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UMA FÉ TRINITÁRIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• COMPREENDER O CONCEITO CRISTÃO DA TRINDADE DESENVOLVIDO AO
LONGO DA HISTÓRIA DA IGREJA
• FUNDAMENTAR O CONCEITO DA TRINDADE NAS ESCRITURAS
• ENTENDER COMO ESTE CONCEITE REFLETE NA VIDA CRISTÃ E NA
COMUNIDADE

TRINDADE NA HISTÓRIA DA IGREJA


A Patrística estuda a teologia de grandes homens de Deus de um período da História da Igreja
que abrange do II século até o VI. Estes homens eram chamados de pais da igreja pois são
considerados as primeiras gerações de discípulos após os apóstolos.

O período patrística representa um dos mais empolgantes e criativos da história do pensamento


cristão. Esse período foi da maior importância para o esclarecimento de uma série de questões
e na elaboração dos contornos da teologia cristã. Ao longo do período patrístico, o estudo
teológico foi explorado com especial empenho.

É nesse período fascinante da teologia cristã que a DOUTRINA DA TRINDADE começou a


tomar corpo e a se desenvolver chegando ao que conhecemos hoje. Mas não foi algo tão
simples. Pelo contrário, tiveram muitas controvérsias a respeito da doutrina correta.

HERESIAS ANTIGAS REFERENTES À DOUTRINA DA TRINDADE

Na maior parte dos casos, a heresia nasce do meio da igreja. Poucas heresias nascem de fora
dela. Normalmente, a heresia nasce dentro, com pessoas da igreja, e até bem-intencionadas.
Especificamente algumas relacionadas a Doutrina da Trindade se destacam:

MONARQUIANISMO

Por volta do ano 150 d.C, algumas seitas começaram a surgir no cristianismo. Uma delas surgiu
como uma tentativa conciliar a doutrina de que existe um único Deus, com a doutrina da
divindade de Cristo e definiu: “Se há um só Deus, e Jesus Cristo é Deus, então Jesus é o Pai
numa forma ou modalidade especial”. O nome dessa HERESIA é “modalismo”, e ela preserva
a crença em um Deus único, mais erra quando destrói a autonomia do Filho. Desenvolvendo um
pouco mais esse pensamento equivocado, concluímos que o Pai, se manifestando como Jesus,
foi quem morreu na cruz, quem sofreu a “paixão” foi o Pai, por isso foi chamada de “modalismo
patripacionísta”, algo que é sugerido inclusive no livro e no filme “A CABANA”.

MONOTEÍSMO  MONARQUIANISMO  MODALISMO  PATRIPACIONISMO

O idealizador do “modalismo” ou “monarquianismo modalista” foi Sabélio. Ele afirmava que Deus
é um em natureza, mas ao longo da história se manifestou de modos diferentes, como Pai, Filho
e Espírito Santo. Algumas analogias feitas inclusive hoje em dia, acabam por levar as pessoas
a pensarem da mesma forma. Por exemplo, que “o corpo seria o Pai, a alma seria o Filho,
enquanto o Espírito Santo seria para a divindade o que o espírito é para o homem. Ou tome-se
o sol: o sol é uma só substância, mas com tríplice manifestação: luz, calor e o globo solar”.
Nessa analogia o calor seria o Espírito, a luz, o Filho, enquanto o Pai o astro. Aplicada desta
forma sem as devidas ressalvas, a analogia estaria completamente equivocada.

Outra variante do “monarquianismo” foi desenvolvida por Paulo de Samósata, bispo de Antioquia
em 260 d.C. Ele dizia: “Reconhecemos um só Deus, sendo somente ele não gerado, somente
ele eterno, somente ele sem princípio, somente ele verdadeiro, somente ele imortal, somente
ele sábio, somente ele bom, somente ele cheio de poder; é ele quem julga todos, quem controla
todas as coisas, quem provê todas as coisas; e ele não está sujeito a nenhuma mudança, ou
alteração; ele é justo e bom; ele é o Deus da Lei e dos Profetas e da Nova Aliança. Esse único
Deus, antes de todo o tempo, gerou seu Filho unigênito, mas por meio de quem fez as eras e o
universo.

Ele o gerou, não apenas na aparência, mas, de fato; por vontade própria fez subsistir seu Filho
e o tornou imutável e inalterável. Sendo a criatura perfeita de Deus, antes de todas as eras; do
Pai recebeu existência e vida e, ao criá-lo, o Pai conferiu-lhe a própria gloria. O Pai, porém, ao
entregar todas as coisas em seu poder, não se despojou delas: o Pai contém todas as coisas
em si mesmo de modo não gerado, pois ele é a fonte de todas as coisas. Existem, portanto, três
substâncias (hipóstases)”.

Ou seja, para ele, Jesus foi “dinamizado”, daí o nome “monarquianismo dinâmico”. Deus é um
só ser e individual; o Espírito Santo não era Deus, mas era o Logos divino que penetrou em
Cristo. Cristo não era divino, mas se tornou divino e salvador pela penetração do Logos de Deus
em seu ser.

ARIANISMO

Uma das heresias mais debatidas e até hoje adotada por


algumas seitas é o “arianismo”. Ario foi o formulador
desta heresia no início do século IV d.C. Algumas
perguntas eram feitas nesta época como: Jesus era
verdadeiramente Deus em carne ou Jesus era um ser
criado? Jesus era Deus ou apenas como Deus? Ario
defendia a ideia de que Jesus foi criado por Deus como
o primeiro e mais importante ato da Criação. O
“arianismo”, então, é a crença de que Jesus era um ser
criado com atributos divinos, mas não era divindade em
si mesmo.
“E Cristo não é vero Deus, mas por participação [...] até
ele foi feito Deus. [...] O Filho não conhece o Pai com
exatidão e o Logos não vê o Pai com perfeição, e ele não
percebe o Pai com exatidão e nem o Logos o
compreende; isso porque ele não e o verdadeiro e único Logos do Pai, mas somente em nome
ele é chamado Logos e Sabedoria, e pela graça é chamado Filho e Poder”.

Até hoje, seitas como os Testemunhas de Jeová, alguns judeus-messiânicos como o Ministério
Ensinando de Sião, Igreja Mundial do Poder de Deus do Valdomiro Santiago, acreditam desta
forma.

Valdomiro Santiago afirmou: “Muita gente pela tradição da religião, não entende a história de
Jesus. Alguns falam de natal, mas ninguém sabe o dia exato em que Jesus Cristo nasceu.
Segundo que Jesus já existia muito antes de tudo. Ele é a imagem do Deus invisível, a
encarnação do verbo. Mas ele não é sempiterno, é eterno. O pai que é Deus é sempiterno,
aquele que antes dele nunca existiu como ele, nem existirá depois dele, sempre existiu e sempre
existirá. A primeira obra dele foi Jesus Cristo, não a partir de Maria, que foi obra do Espirito Santo
para ser feito carne, antes ele já existia. “Façamos” é no plural, porque Jesus estava com Ele e
a palavra que lemos confirma”.

Os messiânicos do Ministério Ensinando de Sião, afirmam em um artigo de seu site que “mais
uma vez NÃO ESTAMOS AQUI DEFENDENDO A TRINDADE criada no séc. IV d.C. (...) Ou
seja, Ele (Yeshua) não é o PAI, mas veio do PAI, possui a mesma natureza do PAI e representa
o PAI a nós 100%. (...) Dessa forma, o judaísmo entende que ao mesmo tempo onde há
igualdade, também pode existir hierarquia, e por isso a unidade de D-us jamais é ferida.” (link
para este artigo que é uma crítica a outros grupos messiânicos que são mais veementes na
crítica à crença à doutrina da Trindade, estará na Bibliografia).

Os Testemunhas de Jeová vão mais longe, e na sua própria edição da Bíblia, chamada Tradução
Novo Mundo, adulteram o texto bíblico. Veja como é o princípio do Evangelho de João na versão
deles: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era um deus”.
Observe na imagem abaixo como eles colocam a palavra “deus” em minúsculo ao final do
versículo 1, mostrando que Jesus não era Deus, mas “um deus”:

POR QUE TODOS ESTES ENSINOS SÃO CONSIDERADOS HERESIAS?

A Doutrina da Trindade é uma das confissões centrais do cristianismo. O termo Trindade foi
usado por Tertuliano no século II para sintetizar a concepção da unidade entre as pessoas
divinas. Em todas as suas vertentes verdadeiramente cristãs, há o reconhecimento e a confissão
da mesma como legítima, mesmo que a palavra Trindade não apareça na Bíblia.

Não crer na Trindade significa não crer que Jesus é Deus, e, portanto, compromete sua eficácia
na salvação. Só Deus pode pagar a dívida a Deus. Qualquer coisa menor que Deus estará
infinitamente menor que ele, e, portanto, jamais conseguiria saudar uma dívida a ele.
A Doutrina da Trindade é um mistério, uma revelação de Deus nas Escrituras, mas que não é
explicada pela Bíblia. Deste modo, nós devemos apenas aceitar. Podemos e devemos estudala,
mas sempre com um espírito humilde e reconhecendo nossa limitação.

“TENTE EXPLICÁ-LA, E PERDERÁ A CABEÇA; MAS TENTE NEGÁ-LA, E PERDERÁ A


ALMA”; CITAÇÃO ATRIBUÍDA A MILLARD ERICKSON, TEÓLOGO AMERICANO.

CONCEITO BÁSICO
A característica básica da Doutrina da Trindade concentra-se na existência do Deus trino – Pai,
Filho e Espírito Santo – e que cada um deles deve ser considerado igualmente divino e de
importância equivalente. A coigualdade entre Pai e Filho foi estabelecida por meio de debates
cristológicos que culminaram com o Concílio de Nicéia, no século IV; a divindade do Espírito
Santo foi estabelecida como consequência disso, especialmente por meio de escritos como
Atanásio e Basílio de Cesaréia, no mesmo século.

CREDO DE ATANÁSIO
“UMA É A PESSOA DO PAI, OUTRA A DO FILHO, OUTRA A DO ESPÍRITO SANTO; MAS
UMA SÓ É A DIVINDADE DO PAI E DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO, IGUAL À GLÓRIA,
COETERNA A MAJESTADE; QUAL O PAI, TAL O FILHO, TAL TAMBÉM
O ESPÍRITO SANTO; (...) ETERNO O PAI, ETERNO O FILHO, ETERNO O
ESPÍRITO SANTO; CONTUDO, NÃO SÃO TRÊS ETERNOS, MAS UM ÚNICO ETERNO; (...)
ASSIM, O PAI É DEUS, O FILHO É DEUS, O ESPÍRITO SANTO É DEUS; E TODAVIA NÃO
HÁ TRÊS DEUSES, PORÉM UM ÚNICO DEUS.”

O PAI É DEUS O PAI NÃO É O FILHO


O PAI NÃO É O ESPÍRITO

O FILHO NÃO É O PAI


O FILHO É DEUS
O FILHO NÃO É O ESPÍRITO

O ESPÍRITO NÃO É O PAI


O ESPÍRITO É DEUS
O ESPÍRITO NÃO É O FILHO
BASE BÍBLICA
Como já vimos, a palavra Trindade não se encontra na Bíblia, embora a ideia representada pela
palavra seja ensinada em muitos trechos das Escrituras. Ela é usada para resumir o
ensinamento bíblico de que Deus é três pessoas, porém um só Deus.

Existem vários textos bíblicos que deixam de forma clara ou implícita a divindade de Jesus e
também do Espírito Santo.

O FILHO É DEUS

“Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão
e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória” Mateus 24.30

“Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram;
e todos os povos da terra se lamentarão por causa dele. Assim será! Amém” Apocalipse 1.7

“Eu sou o Alfa e o Ômega”, diz o Senhor Deus, “o que é, o que era e o que há de vir, o
Todopoderoso” Apocalipse 1.8

“Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre” Hebreus 13.8

“E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz”
Isaías 9.6

“Um remanescente voltará, sim, o remanescente de Jacó voltará para o Deus Poderoso” Isaías
10.21

O ESPÍRITO É DEUS

“Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês?
Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; pois o santuário de Deus, que são
vocês, é sagrado” 1 Coríntios 3.16-17

“Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês,
que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos?” 1Coríntios 6.19

“Que acordo há entre o templo de Deus e os ídolos? Pois somos santuário do Deus vivo.
Como disse Deus: “Habitarei com eles e entre eles andarei; serei o seu Deus, e eles serão o
meu povo” 2 Coríntios 6.16

“Entretanto, vocês não estão sob o domínio da carne, mas do Espírito, se de fato o Espírito de
Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo.”
Romanos 8.9

“pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês falará por intermédio
de vocês” Mateus 10.20

“Então perguntou Pedro: “Ananias, como você permitiu que Satanás enchesse o seu coração,
ao ponto de você mentir ao Espírito Santo e guardar para si uma parte do dinheiro que recebeu
pela propriedade? Ela não lhe pertencia? E, depois de vendida, o dinheiro não estava em seu
poder? O que o levou a pensar em fazer tal coisa? Você não mentiu aos homens, mas sim a
Deus” Atos 5.3,4

REVELAÇÃO PARCIAL NO ANTIGO TESTAMENTO

Embora a doutrina da trindade não se ache explicitamente no Antigo Testamento, várias


passagens dão a entender ou até implicam que Deus existe como mais de uma pessoa.

1.26, Deus (elohiym) disse: “Façamos o homem à nossa


Por exemplo, segundo Gn
imagem, conforme a nossa semelhança”. Alguns estudiosos sugerem que o verbo usado
na primeira pessoa do plural trata-se de um termo majestático, uma forma de falar que os reis
costumam usar. Outros ainda afirmam que Deus estivesse falando com anjos.

Porém, ambas as afirmações não encontram evidências que as sustentem, pois no Antigo
Testamento não se encontram outros exemplos em que um monarca use o verbo ou pronome
no plural referindo-se a si mesmo. E, também, é certo que os anjos não participaram da criação
do homem, nem foi o homem criado à imagem e semelhança de anjos, o que colocaria um
problema na imagem do homem em relação a Deus.

A melhor explicação é que já nos primeiros capítulos de Gênesis temos uma indicação da
pluralidade de pessoas no próprio Deus. O texto não indica quantas são, e nada temos que se
aproxime de uma doutrina completa da Trindade, mas implica-se que há mais de uma pessoa.
O mesmo se pode dizer de outros textos:

“Então ouvi a voz do Senhor, conclamando: Quem enviarei? Quem irá por
nós?” Isaías 6.8

“Então disse o Senhor Deus: Agora o homem se tornou como um de nós,


conhecendo o bem e o mal” Gênesis 3.22

“Venham, desçamos e confundamos a língua que falam” Gênesis 11.7

“O Redentor virá a Sião, aos que em Jacó se arrependerem dos seus pecados,
declara o Senhor” Isaías 59.20

“E agora o Soberano, o Senhor, me enviou, com seu Espírito” Isaías 48.16

Um dos textos mais importantes para o povo de Israel era Deuteronômio 6.4, chamado de “Ouça
Israel” (SHËMA YSËRÅEL, ‫ ְׁשְַׁמְַׁ ע יִ ְׁשרֵָאֵָ ל‬no hebraico), traz uma ideia muito interessante

sobre isso: ‫יׁהוה אֱלֵָהֵָ ינּו‬


ְׁ ‫ְׁשְַׁמְַׁ ע יִ ְׁשרֵָאֵָ ל‬
‫יׁהוה אחד‬
ְׁ
SHËMA YSËRÅEL YHVH ELOHEYNU YHVH ECHÅD

OUÇA, Ó ISRAEL: O SENHOR, O NOSSO DEUS, É O ÚNICO SENHOR.

Em hebraico existem duas palavras para nos referirmos a unidade, único, um. A palavra
ECHÅD indica unidade no sentido composto, de conjunto. Outra palavra, YÅCHYD, tem o
sentido de unidade absoluta, único.

Ou seja, no texto, quando é falado que “o Senhor é o único Senhor”, teoricamente deveria ter

sido usado YÅCHYD (escrito ‫ י ִחִ יד‬em hebraico) e não ECHÅD. Isso nos leva a crer, que esta
palavra de Deuteronômio 6.4 que foi dada a Moisés por Deus, contém então a ideia de que Deus
não é uma unidade absoluta, mas uma unidade composta. Ou seja, Deus é uma comunidade e
não um indivíduo.

CURIOSIDADE
A ESCRITA HEBRAICA É FEITA DA DIREITA PARA A ESQUERDA, NA NOTAÇÃO
DAS PALAVRAS. PORTANTO, NO ESCRITO ACIMA A PALAVRA ECHÅD

EQUIVALE A ‫אחד‬

REVELAÇÃO MAIS COMPLETA NO NOVO TESTAMENTO

Quando começa o Novo Testamento, entramos na história da vinda do Filho de Deus à terra.
Era de se esperar que esse grande acontecimento se fizesse acompanhar de ensinamentos
mais explícitos sobre a natureza trinitária de Deus e, de fato, é isso que encontramos.

No batismo de Jesus (Mt 3.16-17), ao mesmo tempo, temos as pessoas da Trindade


realizando três ações distintas: Deus Pai fala de lá do céu; Deus Filho é batizado e depois ouve
a voz de Deus Pai vinda do céu; e o Deus Espírito Santo desce do céu para pousar sobre Jesus
para o inaugurar seu ministério.

Já no final do seu ministério terreno, Jesus diz aos discípulos que eles devem batizar em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19). Os próprios nomes “Pai” e “Filho”, baseados
na família, a mais comum das instituições humanas, indicam com muita força a distinção das
pessoas do Pai e do Filho. E se o “Espírito Santo” é inserido na mesma frase e no mesmo nível
das outras duas pessoas, é difícil evitar a conclusão de que o Espírito Santo é, também, tido
como pessoa e de posição igual à do Pai e do Filho.

Há ainda outros textos que trazem a mesma ideia no Novo Testamento: “Por esta
razão eles
não podiam crer, porque, como disse Isaías noutro lugar: Cegou os seus olhos
e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos nem entendam
com o coração, nem se convertam, e eu os cure. Isaías disse isso porque viu
a glória de Jesus e falou sobre ele” João 12.39-41

“Bem que o Espírito Santo falou aos seus antepassados, por meio do
profeta Isaías: Vá a este povo e diga: Ainda que estejam sempre ouvindo,
vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão.
Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os
seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com
os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converter-se, e eu os
curaria” Atos 28.25-27

TRÊS AFIRMAÇÕES QUE RESUMEM A DOUTRINA DA TRINDADE

Como já vimos, a doutrina da Trindade é um mistério que jamais seremos capazes de entender
plenamente. Podemos, todavia, compreender parte da sua verdade resumindo o ensinamento
das Escrituras em três afirmações:

• DEUS É TRÊS PESSOAS


• CADA PESSOA É PLENAMENTE DEUS
• HÁ SÓ UM DEUS

DEUS É TRÊS PESSOAS

Deus é uma trindade de pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A Trindade é definida como
o Deus que existe nessas três pessoas eternas, simultâneas e distintas. O Pai não é a mesma
pessoa que o Filho; o Filho não é a mesma pessoa que o Espírito Santo e o Espírito Santo não
é a mesma pessoa que o Pai.

Eles são pessoas distintas; ainda assim, são todos o mesmo único Deus. Eles estão em perfeita
harmonia de relacionamento, consistindo de uma única substância, uma única natureza, um
único ser, uma única essência. Eles são coeternos, coiguais e copoderosos. Se qualquer um
deles fosse retirado, então não haveria Deus.

CADA PESSOA É PLENAMENTE DEUS

Além do fato de serem as três pessoas distintas, as Escrituras também dão farto testemunho de
que cada pessoa é plenamente Deus e que cada uma delas tem seus papeis distintos.
Percebemos, por exemplo, essas funções diferentes na obra da criação. Deus Pai proferiu as
palavras criadoras para gerar o universo. Mas foi Deus Filho, a eterna Palavra de Deus, quem
executou os decretos da criação (Jo 1.3; 1Co 8.6; Cl 1.16; Hb 1.2). O Espírito Santo
também estava ativo, de um modo diferente, pois “movia-se” (o sentido estaria mais próximo de
“chocar”) sobre a superfície das águas sustentando e manifestando a presença imediata de
Deus na sua criação (Gn 1.2; Sl 33.6).
Na obra da redenção também há papeis distintos. Deus Pai planejou a redenção e enviou seu
Filho ao mundo (Jo 3.16; Gl 4.4; Ef 1.9,10). O Filho veio pelo Pai e realizou a nossa
redenção, encarnando, morrendo e ressuscitando ( Jo 6.38; Hb 10.5-7). Tendo ascendido o
Filho, o
Espírito Santo foi enviado pelo Pai e pelo Filho para aplicar em nós a redenção ( Jo 3.5-8;
14.26; 15.26; 16.7).
Portanto, embora as pessoas da Trindade sejam iguais em todos os seus atributos, assim
mesmo diferem nas suas relações com a criação. Cada um cumpre seu papel fielmente,
retribuindo entre si amor e submissão.

NÃO HÁ UM MAIOR, UM NÃO FOI O PRIMEIRO E CRIOU OS OUTROS. TODOS


SEMPRE EXISTIRAM, POIS TODOS SÃO O ÚNICO DEUS ETERNO. TODOS POSSUEM O
MESMO PODER, OS MESMOS ATRIBUTOS E A MESMA AUTORIDADE E NATUREZA.

HÁ UM SÓ DEUS

As Escrituras deixam bem claro que só existe um único Deus. As três diferentes pessoas da
Trindade são um não apenas em propósito e em concordância no que pensam, mas um em
essência, um na sua natureza essencial. Em outras palavras, Deus é um só ser.

Não existem três deuses. Só existe um Deus. Aparentemente, a única maneira de conceber a
ideia da unidade trinitária é dizer que a distinção entre as pessoas não é uma diferença no “ser”,
mas sim uma diferença de “relações”. De algum modo, o ser divino é tão maior que o nosso que
dentro do seu ser único e indivisível pode haver um desdobramento em relações interpessoais,
de forma tal que existam três pessoas distintas.

ANALOGIAS

C. S. Lewis faz uma analogia interessante sobre essa tri-pessoalidade de Deus, no seu livro
Cristianismo Puro e Simples: “O nível humano é um nível simples (...) uma pessoa é
um ser e duas pessoas são dois seres separados - da mesma forma que, num
plano bidimensional (...) um quadrado é uma figura e dois quadrados são duas
figuras separadas. No nível divino, ainda existem
personalidades; nele, porém, as encontramos
combinadas de maneiras novas, maneiras que nós,
que não vivemos nesse nível, não podemos imaginar.
Na dimensão de Deus, por assim dizer, encontramos
um Ser que são três pessoas sem deixar de ser um
único Ser, da mesma forma que um cubo são seis
quadrados sem deixar de ser um único cubo. É claro que não conseguimos
conceber plenamente um Ser como esse. Do mesmo modo, se percebêssemos
apenas duas dimensões do espaço, não poderíamos jamais imaginar um cubo.
Mesmo assim podemos ter dele uma noção vaga (...), nós conseguimos ter, pela
primeira vez na vida, uma ideia positiva, mesmo que tênue, de algo supra
pessoal — algo maior que uma pessoa. É algo que nos surpreende
completamente e que, no entanto, quando ouvimos falar dele, quase nos faz
sentir que poderíamos tê-lo adivinhado, uma vez que se harmoniza tão bem com
as coisas que já conhecemos”.
Explicando melhor a ilustração, todos sabem que, no espaço, podemos
nos mover de três maneiras: para a esquerda e para a direita, para a frente
e para trás, para cima e para baixo. Toda direção espacial é uma dessas
três ou uma combinação delas. São o que chamamos de três dimensões.

Agora note o seguinte. Se você usar apenas uma dimensão, poderá


desenhar somente linha reta. Se usar duas, poderá desenhar uma figura:
um quadrado, digamos que é feito de quatro linhas retas. Vamos dar mais um passo.

Se usar três dimensões, você poderá construir o que chamamos de um corpo solido, como um
cubo: um dado, por exemplo, ou um torrão de açúcar. O cubo é composto de seis quadrados.

NO NÍVEL HUMANO:

Nele, uma pessoa é um ser e duas pessoas


são dois seres separados - da mesma forma
que, num plano bidirecional como o de uma
folha de papel, um quadrado é uma figura e
dois quadrados são duas figuras separadas.

NO NÍVEL DIVINO:

Ainda existem personalidades; nele porém, as


encontramos combinações de maneiras novas, maneiras que nós, que não vivemos nesse nível
não podemos imaginar.

Na dimensão de Deus, por assim dizer, encontramos um Ser que são três pessoas sem deixar
de ser um único ser, da mesma forma que um cubo são seis quadrados sem deixar de ser um
único cubo.

OUTRAS ANALOGIAS E SUAS LIMITAÇÕES E PROBLEMAS

Como vimos, a Doutrina da Trindade é um mistério. Usamos de analogias para tentarmos


explicar o inexplicável. E não poucas vezes, sem a devida atenção, podemos levar as pessoas
a entenderem de forma equivocada. Sempre devemos enfatizar qual ponto da doutrina estamos
tentando explicar, tomando os devidos cuidados com as limitações de nossa mente e,
principalmente, da própria analogia que que estamos usando, pois toda analogia tem limitações.
O SOL

Essa é uma ilustração herética, foi usada por Sabélio para explicar
como o único Deus apareceu de modos diferentes ao longo da história.
“Ou tome-se o sol: o sol é uma só substância, mas com tríplice
manifestação: luz (o Filho), calor (o Espírito Santo) e o globo solar (o
Pai)”. Essa forma de explicar a trindade foi declarada como heresia.

O OVO

Uma adaptação da ilustração do “sol” usada por Sabélio.


Simplificando, o Filho seria a casca do ovo, o Espírito a clara, e o Pai
a gema. Ela está equivocada também, pois a casca, a clara e a gema
são claramente substâncias distintas.

A ÁGUA

Algumas pessoas exemplificam a Trindade usando a água e seus


estados físicos: sólido, líquido e gasoso. O equívoco desta ilustração
é o mesmo das ilustrações anteriores. A água não pode ser líquida,
sólida e gasosa ao mesmo tempo, logo é mais um exemplo modalista,
isto é, não condiz com o que a Bíblia ensina sobre o ser de Deus.

O TEMPO

O físico Adalto Lourenço, utiliza o exemplo do tempo para tentar explicar a Trindade. Ele fala
que o passado é tempo, o presente é tempo, e o futuro é tempo. Mas ainda é uma explicação
que falha em alguns pontos pois, teoricamente o passado e o futuro não existem no tempo
presente. Temos lembranças do passado, e plano para o futuro, mas não podemos viver nesses
três tempos.
CÉRBEROS

Willian Lane Craig, tem um exemplo controverso para explicar a trindade. Em certo ponto ele
compara ao Cérbero, que na mitologia grega é um cão de três cabeças que guarda o portão do
Hades. É um cachorro com três mentes distintas e autônomas, ao mesmo tempo trabalham
juntas para que o cão pudesse se mover. Em certo sentido a ilustração faz sentido, pois seriam
três pessoas em um único ser, contudo, existem limitações nesta ilustração.

SPINNER

Esta analogia, guardadas suas limitações, talvez nos ajude a entender o movimento de
comunhão da Trindade. Tim Keller, em seu livro A Cruz do Rei, nos fala sobe um pouco sobre
“Cada pessoa da Trindade
a dinâmica da Trindade citando outros autores também:
glorifica as outras. Nas palavras do meu autor favorito, C. S. Lewis: ‘No
cristianismo Deus não é algo estático […], mas sim dinâmico, uma atividade
pulsante, uma vida, quase que uma espécie de drama. Quase que, se você não
me achar irreverente, uma espécie de dança’. O teólogo Cornelius Plantinga
leva essa ideia mais adiante, observando que a Bíblia diz que o Pai, o Filho e o
Espírito glorificam um ao outro: ‘As pessoas dentro de Deus exaltam umas às
outras, têm comunhão umas com as outras, submetem-se umas às outras […]
Cada pessoa divina abriga as outras no centro do seu ser. Num constante
movimento de abertura e aceitação, cada pessoa envolve e cinge as demais.
[…] A vida interior de Deus [portanto] transborda em consideração pelos outros’.

(...) ‘O que importa isso?’, pergunta C. S. Lewis. ‘Importa mais do que tudo no
mundo. Toda essa dança, ou drama, ou padrão dessa vida tripessoal, deve estar
representada em cada um de nós […] [Júbilo, poder, paz, vida eterna] são uma
grande fonte de energia que jorra no próprio âmago da realidade’. Por que será
que Lewis opta por permanecer nessa imagem de uma dança? Uma vida
centrada em si mesma é parada, estática; não é dinâmica. Uma pessoa centrada
em si mesma quer ser o centro em volta do qual tudo mais gira. Pode até ser
que ela ajude pessoas; tenha amigos; se apaixone por alguém, desde que isso
não comprometa seus interesses pessoais ou aquilo que satisfaz suas
necessidades. Pode até ser que ela faça doações aos pobres - desde que isso
a faça sentir bem em relação a si mesma e não atrapalhe muito seu estilo de
vida. A atitude de ser alguém centrado em si mesmo faz de todo o resto um meio
para um fim. E esse fim, esse fim inegociável, é tudo aquilo que ela quer e que
ela gosta, colocando os interesses dela acima dos interesses dos outros. Pode
até ser que essa pessoa se divirta com os outros, converse com os outros, mas
no final tudo gira em torno dela.

Todavia, o que acontece se todos disserem: ‘Não, você gira em torno de mim’?
Imagine cinco, dez ou cem pessoas em cima de um palco, cada uma delas
querendo ser o centro. Elas apenas permanecerão lá, dizendo umas às outras:
‘Gire em torno de mim’. E ninguém chegará a lugar nenhum; a dança se tornará
arriscada, se não impossível.

A Trindade é completamente diferente disso. Em vez de termos pessoas


centradas em si mesmas, o Pai, o Filho e o Espírito caracterizam-se em sua
essência por um amor que se doa pelo outro. Nenhuma pessoa da Trindade
insiste para que as demais girem em torno dela. Antes, de forma voluntária, cada
uma delas envolve e gira em torno das demais”.

ESSE MOVIMENTO DE “DANÇA”, QUE É UMA FORMA POÉTICA DE EXPLICAR


O TERMO TEOLÓGICO “PERICORESE”, ILUSTRA, IGUAL O “SPINNER”, O
MOVIMENTO DE QUE O PAI EXISTE NO FILHO, O FILHO EXISTE NO PAI, E
AMBOS EXISTEM NO ESPÍRITO, DA MESMA FORMA COMO O ESPÍRITO
EXISTE EM AMBOS. ELES VIVEM E HABITAM TÃO INTIMAMENTE UM NO OUTRO POR
CAUSA DO AMOR ENTRE ELES, DEMONSTRANDO QUE SÃO UM
SÓ.
APLICAÇÕES PARA A COMUNIDADE

“Mas, na fé cristã, toda a diversidade acha sua unidade


final no próprio Deus; e é significativo que no próprio ser de
Deus achamos tanta unidade como diversidade. De fato,
nele achamos a base essencial para a unidade e a
diversidade. Nele achamos um ser em três pessoas. ”

Sproul, R. C
A TRINDADE NA VIDA DA IGREJA

Por mais que o apóstolo Paulo tenha vivido a muito tempo atrás, é errado pensar que suas cartas
tenham perdido a importância. A época em que Paulo viveu é mais parecida com a nossa do
que se imagina. A igreja de Corinto é um exemplo de que, hoje, culturalmente estamos próximos
do período em que os apóstolos plantaram as igrejas.

Quando lemos 1 e 2 Coríntios, encontramos situações exatamente iguais às que existem nas
igrejas hoje em dia. Corinto era uma cidade grande, foi um importante centro comercial da
região, além de concentrar muitos templos dedicados aos deuses gregos.

Os moradores desta cidade foram se convertendo a Jesus e a igreja foi crescendo. E assim
como acontece hoje em dia, esses novos convertidos chegavam na comunidade de fé com o
mesmo jeito de adorar um deus da mitologia. Eles estavam acostumados a servirem a um deus
específico para ter uma boa colheita; para ter uma boa viagem eles faziam um sacrifício para
outro deus; se essa viagem fosse pelo mar eles se devotavam ao deus responsável pelo mar;
se o problema fosse de saúde eles tinham que procurar um sacerdote do deus responsável pela
medicina, e assim por diante.

Cada deus tinha um departamento. Na mitologia grega, esses deuses entravam em guerra
constantemente, e era comum existir facções entre os sacerdotes dos deuses. Além disso, o
relacionamento com a “divindade” era por meio de trocas, e grande parte dessa relação era
apenas por causa do medo, uma vez que os deuses viviam bravos, só esperando alguém “pisar
na bola” pra colocar um vulcão em erupção.

Na igreja de Corinto havia uma série de problemas que envolvia o individualismo. Uma igreja
em que as pessoas se relacionam com base em trocas de favores, adicione o medo da punição,
da exposição, da privação, com certeza haverá divisões.

Cada ser humano tem uma capacidade inerente de buscar apenas seus interesses. E, em uma
cultura em que existem várias divindades, essa política de tentar agradar a todos para conseguir
o que precisa, é uma bomba relógio.

Após Paulo pontuar as falhas da igreja e orientar os irmãos de Corinto, ele encerra com as
“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de
palavras finais em 2 Coríntios 13.13:
Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todas vós”.
Para aqueles que entendem que merecem o favor de Deus por serem servos exemplares, Paulo
ressalta que tudo o que recebemos de Deus é pela graça, por meio dos méritos de Jesus Cristo.

Para aqueles que fazem o que fazem por que sentem medo, Paulo os lembra que o amor à Deus
é a motivação para serem fiéis em todo o tempo.
E para aqueles que são movidos pelos próprios interesses causando divisão no corpo de Cristo,
o apóstolo encerra essa benção (não é errado considerar como uma oração) reforçando a
unidade que o Espírito Santo traz sobre a vida daqueles que foram alcançados pelo sacrifício
de Jesus.

A benção apostólica é uma benção trinitária.

UNIDADE

Como Deus em si mesmo contém tanto a unidade quanto a diversidade, não é de admirar que
a unidade e diversidade também se reflitam nas relações humanas que Ele formou.

Desde a origem do mundo, a Igreja, enquanto comunidade dos santos, foi prefigurada. Já na
criação, Deus pensou em termos de comunidade ao fazer o ser humano à sua imagem e
semelhança e também ao declarar que não era bom o homem viver solitário. Deus quis que os
seres humanos formassem uma só família e se tratassem mutuamente com espírito de
fraternidade.

Quando Jesus Cristo ora ao Pai que todos sejam um assim como ele é um com o Pai ( Jo 17.21-
22), abre perspectivas inacessíveis à razão humana e sugere alguma semelhança entre a união
das pessoas divinas e a união dos filhos de Deus na verdade e no amor.

Porém, Deus não poderia comunicar uma comunhão pessoal com Ele e entre os seres humanos
se Ele não fosse antes, em um sentido mais profundo de comunhão em si mesmo. E essa
comunhão é estendida ao ser humano à medida que se designa a penetração da natureza
humana pela natureza divina, através da pessoa do Filho, no seio da união trinitária.

COMPREENSÃO DE SI PRÓPRIO

É inadmissível para um verdadeiro cristão aceitar a ideia de que o ser humano é um simples
produto das forças naturais irracionais. Na verdade, a existência humana está ligada a uma
causa diferente da simples natureza: ela é um ato criativo de Deus.

Esse ato criativo consiste em ter criado o homem à sua imagem e semelhança, e pode significar
que o homem é uma representação de Deus. Não que seja idêntico, mas similar. Deus não
precisava criar o homem, mas escolheu criá-lo para satisfação dele. O ser humano existe para
benefício, glória, propósito e prazer de Deus.

Dar prazer a Deus é adorá-lo e a adoração é um impulso universal, posto por Deus na estrutura
do ser humano. É uma necessidade intrínseca do homem de se ligar a Deus, ou a algum
eventual substituto a ele.

Contudo, o homem é um ser criado por Deus não para suprir uma carência, mas pela vontade
de Deus o homem foi criado para ser inserido na Trindade, para fazer parte desse
relacionamento perfeito de amor, para ser um em Deus.
RELACIONAMENTO COM A TRINDADE – O CULTO

O verdadeiro culto cristão tem necessariamente uma estrutura trinitária. Para ser culto cristão
deve referir-se de algum modo a Jesus e também a Deus e, ao fazê-lo, inevitavelmente se
referirá ao Espírito Santo que atua entre seu povo.

O encontro com a Trindade no culto vai além do fato de que, quando se participa dele, canta-se
hinos, diz-se orações e recebe-se a Palavra. A participação no culto pode, e deve penetrar até
os níveis mais profundos da experiência com Deus e tornar-se um autêntico envolvimento com
Ele.

Enfim, é no culto que o homem recebe o Filho e o Espírito que o Pai envia para a salvação do
mundo. Deus segura o homem com suas duas mãos. Jesus Cristo se insere no meio daqueles
que se reúnem em seu nome. Ele pronuncia sua Palavra para essas pessoas. Deixa-se
conhecer pelo ato de repartir o pão. Habita nos corações pela fé.

O Espírito Santo se manifesta na adoração a Jesus. O Espírito relembra os ensinamentos de


Cristo e inspira a cantar cânticos de adoração ao nome de Jesus. O Espírito, enviado pelo Pai,
conduz à presença de Cristo.

Durante nossas orações as três pessoas da Trindade estão envolvidas. Entendemos que na
economia da Trindade (a forma que Deus se organizou no plano de salvação) é coerente afirmar
que “oramos ao Pai, em nome de Jesus, pelo poder do Espírito Santo”. Mas não quer dizer que
a oração deva ser exclusivamente ao Pai, uma vez que em Atos 7.59 Estevão orou a Jesus.
“Enquanto apedrejavam Estêvão, este orava: “Senhor Jesus, recebe o meu
espírito”.

CONCLUSÃO
A dinâmica da fé é uma dinâmica trinitária, onde a fé começa pelo Pai enviando o Espírito e
termina no Pai por meio do encontro com Jesus, ou seja, a fé acontece no Espírito que o Pai
nos envia, que possibilita o primeiro passo de saída da escravidão do pecado e liberta-nos para
uma liberdade que é um “sim” à elevação à infinidade divina.

Libertos, somos levados então pelo Espírito ao encontro com o Filho, que é a revelação do Pai
e único caminho até ele. É somente Jesus quem nos dá livre acesso ao Pai, que é tudo em todos
e que ao enviar o Espírito e nos atrair ao Filho se dá, em cada ato de fé.

A DOUTRINA DA TRINDADE É CRUCIAL PARA O CRISTIANISMO, pois ela se ocupa em


definir quem é Deus, como ele é, como trabalha e a forma pela qual se tem acesso a ele.

Não há nenhuma deficiência em Deus que o levou a criar o homem a fim de ter um objeto de
seu amor ou a encontrar uma expressão para seu amor. O Filho é o objeto perfeito do amor do
Pai e o Espírito é a expressão perfeita do amor do Pai e do Filho.

Mas da plenitude da vida de amor de Deus, ele escolheu criar o homem a fim de compartilhar
sua vida de amor. Essa é a compreensão exata do perfeito elo trinitário - ela é vital para o culto
cristão. É por meio dessa compreensão que os cristãos podem verdadeiramente cultuar ao Deus
trino, sem fazer distinção de qualquer uma das pessoas da Trindade.
Essa compreensão convida a todos a participarem do movimento de adoração entre as três
pessoas, em unidade, mesmo na diversidade. Ela convida a todos a compartilharem do culto ao
Deus trinitário.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FRANGIOTTI, R. – HISTÓRIAS DAS HERESIAS (SÉCULOS I-VII)

SPROUL, R. C. – O QUE É A TRINDADE?

OLSON, R. – HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ

ERICKSON, M. – TEOLOGIA SISTEMÁTICA

BERKHOF, L. – MANUAL DE DOUTRINA CRISTÃ

BEEKE, J.R. – TEOLOGIA PURITANA

MCGRATH, A. – HERESIA

VANHOOZER, K. – A TRINDADE, AS ESCRITURAS E A FUNÇÃO DO TEÓLOGO

HEBER CAMPOS – AS DUAS NATUREZAS DO REDENTOR

C. S. LEWIS – CRISTIANISMO PURO E SIMPLES

ARTIGO: A IDENTIDADE DO MESSIAS E OS FALSOS ENSINOS – SITE ENSINANDO


DE SIÃO – LINK: HTTPS://ENSINANDODESIAO.ORG.BR/ARTIGOS-E-ESTUDOS/A-
IDENTIDADE-DO-MESSIAS-E-OS-FALSOS-ENSINOS/

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