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O Fruto do Espírito

por

William Hendriksen

[...]

“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade,


benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra
tais coisas não existe lei” (Gálatas 5:22,23).

Talvez possamos dividir estes noves preciosos dons em três grupos,


perfazendo três frutos e cada grupo. Se este for o correto — de
forma alguma tem-se certeza! —, o primeiro grupo estaria referindo-
se às qualidades espirituais mais básicas: amor, alegria, paz. O
segundo grupo indicaria aquelas virtudes que se manifestam nas
relações sociais. Pressupomos que considera os crentes em seus
diversos contatos uns com os outros e com aqueles que não
pertencem à comunidade cristã: longanimidade, benignidade,
bondade. No último grupo, se bem que aqui há bastante espaço para
divergência de opinião, o primeiro fruto poderia referir-se à relação
dos crentes com Deus e sua vontade revelada na Bíblia: fidelidade ou
lealdade. O segundo, presume-se, teria a ver com seu contato com os
homens: mansidão. O último, à relação que cada crente tem consigo
mesmo, ou seja, com seus próprios desejos e paixões: domínio
próprio.

Encabeçando o primeiro grupo temos “o maior dos três maiores”, ou


seja, o amor (1 Coríntios 13; Efésios 5:2; Colossenses 3:14). Para esta
virtude, ver 5:6 e 5:13, acima. Não somente Paulo, mas também João
estabelece prioridade a esta graça de abnegação (1 João 3:14;
4:8,19). E igualmente Pedro (1 Pedro 4:8). E assim eles estão
seguindo o claro exemplo que lhes deu Cristo (João 13:1,34; 17:26).
Apesar de que, assim como estas passagens o revelam, dificilmente
seria legítimo limitar estritamente esta virtude tão básica ao “amor
pelos irmãos”, todavia, por outro lado, no presente contexto (que
fala de contendas, disputas e ciúmes, etc., ver também v.14) a
referência pode muito bem ser especialmente a este afeto mútuo.
Quando o amor se faz presente, a alegria não pode estar muito
longe. Não nos disse o autor que o amor é o cumprimento da lei, e
que fazer o que a lei de Deus manda traz deleite? (Salmos
119:16,24,35,47,70,174). Além disso, a verdade desta afirmação
torna-se ainda mais clara quando se tem em mente que a capacidade
para observar esta ordenança divina é um dom de Deus, sendo um
elemento daquela maravilhosa salvação que em seu grande amor
concedeu gratuitamente a seus filhos. Além disso, já que todas as
coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos
8:28), faz-se evidente que os crentes podem alegrar-se mesmo diante
de circunstâncias as mais dolorosas, assim como Paulo mesmo
comprovou muitas vezes (Atos 27:35; 2 Coríntios 6:10 “entristecidos,
mas sempre alegres”; 12:9; Filipenses 1:12,12; 4:11; 2 Timóteo 4:6-
8). Além do mais, sua alegria não é a deste mundo, que é uma
diversão superficial e que fracassa em satisfazer as necessidades mais
profundas da alma, mas a de Deus é uma “alegria indizível cheia de
glória” (1 Pedro 1:8), e um antecipação da alegria radiante que está
reservada para os seguidores de Cristo. A paz também é um resultado
natural do exercício do amor, pois “grande paz têm os que amam a
tua lei” (Salmos 119:165; cf. 29:11 ; 37:11; 85:8). Esta paz é a
serenidade de coração, a porção de todos quantos, tendo sido
justificados mediante a fé (Romanos 5:1), aspiram ser instrumentos
nas mãos de Deus para fazerem que outros também possam
compartilhar desta tranqüilidade. Portanto, o possuidor da paz torna-
se também um promotor da paz (Mateus 5:9). Portanto, aquele que
está realmente consciente desta grandiosa dádiva da paz, a qual
recebeu de Deus como resultado da amarga morte de Cristo na cruz,
envidará todo esforço para “preservar — dentro da comunidade
cristã — a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Efésios 4:3).

A menção da paz é, por assim dizer, um liame natural entre o


primeiro e o segundo grupo, porquanto esta virtude é com freqüência
contrastada com as contendas entre os homens, e porque este
segundo grupo descreve aquelas virtudes que os crentes revelam em
seus contatos entre si e com os demais homens. O primeiro dos frutos
do Espírito mencionados neste segundo grupo é a longanimidade. Ela
caracteriza a pessoa que, em relação àqueles que a aborrecem, se
lhe opõem ou a molestam, exerce a paciência. Ela se recusa a
entregar-se à paixão ou às explosões de ira. A longanimidade ou
paciência não é apenas um atributo humano, mas também divino,
visto que o mesmo é atribuído a Deus (Romanos 2:4; 9:22) e a Cristo
(1 Timóteo 1:16), bem como ao homem (2 Coríntios 6:6; Efésios 4:2;
Colossenses 3:12,13; 2 Timóteo 4:2). Como atributo humano, é
inspirado pela confiança de que Deus cumprirá suas promessas (2
Timóteo 4:2,8; Hebreus 6:12). Os gálatas necessitavam muitíssimo de
que se pusesse ênfase nesta virtude, já que eles, como já vimos,
provavelmente estavam se dividindo pelas contendas e por um
espírito partidário. Por outro lado, a longanimidade é uma grande
arma contra a hostilidade do mundo em sua atitude para com a
igreja. De mãos dadas com essa virtude está a benignidade. Esta é
suave e terna. Os primeiros cristãos se recomendavam por meio dela
(2 Coríntios 6:6). Este fruto, tal como exercido pelos crentes, nada
mais é do que um pálido reflexo da benignidade primordial
manifestada por Deus (Romanos 2:4; cf. 11:22). Além disso, somos
admoestados a tornar-nos como Ele neste aspecto (Mateus 5:43-48;
Lucas 6:27-38). Os Evangelhos contêm numerosas ilustrações da
benignidade que Cristo demonstrou para com os pecadores. Para
mencionar apenas algumas, ver Marcos 10:13-16; Lucas 7:11-17, 36-
50; 8:40-56; 13:10-117; 18:15-17; 23:34; João 8:1-11; 19:25-27. A
virtude que completa este grupo é a bondade, que é a excelência
moral e espiritual, em todos os aspectos, criada pelo Espírito. No
presente contexto, visto que é mencionada depois da benignidade, se
refere especialmente à generosidade de coração e de ações.

Finalmente, o apóstolo menciona as três graças que concluem todo o


sumário. Primeiro está a fidelidade. O termo como usado no original
com freqüência se traduz corretamente pela palavra fé. Todavia,
uma vez que aqui aparece depois de “benignidade” e “bondade”,
parece ser mais correto traduzir-se por “fidelidade”. O seu
significado é lealdade, fidelidade. Uma vez que nesta mesma carta
Paulo se queixa da falta de fidelidade para com ele, o que foi
demonstrado através da conduta de muitos dos gálatas (4:16),
percebemos que a menção desta virtude, aqui, é algo bastante
apropriado. Contudo, em última análise não era tanto para com o
próprio Paulo que havia falta de lealdade, e, sim, para com o
evangelho — e, assim, para com Desu e sua Palavra —, e tinha
estado faltando em proporção elevada, como fica evidenciado por
1:6-9; 3:1; 5:7. Conseqüentemente, com toda probabilidade o que
Paulo está recomendando aqui, como um fruto do Espírito, é a
fidelidade a Deus e à sua vontade. Contudo, isto não exclui, antes
inclui, a lealdade para com os homens. Parece-nos apropriado
interpretar aqui o próximo item, ou seja, a mansidão, como sendo a
gentileza uns para com os outros e para com todos os homens,
principalmente se levarmos em consideração o contexto precedente,
o qual fala das dissensões em suas várias manifestações (ver vv. 20 e
21). Cf. 1 Coríntios 4:21. Esta virtude também nos faz lembrar de
Cristo (Mateus 11:29; e 2 Coríntios 10:1). A mansidão é o oposto
extremo da veemência, da violência e da agressividade ou explosões
de ira. A última virtude que Paulo menciona, e por implicação
recomenda, é o domínio próprio, que é uma relação que alguém
mantém consigo mesmo. A pessoa que tem a bênção de possuir esta
qualidade, possui “o poder de conter-se a si mesma”, que é o sentido
do termo usado no original. O fato de terem sido mencionadas
previamente, entre os vícios enumerados (v. 19), a imoralidade, a
impureza e a indecência, revela que era apropriado mencionar o
domínio próprio como a virtude oposta. Fica claro que aqui temos
referência a muito mais coisas que simplesmente a sexo. Aqueles que
realmente exercem esta virtude levam todo o pensamento à
submissão e obediência a Cristo (2 Coríntios 10:5).

E prossegue: contra tais coisas não existe lei. Uma vez que Paulo
aqui completou uma lista de virtudes, que são coisas, não pessoas, é
natural interpretar suas palavras como significando: “contra
tais coisas — tais virtudes — não existe lei”. A gramática não proíbe
tal construção. Também é óbvio que, à semelhança dos vícios
enumerados, esta lista de virtude é apenas representativa. Não
podemos mesmo afirmar que todas as excelências cristãs estão
incluídas na lista. Portanto, Paulo diz: “contra tais... Ao dizer que
contra tais coisas não existe lei, ele está encorajando a cada crente a
manifestar estas qualidades, a fim de que, assim procedendo, os
vícios possam ser aniquilados”.

O incentivo de que precisamos para exibir estes excelentes traços do


caráter foi fornecido por Cristo, pois é devido à gratidão que os
crentes sentem para com Cristo que os usam para adornar sua
conduta. O exemplo, também, em conexão com todos eles, foi dado
por ele. E as próprias virtudes, associadas ao poder para exercê-las,
são doadas pelo seu Espírito.

Embora Paulo tenha qualificado as virtudes enumeradas de “o fruto


do Espírito”, agora ele desvia a ênfase do Espírito para Cristo. Se ele
pôde fazer isso tão prontamente, é devido ao fato de que quando o
Espírito ocupa o coração, Cristo também o faz (Efésios 3:16,17).
Cristo e o Espírito não podem ser separados entre si. Cristo mesmo
habita a vida interior dos crentes “no Espírito” (Romanos 8:9,10). O
Espírito não foi dado por Cristo? (João 15:26; 2 Coríntios 3:17). A
razão para esta mudança de ênfase é que o apóstolo lembrará os
gálatas de que eles crucificaram a carne. Isso, naturalmente, chama
a atenção imediatamente para Cristo e sua cruz. E assim Paulo
prossegue [...]

 
Fonte: Extraído do excelente comentário de Gálatas de William
Hendriksen, publicado pela Editora Cultura Cristã, páginas 321-
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