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Noção de Semântica1
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Apontamentos gentilmente partilhados pelo Professor José Tchindjendje Tchikwamanga.
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gatos são pardos”. Logo, nem todo lexema é uma palavra, às vezes é um
conjunto, em geral idiomático: favas contadas, nabos em saco, etc. Nesse
caso, falamos em sentido figurado, oposto a sentido literal.
2. Origem e Interdisciplinariedade
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também da lei de repartição (trata do aspecto da sinonímia, ou quando uma
palavra deveria ser sinónima de outra e adquiriu significado diferente), e
trata ainda do fenómeno da irradiação (acção analógica lenta e gradual
sobre um certo número de lexemas ou morfemas), bem como outros
fenómenos: restrição, ampliação semântica, metáforas e o espessamento de
sentido.
Bréal estuda a Semântica sob uma óptica diacrónica ou evolutiva.
A partir de Saussure, com o “Curso de Linguística Geral”, instaura-se a
Semântica Estrutural, pois essa recebe um tratamento sincrónico. “Os
problemas de Semântica diacrónica que sugiram com a obra de Bréal foram
sendo relegados a segundo plano. Daí surgirem até os anos 60 os trabalhos
que se voltaram ora para uma Semântica Lexicológica ora para uma
Semântica Sintáctica.” (Castim,1983: 50)
Assim, foi a Linguística que introduziu o conceito de semântica. É ali
onde a Semântica começou com sendo o estudo do significado das palavras
da linguagem.
Torna-se importante salientar a relação que a esta disciplina estabelece
com outras três disciplinas linguísticas que intervêm numa expressão com
significado: a Sintaxe, a Lexicografia e a Pragmática.
A Semântica é o estudo do significado atribuível a expressões
sintacticamente bem formadas. A Sintaxe estuda as regras e os princípios
sobre como construir expressões interpretáveis semanticamente a partir de
expressões mais simples, mas em si mesma não permite atribuir
significados, embora a construção de uma frase tenha peso no significado
de uma palavra ou expressões.
A Semântica examina o modo em que os significados se atribuem às
palavras, as suas modificações através do tempo, já que as palavras são
povos que migram e enriquecem os seus significados, através do contacto
reprodutivo. O uso da palavra enriquece, preserva e faz evoluir os seus
possíveis significados, e os traços históricos desse uso fazem o legado de
uma cultura. Como na genética, há nesse uso um jogo invisível de luta
contínua pela sobrevivência e predominância de significados.
A Lexicografia é outra parte da Semântica que trata de descrever o
significado das palavras de um idioma num momento dado e costuma
exibir o seu resultado na elaboração de dicionários.
Por fim, a Pragmática refere-se a como as circunstâncias e o contexto
ajudam a decidir entre alternativas de uso ou interpretação; graças à
Pragmática a linguagem pode ser usada com fins humorísticos ou irónicos.
Ademais a Pragmática reduz a ambiguidade das expressões, seleccionando
só um conjunto adequado de interpretações num determinado contexto.
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3. Correntes de Pensamento da Semântica
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Papel temático é um termo que designa o tipo de relação semântica que se encontra
associada aos argumentos de um predicador, ou seja, ao sujeito e aos complementos de um
verbo ou simplesmente aos complementos de um substantivo ou adjectivo.
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A semântica lexical inclui teorias e propostas de classificação e
análises do significado das palavras, as diferenças e similaridades na
organização do léxico de diversos idiomas e a relação entre o significado
das palavras e o significado das orações e a Sintaxe.
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do significado dicionarizado. Segundo, a descrição de um semema em
termos de semas não prevê toda a variedade de realizações possíveis de
uma entidade no mundo real, uma vez que existem por exemplo, cadeiras
com braços e até sem pés; daí que esta análise veio a ser reformulada em
função dos conceitos de imagem mental e de protótipo. Terceiro, ao
contrário da fonologia em que existe uma lista fechada de traços
fonológicos, não parece haver limites no inventário de semas, o que torna a
análise sémica dependente da tipologia encontrada por cada semanticista.
Contudo, apesar das dificuldades teóricas apresentadas e de outras
também existentes a análise sémica foi aplicada com sucesso ao ensino de
línguas, ao nível da aprendizagem do vocabulário, uma vez que permite
resolver problemas de tradução e de interpretação geral do léxico.
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um campo lexical) e o campo semântico organiza-se pelo sentido (valor
semântico) que a palavra (ou a expressão) pode adquirir conforme o
contexto em que acontece ou pelas relações precisas com um determinado
significado.
Podemos, de forma prática, quase dizer, que o campo lexical remete
para os significantes e o campo semântico para os significados.
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quais o falante se depara quando codifica a sua mensagem. Os aspectos
sintagmáticos do significado lexical, por outro lado, servem à coesão do
discurso, adicionando informação necessária à mensagem, ao mesmo
tempo controlando a contribuição semântica de elementos individuais da
enunciação através da desambiguidade, por exemplo, ou pela sinalização
de estratégias alternativas –e.g. figuração- de interpretação. CRUSE
(1986: 86).
O trabalho de Cruse (1986) está direccionado, sobretudo para as
relações paradigmáticas – oposição, hiponímia, sinonímia, etc. – muito
embora dedique também um capítulo às relações sintagmáticas (cap. 2),
como por exemplo, restrições de colocação dos elementos frásicos.
As relações sintagmáticas e paradigmáticas podem ser utilizadas para
definir e caracterizar graus de inadequação. Segundo Cruse, quando uma
relação sintagmática que origina uma certa estranheza, pode, por meio da
substituição de itens lexicais presentes por itens ausentes
paradigmaticamente relacionados, amenizar, ou dar cabo de tal dissonância,
tal relação pode ser entendida como um caso de relação de inadequação a
qual, por sua vez, pode ser entendida como uma relação onde há uma
restrição de colocação por parte do termo selector. Ilustra tal asserção feita
por Cruse o seguinte exemplo:
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palavras que percebemos e somos capazes de descrever não constituem
padrões fixos e imutáveis, derivados da significação intrínseca dos itens
lexicais. Acreditamos que isso não diminui o valor de tais descrições como
instrumentos meta linguísticos – instrumentos sempre parciais, é verdade,
mas ainda assim potencialmente iluminadores. Contanto que não percamos
de vista a sua parcialidade, podemos utilizar tais instrumentos como
explicações legítimas sobre os usos das palavras nas línguas humanas.
O reconhecimento de que a situação do discurso altera
potencialmente a nossa percepção das relações lexicais está presente, de
resto, mesmo em abordagens menos radicalmente pragmáticas como as de
Cruse (1986), Lyons (1990), Saeed (2003), e Pietroforte e Lopes (2003),
para os quais a situação do discurso desempenha um papel fundamental nas
relações entre os sentidos dos itens lexicais em questão.
Assim, diz-nos Saeed a respeito disto: Os efeitos contextuais podem
também mover os sentidos de uma palavra para outra direcção, por meio
da criatividade e mudança semântica . Saeed (2003: 60)
Cruse, à semelhança de Saeed, admite também a importância da
situação do discurso nas relações de sentido, reconhecendo, na sua
abordagem contextual, que os contextos relevantes podem incluir contextos
situacionais extra linguísticos. (1986, p. 1).
Pietroforte e Lopes (2003) reconhecem, assim, a importância da
situação do discurso nas relações de sentido e declaram, ao definirem
termos sinónimos, o seguinte:
No discurso, o falante pode tornar sinónimas palavras ou
expressões que noutro contexto não o são.
Pietroforte e Lopes (2003: 126)
a) Antonímia
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um antónimo dependerá sempre não só do contexto como da situação do
enunciado” (Olano, 2004:321)4.
A afirmação de que toda a palavra pronunciada faz recordar o seu
sentido oposto permite operar um processo de conexões de significado no
léxico mental do indivíduo, através da associação dos seus traços
distintivos. Além disso, cada lexema pode ser comparado a qualquer outro
num espaço multidimensional estruturado em termos de oposições. De
acordo com Lyons (1977: 219), esta oposição de significado entre lexemas
é designada por antonímia.
Este termo apareceu por volta do século XIX para descrever a
oposição de significado e, desde então, é visto, frequentemente, como o
oposto da sinonímia, embora isso não possa ser entendido de forma tão
simplista5. Genericamente, pode dizer-se que o conceito de antonímia
envolve um sentido de contrariedade semântica, de negação, de oposição
binária, de “graduação” e de “propriedade” (Olano, 2004:321). Para se
cumprir a relação de oposição são três os requisitos: uma dicotomia que
impõe a existência de dois termos, a inerência do par de opostos e, por
último, a expressão explícita da oposição contida naquele par (Vidal,
2007:72). Dado que esta dicotomização entre lexemas é o princípio que
governa o sistema das línguas, a abordagem da antonímia é fundamental na
estruturação lexical de uma língua, embora se manifeste de formas diversas
e com propriedades diferentes em função da perspectiva teórica adoptada.
Carmen Varo (2007:57e58) enumera alguns critérios lógicos
concebidos por Aristóteles para a caracterização da antonímia: a
reciprocidade, que implica a relatividade entre os opostos; a gradação, que
sugere a existência de um lexema intermédio entre os opostos; a presença
ou ausência de uma qualidade, que abrange apenas uma unidade lexical não
a tornando oposta; a afirmação versus a negação, que se relacionam com
aquilo que o lexema poderá ter de verdadeiro ou falso e, por último, a
implicação, que pretende mostrar que a existência de um oposto não
implica necessariamente a do outro. Em última instância, a eleição de um
antónimo depende do contexto.
Cruse (2004:162) considera que esta relação é a única a ter um
reconhecimento lexical directo na linguagem diária, existindo diferentes
manifestações da relação antonímica, tais como o domínio conceptual
dividido por antónimos, a focalização da atenção sobre coisas diferentes e a
categorização de dois membros da relação. Por isso, como também lembra
Ezquerra (2003:76), os antónimos encontram-se em determinados âmbitos
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Optou-se por utilizar os termos antonímia e sinonímia na designação genérica deste trabalho por terem
um sentido mais lato e serem mais reconhecidos no âmbito da didáctica. Contudo, desejo aqui ressalvar
que serão também utilizados os termos opostos e equivalentes, no sentido de acentuar o traço sémico
que melhor os distingue.
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No entanto, a antonímia como conceito e objecto de estudo é conhecida desde a Antiguidade Clássica
(Varo, 2007:11)
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significativos para expressarem qualidades e valores, sentimentos e estados
de alma, quantidades e dimensões, movimentos, processos reversivos,
localização espacial, o realizável e o hipotético, relações cronológicas e
estados opostos entendidos como tal. Vilela (1994:194) reforça esta ideia
ao salientar que “[a] língua portuguesa é toda ela atravessada pela oposição
antonímica em diferentes coordenadas e tipos.”
Como já foi referido, a classificação dos opostos lexicais foi objecto
de várias propostas tipológicas. Este trabalho basear-se-á nos estudos
desenvolvidos pelos linguistas Lyons (1977) e Cruse (2004)6,
apresentando-se, de seguida, um esquema-síntese das respectivas propostas
tipológicas.
conjuntos seriados
não binários
conjuntos cíclicos
Cruse Opostos
conversos ou inversos
lineares direccionais
privativos
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Outros teóricos serão aqui, também, referidos sempre que se impuser essa necessidade .
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Este tipo de contraste defendido por Lyons implica uma relação entre os lexemas que envolve a
incompatibilidade. Essa relação de oposição pode acontecer entre conjuntos seriados e cíclicos. Nos
primeiros, cada membro do conjunto tem o seu lugar na série entre dois outros membros, um inicial e um
final. Os conjuntos seriados podem ter escalas quando se refere, por exemplo, a «muito bom», «bom»,
«suficiente» ou graus, às categorias militares ou até às notas escolares. Relativamente aos conjuntos
cíclicos, cada membro tem o seu lugar no ciclo entre dois outros membros em que há uma ordenação
sucessiva como, por exemplo, nas estações do ano, meses ou ainda dias da semana (Vilela, 1994:172).
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antónimos e complementares. Os opostos lineares dividem-se em
conversos, direccionais e privativos.
De seguida, descreve-se e exemplifica-se cada um deles.
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Por sua vez, o grupo de antónimos sobrepostos, proposto por Cruse
(2004:166), é caracterizado pelas propriedades de polaridade avaliativa e
inerência. Isto significa que um dos membros mostra uma graduação
imparcial enquanto a do outro é comprometida. Analise-se o caso do par
«bom» e «mau»: uma vez que dois objectos diferem no grau de “maldade”,
um deles será sempre pior do que o outro, como mostra o exemplo «O
tempo esteve mau o ano passado, mas este ano está pior.» Desta forma,
dois objectos maus não podem ser descritos como sendo um melhor do que
o outro, i.e. estão comprometidos, pois há uma sobreposição entre as duas
escalas graduadas. Em princípio, só os objectos que não são inerentemente
maus, ou seja, que são imparciais, podem ser usados com o lexema «bom»
ou «melhor».
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pares de lexemas. Os pontos de vista são diferentes, mas a sua relação de
significação é a mesma. Atente-se o par «marido» e «mulher» na frase «X é
o marido de Y»: a sua proposição conversa é «X é a mulher de Y». As
relações conversas entre lexemas são muito vulgares em áreas vocabulares
ligadas ao parentesco («pai» e «mãe»), ao papel social («médico» e
«paciente») e ao espaço e tempo («à frente» e «atrás» ou até «antes» e
«depois») (Lyons, 1977:227). Com alguma frequência, o oposto converso é
considerado um subtipo dos opostos direccionais, embora muitas vezes
seja, como afirma Cruse (2004: 167) difícil identificar essa característica de
movimento ou deslocação. Vidal (2007:76) defende ainda que dois opostos
conversos ou inversos podem “describir la misma situación, es decir, que
puedan dar lugar a expresiones sinónimas, que satisfacen las pruebas de
equivalencia pertinentes”. Como ilustração deste conceito, veja-se o
exemplo seguinte: «o círculo está acima do quadrado» ou «o quadrado está
abaixo do círculo». Nestes exemplos, é descrita a mesma situação,
utilizando-se os opostos inversos com os argumentos adequadamente
transferidos.
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Por outro lado, há a possibilidade de estabelecer uma oposição direccional entre «vir» e «ir», que difere
das anteriormente referidas, pois está ligada à deixis e ao ponto de localização dos sujeitos falantes. O
mesmo não acontece com os opostos «chegar» e «partir» como exemplifica Lyons (1977:228) “X chegou
a Paris a noite passada”, independentemente de estarmos em Paris na altura do acto de enunciação ou de
estarmos em Paris na altura em que o evento se deu.” O mesmo não poderia acontecer com «ir» e «vir»,
porque a seu emprego dependeria do local onde o falante se encontraria no acto da fala
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a.5. Opostos privativos
b) Sinonímia
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Trata-se de uma relação semântica que gerou e gera interesse entre
os seus investigadores e foi objecto de uma grande diversidade de
definições e tratamentos. A questão mais debatida terá sido talvez a que se
relaciona com a possibilidade ou não da existência de sinonímia absoluta.
De forma geral, pode dizer-se que os sinónimos se caracterizam pelo
facto de a sua similaridade semântica ser mais evidente que a sua diferença
(Cruse, 2004:154). Globalmente, apresentam três características –
identificação, igualdade e similaridade. De acordo com Vilela (1994:29),
“[o]s sinónimos estão sujeitos a restrições de natureza estilística, sintáctica,
preferências idiossincráticas, contextuais e textuais (…)”. Neste âmbito, o
conceito de relação de equivalência poderá ser absoluta ou relativa (Olano,
2004:282). Na prática, poder-se-á questionar se esta relação de identidade
entre significados acontece em qualquer contexto sem alterar o valor
verdadeiro da proposição em que aparece (Vidal, 2007:55). A tipologia
mais consensual entre os semanticistas para uma possível divisão da
sinonímia é estruturada em três grupos: a absoluta, a proposicional e a
parcial. Esta abordagem toma em consideração o contexto em que a relação
sinonímica pode ocorrer e enquadra-a numa gradação que se inicia com a
sinonímia absoluta e termina na não-sinonímia (Olano, 2004: 281).
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b.2. Sinónimos relativos
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diferença do centro prototípico, ou seja, as palavras têm o mesmo
significado conceptual, mas o significado emotivo é diferente. Vejam-se os
exemplos: «grande» e «enorme», «nevoeiro» e «neblina» ou ainda «chefe»
e «patrão» e também «bonito» e «bem-parecido», comutáveis em alguns
contextos. A distinção deste tipo de sinonímia com o da sinonímia relativa
e até absoluta compreende-se mais claramente na sua relação com o
conceito de polissemia, na medida em que são sempre consideradas as
várias acepções que uma palavra pode ter na determinação dos seus
equivalentes semânticos9.
Vidal propõe solucionar este problema, deslocando a questão do
cumprimento obrigatório das duas propriedades geralmente consignadas
aos sinónimos absolutos – o mesmo significado descritivo e a comutação
possível em todos os contextos – para a consideração do significado
descritivo como o critério de base na identificação de um par sinónimo.
Neste sentido, defende que “dos términos que poseen el mismo
contenido descriptivo, aunque no puedan intercambiarse entre sí en todos
los contextos” (2007:58). Surge, assim, a noção de equivalência ligada a
outros tipos de sinonímia que ajudam à organização do léxico de uma
língua reproduzindo a intenção do falante relativamente à identidade de
significados. O importante é, também, entender a sinonímia como a
equivalência de significado em diferentes contextos independentemente de
os pares de sinónimos serem considerados absolutos ou relativos.
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Correia afirma: “uma palavra considera-se polissémica quando apresenta vários significados, sendo
possível estabelecer uma relação entre esses vários significados” (2000:57).
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3.2. Semântica Formal
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aquilo sobre o qual a linguagem fala. Este mundo sobre o qual falamos
quando usamos a linguagem pode ser tomado como o mundo real, parte
dele, ou mesmo outros mundos ficcionais ou hipotéticos.
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significado. Em outros termos, cada parte de uma sentença contribui para
as suas condições de verdade.
A sentença (3) ilustra este facto, pois descreve uma situação em que
a cidade de Luanda é simultaneamente grande e cheia de lixo.
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expressões complexas a partir dos significados das suas partes?
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Assim, pode-se entender porque 67 é uma sentença informativa e 69
não a é: as expressões o professor da cadeira de Semântica e António
Costa possuem sentidos diferentes. Elas informam que o indivíduo António
Costa pode ser encontrado no mundo por caminhos diferentes – deve-se
aprender algo com essa sentença.
72. a. Gustavo não sabe que o homem à frente dele é o seu irmão.
b. São sabe que Amadeu é seu irmão.
c. O homem à frente de Gustavo é o Amadeu.
d. Gustavo sabe e não sabe que o homem à frente dele é o
Amadeu.
3.2.3. Denotações
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6. Jesus Cristo, Albina Assis, Lubango, rua Revolução de Outubro,
Camama, rio Kwanza
Por outro lado, não existe uma maneira trivial de atribuir uma
referência a expressões nominais como nada em (9) ou nenhum cantor
angolano em (10). Não é possível descrever o significado de (9) como a
afirmação de que ser eterno é uma propriedade que se atribui ao indivíduo
denotado por nada. Não podemos descrever o significado de (9) como
afirmando que o indivíduo denotado por nada pertence ao conjunto das
coisas eternas. Veja que não podemos dizer que nada denota o vazio, ou,
mais tecnicamente, o conjunto vazio. Se isto fosse verdade, em (9)
afirmaríamos que o conjunto vazio está contido no conjunto das coisas
eternas; mas isto não impede que outras coisas, além do conjunto vazio,
pertençam ao conjunto das coisas eternas. Teríamos o conjunto vazio,
porém poderíamos ter, também, o disco de Waldemar Bastos, o diamante
da coroa inglesa, etc.1 E não é isto que queremos dizer quando enunciamos
(9).
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mudou de (7) para (9). Em (7), o predicado atribui uma propriedade ao
sujeito. Já em (9), é o sujeito que atribui uma propriedade ao predicado; já
o significado de (10) pode ser descrito como a descrever uma situação em
que não existe uma relação entre a propriedade de ser cantor e a de ser
eterno. Em termos de conjuntos, dizemos que nada há que pertença à
intersecção do conjunto dos indivíduos que são cantores com o conjunto
dos indivíduos eternos.
Imagine que alguém profira a sentença (15). Mesmo que você não se
tenha dado em conta, uma série de outras informações silenciosas
acompanham-na (15), independentemente de se conhecer a Filomena.
Algumas delas estão expressas em (16)-(17).
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Uma sentença estabelece uma teia de sentidos com as outras. As
relações de sentido entre palavras, expressões e sentenças têm sido um
tema tradicional da semântica. Como as sentenças são compostas de
palavras e de sintagmas, certas propriedades e relações semânticas entre as
palavras e as expressões são preservadas no nível da sentença.
a) Acarretamento e Pressuposição
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suficiente para descrever a situação em c. Por outras palavras, sempre que
as sentenças Kwanza é angolana e Kwanza é uma moeda forem
verdadeiras, Kwanza é uma moeda angolana, também será verdadeira.
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31. a. A Maria parou de fumar.
b. A Maria parou de fumar?
c. A Maria não parou de fumar.
d. Eu lamento que a Maria tenha parado de fumar.
e. Se a Maria parou de fumar, então a sua saúde deve ter
melhorado.
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Em alguns pares de sentenças, existe acarretamento, mas não
pressuposição. 34a, por exemplo, acarreta, mas não pressupõe 34b porque
os outros membros da família de 34a não acarretam b.
b) Sinonímia e paráfrase
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37. a. careca é sinónimo de calvo
b. referência é sinónimo de denotação
c. matar é sinónimo de causar a morte
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Podemos concluir que as duas sentenças são sinónimas ou que a é
paráfrase de b e vice-versa. Em 44-45, temos outros exemplos de
paráfrases.
c) Contradição
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A noção de contradição, por sua vez, está ligada às noções de
acarretamento e de sinonímia, isto é, acontece quando duas expressões têm
sentidos incompatíveis com a mesma situação.
47. O João beijou a Maria, mas a Maria não foi beijada pelo João.
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b. Cipriano é baixo para um jogador de basquete.
55. Não sou eu que moro no mesmo bairro que a Joana. É a Joana
que mora no mesmo bairro que eu.
d) Ambiguidade
A sentença 57, por exemplo, pode ser usada para afirmar que tanto os
alunos como os professores que participaram do simpósio eram
inteligentes, como para afirmar que todos os alunos participaram do
simpósio, mas, entre os professores, apenas os inteligentes participaram. As
diferentes interpretações devem-se a diferentes combinações possíveis
entre o adjectivo inteligente e os substantivos alunos e professores. As duas
estruturas estão expressas em a e b.
33
c. [ [Os alunos] e [os professores inteligentes] ] participaram do
simpósio.
e) Relações Anafóricas
Neste caso, ele será alguém de sexo masculino que esteja saliente em
determinado contexto. Já em b, o pronome reflexivo refere-se
obrigatoriamente a Jorge.
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60. a. Jorge achou que o cargo era ideal para ele.
b. Jorge machucou-se ao sair.
61. a. Cada candidato achou que o cargo era ideal para ele.
b. Ninguém se machucou ao sair.
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3.3. A Semântica Cognitiva
3.3.1. Linguística Cognitiva e Semântica Cognitiva
Generalidades
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semântica”10. O conhecido artigo de Lakoff Toward Generative Semantics,
escrito em 1963 e publicado em 1976, tornou-se no marco desse
movimento underground. Nesse caminho de debates e disputas, a
semântica foi se tornando cada vez mais “fundacional” e mais central.
Uma das razões por que a Linguística Cognitiva muitas vezes se
iguala com estudos de Semântica Cognitiva está, sem dúvida, nesse
deslocamento contínuo em direcção ao significado e às funções
comunicativas.
Segundo Lakoff e Johnson (1999), a Linguística Cognitiva é uma
teoria linguística que faz uso das descobertas da chamada segunda geração
da ciência cognitiva, para “explicar tanto quanto possível a linguagem”11.
Entende-se a Linguística Cognitiva como uma ramificação da chamada
Ciência Cognitiva, que Lakoff e Johnson (1999) afirmam ser “a ciência da
mente e do cérebro”12.
A primeira geração da Ciência Cognitiva caracteriza-se como sendo
uma ciência da “mente desencorporalizada” ou “não-corpórea”. A segunda
geração é a da mente corporalizada. É a partir da caracterização dessa
segunda geração que se busca uma definição de Semântica Cognitiva.
De acordo com Lakoff e Johnson (1999), em meados da década de
70, surge uma visão que compete com aquela desenvolvida no período
anterior, centrada em duas teses básicas:
(i) há uma forte dependência de conceitos e razão sobre o corpo; e
(ii) que a conceptualização e a razão têm como eixo processos
imaginativos como metáfora, metonímia, protótipos, frames,
espaços mentais e categorias radiais.
Enumera, então, as seguintes características como sendo centrais
para essa segunda geração de pesquisas, norteados pelos princípios abaixo:
1. A estrutura conceptual origina-se da nossa experiência
sensório-motora e das estruturas neurais que lhes dão
origem, sendo a noção de “estrutura” caracterizada como
esquemas de imagens e esquemas motores.
2. As estruturas mentais são intrinsecamente significativas
devido à sua conexão com os nossos corpos e a nossa
experiência corpórea, o que contraria a ideia de
manipulação de símbolos não-semantizados.
3. Há um nível básico de conceitos que originam parte dos
nossos esquemas motores e as nossas capacidades para
percepção gestáltica e formação de imagens.
4. Os nossos cérebros são estruturados de forma a projectar a
activação de padrões das áreas sensório-motoras para níveis
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corticais mais altos, constituindo as chamadas metáforas
primárias. Tais projecções permitem-nos conceptualizar
conceitos abstractos com base nos padrões inferenciais
utilizados nos processos sensório-motores que estão
directamente ligados ao corpo.
5. A estrutura dos conceitos inclui protótipos de vários tipos:
casos típicos, casos ideais, estereótipos sociais, exemplares
salientes, pontos de referência cognitivos, entre outros,
sendo que cada tipo de protótipo utiliza uma forma distinta
de raciocínio.
6. A razão é corpórea à medida que as nossas formas
fundamentais de inferência se originam de formas sensório-
motoras e de outras formas de inferência baseadas na
experiência corpórea.
7. A razão é imaginativa à medida que as formas de inferência
são mapeadas de modos abstractos de inferência pela
metáfora.
8. Os sistemas conceptuais são pluralísticos, não monolíticos, de
tal sorte que os conceitos abstractos são definidos por
múltiplas metáforas conceptuais que são muitas vezes
inconsistentes entre si.
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c) análise diacrónica e translinguística;
d) avaliação do contexto e da estrutura cultural;
e) técnicas de observação e experimentais da psicolinguística;
f) estudos em neuropsicologia; e
g) exames instrumentais da neurociência.
Talmy adopta a posição de que a Linguística Cognitiva:
a) examina as propriedades formais da linguagem a partir da
perspectiva conceptual, a qual se preocupa com “os padrões nos
quais e os processos pelos quais o conteúdo conceptual está
organizado na linguagem”;
b) objectiva relacionar os seus achados com as estruturas cognitivas
de que se ocupa a abordagem psicológica, a qual inclui a análise
da memória semântica, a associatividade de conceitos, a estrutura
de categorias, a geração de inferências e o conhecimento
contextual.
Langacker, um dos mais proeminentes estudiosos no campo da
Linguística Cognitiva, considera-a como pertencente à tradição
funcionalista dos estudos sobre a linguagem, opondo-se, sob vários
ângulos, à tradição gerativista. Apesar das várias linhas metodológicas e
visões teóricas, as abordagens cognitivas e funcionalistas são
complementares, “facetas sinergeticamente relacionadas de um
empreendimento global comum”.
Para Langacker, “a linguagem serve à função semiológica de
permitir conceptualizações a serem simbolizadas por meio de sons e gestos,
assim como uma função interactiva multifacetada, envolvendo
comunicação, manipulação, expressividade e comunhão social”.
Para ele, é justamente a simbolização que permite à linguagem
exercer a sua função interactiva, ao mesmo tempo em que a interacção é
fundamentalmente dependente das mentes corporeificadas que a ela se
engajam. Além disso, a interacção, afirma, “não pode ser propriamente
entendida ou descrita sem uma caracterização detalhada das concepções
que essas mentes possuem, o que inclui as concepções sobre a própria
interacção e as concepções dos interlocutores”. O autor enumera alguns
factores que expressam a “atitude amplamente compartilhada entre
linguistas cognitivistas e funcionalistas”:
1. Ambientais: o ambiente fornece uma base experiencial
comum para o desenvolvimento da estrutura conceptual-
semântica;
2. Biológicos: o que estabelece para a linguagem deve ter
plausibilidade a partir de uma perspectiva biológica
(anatómica, fisiológica, perceptual, neurológica, genética);
39
3. Psicológicos: os estudos sobre a linguagem devem ser
compatíveis com o que sabe sobre estudos psicológicos,
devendo ser confrontados com evidências psicológicas;
4. Desenvolvimentais: a estrutura de um sistema linguístico é
produto da aquisição da linguagem;
5. Históricos: a gramaticalização constitui o estudo da gramática
em si, à medida que todos os aspectos de um sistema
gramatical estão em algum estágio de um processo de
gramaticalização em curso;
6. Socioculturais: a linguagem é um instrumento essencial e um
componente da cultura, cujos reflexos na estrutura linguística
são ubíquos e muito significativos.
O que fica razoavelmente evidente nessa exposição muito bem
orquestrada por Langacker é o papel da categorização em todo o
empreendimento da Linguística Cognitiva. E a categorização humana é o
coração do programa global da Semântica Cognitiva.
40
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