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1 - Segundo o texto, qual a diferença entre o anafórico e o dêitico discursivo?

A autora traz como, principal, divergências entre os conceitos a forma que retomam
os referentes e em como eles, a partir dos elementos anafóricos ou dêiticos, são retomados
levando em conta a posição do falante no discurso. Tendo os exemplos da própria autora
como paramento, apresento dois exemplos para que se entenda essas diferenças com
exatidão.

As palavras em maiúsculo no primeiro (1) exemplo destaca-se, tratando-se de um


dêitico, perceba:

"Então, esse era o reflexo que perturbava meu sono? o meu reflexo, visto com toda
clareza possível. Não me perguntava mais quem seria a figura me encarando, mas, quem era
a figura que era encarada? Aquelas perfeitas imperfeições, o misto de alegria e tristeza, de
força e fraqueza, tudo que eu me forcei para esconder, estava fazendo com que o meu eu se
revelasse e revelasse que ESSE SER À FRENTE DO ESPELHO era apenas um fantasma criado a
sombra desse que se descortina sobre meus olhos. "

Na frase destacada em maiúsculo, " esse ser à frente do espelho", nós temos uma
retomada que encapsula a difusão de conceitos presentes nos trechos em um único "ser" os
organizando. Além do mais, deixa-se claro a localização do falante em relação ao termo "a
frente” evidenciando o seu local, não no próprio discurso, que no caso teríamos se a
afirmativa fosse " esse ser retratado nas palavras anteriores", mas sim uma relação de
localidade em relação aos referentes e o enunciador no próprio local de enunciação. Ou seja,
temos uma relação de simultaneidade entre o que se é falado e o demonstrativo dêitico.

No segundo (2) exemplo vê-se algumas diferenças em comparação com o primeiro.

“Liberdade! ESSE ERA O SENTIMENTO que rodeava os meus sonhos e os


distanciavam da minha realidade.”

A frase “esse era o sentimento”, tendo o substantivo o sentimento como núcleo do


sintagma nominal, apresenta-se como um elemento anafórico, pois de forma objetiva sem o
intuito de organizar as ideias tratadas anteriormente, mas apenas dar continuidade ao texto,
retoma o termo tratado na frase anterior.
2) Da leitura do texto, depreende-se que existe uma intersecção no que se refere à
função dos anafóricos e dos dêiticos discursivos. Em que ela ocorre?

Ambos os procedimentos se propõem a retomada de elementos no texto, no entanto


a forma que o enunciador focaliza esse elemento para o seu interlocutor tem propostas
diferentes. Enquanto os elementos dêiticos utilizam da habilidade cognitiva do seu
interlocutor para focalizar em uma perspectiva comum em elementos difusos no texto, os
termos anafóricos utilizam da mesma capacidade de focalização para auxiliar os
interlocutores a manterem o foco em um objeto comum, sendo um elemento que auxilia o
leitor/interlocutor a não retirar o seu foco do referente. Logo, os elementos dêiticos e
anafóricos utilizam de flashes para revelar ao interlocutor que elementos textuais devem ser
focalizados e quais devem ser mantidos fora de foco.

3) Ao se considerar a questão da deixis sob um ponto de vista mais generalista,


qual a sua função no texto? (responda a esta questão de forma mais completa possível.
Pode utiizar outras referências, caso necessite)

Segundo MARCUSCHI (1997), os elementos dêiticos fazem uso de conhecimentos que


tanto locutor quanto interlocutor possuem para a projeção da retomada/focalização textual.
A deixes discursiva tem como objetivo fazer com que o interlocutor focalize em elementos
do mundo. O linguista Tomasello (2003, p. 135) afirma que por meio de elementos dêiticos
“uma pessoa tenta fazer com que outra dirija sua atenção para algo do mundo”. Portando, a
principal função dêitica seria direcionar a atenção dos interlocutores a partir de um sistema
de termos que contribui para a organização e relevância dos/das termos/ideias
referenciadas/dos.

MARCUSCHI, L. A. A dêixis discursiva como estratégia de monitoração cognitiva.


In: KOCH, I.V.G; BARROS, K. S. M. Tópicos em lingüística de texto e análise da
conversação. Natal: EDUFRN, 1997. p. 156-171.
TOMASELLO, M. Origens culturais da aquisição do conhecimento humano. São
Paulo: Martins Fontes, 2003

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