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Sociologia
lo
du
mó
para o Nível Médio
Comissões de Sociologia
Sociologia
lo
du
mó
para o Nível Médio
Vários autores.
ƤǤ
ISBN 978-85-8060-024-7
13-07118 CDD-370.71
Caro(a) cursista,
Os autores.
Sumário
História da Sociologia
Ementa:
Bibliografia geral
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ca. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. ZEITLIN, Irving M. 6QR\Y\TVNfaR\_VN`\PV\YÎTVPN. Buenos
Aires: Amorrortu, 1973.
SELL, Carlos Eduardo. @\PV\Y\TVNPY¾``VPN. 4. ed. Itajaí-SC:
Ed.Univali/Edifurb, 2006 ! Obs.: A bibliografia da 7ª aula estará na pró-
pria aula.
Introdução:
A Sociologia, como toda ciência, nasceu e se desenvolveu em diferentes lugares e épocas determinadas. Por
essa razão, faz-se necessário retornar um pouco no tempo e analisar o contexto de cada caso. Para tanto, é
fundamental conhecer as transformações que ocorreram a partir do século XV, quando se iniciou uma grande
transformação: a passagem da sociedade feudal para a sociedade capitalista.
A História sempre registrou as explicações que os homens encontraram para os acontecimentos presencia-
dos, mas é somente no século XIX que vamos ver o surgimento de uma ciência – a Sociologia – tendo essa
preocupação como objeto de estudo. Para compreender como isso ocorre é necessário conhecer alguns dos
antecedentes que permitiram que apenas no século XIX emergisse uma PVÇ[PVNQN`\PVRQNQR.
É comum pensar a trajetória da constituição da Sociologia do ponto de vista das ciências sociais, ou seja,
pensar a constituição da Sociologia sociologicamente, historicamente. Pensar a sociedade em que vivemos,
dessa forma, significa pensá-la em movimento, não estaticamente.
Neste processo aparecem pensadores que sobressaem mais que outros e, por essa razão, ao analisar alguns
nomes estaremos fazendo isso em função de dois critérios: o espaço desta disciplina para analisar a história da
Sociologia e a influência de autores na constituição da Sociologia no Brasil.
O que enfatizamos é que para se entender as ideias de um autor ou de uma determinada época, o funda-
mental é contextualizá-las historicamente, para serem compreendidas como parte de um período. Pode-se
afirmar que os indivíduos e grupos pensam a sociedade em que vivem mediante categorias do pensamento
que emergem das tradições, do universo religioso, das raízes filosóficas e do conhecimento científico existente
até então.
A Sociologia surgiu e se desenvolveu em vários países para chegar a determinadas características que nos
permitem pensar uma sociologia mundial que hoje se apresenta como uma ciência que, embora não se prenda
a características deste ou daquele país (que em alguns casos certamente permanecem), privilegia caracterís-
ticas mais globais. A opção presente de analisar a Sociologia na França, na Alemanha e nos Estados Unidos da
América ocorre em virtude de que é nestes países que ela se desenvolveu no final do século XIX e início do XX
com mais vigor, influenciando o desenvolvimento da Sociologia em outros países e, principalmente, no Brasil.
Franco Ferrarotti, sociólogo italiano, assim se expressa quando escreve sobre a opção de analisar a história
da Sociologia por países:
[...] Isto quer dizer que as características e as orientações de fundo da Sociologia nos vários países não
remetem apenas para o plano cultural, nem se explicam totalmente apenas nesse plano, não são um fato
puramente científico, não podem ser explicadas tendo em conta só os aspectos internos da disciplina.
2``N`PN_NPaR_É`aVPN`R\_VR[aNÄÒR`]ÒRZRZW\T\N`\PVRQNQR[\`RbP\[Wb[a\#o conceito e a prática do
]\QR_^bR[RYN]_RQ\ZV[NZ#N``bN`V[`aVabVÄÒR`S\_ZNYZR[aRRQVSVPNQN`RWb_VQVPNZR[aR_RP\[URPVQN`R
\`P\Z]\_aNZR[a\`aÉ]VP\`^bRPN_NPaR_VgNZo `Rb_RNYSb[PV\[NZR[a\^b\aVQVN[\#o seu grau de maturi-
dade como sociedade moderna, isto é, dinâmica e funcional, e, portanto, a sua história, os seus «valores»,
comuns e compartilhados, se como tal se manifestarem relevantes, e os seus costumes. Reduzido ao
essencial e expresso numa forma só aparentemente paradoxal, o problema da Sociologia é que [Â\]\QR
UNcR_@\PV\Y\TVN`RZ`\PVRQNQR%(FERRAROTTI, Franco. @\PV\Y\TVN. Lisboa: Teorema, 1986. p. 27).
Algumas observações:
q Estas aulas constituem apenas um panorama da história da sociologia. Tratam-se de uma pequena introdu-
ção para que você se sinta motivado a ler os textos indicados e outros que entender sejam convenientes para
o desenvolvimento da sua formação.
q Além dos livros indicados na bibliografia geral (acima exposta), as aulas contemplam outras indicações de
textos e livros que devem ser lidos ou consultados para se ter um bom desenvolvimento neste curso. Mas, veja
bem, são todos textos de comentaristas, com apenas algumas citações de autores.
q A leitura dos livros e textos indicados não exclui a necessidade da leitura dos textos dos próprios autores
(não comentaristas). Assim, por exemplo, os comentaristas de Comte, Marx, Durkheim, Tarde, Weber e Simmel
são importantes, mas é fundamental – para quem deseja uma boa e sólida formação – ler os livros, ensaios e
artigos originais para poder formar um universo de juízo próprio, ou seja, ter autonomia e assim poder elabo-
rar suas próprias ideias sobre aqueles e outros autores contemporâneos.
1 aula
Reforma protestante
16 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX1ª Aula: Pressupostos e origem da Sociologia
t Leonardo di ser Piero EB7JODJ (1452-1519) – trial da máquina a vapor e de outros tantos inventos destina-
pintor/escultor/cientista; dos a aumentar a produtividade do trabalho. Desenvolveu-se
t .JDIFMBOHFMP di Ludovico Buonarroti Simoni então o fenômeno que veio a ser chamado de maquinofatura.
(1475-1564) – escultor/pintor; O trabalho que os homens realizavam com as mãos ou com
t 3BGBFM Sanzio (1483-1520) – pintor; ferramentas passava, a partir de então, a ser feito por meio de
t Pieter #SVFHIFM þĂÿĂ&þĂĀý$þĂăĆ – pintor; máquinas, elevando muito o volume da produção de merca-
t &M(SFDP – Doménikos Theotokópoulos – dorias.
(1541-1614) – pintor; A presença da máquina a vapor, que podia mover outras
t Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669) – pintor; tantas máquinas, incentivava o surgimento da indústria cons-
t Luís Vaz de Camões (1524-1580) – escritor/poeta; trutora de máquinas e, consequentemente, incentivava toda a
t Michel Eyquem de .POUBJHOF (1533-1592) – indústria voltada para a produção de ferro e, posteriormente,
filósofo/escritor; de aço. É importante lembrar que, já no final do século XVIII,
t Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616) – produziu-se o ferro e o aço, com a utilização do carvão mineral.
poeta/escritor; Nesse mesmo contexto de profundas alterações no pro-
t William 4IBLFTQFBSF (1564-1616) – cesso produtivo encontrava-se também a utilização cada vez
dramaturgo/poeta; mais crescente do trabalho mecânico convivendo com o tra-
t Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido balho artesanal. A maquinofatura se completava com o tra-
como .PMJÒSF (1622-1673) – dramaturgo. balho assalariado, aí se incluindo a utilização, numa escala
crescente, da mão de obra feminina e da infantil.
Ao mesmo tempo, longe da Europa, mas ainda vinculada a
.`a_N[`S\_ZNÄÒR`[\`ÅPbY\EC666 ela, havia a exploração do ouro no Brasil, da prata no México
e do algodão nos Estados Unidos da América e na Índia, onde,
No final do século XVII, na maioria dos países europeus, a na maioria dos casos, essas atividades se desenvolveram com
burguesia comercial, formada basicamente por comerciantes a utilização do trabalho escravo ou servil. Esses elementos,
e banqueiros, tornou-se uma classe com muito poder, devido, conjugados, asseguravam as bases do processo de acumulação
na maior parte das vezes, aos vínculos econômicos mantidos necessária para a expansão da indústria na Europa.
com as monarquias. Essa classe, além de sustentar ativo o co- Todas essas mudanças, somadas à herança cultural e in-
mércio entre os países europeus, estendia os seus tentáculos telectual do século XVII, definiram o século XVIII como um
a todos os pontos do mundo, até não mais poder, comprando século explosivo. Se no século anterior a Revolução Inglesa
e vendendo mercadorias, tornando o mundo cada dia mais determinou novas formas de organização política, foi no sé-
europeizado, impondo seu modo de vida, sua religião, seus culo XVIII que tanto a Revolução Americana quanto a Fran-
costumes e crenças. Em bem pouco tempo o mundo não seria cesa alteraram todo o quadro político ocidental, servindo de
mais o mesmo que tinha sido até então. exemplo e parâmetro para revoluções políticas posteriores.
O capital mercantil se estendeu também a outro ramo de As transformações na esfera da produção, a emergência de
atividade que gradativamente se organizava: a produção ma- novas formas de organização política e a exigência da repre-
nufatureira. A compra de matérias-primas e a organização da sentação popular irão dar características muito específicas a
produção, fossem através do trabalho domiciliar ou do tra- esse século, em que pensadores como Charles de Montesquieu
balho em oficinas, levavam ao desenvolvimento de um novo (1689-1755); Voltaire (1694-1778); Denis Diderot (1713-1784) Jean le Rond
processo produtivo em contraposição ao das corporações de d’Alembert (1717-1783); David Hume (1711-1776); Jean-Jaques Rous-
ofício. seau (1712-1778); Adam Smith (1723-1790) e Immanuel Kant (1724-1804),
Ao se desenvolver a manufatura, os organizadores da pro- entre outros, buscaram, por caminhos às vezes divergentes,
dução passaram a se interessar cada vez mais pelo aperfei- refletir e explicar a realidade de então.
çoamento das técnicas de produção, visando produzir mais Nas diferentes expressões artísticas (música, pintura, poe-
com menos gente, aumentando significativamente os seus sia, literatura), vários nomes expressaram elementos daquela
lucros. Para tanto, procuravam investir nos “inventos”, isto é, realidade que nos servem de base para entender aquele perío-
buscavam financiar a criação de máquinas que pudessem ter do. Entre outros, podemos lembrar:
aplicação no processo produtivo. Assim, o conhecimento cien-
tífico, gradativamente, passou a ter reconhecimento e tornou t Antonio Lucio 7JWBMEJ (1678-1741) – compositor;
possível desenvolver novas tecnologias para potencializar a t Johann Sebastian #BDI (1685-1750) – compositor;
produção. t Johann Chrysostom Wolfgang Amadeus Mozart
Desse modo, criou-se a máquina de tecer, a máquina de (1756-1791) – compositor;
descaroçar algodão, bem como teve inicio a aplicação indus- t Francisco José de (PZB y Lucientes (1746-1828) – pintor;
18 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX1ª Aula: Pressupostos e origem da Sociologia
Uaa]'&&ddd%bV\dN%RQb&k]\YVPbYa&N``Ra`&1R]_R``V\[LN[aV=\cR_af&UV[RLTV_YLd\_XR_%W]T
As suas ideias influenciaram as ideias tanto de Auguste
Comte, e depois de E. Durkheim, quanto de Karl Marx. Mas
que ideias eram essas que puderam influenciar dois autores
tão antagônicos em suas formas de ver e analisar o mundo em
que viviam?
$PODFQÎÍPEFIJTUØSJB: Saint-Simon entendia que a histó-
ria marcha através de uma série de afirmações e negações que
darão lugar a momentos mais altos. Defendia uma regra geral:
o apogeu de um sistema coincide com o início de sua deca-
dência. Para ele, existiam três grandes momentos na história
ocidental. A primeira época orgânica seria a da Antiguidade
greco-romana, e a primeira época crítica seria a das invasões
bárbaras. A segunda orgânica seria a da Idade Média, e a sua
crítica se estende do Renascimento até a Revolução Francesa. 0\[QVÄÒR`QRa_NONYU\SNO_VY%
A terceira época orgânica seria a que ele vislumbrava: a do
industrialismo.
"TDMBTTFTTPDJBJT: para Saint-Simon, em todas as épocas XVIII tinha sido revolucionária, e a do século XIX teria que
sempre houve uma estrutura de classes dividida entre domi- ser organizacional.
nantes e dominados, e a história da humanidade se explicaria No final da vida procurou desenvolver uma espécie de
pelas contradições entre elas. Mas Saint-Simon não pensava religião, um novo cristianismo mais dinâmico, que teria por
na superação dessas classes por uma outra sociedade, pois objetivo fundamental a elevação física e moral da classe mais
imaginava a possibilidade de uma harmonização entre as numerosa e pobre da sociedade. As obras mais importantes de
mesmas, com uma justiça policlassista. No tempo em que vi- Saint-Simon do ponto de vista sociológico são as seguintes: T
veu, e na sociedade francesa em particular, ele afirmava exis-
tirem duas grandes classes: a dos ociosos (a realeza, a aristo- t Reorganização da sociedade europeia
cracia e o clero, os militares e a burocracia que administrava – com Agustín Thierry (1814);
a estrutura destes, que nada produziam) e a dos produtores t A indústria ou discussões políticas, morais e
ou industriais (cientistas, engenheiros, médicos, banqueiros, filosóficas no interesse de todos os homens livres e
comerciantes, industriais, artesãos, lavradores trabalhadores trabalhadores úteis e independentes (1816-1817);
braçais, enfim, todos os cidadãos úteis para o desenvolvimen- t O organizador (1819);
to da França). t O sistema industrial (1821-1823);
/PWPTEJSJHFOUFT: para que a sociedade pós-revolucioná- t O catecismo dos industriais (1822-1824);
ria na França se firmasse, Saint-Simon acreditava ser neces- t O novo cristianismo (1824).
sário que a ciência tomasse o lugar da autoridade religiosa
da Igreja, formando assim uma nova elite, agora científica. A Saint-Simon influenciou fortemente Auguste Comte (que
ciência deveria substituir a religião como força de coesão. Os foi seu secretário entre 1819 e 1824) e depois Émile Durkheim,
cientistas substituiriam os clérigos e os industriais os senho- se tomarmos algumas das suas obras que tratam de uma nova
res feudais, e a aliança dos cientistas com os industriais con- sociedade organizada e da formulação de uma ciência de uma
formaria a nova classe dirigente. Os que estariam na direção sociedade específica. Mas ele influenciou igualmente Karl
deveriam ser os mais capazes em cada campo, por conhece- Marx, se pensarmos que Saint-Simon foi considerado um re-
rem e saberem mais sobre a sociedade: seriam os cientistas formador social e um socialista utópico.
que a estudam e os industriais que, pela prática, sabem o que
funciona melhor.
Desde 1803 Saint-Simon escreveu uma série de livros Auguste Comte (1798-1857) e a tradição positivista
que demonstram uma confiança no futuro da ciência e que
buscam uma lei única que permitisse guiar a investigação Auguste Comte nasceu em Montpellier, na França, no dia
dos fenômenos sociais, como a lei da gravitação universal de 19 de janeiro de 1798, filho de um fiscal de impostos. Suas rela-
Newton. A principal tarefa desta nova ciência seria a de des- ções com a família foram sempre tempestuosas, e lhe deixaram
cobrir as leis do desenvolvimento social, pois elas indicariam marcas profundas que contêm elementos explicativos do de-
o caminho que se deveria tomar para que a sociedade pudesse senvolvimento de sua vida e talvez até mesmo de certas orien-
seguir no progresso continuado. Para ele, a filosofia do século tações dadas às suas obras, sobretudo em seus últimos anos.
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Disciplina 1: História da SociologiaX1ª Aula: Pressupostos e origem da Sociologia
Karl Heinrich :N_e (1818-1883) Para entender a importância da obra de Marx e Engels é
e Friedrich 2[TRY` (1820-1895), a tradição socialista necessário conhecer um pouco do que estava acontecendo em
meados do século XIX, principalmente as transformações que
Karl Marx nasceu em Trèves, na antiga Prússia, em 1818, estavam ocorrendo nas esferas da produção industrial. Além
filho de uma família judaica e de uma linhagem de rabinos. de um crescimento expressivo da produção de mercadorias,
Seu pai, que era advogado, havia rompido esta tradição e, por houve um crescimento expressivo do número de trabalhado-
questões políticas, abraçou a religião protestante. res industriais urbanos, com as consequências inevitáveis que
Após seus estudos em Trèves, Marx foi para Bonn e de- ainda hoje se fazem conhecer em muitas partes do mundo:
pois para Berlim, onde estudou Direito. Pouco a pouco foi se a precariedade das condições de vida dos trabalhadores nas
inclinando para a Filosofia, defendendo em 1841 sua tese de cidades de então.
doutorado: A diferença da filosofia da natureza em Demócri- Estas condições eram péssimas em todos os sentidos: o
to e Epicuro. Nesse período universitário teve uma vida em trabalho no interior das fábricas, que empregavam homens,
que se misturaram a boemia e a poesia, mas também o debate mulheres e crianças superexplorados, alimentação deficiente,
político e o intelectual tendo por base o pensamento de Lu- insalubridade nos ambientes internos e externos e péssimas
dwig Feuerbach (1804-1872 e, principalmente, o de Friedrich condições de vida nas casas em que moravam. Esta situação
Hegel, que conheceu neste período e do qual não mais irá se gerou a organização desses trabalhadores em associações e
separar, mesmo quando faz a crítica do filósofo alemão. sindicatos e em movimentos que visavam à transformação
A partir de então sua vida foi cheia de tribulações. Tor- das condições de vida que os mesmos enfrentavam. Essas
nou-se jornalista e escreveu para um jornal (do qual depois mudanças exigiram o desenvolvimento de um pensamento
se tornou o editor-chefe), A Gazeta Renana, crítico do poder que procurasse entender as condições sociais, políticas e eco-
prussiano. O jornal logo foi fechado e ele se viu desempregado. nômicas que as geravam e indicassem possibilidades de inter-
Em 1842 conheceu, em Colônia, na Alemanha, um jovem, venção nessa realidade.
Friedrich Engels, filho de um industrial alemão, que se tor- Muitos pensadores discutiram, desde o início do século
nará seu parceiro intelectual e amigo nas horas de infortúnio XIX, a sociedade que emergia, demonstrando, do ponto de
durante toda sua vida. Foi através de seu livro: A situação da vista de uma perspectiva socialista, as questões sociais de
classe trabalhadora na Inglaterra que Marx passou a conhecer então. Na Inglaterra podemos citar, entre outros, William Go-
a situação econômica e social da Inglaterra. Este livro nasceu dwin (1756-1836), Thomas Spence (1750-1814), Thomas Paine (1737-1809),
da impressão causada pela miséria em que viviam os traba- Robert Owen (1771-1858), Thomas Hodgkin (1787-1869), na França,
lhadores das fábricas na Inglaterra, inclusive as da sua família. Etienne Cabet (1788-1856), Flora Tristan (1803-1844), Charles Fourier
Marx, ao sair da Alemanha, passou a viajar pela Europa. (1772-1837) e Pierre Joseph Proudhon (1809-1865).
Na França ficou de 1843 a 1845, quando escreveu os famo- Levando em conta esses pensadores, debatendo com al-
sos Manuscritos econômicos e filosóficos `Î]bOYVPNQ\`RZþĆĀÿ . Entre guns desses seus contemporâneos e mesmo criticando-os,
1845 e 1847 exilou-se em Bruxelas-Bélgica, onde escreveu em Marx incorporou a tradição da economia clássica inglesa
conjunto com Engels o livro A ideologia alemã e, mais tarde, o presente principalmente em Adam Smith e David Ricardo.
livro Miséria da Filosofia, criticando o filósofo P.J. Proudhon. Resumindo, pode-se dizer que Marx e Engels desenvolveram
No bojo dos movimentos revolucionários de 1847 e 1848, seu trabalho a partir da análise crítica da economia política
em toda a Europa, Marx foi expulso da Bélgica, voltou à Fran- inglesa, do socialismo utópico francês e da filosofia alemã.
ça, mas não podendo por lá ficar retornou à Alemanha, sem- Assim, a tradição socialista, nascida da luta dos trabalha-
pre pensando nas possibilidades de uma mudança estrutural dores, muitos anos antes e em situações diferentes, tem como
em sua terra natal. Entretanto, isso não aconteceu, e ele emi- expressão intelectual o pensamento de Karl Marx e F. Engels.
grou para a Inglaterra, fixando-se em Londres, onde irá ficar Eles, entre outros, procuraram estudar criticamente a socieda-
até o final de sua vida. Na Inglaterra, como exilado, desenvol- de capitalista a partir de seus princípios constitutivos e de seu
veu suas pesquisas e seu maior trabalho: O Capital – Crítica da desenvolvimento, tendo como objetivo possibilitar à classe
Economia Política. Há quem diga que sem Londres não have- trabalhadora uma análise política da sociedade de seu tempo.
ria esta obra que revolucionou a maneira de pensar o sistema Quanto à proposição de uma “ciência da sociedade”, não
capitalista. No Museu Britânico, ficava das 9 às 19 horas, e con- há em Marx e Engels nenhuma preocupação em definir uma
sumia a maior parte de seus dias pesquisando para escrever ciência específica para o estudo da sociedade, como para
uma obra da qual só o primeiro volume conseguiu publicar Auguste Comte, e nem em situar seus trabalhos em algum
em vida. Os outros dois volumes foram publicados, por Engels, campo científico particular. Em alguns de seus escritos, Marx
após a sua morte, tendo por base todo o material (apontamen- afirmou que a História seria a ciência mais ampla, que mais se
tos, rascunhos e partes concluídas mas sem revisão). aproximava de suas preocupações, não no sentido da Histó-
22 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX1ª Aula: Pressupostos e origem da Sociologia
não constitui uma coisa abstrata definida teoricamente: sua como nas universidades, Marx e Engels são considerados au-
verificação está na prática. tores clássicos da Sociologia. Mas isso tornou o pensamento
Marx escreveu muito, e em várias ocasiões teve como com- deles um pouco restrito, pois perdeu aquela ligação entre te-
panheiro F. Engels. Apesar de algumas diferenças em seus es- oria e prática (práxis), ou seja, entre o pensamento crítico e a
critos, os elementos essenciais do pensamento desenvolvido prática revolucionária.
por eles podem ser situados, de modo resumido, nas seguintes Em alguns casos a relação entre teoria e prática revolucio-
questões: nárias esteve muito presente. É o caso da Rússia, com Vladimir
Ilyitch Ulianov, mais conhecido como Lênin (1870-1924) e Leon
Historicidade das ações humanas – crítica ao idealismo D. Bronstein, conhecido como Trotski (1879-1940); da Alemanha,
alemão; com Rosa Luxemburgo (1871-1919); e da Itália, com Antonio Gra-
msci (1891-1937), que participaram como intelectuais e atores com
Divisão social do trabalho e o surgimento das classes significativa influência no movimento operário no século XX.
sociais. A luta de classes; A partir do conjunto da obra de Marx e Engels muitos
autores desenvolveram seus trabalhos em vários campos do
O fetichismo da mercadoria e o processo de alienação; conhecimento. Em termos acadêmicos, no interior das uni-
versidades, podem ser destacados trabalhos como os de Georg
Crítica à economia política e ao capitalismo; Lukacs (1885-1971); Theodor Adorno (1903-1969); Walter Benjamin (1892-
1940) Henri Lefebvre (1901-1991) Lucien Goldman (1913-1969); Luis Al-
Transformação social e revolução; thusser (1918-1990); Nicos Poulantzas (1936-1979); Edward P. Thomp-
son (1924-1993) e Eric Hobsbawn (1917-).
Utopia – sociedade comunista. Até hoje o pensamento de Marx e Engels continua presente
com múltiplas tendências e variações, sempre gerando gran-
A obra desses dois autores é muito vasta, mas podem ser des controvérsias, mesmo no interior do chamado marxismo,
destacados alguns livros e escritos: T e uma reação e até incorporação de partes deste pensamento
em outras tradições sociológicas.
t F. Engels. A situação da classe A Sociologia, como ciência acadêmica, num momento
trabalhadora na Inglaterra (1845); posterior, floresceu da reflexão de alguns pensadores que pro-
t K. Marx. Manuscritos econômico-filosóficos (1844); curaram analisar e discutir a sociedade de seu tempo, levando
t Karl Marx e F. Engels. A sagrada família (1844); em conta influências ou se contrapondo aos pensadores de
t K. Marx e F. Engels. A ideologia alemã (1845); antes. A partir dos últimos anos do século XIX, como saber
t K. Marx. A miséria da filosofia (1847); universitário, a Sociologia se desenvolveu especialmente em
t K. Marx e F. Engels. O manifesto comunista (1848); três países: França, Alemanha e Estados Unidos da América.
t K. Marx. O 18 Brumário de Em outros países também aparece o saber sociológico, mas
Napoleão Bonaparte (1852); aqueles países estão sendo privilegiados porque é deles que
t K. Marx. Contribuição à crítica da a Sociologia no Brasil, a partir de 1930, vai receber sua maior
economia política (1857); influência.
t K. Marx. O capital (1867).
Vale considerar que a obra desses pensadores não ficou ! $VSJPTJEBEF: a sociologia na América latina
vinculada estritamente aos movimentos sociais dos traba- Em 1877 foi criado, na cidade de Caracas, Venezuela, um
lhadores. Ela foi sendo introduzida nas universidades em Instituto de Ciências Sociais e, anos mais tarde, em 1882, a
diferentes áreas do conhecimento. A Filosofia, a Sociologia, a Universidade de Bogotá, na Colômbia, abriu o primeiro curso
Ciência Política, a Economia, a História, a Geografia, entre ou- de Sociologia no mundo, antecipando-se assim em dez anos
tras, contam com trabalhos acadêmicos de autores influencia- ao inaugurado em Chicago em 1892. Daí em diante, esse pro-
dos pelos dois autores alemães. Na Sociologia, afirma Irving cesso se expandiu: 1898, em Buenos Aires; 1900, em Assun-
M. Zeitlin em seu livro Ideologia y teoria sociológica, tanto ção; 1906, em Caracas, La Plata e Quito; 1907, em Córdoba,
Max Weber quanto Emile Durkheim fizeram em suas obras Guadalajara e Cidade do México. Até os anos de 1920, o ensino
um debate com o fantasma de Karl Marx. de Sociologia já estava estabelecido em quase todos os países
Pelas análises da sociedade capitalista de seu tempo, e pela da América Latina, em várias universidades. No Brasil, como
repercussão que a obra dos dois alemães teve em todo o mun- veremos na 6ª Aula, o primeiro curso superior de Ciências So-
do, principalmente no século XX, seja nos movimentos sociais ciais somente surgiu na década de 1930.
t POLANYI, Karl. A grande transformação. As origens 2 Auguste Comte e Karl Marx foram pensadores que tinham
de nossa época. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. projetos de reformulação da sociedade em que viviam. Há
pontos de contato e de diferenciação entre ambos? Leia os
b Para uma compreensão mais precisa sobre Auguste Comte dois textos abaixo e responda a esta questão. T
e Karl Marx é importante ler as coletâneas abaixo, que apre-
sentam uma introdução e textos dos autores citados T t SOUZA, Ricardo Luiz de. A ordem e a síntese:
aspectos da sociologia de Auguste Comte.
t MORAES FILHO, Evaristo de. (Org.). Link: )Uaa]'&&ddd%PPUYN%bS_[%O_&P_\[\`&]QS&Ć%þ&Nþ%]QS+%
Auguste Comte. São Paulo: Ática,1989. Este artigo trata de alguns aspectos básicos do pen-
samento de Auguste Comte, a partir dos quais é possível
t COMTE, Auguste. Comte. Seleção de textos e com compreender a contribuição desse autor para o processo
introdução de José Arthur Giannotti. São Paulo: de construção do conhecimento sociológico do qual ele foi
Abril Cultural, 1978. (Coleção Os pensadores) precursor (e criador do termo).
t IANNI, Octavio (Org.). Marx. São Paulo: Ática, 1989. t NICOLAUS, Martin. O Marx desconhecido.
Link: )Uaa]'&&N[aVcNY\_%cVYNO\Y%b\Y%P\Z%O_&aRea\`&\ba_\`&
t NETTO, José Paulo (Org.). Engels. [VP\YNb`%UaZ+%
São Paulo: Ática, 1981. Este é um texto pouco conhecido do público brasileiro,
escrito por um sociólogo norte-americano que traz uma
c Um livro oferece uma análise contemporânea de Karl visão importante da obra de Marx.
Marx e é importante ser lido para a compreensão de seu pen-
samento T 3 Se você for utilizar esta aula para desenvolver alguma ati-
vidade junto a seus alunos no Ensino Médio, fazemos estas
t BENSAID, Daniel. Marx, o intempestivo. sugestões T
Grandezas e misérias de uma aventura crítica.
Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1999. t Elabore uma revisão histórica com os alunos,
procurando saber o que eles conhecem desse
grande período, ou seja, do século XV até o
século XIX. Destaque os elementos essenciais
que são os pressupostos para o surgimento
da Sociologia no final do século XIX.
24 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX1ª Aula: Pressupostos e origem da Sociologia
t Trabalhe com biografias, pois é algo muito interessante
para os alunos do Ensino Médio, já que possibilita
a eles pesquisarem sobre a vida dos pensadores e
também dos artistas referenciados. Procure estabelecer
uma ligação entre a vida de cada um deles, bem como
entre eles e os acontecimentos mais gerais em cada
país de origem ou em toda a Europa, por exemplo.
Nos livros abaixo relacionados, que integram a Bibliogra- 46112;@#.[aU\[f%Política, sociologia e teoria social%2[P\[a_\`P\Z\]R[`NZR[a\
fia geral, constam análises dos pressupostos históricos e `\PVNYPY¾``VP\RP\[aRZ]\_À[R\%@Â\=NbY\'2Q%B[R`]#þĆĆą%
intelectuais que fundamentam o surgimento da Sociologia,
bem como uma análise de importantes aspectos do pensa- LLLLL%Capitalismo e moderna teoria social%BZNN[¾YV`RQN`\O_N`QR:N_e#1b_XURVZ#
mento dos autores aqui abordados. :NeDROR_%9V`O\N'=_R`R[ÄN#þĆĄă%
/<AA<:<?2# A%( ;6@/2A# ?% <_T`% % História da análise sociológica% ?V\ QR 7N[RV_\' 9.992:2;A#:VPURY%História das ideias sociológicas – V.I. 1N`<_VTR[`N:NeDROR_%
GNUN_#þĆąý% =Ra_Î]\YV`#?7'C\gR`#ÿýýĀ%
0.@A?<# .[N :N_VN QR( 16.@# 2QZb[Q\ 3% Introdução ao pensamento sociológico' LLLLL%História das ideias sociológicas – V.II.1R=N_`\[`N\`P\[aRZ]\_À[R\`%=Ra_Î-
1b_XURVZ&DROR_&:N_e&=N_`\[`%þĂ%RQ%?V\QR7N[RV_\'0R[aNb_\#ÿýýþ% ]\YV`#?7'C\gR`#ÿýýā%
26 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX1ª Aula: Pressupostos e origem da Sociologia
2 aula
A Sociologia na França
3\a\QN?RcV`aN;\``\@ÅPbY\;mĀ#þĆýý&þĆþý%2QVa\_N.O_VY%=TăăăĄ%.PR_c\'
A França foi um dos países em que inicialmente a Socio-
logia se desenvolveu. E tinha condições para tanto, pois foi na
França que se fizeram presentes alguns dos pensadores que,
para alguns analistas, são os pré-sociólogos ou os fundadores
=NbY\@¾=V[a\%@Â\=NbY\@=%
da Sociologia, como Charles de Montesquieu, Aléxis de Toc-
queville, Saint-Simon e Auguste Comte. E foi na França que se
desenvolveu uma das mais significativas vertentes da Sociolo-
gia contemporânea: o positivismo funcionalista.
4_N[QR`V[cR[ÄÒR`'þā/V`#QR@N[a\`1bZ\[a
28 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX2ª Aula: A Sociologia na França
através dele que a Sociologia na França procurou sair do âm- ceses mais influentes na França de seu tempo. Só depois de
bito das ciências sociais genéricas para se firmar como Socio- sua morte foi que Durkheim alcançou uma posição de hege-
logia, pelo menos institucionalmente. monia na Sociologia francesa.
Para isso, Worms procurou fundar várias organizações Para Tarde, do ponto de vista sociológico, não havia vida
para dar uma sustentação institucional à Sociologia nascente social sem imitação. Na sua definição, a sociedade era uma
na França e na Europa. Em 1893 fundou a Revista Internacio- coleção de seres com tendência a se imitarem entre si, ou que,
nal de Sociologia, do qual ele se tornou o editor; em 1894 criou mesmo sem se imitarem, se pareciam, e suas qualidades co-
o Instituto Internacional de Sociologia e, no mesmo ano, a Bi- muns eram cópias antigas de um mesmo modelo. Tarde vai
blioteca Internacional de Sociologia, visando publicar obras além, ao afirmar que nós imitamos os outros a cada instan-
sociológicas de importantes filósofos e sociólogos europeus, te, a não ser que haja inovação, coisa rara, já que nossas ino-
como G. Simmel e F. Tonnies; em 1895 organizou a Sociedade vações em sua maior parte eram combinações de exemplos
de Sociologia de Paris tendo como presidente Gabriel Tarde e anteriores. Assim, a imitação seria o processo elementar de
ele mesmo como secretário. construção do social, pois ela era a ação de um indivíduo so-
Apesar de todo esse esforço institucional, a Sociologia na bre o outro e de uma subjetividade sobre outra. As oposições
França ainda não conseguiu deslanchar no interior das uni- e adaptações representariam os processos de criação e trans-
versidades francesas. formação social.
As principais obras de Worms: T No prefácio ao livro Monadologia e sociologia, de Gabriel
Tarde, Tiago Themudo e Luiz Orlandi falam de duas indica-
t Eléments de philosophie scientifique et ções presentes nesta obra:
de philosophie morale (1891);
t La morale de Spinoza (1891); Primeira: toda ordem é finita, pois composta sobre um solo está-
t De natura et methodo sociologiæ (1896); vel, animada por forças que guardam uma certa autonomia em
t Organisme et société (1896); relação a ela,exposta a forças que constantemente tramam rebe-
t La Science et l’art en economie politique (1896); liões. Nesta constante renovação das ordens,é a matéria que se
t Philosophie des sciences sociales (1903-1905), remodela, é a vida que se complexifica, é o homem que se torna
3 volumes. mais criativo, são as sociedades que se tornam mais conectadas.
A ordem só se justifica na gestação de desordens criadoras. [...]
Segunda: em sua finitude, a ordem, a cooperação entre as môna-
! %JDB: Para uma leitura da presença do organicismo na das, deve conduzir a um máximo de variação interna, deve ser
França e sobre René Worms ler o artigo (indicado na biblio- explorada em todas as suas virtualidades que, uma vez esgota-
grafia) de Daniela S. Barberis, O organicismo como modelo das, devem indicar a urgência de outra ordem, de outra forma
para a sociedade: a emergência e a queda da sociologia organi- de cooperar, pois a antiga já atingiu o limite de sua variação, de
cista na França no fin-de-siècle. Trata-se de uma leitura de boa reinvenção de si mesma, ou seja, de conexão com o Outro.
ajuda para compreensão do pensamento de Worms e para a
avaliação desta disciplina. Essa forma de fazer Sociologia deu primazia aos indivídu-
os na relação social, enquanto criação e formação de proces-
sos sociais sempre instáveis. Esses processos de instabilidade
Jean Gabriel de Tarde (1843-1904) foram fundamentais na análise sociológica porque indicavam
o sentido permanente de criação das ações sociais.
De família nobre, Tarde nasceu em Sarlat, em 1843, e mor- Para Tarde não havia outra realidade senão a existência
reu em Paris, em 1904. Obteve seu bacharelado em Letras, em de consciências individuais. Os indivíduos, por sua vez, não
1860, e em Direito em 1867. A partir de então desenvolveu se uniam uns aos outros senão a partir do momento em que
sua carreira na magistratura. Nessa posição desenvolveu suas adotavam um modelo de referência e imitavam esse modelo.
investigações sobre Criminologia publicando vários artigos. Essa imitação não se fazia sem resistência, sem oposição; mas
Posteriormente foi designado diretor da seção de estatística era ela que permitia a adaptação social, a vida em sociedade,
criminal do Ministério da Justiça em Paris, cargo que conser- o liame social.
vou até sua morte. Paralelamente manteve uma vida intensa Tarde desenvolveu uma sociologia da associação e se inte-
ligada à investigação nas Ciências Sociais e Humanas: parti- ressou na forma pela qual os seres humanos teciam alianças
cipou de colóquios e congressos publicando artigos e partici- com outros seres, humanos ou não, para formar associações
pando de duas polêmicas famosas: a primeira com o italiano e dotá-las de porta-vozes, que indicavam quais são os laços
Cesar Lombroso, na área de Criminologia, e a segunda com e as fronteiras que os uniam ou que os separavam de outras
Émile Durkheim, na Sociologia. Foi um dos pensadores fran- associações.
30 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX2ª Aula: A Sociologia na França
Como ponto de partida deve-se definir o fenômeno a t A divisão do trabalho social (1893);
ser analisado; t As regras do método sociológico (1895);
t O suicídio (1897);
Numa segunda fase deve-se refutar todas as interpreta- t As formas elementares da vida religiosa (1912);
ções anteriores; t Educação e sociologia (1922);
t Sociologia e filosofia (1924);
Por último deve-se desenvolver uma explicação pro- t A Educação Moral (1925);
priamente sociológica do fenômeno considerado. t O socialismo (1928);
t A evolução pedagógica na França (1938);
Partindo da afirmação de que a raiz de todos os males da t Lições de sociologia (1950);
sociedade de seu tempo era certa fragilidade da moral (ideias, t A ciência social e ação (1970).
normas e valores), a preocupação de Durkheim foi com a or-
dem social, tendo como fonte tanto o pensamento de Saint-
Simon como o de Comte. ! Obs.: Todas estas obras possuem tradução para o por-
Durkheim busca resolver essa questão propondo a formu- tuguês.
lação de novas ideias morais capazes de guiar a conduta dos
indivíduos. A ciência, e em especial a Sociologia, através de
suas investigações, poderia indicar os caminhos e as soluções, A Primeira Guerra (1914-1918) trouxe problemas sérios para
pois os valores morais constituem um dos elementos mais efi- o desenvolvimento da Sociologia na França, pois vários dos
cazes para neutralizar as crises econômicas e políticas. A par- jovens sociólogos influenciados por Durkheim morreram
tir desses valores é que podiam ser criadas as relações estáveis no campo de batalha, inclusive seu filho, o que lhe trouxe
entre os homens. Para Durkheim, a integração social, conceito um sofrimento muito grande, levando-o também à morte
fundamental formulado em sua obra por meio da ideia de so- em 1917.
lidariedade, era a garantia da articulação funcional de todos Após a morte de Durkheim, a Sociologia na França teve,
os elementos da realidade social. entre outros, como seus principais continuadores:
Outra preocupação de Durkheim foi com o processo educa-
cional e como a Sociologia poderia servir para que a educação t Seu sobrinho Marcel Mauss (1872-1950);
francesa se desvencilhasse das amarras religiosas existentes t Maurice Halbwachs (1877-1945);
no seu tempo. Sendo sua preocupação fundamental conferir t François Simiand (1873-1935);
um estatuto científico à Sociologia, suas primeiras análises, t Paul Fauconnet (1874-1938);
propriamente sociológicas, do processo educativo caminha- t Célestin Bouglé (1870-1940).
ram juntas. As suas análises da questão educacional estavam
relacionadas com a possibilidade de se instituir uma educação Todos eles partiram de pontos de vista durkheimianos,
de cunho laico e republicano, em contraposição à presença re- mas não seguiram necessariamente os pressupostos e as po-
ligiosa e monarquista no sistema de ensino francês. sições do mestre e professor. Fizeram suas próprias pesqui-
A Sociologia como disciplina foi inicialmente ministrada sas e até questionaram muitos aspectos do pensamento de
nos cursos secundários, e só depois nos universitários, e esteve Durkheim, como foi o caso de Halbwachs, que não aceitou a
vinculada à perspectiva de transformação da educação fran- sua análise sobre o suicídio. Ou seja, eles passaram a andar
cesa e com uma ligação muito grande com uma nova moral sobre suas próprias pernas e com as próprias ideias.
burguesa. Durkheim preocupou-se tanto com a questão edu- Durkheim teve também grande influência na historiogra-
cacional que essa foi uma constante em sua vida acadêmica: fia francesa, principalmente nos fundadores – Marc Bloch e
ele refletiu não só sobre a organização educacional francesa, Lucien Febrve – da chamada Escola dos Annales.
em termos de sua história, como também sobre os conteúdos Após a Segunda Guerra, a Sociologia na França desenvol-
que estavam sendo ministrados. Além disso, sempre prezou veu-se fora do âmbito acadêmico, pois ainda sofria de um
muito a sua condição de professor. grande preconceito no interior das universidades. Entre os
Entre os trabalhos que fazem parte da obra de Émile sociólogos franceses que posteriormente desenvolveram suas
Durkheim podemos citar os mais expressivos, publicados atividades, de maneira extraordinária, em variadas tendên-
em vida ou organizados e publicados por seus alunos e se- cias, podem ser citados: T
guidores:
a Este texto permitirá ter uma visão geral do surgimento e d Para conhecer mais sobre Emile Durkheim leia T
desenvolvimento da Sociologia acadêmica na França. T
t GIANNOTTI, José Arthur. A sociedade como
t MUCCHIELLI, Laurent. O nascimento da sociologia técnica da razão. Um ensaio sobre Durkheim.
na universidade francesa (1880-1914). Link: )Uaa]'&&ddd%PRO_N]%\_T%O_&VZNTR[`&._^bVc\`&NL
Link: )Uaa]'&&ddd%`PVRY\%O_&`PVRY\%]U],`P_V]a*`PVLN_aaRea]VQ `\PVRQNQRLP\Z\LaRP[VPN%]QS+%
*@ýþýÿ$ýþąąÿýýþýýýÿýýýýĀ+%
t ORTIZ, Renato. Durkheim: arquiteto e herói fundador.
b Para conhecer mais sobre Le Play e Worms, leia os textos T Link: )Uaa]'&&ddd%N[]\P`%\_T%O_&]\_aNY&]bOYVPNP\R`&
_OP`LýýLþþ&_OP`þþLýþ%UaZ+%
t BARBERIS, Daniela S. O organicismo como modelo
para a sociedade: a emergência e a queda da t PINHEIRO FILHO, Fernando. A noção
sociologia organicista na França no fin-de-siècle. de representação em Durkheim.
Link: )Uaa]'&&TUaP%VSV%b[VPNZ]%O_&.3560Ā&A_NONYU\`&þĄ$ Link: )Uaa]'&&ddd%`PVRY\%O_&]QS&Y[&[ăþ&Nýą[ăþ%]QS+%
1N[VRYN$/N_OR_V`%]QS+%
t SOUZA, Railton N. A Sociologia em Émile Durkheim.
t BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. A família Link: )Uaa]'&&OY\TY[%[V[T%P\Z&]_\SVYR&
na obra de Frédéric Le Play. ?NVYa\[;N`PVZR[a\@\bgN+%
Link: )Uaa]'&&ddd%`PVRY\%O_&`PVRY\%]U],`P_V]a*`PVLN_aaRea]VQ
*@ýýþþ$ĂÿĂąÿýýÿýýýĀýýýýĄ+% t VASCONCELLOS, Maria Drosila. A sociologia da
educação na França: um percurso produtivo.
Link: )Uaa]'&&ddd%`PVRY\%O_&`PVRY\%]U],`P_V]a*`PVL
N_aaRea]VQ*@ýþýþ$ĄĀĀýÿýýĀýýýÿýýýþĀYN[T*]a+%
32 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX2ª Aula: A Sociologia na França
Como vimos nesta aula...
Atividades de avaliação
5.DA5<?;#4R\SS_Rf%Iluminismo e desespero%BZNUV`aÎ_VNQN@\PV\Y\TVN%?V\QR7N-
[RV_\'=NgRAR__N#þĆąÿ%H9R_\PN]ÉabY\ă.UV`aÎ_VN_R`\YcVQN]\_YRV`666%]%þþĄNþĀĆJ%
34 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX2ª Aula: A Sociologia na França
3 aula
A Sociologia na Alemanha
?Rc\YbÄÂ\QRþĆQRZN_P\QRþąāą/R_YV[
36 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX
3ª Aula: A Sociologia na Alemanha
Orlando de Miranda relata um fato interessante que acon- em uma obra que conjuga de modo original diversas “perspecti-
teceu em 1980 na cidade de Kiel. Durante as comemorações vas” – a sociologia, a filosofia, a economia, a psicologia, a história,
dos 125 anos do nascimento de F. Tönnies, num simpósio so- a estética, e outras mais – na análise do que pode ser esperado e
bre sua obra, o pensador alemão foi saudado pelos movimen- convencional, mas é sempre rica em nuances:
tos da contracultura, ecologistas e militantes de ONGs como A guerra – A dominação –o grupo – O conflito – Os círculos
aquele que melhor diagnosticara o percurso da sociedade ca- sociais – A individualidade – O espaço – A cultura – O dinheiro
pitalista e sugerira terapias adequadas, indicando uma racio- – a moral – A liberdade – O trabalho – O pessimismo – A família
nalidade que teria ido além do pragmatismo industrializante. – A religião – A cidade – O socialismo.
Assim, a obra de Tönnies renasceu no universo do pensamen- Mas também do inesperado, inconvencional, e do mais inu-
to alemão depois de um largo período no ostracismo. sitado:
A ponte – A moldura – A aventura – A ruína – A asa do jarro
– O estranho – A prostituição – A amizade – Os sentidos – A por-
George Simmel (1858-1918) ta – A coqueteria – O segredo – A fidelidade – A mentira – O ator
– A carta – O rosto – o amor – A refeição – Os Alpes – O pobre
Sociólogo e filósofo neokantiano, Simmel nasceu em Ber- – Os adornos – A paisagem – A moda – A solidão – A conversa.
lim, em 1858, e faleceu em 1918 em Estrasburgo. Foi um dos D.6G/<?A#9R\]\YQ\%As aventuras de Georg Simmel%@Â\=NbY\'2Q%Āā#ÿýýý%]%þþ$þÿ
responsáveis pelo desenvolvimento da Sociologia na Alema-
nha, juntamente com os demais aqui apontados.
Talvez ele seja o pensador mais difícil de ser enquadrado Simmel era o mais jovem e o último dos sete filhos de um
em algum escaninho do pensamento. Portanto, nada melhor próspero comerciante judeu convertido ao cristianismo. Com
que recorrer ao que escreveu Leopoldo Waizbort, no início de a morte do pai, herdou uma fortuna considerável que lhe per-
seu livro sobre Simmel, para apresentar seu pensamento: mitiu uma independência de pessoas influentes e instituições
para desenvolver sua vida acadêmica. Estudou História e Filo-
sofia na Universidade de Berlim, onde foi aluno das mais im-
Caracterização portantes figuras acadêmicas de então. Doutor em Filosofia,
com uma tese sobre Kant, tornou-se professor de Filosofia e
Quem tentar esboçar a fisionomia de Georg Simmel (1858-1918), Ética na Universidade de Berlim (1885-1914) e também de Sociolo-
logo se encontra em meio a dificuldades que são características gia (1900-1914), mas sempre em condição de pouca estabilidade e
próprias daquilo que se quer apreender. Simmel sempre postu- em cargos subalternos da docência. Conforme seus analistas,
lou para seu próprio pensamento uma mobilidade e uma plasti- as razões apontadas para esta situação acadêmica foram: sua
cidade, para se adaptar ao seu objeto uma multiplicidade de di- ascendência judaica e sua posição de livre pensador, escritor
reções, uma defesa do fragmento, que se opõem a toda tentativa prolixo e com pouca disciplina acadêmica. Tornou-se profes-
de fixação e acabamento, a toda pretensão de sistema. sor titular de Filosofia apenas no final sua vida, em Strasburg
Por isso todos os rótulos que lhe são atribuídos, apesar de (1914-1918), cidade onde permaneceu até sua morte, que aconteceu
possuírem seu teor de verdade, sempre soam tão falsos: vitalis- em virtude de um câncer.
mo, relativismo, esteticismo, formalismo, irracionalismo, psico- Na virada do século XIX-XX, a Alemanha assistia ao surgi-
logismo, impressionismo, e tantos mais. Disto também é exem- mento da psicanálise, da teoria da relatividade, do positivismo
plo o fato de Simmel, hoje considerado, ao lado de Max Weber lógico, da música atonal e de uma efervescência filosófica, cul-
e Ferdinand Tönnies, um dos “pais” da sociologia alemã, não tural e artística das mais intensas. Foi em meio a esse cenário
poder ser classificado sem mais como “sociólogo”, sob pena de que Simmel tornou-se um conferencista muito aclamado, e
se perderem várias outras dimensões que são essenciais ao seu escreveu artigos e ensaios sobre os mais variados temas, per-
pensamento. Walter Benjamin, que ainda pôde ouvir Simmel, passando por várias discussões filosóficas na lógica, na teoria
detectou em sua “dialética característica” a transição da filosofia do conhecimento, na ética, estética ou metafísica. Além dis-
tradicional (“de cátedra”) para uma filosofia ensaística. Virtuose so, temas da psicologia, sociologia, história e religião estavam
na forma do ensaio, este tem muito a ver com o tipo e com os sempre presentes em seus escritos. Escreveu também várias
objetos de conhecimento que Simmel tinha em vista. Theodor biografias, como as de Goethe, Nietzsche, Kant e Rembrandt,
Adorno – que estudou com Siegfried Kracauer, aluno dileto de entre outros. Por essa razão foi considerado pouco sistemáti-
Simmel – retomou o enfoque de Benjamin e apontou o núcleo co e acadêmico, mas faz-se necessário reconhecer ter sido um
do esforço simmeliano, a “virada da filosofia rumo aos objetos pensador e um escritor original, que trilhou caminhos pouco
concretos”. É dessa virada, que exige sua concepção muito pró- experimentados em seu tempo e que agora se tornaram bem
pria de “filosofia”, que se originam suas múltiplas preocupações, contemporâneos.
TERRA
! %JDB: O artigo de Antônio de Vasconcelos Nogueira,
AR\_VNQN_RYNaVcVQNQR Werner Sombart (1863-1941): apontamento biobibliográfico – cons-
tante da bibliografia, oferece uma visão precisa de quem foi
Sombart: um pensador polêmico em suas análises e posições
Apesar de estar sempre envolvido nas polêmicas de seu políticas.
tempo, do ponto de vista político e social nunca foi filiado ou
teve participação político-partidária.
Suas obras sociológicas mais importantes são: T :Neimillian Carl Emil DROR_ (1864-1920)
38 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX
3ª Aula: A Sociologia na Alemanha
Entre agosto e dezembro de 1904, Weber viajou para os dente dos protestantes. Isto é só um exemplo de seu rigor no
Estados Unidos da América, por ocasião da Exposição Uni- tratamento das questões que pretendia abordar. Enfim, nunca
versal de Saint-Louis, com F. Tönnies e W. Sombart. Entrou mediu esforços para analisar e compreender o mais profunda-
em contato com a cultura norte-americana e com as igrejas e mente possível as atividades às quais se propunha.
seitas protestantes daquele país, e conheceu vários escritos de Para Max Weber, o indivíduo era o núcleo central de sua
Benjamin Franklin que se tornaram fundamentais para suas análise, por ser ele quem define intenções e finalidades para
pesquisas sobre a relação entre a ética protestante e o espírito seus atos. Desse modo, o ponto de partida da Sociologia era a
do capitalismo. compreensão da ação dos indivíduos, suas motivações e in-
Entre 1905 e 1906 conheceu o processo revolucionário tenções, e a Sociologia uma ciência que busca compreender
russo de 1905, aprendendo o idioma para ler os jornais na e interpretar as relações sociais para explicá-las causalmente
própria língua. Terminou escrevendo dois artigos sobre a si- em seu desenvolvimento e efeitos.
tuação política russa. Com a morte de seu pai, em 1907, rece- Termos como Estado, família e outros deixam de ter sen-
beu uma herança significativa e, a partir de então, se dedicou tido fora das relações sociais que lhes emprestam sentidos.
exclusivamente à investigação histórica e a escrever. Assim, Max Weber não consegue ver a sociedade como um
Em 1909, juntamente com vários intelectuais, colaborou bloco, uma estrutura, mas a percebe como uma teia de rela-
na fundação da Sociedade Alemã de Sociologia. E foi a partir ções em construção cujo sentido, sempre provisório, lhe é em-
de então que Weber passou a se considerar sociólogo. prestado por quem dela participa e a estuda.
Ao ser deflagrado o conflito da Primeira Guerra Mundial, Max Weber deixou uma obra vasta, que percorreu cami-
em 1914, Weber foi convocado como oficial da reserva para nhos variados, desde a história, o direito, a economia, a so-
dirigir um hospital militar. Entre as atividades no hospital en- ciologia, passando pelas questões religiosas, pelos processos
controu tempo para continuar escrevendo partes do livro que burocráticos, pela análise da cidade, da música e pela discus-
foi publicado por sua esposa, após a sua morte, com o título são metodológica das ciências humanas e dos conceitos so-
de Economia e Sociedade. Além disso, desenvolveu os estudos ciológicos.
sobre ética econômica e as religiões universais e escreveu uma Entre os seus escritos podem-se destacar os que foram pu-
série de artigos sobre o liberalismo alemão, publicados pelos blicados enquanto estava vivo, e outros de maior volume que
grandes jornais da Alemanha. Nesses artigos criticou a estru- vieram a público depois de sua morte: T
tura partidária do país e a burocratização das suas esferas po-
líticas, afirmando que aquela situação ainda era uma herança t A ética protestante e o espírito do
de Bismarck. capitalismo (1904-1919);
Neste período pronunciou uma conferência – A ciência t Ciência e política: duas vocações (1917-1919);
como vocação – e escreveu dois textos explicitando seu méto- t Economia e sociedade. Fundamentos da
do, A objetividade do conhecimento nas ciências sociais e po- sociologia compreensiva (1921);
líticas e O significado da neutralidade axiológica nas ciências t História geral da economia (1923);
sociológicas e econômicas, que se tornaram importantes para o t Ensaios reunidos de sociologia das religiões;
conhecimento do seu pensamento. t Ética econômica das religiões mundiais.
Pelas ideias expostas em debates e nos jornais e por sua
erudição, Max Weber, após a derrota alemã na Primeira Guer- Após a Primeira Guerra, alguns sociólogos, entre outros, se
ra, fez parte da comissão que redigiu a nova constituição po- mantiveram em atividade, como Ferdinand Tönnies, Leopold
lítica da República de Weimar. Ele morreu em 14 de junho de Von Wiese (1876-1968), Hans Freyer (1887-1968) e Franz Oppenheimer
1920, devido a complicações pulmonares em consequência da (1864-1943), que foi quem criou, em Frankfurt, em 1919, a primei-
chamada gripe espanhola. ra cátedra de Sociologia da Alemanha.
Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que a vida de Max Karl Mannheim (1893-1947), sociólogo húngaro, que desenvol-
Weber foi dedicada aos estudos, pesquisa e à participação ati- veu parte de seus estudos e de sua obra na Alemanha, dedicou-
va na política alemã, através de suas intervenções, através de se, primeiro, à sociologia do conhecimento e, depois, migrou
conferências, artigos para jornais e revistas. Foi um erudito para a Inglaterra, onde desenvolveu docência e escreveu tra-
e um pesquisador incansável, dedicando-se enormemente a balhos em outras áreas, voltados a questões contemporâneas.
essas tarefas. Aprendeu grego e hebraico para poder ler a Bí- Trabalhos de Mannheim como Ideologia e utopia, Sociologia
blia no original; espanhol, para ler os arquivos sobre as com- da cultura, O homem e a sociedade na época de crise, Diag-
panhias de navegação e o comércio espanhol; estudou russo, nóstico do nosso tempo, e Liberdade, poder e planejamento
para ler os jornais sobre os acontecimentos daquele país des- democrático influenciaram significativamente a Sociologia
de 1905 até a revolução de 1917; e o inglês, para ler os textos no Brasil, principalmente alguns dos trabalhos de Florestan
norte-americanos sobre a vida religiosa e a ética correspon- Fernandes.
40 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX
3ª Aula: A Sociologia na Alemanha
t COSTA, Simone Pereira da. Apontamentos Como vimos nesta aula...
para uma leitura de Georg Simmel.
Link: )Uaa]'&&ddd%QVNY\T\`%bRZ%O_&cVRdN_aVPYR%
]U],VQ*ĂĆYNf\ba*NO`a_NPa+% A Sociologia na Alemanha, desde o seu início, difere da que
se desenvolveu na França. Seu ponto de partida e suas preo-
t WAISBORT, Leopoldo. Simmel no Brasil. cupações metodológicas são outras. Isso lhe deu uma confi-
Link: )Uaa]'&&_RQNYfP%bNRZRe%Ze&_RQNYfP&]QS&ÿþą&ÿþąĂýþýÿ% guração própria, com abordagens em que foram articulados
]QS+% temas filosóficos, históricos e econômicos. E é nessa vertente
que tanto sociólogos franceses quanto norte-americanos irão
t KNÖBL, Wolfgang. Max Weber, as múltiplas buscar subsídios para desenvolver a Sociologia em seus países.
modernidades e a reorientação da teoria sociológica.
Link: )Uaa]'&&_RQNYfP%bNRZRe%Ze&_RQNYfP&]QS&ÿþą&ÿþąāĆĀýÿ%
]QS+%
Atividades de avaliação
t VILLAS BÔAS, Gláucia. Ascese e prazer – Um
capítulo esquecido da polêmica Weber/Sombart.
Link: )Uaa]'&&ddd%VSP`%bS_W%O_&k[b`P&`\ZON_a%]QS+% 1 Após ler o artigo T
Para um conhecimento maior de Max Weber, os livros abai- LLLLL%História geral da economia%@Â\=NbY\':R`a_R7\b#þĆăą%
xo são uma referência importante:
LLLLL%Metodologia das Ciências Sociais%ÿ%RQ%@Â\=NbY\'0\_aRg#þĆĆĀ%ÿc% %HARea\`
0<295<#:N_VN3_N[PV`PN=V[URV_\(/.;126?.#9\b_QR`(:2;2G2@#:N_VYQN9\V\YNQR% ZRa\Q\YÎTVP\`\_TN[VgNQ\`RP\ZV[a_\QbÄÂ\QR:Nb_ÉPV\A_NTaR[OR_TJ%
<_T`% %Política, ciência e cultura em Max Weber%/_N`ÉYVN'2Q%QNB[/#ÿýýý%
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42 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX
3ª Aula: A Sociologia na Alemanha
A Sociologia nos
4 aula
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VZNTR[`&RbNLTbR__NL`RPR``N\LTRaaf`O%W]T
Iniciando nossa conversa
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Propondo objetivos
Conhecendo sobre
A Sociologia nos Estados Unidos da América surgiu no nomia do sul, onde foram destruídas fábricas, estabelecimen-
contexto de dois grandes eventos que marcaram profunda- tos comerciais e residências, além das propriedades rurais
mente a história dos Estados Unidos da América. A Guerra produtoras de algodão que foram queimadas, prejudicando
de Secessão, também conhecida como Guerra Civil Ameri- seriamente a exportação de algodão para a Inglaterra. Esta si-
cana, ocorrida entre 1861 e 1865, e a imigração estrangeira tuação gerou grandes ressentimentos e atritos entre a popula-
em massa. ção do sul e do norte dos Estados Unidos, que perduraram por
A guerra civil drenou os recursos financeiros do norte dos várias gerações e, em alguns Estados, perdura até hoje, consi-
Estados Unidos da América e arruinou completamente a eco- derando que nenhum programa governamental previu a inte-
2º MóduloXDisciplina 1: História da SociologiaX4ª Aula: A Sociologia nos Estados Unidos da América – EUA 43
gração profissional e econômica do sul aos Estados Unidos da Assim, ao findar o século XIX, os Estados Unidos da Amé-
América. O sul perdeu toda sua influência política, econômica rica estavam em franco desenvolvimento Industrial com um
e cultural nos Estados Unidos, e seus ideais tradicionais pas- crescimento econômico e urbano significativos. As principais
saram a não ter muita influência no governo federal. cidades passaram a ser espaços de conflito e de preocupações.
Como reação positiva à guerra civil houve a urbanização Por essa razão, temas como imigração, aculturação ou con-
das terras do oeste e das áreas centrais norte-americanas, flitos étnicos, comportamentos desviantes, políticas públicas,
contribuindo ainda mais para o crescimento da economia, a entre outros, marcaram a Sociologia que se desenvolveu ini-
expansão industrial e o desenvolvimento do capitalismo dos cialmente no país.
Estados Unidos. No norte, graças ao esforço de guerra, hou- As tendências intelectuais, culturais e ideológicas eram
ve um crescimento surpreendente, principalmente na meta- muitas, e as ciências sociais nascentes as refletiam nos cons-
lurgia, transporte ferroviário, armamentos e naval. Além do tantes confrontos de suas temáticas e concepções. Mas um
desenvolvimento tecnológico, houve o desenvolvimento de fato interessante, apontado por Geoffrey Hawthorn (conferir
escolas e instituições de ensino superior. O comércio cresceu bibliografia geral e no final desta aula), deve ser levado em
de maneira exponencial, espalhando-se para todo o terri- conta. Ele afirma que, pelo fato de a sociedade americana não
tório americano. O padrão de cultura dos Estados Unidos ter vivido um período feudal, a sua revolução ocorreu rela-
passou a ser o ideal nortista de “trabalho duro, educação e li- cionada a sua independência, não havendo necessidade de
berdade econômica a todos”, e que, eventualmente, faria dos criticar nenhuma estrutura política e pensamento anteriores.
Estados Unidos da América a maior potência econômica do Ela pôde assim tomar os pensadores iluministas com todas
mundo. as suas possibilidades e pensar a construção de uma nova so-
Um fato interessante de se notar é que os principais funda- ciedade sem os entraves feudais remanescentes, apesar dos
dores da Sociologia nos Estados Unidos da América nasceram grandes problemas que ainda subsistiam decorrentes do fim
antes ou durante a Guerra Civil Americana, e portanto experi- da escravidão em 1863, principalmente nos estados do sul.
mentaram o impacto desse acontecimento: Principais influências no desenvolvimento do pensamento
sociológico americano foram a tradição religiosa protestante,
t William Graham Sumner (1840-1910); disseminada em quase todo o território com suas diversas
t Lester F. Ward (1843-1914); igrejas, o liberalismo econômico clássico, do tipo laissez-faire
t Albion Small (1854-1926); entre os grandes empresários, de cunho conservador, e o evo-
t Franklin Giddings (1855-1931); lucionismo de Darwin, e sua decorrência, o darwinismo social
t Thorstein B. Veblen (1857-1929); de Herbert Spencer. Acrescente-se a esse cadinho de concep-
t William I. Thomas (1863-1947); ções de mundo e ciência o pragmatismo do filósofo e psicólo-
t Robert E. Park (1864-1944); go William James (1842-1910) e do filósofo Charles Pierce (1839-1914).
t Charles H. Cooley (1864-1929); Conforme Mário A. Eufrásio (ver bibliografia):
t George Herbert Mead (1863-1932).
O desenvolvimento da Sociologia nos Estados Unidos, na se-
O segundo acontecimento, a imigração estrangeira em gunda metade do século XIX e inícios do século XX, pode ser
massa, pode ser dimensionado pelos seguintes dados: entre traçado a partir de diversas origens, que se combinam com uma
1860 e 1900, os Estados Unidos da América passaram de um desigual influência da Sociologia que se desenvolvia no decorrer
país agrícola, com pequena população, em torno de 4 milhões do século XIX, na Europa, associada às transformações políticas,
de habitantes, para um país industrial, com uma das maiores econômicas, sociais e culturais que caracterizavam o surgimento
economias do mundo composta de 75 milhões de habitantes. da sociedade moderna. Certos aspectos da formação da Sociolo-
Esta transformação populacional, junto com a industriali- gia assumiram, nos Estados Unidos, formas originais: uma mo-
zação, redundou num processo de urbanização sem prece- tivação inicial filantrópica e favorável à reforma social, de feição
dentes, que continuou até a década de 1930. Para se ter uma progressista, e sua disputa contra os argumentos conservadores
ideia, Chicago, em 1860, tinha 102.260 habitantes; em 1900, tirados da economia política clássica e do evolucionismo e do
1.698.575; e em 1930, 3.375.329 habitantes. darwinismo social; o uso pioneiro de materiais sociográficos; a
A sociedade norte-americana mudou com a consolidação influência do evolucionismo de Spencer e do darwinismo social
de uma burguesia industrial, comercial e financeira significa- no desdobramento da discussão intelectual de um conjunto de
tiva. Paralelamente houve a formação de uma enorme classe ideias da época R[a_RþąĂýRþĆýý e os inícios do ensino universitário
trabalhadora, formada na maioria por imigrantes e de uma da Sociologia em diversas instituições de ensino e pesquisa uni-
classe média em ascensão, nas principais cidades do país. versitárias que foram criadas nas últimas décadas do século XIX.
2B3?.@6<#þĆĆĆ#]%ÿþ %
Por ter se desenvolvido desde o início no interior das Outros autores desenvolveram pesquisas sobre temas
universidades, com presença, nas atividades universitá- que evidenciavam a preocupação existente em Chicago e nas
rias, de doações e financiamento privados (Fundação Ro- grandes cidades dos Estados Unidos da América (a desorga-
ckfeller, Comitês e Associações normalmente religiosas) nização social nas cidades, marginalidade social, alcoolismo,
que, paralelamente ao Estado, estimularam a pesquisa. drogas, segregação racial, delinquência) que evidenciam a
relação entre a pesquisa sociológica e a intervenção dos orga-
Por estas características, escolhemos analisar o desenvol- nismos públicos. Houve, em alguns deles, a preocupação com
vimento da Sociologia norte-americana, em três grandes uni- o que eles chamavam de ecologia humana em oposição à eco-
versidades: Chicago, Harvard e Columbia. logia animal e vegetal.
A Universidade de Chicago foi fundada em 1890 e recebeu Entretanto, pouco a pouco foi também se firmando, em
seus primeiros alunos em 1892, graças a uma grande doação Chicago, uma outra perspectiva congregando sociólogos e
feita por John D. Rockefeller, e foi nela que surgiu o primeiro antropólogos relacionados à Psicologia social que, posterior-
departamento de Sociologia, sob a direção de Albion Small mente, veio a se chamar de interacionismo simbólico. A princi-
(1854-1926). A sua presença na Sociologia americana se deu fun- pal figura dessa vertente foi George Herbert Mead (1863-1932), que
damentalmente por ter sido grande professor e organizador. trabalhou com John Dewey e desenvolveu uma visão pragmá-
Em 1895 criou o American Journal of Sociology e, em 1907, tica e com uma forte tendência que, hoje, chamaríamos psi-
participou ativamente da criação da Sociedade Americana de cossociológica.
Sociologia. Ele publicou, junto com Georges Vincent em 1894, G. H. Mead, filósofo e psicólogo social, trabalhou em vá-
talvez o primeiro manual de Sociologia para estudantes, inti- rias áreas, sobretudo como psicólogo social, e foi professor de
tulado Introdução ao estudo da Sociedade. Small será o prin- várias gerações de antropólogos e sociólogos. Não chegou a
cipal divulgador do pensamento de George Simmel nos Esta- sistematizar suas propostas em vida, o que foi realizado postu-
dos Unidos da América (havia estudado na Alemanha, como mamente, quando seus alunos e discípulos compilaram uma
quase todos os que trabalhavam nesse momento em Chicago). série de anotações de suas aulas (taquigrafadas, em sua maior
A Universidade de Chicago, no início de seus trabalhos parte), do curso de Psicologia Social que ministrava, de pales-
sociológicos, deu primazia à pesquisa de campo, isto é, à pes- tras e de alguns de seus artigos, editando a obra Self, mind and
quisa empírica, procurando conhecer, através da observação society (1934). Ele se dedicou a refletir sobre a consciência, para
direta, a dinâmica das relações sociais. Assim, nela se desen- ele uma característica distintiva da espécie humana. Afirmou
volveu uma forte tendência pragmática e microssociológica a necessidade de se pensar a responsabilidade individual no
que viria a ser conhecida com a Escola de Chicago. Um de contexto de uma coletividade de indivíduos que se orienta-
seus expoentes, nesse momento, William F. Ogburn (1886-1959), vam uns pelos outros, mas também para si próprios.
desenvolveu instrumentos estatísticos com finalidades bem Além da tradição intelectual presente nos Estados Unidos
práticas para análise da realidade social. da América, houve a influência de Gabriel Tarde, mais do que
Vários autores participaram desse movimento. Entre os Durkheim, aliada à de Georg Simmel. Seus continuadores fo-
mais conhecidos no Brasil, podem ser citados: ram Herbert Blumer (1900-1987) e Everett C. Hughes (1897- 1983). Mais
2º MóduloXDisciplina 1: História da SociologiaX4ª Aula: A Sociologia nos Estados Unidos da América – EUA 45
conhecidos no Brasil, e ainda presentes hoje na Sociologia Seu livro mais conhecido, Os problemas humanos de uma civi-
brasileira, são Erving Goffman (1922-1982) e Howard Becker (1928- ). lização industrial, foi escrito em 1933. Como consequência, foi
criada, em Harvard, a Divisão de Pesquisas Industriais. Após
este primeiro ensaio de “sociologia industrial”, mesmo sem
um departamento específico, a Sociologia nesta universidade
Charles H. Cooley – Companheiro de foi marcada por uma preocupação teórica.
George Herbert Mead Pitirim A. Sorokin (1889-1968) foi quem começou essa trajetó-
ria. Oriundo de uma família de camponeses pobres, nasceu no
Esta vertente da sociologia, mais uma psicossociologia norte da Rússia, ele se tornou sociólogo e historiador depois
(conhecida posteriormente como interacionismo simbólico), de estudar na Universidade de São Petersburgo, onde recebeu
nos Estados Unidos da América, é representada também por o título de doutor em Sociologia, em 1922. Exilou-se da Rússia
Charles H. Cooley (1864-1929), que escreveu A natureza humana em 1923, após criticar a revolução de 1917, e depois de breve
e a ordem social (1902), Organização social (1909) e O processo so- estada em Praga partiu para os Estados Unidos da América,
cial (1918). Ele passou 37 anos como professor da Universidade onde lhe foi oferecido um lugar de professor na Universida-
de Michigan. Recusou-se a ir para a Universidade de Colum- de de Minnesota. Quando assumiu a cidadania americana,
bia, pois preferiu ficar na calma de Michigan. Mesmo assim, mudou-se para a Universidade de Harvard, onde se tornou
em 1918, foi presidente da Sociedade Sociológica Americana. professor da primeira cátedra de Sociologia desta instituição.
Complementando o pensamento de G. H. Mead, preocupava- Organizou o Departamento de Sociologia em 1930, sendo seu
se com os vínculos entre indivíduo e sociedade, destacando a chefe até 1944, quando foi substituído por Talcott Parsons.
liberdade individual, a ordem social negociada e a mudança Diferentemente da trajetória de Chicago, Sorokin impri-
social. Para ele, não há prevalência nem do indivíduo, nem miu a Harvard uma preocupação teórica, baseado em autores
do grupo na análise sociológica, há sempre um processo europeus, não levando em conta a tradição norte-americana e
interativo de influência mútua entre ambos. A distinção e desenvolvendo seus estudos sobre as teorias da dinâmica so-
complementaridade entre os grupos primários e secundá- cial e dos processos de mobilidade e mudança sociais. Ficou
rios é a marca que distingue sua contribuição com ênfase em Harvard até sua morte, em 1968.
nas relações afetivas. Em seus livros, Cooley defende a apro- Suas principais obras: Sociologia da revolução; Mobilidade
ximação sociopsicológica para a compreensão da sociedade. social; Dinâmica social e cultural; Sociedade, cultura e perso-
Preocupa-se principalmente com a determinação social do nalidade; Novas teorias sociológicas; A crise de nosso tempo (as
caráter. Daí surge sua teoria fundamental: a mente é social e três últimas publicadas no Brasil).
a sociedade, mental. Procura demonstrar que o ideal de uni- Mas o principal representante da Sociologia de Harvard
dade moral, envolvendo qualidades como lealdade, justiça e foi Talcott Parsons (1902-1979). Filho de pai pastor, graduou-se em
liberdade, é derivado da participação em grupos primários Biologia e Filosofia no Amherst College (1924), pois pretendia
onde estreitas relações são mantidas como na família, etc. se formar em Medicina. Ao se graduar, decidiu-se pelo cam-
Daí sua criação da classificação dos grupos em primários e po das Ciências Sociais, fez sua pós-graduação na Escola de
secundários. Na ausência de tal experiência moral, é provável Economia em Londres e doutorou-se na Universidade de Hei-
a ocorrência de fenômenos de desorganização social. delberg, Alemanha (1925-1927). Voltando aos Estados Unidos da
América ensinou Economia e Sociologia na Universidade de
Harvard durante 45 anos (1928-1973). Em 1944 substituiu Sorokin,
A Universidade de Harvard (localizada na cidade de Cam- no Departamento de Sociologia, em Harvard, e em 1946 trans-
bridge, no estado de Massachusetts) foi fundada em 1636, formou esse departamento num Departamento Interdiscipli-
como Harvard College, em homenagem a John Harvard, seu nar de Relações Sociais, onde procurou, como o próprio nome
principal mecenas. Só a partir de 1780 passou a se chamar indicava, uma visão mais ampla, relacionando a Sociologia a
Harvard University. outras ciências sociais.
Antes de ter um Departamento de Sociologia, em Harvard Ele buscou dar um encaminhamento mais teórico para a
desenvolveu-se uma preocupação com a industrialização Sociologia norte-americana, no mesmo sentido em que So-
crescente nos Estados Unidos da América. Esta preocupação rokin, e voltou-se para a Sociologia europeia, buscando em
foi protagonizada por Georges Elton Mayo þąąý$þĆāĆ;N`PVQ\[N.b`- Max Weber, Vilfredo Pareto e Emile Durkheim, além do eco-
a_¾YVN , que trabalhou sobre o que poderíamos chamar de germe nomista inglês Marshall, os fundamentos para produzir a sua
de uma Sociologia industrial. Mayo iniciou esta caminhada grande obra teórica, que dominará a Sociologia norte-ameri-
com uma grande pesquisa, entre 1927 e 1932, com os operá- cana desde então e que pode ser resumida nos seus dois livros
rios da empresa Western Eletric, e procurou entender a influ- mais expressivos: A estrutura da ação social (1937) e O sistema
ência das relações sociais na produtividade dos trabalhadores. social (1951). Neles desenvolveu a sua teoria da ação social, con-
2º MóduloXDisciplina 1: História da SociologiaX4ª Aula: A Sociologia nos Estados Unidos da América – EUA 47
Em 1941 Merton transferiu-se para a Universidade de Co- adventures of serendipity (“As viagens e aventuras da serendi-
lumbia, onde ficou por 38 anos, até aposentar-se. Nela procu- pidade”).
rou integrar teoria à prática sociológica. Estudou o comporta- Além de suas propostas teóricas, Merton criou, na Uni-
mento desviante e os processos de adaptação social tendo por versidade de Columbia, o Departamento de Pesquisa Social
base suas pesquisas qualitativas e quantitativas das profissões Aplicada, quando tiveram origem os primeiros grupos focais.
em ambiente de solidariedade e de conflito. Mas foi Paul Lazarsfeld o responsável pelo desenvolvimento
Teve seu nome vinculado à proposta de criação de teorias desse setor.
de alcance médio. Dizia ele que os sociólogos deveriam deixar Paul Lazarsfeld (1901-1976) nasceu em Viena, filho de um ad-
de lado as grandes teorias (criticando Parsons) e criar outras vogado socialista atuante, e cresceu em um ambiente onde
de menor alcance, pois assim estariam sendo muito mais úteis circulavam intelectuais de diferentes formações políticas e ex-
para a sociedade. Essas teorias, de médio alcance, estariam si- poentes ligados às ciências, à literatura e à música, ao teatro e
tuadas entre as hipóteses de trabalho rotineiras na pesquisa à psicanálise. Estudou na Universidade de Viena, onde defen-
e as amplas especulações abarcando um sistema conceitual deu sua tese de doutorado, em 1925, em Matemática, e após
dominante. Assim, elas estariam mediando as abstrações e ge- seu doutoramento fundou, em 1929, um instituto de pesquisa
neralizações e os fundamentos empíricos da pesquisa. para psicologia social aplicada na capital austríaca.
Merton criou uma série de conceitos utilizados pela maio- Em 1933 emigrou para os Estados Unidos da América,
ria dos sociólogos no mundo e aplicáveis nas mais diferentes onde foi diretor do Gabinete de Pesquisa Radiofônica na
áreas das ciências humanas, entre os quais podemos destacar: Universidade de Princeton, depois de receber um fundo da
função manifesta e função latente, disfunções, profecia autor- Fundação Rockfeller para pesquisar sociologia e psicologia
realizável, homofilia, heterofilia, estruturas de oportunidades, associadas à comunicação. Em 1940, o seu projeto “mudou-
socialização emancipatória, teorias de médio alcance, ambiva- se” para a Universidade Columbia, onde exerceu docência no
lência sociológica, comportamento de grupo de referência, etc. seu departamento de Sociologia até 1970. Lazarsfeld desen-
Como sociólogo da ciência, Merton, que até hoje é conside- volveu um arsenal de metodologias quantitativas, utilizando
rado como um de seus principais teóricos, desenvolve os qua- todo um instrumental estatístico que incluía índices, análises
tro imperativos institucionais de todo o cientista, como ideais multivariadas, escalas, painéis, testes, correlações, etc., voltado
que devem fundamentar os objetivos e os métodos da ciência: para o estudo do comportamento dos habitantes dos Estados
Unidos da América, envolvendo desde os meios de comuni-
Comunalismo – a propriedade comum das descobertas cação de massa, as escolhas eleitorais, as atitudes políticas até
científicas (Merton, de fato, usou o termo “comunismo”, to- os padrões de consumo. Pare ele e os seus colaboradores, tudo
davia sem ligação com o marxismo); poderia ser quantificável. Teve seus críticos dentro dos Esta-
dos Unidos da América, entre os quais Pitirim Sorokin, que
Universalismo – critérios universais de verdade (não ba- denunciou aquela época como a época da quantofrenia e da
seados em raça, classe, gênero, religião ou nacionalidade); numerologia, e também Charles Wright Mills, no capítulo O
empirismo abstrato, que integra seu livro A imaginação socio-
Desinteresse – a ação do cientista não deve ser movida lógica.
por interesse próprio; Estas três universidades – Chicago, Harvard e Columbia
– embora não tenham sido as únicas, foram as que tiveram
Ceticismo organizado – todas as ideias devem ser testa- primazia no desenvolvimento da Sociologia nos Estados Uni-
das e submetidas ao rigoroso escrutínio da comunidade. dos da América.
2º MóduloXDisciplina 1: História da SociologiaX4ª Aula: A Sociologia nos Estados Unidos da América – EUA 49
Mills transferiu-se, em 1941, para a Universidade de Ma- Ao longo do livro A imaginação sociológica, Mills buscou
ryland (College Park), onde ministrou aulas de Sociologia. fazer a defesa da “tradição clássica” das ciências sociais, ins-
Nos três anos seguintes colaborou com Hans H. Gerth em dois pirado nas maiores influências intelectuais de sua vida: os
livros: uma coletânea de textos de Max Weber, From Max We- alemães Karl Marx, Max Weber e Karl Mannheim, além dos
ber: essays in Sociology, publicado em 1946 (e que no Brasil norte-americanos William James, Thorstein Veblen e John
apareceu com o título Ensaios de Sociologia), sendo reimpres- Dewey.
so mais de 60 anos após sua publicação, e a obra Character Este livro fez com que Mills passasse a ser um autor mal-
and social structure, publicada em 1953. dito na Sociologia dos Estados Unidos da América, conside-
Em 1945, Mills mudou-se para Nova York, indo trabalhar rando seus ataques a todo o conjunto da Sociologia de seu
no Bureau of Applied Social Research, a convite de seu funda- país. Fez críticas à grande teoria de Parsons, aos empiricis-
dor e diretor, Paul Lazarsfeld. Ali, teve acesso a farto material tas, principalmente Paul Lazarsfeld, e ao pensamento buro-
empírico, trabalhou coordenando equipes de investigadores e cratizado no interior das universidades, causando escândalo
pôde adquirir habilidades em métodos e técnicas de pesquisa nos círculos acadêmicos pelo ataque contundente que fez a
quantitativa. No entanto, apesar da admiração que inicialmen- seus pares.
te sentia por Lazarsfeld, aos poucos as relações entre os dois Wright Mills sempre realizou uma apaixonada defesa da
se deterioraram, até serem rompidas, por completo, em 1952. ciência social inseparável da vida pessoal do cientista. Propôs
Paralelamente, começou a lecionar na Universidade de Co- que a intuição, a imaginação, o comprometimento com o tem-
lumbia, em 1947, nela permanecendo até sua morte, em 1962. po que se vive eram fundamentais para compreender cientifi-
Ao longo desses 15 anos, Mills foi uma figura relativamente camente a realidade social. Procurou incitar os sociólogos de
marginal no ambiente da Universidade de Columbia. As rela- seu tempo e também seus alunos a assumirem responsabili-
ções pessoais com alguns colegas foram difíceis. Como conse- dade social como agentes ativos na sociedade, desenvolvendo
quência não ministrava aulas na pós-graduação, uma situação assim suas capacidades criticas perante a sociedade em que
que lhe dava a vantagem de ter mais tempo para dedicar-se à viviam.
pesquisa e à escrita. Em dezembro de 1960 Mills sofreu um sério infarto do
À medida que aumentava o afastamento de seus pares miocárdio. Sobreviveu mais 15 meses e, em 20 de março de
acadêmicos norte-americanos, Mills buscava escrever mais e 1962, morreu em sua casa, de outro ataque cardíaco, aos 45
mais para o grande público. Além de artigos em revistas como anos de idade.
New Leader, Politics, New York Times Magazine e Dissent, es- Sua obra foi publicada em vários idiomas. No Brasil, entre
creveu “livros-panfletos” que lhe deram grande exposição na outras, podemos destacar: T
mídia americana, principalmente As causas da Terceira Guer-
ra Mundial (1958), onde discutiu a corrida nuclear, e A Revolu- t Caráter e estrutura social (1973);
ção em Cuba (1960), analisando a fase inicial da revolução cuba- t Ensaios de Sociologia (1963);
na. Este livro foi um enorme sucesso de vendas. Entretanto, ao t A nova classe média (1969);
mesmo tempo, se viu cada vez mais em “maus lençóis” com t A elite do poder (1962);
os conservadores e as autoridades americanas, chegando a re- t A imaginação sociológica (1969);
ceber ameaças de morte pela defesa que fizera da revolução t Os marxistas (1968);
cubana. t As causas da próxima guerra mundial (1961);
Conhecido principalmente por seu livro A imaginação t A verdade sobre Cuba (1961);
sociológica, publicado originalmente nos Estados Unidos da t Poder e política (1965);
América em 1959, nele Mills faz um apelo para que sociólogos t Sobre o artesanato intelectual e outros ensaios (2009).
não deixem a imaginação e a criatividade de lado, ao exerce-
rem sua profissão, em favor de uma pretensa objetividade e
neutralidade do trabalho científico. Para ele, as grandes obras ! Obs.: As datas são das publicações no Brasil
e os grandes intelectuais da História nunca abriram mão de
sua reflexividade e criatividade, além de uma postura críti-
ca perante a realidade. Uma das críticas de Mills à Sociologia Outros sociólogos dos Estados Unidos da América que bus-
era de que esta deveria ser acessível à compreensão do grande caram uma postura crítica, continuadores ou não de Wright
público. Esta sua crítica fazia parte de seu argumento maior Mills, foram: Irving L. Horowitz (1929-); Martin Nicolaus (1928-);
de que o intelectual deveria manter uma postura crítica e re- Andrew Gunder Frank (1929-) e Alvin Gouldner (1920-1980).
flexiva diante da realidade, e assim tomar parte nos debates
públicos de sua época.
2º MóduloXDisciplina 1: História da SociologiaX4ª Aula: A Sociologia nos Estados Unidos da América – EUA 51
Referências
Das obras citadas na Bibliografia geral, indicamos as se- Sobre a Escola de Chicago:
guintes leituras, entre outras, para uma melhor compreen-
são da Sociologia nos Estados Unidos da América: 2B3?.@6<#:¾_V\.%Estrutura urbana e ecologia humana%.R`P\YN`\PV\YÎTVPNQR0UV-
PNT\þĆþĂ$þĆāý %@Â\=NbY\'21B@=&2Q%Āā#þĆĆĆ%
0.@A?<# .[N :N_VN QR( 16.@# 2QZb[Q\ 3% Introdução ao pensamento sociológico'
1b_XURVZ&DROR_&:N_e&=N_`\[`%þĂ%RQ%?V\QR7N[RV_\'0R[aNb_\#ÿýýþ%H9R_=N_`\[`# D6?A5#9\bV`%<B_ON[V`Z\P\Z\:\Q\QRCVQN%In'C295<#<a¾cV\4%<_T% O fenôme-
]%ÿýĂ$ÿĂÿJ% no urbano%ā%RQ%?V\QR7N[RV_\'4bN[NON_N#þĆąĄ%
Sobre Thorstein B. Veblen. Seu principal livro, e bem conhe- LLLLL%O sistema das sociedades modernas%@Â\=NbY\'=V\[RV_N#þĆĄā%
cido no Brasil, é A teoria da classe ociosa. Possui duas edi-
ções: LLLLL% Sociologia americana' ]R_`]RPaVcN`# ]_\OYRZN`# ZÅa\Q\`% @Â\ =NbY\' 0bYa_Ve#
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0.C.962?6#:N_P\.[aÐ[V\?VON`%O surgimento do institucionalismo norte-americano'
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U¾bZNOV\T_NSVNZbVa\QRaNYUNQNQRCROYR[J% þĆĄă%
A Sociologia contemporânea
Iniciando nossa conversa As questões sociais que até então podiam estar mais lo-
calizadas em países ou blocos de países, a partir de então se
tornaram mundializadas, fazendo com que houvesse uma
A Sociologia chegou até a década de 1970 marcada por preocupação também com os novos fenômenos decorrentes
análiuses e discussões sobre temas nacionais ainda que pen- dessa nova configuração. Vários pensadores passaram a refle-
sadores já circulassem, com suas obras, ou pessoalmente, por tir sobre temas chamados de pós-modernos, hiper-modernos
vários países e continentes. ou simplesmente contemporâneos, que afetam um país, uma
O que vamos demonstrar aqui é que as últimas décadas região ou a totalidade deles.
do século XX e esta primeira década do século XXI estão Nesse sentido, pode-se dizer que há hoje uma Sociologia
marcadas por uma Sociologia internacionalizada e, com mundial com variações de matizes, dependendo do que se
poucas exceções, por posições ecléticas. Isto é, a base dessa está pesquisando, formando um conjunto de pensadores cuja
Sociologia, que chamamos de contemporânea, está confi- proposição é pensar a sociedade dos indivíduos.
gurada pelas mais variadas vertentes das ciências humanas, Mas essa Sociologia contemporânea possui ainda uma re-
não esquecendo a presença constante dos autores clássicos lação significativa com as grandes vertentes do pensamento
em todas elas. sociológico tradicional:
Reconhecer a diversidade das vertentes sociológicas e a a teórica e pragmática norte-americana em suas varia-
diversidade de autores contemporâneos. das ramificações.
54 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX
5ª Aula: A Sociologia contemporânea
em interesse próprio. Assim, o esforço pelo conhecimento não t Verdade e justificação. Ensaios filosóficos.
é inocente. Ele está constantemente à procura de vantagens. São Paulo: Loyola, 2004;
Habermas propôs também, na teoria da ação comunica- t O Ocidente dividido. Rio de Janeiro:
tiva, princípios segundo os quais as pessoas poderiam agir Tempo Brasileiro, 2006;
de forma a perseguir seus interesses sem provocar danos às t Diagnóstico do tempo. Rio de Janeiro:
outras. Na sociedade moderna, o entendimento pacífico só é Tempo brasileiro, 2005;
plausível quando os cidadãos coordenam o mais possível seus t Entre naturalismo e religião. Rio de
respectivos interesses. Janeiro: Tempo brasileiro, 2007;
Além das contribuições teóricas, Habermas participa in- t A lógica das ciências sociais.
cessantemente das discussões sobre os temas mais variados, Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
desde o debate em torno da engenharia genética, do retorno
das religiões ou das migrações na Europa, tendo se tornado Os três artigos abaixo podem dar uma boa ideia do pensa-
um dos pensadores mais conhecidos e respeitados da Alema- mento de Jürgen Habermas: T
nha.
Obras publicadas no Brasil: T t RUDIGER, Francisco. A escola de
Frankfurt: Jürgen Habermas.
t A crise de legitimação do capitalismo tardio. Link: )Uaa]'&&ddd%_\OR_aRea\%P\Z&N_PUVc\þā&S_N[XSb_aL]a%UaZ+%
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1980;
t Conhecimento e interesse: com um novo Neste pequeno texto você pode encontrar um resumo das
pósfacio: Rio de Janeiro: Zahar, 1982; principais ideias de Habermas. T
t Para a reconstrução do materialismo
histórico. São Paulo: Brasiliense, 1983; t GONÇALVES, Maria Augusta Salin. Teoria da ação
t Dialética e hermenêutica – Para a crítica da comunicativa de Habermas: possibilidades de uma
hermenêutica de Gadamer. Porto Alegre: L&PM, 1987; ação educativa de cunho interdisciplinar na escola.
t Consciência moral e agir comunicativo. Rio Link: )Uaa]'&&ddd%`PVRY\%O_&]QS&R`&cÿý[ăă&cÿý[ăăNă%]QS+%
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989;
t Pensamento pós-metafísico. Estudo Filosófico. t DELUIZ, Neise. Formação do sujeito e a
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1990; questão democrática em Habermas.
t Passado como futuro. Rio de Janeiro: Link: )Uaa]'&&ddd%V[S\NZR_VPN%\_T&Q\PbZR[a\`L]QS&
Tempo Brasileiro, 1993; UNOR_ZN`ýĀ%]QS+%
t Direito e democracia: entre facticidade e validade.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. v. 1-2;
t Direito e democracia: entre facticidade e validade Pierre /\b_QVRb (1930-2002)
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 1997. v. 2-2;
t Discurso filosófico da modernidade. Nascido numa família camponesa, ingressou na Faculda-
São Paulo: Martins Fontes, 2000; de de Letras, em Paris, na Escola Normal Superior em 1951.
t A constelação pós-nacional. São Em 1954 graduou-se em Filosofia, assumindo a função de
Paulo: Littera Mundi, 2001; professor em Moulins. Enviado à Argélia para prestar serviço
t Agir comunicativo e razão destranscendentalizada. militar, assumiu em 1958 o cargo de professor assistente na
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002; Faculdade de Letras, em Argel, momento que aproveita para
t Crise de legitimação no capitalismo tardio. fazer sua pesquisa sobre a sociedade cabila no contexto da co-
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002; lonização francesa e como ocorreu sua interferência na estru-
t Era das transições. Rio de Janeiro: tura daquela sociedade.
Tempo Brasileiro, 2003; Em 1960 tornou-se assistente de Raymond Aron, na Facul-
t Mudança estrutural na esfera pública. Rio dade de Letras de Paris, e iniciou uma carreira acadêmica e
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003; uma vasta obra que constituem uma significativa contribuição
t O Futuro da natureza humana. A caminho da para a formação do pensamento sociológico contemporâneo.
eugenia liberal?. São Paulo: Martins Fontes, 2004; A partir de então, paralelamente, desenvolveu sua atividade
t A Ética da discussão e a questão da verdade. docente em importantes instituições, como as universidades
São Paulo: Martins Fontes, 2004; de Harvard e Chicago e o Instituto Max Plank, de Berlim.
t A Inclusão do outro: estudos de teoria Sua obra alcança as mais variadas áreas do conhecimento
política. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2004; humano, abrangendo temas como educação, cultura, literatu-
56 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX
5ª Aula: A Sociologia contemporânea
professor de Sociologia em Cambridge e Diretor da presti- Os artigos abaixo podem ajudá-lo a entender um pouco
giosa London School of Economics and Political Science (LSE), mais as ideias de Giddens: T
entre 1997 e 2003.
As suas ideias influenciaram enormemente a teoria social t ASENSI, Felipe Dutra. Teoria da
e o ensino da Sociologia em todo o mundo, e sua obra abarca estruturação e ação coletiva: uma exegese
diversas temáticas: história do pensamento social, estrutura sobre a obra de Anthony Giddens.
de classes, elites e poder, nações, nacionalismos e globalização, Link: )Uaa]'&&O_%Z\[\T_NSVN`%P\Z&a_NONYU\`ĆþĂ&aR\_VN$NPN\$
identidade pessoal e social, família, relações e sexualidade. P\YRaVcN&aR\_VN$NPN\$P\YRaVcN%`UaZY+%
Seu interesse amplo passa pela discussão das perspec-
tivas sociológicas clássicas e pela reformulação da teoria t SILVA, Antonio Ozaí da. Anotações sobre a
social contemporânea, reexaminando a compreensão do de- modernidade na obra de Anthony Giddens.
senvolvimento e da modernidade. Na busca em entender a Link: )Uaa]'&&ddd%R`]NP\NPNQRZVP\%P\Z%O_&ýāĄ&āĄ]\Y%UaZ+%
sociedade contemporânea, Giddens desenvolveu a teoria da
estruturação.
Politicamente defendeu uma revisão da social democracia Zygmunt /NbZN[[ (1925- )
europeia, e foi um dos formuladores da Teoria da terceira via.
Livros publicados no Brasil: T Nasceu em Poznan, na Polônia, em 1925. Estudou Sociolo-
gia na Universidade de Varsóvia, onde se torna professor entre
t Novas regras do método sociológico. Uma 1954 e 1968, quando é demitido, por duas razões: primeiro
crítica positiva das sociologias compreensivas. por ser de origem judaica (no contexto de uma depuração an-
Rio de Janeiro: Zahar, 1978; tissemita) e, segundo, por ser contra o governo pró-soviético
t Modernidade reflexiva: trabalho e estética na implantado na Polônia. Assim, logo migrou para Israel para
ordem social moderna. São Paulo: Editora da lecionar na Universidade de Tel-Aviv. Continuou sua andança
Unesp, 1997 (com Ulrich Beck e Scott Lash); por vários países, lecionando no Canadá e na Austrália até se
t Política, sociologia e teoria social: encontros com fixar na Universidade de Leeds, na Inglaterra, em 1971, como
o pensamento social clássico e contemporâneo. professor de Sociologia. Ficou nessa instituição por 20 anos,
São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1998; e hoje é professor emérito tanto da Universidade de Leeds
t A terceira via: reflexões sobre o impasse quanto da de Varsóvia. Sua preocupação é estudar e entender
político atual e o futuro da social- a sociedade contemporânea em seus múltiplos aspectos, em
democracia. São Paulo: Record, 2001; especial as novas formas de sociabilidade.
t A terceira via e seus críticos. Rio Seus principais livros publicados no Brasil: T
de Janeiro: Record, 2001;
t Teoria social hoje. São Paulo: Editora da Unesp, t Por uma sociologia crítica: um ensaio sobre senso
1999 (Organização com Jonathan Turner) comum e emancipação. Rio de Janeiro: Zahar, 1976;
t A constituição da sociedade. 2. ed. São t Modernidade e holocausto. Rio de Janeiro: Zahar, 1989;
Paulo: Martins Fontes, 2003; t Modernidade e ambivalência. Rio
t As consequências da modernidade. São de Janeiro: Zahar,1991;
Paulo: Editora da Unesp, 1991; t Ética pós-moderna. São Paulo: Paulus, 1993;
t Em defesa da sociologia. São Paulo: t O mal-estar da pós-modernidade.
Editora da Unesp, 2001; Rio de Janeiro: Zahar, 1997;
t Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2002; t Globalização: as consequências humanas.
t A transformação da intimidade. Amor & Rio de Janeiro: Zahar, 1998;
erotismo nas sociedades modernas. 2. ed. t Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 1998;
São Paulo: Editora da Unesp, 1993; t Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2000;
t Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005; t Comunidade: a busca por segurança no
t Para além da esquerda e da direita. São mundo atual. Rio de Janeiro: Zahar, 2000;
Paulo: Editora da Unesp, 1996; t A sociedade individualizada. Rio
t Mundo em descontrole. Rio de Janeiro: Record, 2001; de Janeiro: Zahar, 2001;
t No limite da racionalidade. Rio t Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços
de Janeiro: Record, 2004; humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003;
t Estado-Nação e a violência. São Paulo: EDUSP, 2001. t Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Zahar, 2004;
58 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX
5ª Aula: A Sociologia contemporânea
Talvez o único livro que trata de Sugestão de livro sobre Goffman terá sido aquele que fez com que a sociologia desco-
Norbert Elias: T brisse o infinitamente pequeno: aquilo mesmo que os teóricos
sem objeto e os observadores sem conceitos não sabiam perce-
t BRANDÃO, Carlos da Fonseca. Norbert Elias: ber e que permanecia ignorado, porque muito evidente, como
formação, educação e emoções no processo tudo que é óbvio. [...] Através dos indícios mais sutis e mais
de civilização. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. fugazes das interações sociais, ele capta a lógica do trabalho de
representação; quer dizer, o conjunto das estratégias através das
quais os sujeitos sociais esforçam-se para construir sua identida-
Erving Goffman (1922-1982) de, moldar sua imagem social, em suma, se produzir: os sujeitos
sociais são também atores que se exibem e que, em um esforço
Erving Goffman nasceu em Manville, Alberta, no Canadá, mais ou menos constante de encenação, visam a se distinguir, a
em 11 de junho de 1922, e faleceu em Filadélfia, no Estado dar a “melhor impressão”, a se mostrar e a se valorizar.
da Pensilvânia, nos Estados Unidos da América, no dia 19 de
novembro de 1982. Obteve o grau de bacharel pela Universi- Édison Gastaldo oferece-nos uma significativa ideia do au-
dade de Toronto em 1945, tendo realizado seu mestrado (1949) tor no livro que organizou sobre E. Goffman. Eis um excerto
e doutorado (1953) na Universidade de Chicago, onde estudou de sua apresentação:
Sociologia e Antropologia Social. Em 1958 passou a integrar o
corpo docente da Universidade da Califórnia, onde foi promo- O trabalho de Goffman trouxe à luz aspectos da vida cotidiana
vido a Professor Titular em 1962. Ingressou na Universidade que não se julgavam “sociologicamente relevantes”. Seus insi-
da Pensilvânia em 1968, onde lecionou Antropologia e Socio- ghts sobre as interações ordinárias, sobre o deslocamento dos
logia. Foi presidente da Sociedade Americana de Sociologia pedestres, sobre a ocupação social dos espaços públicos, sobre
entre 1981 e 1982. a atuação dos vigaristas, mendigos, loucos, espiões, jogadores e
Goffman fez pesquisas na linha da sociologia interpreta- de todos aqueles que passam cotidianamente debaixo de nossos
tiva e cultural, iniciada por Max Weber. O traço que mais e narizes sem que prestemos atenção modificaram o pensar socio-
melhor identifica a sua obra e seu pensamento está na com- lógico no mundo. Sua descrição etnográfica de um hospital para
preensão de que o mundo é um teatro e que cada um de nós, doentes mentais colaborou decisivamente para deflagrar a luta
individualmente ou em grupo, teatraliza ou é ator consoante antimanicomial no mundo inteiro. Vinte e dois anos depois de
as circunstâncias em que nos encontremos marcados por ri- sua morte, os temas e os conceitos desenvolvidos por Goffman
tuais e posições distintivas relativamente a outros indivíduos ainda estão em pleno uso e vitalidade.
ou grupos. Goffman aplicou ao estudo da civilização moderna 4.@A.91<#ºQV`\[<_T% 2_cV[T4\SSZN[%1R`O_NcNQ\_Q\P\aVQVN[\%=\_a\.YRT_R'A\Z\2Q#
os mesmos métodos de observação da antropologia cultural. ÿýýā%]%Ć
Para ele, as ritualizações permitem distinguir indivíduos, gru-
pos e classes, o que é tomado, por exemplo, a partir de detalhes Goffman pode ser considerado como um G. Simmel, dos
que estão nas formas de nos vestirmos ou de nos apresentar- Estados Unidos da América e as suas três obras mais impor-
mos publicamente. tantes se tornaram verdadeiros best-sellers. No Brasil foram
Goffman considerou a interação como um processo fun- publicadas com os seguintes títulos: T
damental de identificação e de diferenciação dos indivíduos e
grupos que não existem isoladamente e procuram posição de t Manicômios, prisões e conventos. São
diferença pela afirmação, na medida em que, justamente, são Paulo: Perspectiva, 1974;
“valorizados” pelos outros. Analisou a interação social no co- t A representação do eu na vida cotidiana.
tidiano, especialmente em lugares públicos e os estigmas que Petrópolis, RJ: Vozes, 1975;
marcam negativamente nossos aspectos corporais, raciais, ou t Estigma: notas sobre a manipulação da identidade
mesmo nossas paixões tirânicas. deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988.
Para Goffman, o desempenho dos papéis sociais tem a ver
com o modo como cada indivíduo concebe a sua imagem e a Os dois artigos abaixo permitem um melhor entendimen-
pretende manter. Estudou com especial atenção o que chama- to do pensamento de Goffman: T
va de “instituições totais”, lugares onde o indivíduo está isola-
do da sociedade, tendo todas as suas atividades concentradas t GASTALDO, Édison. Goffman e as
e normalizadas como ocorrem nas prisões e manicômios. relações de poder na vida cotidiana.
Pierre Bourdieu, no obituário de E. Goffman, publicado Link: )Uaa]'&&ddd%`PVRY\%O_&`PVRY\%]U],]VQ*@ýþýÿ$
num jornal francês em dezembro de 1982, escreve: ăĆýĆÿýýąýýýĀýýýþĀ`P_V]a*`PVLN_aaRea+%
60 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX
5ª Aula: A Sociologia contemporânea
Conhecendo mais sobre Link: )Uaa]'&&ddd%_RcV`]`V%bR_W%O_&cĆ[ÿ&N_aVT\`&]QS&cĆ[ÿNýĆ%
]QS+%
t LOPES, Felipe Tavares Paes. Bourdieu e 1 Escolha um dos autores (J. Habermas, P. Bourdieu, Z. Bau-
Goffman: um ensaio sobre os pontos comuns man, E. Goffman ou N. Elias) acima indicados e, após ler
e as fissuras que unem e separam ambos os os artigos ou entrevistas que elucidam o que pensam, pro-
autores a partir da perspectiva do primeiro. cure dissertar como as ideias deles poderiam ser utilizadas
em suas aulas de Sociologia no Ensino Médio.
Das obras citadas na Bibliografia geral, indicamos as se- =6;A<#9\bV`%Pierre Bourdieu e a teoria do mundo social%?V\QR7N[RV_\'2QVa\_N34C#
guintes leituras, entre outras, para melhor compreender a ÿýýý%
Sociologia contemporânea:
D.0>B.;A#9\VP%O mistério do ministério%=VR__R/\b_QVRbRN]\YÉaVPNQRZ\P_¾aVPN%
0B6;# 0UN_YR`$5R[_f( 4?2@92# 3_N[Ä\V`% História da sociologia% 9V`O\N' 1\Z >bVe\aR# ?V\QR7N[RV_\'?RcN[#ÿýýĂ%
þĆĆĂ%H9R_N`]N_aR`/66O tempo das ambiçõesþĆāĂ$þĆăą R/666Uma explosão de
paradigmasþĆăą$þĆĆý J% Livros sobre Norbert Elias:
62 2º MóduloX
Disciplina 1: História da SociologiaX
5ª Aula: A Sociologia contemporânea
6 aula
A Sociologia no Brasil
Iniciando nossa conversa 1925 é que a disciplina retornou ao Ensino Médio através da
Reforma de Rocha Vaz, com os mesmos objetivos da Reforma
de Benjamin Constant. Em decorrência desta, o Colégio Pe-
A Sociologia no Brasil desenvolveu-se, desde seus primór- dro II, em 1925, implantou o ensino regular da Sociologia em
dios, influenciada por diversos pensadores aqui relacionados seu currículo. Em 1928 ela foi introduzida nos Estados de São
e analisados, sendo que, dependendo de cada período, alguns Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco.
estiveram mais presentes que outros. Com o tempo nossos Em 1931, outra reforma, agora a de Francisco Campos, já
pensadores foram realizando análises que poderíamos dizer no contexto do governo de Getúlio Vargas, introduziu a Socio-
que passaram a ter um caráter propriamente nacional. logia nos cursos preparatórios e cursos superiores nas facul-
Nos limites desta aula vamos considerar o desenvolvimen- dades de Direito, Ciências Médicas e Engenharia e Arquitetu-
to da Sociologia no Brasil a partir da década de 1920. ra, além de mantê-la nos Cursos Normais (que eram os cursos
de formação de professores).
Desde 1925, podem-se destacar alguns intelectuais que de-
ram sua contribuição, lecionando e escrevendo livros (manu-
Propondo objetivos ais) de Sociologia: Fernando de Azevedo, Gilberto Freyre, Car-
neiro Leão e Delgado de Carvalho. Eram manuais que tinham
por objetivo preparar intelectualmente os jovens das elites
Ao final desta aula o(a) cursista deverá: dirigentes, aprimorando o conhecimento dos que chegavam
às escolas médias. Estes autores, em sua maioria, tinham uma
Analisar e distinguir os pressupostos históricos e inte- forte influência da Sociologia que se fazia na Europa e nos Es-
lectuais presentes no desenvolvimento da Sociologia no tados Unidos da América.
Brasil em seus diferentes momentos. Esse processo envolvendo a presença da Sociologia no En-
sino Médio cessou quando a disciplina foi retirada dos cur-
Reconhecer os diversos pensadores e suas divergências. rículos oficiais no início da década de 1940, decorrente da
Reforma Capanema, no contexto do Estado Novo. Depois, sua
presença passou a ser episódica e intermitente, e a partir da
década de 1980 apareceu em vários estados brasileiros, sendo
Conhecendo sobre que nacionalmente e mais consistente isso só veio a ocorrer
mais recentemente, no início do século XXI.
Ao largo desse movimento no Ensino Médio, no ensino
A Sociologia no Brasil superior foram criados os cursos de Ciências Sociais. Em
1933 surgiu a Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP),
Como na França de Émile Durkheim, os primeiros passos em São Paulo, com o objetivo de formar técnicos, assessores
da Sociologia no Brasil, em termos institucionais, foram da- e consultores capazes de produzir conhecimento científico
dos visando à presença da disciplina no Ensino Médio. A pri- sobre a realidade brasileira. Havia a necessidade de aliar o co-
meira tentativa começou com a reforma educacional de 1891, nhecimento sociológico à tomada de decisões no interior do
de Benjamin Constant, que teve lugar após a proclamação da aparato estatal/governamental federal, estadual e municipal.
República e que defendia o ensino laico em todos os níveis, Posteriormente, em 1939, com a presença de Donald Pierson,
e cujo objetivo era a formação intelectual dos jovens fora do sociólogo norte-americano, é que se deu ênfase à pesquisa
contexto religioso até então predominante. Sem nunca ter empírica.
sido incluída nos currículos escolares, a Sociologia foi elimi- A seguir, com a criação da Universidade de São Paulo (USP)
nada pela Reforma Epitácio Pessoa, em 1901, e somente em e da Universidade do Distrito Federal (UDF), no Rio de Janei-
Os artigos abaixo apresentam aspectos da obra de Gilberto t MAIO, Marcos Chor. O projeto Unesco e a agenda
Freyre: das ciências sociais no Brasil dos anos 40 e 50.
Link: )Uaa]'&&ddd%`PVRY\%O_&`PVRY\%]U],]VQ*@ýþýÿ$
ăĆýĆþĆĆĆýýýĀýýýýĆ`P_V]a*`PVLN_aaRea+%
Um dos momentos importantes foi quando a Unesco es- t Ainda sobre a presença do marxismo no
colheu o Brasil para desenvolver um projeto sobre a questão Brasil indicamos consulta à Biblioteca Virtual
racial. Isso pode ser conhecido com mais propriedade através de História do Marxismo no Brasil.
da bibliografia referenciada a seguir: Link: )Uaa]'&&ddd%SNSVPU%bSZT%O_&ZN_eV`Z\&V[VPV\%UaZ+%
H`VaRRZP\[`a_bÄÂ\J
A sociologia no Brasil que teve um começo profundamen- 2 Leia os dois textos abaixo, envolvendo a polêmica entre
te marcada pelas influências européias, fundamentalmente Florestan Fernandes e A. Guerreiro Ramos, e analise como
francesas e alemãs, pouco a pouco foi integrando também a deve ser a posição do professor de Sociologia no Ensino
influência da sociologia desenvolvida nos EUA. Deste modo Médio levando em conta as duas posições assumidas en-
foi mesclando diferentes tradições e inventando seu próprio tão, mas que ainda estão presentes no imaginário dos pro-
caminho. Pode se afirmar que a partir das décadas de 1940- fessores. T
1950 a sociologia no Brasil começa a dar seus primeiros pas-
sos na construção de uma sociologia com temas e debates t MALTA, Márcio; KRONEMBERGER, Thaís
nacionais baseada em análises e autores que procuraram res- Soares. Nem melhor nem pior, apenas
ponder às questões que a própria sociedade brasileira exigia. divergentes: uma contribuição acerca da
Ainda que muitas vezes dialogando com interpretações de sociologia brasileira e da polêmica entre
autores estrangeiros desenvolveu-se uma sociologia vigorosa Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos.
e com uma diversidade de temas e enfoques significativa. Link: )Uaa]'&&ddd%NPURTN`%[Ra&[bZR_\&āÿ&ZN_PV\LaUNV`Lāÿ%
]QS+%
Juventude e Sociologia
Iniciando nossa conversa lhadores, em 1866, fez uma classificação etária em relação ao
trabalho e à educação de crianças e jovens.
Este livro tem por objetivo analisar os vários fenômenos sociais t Os reflexos da contracultura no Brasil: debates
conhecidos como grupos etários, movimentos juvenis etc., e ave- sobre produção musical (1967-1972).
riguar se é possível especificar as condições sociais sob as quais Link: )Uaa]'&&ddd%N_aVT\[NY%P\Z&Zb`VPN$N_aVT\`&\`$_RSYRe\`$
surgem, ou os tipos de sociedades nas quais ocorrem. A tese QN$P\[a_NPbYab_N$[\$O_N`VY$QRONaR`$`\O_R$]_\QbPN\$
principal deste livro é que a existência destes grupos não é for- Zb`VPNY$þĆăĄ$þĆĄÿ$ąĆăÿāā%UaZY+%
tuita nem casual e que surgem e existem somente sob condições
sociais muito específicas. Tentamos também demonstrar que a A vasta bibliografia produzida até então tratou a juventude
análise destas condições não tem apenas um interesse etnoló- como uma força nova que poderia mudar a sociedade. As re-
gico ou de antiquário, mas que pode possibilitar a compreensão voltas estudantis de 1968 (mais conhecidas como de Maio de
das condições de estabilidade e continuidade dos sistemas so- 1968) e o grande evento musical realizado em Woodstock, nos
ciais. Estados Unidos da América, em 1969, podem ser considera-
26@2;@A.1A#@%;%De geração a geração%@Â\=NbY\'=R_`]RPaVcN#þĆĄă%]%E6 dos representativos desse momento, e até hoje são emblemáti-
cos, sempre citados e rediscutidos.
Assim, a partir da década de 1960, com a emergência de Dois filmes que retratam alguns aspectos desse momen-
vários movimentos de jovens, em várias partes do mundo, to: T
pode-se perceber uma guinada nos estudos sobre juventude,
quando a questão passa a exprimir nas noções de contracultu- t 4FN%FTUJOP (Easy Rider).
ra, movimento hippie e revoltas estudantis, num contexto em Dir.: Dennis Hopper. Columbia Pictures (EUA, 1969).
que a cultura de massas, em especial a chamada música jovem Trata-se de um retrato bem realizado da contracultura
traduzida pelo rock e mais recente pela cultura do funk e pelo dos anos 60, do movimento beat (uma lembrança e refe-
hip-hop, desempenha papel de destaque. rência do seu herói Jack Kerouac e seu livro On the road)
Sobre o movimento de contracultura, é importante enten- e do papel das drogas naquele momento. O filme conta a
der o contexto em que ela aconteceu nos Estados Unidos da história de dois motociclistas que saem pelas estradas para
América e também no Brasil. No Brasil, a versão da contracul- encontrar a liberdade pessoal. A música “Born to be Wild”
tura veio vestida com as roupas coloridas do Tropicalismo, um virou um hino daquela geração. Uma pequena resenha do
movimento de caráter cultural que participou dessa “onda in- filme pode ser encontrada em
ternacional” que nasceu nos Estados Unidos da América e que Link: )Uaa]'&&ddd%RQVa\_N`%P\Z&_\PP\&ýÿÿÿąÿ%UaZ+%
entre nós recuperou discussões antropofágicas propostas pelo
poeta Oswald de Andrade e pelo movimento modernista de t )BJS (Hair).
1922. Com expressões que envolviam o cinema, em especial o Dir. Miles Forman. Fox Films (EUA, 1979).
cinema de Glauber Rocha, o teatro, em especial o Teatro Ofici- Musical que retrata um momento da vida de Claude
na de José Celso Martinez Corrêa, a artes plásticas, traduzidas (John Savage), um jovem do Oklahoma que foi recrutado
na obra de Hélio Oiticica, e especialmente a produção musical para a guerra do Vietnã. Indo para Nova York, ele foi “ado-
envolvendo muitos nomes e que teve sua expressão mais po- tado” por um grupo de hippies comandados por Berger
pular nas vozes e canções de Caetano Veloso e Gilbert Gil, o (Treat Williams), que tenta convencê-lo dos absurdos da
Tropicalismo assumiu os canais de comunicação de massas e atual sociedade, e que manifestam conceitos nada conven-
traduziu com vigor esse momento especial da contracultura cionais sobre o comportamento social. Claude também se
brasileira, contrariando tanto os interesses e a moral conser- apaixona por Sheila (Beverly D’Angelo), uma jovem pro-
vadora do militares e das famílias brasileiras de classe média veniente de uma rica família, o que engrossa o conflito da
quanto os ideais da tradicional cultura da esquerda brasileira história. O filme foi feito quando a guerra do Vietnã já ha-
que ainda respirava os valores nacionalistas dos centros po- via acabado e os hippies já estavam segregados em vários
pulares de cultura (os CPCs). Seus líderes foram perseguidos, grupelhos ao redor do mundo. Mesmo assim é um belo
tendo que se exilar, mas a verdade é que o panorama da cultu- retrato cinematográfico e musical da geração do final dos
ra no Brasil nunca mais foi o mesmo.
t ,JET(Kids). t $BNBEF(BUP.
Dir.: Larry Clark. Excalibur Films e outros (EUA, 1995). Dir.: Alexandre Stockler. Prodígio Filme (Brasil, 2002)
Nova York serve de cenário para mostrar o conturbado Retrata a juventude paulistana de classe média, tendo
mundo dos adolescentes que, indiscriminadamente, con- como temática a relação entre violência, baladas e sexu-
somem drogas e quase nunca praticam sexo seguro. Um alidade.
garoto, que deseja só transar com virgens, e uma jovem, Link: )Uaa]'&&dddþ%S\YUN%b\Y%P\Z%O_&S\YUN&_RbaR_`&
que só teve um parceiro, mas é HIV soropositivo, servem bYaþþÿbÿĀăĀĆ%`UaZY+%
de base para tramas paralelas, que mostram como um ado-
lescente pode prejudicar seriamente sua vida se não esti-
ver bem orientado.
Conhecendo mais sobre
t Trainspotting– Sem Limites(Trainspotting).
Dir.: Danny Boyle. Channel Four e
outros (Inglaterra, 1996 ). a Para se conhecer mais sobre o que K. Marx e F. Engels es-
Num subúrbio de Edimburgo, quatro jovens sem pers- creveram sobre a infância, a juventude e a educação, é funda-
pectivas mergulham no submundo para manter seu vício mental a leitura do seguinte trabalho T
autodestrutivo em heroína. Um dos filmes mais cultuados
dos últimos anos, graças à originalidade e vitalidade do t NOGUEIRA, Maria Alice. Educação, saber, produção
diretor Danny Boyle e do elenco encabeçado por Ewan em Marx e Engels. São Paulo: Cortez, 1990.
McGregor.
b Para uma análise mais específica da contribuição de Karl
t 1JYPUF A lei do mais fraco. Mannheim, conferir o trabalho T
Dir.: Hector Babenco. Embrafilme,
HB Filmes (Brasil, 1981). t WELLER, Wivian. Karl Mannheim: um
Neste filme, o diretor construiu um dos mais cruéis re- pioneiro da sociologia da juventude.
tratos da realidade das ruas de São Paulo, onde crianças Link: )Uaa]'&&ddd%`O`\PV\Y\TVN%P\Z%O_&P\[T_R``\L
têm sua inocência retirada ao entrarem em contato com cýÿ&]N]R_`&4Aÿăćÿý@\PV\Y\TVNćÿýQNćÿý
um mundo de crimes, prostituição e violência. 6[Sć0Āć.ÿ[PVNćÿýRćÿý7bcR[abQR&4AÿăL@/@ÿýýĄL
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! Obs.: O ator Fernando Ramos da Silva, que interpreta ÿĀ[\c%ÿýýĆ%
o personagem-título, tempo depois do êxito do filme voltou à
sua vida de sempre, vivendo num ambiente de total miséria. Sobre juventude, ensino e escola:
Chegou a tentar seguir a carreira de ator, porém não conse-
guiu (foi demitido) por ser incapaz de decorar os textos, já t DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes?
que era semianalfabeto. Devido à influência dos irmãos, re- Reflexões em torno da socialização juvenil.
tornou à criminalidade, sendo assassinado por policiais em Link: )Uaa]'&&ddd%`PVRY\%O_&]QS&R`&cÿą[þýý&Nÿÿÿąþýý%]QS+%
1987. Tema explorado em outro filme: Quem matou Pixote? .PR``\RZ'ĂQRg%ÿýýĆ%
Brasil – 1996 – Dir. José Joffily.
O sr. não considera que as crianças de hoje estariam agindo como os Por exemplo?
adolescentes de ontem? Acredita que os adolescentes percebam isso? Fiquei impressionado com o aumento do número de casos de
Percebem, inconscientemente. É por isso que, ainda que incons- anorexia na Europa. Meninas, crianças que, obcecadas pela ideia
cientemente, eles buscam dar à sua cultura um caráter perma- de ficarem magras como as modelos, deixam de comer numa
nente. Os adolescentes querem ser desassociados da ideia de que fase importante do crescimento. É um exemplo de como as trans-
estão numa fase passageira e indefinida. formações sociológicas interferem nas fisiológicas e vice-versa.
O sr. não concorda que os adolescentes estejam mais integrados O sr. acha que a mudança na postura e no papel do adolescente
à ordem capitalista por serem mais flexíveis e voláteis, como é a nestes tempos está propiciando transformações nas outras fases da
própria sociedade capitalista? vida humana também?
Não. Acho que a adolescência busca uma identidade sólida den- Sim, a natureza do crescimento humano está mudando e o que
tro das transformações ocasionadas pelo processo de globaliza- temos é a liberalização dos dogmas que regram cada fase do
ção. As transformações que aconteciam com um indivíduo na crescimento humano. Acho que a transformação da velhice terá
adolescência foram transferidas para a infância. A exposição à grandes consequências na forma como a sociedade se estrutura.
mídia, as mudanças físicas, as primeiras questões sobre sexo, Antes, a doença e a morte vinham mais cedo. Hoje se faz mui-
o desenvolvimento da relação com o corpo acontecem hoje na to mais coisas na última fase da vida. Temos idosos entrando e
infância. Assim, quando adolescente, o indivíduo já não tem o saindo de relacionamentos, dirigindo, indo a bares. Enfim, temos
mesmo tipo de dúvida que tinha no passado. mais idosos – e idosos ainda mais idosos do que antes – ativos.
A indústria do entretenimento, que hoje focaliza o adolescente,
Com que o sr. acha que eles estão preocupados hoje? deve descobrir isso em breve, pois o potencial consumidor desse
É um fato curioso, mas os adolescentes de hoje, diferentemente grupo está crescendo.
dos gerados pela contracultura, estão menos preocupados com
política e luta de classes e mais interessados em questões como 1V`]\[ÉcRYRZ')Uaa]'&&dddþ%S\YUN%b\Y%P\Z%O_&S`]&ZNV`&S`ýÿýþÿýýýÿą%UaZ+ %
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