades marianas
apresentam o ponto alto da • Maria santíssima, mãe de Deus (1 de janeiro).
participação de Maria na
história da Salvação, que é a • Assunção da bem-aventurada virgem Maria (15 de agosto).
sua maternidade divina e para
a qual ela foi preparada, desde b) Festas:
sua concepção, por Ana. Maria
mereceu ser a primeira a estar • Natividade da bem-aventurada virgem Maria (8 de setembro).
na glória (Assunção).
• Visitação da bem-aventurada virgem Maria.

c) Memórias obrigatórias:
• Nossa Senhora Rainha (22 de agosto).
• Nossa Senhora das Dores (15 de setembro).
• Nossa Senhora do Rosário (7 de outubro).
• Apresentação de Maria (21 de novembro).
• Imaculado Coração de Maria (sábado após o segundo domingo depois de
Pentecostes).

d) Memórias facultativas:
• Nossa Senhora de Lourdes (11 de fevereiro).
• Nossa Senhora do Carmo (16 de julho).
• Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior (5 de agosto).
ATENÇÃO!
Merecem destaque neste tópico,
pelo seu conteúdo histórico,
teológico-litúrgico e pastoral, as

6
seguintes referências:
a) BEINERT, W. O culto aos
santos hoje: estudo teológico- CULTO AOS SANTOS
pastoral. São Paulo: Paulinas,
1990. (Coleção teologia e Além das festas do Senhor e do culto mariano, o calendário litúrgico contempla
liturgia).
o culto aos santos sobre o qual a Sacrosanctum Concilium afirma:
b) LODI, E. Os santos do
calendário romano: rezar com
os santos na liturgia. São No decorrer do ano a Igreja inseriu ainda as memórias dos Mártires e dos
Paulo: Paulus, 2001. outros Santos que, conduzidos à perfeição pela multiforme graça de Deus e
recompensados com a salvação eterna, cantam nos céus o perfeito louvor
de Deus e intercedem em nosso favor. Pois nos natalícios dos Santos prega
o mistério pascal vividos pelos Santos que com Cristo sofreram e foram
glorificados e propõe seu exemplo aos fiéis, para que atraia por Cristo todos ao
Pai e por seus méritos impetre os benefícios de Deus (SC 104).

Os Santos sejam cultuados na Igreja segundo a tradição. Suas relíquias


autênticas e imagens sejam tidas em veneração. Pois as festas dos Santos
proclamam as maravilhas de Cristo operadas em Seus servos e mostram aos
fiéis os exemplos oportunos a serem imitados. Que as festas dos Santos não
prevaleçam sobre as que recordam os mistérios da salvação. Muitas destas
festas sejam deixadas à celebração de alguma Igreja particular, Nação ou Família
Religiosa, estendendo-se somente à Igreja toda aquelas que comemoram os
Santos que manifestam de fato importância universal (SC 111).

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48 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia

Tais números trazem em síntese o sentido teológico-litúrgico do culto dos santos ATENÇÃO!
Para aprofundar seus
na atualidade, no qual se recuperou o sentido original desse culto, que é a consideração conhecimentos sobre o culto aos
do santo como participante do mistério pascal de Cristo e, portanto, exemplo para a santos consulte as obras:
a) AUGÉ, M. As festas do senhor,
comunidade cristã. da mãe de Deus e dos santos.
In: AUGÉ, M. et al. O ano
litúrgico: história, teologia e
Por isso que a origem do culto aos santos está no culto aos mártires16, os quais celebração. Anámnesis 5.
São Paulo: Paulinas, 1991. p.
davam sua vida por Cristo e, por isso, eram sepultados com a honra de heróis da fé.
260-275.
b) BERGAMINI, A. Cristo,
festa da igreja: história,
Desse modo, aparece o sepultamento de Estevão, o primeiro mártir (At 8,2), teologia, espiritualidade e
e no século 2º temos o primeiro documento que testemunha o culto aos mártires, numa pastoral do ano litúrgico. São
Paulo: Paulinas, 1994. p.
carta da Igreja de Esmirna à Igreja de Filomélio e a todas as comunidades cristãs sobre o 480–485. (Coleção liturgia e
martírio de seu bispo Policarpo (em 156). participação).
c) LLABRÉS, P. O culto à
santa Maria, mãe de Deus.
O culto aos mártires deriva do culto aos defuntos, no qual os cristãos honravam In: BOROBIO, D. (org.) A
celebração na igreja: ritmos
seus mortos por meio da sepultura (inumação) e de cerimônias fúnebres (eucaristia), e tempos da celebração.
junto à sepultura, tanto no momento do sepultamento como em datas posteriores, em São Paulo: Loyola, 2000. p.
223–252.
particular, no aniversário de morte.

Assim, com o término das perseguições e martírios, começaram a ser honrados (16) O termo martyr na língua
outros fiéis ilustres, como os confessores da fé, as grandes figuras de bispos, virgens, grega significa testemunha. Os
mártires são as testemunhas da
ascetas etc. Desse modo, passa-se do culto aos mártires ao culto aos santos. fé em Cristo.

Tal culto, que inicialmente estava ligado à comunidade na qual o mártir ou santo
viveu e testemunhou sua fé, propagou-se com a partilha das Atas dos Mártires e suas
relíquias, entre as comunidades que passaram a construir igrejas, nas quais se fazem a
memória desses santos.

Posteriormente, esse processo assumiu características alheias ao seu objetivo


inicial, sendo marcado por abusos, como o comércio de relíquias.

Aos poucos, o culto aos santos atingiu proporções desmedidas e surpreendentes,


como se vê nos séculos 12 e 14. Apesar da tentativa tridentina de reformar o calendário
santoral, para que o culto dos santos não predominasse sobre o ciclo cristológico, esse
objetivo só foi atingido na reforma litúrgica do Vaticano II.

O resultado dessa reforma aparece nas citações apresentadas anteriormente,


nas quais se expressa o sentido teológico-litúrgico do culto dos santos – eles são venerados
pela sua participação no mistério de Cristo, de acordo com as orientações para a elaboração
do calendário santoral, dentro do Ano Litúrgico.

O centro do Ano Litúrgico é o mistério de Cristo, que não pode ser substituído pelo
santoral, considerando que constam no calendário litúrgico somente os santos que tenham
importância para a igreja universal, os outros são celebrados em suas igrejas locais.

Assim, a organização do santoral irá privilegiar esse critério. Além disso, também
será feita a revisão do lecionário e das orações de cada uma das solenidades, festas ou
memórias dos santos, para que nelas transpareça sua participação no mistério pascal de
Cristo e não sua pessoa, considerada de modo autônomo.

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Batatais – Claretiano 49
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UNIDADE 3
Bacharelado em Teologia

7 CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da exposição sobre o Ano Litúrgico como celebração do mistério
de Cristo no tempo. Assim, pudemos analisar suas origens e desdobramentos e a centralidade
da Páscoa, a qual é celebrada semanalmente no domingo e anualmente no tríduo pascal.

Além disso, no decorrer desta unidade, estudamos a Quaresma como tempo de


preparação para a Páscoa e a Qüinquagésima pascal como um grande domingo de Páscoa,
assim como o ciclo da Manifestação do Senhor (Advento, Natal-Epifania) e o tempo comum
como tempo da celebração do mistério de Cristo em sua plenitude.

Para finalizar a unidade, estudamos também as festas do senhor, o culto mariano


e culto dos santos, os quais foram contemplados como expressões de particularidades do
mistério de Cristo manifestadas ao longo da história na vida da igreja.

Na próxima unidade você será convidado a estudar a celebração da Liturgia


das Horas.

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUGÉ, M. As festas do senhor, da mãe de Deus e dos santos. In: AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico:
história, teologia e celebração. Anámnesis 5. São Paulo: Paulinas, 1991. p. 233–275.

BERGAMINI, A. Cristo, festa da igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano


litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994. (Coleção liturgia e participação).

CHUPUNGCO, A. Adaptação. In: SARTORI, D. TRIACCA, A. M. (org.). Dicionário de liturgia.


São Paulo/ Lisboa: Paulinas/ Paulistas. 1992. p. 1-12.

GAITÁN, J. D. La celebración del tiempo ordinário. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica.


1994. (Biblioteca litúrgica 2).

GONZALEZ, R. Outras festas do senhor. In: BOROBIO, D. (org.) A celebração na igreja:


ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 185–198.

LLABRÉS, P. O culto à santa Maria, mãe de Deus. In: BOROBIO, D. (org.). A celebração na
igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 199–221.

______. O culto aos santos. In: BOROBIO, D. (org.) A celebração na igreja: ritmos e
tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 223–252.

VATICANO II. Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a sagrada liturgia. In:


Compêndio do Vaticano II. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 259-306.

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50 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 4
CELEBRAÇÃO DA
LITURGIA DAS HORAS

Objetivos
• Reconhecer e compreender o sentido teológico-litúrgico
da Liturgia das Horas como oração da igreja.

• Identificar e analisar as fases históricas do desenvolvimento


da Liturgia das Horas.

• Analisar e compreender o sentido teológico-litúrgico das


estruturas e elementos que constituem a Liturgia das Horas.

Conteúdos
• Liturgia das Horas: sua origem histórica.

• Liturgia das Horas: estrutura e elementos.

• Liturgia das Horas: sua celebração atual.


UNIDADE 4
Bacharelado em Teologia

ATENÇÃO!

1
Para discutir e analisar os
conteúdos estudados nesta
unidade com profundidade, não
INTRODUÇÃO
se contente apenas com os
conteúdos aqui tratados ou com Esta é a quarta unidade da disciplina Ano Litúrgico e Liturgia das Horas, a
o que o tutor sugerir na Sala de qual vai abordar conceitos relacionados à celebração da liturgia das horas.
Aula Virtual, procure consultar
sites, ler obras, entrevistas em
jornais e revistas que tratem Vale ressaltar que estamos estudando, nesta disciplina, a celebração do mistério
sobre o assunto.
de Cristo no tempo.

Nas unidades anteriores vimos que a Páscoa de Jesus é o evento histórico-


salvífico celebrado durante todo o ano litúrgico, tendo no domingo (a páscoa semanal) o
seu núcleo e fundamento e no tríduo pascal seu ápice anual.

Assim como existe uma organização ritual da celebração pascal na semana e no


ano, há também uma organização celebrativa da Páscoa, segundo o ritmo diário, que é a
Liturgia das Horas.

A Liturgia das Horas “é substancialmente, uma estrutura de oração, entendida e


organizada de tal forma que, santificando o dia inteiro, seja a expressão da oração de cada
um dos orantes e, sobretudo, de toda a comunidade eclesial” (AUGÉ, 1996, p. 254).

Vamos iniciar o estudo desta unidade com a origem da Liturgia das Horas.

Bom estudo!

2 ORIGEM DA LITURGIA DAS HORAS


Comecemos este percurso histórico com uma citação da Sacrosanctum Concilium
sobre a Liturgia das Horas:

O Sumo Sacerdote do Novo e eterno Testamento, Cristo Jesus, assumindo a


natureza humana, trouxe para esse exílio terrestre aquele hino que é cantado
por todo sempre nas habitações celestes. Ele associa a Si toda a comunidade
dos homens, e une-a consigo na celebração deste divino cântico de louvor.
Com efeito, Ele continua aquela função sacerdotal através de sua Igreja, que
não somente pela celebração da Eucaristia, mas também por outros modos,
particularmente rezando o Ofício Divino, louva sem cessar o Senhor e intercede
pela salvação de todo o mundo.

Por antiga tradição cristã o Ofício Divino está constituído de tal modo que todo
o curso do dia e da noite seja consagrado pelo louvor de Deus. Quando, pois, os
sacerdotes e as outras pessoas delegadas por vontade da Igreja para esse fim,
ou os fiéis em união com o sacerdote executam religiosamente aquele admirável
ATENÇÃO!
cântico de louvor, rezando em forma aprovada, então, verdadeiramente, é a
Além da Sacrosanctum Concilium
é importante considerar também voz da própria Esposa, que fala com o Esposo, ou melhor, é a oração de Cristo,
a Constituição Apostólica com o Seu próprio Corpo, ao Pai (SC 84-85).
Laudis Canticum de Paulo
VI de 1970, com a qual ele
promulga a Liturgia das horas O texto da Sacrosanctum Concilium sintetiza as características principais da
renovada, e a Instrução geral
sobre a Liturgia das Horas, que Liturgia das Horas: ela consiste na oração diária que a igreja eleva ao Pai com o Cristo
traz todo o ordenamento para e, desse modo, exerce juntamente com ele sua função sacerdotal, a qual consiste em se
sua celebração. Esses dois
oferecer a Deus como oferenda espiritual, assim como Cristo se ofereceu em sacrifício na
documentos encontram-se no
primeiro volume da Liturgia das cruz.
Horas.

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52 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 4 Bacharelado em Teologia

Nessa oração diária, oferenda espiritual, está presente a vivência pascal, a qual (1) O termo Shemá é uma
abreviatura de Shemá Israel
se expressa no cotidiano da vida da igreja e da vida dos fiéis, seja no trabalho, no lazer, (= Escuta Israel) e constitui
nas relações familiares e sociais etc. a oração típica do judaísmo
e é composição de textos: Dt
6,4-9; 11,13-31 e Nm 15,37-41
Vale ressaltar que, em todas as horas do dia, se faz presente o mistério pascal acompanhada por três bênçãos.
O conteúdo evoca a salvação
por meio da celebração horária do ofício divino. recebida de Deus, a sua aliança
e sua bênção para todos os que
observam seus mandamentos.
Essa forma de viver a espiritualidade e a oração foi herdada do judaísmo pela
comunidade cristã. De fato, os judeus viviam sua religiosidade como uma forte experiência INFORMAÇÃO:
pascal, a qual se expressava na celebração anual, semanal (sábados na sinagoga) e Encontramos nos evangelhos,
em particular no evangelho de
diariamente no louvor matutino e vespertino quando, a cada dia, recordavam a experiência Lucas, inúmeras passagens que
da libertação e da aliança por meio do Shemá1 matutino e vespertino. apresentam Jesus em oração: no
seu batismo (Lc 3,21), no deserto
(Lc 4,1-13), na sinagoga (Lc
Observa-se que o povo judeu sabia rezar a partir dos eventos salvíficos que 4,16-21), em meio aos trabalhos
(Lc 4,42), e outros. Jesus se
Deus realizou na história da salvação e continuava a realizar cada dia em sua vida. Jesus torna o mestre e modelo de
vivia essa experiência a cada dia, além de participar na liturgia sinagogal e nas festas oração tanto que os discípulos
lhe pedem: “Ensina-nos a rezar”,
anuais. Assim, os discípulos aprenderam com Jesus a rezar “sem cessar”. ele então lhes ensina o Pai-nosso
(Lc 11,1-4).

Radicada na Páscoa de Cristo, a oração cristã tem um conteúdo novo.


A comunidade cristã reúne-se em nome de Jesus Cristo para dar graças em sua ATENÇÃO!
Para aprofundar o tema da
memória (ele é a verdadeira Páscoa), assim como Jesus dava graças ao Pai por revelar
história da Liturgia das Horas
os mistérios do Reino aos pequeninos (Lc 10,21-22). A oração cristã é dirigida ao Pai, consulte as seguintes obras:
a) AUGÉ, M. Liturgia: história,
por Cristo no espírito, já que unida a Cristo volta-se ao Pai, dando graças pela sua ação
celebração, teologia,
salvadora, realizada em Jesus Cristo. espiritualidade. São Paulo:
AM, 1986. p. 254–275.
b) GOENAGA, J. A. As diversas
A Igreja nascente tinha consciência de sua vocação de comunidade orante. A reformas do ofício do século
XVI ao Vaticano II. 2000.
comunidade encontra reunida em oração momentos fortes de sua vida nascente In: BOROBIO, D. (Org.). A
celebração na igreja: ritmos
(At 1,14; 1,24; 4,23-31; 12,13). Note-se que essas oportunidades estão ligadas
e tempos da celebração. São
não a determinadas horas do dia, mas a acontecimentos da própria história: Paulo: Loyola, 2000. v. 3. p.
317-336.
a eleição de Matias, a espera do Espírito prometido, a prisão dos apóstolos.
c) GONZALEZ, R. A oração da
Existem também alguns horários privilegiados (At 10,9; 16,25) (BECKHÄUSER, comunidade cristã (séculos II-
XVI). In: BOROBIO, D. (Org.).
2007, p. 114).
A celebração na igreja: ritmos
e tempos da celebração. São
Paulo: Loyola, 2000. v. 3. p.
No final do primeiro século, a Didaqué apresentou uma estrutura de oração cristã 291-316.
diária que, aos poucos, se desenvolveu numa organização de oração mais complexa:

ATENÇÃO!
“Também não rezeis como os hipócritas, mas como o Senhor mandou no seu Você poderá ampliar seus
conhecimentos sobre o tema
Evangelho: Nosso Pai no céu, que teu nome seja santificado... Assim rezai três vezes por
da oração na Bíblia com a obra:
dia” (DIDAQUÉ 8,2). CANALS, J. M. A oração na
Bíblia. In: BOROBIO, D. (Org.).
A celebração na igreja: ritmos
Além disso, há testemunhos de outros escritos patrísticos sobre as orações e tempos da celebração. São
Paulo: Loyola, 2000. p. 267–289.
freqüentes feitas pelas comunidades cristãs, como:

a) Inácio de Antioquia. ATENÇÃO!


Nesta citação há a substituição
b) Tertuliano. do Shemá pela oração do Senhor
e ainda a indicação horária:
c) Orígenes. três vezes ao dia. Assim, para
ampliar seus conhecimentos,
d) Irineu. você poderá conferir o texto
em: ZILLES, U. (Org.). Didaqué:
e) Cipriano. catecismos dos primeiros
cristãos. 5. ed. Petrópolis: Vozes,
1986. (Fontes da catequese 1).
f) Hipólito de Roma na sua Tradição Apostólica.

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Batatais – Claretiano 53
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UNIDADE 4
Bacharelado em Teologia

(2) Laudes: louvor em latim Aos poucos, a partir do século 4º, foram se formando duas tradições distintas de
indica os louvores matutinos.
oração comunitária na igreja, segundo o modo de calcular o tempo do dia. São elas:
(3) Vésperas: de Vésper
(Vênus), que é a primeira estrela a) o ofício da igreja catedral;
que se faz visível ao anoitecer.

INFORMAÇÃO:
b) o ofício monástico.
A organização do Ofício
Monástico atingiu sua forma mais
completa com São Bento. O ofício da igreja catedral inspirava-se no cômputo judaico do tempo: a
experiência pascal diária pela manhã e pela tarde, da qual surgem:
(4) O nome Breviário (=
abreviado), surgiu ao redor do a) a oração da manhã: Laudes2;
século 12 com o aparecimento
dos livros litúrgicos plenários, b) a oração da tarde: Vésperas3.
ou seja, os livros que traziam as
leituras, orações e cânticos ao
mesmo tempo, como o missal.
Esse ofício catedral contava com a participação de todos: bispo, presbíteros,
Referia-se a uma organização
mais abreviada da celebração diáconos e todo o povo fiel. Era a forma como a comunidade fazia a memória do mistério
das horas, tanto no número de
salmos como nas orações.
pascal de Cristo, a cada dia.

ATENÇÃO!
Para aprofundar o sentido, O ofício monástico, por sua vez, contava o tempo segundo o costume romano
a estrutura, teologia e das vigílias e, a partir delas, organizava as horas de oração diária dando a cada uma um
espiritualidade da celebração
atual da Liturgia das Horas não nome que evocava aspectos do mistério de Cristo nela celebrado, como:
deixe de ler a instrução geral
sobre a Liturgia das Horas. a) Laudes e Vésperas: Paixão-Morte e Ressurreição de Cristo.
Consulte ainda:
a) BECKHÄUSER, A. A b) Horas menores: terça, sexta e nona, as quais evocavam os passos da paixão
celebração do mistério de
Cristo nas horas do dia: do Senhor, Pentecostes e a pregação do Evangelho.
a liturgia das horas. In:
CELAM – Manual de liturgia.
A celebração do mistério Mais tarde, com a decadência do ofício catedral, a forma monástica das oito
pascal: outras expressões
celebrativas do mistério pascal horas do ritmo das vigílias, além das Primeiras e Completas, se propagou por
e a liturgia na vida da Igreja. toda a Igreja. Com sua carga monástica, porém, essa forma de oração se
São Paulo: Paulus, 2007. p.
111 -153. v. 4. limitou praticamente às ordens religiosas e ao clero, deixando o povo distante,
b) CASTELLANO, J. Teologia com suas devoções (BECKHÄUSER, 2007, p. 117)
e espiritualidade da liturgia
das horas. In: In: BOROBIO,
D. (Org.). A celebração na
igreja: ritmos e tempos da Ainda que a forma monástica tenha se tornado praticamente o modo de a Igreja
celebração. São Paulo: rezar a cada dia houve várias tentativas de organizar e envolver todo o povo nesta oração
Loyola, 2000. p. 337–398. v. 3.
Lembre-se de que você poderá diária, sem muito êxito.
consultar outras obras citadas
nas referências bibliográficas.
Desse modo, o Concílio de Trento (1545-1563) organizou a oração da Igreja e
INFORMAÇÃO: dele temos o Breviário4 Romano de Pio V, o qual chegou até nossos dias depois que,
A Liturgia das Horas está
publicada em quatro volumes, os na reforma litúrgica do Vaticano II, a oração da Igreja recuperou sua originalidade como
quais abrangem sua celebração
ao longo de todos os tempos
celebração diária da Páscoa de Cristo. Assim, foram revistos os horários de oração, sua
litúrgicos, assim como todo o estrutura, lecionário e eucologia, dando origem à atual Liturgia das Horas.
santoral. Além disso, temos
ainda uma edição simplificada
e adaptada no volume Ofício
divino das comunidades,

3
o qual tem como objetivo
devolver a oração das horas
para todas as comunidades CELEBRAÇÃO ATUAL DA LITURGIA DAS HORAS
cristãs, pois ao longo dos
séculos, essa oração acabou Em primeiro lugar vejamos um quadro contendo a estrutura básica da Liturgia
se restringindo ao clero e à vida
religiosa. Assim, você poderá das Horas e os elementos que a compõem:
ampliar seus conhecimentos
sobre o Ofício divino das
comunidades consultando a
obra: CARPANEDO, P. Ofício
divino das Comunidades: uma
introdução. São Paulo: Paulinas,
2006. (Coleção rede celebra 9).

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54 Claretiano – Batatais
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Agora, observe, no quadro a seguir, uma breve explicação da estrutura e dos ATENÇÃO!
Para aprofundar seus
elementos da Liturgia das Horas: conhecimentos sobre o tema
das estruturas e elementos da
Quadro 1 Estrutura e elementos da Liturgia das Horas. Liturgia das Horas, consulte as
obras:
a) GOENAGA, J. A. Sentido
das estruturas da liturgia
das horas. In: BOROBIO,
D. (Org.). A celebração na
igreja: ritmos e tempos da
celebração. São Paulo:
Loyola, 2000. p. 399–417. v. 3.
(para as estruturas)
b) FERNANDEZ, P. Elementos
verbais da liturgia das horas.
In: BOROBIO, D. (Org.). A
celebração na igreja: ritmos
e tempos da celebração.
São Paulo: Loyola, 2000.
p. 419–475. v. 3. (para os
elementos)

Fonte: MATOS, H. C. J. Liturgia das horas e vida consagrada. Belo Horizonte: O Lutador, 2004. p. 60.

Quanto à estrutura:
a) Laudes: é a oração de louvor da manhã e o amanhecer, a luz do sol evoca a
ressurreição de Cristo e nossa ressurreição nele.
b) Vésperas: é a oração da tarde e nela celebra-se, no declinar do dia, o
descanso do dia e louvor por tudo o que recebemos de Deus neste dia de
trabalho. Mesmo que a luz do sol dê lugar à noite, conosco permanece a luz
de Cristo que vence as trevas.

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Batatais – Claretiano 55
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c) Hora média: ou oração durante o dia (terça (9h) e sexta (12h)), Noa ou
Nona (15h), as quais evocam alguns acontecimentos da Paixão do Senhor
e da pregação inicial do Evangelho, indicando que a comunidade cristã, ao
viver o cansaço do seu trabalho, a rotina do dia-a-dia, caminha para sua
Páscoa enquanto anuncia ao mundo o Reino de Deus.
d) Ofício das leituras: consistia inicialmente numa vigília noturna recordando
Jesus, que velava em oração durante a noite. Hoje consiste numa hora de
escuta da palavra de Deus, que vai inspirar o agir da comunidade a cada
dia.
e) Completas: como diz o nome, é o complemento do ciclo diário, o qual recorda
também o complemento de nossa vida, daí seu conteúdo escatológico que evoca
a realização plena de nossa vida e do mundo em Cristo. Isto aparece claramente
no hino e no Cântico de Simeão (Lc 2,29-32), proclamados nesta hora.

Quanto aos elementos:


a) Introdução: chamado “invitatório” na primeira hora celebrada a cada dia, é
um convite à oração naquele determinado momento.
b) Hino: é uma composição poética, um cântico de louvor que motiva a comunidade
para celebrar o mistério em cada uma das horas do dia. O hino é que apresenta
mais claramente o conteúdo teológico-litúrgico de cada uma das horas, conforme
descrito anteriormente. Observe o exemplo de um dos hinos:

Já vem brilhante aurora o sol anunciar.


De cor reveste as coisas, faz tudo cintilar.
Ó Cristo, Sol eterno, vivente para nós,
saltamos de alegria, cantando para vós.
Do Pai Ciência e Verbo, por quem se fez a luz,
as mentes, para vós, levai, Senhor Jesus.
Que nós, da luz os filhos, solícitos andemos.
Do Pai eterno graça nos atos professemos.
Profira a nossa boca palavras de verdade,
trazendo à alma o gozo que vem da lealdade.
A vós, ó Cristo, a glória e a vós, ó Pai, também,
com vosso Santo Espírito, agora e sempre. Amém
(Hino de Laudes, Terça-feira,Tempo Comum – I Semana).

Como Hino de Laudes, encontram-se nele: o simbolismo da luz da aurora, o


sol que nasce e sua relação com o Cristo, que é a luz do mundo e como luz
que venceu as trevas na sua ressurreição. A luz do sol permite contemplar a
criação que parece renascer depois das trevas da noite e o hino evoca a criação
do mundo que foi feita em Cristo. Por fim, vem a motivação para viver esse dia
na fé como filhos da luz, como pessoas renascidas na Páscoa de Cristo.
c) Salmodia: os salmos são composições poéticas e musicais judaicas, os
quais foram relidos cristologicamente pela comunidade cristã como oração
de Cristo ao Pai e como oração da Igreja a Cristo. Os salmos foram utilizados
na oração diária da Igreja desde a comunidade primitiva, ainda que, ao longo
da história, tenham sido dispostos diversamente em cada hora de oração.
Atualmente, os 150 salmos que compõem o saltério foram distribuídos em
quatro semanas de oração, nas diversas horas do dia.
d) Leitura breve: é a proclamação da Palavra de Deus que varia de acordo
com o dia, o tempo ou festa e sublinha um aspecto particular do mistério de
Cristo celebrado naquele horário.

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56 Claretiano – Batatais
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e) Responsório: é uma resposta à palavra de Deus que foi proclamada.


f) Cântico evangélico: constitui um ponto alto nas Laudes e Vésperas, pois
evoca o mistério de Cristo celebrado pela manhã (a ressurreição), por meio
do Cântico de Zacarias (Lc 1,68 – 79) e pela tarde (o reconhecimento da
ação salvadora de Deus em Cristo) por meio do Magnificat de Maria (Lc
1,46-55).
g) Preces: ainda que tenham características distintas nas Laudes (recomendar
e consagrar o dia ao Senhor) e nas Vésperas (intercessão), elas evocam a
presença dos acontecimentos do momento presente da vida da comunidade,
que são, então, iluminados pela presença de Deus e assumem um significado
particular à luz da fé.
h) Pai-Nosso: tanto nas Laudes como nas Vésperas, a oração que o Senhor
nos ensinou completa o louvor matinal e vespertino.
i) Oração final: é um texto eucológico em sintonia com o horário da oração.
j) Conclusão: é feita pela bênção, no sentido de bendizer a Deus e dele receber
sua força naquele dia e hora. Um exemplo:
“Ó Deus, senhor do dia e da noite, fazei brilhar sempre em nossos corações
o sol da justiça, para que possamos chegar à luz em que habitais” (Oração
conclusiva de Vésperas, Terça-feira, II Semana).
Nota-se que essa oração vespertina evoca, ao cair da noite, a Deus como
aquele que é luz eterna, como o sol de justiça enquanto expressa a nossa
vocação a viver nesta luz que é o próprio Deus.

Observe a seguir um quadro com o ordenamento da Liturgia das Horas quando


se celebram as solenidades, festas e memórias durante o ano.

Quadro 2 Ordenamento da Liturgia das Horas quando se celebram as solenidades, festas


e memórias durante o ano.

Fonte: BECKHÄUSER, A. A celebração do mistério de Cristo nas horas do dia: a liturgia das horas. In: CELAM – Manual
de liturgia. A celebração do mistério pascal: outras expressões celebrativas do mistério pascal e a liturgia na vida da
Igreja. São Paulo: Paulus, 2007. p. 153. v. 4.

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Bacharelado em Teologia

4 CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da quarta unidade da disciplina Ano litúrgico e Liturgia
das Horas.

A Liturgia das Horas como vimos é uma “escola de oração”, que vai formando a
comunidade cristã para que viva, a cada dia, como comunidade pascal e anuncie a todos
a boa-nova do Evangelho e do Reino: Deus está conosco e nos dá a vida plena.

Por meio da oração diária, nos vários momentos do dia, e pela escuta da palavra
de Deus, pode-se reconhecer que Deus é nosso Pai, que somos todos irmãos e podemos
viver plenamente nesse espírito, que é a ação do Espírito Santo que o Ressuscitado nos
enviou de junto do Pai.

Desse modo, cada dia é a Páscoa de Jesus.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUGÉ, M. Liturgia: história, celebração, teologia, espiritualidade. São Paulo: AM, 1986. p.
254–275.

BECKHÄUSER, A. A celebração do mistério de Cristo nas horas do dia: a liturgia das


horas. In: CELAM – Manual de liturgia. A celebração do mistério pascal: outras expressões
celebrativas do mistério pascal e a liturgia na vida da Igreja. São Paulo: Paulus, 2007. p.
111-153. v. 4.

CANALS, J. M. A oração na Bíblia. In: BOROBIO, D. (Org.). A celebração na igreja: ritmos


e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 267–289. v. 3.

CASTELLANO, J. Teologia e espiritualidade da liturgia das horas. In: In: BOROBIO, D.


(Org.). A celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000.
p. 337–398. v. 3.

FERNANDEZ, P. Elementos verbais da liturgia das horas. In: BOROBIO, D. (Org.). A


celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 419–
475. v. 3.

GOENAGA, J. A. As diversas reformas do ofício do século XVI ao Vaticano II. In: BOROBIO,
D. (Org.). A celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola,
2000. p. 317–336. v. 3.

GOENAGA, J. A. Sentido das estruturas da liturgia das horas. In: BOROBIO, D. (Org.). A
celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000. p. 399–
417. v. 3.

GONZALEZ, R. A oração da comunidade cristã (séculos II-XVI). In: BOROBIO, D. (Org.).


BOROBIO, D. (Org.). A celebração na igreja: ritmos e tempos da celebração. São Paulo:
Loyola, 2000. p. 291-316. v. 3.

MATOS, H. C. J. Liturgia das Horas e vida consagrada. Belo Horizonte: O Lutador, 2004.

VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. In:


Compêndio do Vaticano II. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 259-306.

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ATENÇÃO!

6
Continue pesquisando e discuta
CONSIDERAÇÕES FINAIS com seus colegas diferentes
respostas para os antigos
problemas. Afinal, o caminho
Nossa disciplina encerra-se aqui, mas não nosso diálogo. Você, ao optar pelo é construído a cada passo!
Educação a Distância, tem, além de todos os seus colegas de curso, o seu tutor para Espero que nessa caminhada
rumo ao saber, nos encontremos
contar. Sempre que necessitar de nossa ajuda, não tenha receio em nos contatar. novamente para novas buscas.

Foram, portanto, muitas atividades, interatividades, horas de leitura e, com isso,


nosso dever está cumprido. Mais do que isso! Alguns dos tópicos aprendidos aqui continuarão
a ser refletidos ao longo de todo o curso, pois são imprescindíveis a sua formação.

A reflexão, a manutenção e a atualização diária de seus conhecimentos sobre


a liturgia e seus desdobramentos devem ser preservadas por você. É um hábito que
contribuirá para a compreensão desta importante área do saber.

Foi um prazer conhecer, ensinar e aprender com você!

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