O documento discute a denominação fraseológica no humor e na política, destacando como certas expressões metafóricas são usadas para construir práticas políticas e humorísticas. Exemplos mostram como metáforas sobre inflação foram usadas no governo Sarney para personificar a inflação como um inimigo a ser combatido, mobilizando o povo. Expressões idiomáticas também refletem aspectos culturais e são usadas nos meios de comunicação.
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O documento discute a denominação fraseológica no humor e na política, destacando como certas expressões metafóricas são usadas para construir práticas políticas e humorísticas. Exemplos mostram como metáforas sobre inflação foram usadas no governo Sarney para personificar a inflação como um inimigo a ser combatido, mobilizando o povo. Expressões idiomáticas também refletem aspectos culturais e são usadas nos meios de comunicação.
O documento discute a denominação fraseológica no humor e na política, destacando como certas expressões metafóricas são usadas para construir práticas políticas e humorísticas. Exemplos mostram como metáforas sobre inflação foram usadas no governo Sarney para personificar a inflação como um inimigo a ser combatido, mobilizando o povo. Expressões idiomáticas também refletem aspectos culturais e são usadas nos meios de comunicação.
Artigo publicado em: Revista Brasileira de Lingstica,
So Paulo, v. 13, pp. 131-141.
A DENOMINAO FRASEOLGICA NO HUMOR E NA POLTICA
Ortiz Alvarez M L UnB
Resumo: Os significados de uma lngua esto sempre em transformao, no so estticos, sendo constitudos das relaes que dizem respeito ao contexto do seu uso por cada individuo. Neste trabalho pretendemos tecer alguns comentrios a respeito do processo de denominao fraseolgica no discurso poltico e humorstico destacando aqueles aspectos relativos construo de certas prticas polticas e humorsticas que se engendram e se materializam atravs de determinados processos de discursos metafricos, efetivados em circunstncias concretas.
A lngua a chave para o corao de um povo. Se perdermos a chave, perdemos o povo. Se guardarmos a chave em lugar seguro como um tesouro, abriremos as portas para riquezas incalculveis, riquezas que jamais poderiam ser imaginadas do outro lado da porta. (Eva Engholm, 1965)
A linguagem uma realidade social e histrica, uma atividade essencialmente humana. Ela perpassa quase todas as instancias de nossas vidas: pensamos para fazer uso dela e fazemos uso dela para pensar. Atravs desta faculdade agimos, ordenamos, solicitamos, enfim, interagimos como sujeitos de nossa existncia. Portanto, os sentidos no so algo que se d independente do sujeito. Os mecanismos de produo de sentido so tambm os mecanismos de produo dos sujeitos. Nem os sujeitos nem os sentidos, nem o discurso j esto prontos e acabados. Eles esto sempre se fazendo, havendo um trabalho contnuo, um movimento constante do simblico e da histria (Orlandi, 1983).
Cada frase produzida num discurso criatividade no sentido de que ela nica e exclusiva dentro desse contexto intra e extralingstico. Assim, as frases e as palavras so atualizadas e manifestadas no enunciado de um discurso concretamente realizado de que resulta um significado exclusivo daquela situao de discurso e de enunciao. Nas lnguas naturais a denominao dos objetos resulta da relao convencional pela qual uma comunidade lingstica associa num signo, unidade ou palavra, uma imagem acstica significante-, a um objeto do mundo exterior- significado. Embora o procedimento de denominao seja comum para todas as lnguas, a associao significante/significado que cada lngua estabelece arbitrria e imotivada, no sentido de que no h nenhuma razo para que a x significado corresponda y significante. A metfora, por exemplo, est no mbito da prpria atividade lingstica, inerente s aes lingsticas do homem e , ela mesma, constitutiva dos sentidos que construmos no nosso dia a dia, abrindo caminhos ao simbolismo. Por exemplo: a expresso feijo com arroz que pode significar prato feito ou metaforicamente, lugares comuns, banalidades; a lexia composta, mesa-redonda que significa mesa para comer ou metaforicamente, grupo de discusso. Deste modo, a metfora uma grande aliada nos processos discursivos, pois muito mais fcil convencer ou persuadir algum a fazer ou pensar como queremos. Alm do seu valor comunicativo, ela apresenta funes sociais especficas. Permitem comunicar experincias complexas de um modo mais conciso que a linguagem literal. A utilizao das metforas permite buscar no repertrio do leitor imagens de que ele possa se servir para decodificar seus contedos. Lakoff e J ohnson (1980) demonstram que os processos do pensamento humano so amplamente metafricos: ... a verdade sempre relativa a um sistema conceptual que , em grande parte, definido pela metfora. A maioria de nossas metforas evoluiu em nossa cultura atravs de um longo perodo, mas muitas nos foram impostas pelas pessoas do poder lderes polticos, religiosos, comerciantes, publicitrios, etc. e pelos meios de comunicao em geral. (p.159-160). Esses autores nos mostraram o quanto s metforas so importantes no nosso dia a dia, uma vez que o nosso mundo conceitual em grande parte metafrico. Podemos fazer uma ligao de conceitos metafricos com o humor. O humor uma forma de comunicao social, a habilidade de fazer julgamento relativo ao que ou no engraado (Raskin 1985:51) A ocorrncia individual de um estimulo engraado cunhado por Raskin, analogamente aos atos de fala (Searle, 1969) como ato de humor. Cada ato de humor ocorre em uma determinada cultura pertencente auma determinada sociedade. O autor traz tona os termos de humor no intencional e humor intencional o primeiro, espontneo e percebido como engraado; o segundo artificial, estereotpico, intelectual criado para fazer rir, o que Dolitsky (1983; 47) entende por dizer o que no deve ser dito ou no dizer o que se deve, pois faz rir mais contraria as convenes pragmticas de uma comunidade lingstica. Examinemos algumas metforas sobre a inflao utilizadas desde a poca do Plano de Estabilizao Econmica do governo Sarney publicadas em revistas e jornais. As metforas com o termo inflao so comumente usadas quando se fala com relao aos aumentos constantes de preos, que j passou por uma primeira metaforizao ao lhe conferirmos o status de uma entidade, no momento que a ela nos referimos como a inflao. Por exemplo: combate inflao, luta contra a inflao, a estratgia no combate inflao. Aqui se observa a personificao que sofre o conceito. Mas tambm a metfora dessas expresses precisa, ou seja, a inflao um inimigo que temos que combater com a ajuda de estratgias planejadas. Mas nem sempre ela vista como adversrio humano. Por exemplo: uma inflao galopante, os sintomas da inflao. Por outro lado a inflao vista como uma substancia em expanso: o atual nvel inflacionrio, a inflao atingiu um patamar inaceitvel. Nesses exemplos mostra-se a transmutao de uma coisa em outra, sem que a primeira se dilua na outra, caracterstica bsica da metfora. Combater a inflao ponto de honra do governo. A inflao tem sido o por inimigo da sociedade. Ser a coragem do povo que vai derrotar a inflao. Aqui est estabelecido um estado de guerra. Com esse discurso o Presidente Sarney mostra uma nova realidade social que lhe conseguiu a adeso do povo. Todos os cidados so convocados a participar dessa luta, uma forma de incitamento. Nessa luta tambm haver um campeo, o Plano de Estabilizao Econmica. (Plano Cruzado) que criara outra metfora O plano Econmico um Cruzado na luta contra a inflao A metfora conceitual inflao um adversrio se insere na categoria mais geral da personificao, extenso das metforas antolgicas que consiste em conceitualizar/categorizar entidades ou fenmenos no - humanos em termos humanos, no sentido de atribuir a tais fenmenos caractersticas prprias de uma pessoa. Aqui a inflao no metaforicamente caracterizada apenas como uma pessoa; a expresso define uma forma bastante peculiar de pensar sobre a inflao e orientar como agir em relao a ela. As expresses idiomticas dentro desse esquema so estruturas que apresentam contextos extralingsticos que levam consigo o conhecimento de uma determinada cultura. Elas se caracterizam por serem elementos fraseolgicos que obedecem a certos critrios, pois so estruturas fixas, estudadas como um bloco lingstico. Nesse sentido Barbosa (1986: p70) aponta para esse tipo de combinao fixa que tem um valor de comunicao especfica, diferente das significaes que teriam tais lexias em combinaes livres e que no pode sofrer a mudana de nenhum dos seus elementos sem que se destrua aquela significao. A idia de fraseologia est associada a uma estruturao lingstica estereotipada que leva a uma interpretao semntica independente dos sentidos estritos dos constituintes da estrutura. Nessa perspectiva se enquadram as expresses idiomticas, frases feitas, e provrbios utilizados nas diferentes lnguas. Esse conjunto de unidades pluriverbais lexicalizadas costuma expressar um significado que no dedutvel das partes dessa combinao. Elas so aprendidas como blocos pr-fabricados e assim tambm so produzidas. Os meios de comunicao massiva (telejornais, revistas, jornais) fazem um amplo uso de expresses metafricas, s vezes alusivas a uma certa imagem que reflete a figura de linguagem empregada, sobretudo, na rea da poltica onde pode at parodia- las. Muitas vezes, num determinado artigo jornalstico se apresenta uma confluncia de sentido, por exemplo, entre um dito popular e uma declarao da industria e entre esta e o ponto de vista do jornalista, no que se refere explorao da expresso pertencente ao folclore nacional gato por lebre significando ser enganado, comprar alguma coisa pensando ser outra. Ela apresentada em manchete e transmite a dimenso do problema, analisado com detalhes no decorrer do texto. Exemplo: Computador nacional gato por lebre, reclamam industrias. (Folha de So Paulo, 26/06/91 p 1-13). Outras vezes, palavras em sentido figurado podem ter um significado sarcstico, irnico, outros levam a possveis polmicas, transferindo ao alocutario a responsabilidade pela sua interpretao e avaliao de sua adequao. Assim, as metforas constituem o percurso figurativo do texto jornalstico, a comear pelo titulo, apresentam estruturas de poder caracterizadas pela persuaso e mecanismos de manipulao com as modalidades poder-fazer-querer e poder-fazer-saber, segundo Pais (1999). Amigo e para essas coisas. O ministro do Trabalho Francisco Dornelles empregou no Sebrae a mulher do presidente de uma autarquia federal que diz cobras e lagartos dele. O ingrato apadrinhado tambm no se vexou de usar um nibus do Sebrae, com animadores infantis, para festejar o aniversario da filha, no interior do Rio. E ainda empregou o genro de um ilustre diretor da TVE. Exemplo: A casa de me Joana. FHC prometeu treinar 17 milhes de trabalhadores, soltou dinheiro, mas a verba some pelo caminho. Exemplo: A farra fiscal acabou. Ateno, novos prefeitos: quem gastar mais do que arrecada pode ver o sol nascer quadrado. S os observadores mais notaram quando a Lei de Responsabilidade Fiscal mostrou seus dentes pela primeira vez, durante a campanha eleitoral... Exemplo: Mais uma vez o nosso ministro Serjo chutou a bola fora, agora em relao ao aumento das tarifas telefnicas. (Folha de So Paulo, 16/04/1997) equivale a cometer um erro um equivoco. No caso dos provrbios, eles tm natureza atributiva como observaremos na seguinte amostragem, uma notcia sobre a visita de uma comisso de especialistas alemes em criminologia e violncia ao 43 o Distrito Policial de So Paulo. Quando a imprensa pede a opinio de um deles, no obtm resposta explcita; Fomos bem atendidos, houve abertura para vermos tudo, desde a Febem at a Casa de Deteno. No vou comentar nada. Sigo o ditado alemo segundo o qual cada um varre a sujeira de sua prpria casa O locutor utiliza um estratagema em que se furta a fazer um comentrio sem, contudo deixar de faz-lo, ao citar o provrbio, pois menciona indiretamente a situao calamitosa (sujeira) do sistema penitencirio no Brasil. Assim, emite seu julgamento de modo velado para evitar chocar os brasileiros. Com o surgimento dos dirios, se pode observar a presencia do humor com um contedo poltico. A caricatura dos personagens polticos era freqente e estava acompanhada por alguma crtica relacionada a um personagem vinculado ao poder do momento ou a suas aes. O substantivo humor comeou por ser usado pelos protocientistas da Antiguidade e da Idade Mdia para designar os quatro fluidos que se acreditava influenciarem o corpo e o temperamento. Eram eles a blis ou clera, o sangue, a fleuma e a melancolia. Atualmente, os cientistas sabem que h outros humores em circulao no corpo humano e conseguiram estabelecer a relao entre eles e o humor de que aqui se fala, e que justifica a transmutao do sentido original da palavra. A verdade que o humor tem regras que, no sendo necessariamente enumerveis sob a forma de lei, so essenciais para a sua eficcia. Conhecido praticante e estudioso do humor Rui Zink explica que o discurso humorstico assenta numa regra basilar: todo ele segundo sentido, conotao. um discurso dplice logo partida. Da que muitos textos humorsticos percam sentido, passado o seu tempo ou a sua poca, j que a chave lhes dada pelo contexto. Isto implica que, como acrescenta Zink citando Todorov, o dito do esprito (...) necessita de um terceiro a quem possa participar o seu xito, algo que j havia sido assinalado por Freud ao constatar que no gracejo, o cmplice tem capacidade para decidir se a elaborao do esprito atingiu o seu fim, como se o eu no estivesse seguro do seu prprio juzo de valor. A arte do humorista est justamente em a partir da realidade existente, criar uma outra mais ou menos delirante, mais ou menos sarcstica, mais ou menos crtica, mais ou menos piadtica e onde se diz, com freqncia, o contrrio daquilo que se quer dizer. Isto vlido para as anedotas, para os livros e para as canes. Tendo, por regra, a ironia como ponto de partida, o uso de recursos como o paradoxo, o eufemismo, a hiprbole ou a perfrase, raramente podem ser considerados excessivos (e muitas vezes so mesmo indispensveis) num texto de humor, onde podem surgir misturados com alegorias, metforas e metonmias. Tolerada como um mal menor nas democracias, a atividade humorstica d-se muito mal com as ditaduras. Os tiranos no gostam de ser objeto do escrnio da populao pelo que, invariavelmente, fazem tudo para calar no apenas as vozes dissonantes, mas tambm as gargalhadas contagiantes. E procuram, atravs da represso e da censura, calar os que insistem em no os levar a srio. Tarefa inglria est claro, uma vez que as anedotas se propagam a uma velocidade que torna inoperante qualquer sistema policial. Assim, o humor aporta elementos importantes para analisar a realidade, pois a sua forma de express-la permite ao leitor, alm da dureza com que o faz, acompanhar ou no essa crtica, de una maneira dinmica e participativa. Santiago Varela (2001) enfocao humor associado com a stira e a ironia que adquire a forma final de um monlogo. Este utilizado como uma maneira idnea de descrever criticamente a realidade. E acrescenta, que uma das funes do humor ver as cosas do outro lado e mostr-las na forma contundente de um gag, um gesto ou um desenho (...) o melhor humor aquele que melhor reflete a realidade. Aos poucos o humor foi se expandindo, no s se referia ao social e ao cotidiano, mas tambm ao discurso poltico. O humor poltico foi ocupando um espao importante, enquanto a sua relao com o poder. A caricatura poltica constituiu um elemento fundamental no jornalismo grfico, e teve e tem um valor expressivo. muito til para burlar-se de um personagem poltico ou uma situao. como uma epigrama de urgncia: breve e afiado (Vivaldi, 1993). Atualmente, o humor poltico tem representatividade nos meios de comunicao. Ele tem se constitudo um atraente recurso aos que apela grande quantidade de programas televisivos, radiais e meios grficos, os quais incorporam sua programao a edio, elementos humorsticos com um sentido crtico. O humorista tem como objetivo criticar algum aspecto social, econmico e, sobretudo quando se trata de algum tema poltico - no qual geralmente esto envolvidos os funcionrios pblicos. O humor poltico est vinculado ao poder poltico atual de uma poca determinada. Mas no uma vinculao direta com esse poder, como recurso de crtica, stira ou burla. Assim, argumenta Matallana (1999), o humor poltico para exercer um efeito cmico, no pode ser oficialista, sempre trata de ser crtico, em alguns casos, claramente opositor, inconformista com a situao qual se enfrenta, delineando em seus textos caricaturas a um oponente. Analisemos outro exemplo: Operrio perde a cabea e vira uma fera quando o gerente anunciou que a fbrica cortaria funcionrios para enxugar a folha de pagamentos. (manchete) Vejamos, o que significa "perder a cabea", "virar uma fera", "cortar funcionrios" e "enxugar uma folha de pagamentos? Somente lanando mo de uma leitura metafrica, possvel alcanar o significado dessas expresses, que, se "traduzidas" poderiam gerar a seguinte notcia: Operrio, privado de razo, encoleriza- se quando o gerente anunciou que a fbrica demitiria funcionrios para reduzir despesas com salrios. Convenhamos, a verso original infinitamente superior... O uso de uma linguagem que quebra as expectativas do leitor ou ouvinte, ao introduzir analogias o mais prximas possvel do universo desse interlocutor, acaba por se tornar um instrumento poderoso de persuaso. E explica-se: ao aproximar elementos parecidos, tornando-os verdadeiros, acaba-se transformando os outros aspectos envolvidos na interao tambm verdadeiros. A metfora acaba, dessa maneira, transformando-se em poderoso instrumento de convencimento. Atravs dela, conquista- se a garantia de que se est transmitindo um conhecimento de forma compreensvel e convincente, apesar de simblica, sem prejuzo das "verdades" defendidas. "Como o Brasil est na UTI, eu coloquei um mdico para ser ministro da Fazenda. (Luiz Incio Lula da Silva, presidente eleito do Brasil, referindo-se a Antonio Palocci, seu futuro ministro da Fazenda, que mdico. Veja, 18.12.2002)". Como discordar da indicao de um mdico nesse contexto? "Lula: 2003 o ano do angu quente (manchete). Presidente diz que a situao grave (subttulo). Braslia - Este ano um ano de comer angu quente. E no vamos nem comer pelas beiradas - disse Lula, segundo relatou o senador Marcelo Crivella (PL-RJ)". (Jornal do Brasil, 28.02.2003) Aqui, a metfora foi construda a partir de um referencial - o angu - bem prximo do pblico a que se destina - os brasileiros. Alm disso, devemos observar a inteligente utilizao da forma verbal na primeira pessoa do plural - "vamos" - que imprime ambigidade afirmao: quem, afinal, vai comer esse angu? Quem constitui o "ns"? Apenas os que fazem o governo? Ou tambm ns, brasileiros, vamos sofrer nesse ano de 2003? Palavras em sentido figurado podem ter um significado sarcstico, irnico, outros levam a possveis polmicas, transferindo ao alocutario a responsabilidade pela sua interpretao e avaliao de sua adequao. Portanto, as metforas constituem o percurso figurativo do texto jornalstico, a comear pelo titulo, apresentam estruturas de poder caracterizadas pela persuaso e mecanismos de manipulao com as modalidades poder-fazer-querer e poder-fazer-saber, segundo Pais (1999). Os autores parecem brincar com restries da lngua, criando construes sintticas aparentemente anmalas, criando efeitos de sentido engraados, subversivos, com jogos de palavras que so bem manipulados. Assim, como foi mostrado atravs desses exemplos, a metfora estratgia poderosa, tanto no dia-a-dia como em espaos privilegiados como o da poltica. Quem a utiliza, muitas vezes, alm de "falar bonito" convence seu interlocutor e at impede polmicas acerca do que se diz.
Consideraes finais O estudo da dinmica de renovao lexical relevante porque atravs dela que observamos mais claramente as transformaes que ocorrem dentro do sistema de valores grupalmente compartilhados e suas respectivas mudanas, ligadas s necessidades sociais do grupo. Assim, os significados de uma lngua esto sempre em transformao, no so estticos, sendo constitudos das relaes que dizem respeito ao contexto do seu uso por cada individuo. Portanto, a linguagem como sistema de produo de signos, e fator de entendimento congemina o bem-estar social, de que resulta a circulao dos signos como produtos de alto preo na prxis da vida. Numa concepo dinmica do sistema e de suas relaes com a produtividade discursiva torna-se difcil estabelecer limites precisos entre as unidades lexicais consideradas como unidades memorizadas ou convencionadas e as seqncias sintagmticas produo exclusiva de um discurso. Cada frase produzida num discurso criatividade no sentido de que ela nica e exclusiva dentro desse contexto intra e extralingstico. Dessa forma, as frases e as palavras so atualizadas e manifestadas no enunciado de um discurso concretamente realizado de que resulta um significado exclusivo daquela situao de discurso e de enunciao. Neste trabalho buscou-se avaliar a importncia de alguns processos metafricos na construo de determinadas prticas discursivas constitutivas da realidade poltica brasileira, com um pouco de humor. O humor, por exemplo, mostra a rebeldia e a independncia de quem o utiliza e seu afastamento da ideologia dominante, censurando regimes polticos, moralizas perniciosas, fervores patriticos e tambm desmistificando os bules do poder (Checa, 1992:61). Todas as atitudes e os pensamentos cuja expresso pblica os indivduos devem reprimir obrigados pelas constries sociais podem utilizar o humor para salva-las e, fazendo-os pblicos, diminuir as tenses originadas por esses limites culturais. No estranho, portanto, que sejam aquelas dimenses do social mais submetidas represso as que com maior freqncia se tratem de forma humorstica ou jocosa. O humor reveste de certa imunidade todas as suas expresses e permite-se de algumas licenas que de outro modo estariam proscritas. Este potencial subversivo o faz especialmente perigoso para o poder. Em sociedades em que a liberdade de expresso est limitada, a utilizao do humor pode constituir um recurso com o que sortear a censura oficial, embora tambm nestas sociedades, as autoridades freqentemente ser especialmente severos com os humoristas e suas crticas. Constatou-se que a linguagem um lugar de movimento, de surpresa, de deslocamento. Descrever esse movimento discursivo da linguagem significa explicitar o que se passa. Por sua dinamicidade a linguagem em funcionamento pe em relao sujeito e sentidos e efetiva-se num complexo processo de constituio de discurso e de produo de sentidos. Desse modo o discurso congrega inmeros recursos persuasivos, mobilizados para a consecuo de um determinado fim. A partir da explorao do contedo semntico das palavras e de suas possibilidades combinatrias, um autor pode abrir mo das formas lgicas e mostrar o valor de uma frase, tal e como ela se apresenta no discurso, atravs do sentido figurado, evitando que a mesma perca sua expressividade.
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