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Maria - Outra Redentora?

por

James R. White

Capítulo 05 - Mãe de Deus


 

Este é simplesmente o termo teológico mais mal usado. Maria é


a “mãe de Deus”. A lógica parece inescapável: Jesus é Deus,
veio em carne humana. Maria é a mãe de Jesus. Portanto,
Maria é a mãe de Deus. O que poderia ser mais simples?

Se todos usassem o termo para comunicar apenas que Jesus


Cristo era verdadeira e completamente Deus, não haveria razão
para incluir um breve capítulo sobre o tópico da “mãe de Deus”.
Todavia, obviamente, isto seria um pouco simplista. A maioria
das vezes em que a frase é usada, as pessoas que a estão
usando não estão de alguma forma comentando sobre o fato de
que Jesus Cristo era Deus e Homem na terra. Eles não estão
falando sobre Cristo de forma alguma, mas sobre Maria, e eles
estão usando o título para lhe dar uma posição de honra e
poder.

Deveríamos chamar Maria de “Mãe de Deus”? O que o termo


significou na igreja primitiva? Como ele está sendo mal usado
hoje?

A ORIGEM DO TERMO

Qualquer pessoa que ler os escritos da igreja primitiva saberá


que a palavra traduzida por “Mãe de Deus” é o termo
grego theotokos. Literalmente, a palavra significa “portadora de
Deus”. Ela se tornou um título para Maria, de forma que você
freqüentemente a encontrará sendo chamada de Theotokos em
escritos devocionais e teológicos. Mas, de onde o termo veio?
Por volta do começo do século IV, Alexandre Bispo de
Alexandria, usou pela primeira vez o termo quando falando de
Maria. [1]

Não é coincidência que foi o ensino de Alexandre que estimulou


o “herege” mais famoso de todos os tempos – Arius, o grande
negador da deidade de Cristo – a começar a propagação de sua
heresia. Evidentemente, naquele tempo, e até mesmo em seus
usos mais primitivos, o termo queria dizer algo sobre Jesus, e
não sobre Maria. Isto é, o termo era Cristológico em força. Ele
era focado em Cristo, e tinha a intenção de salvaguardar a
verdade sobre Sua absoluta deidade.

O termo entrou realmente no vocabulário “ortodoxo” através de


seu uso nos Concílios de Eféso (431 d.C.) e, com maior
importância, no de Calcedônia (451 d.C.). Podemos aprender
mais sobre como este termo foi originalmente entendido
tomando um tempo para entender o porque ele aparece no
credo produzido em Calcedônia.

O debate sobre a completa deidade de Cristo permaneceu por


muitas décadas, continuando logo após o Concílio de Nicéia ter
terminado seu trabalho (325 d.C.), e não finalizando até o
Concilio de Constantinopla em 381 d.C. Mas, à medida que esta
grande verdade foi de forma apropriada salvaguardada, outras
questões começaram a se levantar. Uma destas questões era
mais ou menos assim: Concordando-se que Jesus Cristo é
verdadeiro homem em carne, como, então, devemos entender a
relação entre o divino e o humano em Cristo? Ele foi realmente
um homem? Sua deidade confinou Sua humanidade? Havia
alguma mistura das duas? Ou, Jesus era duas pessoas: uma
divina e uma humana, meramente compartilhando um corpo?

Tristemente, o debate foi responsável por tudo, menos um clima


calmo e respeitoso. Um tempo maior foi gasto em manobras
políticas do que em exegeses significantes. Mas, a despeito do
rancor do debate, o entendimento resultando foi muito
importante, especialmente para nosso entendimento do
termo theotokos.

Um dos principais participantes no debate sobre a natureza de


Cristo foi um homem chamado Nestório. Visto que ele foi, no
final das contas, condenado como um herege, temos algumas
dúvidas se temos ou não uma visão completamente acurada (ou
justa) de suas crenças, pois temos acesso a elas primariamente
através dos escritos de seus inimigos. Basicamente, Nestório se
objetou ao uso da palavra theotokos. Ele estava totalmente com
a razão quando disse que a palavra poderia ser facilmente mal
entendida. Mas mais importante, sua negação da propriedade
de theotokos o levou a insistir que Maria foi a mãe somente do
“elemento” humano de Cristo, que resultou numa separação
fundamental do divino e do humano em Cristo. O perigo básico
da posição de Nestório, portanto, era que ela conduzia a um
Jesus que era duas “pessoas”, com nenhuma conexão real entre
o divino e o humano.

Aqueles que defendiam o uso de theotokos, assim o faziam


insistindo que o Messias era totalmente humano e totalmente
divino à partir do momento da concepção; por conseguinte, a
criança que nasceu não era somente uma criança humana com
a deidade habitando nela, mas era o Deus-Homem, o
Encarnado. Calcedônia insistiu que Jesus era uma Pessoa com
duas naturezas distintas, a divina e a humana. A divina não
“confinou” a humana, nem estava “misturada” com a humana
para criar algo que não era nem totalmente Deus, nem
totalmente homem. Nem era Jesus esquizofrênico – uma pessoa
humana, Jesus, e uma Pessoa divina, separada dele. Ele era
uma pessoa com duas naturezas distintas. [2]

O que é vitalmente importante é que o termo “Portadora de


Deus”, conforme usado nos credos e conforme aplicado a Maria
naquelas controvérsias,dizia algo sobre a natureza de Cristo,
não sobre a natureza de Maria. “Mãe de Deus” é uma frase que
tem significado apropriado teológico somente em referência a
Cristo. Portanto, qualquer uso do termo que não esteja
simplesmente dizendo: “Jesus é completamente Deus, uma
Pessoa divina com duas naturezas”, está usando o termo de
uma maneira anacrônica e não pode reivindicar a autoridade da
igreja primitiva para tal uso.

O MAU USO DO TERMO HOJE

Fora das classes de seminário e dos debates teológicos sobre a


Trindade, eu nunca ouvi o termo “Mãe de Deus” usado de uma
forma historicamente correta e teologicamente acurada. Isto é,
todas as vezes que eu ouço o título usado fora daqueles
contextos, ele está sendo usado para dizer algo sobre Maria, ao
contrário de dizer algo sobre Cristo. Nestório estava certo sobre
uma coisa: o termo tende a um sério mau uso e mau
entendimento.

Maria não é mãe de Deus no sentido de que ela trouxe à luz


a existência de Deus. Nós normalmente usamos a palavra “mãe”
para nos referirmos a alguém que nos trouxe à luz como
indivíduos, e de quem derivamos nossa natureza humana.
Todavia, a Pessoa divina que se tornou Jesus, o eterno Filho de
Deus (Colossenses 1:13-17), o Logos (João 1:1-14), já existia
desde toda a eternidade e é o Criador de Maria. Ela foi usada
para trazer o Encarnado ao mundo, mas ela não adicionou algo
ou trouxe à luz o Filho Eterno que veio ao mundo através dela.
Seu filho era totalmente divino (por conseguinte, ela
é theotokos), mas ela mesma não produziu a divindade de seu
Filho. Por esta razão, não há nada sobre o termo theotokos que
de alguma forma exalte Maria, mas somente Cristo.

Certamente, se isto é verdade, então a vasta maioria do uso da


frase, “Mãe de Deus” em nosso mundo hoje é simplesmente um
erro. Orações dirigidas a “Mãe de Deus” que procuram sua
intercessão e atribuem a ela poder, glória e honra estão usando
o título de uma forma completamente estranha às verdades
bíblicas que deram origem ao uso do título pela primeira vez. E
o fato que, em geral, o termo é tido como impróprio fora do
espectro estrito no qual ele fala da verdade importante da
unipersonalidade de Cristo, bem como de Sua completa
deidade, é um testemunho da sensibilidade espiritual dos
cristãos crentes. Só podemos concluir que o uso de “Mãe de
Deus” como um título para Maria que a leva a ser vista numa
categoria quase-divina não é nada senão um grosseiro mau
entendimento da verdadeira relação entre a bendita virgem de
Nazaré e o eterno Deus que enviou o Filho eterno para nascer
dela.

[1] J.N.D.
Kelly, Doutrinas Cristãs Primitivas (San Francisco: Harper &
Row, 1978), 494.

[2] Parauma discussão da Cristologia de Calcedônia, especialmente da


sua relação com o Pentecostalismo da Unidade e o movimento “Somente
Jesus”, veja o artigo A Trindade, a Definição de Calcedônia, e a Teologia
da Unidade em http://www.aomin.org/CHALC.html.

Extraído e traduzido do livro “Mary - Another Redeemer?”, de James


White.

Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto


Cuiabá-MT, 05 de Junho de 2004.

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