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4- O INCONSCIENTE ESTRUTURADO

COMO LINGUAGEM NA PRÁTICA COM


CRIANÇAS DE LACAN
Jacques Lacan, nascido em 13 de abril de
1901 em Paris. Foi médico psiquiatra e
psicanalista. Faleceu em 9 de setembro
de 1981 em paris.
Lacan tinha uma visão de
inconsciente, onde a linguagem toma o
lugar de destaque em sua conceituação, e
partindo dessa ideia de linguagem, Lacan
formula o conceito de inconsciente
estruturado como linguagem.
Sendo o inconsciente a base da
conceituação psicanalítica e todo método
psicanalítico ser baseado no discurso, é
prudente entendermos quais as relações
do inconsciente com a linguagem, pois a
partir dessa compreensão, dar-se-á a
possibilidade de relacionar o discurso ao
sintoma do analisando. Esse conceito se
inicia entre 1953 a 1960, período
conhecido como “retorno a Freud”.
Ramon Jakobson, pioneiro na análise
estrutural do discurso, usava duas figuras
de linguagem: a metáfora e a metonímia.
Metáfora: se usa os termos que são
distintos numa relação de semelhança.
Exemplo: Pedro foi muito cavalo com
João. Nesse exemplo o termo cavalo é
usado para substituir a palavra ignorante.
Notem que a metáfora tem uma
característica mais subjetiva, pois o
mesmo termo poderia ser interpretado de
outras formas. Metonímia: é o emprego
de um termo no lugar do outro. Exemplo:
eu preciso ler Freud. Observem que eu
removo alguns termos, mas ainda assim
todos entendem que eu gosto de ler os
livros de Freud, ou seja, a metonímia é
objetiva, diferentemente da metáfora.
Lacan diz, no “seminário três”, que o que
Freud chama de metáfora é o
“condensação” e a metonímia é o
“deslocamento”. Esses dois conceitos são
mencionados por Freud, em seu livro “a
interpretação dos sonhos”. Lacan vai se
apropriar da conceituação, criada por
Saussure, para criar sua compreensão de
inconsciente, estruturado como
linguagem. Para Saussure, o signo é a
junção de significado e significante, onde
significante é o conceito de “caneta” e o
significado é “o para que serve”. Essa
junção vai formar o signo. Lacan, em
discordância, vai afirmar que o significado
é, na verdade, uma cadeia de
significantes, que se relacionam entre si.
Para Saussure, o significado se sobrepõe
aos significantes. Já para Lacan, é o
contrário. Significante: são elementos que
se articulam entre si para formar
significados. Um significante não é capaz
de produzir significação por si mesmo. Ele
está sempre dependente de outros, para
produzir sentido. Exemplo: A árvore é
formada por folhas, raízes, galhos, etc. É
necessário um conjunto de elementos
para formar a representação de uma
árvore. Significado: é o resultante da
cadeia significante, ou seja, da articulação
entre os significantes. Um detalhe muito
importante é que o significado também é
“significantes” de outros significados.
Exemplo: árvore é significado, mas
também é significante de floresta. Mas
como os significantes se articulam? O que
causa essa amarração para formar os
significados? O amarrador conceitual é
descrito por Lacan como uma espécie de
suposição do indizível, ou o objeto “A” que
é o representante do desejo da função
materna. É através dessa suposição que
vai se dar a articulação entre os
significantes. Essa suposição surge da
escassez do desejo da função materna
em relação ao bebê. No início dessa
relação, toda a atenção é voltada para a
criança, mas como nossa demanda
derivativa do desejo está em constante
mudança, a função materna retoma seus
interesses para atividades, coisas e
pessoas que tem representatividade forte
para ela. E o bebê começa a perder a
hegemonia do desejo da função materna
e com isso ele sente essa perda e
começa a supor o que está sendo posto
entre eles. Essa suposição é o que vai
juntar todos os significantes soltos e vai
formar a significação, o sentido. Toda
relação social ou objetal está relacionada
ao desejo do outro. Exemplo: o que faz
com que um pedaço de papel tenha valor
de troca? (Dinheiro) é o desejo do outro, o
outro deseja aquele pedaço de papel e te
fornece algo, então tudo isso vem dessa
relação primária. Lacan chamava de:
desejo do desejo do outro. As relações
estão baseadas no desejo do outro e
disso Lacan afirma que, existe “um outro
em mim”. Que eu sou constituído a partir
do desejo do outro e esse é o outro do
inconsciente. O representante “desse
algo” que junta tudo, é o significante
mestre, que Lacan representa como S1. A
junção dos significantes que é a cadeia de
significantes, Lacan representa pelo S2.
Sem o significante mestre, o S2 não
existiria e todos os significantes seriam
elementos insetos de significação. Análise
prática do discurso. Análise sincrônica: é
a análise das relações entre os
significantes no mesmo período de tempo,
ou seja, uma análise vertical. O
analisando está falando sobre algo e o
analista analisa como se estabelece a
junção dos elementos que constituem o
discurso. Analise diacrônica: é a análise
da variação do discurso no tempo ou
análise horizontal do discurso. Exemplo:
Ao longo dos anos a linguagem foi se
alterando, como podemos ver no
exemplo, vossa mercê, vos mercê, você.
O mesmo ocorre num espaço de tempo
menor. Nossa linguagem, no decorrer do
tempo, vai se modificando e o analista vai
analisar essa mudança no discurso, com
o passar do tempo entre as sessões.
Mas como isso se aplica no atendimento
com crianças? Lacan entendia a criança
como uma extensão do inconsciente da
função materna e paterna, onde o desejo
da função materna vai atribuir significado
a esse outro. Partindo dessa perspectiva,
Lacan entende que o trabalho com
crianças deve, não apenas se ater a
criança, mas também aos pais. Essa é
uma das maiores contribuições que a
vertente lacaniana oferece ao
atendimento infantil. Essa localização das
funções materna e paterna tem o objetivo
de não só compreender a subjetividade
da criança, mas também o lugar originário
do seu desejo.

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