A língua e a linguagem são parte relevante de uma construção da verdade intrínseca ao
consciente de cada indivíduo. Para Lacan, tudo o que trazemos no setting como significado (a representação daquilo que é dito, expresso) por via de um significante (o como trazemos, a linguagem per se) detém uma significação singular (a que aquilo remeto, o que simboliza, quais motivos nos fazem expressar aquilo naquele momento naquele formato). Se tratando ainda da linguagem, que para Lacan tem profunda importância no processo, alguns conceitos também serão relevantes para entender como se expressa (ou deixa de se expressar) o indivíduo e, assim, identificar onde suas repressões e defesas residem. Metáforas e metonímias são parte constituintes da linguagem que igualmente darão base para formatar o significante e o significado, advindo de uma significação do indivíduo do real, sendo a metonímia contida na metáfora. A título de clarificação: - Metonímia: Figura de linguagem em que se emprega uma palavra aleatória e fora do seu contexto de uso no lugar de outra, por possuírem entre si algum tipo de relação. - Metáfora: Figura de linguagem em que há uma transferência do significado de uma palavra para outra, por meio de uma comparação não explícita. - Simbólico: o que se constitui moralmente a partir daquilo que existe, no que se viveu, o que se apresenta pelo ambiente, cultura, mundo. - Imaginário: a interpretação que se faz do simbólico - Real: o que é inexoravelmente insuportável existente no inconsciente do indivíduo De outra forma, podemos validar que metonímia expressa um significado direto/objetivo do significante, enquanto metáfora expressa um significado indireto, subjetivo do significante. Uma metonímia, que vem ao setting, vela uma metáfora que nos defende de um real que não temos coragem ou condições de enfrentar. São algumas formas que encontramos na linguagem para traduzir uma parcela da significação que atribuímos às cenas e objetos que percebemos. E as significações, sendo elas individuais, são carregadas de construções e associações tão singulares quanto a própria singularidade do indivíduo em análise, carregado de imaginários que se afastam do real. Através da escuta flutuante é possível começar a construir essa relação de significações que o analisando traz em seu percurso. Me aproprio aqui da metáfora e metonímia para discorrer sobre o papel do analista neste contexto pela ótica lacaniana, que nos propõe que a posição do analista é servir como uma agulha em que a linha passa e retorna ao analisando, e não de apresentar a costura em si. Que tem a responsabilidade e se encarregará da percepção desta costura será sempre o próprio analisando. Ao enfrentarmos, reduzimos o uso destas metáforas, nos aproximamos desse real tão insuportável e caminhamos para redução do sintoma e mudança de visão, escolhas, decisões acerca das situações que lhe são apresentadas. Existe a questão da primazia do significante no expressar da associação livre, seja de acontecimentos ou sonhos, mas considerando de fato a cadeia de significantes para que a significação venha.