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RELAÇÕES ENTRE

TEXTO E IMAGEM
Comentários sobre o capítulo
Imagens nos livros ilustrados do livro Leitura de imagens
de Lucia Santaella

M. Domecq
Imagens e textos e suas diferentes
potencialidades...
■ O texto é comumente utilizado para funções de tipo racional: explicar, informar,
argumentar, perguntar, relatar.. Estas funções racionais se hospedam
maioritariamente no lóbulo esquerdo de nosso cérebro.
■ Já as imagens comumente estão carregadas de outros tipos de conteúdos mais
emocionais, afetivos e imaginários que respondem a funções cognitivas
hospedadas no lóbulo direito de nosso cérebro.
■ Reforço aqui a expressão “comumente” que relativiza esta divisão como sendo
parte daquilo que podemos encontrar habitualmente... Não se estabelece aqui uma
diferença excludente: as imagens também podem explicar, as palavras também
podem emociona.
Sobre estas diferentes potencialidades,
a autora enumera oito:
1. A imagem se percebe de forma simultânea. Percebemos uma totalidade
organizada. Algumas das regras dessa organização que foram estudadas pela
Gestalt foram discutidas em aulas anteriores... O texto, ele é sequencial, lemos
uma palavra depois da outra... O tempo acompanha a leitura... De alguma forma a
leitura é uma forma de temperar o tempo... É interessante ver como a poesia
concreta busca aproximar essa potencialidade da imagem:
Lixo. Augusto de Campos, 1965.
Sobre estas diferentes potencialidades,
a autora enumera oito:
2. O princípio da representação por imagens é a semelhança. Enquanto a relação
entre a palavra e seu significado é arbitrária. A palavra “cama” não tem nenhuma
obrigação de ser semelhante a uma cama... A imagem de uma cama, sim.
3. As imagens facilitam a representação espacial. As palavras facilitam as
representações temporais. A riqueza dos tempos verbais de uma língua mostram
diversas possibilidades de modular o tempo, que são muito difíceis de transpor na
dimensão imagética. Em contra partida as imagens podem construir imagens
muito detalhadas do espaço: pensemos num projeto de arquitetura ou numa obra
pictórica...
Sobre estas diferentes potencialidades,
a autora enumera oito:
4. As imagens nos ajudam a representar percepções visuais, enquanto com as palavras podemos representar as
percepções de todos os sentidos.
5. As palavras parecem mais adequadas para nomear o abstrato, a classe geral dos objetos particulares etc. A imagem
sempre tende a particularizar a singularizar.
6. As imagens e as palavras permitem ações diferenciadas. Uma imagem pode nos seduzir, nos encantar, nos apavorar,
instigar nossa curiosidade etc. Mas é com palavras que realizamos atos linguísticos como perdoar, prometer, interrogar,
negar etc. Do ponto de vista da ação, imagens e palavras remetem a universos pragmáticos diferentes.
7. Como dizemos a elaboração cognitiva das imagens e das palavras se hospeda em lóbulos diferentes de nosso cérebro.
Os aspectos mais racionais do texto respondem à processos cerebrais do lóbulo esquerdo, os aspectos mais
emocionais das imagens correspondem a atividades cerebrais do lóbulo direito. A publicidade e a propaganda política
muitas vezes buscam comunicar diretamente emoções fortes que inviabilizam a elaboração de discursos críticos mais
complexos.
8. Com relação à memória, também parece que nossa memória imagética funciona de outra forma, tem outras
potencialidades. É interessante observar que a música é uma forma de fortalecer nossa memória textual... Os poemas,
as letras são mais fáceis de decorar... Remetem a uma memória de outros sentidos, muito mais desenvolvida que
nossa memória associada as palavras.
O QUE O TEXTO FAZ COM A IMAGEM? E O QUE A
IMAGEM FAZ COM O TEXTO?
Explica?
Define?
Nomeia?
Contradiz?
Ironiza?
Convida a ver outros significados?
Exemplifica?
...
As relações entre texto e imagem podem
ser analisadas segundo estas três
perspectivas:

■Sintática
■Semântica
■Pragmática
A perspectiva sintática

■ Se concentra nas relações especiais entre texto e imagem.


■ Como são compostas estas relações no espaço de um cartaz, de uma página, de
uma tela de computador? Como se dá essa articulação? Essas são as perguntas
que guiam uma análise das relações texto/imagem desde uma perspectiva
sintática.
■ Estas relações podem ser de dois tipos:
 Contiguidade
 Inclusão
A perspectiva sintática: contiguidade

■ Interferência: Texto e imagem estão separadas espacialmente, mas elas aparecem


na mesma página.
■ Correferência: é uma caso particular de interferência, texto e imagem compartilham
a mesma página porém referem a algo que independe entre si.
■ Ilustração quando a imagem é precedida pela palavra, como nas ilustrações da
bíblia ou de mitos e lendas amplamente conhecidos.
A perspectiva sintática: inclusão

■ Representação de textos em imagens, por exemplo a fotografia de um cartaz ou da


página de um livro.
■ Pictorialização das palavras: quando a palavra se torna um elemento da imagem,
quando se potencializa seu caráter visual. Como vimos a poesia concreta realiza
este tipo de operação. Mas veremos outros exemplos.
■ Inscrição quando a imagem é apenas um suporte da palavra, a imagem é um
espaço para acolher a palavra. Os slide pré-desenhados poderiam ser um exemplo...
■ A inscrição indicial quando as inscrições estão inscritas na imagem indicando algo
que faz parte do conteúdo da imagem.
A perspectiva semântica

■ Quando procuramos nos adentrar no território do sentido, do significado das


relações entre conteúdo das imagens e conteúdo dos textos, estamos numa
abordagem semântica.
■ Imagem e texto dizem o mesmo? Se complementam? Se contradizem? Que
relações podemos estabelecer entre o significado do texto e o da ilustração que o
acompanha?
A perspectiva semântica

■ Numa primeira abordagem podemos mencionar quatro tipos de relações:

 Dominância
 Redundância
 Complementaridade
 Contradição ou discrepância
A perspectiva semântica
 Dominância: se estabelece uma jerarquia, a imagem é mais importante que o texto ou vice-versa. Nos antigos
livros ilustrados, o texto dominava a imagem. Nos livros infantis mais contemporâneos essa relação evoluiu para
uma dominância das imagens ou para uma complementaridade.
 Redundância: Quando falamos de redundância pensamos em algo que sobra, em algo que se repete, em algo
que se diz por segunda vez... Certamente não é uma das relações mais interessantes possíveis entre texto e
imagem... Mas a redundância ajuda a reforçar uma ideia, uma situação, um determinado conteúdo etc. Porém,
é interessante pensar que se a relação entre dois termos é redundante, um deles poderia ser suprimido sem
perda relevante de sentido... Então se a supressão de um texto ou de uma imagem modifica o significado da
mensagem, a relação não era redundante: era complementar.
 Complementaridade: Falamos de complementaridade quando texto e imagem trazem informações diferentes. O
texto determina a imagem, a imagem determina o texto, porque cada um está preenchendo lacunas do outro.
Se suprimimos um deles, perdemos informação, a mensagem muda. Quando duas coisas são complementares,
sua unidade não pode ser quebrada sem que isso destrua aquilo que existia...
 Contradição ou discrepância: Muitas das imagens de Barbara Kruger que analisamos exploravam estas
possibilidades: o texto pode contradizer, ironizar, etc. Essa justaposição de mensagens divergentes, como
afirma a autora pode “criar uma contradição surpreendente entre o texto e a imagem, para levar o leitor a
pensar uma possível solução para o enigma. Em seu esforço por compreender a mensagem presumida entre o
texto e a imagem, o observador pode descobrir sentidos surpreendentes naquilo que a primeira vista, parecia
discrepante”. De alguma forma o leitor reestabelece interpretativa e criativamente uma unidade, uma lógica
para essa justaposição.
A perspectiva pragmática

■ A pragmática tem a ver com a ação... A pergunta que nos fazemos quando
analisamos as relações entre texto e imagem desde uma perspectiva pragmática
são perguntas sobre as ações do texto com relação a imagem e as ações da
imagem com relação ao texto e sobre as ações do texto-imagem com relação ao
leitor.
■ Citando a R. Barthes, a autora remete primeiro a dois tipos de relações possíveis:
 Ancoragem
 Relais
A perspectiva pragmática

 Dá-se uma relação de ancoragem quando a imagem


direciona a atenção a um elemento do texto ou vice-versa.
Esta relação implica uma relação de dominância em um ou
outro sentido.
 Dá-se uma relação de relais quando se estabelece uma
relação de revezamento, imagem e texto. Imagem e texto
formam uma unidade. Seu sentido dá-se pela sua
complementaridade. Nossa atenção e foco pode ir
livremente do texto à imagem e da imagem ao texto.
A perspectiva pragmática

 O etiquetamento ou denominação pode ser visto como uma


relação relação de ancoragem. O título de uma fotografia
direciona aquilo que devemos ver. Para fugir dessa
ancoragem e desse etiquetamento, muitos artistas optam
por denominar uma obra como “sem título”.
Outras três categorias propostas para pensar
estas relações entre imagem e texto propostas
pela autora são:
■ Vinculo de semelhança: quando texto e imagem descrevem uma mesma coisa,
quando há redundância entre eles ou uma mesma finalidade: por exemplo as
imagens do manual de um equipamento.
■ Vínculo indicial: indicial vem de indicar. Quando o texto diz isto é aquilo. Quando a
imagem sinaliza algo sobre o texto. Etc. São formas de relações de ancoragem...
■ Vínculo convencional: quando há um habito interpretativo que direciona a leitura da
relação texto-imagem. Um vínculo convencional estabelece por exemplo que o texto
que está embaixo de uma fotografia traz informações mais precisas sobre o que ela
representa... Se lemos embaixo de uma fotografia de um jornal “O que que é isso?!”
Ficaríamos surpresos e desorientados. Porque isso quebra um vínculo convencional
pré-estabelecido.
Exercício: escolha uma página de um livro
ilustrado e analise as relações texto/
imagem, utilizando estas categorias... A
seguir sugiro alguns exemplos. Porém
podem escolher outros...
Saint-Exupery
Barbara Kruger
Frida Kahlo, Diário
Palabras elementales, Raquel Cané
Gillian Wearing

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