Você está na página 1de 7

Missões na Reforma Protestante do Século XVI

por

Rev. Ewerton Barcelos Tokashiki

Porquê este estudo histórico?

Alguns desconhecendo a grandiosa extensão do que fizeram os


reformadores, forjam afirmações infundadas, e talvez
preconceituosamente maldosas. Tão grosseira alegação é que os
calvinistas por crerem na doutrina da predestinação não fazem
missões![1]

É de se perguntar, porquê o historiador Terri Williams que em


seus gráficos menciona “Missões Protestantes” somente a partir
de 1701?[2]

Surpreende-nos também, tão exímio historiador, Stephen Neill


não mencionar missões protestantes nos capítulo 4 e 5 (1500-
1600 d.C.), limitando-se a falar de missões católicas desse
período! E somente o faz no capítulo 7. Faz uma estranha
avaliação dizendo que “era muito difícil que uma Igreja de tal
forma confinada aos limites de uma dada área geográfica
pudesse vir a tornar-se missionária, em qualquer das asserções
da palavra.”[3] Todavia, mais avante este mesmo autor é pego
em contradição quando cita três casos de “tímidos começos de
obra missionária.”[4]

1. O rei Gustavo Vasa da Suécia, em 1559, encorajou a


evangelização entre os lapões.

2. Hans Ungnad von Sonneck evangelizou com literatura em


língua eslava.

3. Venceslau Budowitz von Budokwa, entre 1577 a 1514,


residiu em Constantinopla (Istambul) como missionário.

Ainda assim, Neill omite a obra missionária calvinista no século


XVI. Quanto a isto, veremos mais adiante.

Dificuldades Para a Realização de Obras Missionárias no século


XVI
1. Poucos obreiros disponíveis;
2. A Igreja era Estatal, dependia do sustento e autorização do
Estado;
3. Período de definições doutrinárias;
4. Disputas teológicas entre os reformadores calvinistas e
luteranos;
5. Europa em clima de guerra contra os “turcos”;
6. Não tinham acesso aos recursos marítimos.

Calvino e a Obra Missionária

João Calvino nunca escreveu uma obra, especificamente,


dissertando sobre “missões”. Mas em seus comentários bíblicos
deixou-nos sua opinião em fidelidade ao mandato do Senhor
Jesus.[5]

Em Mt 28:19
“O Senhor ordena aos ministros do Evangelho, que preguem em
lugares distantes, com o propósito de espelhar a salvação em
cada parte do mundo”.

Em 1 Tm 2:4
“Nenhuma nação da terra e nenhum segmento da sociedade
está excluído da salvação, porque Deus deseja oferecer o
evangelho a todos e sem nenhuma exceção”.

A Produção de Literatura Teológica de Calvino

Uma das poderosas armas na divulgação dos princípios da


Reforma foi a literatura. Somente em Genebra existiam 38
oficinas tipográficas! O renomado historiador Vicente Temudo
Lessa observa que

duas mil pessoas se ocupavam na impressão de Bíblias e


literatura de controvérsias, obras estas que eram introduzidas
nos países vizinhos com risco de vida dos que se entregavam
àquele trabalho de abnegação. Genebra fez luzir bem alto a sua
lâmpada e tornou-se a grande escola das nações.[6]
As obras de Calvino (Institutas, comentários bíblicos, sermões
escritos, obras teológicas diversas) foram traduzidas e
publicadas em diversas línguas, enquanto ele ainda vivia
(morreu em 1564). A língua usada para redigir qualquer obra
naquela época era o latim, isso facilitava a tradução. Suas
diversas obras traduzidas para o francês, alemão, italiano,
tcheco, holandês, espanhol, inglês e até mesmo para o grego
moderno![7]

Sabemos que até hoje os missionários utilizam a literatura,


como método eficaz para divulgar o evangelho.

Preparo e Envio de Pastores (Academia de Genebra)

A “Academia de Genebra” foi fundada em 05/06/1559. A


necessidade de pastores e obreiros era gritante! O próprio
Calvino numa de suas cartas desabafa essa triste realidade,
dizendo que “em todas as partes da França, os irmãos estão
implorando a nossa assistência”.[8]

James Mackinnon observa que “o estabelecimento da Academia


foi em parte realizada por causa do desejo de suprir e treinar
missionários evangélicos”.[9]

Sobre os alunos sabemos que

devidamente treinados, os estudantes retornariam a seus países


de origem e divulgariam o evangelho como missionários. Nesse
sentido, procurou fazer de Genebra um centro missionário para
divulgar a Reforma e seus ensinos por toda a Europa e outros
países do mundo.[10]

Missões Calvinistas/Genebrinas no Brasil

- O Brasil como colônia portuguesa em regime do “Padroado”. O


historiador presbiteriano Dr. Alderi S. Santos define
o Padroado como sendo “uma concessão feita pela Igreja
Católica a determinados governantes civis, oferecendo-lhes um
certo controle sobre a igreja em seus respectivos territórios
como um reconhecimento por serviços prestados à causa
católica e um incentivo a futuras ações em benefício da
igreja.”[11]

- Em 1493, Papa Alexandre VI redigiu um documento


declarando a supremacia espanhola sobre as terras
descobertas.

- Em 1494, o Tratado de Tordesilhas determinou o que seria da


Espanha e o que seria de Portugal nas novas descobertas.
- No Brasil, o Padroado “significava que a coroa portuguesa iria
fornecer os navios para o transporte dos religiosos, financiar o
empreendimento missionário, construir as igrejas e outros
edifícios eclesiásticos e pagar o salário dos sacerdotes. Em
contrapartida, teria o direito de nomear os bispos, recolher os
dízimos dos fiéis, aprovar os documentos eclesiásticos e
interferir em quase todas as áreas da vida da igreja”.[12]

- Em 1549, chegam os primeiros 6 jesuítas ao Brasil


(Companhia de Jesus foi organizada 9 anos antes, em 1540).

- Em 1553, chega o mais famoso dos jesuítas, José de Anchieta.

- A Reforma Protestante não penetrou em Portugal/Espanha


(criação Jesuítas e da Inquisição na Contra-Reforma).

- Em 1555, sob a liderança de Nicolas Durand de Villegaignon,


grupo de cerca 600 franceses fundaram o Forte Coligny na Baía
da Guanabara-RJ, dando origem à “França Antártica”:

1. Busca de enriquecimento na nova terra


2. Refúgio para franceses perseguidos

- Ficando, assim conhecida como “a Invasão Francesa”, em


nossa história [católica] brasileira. A. G. Mendonça, nota que
“vale ainda considerar o fato de que a resistência portuguesa
aos invasores era sempre feita não somente em nome de sua
soberania política e de seus interesses comerciais, mas também
na defesa de sua fé contra as heresias”.[13]

- Villegaignon solicitou a Calvino o envio de pastores.

- Em 07/03/1557, chegaram 2 pastores (Pierre Richier e


Guillaume Chartier) grupo de huguenotes[14], e refugiados
vindos de Genebra, numa 2a expedição.

- Em 10/03/1557 celebram o 1º culto protestante em solo


brasileiro.

- Em 21/03/1557 celebração da 1a Santa Ceia em rito


Genebrino.

- “Ex-frade” Jean Cointac levanta questões sobre:[15]


1. sacrifício da missa
2. doutrina e usos dos sacramentos
3. invocação e mediação dos santos
4. oração pelos mortos
5. o purgatório

- Villegaignon posiciona-se católico e persegue os huguenotes.

- Os huguenotes buscaram refúgio entre os índios tupinambás.

- Tentaram fugir por navio, mas este afundou.

- Cinco voltaram, e foram aprisionados por Villegaignon.

- “Confissão de Fé da Guanabara”[16]

Jean du Bordel...... enforcado


Mathieu Verneuil.... enforcado
Pierre Bourdon...... enforcado
André Lafon......... poupado (único por ser o alfaiate)
Jacques Le Balleur.. fugiu para cidade de São Vicente, sendo
preso e levado para Salvador, e em 1567 transferido para o Rio
de Janeiro, e enforcado pelo próprio José de Anchieta.

- Jean de Léry escreveu um livro intitulado “História de uma


Viagem Feita à Terra do Brasil”, publicado em 1578, Paris. Foi
estudar na Academia de Genebra, e tornou-se um pastor
calvinista.

- Em 1580, Portugal é dominado pela Espanha.

Missões Calvinistas/Holandesas no Brasil

Não nos delongaremos este tópico por ser posterior à Reforma


do Século XVI, mas apenas faremos dele menção.

1. Holandeses na Bahia (1624-1625)


2. Holandeses em Olinda-PE (1630-1654)
3. Veja “Igreja e Estado no Brasil Holandês”, Frans L. Schalkijk,
pela Editora Cultura Cristã.
NOTAS:

[1] Ruth A. Tucker, “…até aos confins da Terra” (São Paulo, Ed.
Vida Nova, 1996), p. 70

[2] Terri Williams, Cronologia da História Eclesiástica (São


Paulo, Ed. Vida Nova, 2000), p. 101

[3] Stephen Neill, História das Missões (São Paulo, Ed. Vida


Nova, 1989), p. 226

[4] Ibidem, p. 228

1. [5] John Calvin’s Commentary in: Calvin’s Work, CD-


Rom Master Library Christian, vide* in loci.

[6] Vicente Temudo Lessa, Calvino 1509-1564 Sua Vida e Sua


Obra (São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, s/d.) pp. 244-245

[7] Antônio Carlos Barros, A Consciência Missionária de


Calvino in: Fides Reformata, vol. III, no. 1, 1998, p. 44

[8] Ibidem, p. 43

[9] James Mackinnon, Calvin and the Reformation (Londres,


Penguin Books, 1936), p. 195

[10] W. Stanford Reid, Calvin’s Geneva: A Missionary


Center (The Reformed Theological Review, 42:3), p. 66

[11] Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do


Cristianismo.Veja o Apêndice: Alderi S. Santos, Eventos
Marcantes da História do Cristianismo no Brasil (São Paulo, Ed.
Cultura Cristã, 2000), p.334

[12] Ibidem, p. 334

[13] Antônio Gouvêa Mendonça, O Celeste Provir – A Inserção do


Protestantismo no Brasil (São Paulo, Ed. IMS, 1995), p. 23

[14] Huguenotes era o nome dado aos calvinistas franceses.

[15] Ibidem
[16] Cópia desta “Confissão” em Paulo Anglada, Sola Scriptura,
p. 191-197

Rev. Ewerton B. Tokashiki


tokashiki@ronnet.com.br 
Pastor da Igreja Presbiteriana de Cerejeiras – RO
Prof. de Teologia Sistemática do STBC – Extensão Ji-Paraná

Agradecemos o autor pelo envio e permissão da publicação do


presente artigo. O Rev. Tokashiki, pela graça de Deus, é um dos
nossos colaboradores.

www.monergismo.com

Este site da web é uma realização de


Felipe Sabino de Araújo Neto®
Proclamando o Evangelho Genuíno de CRISTO JESUS, que é o poder de DEUS para salvação de todo
aquele que crê.

TOPO DA PÁGINA

Estamos às ordens para comentários e sugestões.

Livros Recomendados

Recomendamos os sites abaixo:

Academia Calvínia/Arquivo Spurgeon/ Arthur Pink / IPCB / Solano Portela /Textos da reforma / Thirdmill


Editora Cultura Cristã /Edirora Fiel / Editora Os Puritanos / Editora PES / Editora Vida Nova

Você também pode gostar