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HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E

AS PRÁTICAS ATUAIS

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


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Luciana Rigotto Parada Redigolo é enfermeira formada pelo Centro


Universitário Barão de Mauá e possui Especialização em Administração
Hospitalar pelo Centro Universitário São Camilo e Especialização em
Saúde Pública pela Faculdade AVM de Brasília. Além disso, é mestranda
em Saúde e Educação pela Universidade de Ribeirão Preto, onde
desenvolve o projeto de pesquisa "O perfil das crianças menores de 1
ano impossibilitadas de receber leite materno". Atualmente, trabalha
como enfermeira em um ambulatório de Nutrologia da rede pública
municipal de Ribeirão Preto-SP.
Luciana Rigotto Parada Redigolo

HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E
AS PRÁTICAS ATUAIS

Batatais
Claretiano
2015
© Ação Educacional Claretiana, 2014 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação
Educacional Claretiana.

CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia
Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori
Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia
Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone
Rodrigues de Oliveira
Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus
Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni
• Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice
Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira •
Tamires Botta Murakami
Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote
Cardoso
Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

610.7309 R25h

Redigolo, Luciana Rigotto Parada


História da enfermagem e as práticas atuais / Luciana Rigotto Parada Redigolo – Batatais,
SP : Claretiano, 2015.
110 p.

ISBN: 978-85-8377-447-1

1. Enfermagem. 2. Evolução da Enfermagem. 3. Assistência de Enfermagem.


4. Processo Saúde-Doença. 5. Equipe multiprofissional. I. História da enfermagem
e as práticas atuais.

CDD 610.7309

INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: História da Enfermagem e as Práticas Atuais
Versão: dez./2015
Formato: 15x21 cm
Páginas: 110 páginas

CDD 658.151
SUMÁRIO

CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS............................................................................. 15
3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE................................................................ 23
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 24
5. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 25

Unidade 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE


SAÚDE
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 29
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 29
2.1. AS PRÁTICAS DE SAÚDE INSTINTIVAS..................................................... 29
2.2. AS PRÁTICAS DE SAÚDE MÁGICO-SACERDOTAIS................................... 30
2.3. AS PRÁTICAS DE SAÚDE NO ALVORECER DA CIÊNCIA........................... 31
2.4. AS PRÁTICAS DE SAÚDE MONÁSTICO-MEDIEVAIS................................ 32
2.5. AS PRÁTICAS DE SAÚDE PÓS-MONÁSTICAS........................................... 33
2.6. AS PRÁTICAS DE SAÚDE NO MUNDO MODERNO.................................. 35
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 36
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 37
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 39
6. E-REFERÊNCIA................................................................................................... 39
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.......................................................................... 39

Unidade 2 – ORIGEM DA ENFERMAGEM


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 43
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 43
2.1. SÉCULO 17 – LUÍSA DE MARILLAC........................................................... 44
2.2. SÉCULO 18 – ANNA NERY......................................................................... 45
2.3. SÉCULO 19 – FLORENCE NIGHTINGALE.................................................. 46
2.4. A ENFERMAGEM E O MODELO BIOMÉDICO.......................................... 49
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 54
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 55
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 56
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 57
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 58

Unidade 3 – A ENFERMAGEM BRASILEIRA


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 61
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 61
2.1. PERÍODO DE 1960 A 1980 – A EXPANSÃO TECNOLÓGICA E A
REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO........................................................ 64
2.2. PERÍODO DE 1980 A 2010 – FIM DA DITADURA E A EVOLUÇÃO DA
SAÚDE NO BRASIL..................................................................................... 66
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 71
3.1. EVOLUÇÃO DA ENFERMAGEM BRASILEIRA........................................... 71
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 72
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 74
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 75
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 76

Unidade 4 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PRÁTICA DE ENFERMAGEM


NO BRASIL
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 81
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 82
2.1. A EQUIPE DE SAÚDE – O DESAFIO DA ENFERMAGEM RUMO À
MUDANÇA DO MODELO ASSISTENCIAL................................................. 82
2.2. DIRETRIZES CURRICULARES DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM
ENFERMAGEM E OS AVANÇOS CIENTÍFICOS E TECNOLÓGICOS........... 86
2.3. OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO
SEGUNDO EDGAR MORIN........................................................................ 95
2.4. O ENFERMEIRO E A PRÁTICA CLÍNICA.................................................... 99
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 105
3.1. EXERCÍCIO DA PROFISSÃO....................................................................... 105
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 105
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 107
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 108
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 108
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
Desenvolvimento histórico das práticas de saúde. Origem
da Enfermagem. A Enfermagem Brasileira. Evolução histórica da
prática de Enfermagem no Brasil.

Bibliografia Básica
ALMEIDA, M. C. P.; ROCHA, J. S. Y. O saber de Enfermagem e sua dimensão prática. São
Paulo: Cortez, 1986.
OGUISSO, T. (Org.). Trajetória histórica e legal da Enfermagem. São Paulo: Manole,
2007.
RIZZOTTO, M. L. F. História da Enfermagem e sua relação com a saúde pública. Rio de
Janeiro: AB Editora, 1999.

Bibliografia Complementar
ATKINSON, L. D.; MURRAY, M. E. Fundamentos de Enfermagem: introdução ao processo
de Enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989.
CIANCIARULHO, T. I. Instrumentos básicos para o cuidar: um desafio para a qualidade
da assistência. São Paulo: Atheneu, 2005.
DINIZ, D. Conflitos morais e bioética. Brasília: Letras Livres, 2001.
GEORGE, J. B. Teorias de Enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2000.
HIRATA, N. Profissões e empregabilidade no Brasil. Campinas: Papirus, 1992.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

É importante saber
Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá
ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias
à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos,
os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento
ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de
saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente sele-
cionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados em
sites acadêmicos confiáveis. São chamados "Conteúdos Digitais Integradores" por-
que são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referên-
cia. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementa-
res) e a leitura de "navegação" (hipertexto), como também garantem a abrangência,
a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de
estudo obrigatórios, para efeito de avaliação.

8 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo ao nosso estudo de História da Enferma-
gem e as Práticas Atuais , o qual consiste na apresentação de fa-
tos históricos sobre a área de Enfermagem, para que você possa
conhecer um pouco da essência dessa profissão.
A palavra enfermeiro origina-se de duas palavras do latim:
nutrix, que significa "mãe", e do verbo nutrire, que tem como
significado "criar" e "nutrir". No século 19, esses termos foram
adaptados ao inglês e se transformaram na palavra nurse, que
significa "enfermeira".
A Enfermagem é uma das profissões da área de saúde cuja
especificidade é o cuidado ao ser humano, seja este inserido em
seu núcleo familiar, seja na comunidade.
Atualmente, a Enfermagem faz parte de uma equipe que
busca, como exercício dos seus profissionais, produzir e aplicar
conhecimentos empíricos e pressupostos teórico-metodológicos
em saúde, para melhor direcionar e fundamentar a sua atuação,
sendo necessário, para a aplicação desses pressupostos, o en-
tendimento da história da Enfermagem, bem como sua firmação
como profissão.
Sem dúvida, o exercício profissional sempre esteve funda-
mentado em pressupostos teórico-metodológicos, pois são eles
que orientam a ação profissional, sendo esta embasada em pro-
cedimentos, instrumentos e objetivos a quem é direcionada.
A Enfermagem é uma profissão que surgiu ao longo dos
séculos, estabelecendo estreitas relações com a história da civili-
zação. Houve épocas em que esse trabalho era uma atividade re-
gida pelo espírito de serviço e humanístico, associado às ciências
e às superstições, sem nenhuma conotação científica.

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 9


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

A história da Enfermagem pode ser dividida nos seguintes


períodos:
• Período antes de Cristo (a.C.).
• Período da unidade cristã.
• Período de decadência da Enfermagem.
• Período do Sistema Nightingale – sistema moderno de
Enfermagem.

Período antes de Cristo


Os povos primitivos consideravam a doença como castigo
enviado pelos deuses ou causada por um poder diabólico exer-
cido sobre os homens. Em virtude disso, eles recorriam a seus
sacerdotes ou feiticeiros, os quais desempenhavam o papel de
médicos, farmacêuticos e enfermeiros. O tratamento consistia
em acalmar as divindades e afastar os maus espíritos, por meio
de sacrifícios.
Documentos dessa época, como papiros e livros de orien-
tações, apontam que os tratamentos eram embasados nas mas-
sagens, banhos de água fria ou quente, purgativos e substâncias
provocadoras de náuseas. Os registros mais antigos foram encon-
trados no Egito (4688-1552 a.C.). Alguns documentos relatam que
os doentes deveriam pronunciar frases religiosas quando ingeriam
as prescrições e as fórmulas; paralelamente, aquele que prepara-
va a droga deveria proferir uma oração a Ísis e a Hórus (princípio
de todo o bem).
Com o passar do tempo, os sacerdotes adquiriram conheci-
mentos sobre plantas medicinais e passaram a ensinar pessoas,
delegando-lhes funções de enfermeiros e farmacêuticos. Pratica-
vam-se o hipnotismo e a interpretação de sonhos e acreditava-

10 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

-se na influência de algumas pessoas sobre a saúde de outras.


Havia também ambulatórios gratuitos, onde se recomendavam a
hospitalidade e o auxílio aos desamparados. Os documentos do
século 6º a.C. fornecem-nos dados a respeito da Enfermagem,
da Medicina e até mesmo da existência de hospitais.
Enfim, os egípcios transmitiram o conhecimento sobre a
medicina praticada naquela época por meio desses documentos.
Já na Índia, documentos do século 6º a.C. mostram que
os hindus conheciam estruturas do corpo humano, como, por
exemplo, ligamentos, músculos, nervos, plexos e vasos linfáti-
cos. Conheciam, também, antídotos para alguns tipos de enve-
nenamento e o processo digestivo. Realizavam alguns procedi-
mentos, tais como: correção de fraturas, suturas, amputações e
trepanações.
Os hindus tornaram-se conhecidos pela construção de hos-
pitais, contribuindo para o desenvolvimento da Enfermagem e
da Medicina. Nos hospitais, havia músicos e narradores de histó-
rias para distrair os pacientes. O bramanismo fez decair a Medi-
cina e a Enfermagem, em razão do exagerado respeito ao corpo
humano: proibia a dissecação de cadáveres e o derramamento
de sangue.
Os hindus exigiam que as enfermeiras tivessem asseio,
habilidade, inteligência e conhecimentos tanto de arte culinária
quanto de preparo de remédios.
Nessa época, as primeiras teorias gregas prendiam-se à mi-
tologia. Apolo, o deus sol, era o deus da saúde e da Medicina.
Os sacerdotes-médicos exerciam a Medicina e interpretavam os
sonhos das pessoas. Os tratamentos baseavam-se em banhos,
massagens, sangrias, dietas, sol, ar puro e água pura mineral.

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 11


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Valorizavam-se a beleza física, cultural e a hospitalidade, con-


tribuindo para o progresso da Medicina e da Enfermagem. O
excesso de respeito pelo corpo atrasou os estudos anatômicos.
O nascimento e a morte eram considerados impuros, causando
desprezo pela obstetrícia e abandono de doentes graves. Graças
a Hipócrates, denominado "Pai da Medicina", deu-se início às ba-
ses científicas e abandonou-se a crença de que as doenças eram
causadas por maus espíritos.
Nesse contexto, o doente passou a ser observado para re-
alizar o diagnóstico, o prognóstico e a terapêutica. Foram reco-
nhecidas algumas doenças, como tuberculose, malária, histeria,
neurose, além de luxações e fraturas. O princípio fundamental
na terapêutica consistia em "não contrariar a natureza, porém
auxiliá-la a reagir".

Período da unidade cristã


O cristianismo transformou a organização política e social,
fazendo com que, nessa época, surgisse um grande espírito de
humanidade, exercendo, assim, ação positiva por meio da refor-
ma dos indivíduos e da família. Os cristãos praticavam a virtude
que movia os pagãos: a caridade. Isso impressionava os povos
pagãos ("Vede como eles se amam").
Desde o início do cristianismo, muitos cristãos se reuniam
em pequenas comunidades formadas em casas particulares e
hospitais, chamadas "dicanas", as quais se dedicavam à assistên-
cia aos pobres, velhos, enfermos e necessitados. Pedro, o após-
tolo, ordenou aos diáconos que socorressem os necessitados, e
as diaconisas prestavam igual assistência às mulheres. Os cris-
tãos, até então perseguidos, receberam, no ano 335, pelo Edito

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

de Milão, do imperador Constantino, a liberação para que a Igre-


ja exercesse suas obras assistenciais e atividades religiosas.
Nesse período, surgiram organizações sob as formas reli-
giosas e militares que tinham como finalidade libertar o túmu-
lo de Cristo do domínio muçulmano (as Cruzadas) e proteger os
peregrinos que se dirigiam a Jerusalém: "Cavaleiros de Lázaro",
"Cavaleiros de São João de Jerusalém" e "Cavaleiros de Teutôni-
cos". Essas organizações religiosas e militares prestavam cuida-
dos de Enfermagem aos doentes e aos feridos.

Período de decadência da Enfermagem


Após os primeiros séculos do cristianismo, houve decadên-
cia no Espírito cristão e isso repercutiu diretamente na Enferma-
gem, tanto na quantidade como na qualidade das pessoas que se
dedicavam aos serviços. Esses serviços passaram a ser prestados
por pessoas de baixo nível social e de baixa qualificação pessoal.
No século 7º, São Vicente de Paula fundou o Instituto das
Irmãs de Caridade, o qual se dedicava aos enfermos.
No século 19, Florence Nightingale reformou a Enferma-
gem e iniciou outra fase, a chamada "fase profissional".

Período do Sistema Nightingale – sistema moderno de


Enfermagem
Nascida em 1820, desde muito cedo, Florence Nightingale
interessou-se em tratar enfermos, mas encontrou muita oposi-
ção de sua família, que tinha um elevado poder econômico, pois,
nessa época, a Enfermagem era exercida por pessoas de baixo ní-
vel de educação. Dotada de marcante personalidade e decidida
vocação, Florence não recuou diante desses obstáculos.

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 13


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Aos 31 anos, após estágio em um hospital mantido por


uma comunidade protestante, fundou, em Londres, a primeira
escola de Enfermagem, que funcionou junto ao Hospital Saint
Thomas. A partir da era nightingaleana, foram definidos padrões
para a profissão de Enfermagem, e a ANA (American Nurses As-
sociation) definiu que os objetivos principais do trabalho seriam:
cuidar dos pacientes e dos problemas de saúde, educar para a
saúde e ter habilidades em prever doenças.
Com os avanços tecnológicos e científicos, os profissionais
da Enfermagem têm incorporado novas funções à prestação do
cuidado ao enfermo.
No século 21, o enfermeiro deixou de ser visto como sim-
ples prestador de cuidados e começou a ser tido como um pro-
fissional que integra uma equipe multidisciplinar. Em razão disso,
foi necessário incorporar novos conhecimentos a sua formação.
O conhecimento da Enfermagem provém de uma visão ampla e
abrangente sobre saúde, transcende às práticas médico-hospi-
talares; portanto, é necessário que, além de todas essas habili-
dades, o profissional de Enfermagem seja um intelectual cons-
ciente da necessidade de ter incorporado em suas ações valores
éticos, fundamentados no respeito aos outros.
No ano de 2012, o Governo Federal anunciou políticas pú-
blicas relacionadas à ampliação na formação da categoria mé-
dica, pois acredita-se que um dos "gargalos" do SUS seja a fal-
ta médica. Se compararmos com os países mais desenvolvidos,
existe, sim, a necessidade desses profissionais, porém, não po-
demos esquecer a necessidade de investimento para fortalecer
a atenção básica, na qual são realizadas as ações de prevenção,
promoção, reabilitação e recuperação da saúde. Concomitante-

14 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

mente a esses fatores, devemos lembrar que há carência de pro-


fissionais de Enfermagem no mercado de trabalho.

2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e
precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domí-
nio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conheci-
mento dos temas tratados.
1) ABEn: "a Associação Brasileira de Enfermagem, criada
em 1926 sob a denominação de Associação Brasileira
de Enfermeiras Diplomadas", é uma associação de ca-
ráter cultural, científico e político, "com personalidade
jurídica de direito privado e com número ilimitado de
associados". Como "entidade de âmbito nacional", é
reconhecida como "de utilidade pública", sendo "re-
gida por estatuto e regimento próprios". Pautada em
princípios éticos, tem "como eixo a defesa e a consoli-
dação" do trabalho "da Enfermagem como prática so-
cial", essencial à assistência de saúde e "à organização
e funcionamento dos serviços de saúde". Tem como
compromisso "propor e defender políticas e progra-
mas que visem à melhoria da qualidade de vida da po-
pulação e ao acesso universal e equânime aos serviços
de saúde". Desde sua criação, a ABEn trabalha para o
desenvolvimento da Enfermagem brasileira. Em 1986,
passou a ampliar "a defesa da profissão como práti-
ca social, inserindo-se nos movimentos sociais com-
prometidos com a vida, a democracia e a cidadania"
(ABEN, 2014).

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 15


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

2) Acolhimento: diretriz da Política Nacional de Huma-


nização. "Recepção do usuário, desde sua chegada,
responsabilizando-se integralmente por ele, ouvindo
sua queixa, permitindo que ele expresse suas preo-
cupações, angústias, e, ao mesmo tempo, colocando
os limites necessários, garantindo atenção resolutiva
e a articulação com os outros serviços de saúde para
a continuidade da assistência, quando necessário [...]"
(BRASIL, 2006b, p. 35).
3) Atenção básica: constitui o primeiro nível de atenção
à saúde, de acordo com o modelo adotado pelo SUS.
Engloba um conjunto de ações de caráter individual
ou coletivo, que envolve a promoção da saúde, a pre-
venção de doenças, o diagnóstico, o tratamento e a
reabilitação dos pacientes. Nesse nível de atenção à
saúde, o atendimento aos usuários deve seguir uma
cadeia progressiva, garantindo o acesso aos cuidados
e às tecnologias necessárias e adequadas à prevenção
e ao enfrentamento das doenças para prolongamento
da vida (BRASIL, 2009).
4) Bramanismo: "é a antiga filosofia religiosa indiana que
se estendeu de meados do segundo milênio a.C. até o
início da era cristã". Atualmente, é chamada de "hin-
duísmo" e "suas características principais são: crença
na reencarnação, sistema de castas (referente aos qua-
tro filhos de Brahma), naturalismo e individualismo"
(DICIONÁRIO PORTUGUÊS, 2015).
5) Ceticismo: é o estado de quem duvida de tudo, des-
crente. Um indivíduo cético caracteriza-se por ter pre-
disposição constante para a dúvida e a incredulidade.
O cético questiona tudo o que lhe é apresentado como

16 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

verdade e não admite a existência de dogmas e fenô-


menos religiosos. Na área da saúde, não se pode utili-
zar uma técnica sem comprovação científica dos seus
riscos e benefícios. São necessárias evidências cienti-
ficamente adequadas como suporte à teoria. No Bra-
sil, é vedada aos médicos a utilização de práticas tera-
pêuticas não reconhecidas pela comunidade científica
(CFM, 1998).
6) Dimensão interdisciplinar: o objetivo fundamental da
interdisciplinaridade, caminho para se chegar à trans-
disciplinaridade, é experimentar a vivência da realida-
de geral no cotidiano do aluno, do professor e do povo,
diferentemente da escola conservadora, que trabalha
com a lógica da disjunção, sendo incapaz de perceber
as relações entre os conhecimentos, pois trabalha com
aspectos separados e fragmentados. Articular saber,
conhecimento, vivência, escola, comunidade, meio
ambiente etc. é o objetivo da interdisciplinaridade.
"Colaborar entre si resulta, na prática, em um trabalho
coletivo e solidário" (Paulo Freire). Conforme Piaget
(1972), a multidisciplinaridade foi considerada impor-
tante para acabar com o ensino extremamente espe-
cializado, concentrado em uma única disciplina.
7) Disciplina: constitui corpo específico de conhecimento
ensinável, com seus próprios antecedentes de educa-
ção, treinamento, procedimentos, métodos e áreas de
conteúdo (JANTSCH, 1972).
8) Educação permanente: "aprendizagem no trabalho,
onde o aprender e ensinar se incorporam ao quotidia-
no das organizações e ao trabalho" (BRASIL, 2006b, p.
40).

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 17


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

9) Empírico: relativo aos profissionais cuja habilidade de-


riva da experiência prática, e não da instrução da teo-
ria. Para o empirismo, nada do que pensamos deve ser
atribuído à razão, e sim aos nossos sentidos (MICHAE-
LIS, 2001).
10) Enfermagem: "é ciência e a arte de assistir o ser hu-
mano no atendimento de suas necessidades básicas,
de torná-lo independente desta assistência através da
educação; de recuperar, manter e promover sua saú-
de, contando para isso com a colaboração de outros
grupos profissionais" (HORTA, 1979, p. 29).
11) Equidade: "no vocabulário do SUS, diz respeito aos
meios necessários para se alcançar a igualdade, estan-
do relacionada com a idéia de justiça social. Condições
para que todas as pessoas tenham acesso aos direitos
que lhes são garantidos. Para que se possa exercer a
eqüidade, é preciso que existam ambientes favoráveis,
acesso à informação, acesso a experiências e habilida-
des na vida, assim como oportunidades que permitam
fazer escolhas por uma vida mais sadia. O contrário de
eqüidade é iniqüidade, e as iniqüidades no campo da
saúde têm raízes nas desigualdades existentes na so-
ciedade" (BRASIL, 2006b, p. 41).
12) Humanização/Política Nacional de Humanização
(PNH): "no campo da saúde, humanização diz respeito
a uma aposta ético-estético-política: ética porque im-
plica a atitude de usuários, gestores e trabalhadores
de saúde comprometidos e cor-responsáveis; estéti-
ca porque acarreta um processo criativo e sensível de
produção da saúde e de subjetividades autônomas e
protagonistas; política porque se refere à organização

18 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

social e institucional das práticas de atenção e gestão


na rede do SUS. O compromisso ético-estético-político
da humanização do SUS se assenta nos valores de au-
tonomia e protagonismo dos sujeitos, de cor-respon-
sabilidade entre eles, de solidariedade dos vínculos
estabelecidos, dos direitos dos usuários e da partici-
pação coletiva no processo de gestão" (BRASIL, 2006b,
p. 43-44).
13) Integralidade: "um dos princípios constitucionais do
SUS garante ao cidadão o direito de acesso a todas
as esferas de atenção em saúde, contemplando, des-
de ações assistenciais em todos os níveis de comple-
xidade (continuidade da assistência), até atividades
inseridas nos âmbitos da prevenção de doenças e de
promoção da saúde. Prevê-se, portanto, a cobertura
de serviços em diferentes eixos, o que requer a consti-
tuição de uma rede de serviços (integração de ações),
capaz de viabilizar uma atenção integral. Por outro
lado, cabe ressaltar que por integralidade também se
deve compreender a proposta de abordagem integral
do ser humano, superando a fragmentação do olhar
e intervenções sobre os sujeitos, que devem ser vis-
tos em suas inseparáveis dimensões biopsicossociais"
(BRASIL, 2006b, p. 44).
14) Interdisciplinaridade: O termo "interdisciplinaridade"
deve ser reservado para designar "o nível em que a in-
teração entre várias disciplinas ou setores heterogêne-
os de uma mesma ciência conduz a interações reais, a
certa reciprocidade no intercâmbio levando a um enri-
quecimento mútuo" (SCIELO, 2015).

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 19


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

15) Misticismo: crença religiosa ou filosófica que admite co-


municação oculta entre o homem e a divindade. Tendên-
cia para acreditar no sobrenatural (MICHAELIS, 2001).
16) Modelo assistencial: consiste na organização das
ações para a intervenção no processo saúde-doença,
articulando os recursos físicos, tecnológicos e huma-
nos para enfrentar e resolver os problemas de saúde
de uma coletividade (PAIM, 1999).
17) Modelo biomédico: é o modelo de atuação em saúde
que segue a visão médica tradicional formada durante
o período de evolução da Medicina. Caracteriza-se por
considerar apenas os fatores biológicos como causas
das doenças. O centro da atenção no modelo biomédi-
co é o indivíduo doente (CUTOLO, 2006).
18) Multidisciplinaridade: ocorre quando, para a solução
de um problema, se torna necessário obter informa-
ção de duas ou mais ciências ou setores do conheci-
mento, sem que as disciplinas envolvidas no proces-
so sejam, elas mesmas, modificadas ou enriquecidas
(PIAGET, 1972). É um conjunto de disciplinas a serem
trabalhadas simultaneamente, sem fazer aparecer as
relações que possam existir entre elas, destinando-se
a um sistema de um só nível e de objetivos únicos, sem
nenhuma cooperação. A multidisciplinaridade corres-
ponde à estrutura tradicional de currículo nas escolas,
o qual está fragmentado em várias disciplinas.
19) NANDA (North American Nursing Diagnosis Associa-
tion): trata-se de um sistema criado e adotado por enfer-
meiras norte-americanas, que visa desenvolver uma clas-
sificação que padronize diagnósticos para serem usados
por profissionais de Enfermagem (POTTER; PERRY, 2009).

20 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

20) NIC (Classificação das Intervenções de Enfermagem):


é uma taxonomia que inclui as atividades que a Enfer-
magem executa (POTTER; PERRY, 2009).
21) NOC (Classificação das Respostas das Intervenções de
Enfermagem): para qualquer diagnóstico específico
da NANDA Internacional, há múltiplos resultados NOC
sugeridos. É usada para medir o sucesso das interven-
ções (POTTER; PERRY, 2009).
22) SAE (Sistematização da Assistência de Enfermagem):
é uma "atividade privativa do enfermeiro, que utiliza
método e estratégia de trabalho científico para a iden-
tificação das situações de saúde/doença, subsidian-
do ações de assistência de Enfermagem que possam
contribuir para a promoção, prevenção, recuperação e
reabilitação da saúde do indivíduo, da família e da co-
munidade". Foi institucionalizada, por meio da Reso-
lução Cofen 272/2002, "como prática de um processo
de trabalho adequado às necessidades da comunida-
de e como modelo assistencial a ser aplicado em to-
das as áreas de assistência à saúde pelo enfermeiro,
considerando que a implementação da SAE constitui,
efetivamente, melhora na qualidade da Assistência de
Enfermagem" (COFEN, 2014).
23) SUS (Sistema Único de Saúde): "é um dos maiores sis-
temas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde
o simples atendimento ambulatorial até o atendimen-
to terciário (alta complexidade), garantindo acesso in-
tegral, universal e gratuito para toda a população do
país. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o
SUS foi criado, em 1988, pela Constituição Federal Bra-
sileira, para ser o sistema de saúde de todos os brasilei-

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 21


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

ros. Além de oferecer consultas, exames e internações,


o Sistema também promove campanhas de vacinação
e ações de prevenção e de vigilância sanitária – como
fiscalização de alimentos e registro de medicamentos,
atingindo, assim, a vida de cada um dos brasileiros"
(BRASIL, 2003, n.p.).
24) Transdisciplinaridade: o conceito envolve "não só as
interações ou reciprocidade entre projetos especializa-
dos de pesquisa, mas a colocação dessas relações den-
tro de um sistema total, sem quaisquer limites rígidos
entre as disciplinas" (CHAVES, 2015).
25) Universalidade: "a Constituição brasileira institui o
princípio da universalidade da cobertura e do atendi-
mento para determinar a dimensão do dever estatal
no campo da saúde, de sorte a compreender o aten-
dimento a brasileiros e a estrangeiros que estejam no
País, aos nascituros e aos nascidos, crianças, jovens
e velhos. A universalidade constitucional compreen-
de, portanto, a cobertura, o atendimento e o acesso
ao Sistema Único de Saúde, expressando que o Esta-
do tem o dever de prestar atendimento nos grandes e
pequenos centros urbanos, e também às populações
isoladas geopoliticamente, os ribeirinhos, os indíge-
nas, os ciganos e outras minorias, os prisioneiros e os
excluídos sociais. Os programas, as ações e os serviços
de saúde devem ser concebidos para propiciar cober-
tura e atendimento universais, de modo eqüitativo e
integral" (BRASIL, 2006b, p. 50).

22 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE


O esquema a seguir possibilita uma visão geral dos concei-
tos mais importantes deste estudo.

DISCIPLINA ENFERMAGEM ASSISTÊNCIA

• Formação Interdisciplinar • Promoção , proteção,


• Equipe Multidisciplinar prevenção e reabilitação
• Produção de conhecimento PROFISSÃO da doença
• Pesquisa • Processo de
• Instrumentos Básicos de Enfermagem ( NANDA,
Enfermagem NIC, NOC)
• Processo de cuidar
• Indivíduo, família e
comunidade

• Autonomia
• Pensamento crítico
• Atuação em vários
segmentos

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave de História da Enfermagem e as Práticas Atuais .

A enfermagem enquanto disciplina,


profissão e trabalho profissão e trabalho––––––––––––––––
Vale mencionar que você poderá transitar entre os conceitos e descobrir o
caminho para construir o seu próprio conhecimento. Por exemplo, a Enferma-
gem, como profissão da saúde, é uma disciplina do campo da ciência que
estuda o cuidado humano, devendo estar ligada à vida dos usuários tanto
individualmente como na comunidade. Além disso, deve prestar assistência
tanto na promoção e prevenção quanto na reabilitação da doença.
A Enfermagem, como disciplina da área da ciência, tem a responsabilidade
de contribuir, permanentemente, com a produção de conhecimentos, enfren-
tando desafios do cotidiano, sendo capaz de promover ações de cuidado tecni-
camente competentes, eticamente aceitáveis, que proporcionem qualidade
e preservação da vida nas diversas situações do processo de viver.

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 23


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Você poderá observar que a Enfermagem, como profissão, atua em várias


frentes de trabalho, prestando assistência hospitalar, escolar, em empresas,
no ensino, na pesquisa e na comunidade. Com a evolução tecnológica e com a
internet disponível para consulta em tempo real, cada vez mais os profissionais
precisam se preparar no campo do desenvolvimento técnico-científico.
De acordo com Pires (2009, p. 741 ):
[...] Ainda em relação aos atributos de uma profissão, domina um campo de conhe-
cimentos que lhe dá competência para cuidar das pessoas, em todo o seu proces-
so de viver. Esse processo de cuidar tem três dimensões básicas:
1) Cuidar de indivíduos e grupos, da concepção à morte.
2) Educar e pesquisar que envolve o educar intrínseco ao processo de cui-
dar; a educação permanente no trabalho; a formação de novos profissio-
nais e a produção de conhecimentos que subsidiem o processo de cuidar.
3) A dimensão administrativo-gerencial de coordenação do trabalho coletivo
da enfermagem, de administração do espaço assistencial, de participação
no gerenciamento da assistência de saúde e no gerenciamento institucional.
A Enfermagem, desde sua formação, vem buscando a experiência de trabalho
em equipe multiprofissional que capacite os profissionais para mudança no mo-
delo assistencial, pois compete ao profissional desenvolver o processo de traba-
lho coletivo, cujo resultado objetiva um produto completo a partir da contribuição
específica das diversas áreas profissionais (NASCIMENTO; QUEVEDO, 2008).
Na maioria das vezes, essa assistência, entretanto, não acontece como deve-
ria, pois os profissionais de uma equipe multidisciplinar enfrentam muitas difi-
culdades, sendo necessário que todos eles envolvam-se em algum momento
da assistência, agindo de acordo com seu nível de competência específica e
conseguindo responder à complexidade dos problemas e das necessidades da
saúde dos indivíduos e da coletividade.
O trabalho em equipe exige conhecimento e valorização do trabalho do outro para
a construção de consensos quanto aos objetivos a serem alcançados e à maneira
mais adequada de atingi-los, para o desenvolvimento de ações de qualidade.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Para entender a gestão do SUS.
Brasília: Conass, 2003.
CUTOLO, L. R. A. Modelo biomédico, reforma sanitária e a educação pediátrica.
Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 35, n. 4, p. 16-24, 2006.

24 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

GUELER, R. F. Grande tratado de Enfermagem. 12. ed. São Paulo: Maltese, 1993.
HORTA, W. A. Processo de Enfermagem. São Paulo: EPU/EDUSP, 1979.
JANTSCH, E. Interdisciplinarity: problems of teaching and research in universities.
Paris: OECD, 1972.
MICHAELIS. Dicionário Prático da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos,
2001.
NASCIMENTO, D. D. G.; QUEVEDO, M. P. Aprender fazendo: considerações sobre a
Residência Multiprofissional em Saúde da Família na qualificação de profissionais da
saúde. In: BOURGET, M. M. M. (Org.). Estratégia Saúde da Família: a experiência da
equipe de reabilitação. São Paulo: Martinari, 2008. p. 43-59.
PAIM, J. S. A reforma sanitária e os modelos assistenciais. In: ROUQUAYROL, M. Z.;
ALMEIDA FILHO, N. (Orgs.). Epidemiologia & Saúde. 5. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1999.
PIAGET, J. Epistemologie des relations interdisciplinaires. In: CERI (Eds.).
L’indisciplinarité. Problèmes d’enseignement et de recherche dans les universités.
Paris, 1972. p. 136-139.
PIRES, D. A Enfermagem enquanto disciplina, profissão e trabalho. Revista Brasileira de
Enfermagem, Brasília, v. 62, n. 5, p. 739‐744, 2009.
POTTER, P. A.; PERRY, A. G. Fundamentos de Enfermagem. Tradução de Maria Inês
Nascimento et al. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

5. E-REFERÊNCIAS
ABEN – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM. Missão da ABEn. Disponível em:
<http://www.abennacional.org.br/site/missao-da-aben>. Acesso em: 23 set. 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.
O SUS de A a Z, garantindo saúde nos municípios. 3. ed. Brasília: Editora do Ministério
da Saúde, 2009. 480 p. (Série F. Comunicação e Educação em Saúde). Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Manual_sus_screen.pdf>. Acesso em:
23 set. 2014.
______. Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS. 3. ed.
Brasília, 2006a. Disponível em: <http://www.saude.sc.gov.br/hijg/gth/Cartilha%20
da%20PNH.pdf>. Acesso em: 23 set. 2014.
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da
Política Nacional de Humanização. Humaniza SUS: documento base para gestores e
trabalhadores do SUS. 3. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006b. 52 p.

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 25


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

(Série B. Textos Básicos de Saúde). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/


publicacoes/documento_base.pdf>. Acesso em: 23 set. 2014.
______. Ministério da Saúde. Portal da Saúde – SUS. Disponível em: <http://portal.
saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm?id_area=1395>. Acesso em: 23 set.
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[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 3 set. 1998. Disponível em: <http://
www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1998/1499_1998.htm>. Acesso em: 23
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CHAVES. M. M. Complexidade e transdisciplinaridade: Uma abordagem
multidimensional do Setor Saúde. Disponível em: <http://www.ibiblio.org/cedros/
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COFEN – CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução Cofen 272/2002 –
revogada pela Resolução Cofen nº 358/2009. Dispõe sobre a Sistematização da
Assistência de Enfermagem – SAE – nas Instituições de Saúde Brasileiras. Disponível
em: <http://novo.portalcofen.gov.br/resoluo-cofen-2722002-revogada-pela-
resoluao-cofen-n-3582009_4309.html>. Acesso em: 23 set. 2014.
COREN-DF – CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO DISTRITO FEDERAL.
Institucional. Disponível em: <http://www.coren-df.org.br/portal/index.php/
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DICIONÁRIO PORTUGUÊS. Bramanismo. Disponível em: <http://dicionarioportugues.
org/pt/bramanismo>. Acesso em: 28 seyt. 2015.
PAULO FREIRE – PROJETO MEMÓRIA 2005. Um legado de esperança. Disponível em:
<www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/paulo_freire.../03_pf_hoje_um_legado.
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SCIELO. Interdisciplinalidade. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/aval/v12n4/
a07v12n4>. Acesso em: 28 set. 2015.

26 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


UNIDADE 1
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS
PRÁTICAS DE SAÚDE

Objetivos
• Problematizar a origem das práticas de saúde.
• Sintetizar os problemas abordados.
• Relatar a evolução das práticas médicas, dos sacerdotes e das
pseudoenfermeiras.

Conteúdos
• As práticas de saúde instintivas.
• As práticas de saúde mágico-sacerdotais.
• As práticas de saúde no alvorecer da ciência.
• As práticas de saúde monástico-medievais.
• As práticas de saúde pós-monásticas.
• As práticas de saúde no Mundo Moderno.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Tenha sempre à mão o significado dos termos explicitados no Glossário de


Conceitos e suas ligações pelo Esquema dos Conceitos-chave para o estu-
do de todas as unidades deste material. Isso poderá facilitar sua aprendi-
zagem e seu desempenho.

27
UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

2) Ao ler sobre as práticas de saúde instintivas, observe que consistiam em


ações que garantiam ao homem a manutenção da sua sobrevivência e ti-
nham como destaque o trabalho feminino na área da saúde.

3) Lembre-se de que as práticas de Enfermagem só surgiram no Mundo


Moderno com Florence Nightingale, que cuidou dos soldados feridos na
Guerra da Crimeia.

4) Pesquise em livros ou na internet a importância de Florence Nightingale


para a Enfermagem e compartilhe tal informação com seus colegas. Lem-
bre-se de que você é protagonista do processo educativo.

28 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento das práticas de saúde está diretamente
associado às estruturas sociais das diferentes nações e épocas.
Tão antigo quanto a humanidade, cada período histórico é de-
terminado pela formação social específica, com caracterização
própria que engloba sua filosofia, política, economia, leis e ide-
ologia. Nesta unidade, serão abordadas as diferentes fases e a
evolução das práticas de saúde em cada período.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.
As práticas de saúde foram divididas em períodos, sendo
que a divisão foi estruturada em pontos críticos nos quais ocor-
reram mudanças significativas nessas práticas.
Para melhor entendimento, dividimos a história do desen-
volvimento das práticas de saúde em seis períodos, que conhe-
ceremos a seguir.

2.1. AS PRÁTICAS DE SAÚDE INSTINTIVAS

As práticas de saúde instintivas caracterizaram a prática do


cuidar nos grupos nômades primitivos, tendo como base a con-
cepção evolucionista e teológica. Desde o surgimento da espécie
humana, os cuidados com a prole sempre foram destinados à
mãe. Os grupos primitivos tinham uma estrutura familiar na qual

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 29


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

a mulher cuidava das crianças, dos velhos e dos doentes. Des-


sa maneira, o poder de cuidar era da mulher, ficando o homem
como provedor das necessidades da casa.
"Nesse período, as práticas de saúde, propriamente ditas,
num primeiro estágio da civilização, consistiam em ações que ga-
rantiam ao homem a manutenção da sua sobrevivência", tendo
como destaque o trabalho feminino na área da saúde. Com a
evolução dos tempos, constatou-se que "o conhecimento dos
meios de cura resultava em poder; o homem, aliando esse co-
nhecimento ao misticismo, fortaleceu tal poder e apoderou-se
dele", então, o homem passou a deter o poder de sarar e curar.
Nas sociedades primitivas, podemos observar que a Enferma-
gem estava "em sua natureza intimamente relacionada ao cui-
dar" (ENFERMAGEM E SAÚDE – BIBLIOTECA VIRTUAL, 2014).

2.2. AS PRÁTICAS DE SAÚDE MÁGICO-SACERDOTAIS

As práticas de saúde mágico-sacerdotais referem-se ao pe-


ríodo que "corresponde à fase de empirismo, verificada antes do
surgimento da especulação filosófica que ocorreu por volta do
século 5º a.C." (ENFERMAGEM E SAÚDE – BIBLIOTECA VIRTUAL,
2014).
Na Grécia clássica, a economia era bastante desenvolvida,
e a terra pertencia ao Estado ou à aristocracia ou, ainda, à classe
média dos camponeses. O poder era transmitido por meio da he-
reditariedade. Nessa época, era comum a poligamia, e as intrigas
e o conflito armado frequentes.
Nesse cenário, surgiu a religião como um moderador das
relações, dando mais importância aos deuses. Cada cidade pos-
suía um deus protetor, e cada atividade era ligada a uma figura

30 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

da mitologia, sendo Apolo o deus que espantava os males; Arte-


mis protegia as mulheres e as crianças; Hygieia era a deusa da
saúde; Panaceia, deusa que curava os males; e Esculápio, deus
da arte e da cirurgia.
Os sacerdotes exerciam o papel de mediadores entre os
homens e os deuses, realizavam cerimônias e rituais nos templos
para purificarem os enfermos, com água pura, exercícios e ervas.
A cura era compreendida como um jogo entre a natureza e a ci-
ência. Se o doente se recuperasse, seria um milagre, e se fosse a
óbito, o doente seria indigno de viver.
Posteriormente, na Itália, foram criadas escolas para o en-
sino da arte de curar, o qual era vinculado à filosofia. Os alunos
dessas escolas mantinham estreitas relações com seus mestres
e formavam uma elite bem remunerada que só atendia à classe
mais abastada. O restante da população era atendido pelos sa-
cerdotes, e, assim, a assistência era prestada de acordo com a
classe social.

2.3. AS PRÁTICAS DE SAÚDE NO ALVORECER DA CIÊNCIA

No final do século 5º a.C. e início do século 6º a.C., o pro-


gresso da ciência transformou o mundo grego e desviou as elites
das velhas crenças. Iniciou-se a procura por uma prática de saúde
baseada na experiência, no raciocínio lógico que determinasse
uma relação de causa e efeito para as doenças. Nessa prática, eli-
minou-se a ideia do maravilhoso e sobrenatural, iniciaram-se as
experimentações e as observações e a elaboração de hipóteses,
a fim de que o conhecimento natural pudesse interagir com o
raciocínio lógico. Nessa fase, apareceram os primeiros filósofos.

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 31


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

Esse período foi marcado pela Medicina grega como pe-


ríodo hipocrático, destacando-se Hipócrates, que propôs a con-
cepção de saúde desagregando "a arte de curar dos preceitos
místicos e sacerdotais, através da utilização do método indutivo,
da inspeção e da observação" (ENFERMAGEM E SAÚDE – BIBLIO-
TECA VIRTUAL, 2014).
Enquanto a Medicina se desenvolvia nessa concepção, os
cuidados com os enfermos ainda eram realizados por feiticeiros,
sacerdotes e mulheres que tinham conhecimento sobre ervas e
preparo de remédios. Nesse período, não havia caracterização
da prática de Enfermagem.

2.4. AS PRÁTICAS DE SAÚDE MONÁSTICO-MEDIEVAIS

As práticas de saúde monástico-medievais referem-se ao


período marcado por grandes lutas responsáveis pelo início da
devastação da Europa Ocidental e pela queda do Império Roma-
no. O então imperador Constantino, principal defensor do cristia-
nismo, cessou sua veneração a Esculápio e passou a assistência
dos enfermos para os domínios da Igreja. No início do período
cristão, as práticas de saúde sofreram influência dos fatores polí-
ticos, socioeconômicos e da sociedade feudal. Com as inúmeras
lutas, começaram a surgir epidemias de sífilis e hanseníase se-
guidas de tragédias naturais (terremotos e inundações).
Os conhecimentos de saúde, desgastados pelo ceticismo
e desvinculados do interesse científico, voltaram a predomi-
nar com o misticismo e o culto a Cristo, médico da alma e do
corpo. Muitos leigos cristãos dedicaram sua vida à prática da
caridade, dando assistência a enfermos, crescendo, assim, o
número de congregações e ordens seculares em favor da asso-

32 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

ciação da assistência religiosa com a assistência à saúde. A Igreja,


aliada à nobreza, monopolizou o dinheiro e, principalmente, o
conhecimento.
Os concílios religiosos resolveram que os hospitais deve-
riam ser construídos na vizinhança dos mosteiros e das igrejas,
sob a direção religiosa. Em razão da necessidade da defesa públi-
ca sanitária, causada pelas epidemias e guerras, houve um cres-
cente número dessas instituições.
Todos os hospitais apresentavam caráter religioso, onde
algumas pessoas praticavam a caridade a fim de assistir pobres
e moribundos. Ainda não existia uma prática médica hospitalar
concreta. A Enfermagem apareceu como prática leiga e desvin-
culada de conhecimentos científicos, não sendo vista como pro-
fissão, mas, sim, como dever da sociedade em ajudar o próximo.
Nos conventos, desenvolvia-se o ensino prático às reli-
giosas e às mulheres que se dedicavam em cuidar dos pobres e
enfermos.
Esse período marcou a história da Enfermagem, uma vez
que legitimou inúmeros valores, tais como a abnegação, o espíri-
to de serviço, a obediência e outros atributos, dando à Enferma-
gem não a conotação de prática profissional, mas de sacerdócio.

2.5. AS PRÁTICAS DE SAÚDE PÓS-MONÁSTICAS

As práticas de saúde pós-monásticas referem-se à fase que


teve início com a decadência do regime feudal, em razão das mu-
danças na economia ocasionadas pelo progresso das cidades e
pelo retorno do comércio com o Oriente.

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 33


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

As práticas de saúde evoluíram para a objetividade da ob-


servação e da experimentação, dando-se mais importância ao
estudo do organismo humano, ao seu comportamento e a suas
doenças. No período renascentista, foram criadas cerca de 80
universidades somente na Europa. As práticas de saúde passa-
ram das mãos dos sacerdotes para as dos leigos.
Nessa fase, já era necessária a formação universitária para
exercer a Medicina. Permaneceu a divisão hierárquica quanto à
assistência, sendo esta dividida da seguinte maneira: a) a assis-
tência aos ricos e aos nobres era prestada por médicos gradu-
ados e bem remunerados; b) a assistência aos burgueses e aos
artesãos era prestada por médicos e cirurgiões com formação
técnica razoável; c) a assistência aos pobres era prestada por
curandeiros e barbeiros.
A invenção da tipografia contribuiu para acelerar e ampliar
o conhecimento. Também houve grande evasão das pessoas do
campo para as cidades (êxodo rural), devido ao aumento da ofer-
ta de empregos nas grandes cidades, favorecendo o surgimen-
to de doenças contagiosas. Toda essa evolução não contribuiu
para o crescimento da Enfermagem, que continuou empírica e
desarticulada, vindo a piorar a situação com os movimentos da
Reforma Religiosa.
A Revolução Protestante teve grande impacto sobre a En-
fermagem, uma vez que estava agregada à prática religiosa. O
conflito do clero com as autoridades políticas acabou resultando
no fechamento de vários hospitais cristãos, e as religiosas que
cuidavam dos doentes foram expulsas, sendo substituídas por
mulheres de baixo nível moral e social, que não se importavam
com os pacientes.

34 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

Nesse ambiente de degradação, as pseudoenfermeiras re-


alizavam tarefas domésticas, sendo mal remuneradas, com jor-
nada de trabalho entre 12 e 48 horas ininterruptas. Com isso,
houve a queda dos padrões morais, e a Enfermagem foi con-
fundida com o serviço doméstico, tornando-se indigna para as
mulheres de casta social elevada. Transformou-se em uma fase
de decadência para a Enfermagem, a qual perdurou por muito
tempo. Somente após a revolução capitalista, os religiosos ten-
taram melhorar as condições dos hospitais.

2.6. AS PRÁTICAS DE SAÚDE NO MUNDO MODERNO

As práticas de saúde no Mundo Moderno correspondem ao


período no qual houve fatores que romperam com os vínculos do
feudalismo, como, por exemplo, a Revolução Industrial e a melho-
ria do tráfego terrestre e marítimo. Tais fatores aceleraram, assim,
a expansão econômica e científica. Já a política mercantilista ace-
lerou o crescimento e a urbanização da sociedade ocidental.
A revolução intelectual da filosofia e da ciência contribuiu para
acabar com velhos preconceitos e para a construção de uma socie-
dade mais humana, enquanto a indústria manufatureira explorava
mulheres e crianças, que trabalhavam em condições insalubres.
A população do campo transferiu-se para os grandes cen-
tros, passando a ter um estilo de vida diferente, inclusive com
relação a sua alimentação. No campo, as pessoas produziam
seus próprios alimentos; já nas cidades, diante da desigualdade
econômica, começaram a ter desnutrição, o que as tornou sus-
ceptíveis a doenças transmissíveis, como a tuberculose e a peste.
Em razão disso, houve aumento da mortalidade infantil.

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 35


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

O Estado assumiu o controle da assistência à saúde, ocasio-


nando a abertura de novos hospitais e a criação da legislação de
proteção ao trabalho, para manter a população sadia, garantin-
do, assim, que pudesse trabalhar e obter lucro para a indústria.
Florence Nightingale foi uma enfermeira que se destacou
ao cuidar de soldados feridos na Guerra da Crimeia. Nesse perí-
odo, já eram conhecidos os conceitos básicos de Enfermagem: o
ser humano, o meio ambiente e a saúde. Acreditava-se que a cura
das doenças não estava no resultado das ações médicas, mas, sim,
nas condições favoráveis para que a natureza pudesse agir sobre o
paciente. Por isso, era necessário deixar o ambiente limpo e bem
cuidado, proporcionando total conforto para o paciente.

Vídeo complementar–––––––––––––––––––––––––––––––––
Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
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localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso
(Graduação em Enfermagem), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo
(Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de
vídeos.
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História da Enfermagem e as Práticas Atuais – Vídeos Complementares –
Complementar 1.
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3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.
A seguir e conheça os argumentos que permeiam a
temática:

36 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

• YOUTUBE. Bases Históricas do Cuidar – Práticas de Saú-


de: Instintivas – Mágico-Sacerdotal e No Alvorecer da
Ciência. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=0SAE75jwonE>. Acesso em: 24 set. 2014.
• CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO RJ. Histó-
ria da Enfermagem. Disponível em: <http://www.medi-
cinaintensiva.com.br/enfermagem-historia.htm>. Aces-
so em: 30 set. 2015.
• COREN. As práticas de saúde ao longo da história e o
desenvolvimento das práticas de enfermagem. Disponí-
vel em: <http://portal.coren-sp.gov.br/node/34635#>.
Acesso em: 30 set. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Em que fase ocorreu a decadência da Enfermagem?
a) Na das práticas de saúde mágico-sacerdotais.
b) Na das práticas de saúde no alvorecer da ciência.
c) Na das práticas de saúde monástico-medievais.
d) Na das práticas de saúde pós-monásticas.
2) Em uma das fases da evolução das práticas de saúde, o Estado assumiu o
controle da assistência à saúde, fazendo com que houvesse a abertura de
novos hospitais. Nessa época, a Enfermagem já possuía conhecimentos de
quatro conceitos básicos, os quais são:
a) o ser humano, o meio ambiente, a Medicina e a Enfermagem.
b) o ser humano, o meio ambiente, a saúde e a Enfermagem.
c) os trabalhadores, o ambiente, a saúde e a Enfermagem.
d) os trabalhadores, o meio ambiente, a saúde e a Enfermagem.

© HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS 37


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

3) Devido à necessidade da defesa pública sanitária, causada pelas epide-


mias e guerras, foram adotadas algumas medidas, dentre elas:
a) a contratação de médicos.
b) a abertura de igrejas.
c) a abertura de universidades.
d) o aumento do número de hospitais.

4) Os grupos primitivos tinham uma estrutura familiar na qual a mulher cuidava das
crianças, dos velhos e dos doentes. Nessa fase, as ações de saúde consistiam:
a) na cura das doenças.
b) nos cuidados de higiene.
c) na manutenção da sobrevivência.
d) na internação em hospitais.

5) Os sacerdotes exerciam o papel de mediadores entre os homens e os deu-


ses, realizando cerimônias e rituais nos templos para purificarem os enfer-
mos, com água pura, exercícios e ervas. Esse período corresponde à fase:
a) do empirismo.
b) de progresso da ciência.
c) da decadência da Enfermagem.
d) do Iluminismo.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) d.
2) b.
3) d.
4) c.
5) a.

38 © HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E AS PRÁTICAS ATUAIS


UNIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE

5. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, conhecemos um pouco sobre o desenvolvi-
mento histórico das práticas de Enfermagem. Como observamos,
a Enfermagem é uma profissão que surgiu ao longo dos séculos e
com estreitas relações com a história da civilização humana. Em
determinadas épocas, a profissão foi vista como atividade regida
pelo espírito de serviço e humanístico, associado às ciências e às
superstições, sem nenhuma conotação científica.
Inicialmente, os cuidados com o ser humano eram pres-
tados por mulheres, sendo restringida a sobrevivência. Depois,
apareceram os sacerdotes sob o domínio da Igreja. Por fim, hou-
ve a criação de universidades na Europa.
Veja, agora, o Conteúdo Digital Integrador, que ampliará
seu conhecimento sobre o assunto. Na próxima unidade, vamos
entrar em contato com a origem da Enfermagem, como surgiu
a profissão, seu desenvolvimento e sua evolução na saúde, no
decorrer dos períodos históricos.

6. E-REFERÊNCIA
ENFERMAGEM E SAÚDE – BIBLIOTECA VIRTUAL. Desenvolvimento
histórico das práticas de saúde e de Enfermagem. Disponível em:
<http://enfermagemesaudebiblioteca.blogspot.com.br/p/as-
praticas-de-saude-instintivas.html>. Acesso em: 24 set. 2014.

7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
POTTER, P. A.; PERRY, A. G. Fundamentos de Enfermagem. Tradução de Maria Ines
Nascimento et al. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

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