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Introdução
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Revista Teste Treinamento SEER / UERJ
A imagem da mulher nos minicontos foi o que nos orientou na escolha de nosso
material de análise. Quase a totalidade do livro é repleta de minocontos altamente
metafóricos, beirando algumas vezes a literatura fantástica. Entendemos que foi através
de uma linguagem figurada que Marina Colasanti mais investiu na conscientização do
público feminino, tocando fundo nas consequências da submissão, deixando o final dos
contos sempre aberto para a reflexão.
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A proposta inicial para os estudos dos minicontos era partir do conceito de nicho
metafórico como categoria de análise. Por ser uma “unidade de análise da metáfora em
uso” (VEREZA, 2013, p.111), entendemos que esse conceito daria conta das análises,
uma vez que toda a linguagem metafórica nos minicontos é episódica e surgem a partir
de uma construção online. Para Vereza
Optamos por não restringir nossa análise em uma categoria específica – o nicho,
no caso – porque isso deixaria de fora outras questões importantes para a compreensão
dos textos. Metáforas ontológicas e orientacionais (LAKOFF; JOHNSON, 2003)
frequentemente aparecem no nicho, são instanciadas, mas não são ativadas (VEREZA,
2013, p.111-2), uma vez que são “materializadas verbalmente”, mas não estão no foco
do sentido, permanecem off-line, apenas construindo a base do sentido metafórico do
miniconto como um todo.
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Para sistema de restrições semânticas, ver MAINGUENEAU, 2007, cap.5.
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As Análises
2) Amor rasgado – expressão de uma época. Embora ainda possa ser acionado,
este frame pode se perder no curso da história. O sentido de “rasgado” poderia assumir
uma acepção negativa se o domínio fonte, numa metáfora ontológica, for “papel” (amor
é papel); porém, na expressão “amor rasgado”, acreditamos que a acepção tenha origem
na segunda acepção do Dicionário Aurélio (AURÉLIO, 2010) – vasto, amplo, extenso,
desembaraçado (tal como em “céu rasgado”) –, uma vez que o senso comum é positivo,
com sentido aproximado em “amor é amplidão”. Quem viveu um amor rasgado, o viveu
intensamente.
O sentido trazido pelo título – contos de amor que não deram certo – permeia o
livro como um todo. Porém, o Texto 1, como prólogo, nos apresenta apenas um
personagem e a relação com o “amor que não deu certo” será inferido na leitura dos
contos subsequentes.
Texto 1
Prólogo
Enfim, um indivíduo de idéias abertas
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Essas imagens são criadas por nicho metafórico (online). A metáfora conceptual
aberto é bom é bastante comum em língua portuguesa, mas não apenas. Seria possível a
formulação de sentido negativo para aberto, como em “sua intimidade aberta
incomodava a vizinhança”, em que aberto é ruim.
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ludibriar o leitor, como coceira, ouvido, pavilhão, a garantia de que não se tratava de
uma cirurgia médica é dada pelo acionamento de frames que envolvem destrancamento
por chave e cabeça aberta.
Texto 2
Por preço de ocasião
Comprou a esposa numa liquidação, pendurada que estava,
junto com outras, no grande cabide circular. Suas posses não lhe
permitiam adquirir lançamentos novos, modelos sofisticados.
Contentou-se pois com essa, fim de estoque, mas preço de ocasião.
Em casa, porém, longe da agitação da loja – homem escolhendo
mulher, homem pagando mulher, homem metendo mulher em saco
pardo e levando às vezes mais de uma para aproveitar o bom negócio
– percebendo que o estado da sua compra deixava a desejar.
“É claro”, pensou reparando na sujeira dos punhos, no
amarrotado da pele, nos tufos de cabelos que mal escondiam rasgões
do couro cabeludo, “eles não iam liquidar coisa nova.”
Conformado, deitou-a na cama pensando que ainda serviria para
algum uso. E, abrindo-lhe as pernas, despejou lá dentro, uma por uma,
brancas bolinhas de naftalina.
(COLASANTI, 1986, p.13)
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O Texto 3 é mais complexo, porque o papel das metonímias tem tanta relevância
quanto as metáforas.
Texto 3
Até que a palavra fosse possível
Brigavam, se digladiavam, sofriam. E ainda assim se queriam.
Razão pela qual decidiram viver em separação de corpos.
Da estrutura aparentemente compacta de carne, ossos, músculos
trancados na elasticidade da pele, separam um a um os sentimentos,
embora alguns, entretecidos nas fibras como invisíveis ligaduras
daquele palpitar, parecessem indispensáveis para a sustentação do
todo. Mesmo esses, com firmeza de bisturi foram retirados,
amputando-se também aquelas partes do sentir mais entranhadas,
cujos limites já não mais se distinguiam, afogados em sangue.
Por fim, livres de tudo o que lhes provocava atrito e
desencontro, deitaram-se lavados sobre a cama, brancos corpos
possuindo-se sem nenhuma pergunta. E sem qualquer perigo de
resposta.
(COLASANTI, 1986, p.67)
“Carnes”, “ossos”, “músculos” e “pele” são partes pelo todo, metonímia para
corpo. Um corpo que é container, trancado sob a pele, onde se guarda os sentimentos.
Sentimentos esses que são separados da estrutura compacta subcutânea do container. Os
sentimentos assumem outras metáforas conceptual (no caso, ontológicas): sentimento é
tecido (entretecidos na fibra), sentimento é pilastra (sustenta o todo) e, pela metonímia
“partes do sentir”, sentimento é membro (amputado). O léxico aqui é especializado,
entranhas, fibras, palpitar, bisturi, amputação, sangue, elasticidade da pele, carnes,
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ossos, músculos, forçando frames de saúde > medicina > cirurgia, implicando o
sofrimento pela separação.
Texto 4
Prova de amor
“Meu bem, deixa crescer a barba para me agradar”, pediu ele.
E ela, num supremo esforço de amor, começou a fiar dentro de
si, e a laboriosamente expelir aqueles novos pêlos, que na pele
fechada feriam caminho.
Mas quando, afinal, doce barba cobriu-lhe o rosto, e com
orgulho expectante entregou sua estranheza àquele homem: “Você não
é mais a mesma”, disse ele.
E se foi.
(COLASANTI, 1986, p.165)
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O nicho metafórico faz revelar a atitude passiva da mulher diante do amado, que
se transforma e essa transformação aciona o frame de “mulher’, que ao se tornar
barbada passa a ser uma aberração da natureza.
Conclusão
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Essa opção, porém, não é tão fácil como requentar almôndegas. A linguagem
figurada exige, como vimos, uma capacidade de condensação de sentidos às vezes
díspares, às vezes paradoxais, para conseguir um sentido outro, mais impactante. É
através dessa linguagem impactante que Marina Colasanti constrói um universo
feminino submetido ao homem, ou numa relação de crise, numa situação de completa
desvantagem para a mulher.
Referências
COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. 208 p.
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LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Metaphors we live by. London: The university
of Chicago press, [1980]2003.
LAKOFF, G. Don't think of an Elephant!: know your values and frame the debate.
Vermount chelsea green Publishing, 2004, apud VEREZA, Solange. Entrelaçando
frames: a construção do sentido metafórico na linguagem em uso. Cadernos de
Estudos Linguísticos, 55(1) Campinas, jan./jun. 2013, pp. 109-124.
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco narrativo. 5 ed. São Paulo: Ática, 1992. (Série
Princípios)
MESQUITA, Samira Nahid de. O Enredo. 2 ed. São Paulo: Ática, 1987. (Série
Princípios).
PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Perseu
Abramo, 2003. 120 p.
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