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RESENHA Fonética e Fonologia do Português

Prof. Waldemar Ferreira Netto

Nome: Manoela Maria Barbara Ferreira – Matutino – Nº USP: 7193670

MARTELOTTA, Mário Eduardo; WILSON,


Victoria. Arbitrariedade e Iconicidade.
Manual de Linguística. 14 páginas.

ARBITRARIEDADE E ICONICIDADE:
UMA ABORDAGEM SUCINTA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

O texto resenhado é um dos capítulos que compõe o livro Manual de Linguística. Obra
voltada para estudantes, principalmente de letras e áreas afins, e que se propõe a introduzir
informações a respeito da ciência linguística, bem como estimular a investigação da
linguagem.

O capítulo aborda conceitos da linguística e da filosofia da linguagem de maneira


didática, ordenando cronologicamente as ideias, demonstrando como vão surgindo conceitos e
correntes para tecer o que vem a ser “arbitrariedade e iconicidade”.

Logo no inicio deste capítulo, os autores fazem uma breve explanação a respeito de
arbitrariedade e iconicidade do signo linguístico, com o intuito de guiar o leitor que ainda não
está habituado a estes termos. Primeiramente, apresentando reflexões acerca das ideias que
abrangem estes dois termos na Grécia Antiga, através dos diálogos de Crátilo, Hermógenes e
Sócrates, depois conceituando os dois termos.

Depois, trazem estes termos para a discussão moderna, citando o linguista suíço
Ferdinand de Saussure que foi o precursor da investigação e inauguração do que seria a
ciência Linguística, que constituiria “um ramo de uma ciência maior: a semiologia ou
semiótica, a ciência dos signos”.

Para construir a linha de raciocino, os autores vão explanar nesta segunda parte do
texto, conceitos concernentes ao tema, como a noção de signo na visão da semiótica, com
Charles Sanders Peirce, filósofo norte-americano.
Assim, a semiótica será abordada no âmbito da linguagem e da comunicação,
destrinchando a definição de signos em “símbolo, índice e ícone”.

Símbolo é apresentado como algo que estabelece uma relação entre dois elementos,
índice possui uma relação mais natural entre seu significado e ícone apresenta propriedades
que se assemelham ao objeto a que se refere, sendo que nos dois últimos há um nível menor
de arbitrariedade.

O texto apresenta alguns exemplos que são cruciais para o entendimento destes
conceitos, como a cruz sendo o símbolo do cristianismo, nuvens negras como índice de chuva
iminente e fotografia de um individuo como sua representação icônica.

Após esta introdução a semiótica, o foco será redirecionado nesta parte do texto para
os estudos linguísticos, mais precisamente para Saussure, que lançou os pilares destes
estudos.

Portanto, neste momento os autores ocupam-se de conceitos como signo linguístico


(termo cunhado por Saussure), e traçam dois referenciais para abordar o tema da
arbitrariedade e iconicidade: a visão estruturalista, mais estática e a tradicional, mais dinâmica
já voltada aos estudos funcionalistas.

Dentro deste tópico, ainda demonstrando esta dicotomia, o leitor é conduzido ao


conceito de arbitrariedade relativa da língua, apresentando de um lado o signo linguístico e do
outro as motivações da língua, sendo que esta última é destrinchada em três tópicos:
Motivação fonética, Motivação morfológica e Motivação semântica.

Aqui novamente teremos exemplificações diversas para sanar quaisquer dúvidas a


respeito dos conceitos, como casos onomatopaicos (“cocorocó” e “sussurrar”) para qualificar
a motivação fonética, construções como leiteiro, (que se dá a partir do radical leite e sufixo
eiro, que designa ocupação), para falar das motivações morfológicas, e pé de mesa e braço de
cadeira (que se ligam ao sentido das palavras), para a motivação semântica.

Neste momento, tendo como embasamento estudos funcionalistas, de linguistas como


Werner e Kaplan e Heine, o capitulo vai se voltar para uma abordagem contemporânea da
língua, que prisma situações reais de comunicação, onde o foco de análise reside no homem e
nos contextos sociais. Desta maneira, através de exemplificações, o texto leva o leitor até a
compreensão de como ocorre o processo de construção de novos termos em uma linguagem,
aprofundando-se na questão das metáforas.

De modo mais minucioso, o conceito de iconicidade será retomado, através da


observação de Bolinger, precursor do funcionalismo norte americano e conceitos traçados por
Talmy Givón, através de exemplificações que demonstram como se manifesta a iconicidade.

Próximo a ultima parte, teremos um posicionamento mais visível dos autores,


colocando em evidência que as construções não se produzem de modo arbitrário, mas que a
sua motivação acaba se perdendo com o tempo e também que a iconicidade é uma “motivação
entre forma e sentido”, mas que não interfere somente nas palavras, e sim na estrutura da frase
e do texto, visando a função comunicativa que cada forma desempenha.
O texto como um todo, se tece a partir de explicações de expressões e observações de
fenômenos, que são apresentados por diversos ângulos, considerando diversas vertentes,
demonstrando que as questões que envolvem arbitrariedade e iconicidade não podem ser
concebidas de maneira simplista.

A linguística é tratada de maneira clara e concisa, com linguagem clara e objetiva,


guiando o leitor, passo a passo e atentando-se sempre ao “gancho” entre uma abordagem e
outra para que o raciocínio não se perca nas questões apresentadas.

Tanto para o leitor iniciante, quanto para aquele que precisa revisar, esta obra se revela
um achado precioso, pois trata de conceitos que são ao mesmo tempo básicos e fundamentais
acerca da Linguística, guiando este leitor a uma compreensão plena das terminologias.

No entanto, é interessante frisar que os autores não expõe o tema como um tratado
completo e terminado, eles conceituam, trazem as informações e de certo modo demonstram
um posicionamento, mas deixam claro que as linhas de pensamento variam e questões que
envolvem a linguagem são ainda hoje polêmicas.

Para frisar esta ideia o último paragrafo apresenta diversas questões que estão longe de
atingirem um consenso:

“De que forma o homem codifica o universo à sua volta? Qual a relação entre a
mente humana e a linguagem, e entre esta e a cultura? É possível analisar a linguagem sem
levar em conta os aspectos associados ao seu uso em situações concretas de comunicação?”

O texto tem inicio e fim com as mesmas indagações acerca dos mistérios em torno da
linguagem, da sua relação com o mundo, e do funcionamento da mente humana. E para não
calar com respostas prontas os autores, de maneira inteligente, devolvem as perguntas ao
leitor.

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