Teologia

Introdução à
Teologia
Sergio de Goes Barboza
Phoenix Maria Finardi Martins
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Barboza, Sérgio de Goes
B239i Introdução à teologia / Sérgio de Goes Barboza, Phoenix Maria Finardi
Martins. - Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020.
176 p.
ISBN 978-85-522-1680-3
1. Teologia. 2. Igreja. 3. Cristianismo. I. Martins, Phoenix

Maria Finardi. III. Título.
CDD 230
Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
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Sumário
Unidade 1
A teologia como saber sistematizado da experiência cristã�� 7
Seção 1
A teologia como ciência�� 9
Seção 2
A relação entre fé e a razão��22
Seção 3
A igreja e a sociedade��34
Unidade 2
A natureza e função da teologia��53
Seção 1
Teologia Natural��55
Seção 2
Teologia Revelada��68
Seção 3
A função da teologia��80
Unidade 3
A existência de Deus e seus atributos��96
Seção 1
A natureza trinitária de Deus��98
Seção 2
Criação e providência�� 108
Seção 3
História do Cristianismo�� 121
Unidade 4
Criador e criatura �� 136
Seção 1
As criaturas e os filhos de Deus�� 139
Seção 2
Os anjos e o homem�� 148
Seção 3
A natureza humana segundo a bíblia�� 159
Palavras do autor
A
teologia é uma ciência ou estudo sobre a existência de Deus, das
questões referentes ao conhecimento da divindade, assim como de
sua relação com o mundo e com os homens. Ela faz parte de uma área
conhecida como Ciências Humanas e preocupa-se em buscar os conheci-
mentos históricos e práticos, tendo como objetivo a capacidade de estratégias,
identificação e interpretação de problemas contemporâneos relacionados às
categorias temáticas, tais como teologia e ciência, fé e razão, teologia natural
e revelada, etc. Portanto, em nosso estudo, o foco principal é a pesquisa e a
reflexão sobre temas da área teológica, assim como mostrar os contrapontos
existentes, caracterizando, assim, uma introdução à teologia. Nesse sentido,
não temos a pretensão de trabalhar a questão do que é certo ou errado, mas
sim trazer à luz do conhecimento temas que perfazem a essência dessa área
e propor uma reflexão sobre a importância de cada categoria, sendo elas
antagônicas ou não.
Embora a teologia se limite ao cristianismo, considerando seu sentido
amplo, ela aplica-se também a qualquer religião. Porém, mais do que compre-
ender as diferentes práticas religiosas, rompendo-se, assim, a lógica carte-
siana, o propósito é mostrar os seus efeitos e a interferência desses efeitos
no desenvolvimento da sociedade, assim como a importância desse conheci-
mento para o exercício prático dessa função.
Esperamos que você entenda a importância da teologia como uma nova
possibilidade para a sua formação, capacitação e atualização como agente
religioso para atuação profissional em diferentes contextos. É fundamental
que, independentemente de crença, você utilize dessa linguagem para o
conhecimento histórico e epistemológico. Tenha um excelente estudo!
Unidade 1
A teologia como saber sistematizado da

experiência cristã
Convite ao estudo
Esta unidade está organizada em três seções, as quais são importantes
para a compreensão teórico-científica da teologia de forma contextualizada.
Na primeira seção, iniciaremos a discussão da teologia como ciência,
caracterizando-a como uma ciência singular. Um teólogo cientista precisa
ter confiança ou fé em sua obra para sistematizar os meios necessários para
se obter conhecimento. Nesse sentido, a pergunta que se faz é: quanto ao
método, há dados para sistematizar esses meios necessários? Buscaremos,
então, compreender o seu objeto de estudo, o método e consequentemente
a sua divisão. Uma vez conhecendo a estrutura teológica, vamos analisar
posteriormente como a religião influenciou culturas e sociedades, sob pontos
de vistas e contextos históricos.
Já na segunda seção vamos analisar os contrapontos quanto à relação
entre a fé e a razão na Bíblia, considerando-as como duas ferramentas impor-
tantes para a vida. Vamos verificar e sintetizar historicamente a fé e a razão
no pensamento medieval; Idade Média – reformas religiosas e a fé e a ciência
nos dias atuais. Portanto, neste estudo vamos pensar um pouco mais sobre fé
e razão, refletindo a hipótese de que ambas são compatíveis.
Na terceira seção, utilizaremos da teologia contextual para vermos os
princípios bíblicos para além de seu contexto cultural, os desafios atrelados a
igreja de hoje e a reflexão sobre o papel da igreja na sociedade.
Nesse sentido, você, ao refletir sobre a teologia como ciência, desen-
volverá a capacidade de relacionar as várias temáticas da área teológica
e compreender como se dá a relação entre a ciência e a religião, perceber
a possível harmonia entre a fé e a razão e estar apto a analisar o contexto
sócio-cultural-religioso.
Para desenvolver o estudo das temáticas mencionadas anteriormente,
elaboramos um contexto fictício. Num reencontro de amigos, a discussão
sobre ciências e teologia deixou uma pergunta a ser respondida. Pedro está
concluindo o curso de Filosofia e afirma, categoricamente, que ciência e
teologia são apenas esforços humanos na busca do conhecimento e que a
ciência, embora importante, não atingiu um avanço considerado na contem-
poraneidade, não é infalível e dificilmente chega a uma solução definitiva
em muitas outras perguntas que a humanidade ainda faz, pois o que é certo
hoje, amanhã já não poderá ser. Lúcio discorda, por acreditar que não há
concordância entre ciência e teologia, e sendo ele adepto da ciência, defen-
de-a concluindo que a ciência é o único caminho para se chegar ao conheci-
mento de fato. Portanto, é um dilema a ser refletido.
Desafio apresentado, agora chegou a hora de desenvolver as reflexões
necessárias para a sua reflexão. Bom estudo!
Seção 1
A teologia como ciência
Diálogo aberto
Para desenvolver o estudo das temáticas sugeridas, elaboramos um
contexto fictício, onde alguns amigos se encontraram e, após algumas refle-
xões sobre ciências e teologia, ficaram visíveis os contrapontos e os diferentes
entendimentos sobre o assunto. Pedro está concluindo o curso de filosofia e
afirma, categoricamente, que ciência e teologia são apenas esforços humanos
na busca do conhecimento e que a ciência, embora importante, não atingiu
um avanço considerado na contemporaneidade, não é infalível e dificilmente
chega a uma solução definitiva em muitas outras perguntas que a humani-
dade ainda faz, pois o que é certo hoje, amanhã já não poderá ser.
Isso inquieta profundamente Lúcio, que discorda por acreditar que não
há concordância entre ciência e teologia e, sendo ele adepto da ciência,
defende-a, concluindo que a ciência é o único caminho para se chegar ao
conhecimento de fato. Portanto, é um dilema a ser refletido.
Um novo dilema aparece contrapondo essa discussão quando Fábio, que
está no 3º ano de Teologia defende que a teologia já foi considerada a “Rainha
das Ciências”, portanto, é possível reconhecer as diferentes formas de conhe-
cimento e que certamente há uma interação entre elas. Ao analisarmos mais
precisamente os conteúdos que propomos para reflexão “o que é a teologia”, o
seu “objeto de estudo” e os “seus métodos”, e que consequentemente os carac-
terizam como também uma ciência, é pertinente analisá-la e buscarmos mais
profundamente as respostas que, se nem mesmo a ciência consegue entender,
isso significa que as possibilidades estão abertas para as conclusões tanto da
ciência, como da filosofia e da própria teologia.
A ciência enfrenta muitas perguntas sem respostas até mais importantes
do que aquelas que atormentavam Galileu Galilei, Nicolau Copérnico e
outros cientistas. Existem muitos mistérios a serem desvendados e todas
as possíveis formas de conhecimentos são bem-vindas para desvendá-los.
Nesse sentido, são importantes os estudos desta unidade, primeiro para que a
possamos conhecer melhor, segundo para propor a reflexão de outras possi-
bilidades para as perguntas sem respostas e, em terceiro, para chegarmos a
uma conclusão quanto ao debate dos nossos personagens.
Para adentrarmos em nossa reflexão, é importante destacar o pensamento
de Popper (apud LANA, 2019, [s.p.]), considerado um dos maiores filósofos
do século XX. Ele defendeu que, “se a ciência se baseia na observação e
9
teorização, só se podem tirar conclusões sobre o que foi observado, nunca
sobre o que não foi”.
Não pode faltar
Quando utilizamos o jargão “religião, política e futebol não se discutem”,

é porque, de fato, cada um tem uma forma de pensar, e isso depende muito da
educação, da influência familiar, dos amigos e tudo depende da forma com
que cada um vivenciou a sua vida. Temos essa percepção na discussão que
vimos no contexto de aprendizagem, em que Pedro e Lúcio têm uma forma
de pensar diferente com relação ao tema teologia e ciência. Mas indepen-
dentemente da forma como pensamos, precisamos pesquisar, analisar,
independentemente de nossas concepções, e observar o outro lado, para
que possamos ter certeza de que as nossas convicções são realmente verda-
deiras. Não podemos vivenciar apenas os nossos conhecimentos naturais e
não nos permitir verificar outras possibilidades. É claro que isso não signi-
fica ser volúvel em nosso comportamento. Precisamos ter uma direção, ter
bom senso e observar o que tem mais sentido. Um dilema a ser refletido,
como vimos no contexto de aprendizagem, é o de Pedro, o qual faz filosofia
e entende que ciência e teologia são apenas esforços humanos na busca de
conhecimento; Lucio, o qual discorda por acreditar que não há concordância
entre esse tema; e Fábio, que afirma que é possível analisar as diferentes
formas de conhecimento e que é possível haver interação entre elas.
Reflita
De acordo com a nossa história, há concordância entre ciência e
teologia? Considerando o pensamento de Fábio, como a ciência e
teologia se relacionam? Como seria uma possível interação? Podemos
caracterizar ambas como dois esforços humanos na busca do conheci-
mento? Vamos refletir sobre esses questionamentos.
O que percebemos nesta discussão não é muito diferente do que acontece

no cotidiano das pessoas. Muito se tem discutido sobre a teologia ou qual é o
seu significado, colocando em debate o seu “objeto de estudo” e a sua divisão.
Os embates ocorrem, geralmente, entre a teologia e a ciência.
Etimologicamente, o termo teologia é a junção de dois prefixos: theos +
logia (Deus + ciência) e tem como significado atual o estudo da existência
de Deus, da divindade e sua relação com o mundo e os homens. No mundo
antigo, o termo theos tinha um significado pagão e foi usado para descrever
algo sobrenatural, seres com poderes além da capacidade humana.
10
Embora o termo teologia já havia sido utilizado em outros momentos,
ainda que de forma não objetiva, Platão, em seu livro A República, foi o
filósofo que pela primeira vez utilizou o termo teologia com uma conotação
mais específica. Para esse autor, o termo refere-se à compreensão da natureza
divina por meio da razão.
Figura 1.1 | Significado do termo teologia
Fonte: elaborada pelo autor.
A raiz desse termo é grega e versava sobre o aparecimento dos deuses

“theologeion”, referindo-se às influências divinas, à ciência das coisas divinas
ou até mesmo à oração e ao louvor a um deus. Portanto, todo aquele que
discursava sobre deuses ou sobre a cosmologia eram considerados theologos.
Esses são significados pertencentes à filosofia primeira que estudava as
causas eternas e imutáveis. Percebe-se que, no decorrer da história, tivemos
diferentes usos do termo, conforme aponta Libanio e Murad:
A semântica estuda o significado das palavras. Debruça-se

sobre as transformações de sentido que um termo sofreu
ao longo da história. Como o termo “teologia” tem longa
história, pode-se acompanhar-lhe as transformações de
acepção. Não se trata no momento de tecer história da
teologia, mas simplesmente de perseguir alguns momentos
históricos em que o conceito de teologia passou por
mudanças semânticas. (LIBANIO; MURAD, 2010, p. 64)
Embora o termo teologia tenha, em sua origem, um significado diferente

do que entendemos hoje, para a concepção cristã clássica, todas as vezes que
utilizamos o termo ou qualquer reflexão teológica, referimo-nos de alguma
maneira a Deus. Ou seja, a teologia é o estudo de Deus em sua relação ao
ser humano, que começa pela revelação da palavra por meio de Jesus Cristo.
Portanto, para que possamos ter uma compreensão teológica adequada,
precisamos extrair tais conhecimentos de uma fonte correta, que nos coloque
rumo ao reconhecimento e glorificação de sua pessoa, ou seja, reconhecer
11
a pessoa e os atos de Deus. Por outro lado, não é qualquer estudo ou decla-
ração acerca de Deus que se pode chamar de teologia, pois precisa ser um
estudo fundamentado, com critérios, com conhecimentos válidos, sistema-
tizados. A falta de formação teológica pode representar um problema para a
interpretação e contextualização referente aos dilemas que ocorrem na socie-
dade contemporânea.
Diante dessa questão histórica, é importante refletir: qual o objetivo da
teologia nos dias de hoje? Já vimos que teologia é o estudo da existência
de Deus, portanto, tem-se como objetivo o conhecimento de Deus, seus
atributos e a revelação ao homem por meio de Jesus Cristo.
O campo de estudo da teologia é bastante abrangente: Deus

e suas relações com o mundo. Tudo que existe pode ser
assunto da teologia, desde que considerado na sua relação
com Deus. Pannenberg resume isto, dizendo que “Deus é o
ponto de referência unificador de todos os objetos e temas
que são tratados na teologia, e nesse sentido, então, ele é
naturalmente o objeto da teologia em si”. O assunto básico
da teologia é “Deus - Deus, na história de suas ações”.
(SEVERA, 2010, p. 4)
Como pudemos perceber, faz-se teologia sempre que reflete algo à luz da
fé ou da revelação. E isso pode se aplicar a todas as religiões, se a teologia é
considerada uma ciência, é preciso que ela tenha um objeto de estudo, pois
toda ciência tem seu objeto de estudo independentemente de suas caracterís-
ticas, sejam elas especulativas, naturais ou sociais. E como seria o objeto de
estudo da teologia? Como os das outras ciências. A diferença é que, no caso
da teologia, o teólogo não pode colocar-se acima do objeto, como ocorre
nas demais ciências, mas sob o objeto de seu conhecimento. No caso da
concepção clássica cristã, é por meio da revelação que o pesquisador conhece
a Deus, que é o objeto formal enquanto revelado, e por consequência tudo
que se relaciona a Ele. No entanto, é Deus que se faz descobrir à luz da fé.
É importante entender que, embora, nessa concepção, a essência seja
Deus e é a partir dessa realidade que tudo acontece, a teologia também
estuda outros assuntos, obtém-se reflexões sobre dois pontos importantes,
como as informações bíblicas ou de estudos afins e a realidade social (nesse
caso, tem por objetivo propor soluções para resolver situações de injustiças
na sociedade). Portanto, a teologia não é importante apenas para as insti-
tuições religiosas e cristãs, mas também para o bom desenvolvimento da
sociedade. Nesse sentido, para que a teologia seja relevante, é preciso que
12
se tenha diálogo com a cultura e com o mundo visível, até porque, no caso
do cristianismo, e as demais crenças, por exemplo, não se estuda Deus da
mesma maneira que se estuda outras formas utilizadas pelas ciências.
Assimile
Por que, neste estudo, a frase “objeto de estudo” está sempre entre
aspas? Estranha-se falar que Deus é nosso “objeto de estudo”, pois dá
uma conotação de algo inferiorizado, não é mesmo? Como se o homem,
ou o pesquisador, estivesse acima daquilo que está sendo estudado.
Mas pense, nesse caso em específico, o “objeto de estudo” tem como
significado a busca de conhecimento, buscar algo que nos foi ordenado.
Se olharmos para as escrituras, por exemplo, no Livro do profeta Oséias,
capítulo 6, versículo 3, nos é ordenado a conhecer e buscar a Deus. Esta
é a razão pela qual a teologia se torna necessária. Da mesma forma,
cada religião tem a sua necessidade de buscar conhecer o que ainda não
se tem conhecimento.
Considerando que a teologia é um estudo sistemático sobre a divindade,

e que ela se ocupa dos sistemas das crenças religiosas, existem, portanto,
diversas teologias, como a cristã, a islâmica, a judaica e outras. Em todas,
um dos objetivos principais, ou o mais comum, é sempre estudar a existência
da divindade ou daquilo que se acredita levando sempre em consideração
as questões que a elas se relacionam. Vejamos mais sobre a teologia, nas
palavras do teólogo Afonso Murad:
A teologia é um saber organizado, com regras próprias.

Não se limita a repetir, mas pensa, cria, organiza e elabora”
nesse sentido a teologia não é um saber aleatório, feito de
qualquer forma, mas um saber organizado e sistêmico como
uma ciência. Afonso Murad observa que a teologia tem em
comum com o saber científico os seguintes aspectos: Possui
objeto próprio, um método e a linguagem correspondente, e
elabora conceitos e termos técnicos; pauta-se pelas normas
da metodologia científica para gerar e difundir seu saber.
Possui um grupo de pesquisa e produz novos conhecimentos:
os teólogos (as) profissionais; difunde o ensino e promove a
especialização em instituições de ensino superior; tem um
espaço prático de validação de seus conhecimentos, que é a
ação evangelizadora; serve-se das contribuições das ciências
humanas afins. (FRAGA, 2019, [s.p.])
13
Portanto, como pudemos perceber e assimilar, toda e qualquer religião,
toda crença e a fé que a pessoa tem naquilo que acredita, na perspectiva teoló-
gica, encontra-se a busca permanente de estudo, pesquisa e conhecimento.
Percebemos, também, que a teologia não está direcionada apenas às questões
espirituais, mas também participa do cotidiano das pessoas, propondo
soluções para uma sociedade mais justa. Se a teologia tem um “objeto de
estudo”, caracteriza-se como uma ciência, e necessitamos, portanto, entender
qual é o seu método.
Em relação ao método teológico, cuja a perspectiva é o modo como é feita
a investigação para obter dados seguros e certos da realidade, temos, num
primeiro momento, como fonte central, as escrituras sagradas, com as quais
precisamos estar em constante conversação.
Exemplificando
O método em teologia passa por um processo de investigação que se
compõe em diversas fases, mas um importante momento é a investi-
gação onde se verifica os dados necessários e relevantes para a investi-
gação teológica. Nesse momento, utiliza-se textos bíblicos e de pesquisa
sobre assuntos desejados, imagens, os símbolos, etc. A pesquisa teoló-
gica deve seguir um cuidado minucioso para que se chegue a um resul-
tado fidedigno, fundamentado e sistêmico.
Há vários métodos que são utilizados no estudo teológico. Outras fontes

que o teólogo precisa ter conhecimento são as línguas e as culturas antigas.
Além disso, o conhecimento é importante para os estudos teológicos, ainda
que seja, em linhas gerais, das disciplinas como psicologia, sociologia, antro-
pologia, arqueologia, política, economia, filosofia, as ciências naturais, bem
como as fontes teológicas sobre as questões doutrinárias, etc. Quanto ao
método, apresentamos seis passos, conforme menciona Zacarias:
a) definir e esclarecer o problema ou a questão teológica

a ser estudada. Exemplo: a Pessoa de Cristo, o Pecado, o
Espírito Santo, a Salvação. b) identificar as várias soluções do
problema que foram sugeridas na história cristã. Isto ajuda
a entender a questão nos diversos contextos históricos. c)
estudar a fonte da teologia cristã, a Bíblia, para determinar
exatamente o que dizem os textos, e chegar a conclusões
preliminares. d) relacionar as conclusões preliminares com
a revelação em geral e com as outras doutrinas já estabele-
cidas para concretizar a resposta teológica. e) defender essa
14
conclusão diante da oposição das ideologias contrárias. f)
aplicar as conclusões teológicas às situações específicas da
vida neste mundo. Há uma verdade divina, mas há muitas
aplicações nos diferentes contextos e situações em que vive
o ser humano (SEVERA, 2010, p. 6, grifo nosso)
Considerando o vasto campo teológico, seja ele cristão ou revelado, identi-

ficamos várias áreas que nos ajudam a compreender essa ciência. São elas:
• Teologia bíblica: a teologia se ocupa das histórias e dos ensinamentos
bíblicos tanto do Antigo testamento quanto do Novo Testamento.
No Antigo Testamento temos, ainda, três divisões da teologia: a do
Pentateuco, que é composto pelos cinco primeiros livros da bíblia; a
dos Profetas, aqueles que anunciaram os desígnios divinos; e a dos
Salmos, cujos textos são considerados verdadeiras poesias religiosas.
• Teologia histórica: nesta área, estudamos as doutrinas da igreja, seu
desenvolvimento e progresso. Portanto, temos como fonte de estudo a
teologia patrística, cujo nome deve-se à filosofia cristã dos primeiros
séculos. O termo Patrística refere-se aos pais da igreja que elaboraram
a doutrina da verdade de fé do cristianismo. Teologia medieval,
teologia dos reformadores, teologia contemporânea e a teologia de
um movimento ou correntes teológicas da atualidade.
• Teologia sistemática: teologia sistemática é a apresentação ordenada,
racional, harmônica, coerente da fé e das crenças cristãs. Ela busca as
verdades teológicas a fim de alcançar a unidade e a totalidade.
• Teologia prática: a teologia prática nos orienta como viver, como
orar, como pregar, como evangelizar. Inclui disciplina como teologia
pastoral, teologia do evangelismo, etc.
Sem medo de errar
Vamos buscar agora a resposta ou delinear algumas reflexões para a situa-

ção-problema elaborada no início desta seção? Para isso, devemos consi-
derar os conhecimentos que já foram apresentados, adquiridos e construídos
neste texto.
Lembre-se que os personagens debatiam suas ideias referentes à ciência e
à teologia e que tinham diferentes entendimentos sobre o assunto: Pedro, por
exemplo, entende que tanto a teologia quanto a ciência são esforços humanos
na busca de conhecimento e que a ciência, embora importante, não é infalível
15
e dificilmente chega a uma solução definitiva em muitas outras perguntas
que a humanidade ainda faz; Lúcio, por sua vez, discorda por acreditar que
não há concordância entre ciência e teologia, e sendo ele adepto da ciência,
defende-a, concluindo que a ciência é o único caminho para se chegar ao
conhecimento de fato; já Fabio, que faz Teologia, contrapondo essa discussão,
defende que a teologia já foi considerada a “Rainha das Ciências”, portanto, é
possível reconhecer as diferentes formas de conhecimento e que certamente
há uma interação entre elas, sendo a teologia uma ciência importante.
Antes de refletirmos sobre as considerações de Fábio, vamos pensar um
pouco sobre a fala de Pedro. Ele certamente não errou quando disse que
teologia e ciência são esforços humanos na busca de conhecimento. De fato,
a teologia, como ciência, e as demais ciências buscam constantemente desco-
brir e entender o desconhecido. Está correta também a sua afirmação de que
a ciência não é infalível e dificilmente chega a uma solução definitiva em
muitas outras perguntas que a humanidade ainda faz, pois o que é certo hoje,
amanhã já não poderá ser. A ciência é importante para a humanidade, é quase
difícil imaginar o mundo sem a sua contribuição, seus métodos científicos
são fundamentais para as ciências modernas. No entanto, se considerarmos
algumas linhas de pesquisas é percebível a sua não infalibilidade. Existem
muitas questões ainda não respondidas pela ciência. Com relação aos limites
da ciência, vemos o que diz Popper (apud LANA, 2019, [s.p.]):
Os limites da ciência se definem claramente. A ciência produz

teorias falseáveis, que serão válidas enquanto não refutadas.
Por este modelo, não há como a ciência tratar de assuntos do
domínio da religião, que tem suas doutrinas como verdades
eternas ou da filosofia, que busca verdades absolutas.
Contrariando o pensamento de Lúcio, é importante dizer que a Ciência

não é o único caminho para se chegar ao conhecimento de fato e também não
pode responder todas as coisas, até porque, para a ciência, o que ainda não
foi descoberto não existe. Mas isso não significa que algo não existe só por
que a ciência ainda não comprovou. Cabe aqui o pensamento de que se não
é possível dizer que existe, também não se pode comprovar que não existe.
No entanto, a pergunta a ser respondida, considerando o pensamento de
Lúcio, é: há concordância entre ciência e teologia? Primeiramente vemos a
teologia como uma ciência, pois tem um “objeto de estudo”, além de aplicar
os mesmos princípios para a verificação das causas.
O fato de haver, muitas vezes, um diálogo crítico entre ciência e teologia,
não significa necessariamente que não haja interação entre ambas. Aliás, isso
16
faz parte do próprio método científico. A ciência pode oferecer à teologia
elementos importantes sobre a lógica de seus objetos, assim como a teologia
pode contribuir com as reflexões aos pressupostos científicos.
A interação é possível, pois se a ciência é capaz de contestar é também
capaz de confirmar as afirmações teológicas:
Por outro lado, a ciência pode também confirmar as afirma-

ções religiosas. Por exemplo, uma das principais doutrinas
da fé judaico-cristã é que Deus criou o universo do nada num
tempo finito do passado. A Bíblia começa com as palavras:
“No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gn 1.1). A
Bíblia, portanto, ensina que o universo teve um começo.
Esse ensinamento foi repudiado tanto pela filosofia grega
como pelo ateísmo moderno, inclusive pelo materialismo
dialético. Assim, em 1929, com a descoberta da expansão
do universo, essa doutrina foi radicalmente confirmada. Ao
falarem sobre o começo do universo, os físicos John Barrow
e Frank Tipler explicam: “Nessa singularidade, espaço
e tempo vieram à existência; literalmente, nada existia
antes da singularidade, assim, se o universo se originou
em tal singularidade, poderíamos ter verdadeiramente
uma criação ex nihilo (do nada) ”. Contrariamente a toda
expectativa, a ciência, portanto, confirmou essa predição
religiosa. Robert Jastrow, diretor do Instituto Goddard
para Estudos Espaciais, da NASA, a vislumbra da seguinte
maneira: [O cientista] escalou as montanhas da ignorância;
está para conquistar o cume mais alto; ao galgar por sobre
a última rocha, é recebido por um bando de teólogos que
estão sentados lá em cima há séculos. (CRAIG, 2019, [s.p.])
Até quando é considerada válida a teoria científica? Até quando serem

consideradas falsas por outras observações, com mais profundidade que as
utilizadas na pesquisa original.
Ao contrapor as falas de Pedro e Lúcio, Fábio está correto quando diz
ser possível reconhecer as diferentes formas de conhecimento e que certa-
mente há uma interação entre elas, sendo a teologia uma ciência importante.
Vemos isso de forma resumida nos diversos modos diferentes pelos quais há
relevância na relação entre ciência e teologia.
17
a) A religião fornece a estrutura conceitual em que a ciência
pode florescer; (b) A ciência é capaz tanto de contestar
como de confirmar as afirmações da religião; c) A ciência
encontra problemas metafísicos que a religião pode ajudar
a resolver; d) A religião pode ajudar a decidir entre teorias
científicas; e) A religião pode ampliar a capacidade explana-
tória da ciência; f) A ciência pode estabelecer uma premissa
num argumento que tenha conclusão com importância
religiosa. (CRAIG, 2019, [s.p.])
Embora tanto a ciência quanto a teologia passem por alguns momentos

conflitantes, em linhas gerais, elas interagem e dialogam quando o assunto
é a busca pelo conhecimento, desvendar questões ainda sem respostas ou
confirmar as afirmações já conhecidas.
Avançando na prática
Reflexão: acreditar em deus por uma razão lógica
Um certo dia, Jeffrey, um rapaz estudioso das escrituras, fez uma expla-
nação aos seus amigos, os quais não acreditavam em nada que se relacionava
à Bíblia. Estes até mesmo confrontavam Jeffrey por não “aproveitar a vida”
da forma como eles faziam. É certo que esse grupo de amigos exageravam,
tinham comportamentos que, para o padrão social, eram inadequados. Jeffrey
começou dizendo que acreditava nas escrituras e praticava os princípios ali
estabelecidos. Mas naquele momento, em sua sabedoria, fez um questiona-
mento a eles: “Diante da Bíblia temos apenas duas possibilidades: ou ela é
verdadeira ou é falsa. Portanto, imaginemos que um dia eu descubra que
este livro é apenas um livro velho, sem valor, o qual contém apenas histórias.
Eu, nessas condições, independentemente dele ser verdadeiro ou não, ainda
assim não me arrependeria de tê-lo seguido, pois, sendo verdadeiro, eu teria
ganhado a minha vida, e caso não fosse verdadeiro, teria vivido um bom
relacionamento com a minha família, meus amigos, teria percorrido um
caminho de solidariedade, de respeito ao outro e às diversidades. Ou seja, de
qualquer forma, eu teria ganhado a minha vida, portanto, eu não perco em
nenhuma das duas possibilidades, sendo este livro verdadeiro ou não. Agora
vamos imaginar vocês, que aproveitam a vida sem respeito aos princípios.
Sendo essas escrituras falsas, nada teria acontecido, vocês teriam aproveitado
ao máximo a vida, apenas com as consequências decorrentes dos próprios
18
atos. Mas, neste caso, vocês teriam apenas 50% de chances de estarem certos.
Ou seja, se as escrituras foram verdadeiras, para vocês, nada teria valido a
pena e as consequências seriam fatais”.
Diante do exposto podemos afirmar que a crença em um ser superior é
exclusividade da fé ou também é acessível pela razão?
Resolução da situação-problema
Essa pergunta sobre crer em Deus considerando a fé e a razão é estimu-
lada para uma profunda reflexão. Primeiro é importante entender o que
é razão, depois a questão importante a ser pensada é que a própria fé
precisa ser racional, caso contrário não é fé. Uma outra questão básica é a
pergunta: por que deveríamos acreditar em Deus? Segundo Craig (apud
PIRES, 2016, [s.p.]): “Porque os argumentos e evidências que apontam para
a sua existência são mais plausíveis do que aqueles que apontam para a
negação”. Considerando, ainda, as questões entre a fé e a razão, ambas são
compatíveis, de acordo com Tomás de Aquino:
Podemos aferir que o pensamento de Tomás de Aquino

defende o fato de que as verdades reveladas não são
incompatíveis com a reflexão racional, mas pelo contrário,
é perfeitamente possível que por vias racionais de análise, a
razão alcance sem nenhum prejuízo as verdades reveladas
ou as verdades teologais da fé. (DOM TOTAL, 2019, [s.p.])
Enfim, é importante refletir sobre o verdadeiro significado do termo

razão assim como qual tipo de fé estamos nos referindo. Nesse caso, estamos
nos referindo não à fé emotiva, mas a fé inteligente, sobrenatural que vem do
Espírito de Deus. Ou seja, a fé consciente e equilibrada nas suas práticas, está
sendo, porém, compatível com a razão.
Faça valer a pena
1. Considerando o vasto campo teológico, seja ele cristão ou revelado,

identificamos várias áreas que nos ajudam a compreender essa ciência.
Em uma delas, estudamos as doutrinas da igreja, seu desenvolvimento
e progresso. Portanto, temos como fonte de estudo a teologia patrística, a
teologia medieval, a teologia dos reformadores, a teologia contemporânea e a
teologia de um movimento ou correntes teológicas da atualidade.
Assinale a alternativa que apresenta a área descrita no texto.
19
a. Teologia bíblica.
b. Teologia sistemática.
c. Teologia histórica.
d. Teologia prática.
e. Teologia natural.
2. O campo de estudo da teologia é bastante abrangente, em nossos estudos,

vimos que a teologia é um saber organizado, com regras próprias. Ele não se
limita a repetir, mas pensa, cria, organiza e elabora, ou seja, não é um saber
aleatório, feito de qualquer forma, mas um saber organizado e sistêmico,
como uma ciência. Conforme menciona o teólogo Afonso Murad (apud
FRAGA, 2019, [s.p.]), a teologia tem em comum com o saber científico os
seguintes aspectos:
I. Possui objeto próprio, um método e a linguagem correspondente, e
elabora conceitos e termos técnicos.
II. Pauta-se pelas normas da metodologia científica para gerar e difundir
seu saber.
III. Possui um grupo de pesquisa e produz novos conhecimentos.
IV. Não tem um espaço prático de validação de seus conhecimentos.
Nesse contexto, é correto o que se afirma em:
a. I, II e III, apenas.
b. I, II e IV, apenas.
c. I, III e IV, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II, III e IV.
3. Embora tanto a ciência quanto a teologia perpassem por alguns momentos

conflitantes, em linhas gerais, elas se interagem e dialogam quando o assunto
é a busca pelo conhecimento. Existem diversos modos diferentes pelos quais
há relevância na relação entre ciência e teologia.
Nesse contexto, assinale a alternativa correta.
a. A religião pode ajudar a decidir entre teorias filosóficas, porém, não
as científicas.
20
b. A ciência é capaz de contestar ou confirmar as afirmações da religião.
c. A ciência encontra problemas metafísicos que a religião não pode
ajudar a resolver.
d. A religião fornece a estrutura conceitual em que a ciência pode
florescer.
e. A religião não se relaciona com a ciência em relação à capacidade
explanatória.
21
Seção 2
A relação entre fé e a razão
Diálogo aberto
Considerando a relação entre fé e a razão e o antagonismo que se tornou
evidente na cultura ocidental, essas crenças estão constantemente em meio a
discussões. Esse confronto se deu pelas posições inexatas dos temas, porém,
pela análise teológica e filosófica é possível compreendermos de forma
serena as diferenças e os fatores que as unem. É nessa discussão sobre ciência
e teologia, fé e razão, que os amigos Pedro, Lúcio e Fábio chegaram a um
acordo e resolveram assistir ao filme Contato, de 1997, do gênero drama e
ficção científica, para prosseguirem com as reflexões, conforme sugestão de
Fábio. O filme escolhido pelos amigos fala sobre fé e ceticismo e aborda como
esses conceitos se contrapõem. Fábio sugeriu que todos assistissem ao filme
para propor uma reflexão com relação à ciência e à teologia e convencer os
demais amigos.
Você se lembra que eles debatiam sobre essa relação e Pedro, que cursa
Filosofia, discordava da possível harmonia entre ciência e teologia, pois,
para ele, elas são apenas esforços humanos na busca por conhecimento e
não podem responder um monte de perguntas que a humanidade faz? Você
também se lembra de Lúcio, que é adepto da ciência e entende que ela é o
único caminho para se chegar ao conhecimento? Diante dessa concepção,
já vimos, na primeira sessão, o que é a teologia, quais são os seus métodos
e a sua importância como ciência e que consequentemente a ciência tradi-
cional não é o único caminho para se chegar ao conhecimento, pois existem
diversos outros tipos de conhecimento, sendo um deles a própria teologia.
Conhecemos, também, Fábio, que estuda teologia, defende-a enquanto
ciência e entende que é possível reconhecer as diferentes formas de conheci-
mento e que certamente há uma interação entre elas.
Nessa discussão, fortaleceu-se a ideia de analisar os contrapontos quanto
à relação entre a fé e a razão na Bíblia. Vamos verificar e sintetizar histori-
camente a fé e razão no pensamento medieval, Idade Moderna – reformas
religiosas e a fé e ciência nos dias atuais. Portanto, nesta seção, vamos pensar
um pouco mais sobre fé e razão, refletindo a hipótese de que ambas são
compatíveis de acordo com o entendimento de Fábio, pois existem muitos
contrapontos sobre essa temática, e o importante é que nossos amigos que
começaram essa discussão, embora, num primeiro momento, defendam
suas concepções, ainda assim estejam abertos a buscar o conhecimento
sobre essa relação tão mencionada em nossos dias. Entende-se que novos
22
conhecimentos, muitas vezes causam temores e estranhamento, o que nos
faz sair da zona de conforto comportamental e intelectual. Considerando a
relação entre fé e razão, é possível mencionarmos, também, alguns pensa-
mentos da Idade Média, como os de Agostinho de Hipona e Tomás de
Aquino, e depois adentrarmos nessa reflexão mais profundamente.
Não pode faltar
Uma das primeiras questões que surgem quando se fala em fé e razão é se

ambas são compatíveis. Se observarmos no Livro Sagrado (Bíblia), percebe-
remos que esses dois termos são ferramentas importantes para a existência
humana. Considerando essa concepção e refletindo sobre o assunto é possível
perceber o quanto essas duas ferramentas são necessárias em nossas vidas,
portanto, é relevante pensarmos na seguinte questão: se de um lado a razão
não salva, por outro, a fé não deve ser emotiva, sem racionalidade. Ou seja,
se de um lado o homem é um ser racional e não pode usar isso como a única
proposta para o entendimento do ser e do que no mundo existe, por outro
lado, a fé não é um instrumento único excluindo outras formas da relação
do homem com Deus, não se fechando, assim, ao fideísmo ou fundamenta-
lismo. Nesse sentido, a partir dessa reflexão, já é possível entender e refletir se
há ou não compatibilidade. Para entendermos essa importância precisamos
primeiramente compreender o significado dessas crenças separadamente: o
que é a fé? E o que é a razão?
A fé racional está presente num simples fechar de olhos e no levantar
das mãos, um gesto que representa a adoração. Essa fé é oposta à fé emotiva,
que está relacionada ao “sentimento do coração”, enquanto a fé racional está
ligada ao intelecto, à mente, tende para o espírito, para a vida. É algo que
temos certeza.
A razão nos permite chegar a conclusões e explicações a partir da relação
entre a causa e efeito. Pensa-se aqui em algo lógico, que se fundamenta em
uma situação possível, que tenha mais sentido, seja mais real, enfim, é algo
que se posiciona de forma contrária às emoções e que se realiza por meio
de argumentos e de abstrações. A pessoa com esse sentimento “pensa racio-
nalmente” considerando as consequências, as possibilidades, o individual e
o coletivo. Portanto, vamos aprofundar o entendimento da fé em suas duas
dimensões: a fé emotiva e a fé racional. A primeira nos remete àquilo que
sentimos, que se inclina às paixões, acontece de repente, muitas vezes não
leva em consideração as consequências ou aquelas pessoas que apresentam
atitudes momentâneas em que se têm em primeiro plano os seus próprios
desejos independentes da coletividade. Já a fé racional é o que nos permite
refletir sobre a compatibilidade com a razão. É nesse ponto que Fábio propôs
23
aos amigos que assistissem ao filme Contato e posteriormente tirassem as
conclusões sobre a relação ciência e teologia, fé e razão, se há ou não compa-
tibilidade, se é possível pensarmos na relação entre as duas.
Os amigos observaram, após assistirem ao filme, que uma das primeiras
questões que se apresenta é motivo de reflexão quanto à distinção e posicio-
namento que cada um tinha anteriormente e o fato de que a teologia ou os
teólogos não são contra a tecnologia, mas são, sim, contra os homens que
evitam a Deus ou questionam sua existência à custa da “verdade humana”.
Percebeu-se, também, a necessidade de unir os aspectos políticos, filosóficos
e religiosos quando o assunto é analisar um determinado acontecimento que
foge do entendimento humano, quando tal acontecimento força a busca de
evidências, considerando a necessidade de ser do próprio homem, o qual
questiona se o fato realmente existe.
Por outro lado, há aqueles que, pela fé, e ao ter uma experiência mais direta
com o fato, persistem em seus conhecimentos e percepções, querendo provar
aos céticos que essa fé é verdadeira. Enfim, quando todas as coisas são iguais,
a explicação mais simples tem que ser a certa. No entanto, a personagem
do filme teve uma experiência que não pôde provar, mas reconheceu, assim
como os céticos, que, no mundo, alguma coisa é maior que nós mesmos. No
roteiro do filme, é possível entender que, embora haja uma dicotomia entre
a teologia e a ciência, e embora a crença de um seja diferente da crença de
outro, a meta é uma só: a “busca da verdade”. No resultado de seus objetivos,
aqui as crenças se igualam. O tópico concernente à ciência e à teologia é
que ambos se esforçam para a busca de conhecimento. Enquanto a primeira
busca estudar o mundo físico conduzido pela indução ou dedução, ou seja,
tudo que se refere ao mundo natural, o segundo consiste no esforço para se
compreender Deus e sua relação com o mundo e com os homens.
Para a ciência, quando não se tem a explicação comprovada para algo,
dá-se o nome de remissão espontânea para explicar o que não pode ser expli-
cado. Uma diferença que podemos destacar entre o que tem fé e o que não
tem é que este último não tenta ao menos experimentar, descarta logo de
início a possibilidade de conhecer um fato novo, devido à sua descrença. No
entanto, o que tem fé, tem ao mesmo tempo, persistência, busca conhecer
profundamente algo, ainda que não se possa comprovar aos olhos humanos.
Reflita
Será que a fé e a razão são sempre incompatíveis? A fé na Bíblia não
envolve a razão? Para entender essas indagações é preciso conhecer o
significado dessas ferramentas e entender de que fé estamos falando
quando nos referimos à compatibilidade com a razão.
24
Agora que conhecemos um pouco sobre fé e razão, vamos entender como
se dá a relação desses termos no pensamento Medieval. Sabemos que na
Idade Média houve o predomínio do cristianismo e do pensamento greco-
-romano, portanto, o conflito dessa relação ocupou os pensadores cristãos.
Se olharmos para o Antigo Testamento, vamos entender a fé como uma
submissão a Deus, submissão de pensamentos e atos.
Para entender a essência desse pensamento, vamos nos ater, aqui, à
Filosofia Medieval e à grande pergunta que, naquele momento, pairava sobre
a questão: é possível conciliar razão e fé? Na transição, no final da Idade
Antiga, no período que ocorre a queda do Império Romano para o início
da Idade Média (4000 a.C – 476 d.C), surge Agostinho de Hipona (354-430
d.C.), o qual tem uma frase que marca bem a questão da razão e fé: “Creio
tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo. Tudo o que
compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço. ” Isso quer dizer
que ele acreditava conciliação entre a fé e razão, e que a fé supera a razão.
Podemos considerar, dessa forma, que, para compreender algo, precisamos
primeiro crer, pois se não cremos, o caminho para se chegar à compreensão
se tornaria mais complexo. Certamente esse é o princípio para entender a
relação entre fé e razão, pois “entender” se refere à capacidade do ser racional.
Todas as nossas inquietações teóricas e práticas se satisfazem pela fé, é o
primeiro momento que precisamos para dar início ao entendimento de algo.
Exemplificando
Tudo o que concretizamos na vida é de praxe que primeiramente
sonhemos e, para que esses sonhos se realizem, é preciso que tenhamos
persistência, de forma que a sequência de trabalho na busca desses
sonhos tenha estrutura. No entanto, nos caminhos dessas buscas,
a persistência depende de fé, não uma fé cega, mas uma fé racional:
crer que realmente é possível. E em todos os nossos sonhos em obter
algo, é preciso pensar nas consequências, tanto na perspectiva indivi-
dual quanto na perspectiva coletiva, levar em consideração o outro. É
preciso compreender cada etapa, entender cada momento e, assim,
chegar aos objetivos pretendidos. Dessa forma caminham a fé e a razão.
Os muitos conflitos que surgiram nos tempos antigos devem-se ao fato de

relacionarem a fé emotiva com a razão, o que se torna complexo e difícil se
chegar a uma conciliação lógica, mas o objetivo da nossa reflexão é compa-
rarmos com a própria racionalidade da fé, o que possibilita tal entendimento.
Com os questionamentos da filosofia (como busca da verdade), a teologia
(como verdade encontrada) surgiu com o propósito de explicar e substanciar
25
os textos históricos trazendo-os para uma reflexão mais “científica”, mais
racional, ou seja, surgiu para fundamentar e debater alguns temas, explicar
alguns enigmas que são difíceis de se ter uma explicação perante a razão
humana. A teologia é a ciência que busca traduzir em entendimento o que a
ciência tradicional denomina remissão espontânea, por não encontrar uma
explicação lógica de um determinado fato ou acontecimento.
Diante de tantos questionamentos que se enfatizaram na Idade Média, os
caminhos foram abertos e facilitados para, mais tarde, as reformas religiosas
se tornarem uma nova realidade, trazendo novas perspectivas às pessoas,
porém, como é de praxe, novos questionamentos surgiram.
Um dos motivos que ocasionou a Reforma foi devido à crise espiritual
que se abatia sobre a Igreja daquele período. Portanto, quando questionamos
o que ocorre no pensamento humano e nas interações sociais que tornam
necessária essa reformulação, é certo e cabível refletirmos as transformações
e as causas que proporcionaram a nova forma de entender essa relação entre
a fé e a razão.
Figura 1.2 | A Reforma: Matinho Lutero
Fonte: Pixabay.
Quando entramos na Modernidade, e com o surgimento do Renascimento,

foi possível notar o porquê do conflito entre razão humana e a fé e, a partir
daí, entendemos, então, essa mesma relação que houve na Idade Média.
26
Com o Renascimento muito se buscava a razão humana contrária à fé cega
das crenças religiosas, sendo o iluminismo a expressão desse movimento, o
qual pautava-se pela razão. Assim, entrava-se em conflitos contra as crenças
que se aprofundavam em heresias e superstições infundadas. Se de um lado
a religião criticava a filosofia situando-a como uma ciência incrédula, da
mesma forma, a filosofia fazia sua réplica contra a religião pela sua desatu-
alização e sua forma de disseminar e refletir os valores da doutrina cristã.
Esses movimentos defendiam o uso da razão em oposição às heresias e às
incredulidades que a Igreja da época pregava, ou seja, em oposição à tradição
e ao pensamento religioso de forma geral.
Uma dessas transformações foi a Reforma Protestante, que ocorreu
no século XVI, a partir do ano de 1517, durante a Idade Moderna. Esses
movimentos nasceram para se contrapor às práticas da Igreja católica
romana, que tinha uma forte estrutura política e econômica, e questionavam
os dogmas da Igreja que se disseminaram por toda a Europa. Nessa época,
a Igreja tinha grande influência política em muitos países monárquicos. Era
um período de mudanças de ideias inspiradas no novo.
Uma das coisas que esses movimentos criticavam era a cobrança de
indulgências, ou seja, a Igreja da época vendia “terrenos no paraíso”. Nesse
cenário, somente os ricos tinham condições de comprar e ter espaço garan-
tido a todos os seus familiares. Além disso, anteriormente as missas, além
se serem realizadas em latim, eram feitas de costa para o público, e as escri-
turas só poderiam ser lidas pelo alto clero, ou seja, a Igreja monopolizava o
conhecimento. No entanto, as pessoas passaram a ter hábitos de leitura, e o
que não era acessível aos fiéis da Igreja passou a ser por meio das traduções
da Bíblila, feitas por homens que se rebelaram contra as ideias da instituição
predominante na época.
Muitos dos que clamaram por uma reforma na religião daquele período,
foram torturados, enforcados ou queimados, como o monge Girolamo
Sayarola, enforcado a pedido do Papa Julio II, o jurista Thomas Morus e
muitos outros.
Na história temos grandes nomes que fazem parte da Reforma Protestante,
como Martinho Lutero, João Calvino e outros. Martinho Lutero foi um
monge católico alemão do século XVI, doutor em Teologia, e uma de suas
inquietações era o fato da Igreja católica da época dizer que algumas pessoas
possuíam méritos que poderiam ser transferidos por meio de pagamentos a
outras pessoas, cuja salvação era duvidosa.
27
Assimile
Quando estudamos um determinado tema, precisamos considerar as
análises também para aquele tempo, pois para compará-los com outras
épocas, ou épocas posteriores, é preciso fazer uma conversão dos
acontecimentos, ou seja, acompanhar a própria evolução e a forma de
pensar de cada época. Uma instituição, hoje, não pode ser considerada
pelos seus erros do passado, mas sim ser caracterizada e refletida sobre
o que ela é na atualidade. Assim como devemos ter em mente que um
dos conflitos que ocorreram entre fé e razão são provenientes da forma
como a fé se portava naquele momento da história.
É inegável que um diálogo entre a fé e a razão ou entre a teologia e a

ciência é, ao mesmo tempo, necessário e frutífero, porém, por falta de conhe-
cimento, muitas vezes de ambos os lados, a história nos mostra que essas
questões continuam perpassado por tensões. Assim é o debate entre fé e
ciência no século XXI.
A maior parte da discussão contemporânea sobre o suposto

conflito entre fé e razão surgiu no contexto de discussões a
respeito de ciência e religião. Limitações espaciais impedem
uma discussão completa sobre essa questão, mas alguns
pontos gerais devem ser avaliados para nos ajudar a entender
como pensar sobre quaisquer supostos conflitos que
venham surgir. Em primeiro lugar, devemos reconhecer com
Agostinho, João Calvino e muitos outros que toda verdade é
verdade de Deus. O que é verdade, é verdade porque Deus
revelou, criou ou decretou. (MATHISON, 2019, [s.p.])
Portanto, como vimos, desde a antiguidade, ciência e religião estão em

conflito e uma das premissas desses conflitos se deve a toda uma estrutura
apresentada pela Igreja naquele momento da história. Pois qualquer teoria
científica que surgisse, mas que fosse divergente da opinião da Igreja, ainda
que correta, era fortemente repreendida. Mas hoje, muita coisa mudou, a
própria Igreja Católica, com relação a este quesito, reconhece seus erros. E
nos dias atuais, sobre a relação entre fé e ciência já é possível esboçar uma
interação que em muitos momentos se torna harmoniosa.
28
Sem medo de errar
Considerando o primeiro momento de discussão entre os amigos Pedro,

Lúcio e Fábio sobre ciências e teologia e as formas distintas de entendimento
e compreensão expressadas por eles, Fábio propôs, procurando defender a
ideia de que há interação entre ciência e teologia, e de que não há motivo para
por ambas em situação de conflito, que todos aprofundassem os estudos sobre
o tema começando pela relação entre fé e razão, se desprendendo de suas
primeira convicções, ou seja, fazendo uma pesquisa de forma neutra, procu-
rando primeiro refletir sobre o tema por meio de estudos, com o objetivo de
compreender as diversas possibilidades e consequentemente as coerências e
as incoerências apresentadas. O exercício era que cada integrante do grupo
escolhesse situações diferentes de suas concepções, mas que até certo ponto
tinham coerência. Para isso, além da pesquisa bibliográfica, eles deveriam
também assistir a alguns filmes que os fizessem refletir sobre o assunto.
Contato, de 1997, do gênero drama e ficção científica, foi o primeiro filme
escolhido pelos amigos. Essa produção aborda a fé e o ceticismo e trata como
esses conceitos se contrapõem. O segundo filme escolhido foi Milagres do
Paraiso. Esse filme tem um forte apelo emocional e é focado na fé humana,
no sobrenatural. A diferença é que a história é real, aconteceu em 2011 na
cidade de Cleburne, no Texas.
Fábio sinalizou aos amigos que o objetivo não era fazer uma análise
técnica de um filme a respeito do roteiro ou cenário, mas observar a essência
da história narrada com a própria realidade. Após o filme e com base em
estudos, Pedro chegou à conclusão, por exemplo, que milagres não são neces-
sariamente fenômenos que desafiam a ciência, mas são ocorrências diárias
de benevolência acessíveis a todos. Nesse sentido, chegamos a um primeiro
ponto: nem tudo é concorrência ou desafios para se relacionar ciência e
teologia, para expor quem está certo ou errado, pois ambas as crenças têm
a sua função na sociedade e cada qual representa um tipo de conhecimento
relevante para o crescimento humano. Para Fábio, os conflitos que existem
entre ciência e religião são fruto do próprio homem pela sua própria comple-
xidade, pois, para ele, a própria ciência faz parte da sabedoria entregue por
Deus aos homens.
Os mistérios grandes podem até desafiar a lógica, por isso são chamados
de milagres, mas não têm objetivo de desafiar a ciência e nem deveriam ser
da responsabilidade da ciência tentar desvendar mistérios no âmbito da
religião, a não ser por questões completamente históricas, como os objetos
encontrados por meio da arqueologia que afirmam a existência de determi-
nado fato bíblico. Portanto, ambas as crenças devem existir para contribuir
29
com a verdade e não para aniquilar uma a outra. Cabe às ciências outros
fatores mais concretos e importantes, direcionados para soluções dos
problemas humanos.
A conclusão que os amigos Pedro e Lúcio chegaram é que concordam
com Fábio em uma questão importante, que razão e fé não podem ser duas
situações totalmente separadas da vida humana. Sabe-se que a fé sem razão é
apenas emotiva e, por outro lado, a razão sem a fé pode levar a uma vida vazia,
sem estímulo ou sem objetivo. Fé e razão são campos que têm autonomia e
características próprias, mas podem interagir usando a própria razão. Fábio
completa sua reflexão citando uma passagem bíblica, em Romanos 8:28: “E
sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles
que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”.
Enfim, a teologia teve que percorrer um longo caminho antes de ser
acolhida no horizonte da fé cristã e da revelação. Ela legitima-se na alta
Idade Média como ciência da fé, fundamentada sobre a natureza racional do
homem e sobre a auto manifestação de Deus, no testemunho e na Sagrada
Escritura, pois ela é obra da razão e da fé. Quando a teologia, como pergunta
nascida no coração da própria fé, deixa de filosofar, ela facilmente cai num
biblicismo fundamentalista ou num positivismo dogmático. Talvez, a atual
crise da fé em relação ao homem possa oportunizar à teologia cristã um
estudo mais criativo do encontro histórico entre a revelação judeu-cristã e o
pensamento filosófico e científico contemporâneo.
A fé inclui a capacidade de compreender e conhecer o que Deus revela ao
homem, ou seja, para crer, o homem não precisa nem deve renunciar à sua
razão. É verdade que o velho problema da fé e razão, atualmente, também se
formula, de maneira nova, como questão da fé e da ciência, da relação entre
conhecimento científico e conhecimento da fé.
A teologia trata da experiência de Deus, de nossa experiência com Deus
enquanto membros de uma comunidade de fé. É o esforço de reflexão siste-
mática e científica, para compreender e interpretar a experiência de fé de
uma comunidade e expressar essa experiência em linguagem compreensível
em seu contexto histórico cultural concreto.
Já a razão, enquanto uma filosofia, destaca-se por seu conhecimento
científico pautado na experiência, se o esquecermos cairemos no risco de
um isolamento cultural, cada vez maior, refugiando-se no conhecimento
pré-científico e pré-crítico do homem e da sociedade.
30
Os fatos que são entendidos apenas por teorias,

mas não têm nada de concreto
Fábio mencionou a seguinte questão: “Sabe-se que existe um fato e que

não há entendimento concreto sobre ele por parte dos diversos aspectos de
conhecimento, sejam eles científicos, políticos, teológicos, filosóficos, etc.
Como esse fato, muitos enigmas são alvos da curiosidade da ciência, que
busca evidências constantemente, porém não as encontra. Nesse sentido,
lembremo-nos das diversas teorias, como a do Big Bang, que está entre as
mais aceitas na atualidade para explicar a origem do Universo, entre outras
teorias, que podem até falar que o universo era eterno e estático. Também
temos a teoria da evolução com relação ao surgimento do homem, porém,
são apenas teorias, não tendo sido definidas de forma concreta.
Portanto, já perceberam que muitos dos acontecimentos que tentam
explicar a origem do mundo e que estão ligados à religião, nem a ciência nem
a filosofia ou outras filosofias conseguem efetivar uma resposta concreta.
Diante disso, esses acontecimentos seriam apenas teorias, correto? Então
por que muitos gostam de afirmar “concretamente” que Deus não existe ou
que o Universo não teve um início, como descrito pelas Escrituras? Para
refletir: quando não se pode provar que Deus existe, também não se pode
provar que Ele não existe. E aí, como ficamos? Ciência e teologia têm coisas
a dizer uma à outra, uma vez que temos a teologia como a verdade encon-
trada e a filosofia como a busca da verdade? As suas preocupações podem
interagir racionalmente?
Esse enunciado tem uma característica definida, são questionamentos
para reflexão, para pensar sobre a nossa fé ou como nos comportamos com
relação à fé do outro. Sim, é possível que a ciência e a teologia tenham coisas
a dizer uma à outra, considerando que ambas têm um propósito compa-
tível, ou seja, a própria “verdade”. Considerando que muitas perguntas não
são respondidas pelas categorias de conhecimentos existentes, a verdade,
dependendo das circunstâncias, pode estar com uma ou com outra e
assim sucessivamente.
31
Faça valer a pena
1. Uma das primeiras questões que surge quando se fala em fé e razão é

se ambas são compatíveis ou não. Se refletirmos no Livro Sagrado (Bíblia),
perceberemos que esses dois termos são ferramentas importantes para
a existência humana. Considerando essa concepção e refletindo sobre o
assunto, é possível perceber o quanto essas duas ferramentas são necessárias
em nossas vidas.
Nesse contexto, sobre a razão, assinale a alternativa correta.
a. A razão nos permite chegar a conclusões e explicações a partir das emoções.
b. Na razão pensa-se em algo lógico, que se fundamenta em uma
situação possível.
c. A razão é algo que se posiciona a favor das emoções.
d. A razão não é algo que se realiza por meio de argumentos e de abstrações.
e. A razão é particularmente associada apenas aos estudos filosóficos.
2. Uma personagem do filme Contato teve uma experiência que não pôde
provar, mas reconheceu, assim como os céticos, que no mundo alguma coisa
é maior que nós mesmos. Do roteiro do filme, dá para entender que embora
haja uma dicotomia entre a teologia e a ciência, e que embora a crença de
um seja diferente da crença do outro, a meta é uma só: a busca da verdade.
No resultado de seus objetivos, as duas crenças se igualam. Nesse contexto,
analise a afirmativa a seguir e complete as lacunas:
Para a ciência, quando não se tem a explicação comprovada para algo, dá-se
o nome de ____________ para explicar o que não pode ser explicado. No
Entanto, a ciência e a teologia têm coisas a dizer uma à outra, uma vez que
temos a teologia como a ____________ e a filosofia como ____________.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.
a. reflexão momentânea / a busca da verdade / incertezas contínuas.
b. comprovação suspeita / verdade encontrada / dados improváveis.
c. remissão espontânea / verdade encontrada / a busca da verdade.
d. dados improváveis / a busca da verdade / comprovação suspeita.
e. resultado lógico / remissão espontânea / verdade encontrada.
32
3. No que tange à discussão sobre fé e razão, teologia e ciência, fortale-
ce-se a ideia, por meio da qual podemos analisar os contrapontos quanto à
relação entre os dois temas – razão e fé – no pensamento medieval; na Idade
Moderna; nas reformas religiosas e a fé e ciência nos dias atuais. Portanto,
refletimos a hipótese de que ambas são compatíveis, pois existem muitos
contrapontos sobre essa temática, e o importante é que nossos amigos que
começaram essa discussão, embora, num primeiro momento, defendam suas
concepções, ainda assim estejam abertos a buscar o conhecimento sobre essa
relação tão mencionada em nossos dias. Sobre o texto, analise as afirmativas
a seguir:
I. A fé racional é o que nos permite refletir sobre a compatibilidade
com a razão.
II. O conflito da relação entre fé e razão ocupou os pensadores cristãos
na Idade Média.
III. A teologia surgiu com o propósito de explicar e substanciar os
textos históricos trazendo-os para uma reflexão mais “científica”,
mais racional.
IV. A teologia surgiu para fundamentar e debater alguns temas, explicar
alguns enigmas que são difíceis de explicação perante a razão
humana.
Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:
a. I e II, apenas.
b. II e III, apenas.
c. III e IV, apenas.
d. I, II e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.
33
Seção 3
A igreja e a sociedade
Diálogo aberto
Vamos iniciar esta conversa sobre a importância da comunicação, do
diálogo entre as pessoas. Como exemplo, podemos citar o encontro dos
amigos. Vamos relembrar os nossos personagens? Pedro está concluindo o
curso de Filosofia e não acredita muito na ciência, Lúcio defende a ciência
e Fábio está fazendo Teologia e acredita na possibilidade de relação entre
ciência e religião. Veja que, ao fazerem questionamentos, embora tendo
pensamentos distintos, tiveram respeito um pelo outro, e de forma sábia,
desafiaram-se a buscar conhecimentos sobre o assunto debatido. O diálogo é,
muitas vezes, a solução de muitos conflitos. O que poderia ser constrangedor
inicialmente se tornou um momento de descontração e de aprendizagem.
Portanto, após um debate entre amigos, permeado de oposições e conflitos
que se originaram pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos
empíricos e pela relação entre igreja e sociedade, que mudou muito ao longo
da história do cristianismo de acordo com as diferentes denominações cristãs,
é sempre possível fazer uma releitura, repensar concepções e se atualizar para
se compreender as circunstâncias que se apresentam constantemente.
São exatamente esses contrapontos que tentaremos compreender a partir
das seguintes indagações: a partir dessa relação com a igreja, é possível o
desenvolvimento da sociedade? Ou seja, o desenvolvimento da sociedade foi
influenciado por esses contrapontos que existiram e existem até hoje? Para
isso, veremos a Teologia Contextual, a Teologia Política e os desafios e o papel
da igreja hoje.
Assim como na Teologia Contextual analisamos os princípios da Bíblia
para além do contexto cultural, para chegarmos à compreensão, também
precisaremos olhar para além do que nos parece óbvio, pois como dizem os
filósofos, nem tudo que aparenta ser no primeiro plano é, de fato. É preciso
que demonstremos um grau de maturidade e que nos coloquemos no lugar
do outro para, então, nos relacionarmos de forma saudável. Aliás, esses são
comportamentos que devem acompanhar qualquer profissional, principal-
mente o Teólogo. As contradições muitas vezes nos forçam a sair da nossa
zona de conforto ou das nossas verdades absolutas para olharmos outras
possibilidades e aumentar nossa área de conhecimento.
34
Não pode faltar
Notamos neste debate entre amigos permeado de oposições e conflitos

oriundos de uma contradição entre os princípios teóricos e fenomênicos que
a relação entre a Igreja e a sociedade mudou muito ao longo da história do
cristianismo de acordo com as diferentes denominações cristãs. Em toda a
história do cristianismo, a relação entre a igreja e a sociedade perpassaram
por profundos conflitos, pois é possível perceber essas oposições entre ambas
durante as perseguições do Império Romano e outros acontecimentos ao
longo da história.
Para respondermos as seguintes indagações sobre o desenvolvimento
da sociedade a partir desta relação com a igreja e se o desenvolvimento da
sociedade foi influenciado por esses contrapontos que existiram e existem até
hoje, temos que observar alguns contextos históricos.
É impossível olhar para a história da humanidade e não relacioná-la à
própria história do cristianismo ou da religião, pois ambas se relacionam.
Houve uma tolerância religiosa nos movimentos cristãos nos primeiros
anos de sua existência, ou seja, os romanos não se preocuparam em seguir o
cristianismo nascente porque achavam que ele fosse apenas mais uma “seita
judaica”, mais um movimento que surgiu ali por alguma discórdia religiosa e
que não iria representar qualquer perigo a eles.
De acordo com o Novo Testamento, mais precisamente no Atos dos
Apóstolos e também nas Epístolas aos Gálatas, vemos os registros das
primeiras comunidades da Igreja Cristã. (Igreja que queria dizer “Reunião”).
Essa etapa da história ocorreu aproximadamente nos Séculos I, II, III e no
início do Século IV.
Porém, desde as primitivas comunidades cristãs, muitas outras doutrinas
surgiram, o que se deu em plena expansão do Império Romano. Os cristãos,
nesse período descrito acima, foram perseguidos por vários Imperadores, e
entre os primeiros, encontra-se Nero. A religião cristã só deixou de ser perse-
guida no Século IV, a partir do ano 323, pelo Imperador Constantino.
O Imperador, que se considerava uma figura religiosa máxima de seu
Império, começou a ver as demais “religiões” como prejudiciais ao seu poder
absoluto, portanto, as comunidades cristãs começaram a ser perseguidas.
Por que o Cristianismo é tão importante quando falamos de sociedade?
Porque, muitas das ocorrências devem-se à sua interferência. Essa crença
desempenhou um papel importante para o controle, por exemplo, de sacri-
fício humano, a escravidão, poligamia, infanticídio, o divórcio, incesto,
35
infidelidade, controle da natalidade, aborto, criminalidade e muitas outras
situações que, muitas vezes, são despercebidas pelo mundo com relação aos
feitos da igreja. Essas questões são frequentemente temas que a sociedade
busca controlar para que ela mesma não entre em estado de anomia.
A Igreja, ao interferir na vida social e política dos estados antigos, depois
na idade média, renascimento, modernidade e pós-modernidade, traz para
dentro do contexto social a moral Cristã, que, por diversas vezes, tende a
controlar os impulsos humanos, regulando, dessa forma, a ética e moral social.
Reflita
Imagine que desde o começo do mundo a religião fosse ausente ou
não existisse. Como seria o modelo de conduta das pessoas na sua
interação em meio à sociedade. Percebe-se hoje a influência da fé cristã
nos ordenamentos jurídicos, na declaração da ONU, na Declaração
dos Direitos Humanos, etc. Enfim, os preceitos cristãos tiveram e têm
até hoje a influência no modo de vida social, político e econômico. Os
mandamentos tiveram como princípio direcionar as pessoas para um
comportamento correto, mas se essa influência não existisse, se nada
tivesse acontecido em termos de religião, como seria o mundo, a vida
em sociedade? Nesse sentido, podemos refletir a importância e o papel
da igreja na sociedade.
Quando falarmos de anomia, lembremo-nos do sociólogo francês Emile

Durkheim (1858-1917): seu conceito significa ausência ou desintegração das
normas sociais.
A igreja tem um papel preponderante que influencia e ajuda de forma
considerável no controle dessas questões. Qual era o objetivo desse conceito?
Descrever as patologias sociais da sociedade ocidental moderna, raciona-
lista e individualista considerando, principalmente as condições que vive a
sociedade hoje, com o acelerado processo de urbanização, falta de solidarie-
dade e as novas formas de organização social, e não podemos deixar, ainda,
de mencionar a influência da economia na vida das pessoas, o que implica
dizer que a cada momento da história, a sociedade se identificava com algum
tipo de anomia que se ampliavam conforme o desenvolvimento das cidades.
Nesse sentido, a sociedade necessita cada vez mais do envolvimento e da
participação de cada instituição, inclusive e principalmente do Estado, que
não deve eximir de suas responsabilidades.
De acordo com Durkheim (apud BARBOZA, 2015, p. 82), “a sociedade é
semelhante a um corpo vivo, é composta de várias partes, cada parte cumpre
uma função em relação ao todo”. Analisando o Quadro 1 a seguir, podemos
36
fazer um exercício de verificação a respeito de qual função cada uma das
instituições ali nomeadas cumpre para o bom funcionamento da sociedade.
Quadro 1.1 | As Instituições
Família Religião Trabalho Escola
Exército Leis Governo Lazer
Fonte: Barboza (2015, p. 83).
Apresentaremos a seguir algumas das funções de cada instituição:

Família: formador social de opinião e conceitos. A sua importância está
em transmitir os primeiros valores. A convivência familiar nos faz absorver
as regras de comportamento e maneiras de pensar.
Escola: da mesma forma, a escola, com todas as suas normas que
envolvem os critérios de avaliação de desempenho, os horários, a convivência
com professores e outros profissionais, educa, forma e prepara o indivíduo
em sociedade ensinando normas, regras aquilo que se espera do indivíduo
no meio social, bem como afirma uma perspectiva de futuro para as novas
gerações de crianças e jovens.
Religião: as igrejas possuem uma coesão social bem estruturada e tendem
a se ajustar aos valores da sociedade. A religião é formadora de opinião social
e reguladora de normas junto ao Governo. Ela traz para dentro do contexto
social a moral Cristã, que, por diversas vezes, tende a controlar os impulsos
humanos, regulando, dessa forma, a ética e a moral.
Trabalho: Para Durkheim, a Divisão Social do Trabalho, que é típico das
sociedades modernas, leva à coesão social – os laços de interdependência
funcional entre os indivíduos. são fatores que unem os indivíduos numa
sociedade, pois geram um sentimento de solidariedade. Nesse sentido, a
divisão social do trabalho seria responsável por manter a harmonia desse
sistema de órgãos que compõe o organismo.
Exército: de acordo com Weber (1864 – 1920), essa instituição, assim
como a polícia, detém o monopólio do uso legítimo da violência. Ele procura
explicar que o Estado é a única instituição que pode fazer o uso legítimo da
força física e da repressão. Os indivíduos devem aprender a respeitar essa
instituição ou não cometer crimes (contra lei), para não sofrer esta punição,
o objetivo é conter casos de anomia ou conflitos sociais.
Governo: o Estado não é apenas um agente de poder, o Estado é também
um agente moral, que estando também inserido na Divisão Social do
Trabalho, desempenha funções sociais que ultrapassam a questão política per
se. Como no desenvolvimento no exercício da cidadania, cuidando da vida
37
pública para além da política, como a saúde da comunidade, educação, meio
ambiente, etc.
Lazer: o lazer é ócio, é o descanso, fundamental para o desenvolvimento
psicossocial dos indivíduos.
É claro que, por outro lado, é possível ajudar moldar ou modificar as
instituições. Os movimentos sociais, por exemplo, contribuem para que o
Estado garanta um direito do cidadão.
Exemplificando
Independentemente da denominação religiosa, as igrejas têm um papel
fundamental na estruturação de uma sociedade. Há muitos países
cujo descaso com a população e com a qualidade de vida das pessoas
é imenso, mas temos na Igreja a esperança de uma melhor situação,
pois a igreja ensina, cuida, orienta, incentiva as pessoas a se libertarem.
Além de orientar as famílias, governos e estruturas sociais, o papel da
igreja é dar uma formação humana, desenvolvendo nos jovens e adultos
seus principais atributos e dons, algo que é característico de cada ser
humano. As suas missões têm por objetivo cuidar e instruir as comuni-
dades locais por meio da caridade, papel exercido por nosso Senhor
Jesus Cristo e confiado aos seus seguidores. As missões possuem um
engajamento social, exercendo atividades públicas em países onde
a educação, o alimento e os cuidados mínimos são escassos. Nesse
cenário, o Cristão pode exercer sua missão evangélica, como instruir,
comunicar, cuidar e anunciar o Reino de Deus.
A partir disso, vamos refletir mais sobre a religião, qual é a sua função
social enquanto uma instituição que participa do todo social. É possível
notar que a igreja, além de sua importância individual, enquanto instituição
pertencente ao corpo social, também tem algum tipo de participação ou
influência em cada uma dessas outras instituições.
38
Figura 1.3 | Igreja e Sociedade
Fonte: Pixabay.
Se observarmos as leis, vamos perceber que os conceitos de religião e

direito, por exemplo, sempre estiveram interligados de alguma forma durante
a história. Agostinho de Hipona (354 d.C.-430 d.C.), que foi um dos mais
importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos, dizia que a justiça
era dita como humana e divina, em que a lei humana se inspiraria na divina.
Nesse sentido, embora do ponto de vista cultural, uma das maiores
mudanças das sociedades ocidentais nos últimos anos foi a secularização do
Estado deparando-se, vez e outra, com algum fato entre religiosos e secula-
ristas no âmbito jurídico. Como já vimos anteriormente em nossa reflexão, é
constante a influência da fé cristã nos ordenamentos jurídicos, na declaração
da ONU, na Declaração dos Direitos Humanos, etc. É possível perceber que
nos preâmbulos da Constituição brasileira, há a invocação de Deus como
garantidor dos direitos.
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em

Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado
democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar,
o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
39
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida,
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus,
a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.
(BRASIL,1988, p. 1; grifo nosso)
Existem algumas instituições sociais nas quais podemos notar com maior
profundidade a influência da moral cristã e de seus atos evangélicos; tais
instituições não tiveram influências somente no período em que o Império
romano dominou, mas também, na Idade Média, período em que o cristia-
nismo exerceu seu poder em todas as instituições sociais. Depois, nos outros
períodos da história humana, com menos influência, ainda conseguiu
manter a questão da moral como modelo a ser seguido pela sociedade até
nos dias atuais.
Não podemos nos esquecer de que a influência do cristianismo ainda se
dá fortemente por meios das obras sociais em vários continentes.
Figura 1.4 | Mensagem Cristã: liberdade
Fonte: iStock.
A mensagem cristã expressava a ideia de que não haveria mais distinção

entre senhor e escravo, ideia de igualdade e liberdade em um mundo
40
desigual, portanto, muitos se convertiam por meio da pregação cristã. Da
mesma forma, os soldados que estavam nos constantes combates, porém ao
se depararem com a mensagem falando de paz, propondo um mundo sem
guerra, um mundo com novas relações sociais e em consequência disso, tinha
esperança de um mundo novo, convertiam-se ao cristianismo. Um outro
grupo importante que vai ser atraído pela mensagem cristã são as mulheres.
A mulher era extremamente descriminada ainda no contexto greco-romano,
além de pouquíssimo espaço , não era alfabetizada e vivia em submissão dos
pais, a princípio, e depois do marido, conforme menciona Menezes e Proença
(2016, p.10):
O valor dado à mulher é outro aspecto marcante no

contexto das primeiras comunidades cristãs. No ambiente
judaico havia se formatado, desde os tempos vétero-tes-
tamentários uma mentalidade patriarcal com absoluta
superioridade do homem sobre a mulher. Exemplo disso,
era o rigor com que a Lei religiosa se impunha em relação à
mulher, sendo, por isso, sua participação nos cerimoniais e
cultos legada a uma condição de inferioridade e submissão.
Durante as cerimônias religiosas havia espaços próprios e
limites para a sua restrita participação, sendo obrigada,
inclusive, a permanecer em silencio durante o evento. Na
filosofia grega, à época, também não era muito diferente: a
liberdade era atributo do homem. Platão e Xenofonte, por
exemplo, armavam que as mulheres haviam sido criadas
exclusivamente para trabalhos domésticos.
A mensagem cristã que levou alívio e esperança às mulheres e aos

escravos está em Gálatas 3: 38, “em Cristo não há mais distinção entre senhor
e escravo, entre judeus e gentios e nem entre homem e mulher”. Sendo assim,
o cristianismo valorizou o papel da mulher no meio social, entregando a
ela uma liberdade que até então não havia sido experimentada por outras
crenças monoteístas. Como a igreja proibia o aborto, e acolhia as crianças
abandonadas, e em consequência disso praticava também ações de acolhida
às mães que precisavam de apoio. Todas essas atitudes atraiam as mulheres,
que se convertiam por meio da prática e das mensagens cristãs.
Esses são apenas alguns dos aspectos importantes de influências do cristia-
nismo. Devemos lembrar que o cristianismo não se restringe à civilização
ocidental, os cristãos também têm desempenhado um papel de destaque nos
recursos de desenvolvimento da civilização islâmica.
41
É natural que muitas pessoas despidas das virtudes e dos aconteci-
mentos proporcionados pela fé cristã nos primeiros séculos não consigam
relacionar a importância da igreja com sua função social no mundo de hoje.
Até naquele momento da história, diante de tais acontecimentos, naturais
ou sobrenaturais, muitos se mantiveram em suas incredulidades, mas como
podemos converter essa transição dos acontecimentos e dos ensinamentos
dos primeiros séculos para a contemporaneidade? O que implica esse enten-
dimento é a questão do “tempo”, da “cultura” e do “desenvolvimento”. Nesse
contexto, podemos afluir à Teologia Contextual, que é uma filosofia cristã.
Aqui, pode-se observar os princípios da Bíblia para além de seu contexto
cultural. Teologia contextual se trata de teologia a partir de um contexto ou
para um contexto.
Exemplificando
Na Teologia Contextual pode-se observar vários pontos de vista, como
as “práticas seculares” para fins cristãos, e determinar como os princí-
pios bíblicos podem ser aplicados a elas, por exemplo: como os princí-
pios bíblicos se aplicam às novas tecnologias. Considere que na cultura
de origem as tecnologias não existem. Nesse sentido, a Teologia Contex-
tual procura encontrar os princípios subjacentes dos ensinamentos
bíblicos e aplica-los à cultura moderna, às novas situações, fruto do
desenvolvimento que, na época, eram inexistentes.
Conforme observamos nas palavras de Conte, (2006, p. 145-176): “A

Teologia também depende do contexto para sua compreensão”. Vemos
também, conforme menciona Santos:
Temos primeiro, o contexto linguístico, pois a teologia lida

com palavras, faladas ou escritas, em uma determinada
língua. Em segundo lugar, temos o contexto histórico, pois
a teologia é realizada em determinadas situações histó-
ricas, sociais, políticas, econômicas e culturais. Em terceiro
lugar, temos o contexto discursivo, pois a teologia reúne as
ideias que a língua expressa em uma determinada situação
histórica para falar sobre Deus às pessoas de determinada
época que são capazes de ouvir e compreender o que ela
diz. Portanto, toda teologia é contextual, isto é, produzida e
recebida em um contexto específico. Estudar uma teologia
é, também, contextualizá-la, ou seja, observar o contexto
de sua produção e recepção. (SANTOS, 2019, p. 1)
42
É importante a teologia ser contextual? Certamente, pois não é difícil
observarmos a compreensão das pessoas ao fazerem uma relação dos
escritos bíblicos com a realidade atual. É possível que escutemos as pessoas
falarem que, o que constam nas escrituras, são escritos para aquela época
ou aquele momento da história e que não servem para os nossos tempos.
Fazendo uma reflexão sobre esse pensamento, vamos perceber que muitas
coisas que existem hoje não existiam na época em que foi escrita a Bíblia.
A teologia contextual nada mais é do que uma conversão daquilo que está
escrito nas escrituras para a realidade atual ou local. É claro que isso não
significa modificar a palavra ou dar outro sentido, mas significa adaptar a
mesma essência para o momento atual.
Entendemos que Teologia Contextual é olharmos para os princípios
bíblicos para além de seu contexto cultural. O que isso significa? Certos
momentos históricos da Bíblia são considerados universais, ou seja, o que
aconteceu na época em que foi escrita serve da mesma forma para os dias
atuais, são relevantes a todos os povos e a todas as culturas. No entanto,
outros acontecimentos daquela época são puramente culturais, aplicando-se
apenas na cultura original, o que, de certa forma, não faz sentido nos dias de
hoje. Mas nesse caso, a interpretação deve ser direcionada para a essência dos
acontecimentos daquele momento, naquela cultura. Quais foram as atitudes
tomadas, quais os resultados, quais as consequências. As performances
desses ideais são as mesmas para qualquer cultura individualizada, e nesse
caso, não depende de tempo e nem de época.
É nesse sentido que, por falta de entendimento, as pessoas enfatizam que
a teologia tradicional está fora da realidade ou mencionam a bíblia como
um livro velho sem conexão com os dias de hoje. A importância da Teologia
contextual está na sua função mediadora entre a fé cristã e a realidade
humana. Existe, pois, um grande número de contextos que podem tomar-se
relevantes para a reflexão teológica, ainda que sejam temas da modernidade
que não se encontravam nos escritos bíblicos; para uns, as ciências naturais,
a situação existencial dos indivíduos, e para outros, os encontros ecumênicos
das igrejas. Ainda que uma teologia possa corresponder melhor às preocu-
pações de sua época em relação a outras épocas, ela jamais estará fora de
contexto, a não ser que alguém se torne dono absoluto da verdade. Essa
ideia se aplica não apenas a uma determinada religião, mas também a outras
dentro dessa mesma essência.
Assimile
É claro que toda ação tem uma reação. Quando se trata de religião, de
crença, fé, temos que tomar cuidado com a interpretação. É preciso ter
43
discernimento, perceber a coerência constantemente, pois a vida é um
dom, é algo especial. Os ensinamentos devem direcionar a pessoa para
algo que valorize a vida e não a prejudique, pois a palavra de Deus é a
mesma, ontem, hoje e sempre.
Uma reflexão importante que se deve pensar é que nem tudo que
denomina “teologia” é de fato uma teologia refinada, concreta, verdadeira.
Temos que lembrar primeiro que “conhecimento” e “prática” têm que estar
alinhados, e isso independe de qual crença estamos falando, cada qual na
sua fé, no seu entendimento. Um dos grandes obstáculos da igreja hoje
são os cristãos malformados, aqueles que desconhecem a história, os quais
podemos chamar de analfabetos bíblicos. Muitos são moldados mais pela
ideologia que impera na sociedade do que pela ortodoxia teológica; assim,
como a doutrina é o alicerce da prática cristã, para cada crença um alicerce
deve ser tomado como fator de entendimento.
Um dos grandes desafios da igreja na atualidade, com o advento da
tecnologia, está no fato de alguns homens de determinadas religiões, sejam
evangélicas, católicas ou todas as demais crenças, ao ganharem espaço na
mídia, dar ênfase às suas posições pessoais; a generalização é estabelecida,
assim, na concepção de quem analisa, pois aquele que está falando de si ou
de suas concepções pessoais, é entendido como se fosse representado ali por
todas as demais religiões.
Outro grande problema que vive a igreja hoje são os “pré-conceitos”,
provenientes da secularização cada vez mais do Estado e das pessoas a todos
aqueles (igrejas) que não se submetem aos rituais, aos dogmas e às leis que
foram estabelecidas. Assim, os temas polêmicos muitas vezes rotulados
ameaçam a liberdade religiosa. Porém, por outro lado, há aqueles “represen-
tantes religiosos” que dão ênfase às suas concepções pessoais e intolerantes
que acabam por desrespeitar o outro. Nesse contexto, o respeito deve estar
inserido nos seus limites. O respeito ao outro, além de ser um comporta-
mento válido para todas as pessoas, deve ser um dos primeiros fundamentos
de um líder religioso, de um teólogo ou qualquer estudioso do tema.
Um assunto importante para a continuação de nossa análise é o que
chamamos de Teologia Política. Se considerarmos que no mundo secular o
termo Política é utilizado como um conjunto de regras ou normas de uma
determinada instituição ou também considerando o relacionamento de
diversas pessoas para se atingir um objetivo comum, fazendo uma breve
comparação, seria plausível tirar dessa essência um possível significado ou
uma nova interpretação do termo “Teologia Política”. Por exemplo, como
é definida a política de trabalho de uma empresa? É definida pela visão,
44
missão, valores, compromissos com os clientes, fornecedores, etc. Não teria
a Teologia também sua visão, sua missão, seus valores e seus compromissos?
Vejamos alguns aspectos: tanto no iluminismo quanto no Marxismo,
expressões maiores da modernidade, há um rompimento da unidade entre a
religião e sociedade. Porém, nesse período, muito se tem visto os contrastes e
a forma de ser da religião se comparada com a verdade bíblica.
Diante de tantas contradições e ainda somadas ao fato de que o mundo
está cada dia mais secularizado, partindo dessa concepção, é necessário que
a “teologia” se desprenda de seu passado conservador, não necessariamente
da “verdade bíblica”, como já mencionada, embora conservando a essência,
porém, inovando e se adaptando às novas realidades sociais. Assim como o
mundo se desenvolve rapidamente, a teologia precisa praticar uma ação mais
transformadora, mais eficaz, acompanhando o desenvolvimento humano. Se
considerarmos a palavra “política” de forma isolada, ela tem como signifi-
cado a busca do bem comum, a constituição da cidade. A teologia Política
não pode fugir dessa mesma essência, embora muitos outros autores ou
teólogos poderão criar situações distintas de acordo com suas concepções,
como podemos verificar desde o surgimento desse termo. Atualmente,
ouvimos falar da Nova Teologia Política como sendo diferente, por exemplo,
da antiga Teologia Política, que é tão antiga quanto o próprio cristianismo, no
entanto, surgiu fora do contexto cristão. Apenas a partir do século XX o seu
uso foi estritamente cristão.
A expressão Teologia Política é recordada na Idade Média

apenas como “um dos muitos erros do paganismo” [...] E,
embora seja utilizada nos séculos XVI e XVII para “indicar
as matérias comuns à administração religiosa e política”,
referindo-se “a um dos vários campos de ação da autori-
dade do príncipe” [...], só será retomada e desenvolvida
de modo positivo a partir do século XIX em ambientes
católicos conservadores e contrarrevolucionários (Bonald,
De Maistre, Cortés, Schmitt etc.) e, em sentido contrário
e agora estritamente teológico, na segunda metade do
século XX com a “nova teologia política” [...] (THEOLOGICA
LATINO AMERICANA, 2019, p.1).
Conforme compreende Metz, (1969, p. 111) “A teologia política esfor-

ça-se por determinar, a partir de um novo ponto de vista, a relação entre
religião e a sociedade, entre a igreja e o público social, entre a fé escatológica
e a práxis social”.
45
Veja bem! A teologia tem a sua visão, a sua missão, os seus valores e seus
compromissos, assim como qualquer política de uma instituição, seja ela
pública ou privada, portanto, a Teologia Política tem essas mesmas caracte-
rísticas. Qual deveria ser a sua visão? Ser reconhecida, entendida e compreen-
dida pelas pessoas. Já a sua missão é levar as pessoas a conhecerem a palavra
de Deus e crer nos ensinamentos a ela proferidos. Sua missão é transformar a
vida das pessoas ao revelar o que é uma vida saudável espiritual e fisicamente,
tanto para o indivíduo quanto para uma vida em comum, em sociedade.
Para GIBELLINE (1998, p. 303): a Teologia Política “quer que a palavra
cristã se torne uma palavra socialmente eficaz. Ela procura categorias
que não sirvam apenas para iluminar as consciências, mas também para
transformá-las”.
Sem medo de errar
A proposta lançada entre os amigos para aprofundar os estudos e desafio

aceito. Eles resolveram, de forma sábia, pesquisar mais sobre o assunto discu-
tido, uma vez que adquiririam mais conhecimento e não ficariam presos em
suas verdades. Pedro já concorda sobre a importância da ciência, assim como
Lúcio em seus estudos percebeu que é possível a relação entre Teologia e
Ciência, conclusão essa que já havia sido feita por Fábio, que é estudante
de Teologia.
Numa situação mais ampliada e tomando gosto pelos estudos, Pedro,
Lúcio e Fábio resolveram escrever um artigo ao perceber que a relação Igreja
e Sociedade mudou muito ao longo da história do cristianismo de acordo
com as diferentes denominações cristãs. Suas pesquisas partiram de duas
indagações: a partir dessa relação, é possível o desenvolvimento da socie-
dade? Ou seja, o desenvolvimento da sociedade foi influenciado por esses
contrapontos que existiram e existem até hoje?
Ao fazerem uma pesquisa in loco em uma comunidade, conheceram
Renata, moradora há anos da comunidade, a poucos metros de uma igreja.
Ela relatou todas as ações da igreja com os moradores do bairro, portanto,
Pedro, Lúcio e Fábio tiveram um entendimento mais fiel à realidade social.
Renata, que é professora da escola dominical, os fez entender que a igreja
não é apenas uma instituição, mas é uma associação de pessoas, é um corpo
vivo, possuidora de sentimentos humanos e espirituais. Igreja não é prédio,
nem paredes, uma igreja é formada por pessoas, não por construções físicas
(templos). Portanto, igreja e sociedade se misturam, relacionam-se mutua-
mente. E esse espaço delimitado da pesquisa foi o suficiente para perceberem
que ao longo da história do cristianismo, a religião passou de perseguida à
46
oficial do Império Romano, e foi exatamente aqui que ocorreram e se funda-
mentaram os principais fatos. Portanto, independentemente de termos ou
não uma crença religiosa, é importante conhecermos a origem do cristia-
nismo, pois ele tem influenciado a história da humanidade.
Ao mencionar as ações práticas da igreja que beneficiam a comunidade,
Renata fez referência à importância das instituições e do papel de cada uma
na sociedade. Como exemplo, citou que a igreja local tem uma importância
muito grande para os moradores do bairro. A Igreja cuida, ensina e orienta,
ajuda as pessoas a se libertarem, tem creche na cidade, desenvolve talentos
musicais, habilidades manuais, arte, dá sentido à vida, trabalha em missões
ajudando as comunidades carentes, tanto no Brasil quanto fora dele, e tem
programas de ajuda aos moradores de ruas, ou seja, tem uma participação
ativa, ajuda no desenvolvimento da comunidade.
O cristianismo é importante para a sociedade porque desempenhou um
papel importante tanto local como geral. Como já estudamos, influenciou
a extinção de sacrifício humano, a escravidão, a poligamia, o infanticídio, o
divórcio, o incesto, a infidelidade, o controle da natalidade, o aborto, a crimi-
nalidade e muitas outras categorias sociais tanto para os escravos, soldados e
mulheres quanto para a sociedade em geral. Neste sentido, foi verificado que
a partir da relação Igreja e Sociedade houve a colaboração para o desenvol-
vimento social, ou seja, o desenvolvimento da sociedade foi influenciado por
esses contrapontos que existiram e existem até hoje, ainda que amenizados.
Como relacionar teologia contextual com a nova

teologia política?
A teologia não é apenas contextual, mas feita a partir de diálogo entre

diferentes contextos de vida, portanto, a ação aqui apreendida é em sua
essência política para se atingir o objetivo comum e o entendimento,
independentemente do tempo em que ela foi realizada. Se de um lado temos
Metz, que diz que a Teologia Política (1969, p.111) “se esforça por deter-
minar, a partir de um novo ponto de vista, a relação entre religião e a socie-
dade, entre a igreja e o público social, entre a fé escatológica e a práxis social”,
do outro lado temos Gibelline (1998, p. 303) afirmando que “a Teologia
Política quer que a palavra cristã se torne uma palavra socialmente eficaz.
Ela procura categorias que não sirvam apenas para iluminar as consciências,
47
mas também para transformá-las”. Com base nessas duas afirmações, como
podemos relacionar a Teologia Contextual com a Teologia Política?
Considerando que uma das questões relacionadas à teologia contex-
tual é, em suma, uma conversão daquilo que está escrito nas escrituras
para a realidade atual, pois muitos dos acontecimentos na história primi-
tiva é decorrente da cultura de origem e que serve, aparentemente, apenas
para aquele momento da história, a Teologia Contextual vai proporcionar
o entendimento dos princípios bíblicos para além do seu contexto cultural,
o que vai proporcionar um melhor entendimento a partir de um novo
ponto de vista, não somente dos acontecimentos universais, mas também
converter a essência da ação de uma determinada cultura para a realidade
atual. A contextualização vai proporcionar um entendimento mais amplo,
já que “a Nova Teologia Política entende o mundo como realidade social
em um processo histórico” (METZ, 1997, p. 15). Nesse sentido, a relação
entre Teologia Contextual e a Nova Teologia Política vai proporcionar um
diálogo positivo com a modernidade. Os fatos históricos são pensados na
concretude do mundo e não somente relacionados com questões de ordens
metafísicas. Portanto, se um lado a Nova Teologia Política tem uma função
positiva que consiste em explicitar e desenvolver as implicações sociopolí-
ticas da mensagem cristã no contexto de uma sociedade moderna, por outro,
a Teologia Contextual, considerando a pluralidade hermenêutica, tem como
função encurtar a distância cultural, cronológica e linguística, bem como
tentar ver os princípios bíblicos para além de seu contexto cultural, ou seja,
um dos seus aspectos é verificar quais das afirmações bíblicas referentes à
cultura de origem podem ser aplicadas ou adaptadas à cultura moderna.
Faça valer a pena
1. O Cristianismo desempenhou um papel importante para o controle,

por exemplo, de sacrifício humano, a escravidão, poligamia, infanticídio, o
divórcio, incesto, infidelidade, controle da natalidade, aborto, criminalidade e
muitas outras situações das quais o mundo ignora tal influência. A sociedade
busca controlar essas questões com frequência para que não entre em estado
de anomia. Ao falarmos do conceito de anomia, lembremo-nos do sociólogo
francês Emile Durkheim (1858-1917): tal conceito significa ausência ou desin-
tegração das normas sociais. Nesse sentido, a igreja tem um papel preponde-
rante que influencia e ajuda no controle de forma considerável essas questões.
Quanto ao objetivo desse conceito, assinale a alternativa correta:
48
a. Perceber as condições entre Solidariedade Mecânica e Orgânica.
b. Observar a forma como ocorre as interações sociais.
c. Descrever as patologias sociais da sociedade ocidental moderna.
d. Identificar as ações contraditórias da teologia entre Idade Média e
Moderna.
e. Controlar os impactos negativos proporcionados pelas seitas.
2. É natural, que muitas pessoas despidas das virtudes e dos acontecimentos

proporcionados pela fé cristã nos primeiros séculos, não consigam relacionar
a importância da igreja e sua função social no mundo de hoje. Até naquele
momento da história diante de tais acontecimentos , sejam eles naturais ou
sobrenaturais, muitos se mantiveram em suas incredulidades. Mas como
podemos converter essa transição dos acontecimentos e dos ensinamentos
dos primeiros séculos para a contemporaneidade? O que implica esse enten-
dimento é a questão do “tempo”, da “cultura” e do “desenvolvimento”.
Nesse contexto, referimo-nos à Teologia:
a. Contextual.
b. Histórica.
c. Sistêmica.
d. Dogmática.
e. Natural.
3. Em toda a história do cristianismo, a relação da igreja com a sociedade

passou por profundos conflitos, e é possível percebermos essas oposições
durante as perseguições do Império Romano e outros acontecimentos ao
longo da história.
Para respondermos as seguintes indagações sobre o desenvolvimento da
sociedade a partir dessa relação com a igreja ou se o desenvolvimento da
sociedade foi influenciado por esses contrapontos que existiram e existem
até hoje, temos que observar alguns contextos históricos. Conforme o estudo
sobre a Igreja e Sociedade analise as afirmativas abaixo:
I. O Imperador que se considerava uma figura religiosa máxima de seu
Império começou a ver as demais “religiões” como prejudiciais ao
seu poder absoluto, passando a perseguir as comunidades cristãs.
49
II. Se observarmos as leis, vamos perceber que os conceitos de religião e
direito, por exemplo, sempre estiveram interligados de alguma forma
durante a história;
III. Existem algumas categorias sociais nas quais podemos perceber com
mais profundidade a influência do cristianismo que foi importante
não só no mundo romano, mas que pode ser vista até hoje.
IV. Sobre o contexto discursivo, a teologia reúne as ideias que a língua
expressa em uma determinada situação histórica para falar sobre
Deus às pessoas de determinada época que são capazes de ouvir e
compreender o que é dito.
Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:
a. I e III, apenas.
b. II e III, apenas.
c. I e IV, apenas.
d. III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.
50
Referências
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SEVERA. Zacarias de Aguiar. Teologia Sistemática I. Extensão Fabapar. 2010, p. 4.

Unidade 2
A natureza e função da teologia
Convite ao estudo
Quando se fala em Teologia Natural, já percebemos algo relacionado à
natureza; porém, entre aqueles que não estão familiarizados com o tema,
surge a questão: como provar a existência de Deus a partir da natureza? É
possível? Neste sentido, é importante compreendermos alguns conteúdos
propostos, por exemplo, como entender primeiramente o que é a Teologia
Natural, o testemunho da natureza e da razão humana, a racionalidade da
fé cristã à luz natural da razão. O entendimento desses conteúdos vai nos
levar a compreender o estudo de Deus baseado na observação da natureza,
assim como a função teológica. Conhecer e aprender uma das duas formas
da existência de Deus baseada na regularidade e complexidade do mundo
natural e posteriormente da revelação divina; enfim, perceber qual a impor-
tância da Teologia, considerando o conhecimento sobre Deus por meio da
natureza, a qual nos levará a uma visão ampla e à compreensão do mundo.
É natural nos depararmos com dúvidas e questionamentos, principalmente
no âmbito da teologia, assim como Regiane e Tirza, principalmente consi-
derando que ambas, com base no mesmo assunto, têm opiniões diferentes.
Vamos retomar as opiniões das alunas sobre a Teologia Natural? Regiane é
adepta da Teologia da Natureza; para ela este é um caminho para nos levar
até Deus. Ela acredita que Teologia Natural é ao mesmo tempo o estudo de
Deus baseado na observação da natureza, considerando que a Teologia Natural
envolve a filosofia humana e o raciocínio como meios para conhecer Deus. Ou
seja, é a ligação entre Deus e a humanidade. Para ela, pela natureza é possível
observar a existência de Deus. Tirza tem outra concepção ao considerar a
Teologia Revelada, portanto, para ela, a origem de Deus não se observa pelo
conhecimento do mundo, mas sim pela graça. A intimidade de Deus é revelada
aos homens por meio da trindade (Pai, Filho e o Espírito Santo). E qual é a
sua opinião? Com qual das duas ideias você se identifica mais? Veja que, em
relação à Teologia Revelada, a divergência não é o termo em si, mas sim o fato
de que, para Tirza, não se pode observar Deus por meio da natureza.
Neste sentido, para que possamos entender e solucionar tal abordagem,
é necessário recorrer sempre ao primeiro local de consulta teológica, as
Sagradas Escrituras: nelas poderemos fundamentar todas as discussões,
lembrando-se sempre de que a livre interpretação não fundamentada nos
leva ao risco do erro. Como podemos chegar a esta conclusão? O primeiro
passo é exercitar nossa capacidade de perceber outras possibilidades, de
observar e refletir sobre a natureza. Portanto, neste primeiro momento, o
foco será o estudo da natureza apenas, tentando comprovar por estudos se há
provas da existência de Deus em seus elementos, ou seja, quais são os funda-
mentos que comprovam ou não a existência de Deus. É possível acreditar em
Deus ou provar sua existência usando somente a razão?
Seção 1
Teologia Natural
Diálogo aberto
Nesta seção estaremos aprofundando nosso estudo sobre Teologia
Natural. Para isso, falaremos a respeito do que é Teologia Natural e qual o
seu significado mais específico, considerando a discussão entre a Teologia
Natural e Teologia Revelada. Outro conteúdo importante para aprofundar a
análise de nossa reflexão é o testemunho da natureza e da razão humana, o
qual trataremos, de um lado, das questões relacionadas à natureza, em que
se indaga a possibilidade de se observar a existência de Deus – obviamente
dentro das concepções teológicas – e, de outro, as questões da filosofia, consi-
derando a natureza no seu estado físico – razão e a ciência. Apresentaremos
um breve histórico entre o cristianismo e a filosofia, os quais se revezam no
tempo desde a antiguidade até os dias atuais.
Perpassaremos ainda pela racionalidade da fé cristã à luz natural da razão.
O nosso estudo tem por objetivo instigar você a pensar na seguinte questão: é
possível acreditar em Deus ou provar sua existência usando somente a razão
ou somente a fé? Ou ainda as duas coisas? É possível observar a existência de
Deus por meio da natureza? Ou devemos levar em consideração o pensamento
da Tirza, aluna que mencionou a ideia de que a origem de Deus não se observa
pelo conhecimento do mundo, mas apenas pela graça? Pela graça, é um pensa-
mento que pode ser unânime por todos os que são adeptos ao cristianismo,
independentemente de ser Teologia Natural ou Revelada. O problema, então,
está na questão de se observar a existência de Deus na natureza?
Adentrando nas concepções científicas, faremos um paralelo entre fé e
razão, demonstrando a reflexão de alguns homens da ciência e sua forma de
dialogar com a fé cristã. Considerando que os homens fazem história, procu-
raremos fazer uma breve reflexão sobre a importância de alguns aconteci-
mentos como o Iluminismo, por exemplo, do final da Idade Média para o
tempo atual. Estas reflexões vão proporcionar subsídios para responder aos
impasses apresentados em nossa contextualização sobre Teologia Natural, ou
seja, as indagações proporcionadas pelas alunas do primeiro ano de Teologia,
Regiane e Tirza, com relação à forma de se observar a existência de Deus.
Ainda que a forma de pensar entre as alunas seja distinta, o professor
de Introdução à Teologia propôs que ambas pesquisassem o tema Teologia
Natural, deixando a Teologia Revelada para um outro momento. Neste
sentido, a tarefa era que as alunas deveriam se despir de suas ideias
55
preconcebidas, fazendo com que a análise tenha uma reflexão prévia. Para
tanto, elas deveriam buscar quais são os fundamentos que comprovam ou
não a existência de Deus, tendo como referência as escrituras e livros de
autores que trabalham esse assunto e, posteriormente, fazer uma reflexão
olhando para a própria natureza e refletindo sobre a existência de Deus,
observando quais são os fundamentos que comprovam ou não a existência
de Deus. Então, a partir daí, responder estas indagações: É possível acreditar
em Deus ou provar sua existência usando somente a razão? É possível provar
sua existência por meio da natureza?
A importância de você, aluno, concluir essa tarefa, refletindo se é possível
ou não observar a existência de Deus por meio da natureza, independe de sua
crença e de suas concepções. É a chance de aprofundar sua imaginação no
mundo do conhecimento, exercitar o raciocínio e contemplar novas possibi-
lidades de entendimento.
Não pode faltar
O que é Teologia Natural?

Na interpretação da Teologia Natural, é possível observar significados
diferentes, por pessoas diferentes e em tempos diferentes.
Mas, diante desta contextualização apresentada sobre a discussão entre a
Teologia Natural e Teologia Revelada, vamos conhecer mais profundamente
a Teologia Natural, um pouco de seu significado mais específico, começando
por conhecer a raiz da própria palavra.
Já vimos que teologia é a junção de theos e logia, significando Deus e
Ciência. Por que ciência? Porque é o estudo atento pelo conhecimento de
sua existência, ou seja, saber ou buscar conhecer a Deus, conhecer a sua
existência divina e sua relação com o mundo e os homens. E “natural” é um
termo que pertence ou se refere à natureza. É regido pelas leis da natureza ou
provocado pela natureza. Por tanto, temos como significado geral conhecer a
existência de Deus pela natureza.
Assimile
Se você é aquela pessoa que crê na existência de Deus, que Ele criou o
mundo e os homens, não seria difícil pensar que os traços do criador
estão na própria criação. Você já olhou para o mundo e percebeu que
existe uma ordem cósmica, uma estrutura organizada, harmônica e uma
beleza fantástica? As estrelas, os planetas e o sol que ilumina a terra,
56
não são incríveis? O dia e a noite, ordenados de maneira que durante
a noite as pessoas descansam, e durante o dia levantam, trabalham e
fazem sua história. Você acha que isso é cultural? É possível que tudo
isso venha do nada? Você já percebeu que uma pessoa negativa está
constantemente criticando algo, não tem paz em si, apresenta dificul-
dade em suas conquistas; porém, uma pessoa que tem fé, que acredita
e que pensa positivo se torna uma pessoa persistente, com objetivo de
vida, lutando por aquilo que acredita, tem paz naquilo que busca e que
faz? Pense nisso.
Muito se fala do conflito entre a razão e a fé, certo? Com base no box
Assimile, é possível acreditar em Deus ou provar sua existência usando
somente a razão ou somente a fé? Veja que ao refletirmos sobre a ordem
cósmica, a sua estrutura, harmonia e beleza, não utilizamos a fé isolada da
racionalidade. Não é apenas uma fé emotiva, sem comparar a algo, mas um
raciocínio com base nesse desenho cósmico, nesse conjunto que apresenta
o universo com toda sua existência e harmonia. Quando pensamos com
positividade temos fé, nos é permitida essa aproximação ao Criador, dando-
-nos o sentido de pertencimento, filial. Portanto, quando assumimos a fé,
assumimos cosmicamente a imagem de Deus, nos aprofundamos no “Ser
mais perfeito”, pois nos assemelharemos ao Criador.
Todos os seres humanos têm instinto, o que chamamos de instinto
humano, que é um tipo de inteligência no seu grau inicial, primitivo. No
entanto, as criaturas humanas evoluíram e passaram por várias etapas e,
nesse processo, foram adquirindo sensações e emoções, valorizando cada vez
mais os sentimentos. Portanto, uma das coisas que diferencia o homem dos
animais é o pensamento racional.
Quando o homem, na sua capacidade de escolha – livre arbítrio, podendo
escolher entre o bem e o mal – usa o pensamento e sua fé racional, ele se
aproxima à semelhança de Deus em sua noção de justiça e de moralidade.
Mas quando o homem se distancia do seu pensamento e fé racional e passa
a agir apenas pelo seu instinto, torna-se uma criatura que age pelo impulso
e não por razões nobres, sem o equilíbrio necessário conduzido pela justiça
e pela moralidade. Assim, distancia-se de suas concepções e crenças, permi-
tindo, pela sua liberdade de escolha, as ações que não o levarão a um fim
digno de existência.
57
Exemplificando
Vamos aqui explicar ou analisar a tricotomia do homem, sem levar em
consideração as concepções religiosas ou bíblicas, porém olhando pelo
lado natural do ser humano. O homem é feito de corpo, alma e espírito.
O corpo é a parte tangível, visível e temporal do homem. A alma é o
intelecto que expressa a vida funcional e racional do homem. É o princípio
inteligente que anima o corpo, leva o homem a pensar e a agir com discer-
nimento. Na alma encontram-se vontade, inteligência e o sentimento. E o
espírito? Nesse estágio, o homem encontra-se no auge do discernimento,
está mais amadurecido. Sabe o que quer, e é o que chamamos de “paz
de espírito”. Um aluno, por exemplo, está assistindo a uma determinada
aula, e o que o faz ficar inquieto, levantar, ir ao banheiro, conversar é o
fato de estar este sob a concepção do corpo. O corpo sente cansaço, dor,
sono, inquietações e vontades, porém, qual o objetivo do aluno em estar
ali, na sala de aula? Com certeza é estudar, ter conhecimento. Quando o
aluno está sob a concepção da alma, ou quando ela supera a concepção
do corpo, este vence o cansaço, consegue se manter fiel ao seu objetivo
fim. No estado de espírito, a superação é ainda mais profunda, pois é o
conhecimento, a sabedoria, o fôlego de vida.
Toda essa estrutura humana e natural se relaciona com a própria natureza,

das quais a organização e a harmonia de que falávamos em contexto anterior
demonstram um alinhamento e uma estrutura inteligente de criação.
Partindo daí, questionamos: é possível uma estrutura inteligente surgir do
nada, sem ser moldada por algo superior?
A Teologia Natural, portanto, em uma de suas possíveis análises, consi-
dera como resultado intelectual da tendência natural da mente humana, a
qual deseja ou se inclina em direção a Deus. A humanidade instintivamente
tem a necessidade de buscar algo maior, para além dos limites da razão e da
ciência. Está na própria essência a necessidade de a criatura buscar o criador.
Quando falamos anteriormente do instinto humano, que é um tipo de inteli-
gência e, por consequência, necessária, saibamos que ela não pode estar
isolada do pensamento e da fé racional, pois é este pensamento e fé racional
que proporcionam o equilíbrio da ação humana.
A natureza é o testemunho da existência de Deus? Se olharmos para o
histórico dos acontecimentos, vamos observar diversas situações no tempo,
que ora se unem, ora se repelem, porém nunca se afirmam definitivamente,
porque ambas não podem se tornar independentes. Tanto a natureza no seu
estado físico com as concepções humanas atreladas à razão, ciência, pesquisa,
quanto as concepções teológicas atreladas à fé, questões espirituais, Deus,
58
revezam-se na história, buscando se firmarem como formas de explicar o
mundo. A questão que se coloca é: por que não se afirmam? Provavelmente
porque não existe nada isolado que não seja proveniente da criação de Deus?
Tanto um quanto outro são partes de Deus. A própria ciência, que é fruto da
sabedoria humana, não seria um dom dado por Deus? São questões defen-
didas pelos teólogos e refutadas por muitos cientistas.
Na antiguidade, o cristianismo e a filosofia grega eram duas correntes
que se cruzavam, e a filosofia calcada na razão prevalecia. Já a teologia tem
a sua força na Idade Média, e a filosofia era considerada sua serva (ancilla
theologiae). Neste momento da história, os medievais eram mais teólogos do
que filósofos, porém, esforçavam-se para encontrar uma síntese entre a fé e a
razão. Havia um certo equilíbrio.
No final da Idade Média há um rompimento desse equilíbrio, e a
filosofia torna-se independente da fé e da revelação. Com o aparecimento do
Iluminismo, que surgiu no século XVIII na Europa, a razão será considerada
aqui uma luz contra a escuridão, as trevas. Toda explicação deve ser à luz da
razão, e neste sentido surgem o método teórico-experimental, a ciência e a
observação científica.
Neste contexto entre igreja e ciência, surge a busca do indício de uma
força superior, de algo que ainda não foi entendido, mas que pode explicar a
complexidade do universo. Já é possível ver alguns cientistas, nos dias atuais,
buscando harmonizar essa relação, propondo um certo diálogo entre ciência,
ética e religião:
Allan Sandage, um dos maiores astrônomos do mundo,

declarou que o Big Bang só poderia ser entendido como
um milagre. O físico Charles Townes, um dos inventores
do raio laser e ganhador do prêmio Nobel, disse que suas
descobertas parecem refletir que há inteligência, intenção
e consciência no trabalho da lei da natureza. Até mesmo a
Associação Americana para o Progresso da Ciência promoveu
um diálogo sobre ciência, ética e religião. Já o biólogo Francis
Collins, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas sobre o
Genoma Humano dos EUA, afirma que muitos cientistas
deveriam explorar sua espiritualidade. Cada vez mais, teorias
sobre a existência divina ganham espaço nos meios cientí-
ficos. (ACHCAR; ALMEIDA, 2019, p. 1)
59
Como exemplo da importância da natureza como algo que expressa a
existência de Deus, podemos observar as palavras do físico Charles Townes,
um dos inventores do raio laser e ganhador do prêmio Nobel, quando disse
que suas descobertas parecem refletir que há inteligência, intenção e consci-
ência no trabalho da lei da natureza. Observa-se que o fruto de sua pesquisa
não é algo que surgiu do nada, mas algo que está além de sua capacidade,
se considerarmos a natureza humana puramente destituída de qualquer
evento superior. Neste sentido, o que dizer dos questionamentos que foram
apresentados anteriormente quando das perguntas reflexivas: “não existe
nada isolado que não seja proveniente da criação de Deus?”, e também “a
própria ciência que é fruto da sabedoria humana, não seria um dom dada por
Deus?”? É possível perceber que o físico Charles Townes teve a sabedoria de
observar que nada provém do próprio homem de forma isolada, mas que há
uma força maior, que há, como ele mesmo disse, uma “inteligência, intenção
e consciência no trabalho da lei da natureza”. Assim, as descobertas não
ocorrem por acaso; existe uma ordem na própria evolução do ser humano
que vai se desenvolvendo em cada etapa de sua vida. A natureza se apresenta
viva como alimento à própria estrutura humana, há uma relação mútua que
percebemos, cuja história realizada pelo homem se mistura com a natureza.
Reflita
Já que falamos que os homens fazem história, podemos refletir, por
exemplo, na importância do aparecimento do Iluminismo do final da
Idade Média para o tempo atual, época em que se defendia o uso da razão
(luz) contra o antigo regime (trevas). O que representava essa escuridão?
Podemos refletir sobre o surgimento do Iluminismo em várias situações,
no entanto, convido você a refletir neste momento em duas principais
situações considerando o nosso contexto. A primeira é que o surgi-
mento do Iluminismo se deu por interesses comuns entre pensadores e
burguesia, o segundo é que a escuridão excluída pela luz do Iluminismo
representava o absolutismo dos reis, o poder da igreja e “as verdades”
reveladas pela fé, entre outras. O que temos que refletir é sobre como era
a Igreja e as “verdades” pregadas neste momento da história. Podemos
dizer que na história a Igreja sempre foi fiel às escrituras sagradas? E
sobre os iluministas, como podemos entender a sua relação com a fé?
Para Thiry (2019, p. 1), “um ser racional é aquele que usa a experi-
ência adquirida para escolher os meios mais seguros de chegar ao fim que
se propõe”. As experiências se dão em meios aos acontecimentos diversos
naquele momento da história e, portanto, em muitos casos temos que tomar
60
cuidado em julgar ou criticar alguém na transversalidade entre as etapas
históricas das sociedades humanas.
Logo, o exercício que precisamos fazer em um primeiro momento é
pensar, dentro da nossa própria história, as nossas ações do dia a dia. Depois,
ao adentrarmos em alguma reflexão que se insere em outros momentos
históricos, devemos ter o cuidado de filtrar, fazendo uma analogia: o que
representava, por exemplo, para o Iluminismo, o “momento das trevas”. Ou
seja, excluir os exemplos que não têm procedência, para entender a natureza
real das coisas.
Neste sentido, é possível observar o equilíbrio de temas cuja história, em
seus vários momentos, sempre defendeu a impossibilidade de relacionar,
como fé e razão.
Em Tomás de Aquino (1225-1274), é possível perceber o equilíbrio entre fé e
razão, assim como relacionar teologia e filosofia. Embora ele possa distingui-lo,
necessariamente ele não as separa. Pois mesmo tratando do mesmo “objeto”
– Deus –, enquanto as luzes da razão natural são propostas pela filosofia, a
teologia se encaminha pelas luzes da razão divina encontrada na revelação.
Na modernidade, por mais contraditório que possamos observar, a ciência
tem buscado constantemente conciliar-se com a religião, para entender o que
está por trás das leis da natureza. Compreender uma força maior que ultra-
passa o que observamos. O que se propõe em todo nosso estudo é que a fé
não é abandono da razão.
A crença em Deus, porém, não é fé cega, porque há provas

indiscutíveis de que Ele existe. (Hebreus 11:1) O astrônomo
Allan Sandage disse: “Acho bastante improvável que essa
ordem [no Universo] tenha surgido do caos. Deve haver um
princípio organizador. Deus é para mim um mistério, mas
é a explicação do milagre da existência, de haver alguma
coisa em vez de não haver nada.” O apóstolo Paulo disse
aos cristãos em Roma que as “qualidades invisíveis [de
Deus] são claramente vistas desde a criação do mundo em
diante, porque são percebidas por meio das coisas feitas,
mesmo seu sempiterno poder e Divindade, de modo que
eles [os que não creem] são inescusáveis”. (Romanos 1:20)
Desde “a criação do mundo” — especialmente desde
a criação de seres humanos inteligentes, que podem
perceber a existência de Deus — tem sido evidente que
existe um Criador de imenso poder, um Deus digno de
devoção. Assim, não há desculpas para os que deixam de
61
reconhecer a glória de Deus. No entanto, que evidências
fornece a criação? (TORRE DE VIGIA, 2019, p. 9-14)
É compreensivo entender que por trás da natureza, em toda sua extensão,

há a existência de Deus. Considerando as palavras do astrônomo Allan
Sandage, que embora Deus pareça ser um mistério, é mais plausível a expli-
cação de que deve haver um milagre da existência e, consequentemente, é
mais provável haver alguma coisa em vez de não haver algo em toda essa
estrutura. Portanto, em sua concepção, há um princípio organizador.
Esse princípio organizador, ao qual se refere o astrônomo Allan Sandage,
leva-nos a refletir o mundo como uma natureza viva, e ao mesmo tempo nos
leva a olhar para a natureza e observar a ação do “sobrenatural” na ordem e
no movimento das coisas. Portanto, a reflexão sobre algo observável e real
não poder ser considerada simplesmente emotiva, mas racional, ou seja, nos
direciona para a luz natural da razão. Da mesma forma é a opinião do físico
Charles Townes, o qual disse que suas descobertas parecem refletir que há
inteligência, intenção e consciência no trabalho da lei da natureza. Veja que a
própria ciência já tem esse olhar sobre a existência de algo muito maior que
comanda a natureza.
Sem medo de errar
Compreender sobre o estudo de Deus baseado na regularidade e comple-

xidade do mundo natural, assim como a função teológica, é o que propu-
semos estudar e refletir nesta seção. A própria complexidade do mundo por
si só já nos faz refletir sobre esse assunto e pensar em como é possível um
universo ordenado e harmonioso, considerando tamanha complexidade.
O primeiro caminho, já mencionado em nosso estudo, para que possamos
compreender um determinado assunto, é antes se despir de concepções
primeiras e, independentemente de religião ou crença, fazer uma reflexão
prévia, distanciando-se das ideias preconcebidas. Dar-se a possibilidade de
perceber se suas indagações são realmente verdadeiras e possíveis, se são
coerentes e fundamentadas. Não é um caminho fácil para quem não tem
certeza, ou não tem uma resposta às suas indagações. É importante afirmar
que distanciar das ideias preconcebidas não significa, necessariamente,
desconsiderar suas hipóteses, mas é uma forma de não se influenciar, deixá-
-las no limite de suas observações, para posteriormente compará-las.
Portanto, a tentativa de explicar a existência de Deus a partir da obser-
vação da natureza sem a utilização das escrituras é um exercício importante
para a reflexão deste tema, cujo objetivo é responder os questionamentos:
62
É possível acreditar em Deus ou provar sua existência usando somente a
razão? É possível provar sua existência considerando apenas os elementos
da natureza? Veja que em todo nosso estudo estamos apenas refletindo sobre
a Teologia Natural, portanto, não estamos dizendo que as escrituras não são
importantes, pelo contrário, é o que vai fundamentar tudo o que observamos
na natureza. Considerando os estudos realizados pelas alunas de teologia
Regiane e Tirza, você já imaginou qual seria a conclusão a que elas chegaram?
Para muitos, os traços do criador estão na própria criação, já, para outros,
tudo não passa de comportamento cultural. Vimos que até mesmo a ciência
busca indícios de uma força superior, de algo que ainda não conseguiu
entender, mas que possa explicar a complexidade do universo. Já é possível
ver alguns cientistas, nos dias atuais, que harmonizam esta relação. Portanto,
já foi comprovado ser possível um diálogo entre ciência, ética e religião. Em
nossa análise vimos, por exemplo, a opinião do físico Charles Townes, o qual
disse que suas descobertas parecem refletir que há inteligência, intenção e
consciência no trabalho da lei da natureza. Qual seria essa inteligência no
trabalho da natureza? Percebe-se que a natureza é viva e inteligente, sua
existência se harmoniza com a própria existência do homem. Ambos se
transformam, para o bem-estar. A natureza viva não seria um indício para a
percepção da existência de Deus?
A aluna Regiane não é contra a Teologia Revelada, no entanto, ela
defende a Teologia Natural, e acredita que esse é, também, um caminho para
nos levar até Deus, e que Teologia Natural é ao mesmo tempo o estudo de
Deus baseado na observação da natureza, considerando que esta envolve a
filosofia humana e o raciocínio como meios para conhecer Deus. Ou seja, é
possível entender a existência de Deus por meio da natureza. E Tirza, qual foi
a conclusão a que ela chegou? Muitos estão na expectativa para saber sobre
o seu entendimento. Vamos retomar a sua ideia inicial? Para Tirza, a origem
de Deus não se observa pelo conhecimento do mundo, mas sim apenas pela
graça. Provavelmente, com base no que estudamos, é possível que Tirza
tenha reconsiderado a forma de compreender Deus por meio da natureza.
Conforme mencionado por Thiry (2019, p. 1), “um ser racional é aquele que
usa a experiência adquirida para escolher os meios mais seguros de chegar
ao fim que se propõe”. Neste sentido, podemos também refletir e supor que,
com base nas novas experiências, escolhemos os meios mais adequados e
coerentes para se chegar ao fim que desejamos. O grande problema é: quais
experiências estamos tendo? Por que há experiência para o bem e há experi-
ência para o mal, portanto, as nossas escolhas é que vão determinar em
muito o nosso destino. Se conseguimos fazer uma reflexão prévia e distan-
ciar-nos das ideias preconcebidas, dando a oportunidade de conhecer o novo
que tenha coerência com a vida, provavelmente teremos a possibilidade de
encontrar novos caminhos, de fundamentar ou renovar as nossas hipóteses
63
e de obter novas concepções das coisas. Portanto, se voce fez uma reflexão
sobre a natureza, observou quais são os fundamentos que comprovam ou não
a existência de Deus com base em nosso estudo, certamente o resultado desta
conclusão se encontra na interpretação de cada um, conforme as experiên-
cias obtidas.
Como entender a relação entre o espiritual

(imaterial) e a natureza (material)
É possível observarmos a relação entre as escrituras sagradas e a natureza?

Quais são os fundamentos mínimos, porém específicos, que podem
comprovar a existência de um Deus soberano, criador de tudo e de todos?
Quais são os argumentos para crer na existência de um Deus e observá-lo na
natureza? Há racionalidade nesta relação entre o sagrado e o natural? Mas
isso não é científico, então, só por que está escrito nas escrituras temos que
crer ser verdadeiro? Como podemos superar essas indagações?
Antes de qualquer análise mais específica, temos que refletir primeira-
mente sobre como passamos a crer ou não crer em alguma coisa. É certo que
ninguém nasceu conhecendo esse tema, então, seria o motivo pelo qual ao
estudar nos identificamos com algum fato, e por este motivo deixamos de crer
ou até mesmo de refletir sobre um determinado assunto? É natural que o ser
humano, quando ainda não tem uma direção, ao se deparar com uma primeira
ideologia que pareça mais convincente em um primeiro momento, agarra-se a
ela de tal maneira que passa a não refletir mais sobre uma outra possibilidade,
até mesmo pela dificuldade de compreendê-la. Afinal, acreditar na existência
de um Deus e nas coisas espirituais é algo que não se percebe materialmente.
Neste sentido, aprofundam-se ainda mais as dúvidas, pois se as coisas sagradas
não são materiais, como posso observá-las no mundo material, na natureza?
Portanto, refletir e observar essas coisas já é o primeiro passo para pensar
e indagar sobre como compreender a vida, a natureza e ter percepção das
coisas espirituais. Para entendê-la, deve-se colocar a própria mente para
trabalhar. Quando falamos que o homem é feito de corpo, alma e espírito,
e que o “corpo” é a parte tangível, visível e temporal do homem, é possível
que, estando nesse estágio, o homem consiga perceber com maior facilidade
64
aquilo que é material apenas, portanto, para se ir além do que é observável,
do óbvio, é preciso que estejamos sob a concepção da “alma”, do intelecto,
da própria racionalidade, para, assim, estarmos em condições de refletir
“espiritualmente” a natureza humana e tudo aquilo que perfaz sua existência
no mundo.
Se somos cientistas, temos dificuldades para compreender, com rarís-
simas exceções, as coisas espirituais; por outro lado, há muitos espirituais
que têm dificuldades de compreender as coisas materiais, também com suas
exceções. Há um desconforto, um desequilíbrio mútuo no entendimento, e
ambos propagam e recebem adeptos para cada um de seus direcionamentos.
Então a direção que devemos tomar é a de equilíbrio entre o corpo e a alma,
entre a fé e a razão, entre a natureza e o espírito, para chegarmos ao estágio
de amadurecimento, pois no estágio do “espírito”, encontram-se o conheci-
mento, a sabedoria e o fôlego de vida.
Analisemos os textos de Romanos 1:20 e do Salmo 19:1-4. Em Romanos,
o apóstolo Paulo diz de um modo bem claro: “Pois desde a criação do mundo
os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm
sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas,
de forma que tais homens são indesculpáveis”. Neste texto percebemos que
a natureza aponta a existência de um Criador do mundo, mas como esta
natureza invisível de Deus é percebida? Certamente pela reflexão das coisas
que foram criadas. É por meio da fé racional do homem e do equilíbrio entre
o corpo, a alma e o espírito que se chega ao entendimento e percepções das
coisas materiais e imateriais.
Faça valer a pena
1. Ao refletirmos sobre a ordem cósmica, a sua estrutura, harmonia e

beleza, não utilizamos uma fé isolada da racionalidade. Não é apenas uma fé
emotiva, sem comparar a algo, mas é um raciocínio com base neste desenho
cósmico, neste conjunto que se apresenta o universo com toda sua existência
e harmonia. Por que ao pensar positivo e ter fé, apresentaremos os traços do
criador, ou seja, é o que chamamos de imagem e semelhança de Deus. O que
seria esta imagem e semelhança de Deus?
De acordo com texto, analise as afirmativas:
I. Assim como Deus, o ser humano é a única criatura que consegue

falar e se expressar de forma racional, não sendo governado apenas
por impulsos instintivos.
65
II. Podemos escolher entre o bem e o mal; tal como Deus, temos liber-
dade para decidir.
III. Deus criou o mundo e também nos deu capacidade para criar coisas
novas, usando a imaginação; nossa criatividade reflete a criatividade
de Deus.
IV. Todos temos capacidade para avaliar o que é bom e o que é mau;
nossa consciência reflete a justiça de Deus
Neste contexto, é correto o que se afirma em:
a. I e II apenas.
b. I e III apenas.
c. II e IV apenas.
d. III e IV apenas.
e. I, II, III e IV.
2. A discussão sobre o que nos faz humanos é bastante debatida por várias
ciências humanas, cada uma usando sua abordagem.
Sobre o tema, complete as lacunas a seguir:
Todos os seres humanos têm instinto, o que chamamos de “____________”, é
um tipo de inteligência no seu grau inicial, primitivo, no entanto, as criaturas
humanas evoluíram e passaram por várias etapas, e nesse processo foram
adquirindo sensações e emoções, valorizando cada vez mais os ____________.
Portanto, uma das coisas que diferencia o homem dos animais é o ____________.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de palavras que
completam as lacunas:
a. percepção; conhecimentos; diálogo.
b. instinto humano; sentimentos; pensamento racional.
c. sentimentos; instintos; pensamento emotivo.
d. indução; sentimentos; instinto.
e. pensamento emotivo; instintos; pensamento racional.
66
3. Na interpretação da Teologia Natural é possível observar significados
diferentes, por pessoas diferentes e em tempos diferentes. A Teologia Natural,
que é diferente da Teologia Revelada, é uma parte da filosofia da religião
baseada na razão e na experiência.
Com base nos estudos sobre Teologia Natural, assinale alternativa correta:
a. Conhecer a existência da natureza baseado na criação divina.
b. Provar Deus utilizando a revelação especial das Escritura Sagradas.
c. Conhecer a sua essência humana e sua relação com o divino.
d. É o estudo de Deus baseado na observação da natureza.
e. É o estudo das relações entre o mundo e os homens.
67
Seção 2
Teologia Revelada
Diálogo aberto
Neste estudo, trataremos um pouco sobre a discussão teológica proposta
pelas alunas Regiane e Tirza. A primeira é adepta da Teologia Natural, cujos
estudos provocaram os seguintes questionamentos: como provar a existência
de Deus a partir da natureza? É possível? Já Tirza é adepta da Teologia
Revelada, falando que a origem de Deus não se observa pelo conhecimento
do mundo, mas sim pela graça. Percebe-se que as opiniões são distintas sobre
a observação da existência de Deus. Após ambas terem estudado a Teologia
Natural, agora os estudos serão direcionados para a Teologia Revelada. Da
mesma forma como no primeiro caso, ambas as alunas devem se ocupar
também de textos sagrados e dos pensamentos de alguns estudiosos, a fim de
buscar fundamentos lógicos e teológicos claros e fortes o suficiente. Assim,
poderão aplicar a boa e equilibrada interpretação bíblica, buscando entender
se há uma concordância mútua sobre a teologia natural e revelada.
Neste segundo momento, o professor sugeriu que as alunas pesquisassem
sobre a Teologia Revelada, tentando intercalar, contextualizar, fundamentar
e responder os contrapontos entre as duas teologias. Portanto, nesta seção
estaremos aprofundando nosso estudo sobre Teologia Revelada, a obser-
vação da existência de Deus pela graça.
Para isso, abordaremos os seguintes temas: o que é Teologia Revelada;
Revelação Geral; Revelação Especial; e os meios da Revelação – neste ponto
estudaremos mais especificamente sobre aquilo que é sagrado ou sobrena-
tural. Os conteúdos apresentados nos levarão a assimilar alguns fatos histó-
ricos que em um primeiro momento parecem ser contraditórios, no entanto,
procuraremos mostrar que a revelação geral e a revelação especial são as duas
formas que Deus tem escolhido para se revelar à humanidade.
Como a revelação especial pode ser verificada, de acordo com a teologia
sistemática, pela manifestação de Deus por meios sobrenaturais, é preciso
estudar os diversos milagres citados historicamente, nas escrituras sagradas
ou fora delas. Para aprofundar os estudos, é importante verificar outros
materiais sobre o assunto, além da Bíblia.
O propósito desse estudo é proporcionar a você o exercício que o fará ter
uma reflexão crítica, para que consiga analisar com profundidade as questões
trabalhadas nesta seção. Portanto, algumas questões foram elaboradas para
uma reflexão, as quais estão relacionadas ao nosso contexto de aprendizagem.
68
Ao mesmo tempo, são colocados contrapontos que vão instigar você a pensar
e repensar a sua análise e seu entendimento primário sobre o assunto. Alguns
questionamentos que serão propostos:
• Teologia Natural e Teologia Revelada: em qual dessas podemos
perceber alguma similaridade com a revelação geral?
• De acordo com os nossos estudos, como poderíamos descrever a
diferença entre revelação natural e revelação sobrenatural?
Buscaremos, portanto, sempre dar continuidade ao estudo anterior
fazendo comparações, buscando similaridades e observando os contrapontos.
Após os estudos, você, aluno, deverá estar apto a entender os temas
propostos nesta seção, e consequentemente responder à seguinte indagação:
é possível haver ligação entre a Teologia Natural e Teologia Revelada?
Todas as vezes que nos depararmos com alguma situação que não é a
forma como pensamos em um primeiro momento, devemos fazer como
a orientação do professor de Introdução à Teologia. No primeiro impasse
apresentado entre suas alunas, orientou-as a se desprenderem de suas concep-
ções primeiras ou de suas verdades absolutas, para permitirem-se olhar para
outras possibilidades e estudar o assunto com profundidade, como se nunca
tivessem tido ideia alguma sobre o tema em questão e, a partir de então,
compará-las, observando a coerência entre os conhecimentos adquiridos.
Não pode faltar
O que é Teologia Revelada?

Para todos nós que refletimos sobre o mundo e entendemos que existe
uma força, um organizador, ou seja, um Deus por trás de toda a criação,
que por meio de uma investigação racional percebemos a existência de uma
causa primeira em tudo que existe, a primeira pergunta que fazemos a nós
mesmos é “poderia este mundo tão complexo ter surgido do nada?”. Ainda
em reflexão, a pergunta que surge é: como pode, diante de tanta complexi-
dade, existir uma certa ordem ou ainda uma organização cósmica?
Vimos, na primeira seção desta unidade sobre a Teologia Natural, uma
reflexão sobre a possibilidade de se observar a Deus pela natureza, inclusive
sem a utilização das escrituras sagradas, e consequentemente indagamos:
pode a natureza explicar a existência de Deus? Essas indagações surgiram
a partir do diálogo das alunas Regiane e Tirza, nossas personagens. Regiane
entendia que é possível observar a existência de Deus pela natureza, enquanto
Tirza discordava, pois para ela só é possível observar Deus pela graça. Neste
69
estudo, vamos refletir um pouco mais sobre a Teologia Revelada, a obser-
vação da existência de Deus pela graça.
Portanto, fazemos a primeira pergunta: o que é Teologia Revelada? Sobre
este tema veremos mais especificamente sobre aquilo que é sagrado ou
sobrenatural. É a intimidade de Deus revelada à humanidade por meio da
Trindade. Neste sentido, temos como compreensão e enfatizamos novamente
a importância da fé como algo que vai além do nosso conhecimento natural.
Assim como na Teologia Natural, a Teologia Revelada também apresenta
seu objeto de estudo, a existência de Deus – ou sua revelação aos homens.
Quanto aos métodos e critérios, temos a fé como ponto de partida, ou seja, a
fé é um elemento metodológico fundamental para a compreensão e o enten-
dimento dessa essência reveladora. Na Teologia Natural, por exemplo, a fé
também tem a sua importância, porém se trata de ligar algo que seja mais
concreto na observação da natureza com a divindade.
Assim, é possível que alguém pergunte: qual dos dois tipos de teologia
é mais próximo da verdade? Seria mais complexo ainda se a pergunta fosse:
qual das revelações existentes a respeito de Deus seria mais coerente ou mais
correta? Teríamos muitas alternativas, pois não trataríamos apenas do cristia-
nismo. Porém, o cristianismo (geral) é o que tem mais ênfase na história
da humanidade, e pela maneira como questionamos é possível transitar por
outras formas de conhecimentos sobre a existência de Deus na perspectiva de
cada um, por aquele que se permite refletir.
Exemplificando
Quando nos referimos sobre cristianismo (geral) é porque podemos
citar vários exemplos desta terminologia, seja católica, protestante,
neopentecostal, entre outras. A linha de raciocínio está direcionada
para a essência histórica, independentemente das ramificações que
surgiram ao longo do tempo.
Portanto, a ideia aqui não é trazer uma resposta afirmativa ou dizer o

que é certo ou errado, sequer escolher qual tipo de crença em si é a mais
adequada para essa reflexão, mas permitir que, a partir dela, exercitemos
nossa mente a uma reflexão sobre aquilo que acreditamos de acordo com a
nossa fé, ou seja, em crer na existência de algo superior ou existência de um
criador, refletindo sobre essa essência soberana que se apresenta no mundo
físico. Esse exercício deve nos propiciar um resultado coerente com a forma
pela qual vemos esse mesmo mundo. Qual é o objetivo desse exercício? É a de
nos permitir refletir sobre outras possibilidades para além do nosso conhe-
cimento primário. E, a partir dessa reflexão, fazer um paralelo sobre o que é
70
mais coerente, sabendo não ser racional seguir adiante com qualquer ensina-
mento que não se direciona para vida. O resultado de tal tarefa tem como
objetivo fortalecer a própria fé, pois relacionar o que se acredita com o que se
buscou ou se permitiu conhecer, com coerência, automaticamente fortalece a
fé e a certeza de que se está caminhando na direção que proposta.
É certo que a Teologia Natural, em uma primeira análise, é mais simples e
objetiva do que a Teologia Revelada, pois aquela busca perceber a existência
de Deus a partir da interpretação do que é observável na natureza, indepen-
dentemente da revelação ou da escritura sagrada. Já a Teologia Revelada faz
sua interpretação a partir do que é revelado pelo divino.
A palavra “revelação” significa desvendar, tornar conhe-

cido do que antes estava oculto. Na teologia, revelação é a
manifestação que Deus faz de si mesmo e de seus propósitos
aos seres humanos, proporcionando-lhes o conhecimento
dele e da sua vontade. O ser humano só pode conhecer
a Deus e ter comunhão consciente com ele através da
revelação divina. Sem revelação, Deus não pode ser conhe-
cido, por isso Deus se revelou. (SEVERA, 2010, p. 7)
Nesse sentido, quando falamos em Teologia Revelada, estamos nos

referindo à ação de Deus, ou, mais precisamente, ao estudo da existência de
Deus, o que só é permitido pela sua ação reveladora daquilo que Ele permite.
Em toda história sobre a revelação divina, podemos observar dois tipos de
revelação: geral e especial.
Por que revelação geral? É uma expressão muito utilizada na teologia
cristã. Deus se manifesta para todos em qualquer lugar e tempo. Como
observar isso? É possível perceber pela própria consciência humana ao longo
do tempo. Deus não é algo físico, mensurável, como um objeto, mas, ao
contrário, é preciso fé, estar preparado para percebê-lo.
Já mencionamos ao estudar a Teologia Natural que as nossas caracte-
rísticas são parecidas com as dEle, portanto temos pensamento racional,
capacidade de escolha, amor, criatividade, noção de justiça e moralidade.
Para observá-lo ou senti-lo, é necessário, primeiramente, que se prevaleçam
essas características.
71
Assimile
Mas Deus não apareceu para Saulo? Ele não era um homem ruim,
cobrador de impostos? Como para ele foi possível esse contato, mesmo
não tendo essas características? Por que Deus mudou o nome de Saulo
para Paulo após sua conversão do judaísmo para o cristianismo?
Vamos refletir sobre algumas situações importantes. Primeiramente,

vamos fazer uma ressalva com relação aos nomes. Veja que muitos
supõem equivocadamente que Deus mudou o nome de Saulo para
Paulo. Não foi a mesma situação como ocorreu, por exemplo, como
a mudança de Simão para Pedro. Em nenhum lugar das Escrituras
encontramos menção de Paulo ter mudado o nome. Na Bíblia, em
Atos, conforme Lucas, autor da narrativa, vemos a seguinte afirmação:
“Todavia, Saulo, também chamado Paulo...” (At 13.9). É importante
observar que ele era chamado de Saulo até este versículo, e a partir
deste ele passa a ser chamado de Paulo. Portanto, não houve uma troca
de nomes e isso nem ocorreu pelo fato de sua conversão. Então, o que
a Bíblia diz? A afirmação que aparece nas escrituras é que ele tinha dois
nomes diferentes: Saulo, da família judaica, da tribo de Benjamim, e
Paulo, seu nome romano. Era muito comum judeus com dois nomes,
quando tinham cidadania romana (veja em Atos 16:37,38).
Mas, voltando ao contexto: Saulo, não apresentando essas caracterís-

ticas, teve um contato com Deus – e como explicar essa revelação? O
que se pode falar dessa questão é que de praxe, para que haja uma
ligação entre homem e Deus, é preciso uma sintonia. As características
supramencionadas são referências necessárias, porém, para algo do
tipo ocorrido com Saulo, Deus se faz agir por um propósito, algo especial
e necessário para servir de testemunho. Deus é que conhece cada um e
a capacidade que podemos exercer.
Já vimos anteriormente que o físico Charles Townes (BURGER, 2015)

percebe em suas descobertas algo especial, que parece existir uma inteligência
entre ele e as descobertas expressas pela própria natureza, o que podemos
denominar como natureza viva. Aqui temos uma situação a priori relacionada
à natureza ou Teologia Natural, porém, na revelação geral, vemos a revelação
de Deus pela obra da criação. Cabe aqui uma reflexão, pela qual podemos
pensar sobre essa relação entre Teologia Natural e Teologia Revelada.
E quanto à revelação especial? Do que se trata? Veja que a revelação geral
contrasta com a revelação especial, pois esta trata das escrituras sagradas,
especificamente de Jesus Cristo. Neste caso, encontramos a manifestação
de Deus a certas pessoas, e podemos aqui exemplificar novamente o caso
72
de Saulo, quando Deus se apresentou a ele em um tempo e lugar definidos,
proporcionando a Saulo um conhecimento melhor dele. Qual seria o propó-
sito desse acontecimento? Essa foi uma revelação especial que proporcionou
a redenção de Saulo.
A revelação especial é como Deus escolheu se revelar

através de meios milagrosos. Ela inclui aparições físicas
de Deus, sonhos, visões, a Palavra escrita de Deus e mais
importante – Jesus Cristo. A Bíblia registra Deus aparecendo
de forma física várias vezes (alguns exemplos: Gênesis 3:8;
18:1; Êxodo 3:1-4; 34:5-7). A Bíblia registra Deus falando a
pessoas através de sonhos (Gênesis 28:12; 37:5; 1 Reis 3:5;
Daniel capítulo 2) e visões (Gênesis 15:1; Ezequiel 8:3-4;
Daniel capítulo 7; 2 Coríntios 12:1-7). […] Revelação geral
e a revelação especial são as duas formas que Deus tem
escolhido para Se revelar à humanidade. A revelação geral
se refere às verdades gerais que podemos aprender sobre
Deus através da natureza. A revelação especial se refere às
verdades mais específicas que podemos aprender sobre
Deus através do supernatural. Em relação à revelação geral,
Salmos 19:1-4 declara: “Os céus proclamam a glória de
Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um
dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento
a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles
não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se
faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do
mundo. ” De acordo com essa passagem, a existência e o
poder de Deus podem ser vistos claramente através da
observação do universo. A ordem, detalhes e maravilha
da criação falam da existência de um Criador poderoso e
glorioso. (GOT QUESTIONS, 2019)
Vemos, também, como especiais os meios ou os modos da revelação.

Como entender os meios de revelação? Eles são bem claros quando olhamos
para os eventos históricos. Em toda a história de Israel, quando da libertação
dos escravos no Egito e em toda trajetória rumo à terra prometida, temos
nesses acontecimentos um dos maiores fatos reveladores, quando Deus se
manifesta aos patriarcas, direcionando o povo para o caminho que Ele deter-
minou. Exemplo disso é a revelação de Deus para Moisés que ocorreu no
Monte Sinai, local da entrega original das Tábuas da Lei conforme relatado
no livro de Êxodo, capítulo 20, versículos 1 a 17.
73
Esses meios especiais podiam ser palavras proféticas, sonhos ou milagres,
algo grandioso, cujo acontecimento despertaria a admiração nas pessoas.
Percebe-se que mesmo diante da revelação, há pessoas que ainda se
mantêm céticas e não conseguem perceber essa presença. Como mencio-
namos anteriormente sobre a estrutura do homem (corpo, alma e espírito),
aqui se encontra um dos exemplos daqueles que estão no estágio do corpo,
cuja visão, discernimento e percepção são ausentes, proporcionando o não
fortalecimento da fé, mas a ênfase aos desejos da carne (corpo). É possível
observar esse fenômeno da mesma maneira e na mesma proporção nas mais
diversas crenças.
Em se tratando do cristianismo, podemos ver em Jesus Cristo uma forma
de revelação especial e ao mesmo tempo o meio pela qual Deus busca a
redenção das pessoas ou a salvação. Então, toda revelação especial encerra-se
em Jesus Cristo.
Portanto, podemos verificar a revelação especial, de acordo com a
teologia sistemática, na manifestação de Deus por meios sobrenaturais, das
quais podemos citar os muitos milagres observáveis tanto historicamente,
nas escrituras sagradas ou inspiração da bíblica, como fora dela, assim
como a encarnação de Jesus Cristo. E quando nos referimos à revelação
geral, falamos de algo dirigido a toda humanidade e, assim, adentramos no
caminho para esse entendimento com relação à criação ou natureza.
Reflita
• Teologia Natural e Teologia revelada: em qual dessas podemos
perceber alguma similaridade com a revelação geral?
• Como poderíamos descrever a diferença entre revelação natural
e revelação sobrenatural?
Vamos analisar um pouco mais sobre essas duas revelações, conforme

menciona o dr. Robert Charles Sproul, citado por Mathison (2019, [s.p.]):
Acredito firmemente que toda a verdade é a verdade de

Deus, e acredito que Deus não só tem dado revelação nas
Sagradas Escrituras, mas também que as próprias Sagradas
Escrituras nos dizem que Deus se revela na natureza –
algo que chamamos de revelação natural. Certa vez eu
perguntei a uma de minhas turmas de seminário, um grupo
conservador: ‘Quantos de vocês acreditam que a revelação
de Deus nas Escrituras é infalível? ’ E todos eles levantaram
74
a mão. Então, disse: ‘E quantos de vocês acreditam que
a revelação de Deus na natureza é infalível? ’. E ninguém
levantou a mão. Trata-se do mesmo Deus a revelação.
A mesma pergunta feita aos alunos do dr. Robert aplicamos a nós, para
que possamos refletir, com base no que já estudamos até aqui: quantos de nós
acreditamos que a revelação de Deus nas escrituras é infalível? E quantos de
nós acreditamos que a revelação de Deus na natureza é infalível?
Veja que, como citado no texto, não há diferença entre a revelação na
natureza e nas escrituras, pois trata-se do mesmo Deus. Uma outra questão
importante é com relação à revelação especial, a qual vemos descrita no livro
de Hebreus 1:1-2, que diz:
Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias

maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas,
mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a
quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de
quem fez o universo.
Sem medo de errar
Estudamos sobre a Teologia Revelada e, para respondermos às questões

apresentadas pelas alunas Regiane e Tirza, foi preciso desprender de nossos
conhecimentos primários, das nossas concepções absolutas e nos aprofun-
darmos nos conteúdos. Enquanto a primeira era adepta da Teologia Natural,
a segunda defendia a Teologia Revelada, e nada de incomum até aqui, pois
os dois temas não são incompatíveis. A questão pairou sobre o fato de se
conhecer ou observar a existência de Deus pela natureza, que para Tirza não
seria possível pela natureza e sim apenas pelo sagrado ou sobrenatural, pois
a revelação se daria pela graça segundo sua concepção.
Nessa pesquisa foi utilizada a mesma didática dos estudos da Teologia
Natural, distanciando-se, em um primeiro momento, das ideias preconcebidas,
dando-se a possibilidade de perceber se as indagações são realmente verda-
deiras e possíveis, se são coerentes e fundamentadas. Por que a tentativa de
explicar a existência de Deus a partir da observação da natureza foi importante?
Porque serviu de base para nos aprofundarmos sobre a Teologia Revelada. No
caso da Teologia Natural, que as duas estudaram anteriormente, em nossa
reflexão ficou a pergunta sobre a qual conclusão Tirza chegou. Deixamos para
que você, aluno, refletisse sobre a provável resposta, porém demos uma ideia
75
inicial: a possibilidade de que Tirza tenha considerado a forma de compre-
ender Deus pela natureza. Nesse segundo momento, conforme sugestão do
professor, a pesquisa sobre Teologia Revelada tentou intercalar, contextualizar,
fundamentar e responder os contrapontos entre as duas teologias.
O que fortaleceu ainda mais a ideia de que Tirza considerou a Teologia
Natural foi o estudo dos temas revelação geral e revelação especial. Verificou-se
que são duas formas que Deus tem escolhido para se revelar à humanidade.
Onde encontramos a similaridade? Na revelação geral, pois esta se refere às
verdades gerais que podemos aprender sobre Deus pela natureza.
Já vimos anteriormente que o físico Charles Townes percebe em suas
descobertas algo especial; parece existir uma inteligência entre ele e as desco-
bertas expressas pela própria natureza, o que podemos denominar como
natureza viva. Aqui temos uma situação a priori relacionada à natureza ou
Teologia Natural, porém, na revelação geral, vemos a revelação de Deus por
meio da obra da criação.
Teologia Natural e Teologia Revelada
Como podemos considerar uma possível ligação entre a Teologia Natural

e Teologia Revelada? É possível observar qual das duas se aproxima em um
primeiro momento da verdade? São questionamentos cujas respostas preci-
samos conhecer com mais profundidade. No caso da Teologia Revelada,
por exemplo, é preciso observar as revelações existentes nas mais diversas
religiões além do cristianismo, como no judaísmo, islamismo e muitas
outras. Portanto, é sempre importante a pesquisa e o conhecimento pois,
a partir do todo, você terá a sua conclusão a respeito do que se aproxima
mais da verdade. Porém, utilizando-se das reflexões filosóficas, perguntamos:
o que é a verdade? A busca para entender a resposta dessa indagação está
intimamente ligada à percepção daquilo que é coerente e que valoriza a vida.
Daquilo que se apresenta de forma mais concreta à realidade de todos pois,
se perguntar para cada um, de acordo com suas concepções, são as suas
verdades que prevalecem. Então, para esta situação, deve se ter alguns crité-
rios para observar o que seria realmente mais adequado à realidade de todos.
76
A Teologia Natural, portanto, em uma de suas possíveis análises, pode ser
considerada como resultado intelectual da tendência natural da mente humana
que deseja ou se inclina em direção a Deus. A humanidade instintivamente
tem a necessidade de buscar “algo maior”, para além dos limites da razão e da
ciência. É exatamente essa necessidade que podemos reconhecer como ponto
de partida para compreender, aceitar e entender a Teologia Revelada. De acordo
com os estudos, percebemos que há um Deus por trás de toda a criação, consi-
derando que por meio de uma investigação racional percebemos a existência de
uma causa primeira em tudo que existe. Vimos também que até mesmo na fala
de alguns cientistas temos a força da espiritualidade, e se na natureza é possível
perceber uma força espiritual que faz com que ela tenha vida e que parece induzir
a descobertas, é porque existe uma relação muito maior entre a Teologia Natural
e Teologia Revelada, pois Deus se revela para todos e em qualquer lugar segundo
a sua vontade e seus propósitos. Deus criou todas as coisas, portanto os traços do
criador estão em toda criação, em toda sua obra.
Faça valer a pena
1. Há diferentes perspectivas sobre a existência e os atributos de Deus.

A______________________, é a observação da existência de Deus pela graça.
Já a _______________________ é como Deus escolheu se revelar por meios
milagrosos. Ela inclui aparições físicas de Deus, sonhos, visões, a palavra
escrita de Deus e mais importante – Jesus Cristo. _______________________
se refere às verdades gerais que podemos aprender sobre Deus pela natureza
a. revelação especial; revelação geral; teologia revelada.
b. teologia revelada; revelação especial; revelação geral.
c. revelação geral; teologia revelada; revelação especial.
d. teologia revelada; revelação geral; revelação especial.
e. revelação geral; revelação especial; teologia revelada.
77
2. Para todos nós que refletimos sobre o mundo e entendemos que existe
uma força, um organizador, ou seja, um Deus por trás de toda a criação, e
investigando racionalmente percebemos a existência de uma causa primeira
em tudo que existe, a primeira pergunta que fazemos é: o que é Teologia
Revelada? Sobre esse tema é importante compreender o que é sagrado ou
sobrenatural. É a intimidade de Deus revelada a humanidade pela Trindade.
Nesse sentido, temos como compreensão e enfatizamos a importância da
fé como algo que vai além do nosso conhecimento natural. Nesse contexto
estudado sobre Teologia Revelada, analise as afirmativas a seguir:
I. O texto permite refletir sobre outras possibilidades para além do
conhecimento primário.
II. É certo que a Teologia Natural, em uma primeira análise é mais
simples e objetiva, do que a Teologia Revelada.
III. O ser humano só pode conhecer a Deus e ter comunhão consciente
com ele por revelação divina.
IV. Na perspectiva da Teologia Revelada, as nossas características não são
parecidas com Deus, portanto temos pensamento racional, capacidade
de escolha, amor, criatividade, noção de justiça e moralidade.
De acordo com o texto, é correto o que se afirma em:
a. I e II apenas.
b. I e III apenas.
c. II e III apenas.
d. I, II e III apenas.
e. I, II, III e IV.
3. Em toda revelação, temos, de certa forma, uma comunicação que pode

se apresentar de duas formas, sejam elas naturais ou sobrenaturais. Dentre
as teologias estudadas, podemos perceber também algumas similaridades.
Analise as afirmativas a seguir:
I. A revelação natural é comunicada por Deus por meio dos chamados
fenômenos naturais.
II. A revelação sobrenatural é comunicada por Deus por uma inter-
venção especial divina.
III. A Teologia Natural tem similaridade com a revelação geral, pois
ambas se referem à criação e à natureza, sendo possível a observação
a toda humanidade.
78
IV. Teologia Revelada tem similaridade mais enfática com a revelação
especial.
a. I e II apenas.
b. I e III apenas.
c. II e IV apenas.
d. I, II, III e IV.
e. I, II, III e IV.
79
Seção 3
A função da teologia
Diálogo aberto
Após os estudos das alunas Regiane e Tirza sobre Teologia Natural e
Teologia Revelada, o pensamento distinto de ambas se harmonizou depois
de muito estudo, debate e reflexão sobre o assunto. A proposta e o incentivo
do professor de teologia foram importantes para que elas buscassem compre-
ensão e um melhor entendimento sobre os temas. Os desafios colocados
inicialmente para os estudos entre Teologia Natural e Teologia Revelada foram
superados. Ao estudarem sobre a temática e instigadas a pensar e repensar
suas análises e entendimentos primários, ambas perceberam as similaridades,
por exemplo, entre Teologia Natural e revelação geral e a Teologia Revelada
e revelação especial. Portanto, as estudantes estão preparadas para descrever
as diferenças entre revelação natural e sobrenatural. Sobre a análise desta
discussão foi imprescindível se ocuparem de textos sagrados e dos pensa-
mentos de alguns estudiosos importantes da área teológica, pois todos os temas
pertinentes ao curso, como já mencionados anteriormente, precisam de funda-
mentação teórica e de conhecimento teológico que sejam fortes o suficiente
para aplicarem a boa e equilibrada interpretação bíblica, buscando sempre a
compreensão dos temas teológicos e a sua interação com a realidade humana.
Elas fundamentaram suas sínteses teológicas da seguinte maneira: uma, utili-
zando a Teologia Natural, seguindo um pensamento das teologias latino-ame-
ricanas, em que a teologia se une à humanidade; e a outra, uma teologia menos
catequética e mais dogmática para fundamentar seu tratado, de acordo com
estudos propostos por essas duas fundamentações. Após a contextualização e
análise das duas alunas, o professor trouxe para a teologia atual a dualidade
entre fé pautada pela razão e fé pautada pelo dogma.
Neste sentido, os estudos sobre a teologia natural e teologia revelada
foram fundamentais para que, em seguida, compreendessem melhor a
função e a importância da teologia, em que o equilíbrio, conforme tratamos,
é de suma importância para a teologia e para aquele que a usa em seu dia a
dia: pregadores, pastores e sacerdotes, entre outros. Sendo assim, destaca-se
a importância do conhecimento teológico para que não pratiquemos abusos,
de acordo com Melo, (2015, [s.p.]): “o conhecimento sem o espiritual pode
levar ao formalismo e o espiritual sem conhecimento também pode levá-lo
ao fanatismo”. A ênfase aqui é perceber que o melhor caminho para a compre-
ensão das coisas teológicas – ou, mais precisamente, das coisas divinas – e a
propagação da palavra é a ponderação.
80
Portanto, com base nesses estudos e a superação dos contrapontos, o
seguinte passo, agora com mais embasamento, foi propor as questões: para
que serve a teologia; a importância da teologia; reflexão teológica e a missão
da igreja e a função social de Igreja. Um dos objetivos aqui é perceber a
importância da teologia para cada um de nós, e que a teologia, embora em
seus estudos a essência seja Deus, sendo a partir desta realidade que tudo
acontece, também estuda outros assuntos, obtendo-se reflexões de dois
pontos importantes: as informações bíblicas ou de estudos afins e a realidade
social – esta, com o objetivo de propor soluções para resolver situações de
injustiças na sociedade. Vamos estudar e refletir sobre o quanto a teologia é
importante não só para as instituições religiosas e cristãs, como também para
o bom desenvolvimento da sociedade.
Não pode faltar
Uma pergunta comum entre as pessoas é “para que serve a teologia?”. Já

vimos que teologia é a ciência ou estudo sobre a existência de Deus, de sua
natureza e seus atributos, das questões referentes ao conhecimento da divin-
dade, assim como de sua relação com o mundo e com os homens. Faz parte
de uma área conhecida como Ciências Humanas.
Conforme exposto em outros estudos, a teologia já havia sido utilizada
em outros momentos, ainda que de forma não objetiva. Porém Platão, em
seu livro A República, foi o filósofo que pela primeira vez utilizou o termo
teologia com uma conotação mais específica, referindo-se ao termo como
compreensão da natureza divina por meio da razão.
Qual é o campo da teologia? Quando estudamos sobre a existência de
Deus e sua relação com o mundo, significa dizer que tudo que existe pode
ser assunto da teologia, estando, é claro, relacionado com Deus. Portanto, o
campo da teologia é bastante abrangente.
Na Teologia Natural estudamos que pela natureza é possível explicar
a existência de Deus, sem a necessidade das escrituras, e pela Teologia
Revelada se observa Deus pela graça ou sobrenatural. Assim, em qualquer
lugar que estejamos é possível observar sua existência e é possível refletir
sobre a teologia, e esta nos leva a refletir e observar os nossos atos.
Como é de nosso conhecimento, conforme os estudos realizados
anteriormente, embora para a teologia a essência seja Deus, sendo a partir
desta realidade que tudo acontece, ela também estuda outros assuntos, dos
quais obtém reflexões de dois pontos importantes. Quais são? As informa-
ções bíblicas ou de estudos afins e a realidade social – esta, com o objetivo de
propor soluções para resolver situações de injustiças na sociedade. Veja quão
81
importante é a teologia, não só para as instituições religiosas e cristãs, como
também para o bom desenvolvimento da sociedade. Outro fator importante
é observar que a teologia não é restrita ao domínio do pensamento religioso
e abrange o campo da evolução cultural, a vida intelectual e interpessoal. Ou
seja, trata-se de um estudo amplo, sempre tendo como direção a vida em sua
dimensão histórica; a natureza, o respeito, assim como os direitos humanos,
cujo estudo está sempre relacionado com a existência de Deus e o sagrado.
Portanto, interpretar a teologia tem como alguns de seus objetivos desen-
volver os ensinamentos religiosos, a doutrina da fé, interpretar a existência
do homem no mundo, as ações éticas diante do outro, considerando também
as instituições sociais; enfim, refletir sobre a visão do mundo e fazer sua
interpretação diante de toda a sua complexidade.
Para que a teologia seja relevante, é preciso que tenha diálogo com a
cultura e com o mundo visível – até porque, no caso do cristianismo e das
demais crenças, não se estuda Deus da mesma maneira que se estuda outras
formas utilizadas pelas ciências.
Em que a teologia ajuda? Ela é o desdobramento de tudo aquilo que conhe-
cemos sobre Deus, portanto conhecemos melhor sobre Ele e sua palavra. Esse é
um dos caminhos para que nos tornemos melhores em nossa vida profissional e
como seres humanos, como pregadores, professores e até mesmo como pessoa,
melhorando a nossa relação com o outro. Já estudamos que o homem é feito de
corpo, alma e espírito, e se permanecemos apenas no estágio do corpo, o nosso
comportamento estará relacionado aos desejos da carne. É bom frisar que não
desvalorizamos o estado físico do corpo, que também é muito importante, mas
ele precisa estar alinhado com a alma e o espírito. Como podemos observar
na Figura 2.1, o homem deve agir em equilíbrio. Assim como na filosofia o
homem é uma intersecção de dois mundos, o real e o ideal, da mesma forma ele
deve agir pela intersecção dos três elementos, corpo, alma e espírito.
Figura 2.1 | Corpo, alma e espírito
Corpo
Equilíbrio
Alma Espírito
82
Como Deus criou o mundo, certamente os seus traços são observados
na obra criada. A sua beleza está implícita em tudo que existe na natureza; a
terra, o mar, as montanhas, as árvores e as pessoas. O corpo humano fala de
Deus, é sua imagem e semelhança, sua obra mais sublime. O corpo é consi-
derado pelo cristianismo como o templo do Espírito Santo, por isso é preciso
ter um equilíbrio entre essa tricotomia.
É importante que as três esferas convivam e interajam, desde que haja um
equilíbrio. Algumas premissas são importantes, considerando o estudo da
teologia, e uma delas é a formação do caráter cristão, pois o desenvolvimento
da vida de um cristão depende da verdade sobre Deus e seus atributos.
Reflita
Considerando a tricotomia do homem, o objetivo desta reflexão não
é fazer uma afirmação ou dar uma resposta, mas incentivar o debate
sobre o assunto. Conforme o versículo a seguir, que está em Gênesis 2:7,
pergunta-se: o homem tem uma alma ou ele é uma alma?
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra [corpo], e soprou em
suas narinas o fôlego da vida [espírito], e o homem tornou-se uma alma
vivente [alma].” (grifo do autor)
Algumas questões devem ser consideradas na reflexão sobre a trico-
tomia relacionada no versículo apresentado. É possível ter mais de
uma explicação? Seria apenas uma figura de linguagem a citação: “e o
homem tornou-se uma alma vivente”. Por que os três são importantes
e precisa haver equilíbrio?
E para que serve a teologia? Podemos dizer que a teologia serve como
defesa de uma determinada crença. No caso do cristianismo, uma teologia
bem fundamentada vai combater as heresias e qualquer assunto contrário
à fé e à verdade cristã. Neste sentido, a boa compreensão dos estudos teoló-
gicos servirá à eficaz propagação do evangelho.
A importância da teologia é apresentada nos estudos anteriores sobre
a tricotomia do homem, em que referenciamos a questão do equilíbrio. É
importante obter o conhecimento teológico e ao mesmo tempo saber dosar
as atitudes e as ações sob efeito da sabedoria. A verdadeira teologia, consi-
derando seus objetivos, não pode ultrapassar os limites da normalidade, do
bom senso. Propagar ou proclamar o evangelho não é tornar-se vaidoso ou
acima do conhecimento do bem e do mal.
83
Precisamos saber que o conhecimento sem o espiritual
pode levar alguns ao formalismo, e o espiritual sem o
conhecimento também pode levá-lo ao fanatismo religioso.
Portanto, tudo tem que ter ponderação, e isso aprendemos
estudando e adquirindo o conhecimento, pois é como disse
Jesus: “E conhecereis a Verdade, e a Verdade vos Libertará”
– Jo 8.3. (MELO, 2015, [s.p.])
Há pessoas que apresentam comportamento formalista e fanático

religioso, caminhando na contramão do conhecimento. Ambos os aspectos
não atingem os objetivos esperados. Deve-se lembrar que o caminho para uma
boa palavra é a valorização da vida e não sua destruição. E um dos caminhos
para observar a boa teologia é perceber que em sua ação existe o equilíbrio,
o bom senso, a harmonia, o respeito ao outro e um bom fundamento. Dois
pontos são importantes, como já mencionamos: um, a valorização da vida,
pois qualquer ensinamento que não seja para elevar o propósito da vida
torna-se uma heresia, sendo esta uma explicação totalmente humana e desti-
tuída do equilíbrio que mencionamos anteriormente, ou seja, sem propósito,
sem direção, e principalmente sem conhecimento e sem o desenvolvimento
espiritual. E o outro, que pertence à sua essência, é a existência de Deus em
tudo que se relaciona à ação teológica.
A reflexão teológica e a missão da igreja são indispensáveis para a própria
vida. Além disso, são pré-condições de todo conceito e atividade na vida de
um cristão.
Comecemos por refletir e fazer os seguintes questionamentos: o único
dever da igreja é ganhar almas? Salvar os indivíduos do mal e plantar igrejas?
Para muitas igrejas esse é o lema principal de suas missões. Mas é óbvio que
a missão da igreja não se resume apenas a isso, e de nada adianta plantar
igrejas se com elas não estiver inserida uma gama de outras situações à luz
das Sagradas Escrituras. Vejamos alguns questionamentos mencionados por
Vargas em seu artigo publicado na Revista Vox Faifae:
A definição do que é a missão da igreja cristã é sem dúvida um

dos pontos mais cruciais da teologia. Afinal, o que Deus requer
que seu povo faça, exerça e realize no mundo a qual ela foi
enviada? O que devemos entender por missão cristã? Quais
são a natureza e os objetivos da missão da igreja? Perguntas
como essas podem receber uma variedade de respostas a
partir dos diversos pressupostos e compromissos teológicos.
Diante disso, esse artigo visa trazer uma breve reflexão sobre
84
a missão da igreja cristã e sua relação com a responsabilidade
social, demostrando, à luz das Sagradas Escrituras, que a
missão cristã envolve várias dimensões. (VARGAS, 2019, p.1)
Exemplificando
Quando falamos em missão da igreja, estamos nos referindo ao que
Deus requer que sua igreja faça no mundo em que ela foi enviada,
não é mesmo? Mas quando a igreja começa a agir de acordo com as
concepções humanas e as vontades específicas dos homens, ela passa a
exercer uma influência negativa em seus participantes, distanciando-se
das Sagradas Escrituras.
Lembre-se de que a falta de equilíbrio que mencionamos no início de

nosso estudo retrata exatamente essa situação. Lembremos do que mencio-
namos: “Portanto, tudo tem que ter ponderação, e isso aprendemos estudando
e adquirindo o conhecimento, pois é como disse Jesus: ‘E conhecereis a
Verdade, e a Verdade vos Libertará’ – Jo 8.3.” (MELO, 2015, [s.p]). Quando
um dirigente e seus participantes não mantêm o equilíbrio entre a sua trico-
tomia, agindo por vontade própria e pelas suas concepções, a tendência é que
a igreja corra um sério risco de contradizer a sua própria missão. Veja o que
ocorreu com a igreja da cidade de Corinto, por exemplo.
Figura 2.2 | Cidade de Corinto
Fonte: Shutterstock .
85
A igreja de Corinto era uma igreja abençoada em diversos aspectos e que
cumpria a sua missão, no entanto começou a desviar-se de seus propósitos:
A igreja de Corinto era uma igreja que havia sido muito

abençoada por Deus em diversos aspectos. Quando Paulo
inicia esta carta ele reconhece, no capítulo primeiro, que
Deus havia abençoado a igreja com toda sorte de bênçãos
espirituais, de dons espirituais, ao ponto de “não lhes
faltar dom nenhum”. Corinto era uma igreja carismática
no sentido bíblico da palavra, ou seja, tinha os “carismas”
do Espírito de Deus, os dons, através dos quais desen-
volvia seu serviço prestando culto a Deus e cumprindo a
sua missão neste mundo. Infelizmente, por motivos que
desconhecemos, esta igreja de Corinto, que havia sido
fundada pelo apóstolo Paulo, com menos de três anos de
fundada começou a desviar-se dos padrões de conduta e de
doutrina que o apóstolo havia estabelecido por ocasião de
sua fundação. (LOPES, 2019, p.1, grifo nosso).
Os problemas de Corinto foram muitos, como as divisões que ocorreram

dentro da igreja exatamente pela ausência de cumprimento do que foi estabe-
lecido para a missão daquela igreja. Também problemas doutrinários prove-
nientes de divisões de ordens bíblicas e questões morais, entre outros.
Assimile
Por que as pessoas criticam e não conseguem traduzir certos aconteci-
mentos ou atualizá-los para os dias atuais? É possível observar o contexto
de um acontecimento e absorver sua essência, ou seja, traduzir o resul-
tado obtido daquela época para os nossos dias. Caso não atualizarmos, a
interpretação fica apenas no acontecimento do âmbito local, ou seja, uma
situação específica daquela época, e nesse caso não servirá para os nossos
dias. Por exemplo: por que Paulo, em suas cartas a Corinto, orientou às
mulheres que mantivessem os cabelos compridos e que usassem véu?
Os desafios de Paulo eram muitos, no que diz respeito à igreja de Corinto. A

cidade tinha de 500 a 600 mil habitantes; era uma cidade portuária locali-
zada entre os mares Egeu e Adriático. Embora Corinto fosse uma próspera,
nem todos desfrutavam da riqueza. A prostituição era um grande negócio,
e as prostitutas tinham a cabeça raspada. Por essa razão, Paulo instruiu às
mulheres cristãs para que não cortassem os cabelos e nem circulassem pelas
ruas. Por outro lado, existiam ainda as prostitutas sagradas que, por meio
86
de rituais, seduziam os homens com os cabelos; portanto, é por essa razão
que a instrução era que colocassem véu na cabeça. Partindo desse contexto,
podemos assimilar algumas situações que ocorrem em nossa época:
• Hoje em dia é preciso usar véu na cabeça? Certamente que não.

Mas se quiserem usar, há algum problema? Também não, pois não
há nenhum problema em usar véu. Para as sociedades modernas,
o ato de raspar a cabeça não está relacionado a nenhuma questão
de moralidade, como naqueles dias de Corinto. Qual seria a orien-
tação para esse caso? Se a sua comunidade é adepta do véu e
se você participa dela, então deve respeitar, caso contrário,
qual seria o motivo de estar fazendo parte de algo que você não
aceita? Não há nenhum problema em usar véu se isso faz parte
da doutrina de sua comunidade, assim como não há nenhum
problema em não usar, se o grupo do qual você participa não
tem como princípio utilizá-lo. O que importa mesmo é compre-
ender qual o sentido verdadeiro das coisas e principalmente ter o
compromisso com a verdadeira palavra de Deus.
• E o cabelo, precisa ser comprido? Na modernidade, o cabelo se

tornou algo mais referente à estética. Vai depender do gosto de
cada um. Porém, é importante sempre lembrar: em se tratando
de comunidade religiosa, você deve se adaptar ao meio em que
você se encontra, pois alguém que participa de uma determi-
nada comunidade e tem comportamentos contrários a ela estará
propagando exemplos que vão de encontro ao grupo, podendo
trazer confusão e discórdia. Esse certamente não deve ser o
objetivo de uma pessoa cristã e temente a Deus.
Teologia e Sociedade
A teologia social é um estudo aberto aos contextos de cada povo, uma
teologia que olha além dos livros. Não é sofista, mas ativa, dando voz e vez aos
membros mais excluídos da sociedade. Por isso, é de se pensar que a função
dessa teologia deve ser completa, abrangendo o ser humano em todos os seus
aspectos, cujas carências devem ser satisfeitas por tratamentos adequados. A
função social da teologia interage com a função social da igreja, e aqui temos,
portanto, a teoria e a prática se fundindo em uma só obra a ser realizada.
Portanto, na missão integral da igreja, com base nos pressupostos teoló-
gicos, deve-se afirmar a responsabilidade social de forma que haja uma
interação entre a sociedade e as estruturas de governo. Não significa, é claro,
que as instituições – e, no nosso caso, a igreja – farão a parte que corresponde
87
ao governo; mas devem demonstrar interesse e propor a promoção da justiça
social, buscando a transformação da sociedade. Quanto maior a interação
entre as igrejas locais, melhor será o desenvolvimento da ação social proposta
nas cidades onde estão inseridas. A teologia, neste contexto, é a base de equilí-
brio que expressa um comportamento, cujo objetivo não se dá por obrigação
nem por determinação governamental, mas por amor e pela consciência da
necessidade de atuar e cumprir uma missão que é de praxe das igrejas, aquilo
que se expressa na própria escritura sagrada.
Voltemos à análise sociológica. Durkheim (1858-1917) compara a socie-
dade a um corpo vivo, em que cada órgão cumpre uma função. Para esse
autor, isso implica afirmar que a parte (os fatos sociais) existem em função
do todo (a sociedade). É justamente isso que a ideia de função social mostra.
A ligação que existe entre as partes e o todo.
Reflita
Considerando a perspectiva teológica, qual a função social de sua igreja
ou qual a função social da igreja que você imagina ser mais adequada à
realidade da sua comunidade local?
Considerando a perspectiva teológica, a função social da igreja precisa ser

útil e relacionada com a realidade local. Vale lembrar que a igreja somos nós,
portanto, a missão da igreja é também nossa missão, e aí entra a importância
das reflexões teológicas, cuja função é nos levar a refletir sobre os nossos atos
e nossas ações com relação aos enfrentamentos pessoais e sociais.
Sem medo de errar
Os estudos propostos desde o início, sugeridos pelo professor de

Introdução à Teologia, foram relevantes para que as alunas compreendessem
os dilemas que sugiram em torno dos entendimentos distintos referentes à
Teologia Natural e à Teologia Revelada.
Elas fundamentaram suas sínteses teológicas da seguinte maneira: uma,
utilizando a Teologia Natural, seguindo um pensamento das teologias
latino-americanas, em que a teologia se une à humanidade; e a outra, uma
teologia menos catequética e mais dogmática para fundamentar seu tratado,
de acordo com estudos propostos por essas duas fundamentações. Após a
contextualização e análise das duas alunas, o professor trouxe para a teologia
atual a dualidade entre fé pautada pela razão e fé pautada pelo dogma.
88
Para a análise dessa discussão foi imprescindível a utilização de dois
caminhos: o primeiro são os textos sagrados, sempre importantes para
qualquer estudo da área teológica, e o segundo, também relevante, são as
análises de alguns pensadores sobre o tema, pois como já mencionamos
anteriormente, a fundamentação teórica precisa ser forte o suficiente para
aplicar a boa e equilibrada interpretação bíblica, buscando sempre a compre-
ensão dos temas teológicos e a sua interação com a realidade humana.
Logo, foi possível responder à pergunta “Para que serve a teologia?”, pois
a teologia, enquanto ciência e estudo sobre a existência de Deus, de
sua natureza, e seus atributos, das questões referentes ao conhecimento
da divindade, assim como de sua relação com o mundo e com os homens,
possibilitou a análise e a compreensão dos questionamentos que foram
surgindo no decorrer dos estudos realizados pelas alunas.
Ao colocarmos a teologia ao lado das ações da igreja, percebe-se a
interação possível e necessária para um direcionamento mútuo, pois a teoria
valoriza e direciona a prática ao mesmo tempo em que a prática enriquece
a teoria. Portanto, são importantes as reflexões teológicas considerando que
nós somos a igreja, e cabe a nós o cumprimento dessa missão.
Neste contexto, foi possível perceber, por meio dos estudos, as duas
formas de se conhecer a existência de Deus, baseadas na regularidade e
complexidade do mundo natural e da revelação divina; além de perceber a
importância da teologia e suas funções para a igreja e para a sociedade atual.
Somente conhecer e interpretar a palavra é

suficiente?
Ao estudar as escrituras, é suficiente conhecer bem o texto bíblico,

compreendê-lo ou interpretá-lo corretamente? Muitos, sem entender o
contexto desta pergunta, diriam que sim. Porém não é suficiente, e é por
isso que estamos vivendo muitas contradições e incoerências em um mundo
quase sempre desumano.
Conhecer e interpretar o texto bíblico é importante, mas não é suficiente:
também é preciso saber aplicá-lo corretamente. Muitos criticam a Bíblia como
89
um livro antigo e sem efeito para os dias atuais por não saberem fazer o exercício
de entender a essência e as especificidades, ou seja, não sabem transitar pela
história e pela cultura de cada contexto, aplicando os ensinamentos em uma nova
situação: isso significa dizer que precisamos atualizar o contexto de uma deter-
minada época para os dias atuais. Diríamos que todo texto tem um contexto, e é
a partir disso que podemos tirar a essência e traduzi-la para qualquer outra reali-
dade em qualquer tempo. Além de crermos que a Bíblia contém a palavra de Deus,
temos o desafio de interpretá-la e atualizá-la contextualmente, pois a mensagem
proveniente dessa palavra é a mesma ontem, hoje e sempre. No entanto, para
cada momento da história, para cada época e cada situação ela expressa uma
verdade possível e necessária, por ser uma mensagem sagrada e viva. Nesse
sentido, os textos escritos no Antigo Testamento e no Novo Testamento devem
ser constantemente atualizados para o nosso contexto.
Percebe-se, portanto, que não é suficiente somente conhecer bem o texto
bíblico, compreendê-lo ou interpretá-lo corretamente, pois é preciso atuali-
zá-lo para o nosso contexto e, principalmente, aplicá-lo. A primeira pergunta
que devemos nos fazer é: por que a Bíblia foi escrita? Qual seria o propósito
principal? A Bíblia mostra-nos caminhos que com certeza, se não seguirmos,
adentraremos em uma direção que não nos levará a uma vida de esperança,
de vitórias. O objetivo principal é nos orientar sobre o verdadeiro caminho a
seguir, não nos esquecendo de aplicar o que nos foi orientado.
Faça valer a pena
1. A teologia em seu sentido estrito é direcionada especificamente ao cristia-

nismo, porém, em sentido amplo, aplica-se a qualquer religião. A teologia já
havia sido utilizada em outros momentos, como no período pré-socrático,
por exemplo, e posteriormente, ainda que de forma não objetiva. De maneira
mais específica, um autor referiu-se a esse termo como a compreensão da
natureza divina por meio da razão.
Por qual filósofo o termo teologia foi utilizado com uma conotação mais
específica?
a. Aristóteles.
b. Sócrates.
c. Platão.
d. Diógenes de Sinope.
e. Xenófanes de Cólofon.
90
2. Embora para a teologia a essência seja Deus, sendo a partir dessa realidade
que tudo acontece, ela também estuda outros assuntos, obtendo reflexões de
dois pontos importantes: as informações bíblicas ou de estudos afins e a reali-
dade social – esta, com o objetivo de propor soluções para resolver situações
de injustiças na sociedade. Outro fator relevante é observar que a teologia não
é restrita ao domínio do_____________________, mas abrange também o
campo da ______________________, a _________________________ e
_______________________, ou seja, trata-se de um estudo amplo, sempre
tendo como direção a vida em sua dimensão histórica, a natureza e o respeito,
assim como os direitos humanos, cujo estudo está sempre relacionado com a
existência de Deus e o sagrado.
a. sagrado; história; vida cristã; ateísmo.
b. pensamento filosófico; reflexão antológica; psicologia; sociologia.
c. fato empírico; dimensão histórica; vida; dimensão espiritual.
d. pensamento religioso; evolução cultural; vida intelectual; interpes-
soal.
e. método científico; comunidade judaica; psicologia; gnosticismo.
3. Uma pergunta muito comum é sobre a utilidade da teologia para a nossa

vida. Já vimos que Teologia é a ciência ou estudo sobre a existência de Deus,
de sua natureza e de seus atributos, das questões referentes ao conhecimento
da divindade, assim como de sua relação com o mundo e com os homens.
Faz parte de uma área conhecida como Ciências Humanas. Sobre a teologia,
analise as afirmativas a seguir:
I. A teologia obtém reflexões de dois pontos importantes: as informa-
ções bíblicas ou de estudos afins e a realidade social.
II. Para que a teologia seja relevante é preciso que se tenha diálogo com
a cultura e com o mundo visível.
III. Teologia é o desdobramento de tudo aquilo que conhecemos sobre
Deus.
IV. A reflexão teológica é indiferente à missão da igreja; esta sim impor-
tante para a vida. Além disso é a precondição de todo conceito e
atividade na vida de um cristão.
91
É correto o que se afirma em:
a. I apenas.
b. I e II apenas.
c. II e III apenas.
d. II e IV apenas.
e. I, II, III apenas.
92
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VARGAS, D. A. Uma breve reflexão sobre a missão da igreja cristã. Vox Faifae: Revista de
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index.php/voxfaifae/article/view/100/111. Acesso em: 20 set. 2019.
Unidade 3
A existência de Deus e seus atributos
Convite ao estudo
Vamos aprofundar os estudos sobre a Trindade, doutrina cristã que
define Deus como único, mas manifestado em três pessoas diferentes: Pai,
Filho e Espírito Santo. Vamos abordar também quais são os seus atributos e
estudar cada uma destas manifestações separadamente. Portando, os estudos
incluem os seguintes conteúdos: Introdução à Trindade; Estudo de Deus,
o Pai; Estudo de Deus, o Filho; Estudo de Deus, o Espírito Santo. Nesse
sentido, o que se pretende é aprimorar conhecimentos a respeito do assunto
para responder aos questionamentos sobre o que ou quem seriam essas três
manifestações/pessoas. Quais seriam os atributos que validam a existência de
Deus e qual a resposta para todo o ato criador?
Como nas Escrituras Sagradas não vamos encontrar a palavra “trindade”,
vamos refletir sobre a essência e o significado deste termo com base em
alguns elementos históricos, tanto na Bíblia quanto em estudos teológicos,
permitindo, assim, uma reflexão mais específica sobre essa temática.
O motivo desse estudo é expor a compreensão da doutrina da Trindade,
motivando você a pesquisar mais a respeito do assunto, além de capacitá-lo a
refletir e interagir sobre o tema com outros interlocutores, produzindo suas
próprias conclusões.
Considerando que foi Agostinho de Hipona um dos principais teólogos
a defender e descrever sobre a doutrina da Trindade, conforme a tradição
cristã ocidental, vamos utilizar sua apologia sobre o tema como um dos
fundamentos para a nossa análise. É certo que o propósito deste estudo
não é afirmar a Trindade como algo absoluto e definitivo, porém, explicar
o conceito para que você, aluno, seja capaz de fazer sua própria reflexão e
conclusão sobre essa temática.
Ao considerar o termo Trindade em nossos estudos, pretendemos
abordar, além do significado, a correlação, intenção e a interação entre essas
três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, de maneira a determinar a identidade
e a função de cada uma.
Não pode faltar
Caio, estudante do primeiro ano de Teologia, e Rachel, estudante do

segundo ano de Filosofia, conversam sobre a existência de Deus. Ambos
têm dúvidas e procuram Sergio, colega da mesma faculdade que está no
último ano de Teologia. Refletindo sobre a fé e seus paradoxos com a ciência
humana, Caio e Rachel questionam Sergio sobre quais seriam os atributos
que validam a existência de Deus.
O estudante responde e cita a Trindade como o primeiro ato de criação,
descrevendo-a como três partículas que se unem e tornam-se uma única
partícula, capaz de gerar todo o universo. Rachel e Caio, não convencidos,
questionam o que seriam essas três substâncias ou partículas, e como elas
puderam tornar-se uma só. O Pai, o Filho e o Espírito Santo seriam uma só
pessoa, ou três pessoas separadas individualmente?
Buscando responder aos questionamentos, um dos estudantes trouxe à
conversa um livro muito importante que leu em outras matérias do curso de
Teologia. Esse livro revela de forma abrangente quem é o Pai que ama o Filho,
e que este amor faz com que venha o Espírito Santo. Esse estudante também
se lembrou de que este livro fala que os três, Pai, Filho e Espírito Santo, eram
tão unidos que se tornaram uma única pessoa, revelando ao homem o poder
de um único Deus em três pessoas. Tomado de um impulso, o estudante
levanta sua mão e pergunta ao professor se ele lera este livro e se poderia
refletir com eles a respeito da obra de Agostinho, bispo de Hipona.
Esses conteúdos são importantes para a compreensão e o entendimento
sobre a essência dessa temática, considerando não ser essa uma tarefa fácil
por se tratar de um assunto que não se encontra nas Escrituras Sagradas.
Portanto, os textos aqui propostos são relevantes e servem de base para
aperfeiçoar essa compreensão.
Conhecer e aprender como se dá a existência de Deus através da Trindade
– Pai, Filho e Espírito Santo – e quais são seus atributos é essencial para
entender com mais profundidade um dos principais dogmas do Cristianismo,
assim como compreender melhor a própria Bíblia.
Seção 1
A natureza trinitária de Deus
Diálogo aberto
Introdução à Trindade
Estudar a Trindade é uma tarefa essencial para se compreender a essência
divina. A Bíblia não cita a palavra “trindade”, e esta é uma das dificuldades
quando se trata desse tema; no entanto, os teólogos citam vários trechos
bíblicos que apoiariam essa doutrina. Por exemplo: no capítulo 1 de Gênesis,
pode-se perceber que Deus fala de si mesmo no plural: “Façamos o homem à
nossa imagem e semelhança” (Gn 1:26).
Quando colocamos a fé como antagônica à ciência, limitamos a nossa
compreensão a respeito de ambas. É preciso aceitar cada uma delas, conce-
bendo uma visão ampla, refinada e compreensiva, destituída de preconceitos,
entendimentos absolutos e definitivos. Em se tratando do divino, precisamos
estar abertos à constante reflexão, busca de entendimento, análise, compa-
ração, debate e diálogo, com propriedade e conhecimento. Baseado no que
lemos até este momento, falar de um único e libertador Deus pode nos colocar
diante da imagem sagrada do Filho, para entendermos o Pai e permitir que o
espírito nos capacite a mergulhar neste mistério de Fé. Embora Rachel e Caio
tenham diferentes experiências de fé, ambos apresentam as mesmas dúvidas
sobre a existência de Deus e sobre a Trindade, e ambos terão que encontrar
suas próprias respostas.
Exemplificando
Neste contexto, precisamos entender que, embora seja importante
ouvir o outro, o que ouvimos só fará sentido para nós a partir das nossas
próprias vivências e experiências. Devemos compreender e discernir,
sem tirar conclusões precipitadas. A nossa fé precisa ser vivida para
tornar-se real.
Quais seriam os atributos que validam a existência de Deus e qual a

resposta para todo o ato criador? Seria Deus um conceito impossível de ser
totalmente compreendido pelo ser humano? Uma das respostas da teologia é
que Deus é superior a nós, e por essa razão não somos capazes de compreen-
dê-lo na sua totalidade; no entanto, os que creem nele confiam que Ele sabe de
todas as coisas. A Bíblia ensina que há um só Deus, conforme Deuteronômio
97
4:5 “Foi a ti, Israel, que Ele mostrou tudo isso, para que soubesses que Yahweh
é Deus, o Único. E além dele não existe nenhum outro!”.
Assimile
O Velho Testamento foi escrito em hebraico. A palavra Yahweh, uma das
primeiras denominações bíblicas para Deus, seria o Jeová que conhe-
cemos em português. Deus também recebe outros nomes na Bíblia:
Elohim e Adonai.
Outra questão refere-se ao texto: os que creem entendem que Ele sabe
todas as coisas, que Ele é o primeiro e o último e que o que Ele decide
sobre nossas vidas é o melhor caminho. A Bíblia nos ensina que há um
só Deus, como vemos em Deuteronômio 4:5: “Foi a ti, Israel, que Ele
mostrou tudo isso, para que soubesses que Yahweh é Deus, o Único. E
além dele não existe nenhum outro”.
Mas e os que não creem? Aí está a razão porque mencionamos há pouco

que é preciso uma visão ampla, refinada e compreensiva, destituída de
qualquer preconceito e de entendimentos absolutos e definitivos.
A pergunta é: por que você não crê? Existe uma razão específica para
não crer? Essas reflexões estão de acordo com o que se costuma dizer:
Deus existe? Se você não pode provar que Deus existe, por outro lado
também não pode provar que Ele não existe. Então, tudo está em
aberto para pensar, repensar e refletir, pois nem as ciências, com suas
grandezas e especificidades, conseguem provar o contrário. Ainda
que não acreditemos em algo, devemos nos permitir estudar para ter
conhecimento e, posteriormente, poder debater sobre o assunto. Nesse
sentido, há ainda o conceito do livre-arbítrio, pelo qual você tem toda
a liberdade de pensar o contrário e escolher em que crer, assumindo
todas as consequências de seus atos.
É possível pensar em um primeiro momento que o termo Trindade

seja incompreensível à mente humana. No que se refere à elaboração trini-
tária, poderemos traçar as características da identidade biografada de Deus
no imaginário cristão: parte-se da unidade da essência divina para buscar
uma forma de compreender a complexidade dos Três. Afirma-se o Pai como
princípio que não tem princípio; assume-se o Filho que se une substancial-
mente em comunhão com o Pai; e assim se encontram unidos não só por
suas naturezas, mas por um Espírito Santificador, em um clima de amor
trino e substancialmente, que corresponde à Realidade Transcendente que
chamamos de Deus.
98
Tanto o Filho (Jesus Cristo) quanto o Espírito Santo são complementos da
ação do Pai (Deus) na superfície da terra para manter a estrutura da criação
humana e para direcionar o ser humano no caminho projetado por Yahweh
(Deus). Está difícil compreender? É aí que entra a teologia. A teologia é o
esforço natural para tentar harmonizar aquilo que aparentemente é contradi-
tório. Todas as vezes que tentamos entender um assunto relacionado a Deus,
estamos fazendo um exercício teológico.
Para compreendermos melhor a questão da Trindade, será importante
estudarmos primeiramente e de maneira individual as três pessoas que a
compõem: Deus, o Pai; Deus, o Filho; e Deus, o Espírito Santo.
Então, quem é Deus, o Pai? Se consultarmos os textos bíblicos, teremos
algumas descrições sobre Ele:
“Contudo, Senhor, tu és o nosso Pai. Nós somos o barro; tu és o oleiro.
Todos nós somos obra das tuas mãos” (Is 64:8).
A Bíblia também diz que Deus é espírito (João 4:24) e que é imortal
(1Timóteo 6:16).
As três pessoas da Trindade são iguais em divindade e em dignidade,
mas têm diferentes funções, como se pode ver no trecho a seguir: “Porque
ele tudo sujeitou debaixo de seus pés”. Ora, quando se diz que tudo lhe foi
sujeito, fica claro que isso não inclui o próprio Deus, que tudo submeteu a
Cristo” (1Co 15:27).
A subordinação mencionada mostra que o Pai é supremo na Trindade,
que o Filho cumpre a vontade do Pai e que o Espírito é enviado pelo Pai
e pelo Filho para vitalizar a vida, transmitir a verdade da parte de Deus,
aplicar às pessoas a salvação e capacitá-las a obedecer a vontade de Deus, a
fim de que Ele seja tudo em todos. A Bíblia ensina que o Deus trino e uno é
supremo e soberano em todas as coisas.
A atribuição de Pai ao Deus supremo não ocorre apenas no Cristianismo,
mas em muitas outras religiões. Ele é a primeira pessoa da Trindade. O texto
de 1Coríntios 15:27,28 retrata Cristo como filho, sendo essa sua função/
identidade na Trindade.
A Trindade também traz reflexões interessantes e práticas sobre os
relacionamentos humanos. Ela mostra que o o filho deve obedecer ao pai e
que existe respeito entre eles, tornando-os uma unidade, sem discórdia nem
separação.
99
Quem é Deus, o Filho? Antes de Jesus nascer, muitas foram as predições
sobre sua vinda. Ele seria o Messias (em hebraico) ou Cristo (em grego),
palavras que significam “ungido”. Veja o que diz João 1:1-5:
No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com

Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas
as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele nada
do que existe teria sido feito. Nele estava a vida e esta era
a luz dos homens. A luz brilha nas trevas, e as trevas não a
derrotaram. (BÍBLIA DE ESTUDO NVI, [s.d.], p.1979)
O Novo Testamento foi escrito no grego. No texto apresentado, “No

princípio, era aquele que é a Palavra”, o termo palavra, no original, é logos e
não se refere à palavra falada, mas sim à ideia, ou seja, à razão. Aqui temos o
princípio racional que governa todas as coisas.
Reflita
Deus é espírito, logo não pode ser visto. Sendo assim, como seria a sua
relação com os homens? Em Êxodo 33:20, o próprio Deus diz: “Não
poderás ver a minha face, porque o ser humano não pode ver-me e
permanecer vivo!”. Deus queria relacionar-se com os homens, e este
foi o motivo para que o verbo se tornasse carne, ou seja: Deus se fez
homem para revelar-se à humanidade. Jesus é Deus encarnado, o verbo
transformado em carne para salvar a humanidade. Jesus Cristo é a
segunda pessoa da Trindade.
Quem é Deus, o Espírito Santo?

O Espírito Santo é uma das três pessoas da Trindade, portanto, ele
também é Deus, assim como o Pai e o Filho.
O que é realmente o Espírito Santo? O termo “espírito” é uma tradução do
hebraico rú·ahh e do grego pneuma. Em Gênesis 1:2, ele é descrito como uma
força ativa de Deus: “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a
face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”.
O Espírito de Deus, termo citado várias vezes nas escrituras, denota a
ideia da força ativa de Deus. O Espírito Santo, portanto, seria esse agir de
Deus sobre e em todas as coisas. A Bíblia diz que todas as coisas foram
feitas por intermédio dele, e que sem ele nada do que existe teria sido feito.
100
Portanto, assim como o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas
durante a criação, da mesma forma pode-se depreender que este Espírito se
move ainda hoje sobre a terra, dando forma e vida a todas as coisas e seres.
Quais são todas essas coisas nas quais podemos perceber a ação de Deus?
Em Habacuque 2:9 se lê: “Ai daquele que diz ao pau: acorda! E à pedra muda:
Desperta! Pode isso ensinar? Eis que está coberto de ouro e de prata, mas no
meio dele não há espírito algum”. Aqui o profeta denuncia a inutilidade da
idolatria que transforma coisas inanimadas, como paus e pedras, em ídolos.
O pau e a pedra nada podem ensinar a alguém, por que lhes falta a vida.
Entretanto, tudo que se movimenta sobre a face da terra tem a força ativa de
Deus – Espírito Santo. Veja, por exemplo, Gênesis 2:7: “E formou o Senhor
Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida;
e o homem foi feito alma vivente”. O fôlego de vida que encontramos neste
versículo origina-se do substantivo hebraico nshamah. Qual seria o seu signi-
ficado? É o que nos torna seres vivos, como a respiração; espírito (impulso,
estímulo de vida). É também inspiração, ou seja, iluminação, esclarecimento
divino. Sem o fôlego de vida o ser humano seria apenas uma estátua, porém,
tudo se movimenta pela força ativa de Deus (o Espírito). Na arte – uma das
habilidades do ser humano – o homem pode criar muitas estátuas, com
diversas aparências e formas, mas não tem o poder para conceder o fôlego
de vida. Esse poder é um dos atributos que evidencia e justifica a divindade.
Outra passagem que lembra movimentação a partir dessa força ativa de
Deus está em Gênesis 8:1: “E lembrou-se Deus de Noé, e de todo animal e
de toda rês que com ele estava na arca; e Deus fez passar um vento sobre a
terra, e aquietaram-se as águas” (grifo nosso).
Quando Deus salvou o povo hebreu da escravidão no Egito e enviou as
dez pragas, essas calamidades serviram para contrastar o poder de Deus em
relação aos ídolos egípcios, nos quais o faraó tanto confiava. Aqueles ídolos
que não falavam, não escutavam e não viam nada puderam fazer para salvá-
lo, pois não tinham a força ativa de Deus, não tinham o fôlego de vida, ou
Espírito de vida.
Há uma força de vida nos seres vivos, conforme se lê em Gênesis 6:17:
“Porque eis que eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer
toda a carne em que há espírito de vida debaixo dos céus; tudo o que há na
terra expirará” (grifo nosso).
As nossas atitudes, as disposições que nos movem, devem-se ao espírito
de vida que está em nós.
101
Figura 3.1 | Trindade
Deus
Pai Na Trindade temos uma
intersecção:
Deus Pai; Deus Filho e Deus
Deus Deus Espírito Santo, que possuem

uma só e mesma substância ou
Filho Espírito essência.
Santo
Como podemos perceber, cada pessoa da Trindade tem uma função. É

por essa função que elas se apresentam como três pessoas, como se fossem
separadas; no entanto, há uma intersecção: elas têm uma mesma essência,
são um só Deus, uma só ação multiplicada em funções para cumprir o desejo
de salvação humana. Essa é a função da Trindade. A palavra “trindade” foi
criada pelo homem na tentativa de definir Deus e suas manifestações bíblicas
(Pai, Filho e Espírito Santo), mas para Deus trata-se apenas de sua força ativa
(Espírito) e de seu contato com o ser humano (Jesus Cristo), cujo verbo se
tornou carne. Para Deus não há Trindade, mas sim o seu desejo e sua ação
sobre a face da terra. Os três, Pai, Filho e Espírito Santo, significam uma
única força, soberania e sabedoria de Deus.
Sem medo de errar
Rachel, estudante de filosofia do segundo ano, e Caio, estudante de

Teologia do primeiro ano, tinham muitas dúvidas sobre a existência de
Deus. Tais dúvidas surgiram da proposta de um trabalho interdisciplinar
para expor a Visão da Fé aos Olhos da Ciência Humana. Um dos questiona-
mentos foi: Quais seriam os atributos que validassem a existência de Deus e
qual a resposta para todo o ato criador. Sergio, o estudante do último ano de
Teologia, citou como primeiro ato de criação a Trindade e seus atributos de
salvação dentro da história da humanidade. Os outros dois estudantes, não
convencidos, questionaram como definir a Trindade.
102
As explicações e estudos propostos por Sergio facilitaram o entendi-
mento de Caio e Rachel. Eles ficaram sabendo que a palavra “trindade” não se
encontra na Bíblia, pois foi um termo criado com base nos textos sagrados e
na percepção de três “pessoas” descritas na Bíblia como Deus: Deus Pai, Deus
Filho e Deus Espírito Santo. Em seus estudos, Rachel e Caio perceberam que
embora o Pai, o Filho e o Espírito Santo representem três pessoas distintas,
na Trindade eles formam uma intersecção, ou seja, três pessoas em uma, com
a mesma substância ou essência.
O conceito de trindade é útil para entender a função de cada uma dessas
pessoas. No entanto, as funções estão ligadas a um só desejo, ao mesmo
objetivo. Neste sentido, temos aqui um só Deus, uma só ação multiplicada
em funções para cumprir o desejo de salvação humana. Essa é a função da
Trindade.
O livro citado por Sergio, A Trindade, de Agostinho de Hipona, um
teólogo da Idade Média, serviu de fundamento para os estudos. No livro,
Agostinho ensina que as pessoas na trindade não existem para si mesmas,
mas um para o outro. Portanto, essa tese fundamenta o que se percebeu nos
estudos: para Deus não há Trindade, mas sim o desejo de relacionar-se com a
humanidade e sua ação sobre a face da terra. O Pai, o Filho e o Espírito Santo
significam uma única força, soberania e sabedoria de Deus.
Com base nesses estudos foi possível conhecer e aprender como se dá a
existência de Deus através da trindade, Pai, Filho e Espírito Santo e quais são
seus atributos.
Caio entendeu tudo o que aprendeu nos seus estudos sobre a trindade,
pois já tinha um pouco de experiência em seu curso de Teologia; já Rachel,
estudante de filosofia, embora tenha também compreendido melhor a
Trindade, resolveu buscar ainda mais, compreender com mais profundidade,
pois precisava se convencer de tudo o que estudou. Isso é importante para se
obter um entendimento adequado das coisas.
103
Faça valer a pena
1. Estudar a Trindade não será uma tarefa fácil se você não compreender
a essência divina, ou se você for um cético convicto a respeito das Escri-
turas. Lembre-se também de que na Bíblia Sagrada não vamos encontrar a
palavra Trindade, portanto, quando colocamos a visão da fé diante da ciência
humana, devemos observar algumas considerações na análise deste termo,
conforme segue:
I. A análise primeira precisa ser cuidadosamente concebida por
uma visão ampla, refinada e compreensiva, destituída de qualquer
concepção contrária ou a favor.
II. A análise não pode estar contaminada com entendimentos absolutos
e definitivos.
III. Em se tratando das coisas divinas, precisamos estar abertos a
diferentes interpretações, analisando tudo antes de tirar as próprias
conclusões.
IV. É preciso constante reflexão na busca de entendimento, abrindo
espaço para o diálogo e o debate, com propriedade, respeito e conhe-
cimento.
V. Nossas reflexões devem sempre buscar a coerência, acatando aquilo
que faz sentido para cada um de nós. A fé é algo pessoal.
Conforme o texto, é correto o que se afirma em:
a. I e III apenas.
b. II e III apenas.
c. II e IV apenas.
d. I, IV e V apenas.
e. I, II, III, IV e V.
104
2. Diversas são as palavras correspondentes a doutrina cristã. Por exemplo,
a palavra “________________________” foi criada pelo homem, cuja
visão identifica Deus como três pessoas, mas para Deus, trata-se apenas
de sua___________________ (Espírito) e de seu _______________com o
ser humano (Jesus Cristo), cujo verbo se tornou carne. Para Deus não há
Trindade, mas sim o seu_________________ e sua ação sobre a face da terra.
Deus, o Pai, Deus, o Filho e Deus, Espírito Santo significam uma única força,
a soberania e a sabedoria de Deus.
completam as lacunas.
a. tricotomia; soberania; mistério; amor.
b. força ativa; existência; relacionamento; poder.
c. trindade; força ativa; contato; desejo.
d. poder; soberania; contato; sopro de vida.
e. trindade; essência; amor; verbo.
3. Você acabou de conhecer a natureza trinitária de Deus, ou seja, conhecer

e aprender como se dá a existência de Deus através da Trindade Pai, Filho e
Espírito Santo, e quais são seus atributos. Portanto, os estudos perpassaram
pelos conteúdos: Introdução à Trindade, Estudo de Deus, o Pai; Estudo de
Deus, o Filho; Estudo de Deus, o Espírito Santo. Neste contexto, analise as
afirmativas a seguir:
Tanto o Filho (Jesus Cristo) quanto o Espírito Santo são complementos da
ação do Pai (Deus) na superfície da terra para manter a estrutura da criação
humana.
I. Quando a Bíblia menciona que Cristo se sujeitou ao Pai, isso signi-
fica que Deus, o Pai tem mais poder do que Deus, o Filho.
II. O termo Trindade significa uma só essência, um só Deus, uma só
ação multiplicada em funções para que se possa cumprir o desejo de
salvação humana.
III. Na Trindade percebe-se uma intersecção, o que significa que as três
pessoas que a compõe coincidem apenas em alguns aspectos, mas
não em tudo.
IV. Cada pessoa da Trindade tem uma função e é apenas por esta função
que elas se diferenciam.
105
a. I e II, apenas.
b. I e III, apenas.
c. II e IV, apenas.
d. I, III e V, apenas.
106
Seção 2
Criação e providência
Diálogo aberto
Vamos aprofundar os estudos refletindo sobre diversos questionamentos
comuns dentro da teologia, por exemplo: como crer em Deus quando não
existe prova concreta e material alguma da sua existência? Se Deus tem o
controle sobre todas as coisas, como podemos ter livre-arbítrio? E afinal, o
livre-arbítrio existe mesmo?
Questionamentos como esses existem desde a antiguidade, quando os
primeiros filósofos começaram a tentar o início de todas as coisas. Muitas
dúvidas ainda persistem nos dias atuais sobre o universo e a natureza;
algumas dúvidas são respondidas pela ciência, enquanto outras ficam no
campo das teorias e da fé.
Você se lembra dos dilemas apresentados por Rachel e Caio, ela estudante
do segundo ano de Filosofia, sem muita fé, e ele cursando o primeiro ano de
Teologia, fiel às suas crenças, mas com muitas dúvidas? Durante um diálogo
sobre um trabalho interdisciplinar como o tema Visão da Fé aos Olhos da
Ciência Humana, Rachel e Caio interpelam o estudante do último ano de
Teologia, Sergio. Eles queriam saber quais os atributos que validariam a
existência de Deus e qual a resposta para todo o ato criador. O estudante
cita a trindade como o primeiro ato da criação, e seus atributos para a
salvação da humanidade. Sergio descreve a trindade usando como exemplo
três partículas ou substâncias que se unem e formam uma única partícula
ou substância capaz de gerar toda a criação que conhecemos. A trindade,
portanto, seria composta de três pessoas: Deus Pai, Deus Filho (Jesus Cristo)
e o Espírito Santo.
Como Pai, Deus não se esquece jamais de sua obra. Ele tem propósito
para tudo o que criou e sustenta, no seu poder, toda a criação. É isso que se
conhece como a doutrina bíblica da providência divina, que explica também
a soberania de Deus sobre tudo o que acontece e existe, os seres humanos, a
natureza e o universo. Estas ponderações nos levam a uma reflexão: será que
a providência de Deus é simplesmente uma ideia de prevenção e prudência?
Outra temática importante é o livre-arbítrio, um termo muito conhecido
e muitas vezes mal-interpretado, ou talvez desconhecido em sua essência.
Em nosso estudo, vamos entender que o livre-arbítrio não é uma ação isolada
na condição existencial do ser humano, e tampouco uma contradição à
soberania de Deus.
107
Portanto, os nossos estudos perpassarão pelos seguintes conteúdos: O
Mistério da Criação; O que é Providência; A Doutrina da Providência e o
Livre-arbítrio, os quais formam uma base importante para toda fundamen-
tação teológica.
Não pode faltar
O mistério da Criação
Na época em que imperava a mitologia, muitas eram as explicações para
os fenômenos que ocorriam na natureza. Certamente essas explicações hoje
nos parecem incoerentes diante das informações científicas que temos, mas
elas buscavam responder ao anseio humano de entender quem somos, de
onde viemos e para onde vamos.
Esses questionamentos levaram os primeiros filósofos a tentar entender
o início de todas as coisas, como e por quem o mundo e o homem foram
criados. Ao longo do tempo foram surgindo respostas, mas muitas dúvidas
ainda persistem nos dias atuais.
Rachel, estudante de filosofia do segundo ano, e Caio, estudante de
Teologia do primeiro ano, depararam-se com esses questionamentos ao
realizarem um trabalho interdisciplinar. Na tentativa de expor a Visão da
Fé aos Olhos da Ciência Humana, ambos expressaram suas dúvidas quanto
à existência de Deus. Sergio, estudante do último ano de Teologia, sugere
aos dois que façam uma análise crítica e objetiva dos livros do Pentateuco,
pesquisando o mistério da criação em Gênesis. Com este aprofundamento
teológico e uma clara iluminação diante dos Livros do Pentatuco (Gênesis,
Êxodo, Levítico Números e Deuteronômio), os estudantes compreenderam
a Graça da ação de Deus no ato da criação. Como leitura complementar, os
estudantes se comprometeram a ler Introdução à Leitura do Pentateuco.
Exemplificando
Quais são os livros do Pentateuco? Essa palavra vem do grego e significa
cinco livros:
PENTA = CINCO TEUCHOS = LIVRO
Portanto, como podemos observar, Pentateuco é a denominação que se

dá aos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Deute-
108
ronômio e Números. Como o próprio nome sugere, Gênesis é o livro que
relata a criação da terra e da humanidade
Embora a Bíblia mostre que a terra e a vida humana tiveram um início

e foram criadas por Deus, as Sagradas Escrituras não contam como Deus
surgiu. Sua existência é uma assunção tácita, ou seja, não se questiona. Deus
existiu ontem, existe hoje e existirá sempre, porque Ele é eterno.
Vemos que “no princípio Deus criou os céus e a terra. Era a terra sem
forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia
sobre a face das águas” (Gênesis 1:1).
Alguém poderia questionar de onde surgiu Deus? Antes de criar todas as
coisas, o que fazia? Como era a sua existência e como seria a terra sem forma
e vazia? Eis o mistério da criação. Quando Moisés, tido como o autor do
Pentateuco, pergunta a Deus como deveria chamá-lo ou se referir a ele, Deus
responde: “eu sou o que sou” (Êxodo 3:14).
Figura 3.2 | No princípio, Deus criou os céus e a terra
Fonte: Shutterstock.
Embora busque entender todos os mistérios da vida, pois foi criado como
ser racional, o homem tem limitações e sempre encontra mais perguntas,
além das respostas. No entanto, embora a criação seja um mistério, é possível
perceber ordem, estrutura e harmonia, além de beleza, em todo o universo.
109
As estrelas, os planetas, o sol que ilumina a terra, o dia e a noite, a diver-
sidade e variedade de criaturas, a perfeição do funcionamento do corpo
humano, tudo isso é o milagre da vida. Essa ordem também se manifesta nas
leis físicas, por meio das quais podemos atualmente compreender melhor os
fenômenos naturais.
Ao observar tudo isso, o ser humano pode concluir que existe um ser
superior por trás de tudo. Ou seja, a contemplação da natureza pode levar
o homem a crer que Deus existe. Nesse sentido, o apóstolo Paulo diz, em
Romanos 1:20, 21:
Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de

Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido
vistos claramente, sendo compreendidos por meio das
coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpá-
veis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram
como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensa-
mentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se
obscureceram. (BÍBLIA DE ESTUDO NVI, 2003, [s.p.])
Deus criou o mundo na sua sabedoria, e não do acaso, conforme podemos

observar em Apocalipse 4:11, que diz: “porque Vós criastes todas as coisas e,
pela vossa vontade, elas receberam a existência e foram criadas”. De acordo
com as Escrituras Sagradas, o homem não é semelhante aos animais e nem
surgiu a partir deles, mas é semelhante a Deus, sendo o único ser racional
vivendo na terra. “E criou Deus o homem a sua imagem, à imagem de Deus
o criou, homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27). Os homens dominam
os animais, mas não dominam a Deus, porque Ele nos criou, Ele tem poder
sobre todas as coisas e, assim como o Espírito de Deus se movia sobre a face
das águas, ainda hoje o Espírito de Deus se move por entre a humanidade por
meio do Espírito de Vida. A criação é obra comum da Santíssima Trindade.
Todas as coisas criadas são finitas, deterioram-se, e as coisas vivas morrem.
Porém Deus, que é infinito, não se esquece jamais de sua obra; Ele age
providencialmente em toda sua criação. Como isso acontece? Preservando,
provendo, guiando, protegendo ou governando. Ele trabalha o tempo todo
com sua criação.
Mas afinal: o que é providência?
Providência é o mesmo que prevenção, resume o ato

de preparar antecipadamente determinadas ações ou
110
situações que ajudam a evitar ou diminuir um mal, por
exemplo. Quando se diz que determinada pessoa “tomou
providências” a respeito de algo, significa que seguiu uma
série de atitudes necessárias para solucionar ou finalizar
uma situação. No âmbito teológico, a chamada “Divina
Providência” consiste na ideia da suprema sabedoria de
Deus, que seria capaz de governar a vida e os destinos de
todas as pessoas e coisas no Universo. Os cristãos, por
exemplo, costumam associar os acontecimentos de suas
vidas como sendo “obras da Divina Providência”. (SIGNIFI-
CADOS.COM.BR, 2019, [s.p.])
O que a Bíblia diz sobre a providência de Deus? Em Colossenses 1:17 está

escrito: “e ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele”,
portanto, Ele sustenta a criação. Veja Provérbios 16:1-9:
Ao homem pertencem os planos do coração, mas do

Senhor vem a resposta da língua. Todos os caminhos do
homem lhe parecem puros, mas o Senhor avalia o espírito.
Consagre ao Senhor tudo o que você faz e os seus planos
serão bem-sucedidos. O Senhor faz tudo com um propó-
sito, até os ímpios para o dia do castigo. O Senhor detesta
os orgulhosos de coração. Sem dúvidas serão punidos. Com
amor e fidelidade se faz expiação pelo pecado; com o temor
do Senhor o homem evita o mal. Quando os caminhos de
um homem são agradáveis ao Senhor, ele faz que até os
seus inimigos vivam em paz com ele. É melhor ter pouco
com retidão do que muito com injustiça. Em seu coração o
homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os
seus passos. (BÍBLIA DE ESTUDO NVI, 2003, [s.p.])
Assimile
Vejamos alguns sinônimos de providência: resguardo, prevenção,
precaução, cuidado, cautela, advertência, diligência, decisão, delibe-
ração, encaminhamento ou, ainda, Deus, todo-poderoso e Redentor.
Quando mencionamos a doutrina da providência, queremos dizer que

Deus é soberano sobre tudo o que acontece com os seres humanos, com a
natureza e com o universo.
111
Será que a providência de Deus é simplesmente sinônimo de prevenção
e prudência? Geralmente vemos algumas pessoas mencionarem que deter-
minada situação foi obra do acaso ou puramente sorte. De acordo com a
Bíblia, não há sorte nem acaso. Deus é soberano sobre todas as coisas. Nada
acontece simplesmente por acontecer e Deus tem o controle de tudo.
De acordo com a doutrina da providência, Deus governa as ações dos
homens ainda que eles não creiam Nele. Ele faz isso de maneira misteriosa,
sábia e justa. Um exemplo é a história do apóstolo Paulo, também chamado
Saulo, antes de converter-se ao cristianismo.
Quem era Saulo? Veja o que a Bíblia diz em Atos 9:1, 2:
Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do

Senhor. Ele apresentou-se ao sumo-sacerdote e pediu-lhe
cartas de recomendação para as sinagogas de Damasco, a
fim de levar presos para Jerusalém, os homens e mulheres
que encontrasse seguindo o Caminho. (BÍBLIA DE ESTUDOS
NVI, 2003, [s.p.])
O Caminho era a denominação que se dava naquela época aos seguidores

de Jesus. Conforme relatado no capítulo 9 de Atos dos Apóstolos, Saulo teve
um encontro com Jesus quando se dirigia a Damasco. Esse encontro mudou
sua crença, seus objetivos, sua vida. Deus conhecia Saulo, seu potencial, e
tinha planos específicos para ele.
Reflita
Você pode se perguntar: Saulo não era um homem ruim, cruel, que
perseguia os cristãos? Então por que ele foi escolhido? A resposta
está na doutrina da providência divina. Deus conhece todas as coisas
e governa o coração dos homens, ainda que eles não creiam Nele. E
Deus faz isso de maneira misteriosa, sábia e justa. A Bíblia relata que o
encontro de Saulo com Jesus foi tão impactante, que, a partir daquele
momento, Saulo passou a utilizar seu nome romano – Paulo –, tendo se
tornado um dos principais defensores do cristianismo.
A doutrina da providência afirma que Deus governa o mundo de maneira

sábia e que Ele age por meio dos fatos e das circunstâncias, ainda que não
possamos compreendê-lo.
112
“Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os
seus caminhos são os meus caminhos, declara o Senhor” (Isaías 55:8).
Livre-arbítrio
O livre-arbítrio é um termo muito conhecido e muitas vezes mal-inter-
pretado ou, talvez, desconhecido em sua essência. O conceito dessa palavra
é muito importante na teologia e, portanto, é preciso entender seu real signi-
ficado. O livre-arbítrio é um tema de intensos debates entre os cristãos e
não cristãos. Alguns defendem que o homem tem livre-arbítrio, enquanto
outros afirmam que ele não existe; outros ainda dizem que o livre-arbítrio
não deveria ter sido dado ao homem, por ser ele a causa do pecado. Essa
discussão não é específica do cristianismo e nem se originou em sua história.
A liberdade da vontade é discutida pela teologia e também pela filosofia,
psicologia e pela própria ciência. O que é realmente o livre-arbítrio? O que a
Bíblia diz sobre isso? Vamos refletir sobre o texto de Deuteronômio 30:19,20:
Hoje invoco os céus e a terra como testemunhas contra

vocês, de que coloquei diante de vocês a vida e a morte,
a bênção e a maldição. Agora escolham a vida, para que
vocês e os seus filhos vivam, e para que vocês amem o
Senhor, o seu Deus, ouçam a sua voz e se apeguem firme-
mente a ele. Pois o Senhor é a sua vida, e ele dará a vocês
muitos anos na terra que jurou dar aos seus antepassados,
Abraão, Isaque e Jacó. (BÍBLIA DE ESTUDO NVI, 2003, [s,d,])
A vida e a morte, a benção e a maldição, conforme o texto, são disponíveis

para todos os seres humanos. Embora a vida pareça ser o melhor, ninguém é
obrigado a escolhê-la. Esse texto mostra que Deus dá ao homem o poder da
escolha: entre a vida e a morte, entre a benção e a maldição.
O termo livre-arbítrio não aparece na Bíblia. O que podemos observar
é que ele está subentendido. Quando Eva, no Jardim do Éden, desobedece a
uma ordem expressa de Deus e come do fruto proibido, ela está exercendo
uma escolha: a de desobedecer. Desde o início, Deus dá o poder de escolha ao
ser humano. Estando o ser humano diante do bem e do mal, ele pode decidir
qual deles escolher; no entanto, juntamente com suas decisões estão uma
gama de consequências.
Em uma das obras importantes de Agostinho de Hipona, cujo texto se
dá em um diálogo com seu interlocutor Evódio, ele menciona duas verdades
ou dois princípios: a existência de Deus e que todos os bens procedem dele.
113
Depois, Agostinho lembra a Evódio que não deveria se esquecer o princípio
de que o livre-arbítrio foi dado ao homem para que ele viva corretamente
para que Deus seja justo.
O livre-arbítrio ou a liberdade de escolha do homem está diretamente
relacionada à justiça de Deus. Essa liberdade é que permite que o homem
seja julgado por Deus, pois quem não tem poder de escolha não pode ser
considerado reto ou ímpio. É por isso que, segundo Agostinho, a liberdade é
o bom uso do livre-arbítrio.
Portanto, o livre-arbítrio não é uma liberdade que possa ser confundida
com liberalidade ou permissividade. Isso seria como justificar um discurso
de ódio com a liberdade de expressão.
Assimile
Livre-arbítrio e Santo Agostinho
O Livre-arbítrio (De Libero Arbitrio) foi uma obra da autoria de Agostinho

de Hipona. Esse livro, de 395 d.C., foi escrito na forma de diálogo do
autor com o seu amigo Evódio. Nessa obra, Agostinho elabora algumas
teses a respeito da liberdade humana e aborda a origem do mal.
Muitas vezes a expressão livre-arbítrio tem o mesmo significado que

a expressão liberdade. No entanto, Agostinho de Hipona diferenciou
claramente esses dois conceitos. Para ele, livre-arbítrio é a possibili-
dade de escolher entre o bem e o mal, enquanto a liberdade é o bom
uso do livre-arbítrio. Isso significa que nem sempre o homem é livre
quando usa o livre-arbítrio. O livre-arbítrio está mais relacionado
com a vontade, com a diferença de que a vontade é um ato ou ação,
enquanto a liberdade é considerada uma faculdade (SIGNIFICADOS.
COM.BR, 2019).
Neste contexto podemos entender o que está escrito em 1 Coríntios 6:12:

“todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as
coisas me são permitidas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma
delas”.
Em nossos estudos é possível que encontremos, principalmente na área
filosófica, autores que duvidam do livre-arbítrio ou que afirmam que este
existe apenas para o mal. É preciso entender que o livre-arbítrio não é uma
ação isolada na condição existencial do ser humano, pois se a liberdade é o
bom uso do livre-arbítrio, é preciso considerar três importantes elementos
nas nossas ações:
114
Figura 3.3 | Lívre-arbítrio e seus três elementos
Sabedoria
Livre-arbítrio
Conhecimento Discernimento
Para entendermos a definição bíblica do livre-arbítrio precisamos incor-

porá-la de três elementos essenciais: sabedoria, conhecimento e discerni-
mento. São esses elementos que possibilitam a liberdade de escolha contex-
tualizada em Deuteronômio 30:19,20: “[…] de que coloquei diante de vocês a
vida e a morte, a bênção e a maldição. Agora escolham a vida, para que vocês
e os seus filhos vivam”.
Nesse contexto podemos lembrar também de Paulo quando corrige os
cristãos da igreja de Corinto. O comportamento da pessoas era completa-
mente reprovável e imoral, e suas justificativas estavam sendo baseadas em
um entendimento errado de liberdade cristã.
Assim, a doutrina cristã expõe que somos capazes de demonstrar quali-
dades como amor e justiça, que nosso futuro depende, em grande parte, de
nossas escolhas, e que a Bíblia nos incentiva a escolher a vida por escutar
a voz de Deus. E para fazer essa escolha diante das circunstâncias da vida,
usa-se a sabedoria, o conhecimento e o discernimentos.
Finalmente, embora o livre-arbítrio seja uma liberdade de escolha, é
preciso ter consciência para respeitar os nossos limites e os dos outros. A
nossa liberdade não significa que podemos fazer escolhas sem sofrer conse-
quências. Devemos lembrar sempre que a semeadura é voluntária, você
escolhe o que quer plantar, porém a colheita não é voluntária, como descrito
em Gálatas 6, 7-8: “porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.
Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que
semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (BÍBLIA DE ESTUDO
NVI, 2003, [s.p.]).
Sem medo de errar
Desde a Idade Antiga, seguindo pela Idade Média, as pessoas sempre

buscaram entender a natureza e os acontecimentos. As respostas eram
115
variadas e incoerentes, tendo como base o pensamento mitológico. Mas a
necessidade humana de entender o início de todas as coisas e as reflexões
filosóficas sobre o tema foram e ainda são importantes para levar o homem a
conhecer e compreender a natureza, o universo e Deus.
Rachel é o exemplo prático dessa realidade pois, insatisfeita com a expli-
cação de seu colega da Teologia sobre a trindade, ela questiona o mistério da
criação e como um ser pode se autocriar e criar outros seres, unindo-se ao
mesmo tempo a eles.
Por outro lado, Caio, também insatisfeito com os argumentos proferidos
pela sua colega Rachel, questiona sua análise referente à criação e todo o
mistério ali descrito. Sergio, estudante do último ano de Teologia, sugere a
ambos que façam uma análise crítica e objetiva dos livros do Pentateuco, com
foco no mistério da criação relatado em Gênesis. Ao fazer isso, Caio e Rachel
percebem que a terra e a humanidade têm um início e um criador, que as
Sagradas Escrituras não questionam a existência de Deus e também não dão
pistas sobre onde, quando e como Ele surgiu, afirmando que ele Deus sempre
existiu e sempre será, pois Ele é eterno. Portanto, nota-se que na história
humana, tudo tem um início – Deus em seu ato criador é o seu princípio. Os
estudantes de Teologia puderam então interpretar que as Sagradas Escrituras
explicam de maneira alegórica a existência de um ente que detém o poder de
criar e destruir, de realizar sinais e prodígios, portanto entendem que Deus é
Deus, e nós somos sua perfeita criação.
É claro que para Rachel, estudante de Filosofia que iniciava agora seu
contato com os temas da área teológica, surgem outros questionamentos,
como: de onde surgiu Deus? Antes de criar todas as coisas, o que Ele fazia?
Como era a sua existência e como seria a terra sem forma e vazia? São
questionamentos que em algum momento passam pela mente de todas as
pessoas, porém ela se convenceu, considerando seus primeiros estudos, de
que ao homem não cabe entender todos os mistérios, pois a racionalidade
humana deve se ater apenas à existência do mundo e principalmente, à sua
própria existência. Deve conhecer apenas o que Deus nos permite conhecer.
No início, antes desses estudos, Rachel achava que os acontecimentos
eram obra do acaso ou da sorte. Quando seus colegas, alunos de Teologia,
disseram a ela ser um equívoco caminhar nesta direção, pois Deus é
soberano, controla todas as coisas e nada acontece por acaso, ela simples-
mente levantou outros questionamentos. É natural que as pessoas façam
questionamentos para tentar entender melhor as coisas e se aprofundar em
seus estudos; no entanto, isso pode se tornar um comportamento negativo se
tiver como propósito apenas questionar, criar polêmica, sem o desejo sincero
de conhecer profundamente o assunto. No entanto, esse não era o caso da
116
Rachel. Tanto ela como Caio se aprofundaram nos estudos sem preconceitos,
determinados a descobrir respostas coerentes para suas dúvidas sobre a
trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – e seus atributos; sobre a providência
de Deus na vida das pessoas e sobre o livre-arbítrio. O desejo sincero de obter
conhecimento e a determinação de buscá-lo leva as pessoas a ampliar seu
entendimento sobre o mundo, sobre Deus e sobre si mesmas.
Se Deus tem o controle sobre todas as coisas, como podemos

ter livre-arbítrio?
São muitos os questionamentos e dúvidas sobre a soberania de Deus e
o livre-arbítrio e como ambas podem coexistir. Isso geralmente acontece
porque as pessoas interpretam conceitos e acontecimentos literalmente,
como a relação entre o livre-arbítrio e o fato de que Deus controla todas as
coisas. Se abordarmos essa frase de maneira literal, vamos nos deparar com
uma contradição, já que as duas afirmações parecem incompatíveis. Porém,
assim como todo texto tem um contexto, muitas doutrinas cristãs precisam
de uma profunda reflexão para serem compreendidas. A palavra de Deus não
se lê como um livro qualquer, é preciso compreender seus mistérios e inter-
pretá-lo de forma correta. É preciso ler não só com a razão, mas também com
a fé racional; não apenas com o corpo físico, mas com a alma.
A doutrina da soberania de Deus consiste na crença de que Ele sabe,
conhece e governa todas as coisas e todos os seres. Deus governa o mundo de
maneira sábia, e com relação aos acontecimentos, Ele age por meio dos fatos
e das circunstâncias. Ele tem um plano e tem um propósito, e nem sempre
eles são compreendidos pelo homem.
O livre-arbítrio é o poder de escolha que Deus deu ao ser humano,
portanto, é um ato da soberania de Deus. Estando o ser humano diante do
bem e do mal, tem livre escolha e poder de decidir, no entanto, juntamente
com suas decisões estão uma gama de consequências e de possibilidades.
Deus, como Pai zeloso para com seus filhos, conhece cada ser humano, e
mais que isso, conhece a natureza de cada um. Portanto, Ele dá a oportuni-
dade para que as pessoas aprendam a fazer escolhas, o que é fundamental
para qualquer processo de aprendizado e amadurecimento. É importante
117
deixar claro que são as pessoas que fazem suas escolhas, sejam para o bem
ou para o mal.
Faça valer a pena
1. A doutrina bíblica da providência divina afirma que Ele é o criador de

todas as coisas e seres, superior a tudo e todos. Por isso, Deus seria respon-
sável e atuante na criação.
Todas as coisas criadas não são____________________, portanto
são______________; têm a propriedade de deteriorar-se e, consequente-
mente, precisam de__________________. Porém, Deus, que é infinito, não
se esquece jamais de sua obra, por isso Ele age providencialmente em toda
a sua_________________. Como isso acontece? Preservando, provendo,
guiando, protegendo ou governando.
a. finitas; infinitas; precaução; criação.
b. infinitas; finitas; preservação; criação.
c. imprevistas; previstas; alteração; imprevisibilidade.
d. infinitas; previsíveis; prevenção; obra.
e. finitas; previstas; precaução; imprevisibilidade.
2. Providência é o mesmo que prevenção; resume o ato de preparar anteci-

padamente determinadas ações ou situações que ajudam a evitar ou diminuir
um mal, por exemplo. Quando se diz que determinada pessoa tomou provi-
dências a respeito de algo, significa que ela seguiu uma série de atitudes
necessárias para solucionar ou finalizar uma situação.
Sobre a doutrina da providência é correto afirmar que:
a. Deus é soberano sobre tudo o que acontece com os seres humanos,
com a natureza e com o universo.
b. O homem faz planos em seu coração e sempre encontra as respostas
para seus questionamentos.
c. Todos os caminhos do homem lhe parecem bons, e por causa do livre-
-arbítrio Deus não julga ninguém.
d. Consagre ao Senhor tudo o que você faz e os seus planos poderão ser
bem-sucedidos.
118
e. O Senhor não menospreza os orgulhosos de coração, porque tem
esperança em sua conversão.
3. Na época em que imperava a mitologia, muitas eram as explicações para

os fenômenos da natureza. Certamente que essas explicações eram incoe-
rentes, pois não havia conhecimento científico e tecnológico suficiente. Os
questionamentos eram constantes, e surgiram os primeiros filósofos que
buscavam entender o início de todas as coisas. Ainda hoje persistem muitas
dúvidas sobre o universo e a natureza. De acordo com o texto Criação e
Providência, analise as afirmativas a seguir:
I. Tudo teve um início, um princípio; percebe-se, entretanto, que as
Escrituras Sagradas sempre tomam por certa e jamais discutem a
existência de Deus.
II. Ao homem não cabe entender todos os mistérios, pois a racionali-
dade humana deve se ater apenas à existência do mundo e, principal-
mente, a sua própria existência.
III. No âmbito teológico, a chamada divina providência consiste na ideia
da suprema sabedoria de Deus, que seria capaz de governar a vida e
os destinos de todas as pessoas e coisas no universo.
IV. O termo livre-arbítrio encontra-se na Bíblia, correspondendo à
liberdade para escolher inclusive o mal.
V. Uma das dimensões para entender o livre-arbítrio é ligá-lo a três
elementos essenciais: sabedoria, conhecimento e discernimento.
a. I e II, apenas.
b. III e V, apenas.
c. II e IV, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e V, apenas.
119
Seção 3
História do Cristianismo
Diálogo aberto
Caro estudante, na perspectiva da cristandade, a existência de Deus e seus
atributos que foram estudados e mencionamos sobre a Natureza Trinitária de
Deus contextualizaram a criação e providência, explorando teorias e estudos
sobre a teologia. Para aprimorar e aprofundar seus estudos, vamos adentrar
nos conteúdos voltados para a história do cristianismo, observando os
atributos de Deus e a direção dada por Ele à humanidade. Considera-se que
estamos em constantes transformações e nenhuma delas ocorre sem que haja
a presença de alguma forma das influências espirituais. Como já estudamos,
na perspectiva da cristandade, não somos feitos apenas de corpo físico ou,
mais precisamente, de carne. A partir dessa concepção, somos uma junção
de corpo, alma e espírito. Há na essência da existência de cada ser humano
algo que por vezes não se explica, e é nesta essência não explicável que está o
que deve ser interpretado à luz da religião ou da ciência teológica. Em busca
de novos olhares e reflexões, vamos entender o que é cristianismo, incluindo
a origem e história, crenças, símbolos e a difusão do cristianismo e, conse-
quentemente, a sua importância e influência na sociedade.
Já estudamos e refletimos sobre as dúvidas de Rachel e Caio com relação
à existência de Deus, os quais, em um trabalho, pretendem expor a Visão
da Fé aos Olhos da Ciência Humana. Para isso, indagam quais seriam os
atributos que validassem a existência de Deus e qual a resposta para todo o
ato Criador. As respostas a estas indagações já foram refletidas sobre o ato da
criação, no caso a trindade, e seus atributos de salvação dentro da história da
humanidade.
Sérgio, o estudante do último ano, sugere que após contextualizarem os
estudos e análises realizadas desde a criação até o início do cristianismo, que
apresentem a todos a forma como a história da cristandade se fortalece como
uma única e sólida comunidade de amor nos dias atuais. Para enriquecer
seus estudos, vamos conhecer os fatos importantes que fundamentaram
essa crença, desde o Império Romano, nos últimos séculos da Idade Antiga,
cujas datas aproximadas encontram-se entre 3.500 a.C. até 476 d.C. Será
importante destacar o cristianismo e quais foram suas influências no desen-
volvimento social e científico da humanidade. A partir deste estudo, vamos
analisar as suas principais vertentes e quais são pertencentes ao Catolicismo
Romano, à Igreja Ortodoxa e ao Protestantismo.
120
Em meio às nossas reflexões, estaremos exemplificando sobre a questão
do tempo, o calendário que utiliza o conceito de era cristã, e consequente-
mente as três formas de estabelecer um calendário: lunar, solar e lunisolar.
Após aprofundar seus estudos você será capaz de refletir sobre a impor-
tância dessa temática, procurando, sempre, perceber as influências que a igreja
e a religião proporcionaram para o bem-estar-social, os direcionamentos e as
transformações da vida e da sociedade de forma geral. Nesse sentido, procure
pensar sobre como seria a vida e a sociedade sem a existência do cristianismo
– especialmente no período da Idade Média, quando regulava e regimentava
a sociedade pela lei e moral, conduzindo a crença e todos os cuidados assis-
tenciais e as perspectivas proporcionadas pela fé em Deus e no Sagrado.
Bons estudos!
Não pode faltar
Antes de adentrarmos no período específico em que se originou o cristia-

nismo, é importante lembrar que os fatos importantes que posteriormente
fundamentaram esta crença ocorreram durante o Império Romano, nos
últimos séculos da Idade Antiga, cujas datas aproximadas encontram-se
entre 3.500 a.C. até 476 d.C.
Por que é importante entendermos o cristianismo? Porque essa crença
teve um papel decisivo no desenvolvimento da civilização ocidental; é impos-
sível não o mencionar os fatos que ocorreram na sociedade nos períodos
correspondentes. Muitas das leis, símbolos e comportamentos com os quais
nos deparamos na modernidade devem-se a esses acontecimentos.
O cristianismo é uma religião monoteísta (acredita em um só Deus),
derivada do judaísmo na região do Oriente Médio (Palestina) há mais de dois
mil anos, logo, no século I. Tem como base a fé em Jesus Cristo. O calendário,
assim, iniciou a partir de seu nascimento – ainda que sejam considerados
alguns equívocos ou dúvidas em termos de datas. Suas vertentes principais
são: o Catolicismo Romano, a Igreja Ortodoxa e o Protestantismo.
Assimile
No ano de 1054 na Idade Média, há a cisão entre a Igreja de Roma
(Ocidente) com a Igreja do Oriente (Ortodoxia). Havia duas sedes, uma
em Roma, no Ocidente, e a outra na cidade de Constantinopla, no
Oriente. Naquele período, o acordo era que a capital do Império seria
em Roma. Por que ocorreu a cisão entre as duas sedes? Primeiro, porque
no século IV o Império Romano se dividiu entre Ocidental e Oriental;
121
depois porque, devido às diferenças regionais, ambas as igrejas culti-
varam desigualdades culturais e políticas, não sendo possível evitar os
enfrentamentos, os quais provocaram a divisão.
O Protestantismo, outra importante vertente dessa história, surgiu

durante a reforma protestante do século XVI, com Martinho Lutero, um
monge católico romano, e o rei inglês Henrique VIII. A essência do protestan-
tismo encontra-se no Novo Testamento. A fé cristã tem como foco principal
Jesus Cristo, que é Filho de Deus, Salvador e Senhor.
O cristianismo apresenta um grande percentual de adeptos, reunindo
cerca de 30% da população terrestre. Conforme estatísticas apresentadas
pela CNBB (Conferência Nacional do Bispos do Brasil) são 2,18 bilhões de
cristãos em todo o mundo, sendo uma das mais influentes crenças no mundo
ocidental. Essa influência é tanto um auxílio como um entrave para compre-
endermos o seu significado.
O Cristianismo é a maior religião do mundo, sendo predo-

minante na Europa, América e Oceania. A religião se iniciou
através dos ensinamentos de Jesus de Nazaré, considerado
o salvador da humanidade. O cristianismo é uma religião
abraâmica, da mesma forma que o Islamismo e o Judaísmo.
Os seguidores de Jesus são chamados de “cristãos”; tal
denominação foi utilizada pela primeira vez em Antioquia,
uma colônia militar grega. O livro sagrado dos cristãos é a
Bíblia Sagrada, composta pelo Antigo e pelo Novo Testa-
mento. A primeira parte conta a história da criação do
mundo, das leis, tradições judaicas, etc. Já o Novo Testa-
mento conta a vida de Jesus, como os cristãos primitivos
viviam, etc. (DANTAS, [s.d.], [s.p.])
Com relação a essas três vertentes, pode-se observar ainda diferentes

concepções e aspectos em cada uma delas, porém, em sua essência, quanto a
sua forma universal, os seus adeptos creem na existência de um só Deus (é uma
religião monoteísta), criador de todas as coisas, e de Jesus Cristo, o elemento
central dessas religiões. Este é considerado o Messias, o grande profeta que
o povo do Antigo Testamento ouvia falar e tinha grande esperança em sua
vinda. Ele é o filho de Deus e a segunda pessoa da Santíssima Trindade.
A partir dele, começam o Novo Testamento e a pregação do evangelho. A
concretização de uma das importâncias dadas a Jesus Cristo começa com a
contagem do tempo a partir de seu nascimento.
122
Exemplificando
A questão do tempo
Os anos começam a ser contados da maneira que conhecemos hoje a

partir do nascimento de Jesus Cristo, e a história da humanidade passa
a ser dividida em antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.). Quando
essa divisão começou?
Foi no ano 600 d.C. que se cogitou estabelecer a data do nascimento

de Jesus Cristo como ano 1. A ideia dessa contagem veio de um monge
grego chamado Dionísio, que propôs que os anos fossem contados a
partir do nascimento de Cristo. Para tanto, fez um cálculo para saber
em que ano Cristo teria nascido, o que era uma tarefa difícil. Ao final,
sugeriu que se começasse a era cristã a partir do ano 753 da fundação
de Roma. Isso por que, até esta data, o ponto de referência para a
história era o ano da fundação de Roma. 1.200 anos depois que Dionísio
realizou o cálculo, estudiosos descobriram que ele possivelmente havia
cometido um erro de quatro anos para menos. O sistema de contagem,
porém não foi alterado.
Considere-se, portanto, que Jesus Cristo tenha nascido provavelmente

ou aproximadamente no ano 749, se considerarmos a contagem pela
fundação de Roma, ou no ano 4 a.C., considerando a nova contagem
sugerida por Dionísio. Os estudiosos chegaram a essa conclusão por
duas questões básicas: primeiro, considerando a passagem do cometa,
e o segundo, por que o livro de Lucas menciona que Jesus Cristo nasceu
no reinado de Herodes, e este morreu no ano 4 a.C.; portanto, não é
correta a contagem que Jesus Cristo tenha nascido no ano 1, conside-
rando a data da fundação de Roma. Por isso, é segura a tese de que
Jesus teria nascido cerca de cinco anos antes do ano 1.
É por este equívoco que existe uma tendência de se trocar as denomi-

nações a.C. e d.C. para os termos Antes da Era Comum (AEC) e Era
Comum (EC). Assim, vivemos na Era Comum considerando, o ano 1 que
começou a partir do ano 753. No nosso calendário moderno usamos o
conceito de era cristã. São três as formas de estabelecer um calendário:
lunar, solar e lunisolar. O Calendário Gregoriano é um calendário solar
adotado pelos cristãos, cujo início se deu na Era Comum que Dionísio
mencionou ser a data de nascimento de Jesus Cristo (ano 1), contado a
partir de 753 (fundação de Roma).
Por que o nome Gregoriano? Porque foi o Papa Gregório XIII (1502-1585)
que ajustou o calendário com o objetivo de acabar com a discrepância
de algumas datas, entre elas a data da Páscoa, visando, desta maneira,
123
uniformizar as datas para todas as igrejas cristãs. O calendário Grego-
riano substituiu o calendário Juliano (implantado por Júlio Cesar, líder
romano), em 24 de fevereiro de 1582. Com a reforma do Papa Grego-
riano, o descanso aos sábados foi suprimido e passou para o domingo,
em comemoração à ressurreição de Cristo. Portanto, quebra-se o
que se intitulava o descanso no sétimo dia, que fora estabelecido por
Moisés há mais de 5.700 anos. O mesmo acontece com a religião muçul-
mana, pois também renunciaram o descanso de sábado, passando
para a sexta-feira – o dia da semana em que Adão foi criado por Alá,
além de ser o dia em que o Alcorão foi revelado a Maomé, que fugiu de
Meca para Medina. Porém diversos autores calculam a data de forma
diferente.
A origem do cristianismo encontra-se na região da Palestina, no atual

Estado de Israel. Na cidade de Belém nasceu Jesus Cristo, o Messias tão
esperado pelo povo. Ele era judeu e de família simples. Na época de seu
nascimento, a Palestina estava sob o domínio do Império Romano, e seu
imperador era Otávio Augusto (63 a.C. – 14 d.C.). Foi o primeiro imperador
romano cuja governança se deu a partir de 27 a.C., indo até o ano 14 d.C.,
quando foi encerrado devido a sua morte.
Qual seria a maior fonte sobre as origens e a formação do cristianismo? O
início encontramos nos Atos dos Apóstolos, livro que descreve todo o processo
de evangelização dos apóstolos até chegarem as narrativas dos evangelhos,
que darão base à essa fé nascente. Os primeiros cristãos não tiveram contato
com os evangelhos escritos, mas com uma pessoa, Jesus Cristo. Isso ocorreu
a essa comunidade pela escuta viva ao que lhes era revelado por meio dos
apóstolos e evangelizadores de seu tempo. Essa narrativa (fase oral) é escrita,
e posteriormente as comunidades cristãs podem encontrá-los nos primeiros
livros do Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João. A insatisfação do
povo em relação ao governo do imperador Otávio Augusto era grande na
região da Galileia. Nesse momento da história, Jesus Cristo já estava adulto
e, se de um lado era admirado pelo povo, do outro era visto pelos romanos
como um rebelde, um agitador.
Jesus teve a condenação imposta pelos romanos, cujo ato ocorreu devido
à simpatia que eles tinham pelas autoridades religiosas judaicas.
124
Figura: 3.4 | A Palestina, atual Estado de Israel
O cristianismo se difundiu por vários continentes, dentre eles a Ásia,

Europa e África. Por muitas décadas seus seguidores foram perseguidos por
diversos imperadores e religiões contrárias a sua doutrina.
Devido ao crescimento do cristianismo, no ano de 313 Constantino
(288-337 d.C.), que se tornou Imperador Romano em 306 d.C., concedeu
a liberdade de culto aos cristãos. Porém, foi com o Imperador Teodósio I
(347-395 d.C.), em 27 de fevereiro de 380, que a Igreja se tornou estatal do
Império Romano. Isso ocorreu diferentemente de Constantino, que apenas
estabeleceu a tolerância ao cristianismo, mas não o colocou acima de
outras religiões.
125
O cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano
no ano 380 por ordem do imperador Teodósio I, que tomou
a medida numa lei conhecida como Édito de Tessalônica.
Antes disso, os cristãos foram, durante muito tempo,
impopulares em Roma por não adorarem o imperador e
sim outro tipo de rei – Jesus -, o que era encarado como um
ato subversivo. Mesmo gerando antipatias – e até perse-
guições, como no reinado de Nero entre os anos 54 e 68
– eles foram tolerados nos primeiros séculos de vida de sua
religião. Com a decadência do império no final do século II
e a ameaça de invasões bárbaras, iniciou-se outro período
de dura perseguição aos cristãos, que se recusavam a
servir no exército romano. Mas nem isso impedia o cristia-
nismo de ganhar seguidores, tornando-se logo a crença
mais popular no império. Percebendo a força crescente da
religião, o imperador Constantino I resolveu usá-la politi-
camente para fortalecer seu próprio poder e enfrentar a
decadência romana. Sob a inspiração do lema “um Deus
no Céu, um Imperador na Terra”, Constantino proclamou
em 313 o Édito de Milão, lei que garantia liberdade para
cultuar qualquer deus, o que seria fundamental para a
futura conversão total do império à religião. “Na prática, o
Édito de Milão representou a verdadeira guinada. Teodósio
apenas sacramentou um processo de algumas décadas,
consolidando a tendência inaugurada por Constantino”, diz
o teólogo Pedro Vasconcellos, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). (COMO […], 2018)
Diversos símbolos são utilizados no cristianismo, e três desses símbolos

que mais caracterizam a cultura e tradição do cristianismo são: a cruz, os
ícones (ortodoxia) e a Bíblia (compilação de livros sagrados), considerados
as maiores representações. Outros símbolos também são significativos no
cristianismo e utilizados como representação divina, como o trigo e a uva,
o pão e o vinho, que representam o sacrifício de Jesus (1 Coríntios 11:26).
O pão é o corpo de Cristo (Lucas 22:19) e o vinho representa a nova aliança
de Deus (Lucas 22:20), juntos, ambos representam a ceia de Cristo. Em uma
reflexão mais ampla, por que a cruz, os ícones e a Bíblia são de grande repre-
sentatividade? A cruz representa a morte de Jesus pela humanidade, os ícones
recordam e trazem consigo a sacralidade das manifestações de fé cristã, e a
Bíblia é a palavra viva de Deus.
126
É importante entender que para cada crença podem haver entendi-
mentos diferentes na forma de observar os símbolos quanto a sua signifi-
cação. Porém, é certo que Deus está acima de qualquer símbolo ou repre-
sentação humana. Na crença cristã, a adoração a Deus ocorre em espírito e
em verdade. A importância dos símbolos está no sentido de compreender
um conceito que está além da construção de uma identidade. Na Igreja
Católica é mais comum o uso do símbolo do crucifixo, em que consta a
imagem de Jesus Cristo. Já outras religiões, como os protestantes, não
fazem uso do crucifixo. Porém, o que a cruz representa de fato é a vitória
de Cristo sobre a morte. Embora tenhamos diversas formas de observar
os significados dos símbolos, a cruz não representa objeto de culto para
muitas religiões atreladas ao cristianismo.
São vários os símbolos encontrados na história do cristianismo, como
o peixe, que é um símbolo que estava sempre presente nos ensinamentos
de Jesus (Mateus 13:47-50). Durante o período de perseguição romana, o
peixe foi adotado pelos cristãos primitivos como uma espécie de senha.
Era feito um desenho de um arco no chão enquanto outra pessoa comple-
tava formando um peixe, o que significava o reconhecimento de ambos
como cristãos.
A pomba, cuja figura remete ao Espírito Santo (Lucas 3:22 e Gênesis 8:11),
também é reconhecida popularmente como o símbolo da paz. Alfa e ômega
(Apocalipse 1:8) representa que Ele é o primeiro e o último, o princípio e
o fim. (Apocalipse 22:12-13). Dentre outros importantes símbolos, encon-
tramos o cordeiro (Êxodo 12:21-23); (João 1:29), o pastor e ainda outros,
como o fogo, que representa o avivamento (Mateus 3:11-12; João 14:16-17;
Atos dos Apóstolos 2:2-4). O arco-íris (arco da aliança - Gênesis 9:14-16);
o candelabro, um símbolo judaico (Êxodo 25:39; Mateus 5:14-16); a estrela
de Davi que, embora não esteja presente na Bíblia, faz parte do judaísmo e
também foi difundida em outras religiões (cristianismo, umbanda e misti-
cismo); o leão de Judá, que representa Jesus (Gênesis 49:9-10; Apocalipse
5:5); a âncora, que foi um dos primeiros símbolos cristãos primitivos e repre-
senta a convicção em Cristo e a ressurreição dos salvos (Atos dos Apóstolos
27:29; Hebreus 6:19-20).
Dentro do Cristianismo, existem vários grupos separados,

com crenças diferentes. No entanto, a maioria dos cristãos
acredita em alguns ensinamentos fundamentais: Existe um
único Deus, todo-poderoso, perfeito e criador de todas as
coisas. A Bíblia é a Palavra de Deus e a base de toda a fé
cristã – 2 Timóteo 3:16-17. Deus criou a humanidade à Sua
imagem, para dominar sobre a terra – Gênesis 1:27-28. As
127
pessoas pecam (fazem coisas erradas e são imperfeitas). Por
causa do pecado, ficamos separados de Deus e debaixo de
Sua justa condenação – Romanos 3:23. Apesar de sermos
falhos, Deus nos ama e não fica feliz em nos castigar. Para
nos salvar do pecado e suas consequências, Deus enviou
Jesus à terra para levar o castigo em nosso lugar – João 3:16.
Jesus é o Filho de Deus, que nasceu de uma virgem, pregou
na terra durante alguns anos, depois morreu em uma cruz
mas ressuscitou três dias depois – 1 Coríntios 15:3-5. Na
cruz, Jesus pagou o preço por nossos pecados, nos salvando
da condenação. Para ser salvo, você precisa se arrepender
de seus pecados e crer em Jesus – Romanos 10:9-10. Todo
cristão deve ser batizado – Atos dos Apóstolos 2:38. A
Igreja é o conjunto de todos aqueles que realmente creem
em Jesus e são salvos. A vida cristã deve ser caracterizada
pelo amor ao próximo e as boas obras, que Jesus nos ajuda
a fazer. Depois que ressuscitou, Jesus subiu ao Céu, mas
prometeu que um dia vai voltar para julgar a todos; nesse
dia, os condenados sofrerão castigo eterno, mas os salvos
receberão a vida eterna – Apocalipse 22:12. (RESPOSTAS
BÍBLICAS, [s.d.], [s.p.])
Reflita
Quanto aos ensinamentos sagrados, é necessário que tenhamos uma
liberdade teórica para aprofundar melhor os temas a serem estudados
na Teologia. Não podemos estar presos em convicções particulares,
mas somente no que será exposto pela teoria e pela prática teológica.
Entende-se que não se lê os escritos sagrados ou estudos cristãos da
mesma forma que se lê um romance ou um texto qualquer, em que se
podem viajar no tempo e acrescentar os desejos da mente. Um texto
cristão é lido não somente com o corpo, mas com a alma e com espírito.
Entende-se que o cristianismo é uma religião derivada do judaísmo, é

monoteísta e a fé propagada e proclamada é a um só Deus, aquele que revelou
Jesus Cristo, seu filho. O cristianismo existe a partir dele; portanto, Jesus
Cristo é a figura importante do cristianismo, fazendo parte da Trindade:
Pai, Filho e Espírito Santo. Ele assumiu a natureza humana embora seja a
encarnação do próprio Deus. É por meio dele que a humanidade busca viver
em plena união, adorando-O, aprofundando-se em uma espiritualidade,
buscando práticas meditativas e sempre participando em comunidade de
seus cultos.
128
Sem medo de errar
Caio chega à conclusão que o cristianismo primitivo tem sua base em

tal justificativa da história da trindade, mencionando que o mistério dos
primeiros cristãos se dava pelo ato criador, pela unidade sem separação e
pela perfeição do Filho que procede do Pai e este ato de amor cria o Espírito
Santo. Já Rachel, que não estava convencida de tal argumentação, sintetiza
que a trindade é como a substância primeira e cria, dessa forma, todas as
outras substâncias por um ato criador.
Diante das indagações, Sergio, que é estudante do último ano de Teologia,
sugeriu aos colegas que após contextualizarem toda essa leitura, desde a
criação até o início do cristianismo, apresentem a forma como a história
da cristandade se fortalece como uma única e sólida comunidade de amor,
desde a antiguidade até os dias atuais.
Ambos os alunos perceberam em seus estudos que a história do cristia-
nismo é importante por se tratar de uma religião com maior índice de fiéis,
além de considerar que essa crença teve um papel decisivo no desenvolvi-
mento da civilização ocidental: não há como não mencionar os fatos que
ocorreram na sociedade nos períodos correspondentes. Perceberam que
muitas leis, símbolos e comportamentos entre outros assuntos que nos
deparamos na modernidade, devem-se a esses acontecimentos.
Caio e Rachel aprenderam que para cada crença pode haver enten-
dimentos diferentes na forma de observar, significar e contextualizar os
símbolos. Porém, é certo que Deus está acima de qualquer símbolo ou repre-
sentação humana. Na crença cristã, a adoração a Deus ocorre em espírito
e em verdade, e o amor de Deus é para todos. É importante afirmar que
dentro cristianismo existem várias crenças diferentes, no entanto a maioria
acredita em alguns ensinamentos fundamentais, como o ensino bíblico, que
é a Palavra de Deus e a base de toda a crença cristã.
Considerando toda a história do cristianismo, a igreja tem influenciado
positivamente quanto ao desenvolvimento da ciência e da sociedade. E, em
consequência disso, o cristianismo se fortaleceu como única e sólida comuni-
dade de amor, pois foi responsável por desempenhar um papel importante
na extinção de práticas de sacrifícios humanos, escravidão, infanticídio,
poligamia, divórcio, incesto, infidelidade, controle de natalidade e aborto,
influenciando a consciência das pessoas e transformando vidas para o
bem-estar social.
129
Nesse sentido, a existência do cristianismo como crença estabelece
uma relação importante no desenvolvimento das sociedades, em especial
da Ocidental.
A Religião e a Ciência
Muitos são aqueles que enfatizam não haver relação entre a fé e a razão,
entre a religião e a ciência, dizendo que a igreja é apenas um grupo social e
que em nada influencia o desenvolvimento da ciência. Seriam coerentes essas
afirmações? Sabe-se que a natureza da ciência e da religião mudam com o
tempo, assim como as concepções filosóficas, a política, os aspectos sociais,
econômicos etc. Já imaginaram se não existissem a igreja e a religião, como
seria a nossa civilização? Considerando a sua existência, é possível relacionar
a sua importância ao desenvolvimento das sociedades? A igreja tem contri-
buído para esse desenvolvimento? Há realmente transformação das pessoas
para uma melhor qualidade de vida? Enfim, há ou não uma relação positiva
entre a religião e a ciência?
Sobre a relação entre a religião e a ciência, quando se trata de conflitos
negativos ou de indagações contrárias a essa relação – como ocorre na relação
entre a fé e a razão, por exemplo –, percebe-se que esses acontecimentos se
dão pela complexidade do próprio homem com base na necessidade e no
anseio de argumentar e defender suas teorias e concepções. A verdade é que
a igreja, tirando aqui as exceções, tem influenciado positivamente o desen-
volvimento da ciência e da sociedade.
De acordo com as histórias das religiões, é possível observar a influência
da igreja em relação ao desenvolvimento científico, assim como o contrário
também é verdadeiro, pois o conhecimento científico também tem efeitos
positivos sobre as crenças religiosas.
Pode-se perceber na história da igreja que ela tem sido uma fonte impor-
tante de serviços sociais em todas as suas instâncias. Quanto à educação,
muitas das universidades do mundo foram fundadas pela igreja; quando
mencionamos a importância da religião no desenvolvimento da ciência,
pode-se observar que muitos sacerdotes-cientistas estão entre as áreas da
astronomia, genética, geomagnetismo, meteorologia, sismologia e física
solar, entre outras áreas científicas. Temos também o incentivo da igreja com
130
relação aos cuidados médicos, serviços de bem-estar, influências econômicas,
o calendário que utilizamos; portanto, considera-se que a igreja tem influen-
ciado a cultura e a filosofia. Dentre tantas influências da religião e da igreja,
é ela a responsável por desempenhar um importante papel na extinção de
práticas de sacrifícios humanos, escravidão, infanticídio, poligamia, divórcio,
incesto, infidelidade, controle de natalidade e aborto, enfim influenciando
a consciência das pessoas e transformando vidas para o bem-estar social.
Nesse contexto, não se pode ignorar a importância da igreja e da religião no
desenvolvimento científico.
Faça valer a pena
1. O cristianismo se difundiu grandemente por vários continentes, dentre

eles a Ásia, Europa e África. Devido ao crescimento, no ano de 313, Constan-
tino (288-337 d.C.), que se tornou imperador romano em 306 d.C., concedeu
a liberdade de culto aos cristãos. Porém, foi com o Imperador Teodósio I
(347-395 d.C.), em 27 de fevereiro de 380, que a Igreja se tornou estatal do
Império Romano. Isso ocorreu diferentemente de Constantino, que apenas
estabeleceu a tolerância ao cristianismo, porém não o colocou acima de
outras religiões.
A lei da qual a religião tornou-se oficial denomina-se:
a. Lei canuleia.
b. Édito de Tessalônica.
c. Leis das Doze Tábuas.
d. Licínias Sêxtias.
e. Lex Hortensia.
2. Com o nascimento de Cristo e o surgimento de vários adeptos de

suas filosofias, surgem diversas religiões de matrizes cristãs. O cristia-
nismo é uma religião monoteísta (acredita em um só Deus) derivada
do______________________, na região do Oriente Médio há mais de
dois mil anos. Tem como base a fé em Jesus Cristo, e surge na Palestina, no
século I. O calendário, assim, iniciou a partir de seu nascimento, ainda que
se considere alguns equívocos ou dúvidas em termos de datas. Suas vertentes
principais são: o ______________________, a Igreja ________________ e
o _________________.
131
a. islamismo; catolicismo; egípcia; hinduísmo.
b. judaísmo; catolicismo romano; ortodoxa; protestantismo.
c. xintoísmo; catolicismo romano; hinduísta; judaísmo.
d. judaísmo; hinduísmo; budista; islamismo.
e. catolicismo romano; judaísmo; xintoísta; protestantismo.
3. É importante entender o cristianismo, porque, em particular, essa

crença teve um papel decisivo no desenvolvimento da civilização ocidental,
portanto, é impossível não o mencionar nos fatos que ocorreram na socie-
dade nos períodos correspondentes. Muitas das leis, símbolos e comporta-
mentos com que se deparamos na modernidade devem-se a esses aconteci-
mentos. Analise as afirmativas a seguir:
I. A Igreja Católica Romana se desmembrou da Igreja Ortodoxa
durante a Idade Média.
II. O Protestantismo, sendo outra importante vertente desta história,
surgiu durante a reforma do século XVI.
III. Calendário Gregoriano é um calendário solar adotado pelos cristãos,
cujo início se deu na Era Comum.
IV. A origem do cristianismo encontra-se na região da Palestina, no
atual Estado de Israel.
V. O cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano no
ano 412, por ordem do imperador Dionísio I.
a. I e II apenas.
b. II e III apenas.
c. I, II e III apenas.
d. I, II, III e IV apenas.
132
Referências
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CURTIS, A. K.; LANG, J. S.; PETERSEN, R. Os 100 Acontecimentos mais importantes da

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br/providencia/. Acesso em: 4 de out. 2019.
Unidade 4
Criador e criatura
Convite ao estudo
Em nossos estudos até aqui, buscamos compreender os textos e as narra-
tivas dos diversos conceitos teológicos, demonstrando como a teologia
pode desenvolver a capacidade para crítica, reflexão e interpretação dos
desafios no cotidiano. Já estudamos Deus, baseando-nos na observação da
natureza e na revelação especial, e a função teológica, bem como refletimos
sobre a natureza trinitária de Deus, a doutrina da providência, a origem e a
história do cristianismo. Nesta unidade, vamos compreender os seguintes
descritos a seguir.
Na primeira seção, As criaturas e os filhos de Deus, estudaremos o signi-
ficado conceitual de criatura de Deus, conforme apresentado nos textos
bíblicos, e também quais são os pressupostos bíblicos para que as criaturas
se tornem filhos de Deus. Esse é um ponto bastante polêmico na teologia,
com grandes diferenças de interpretação, mesmo entre as confissões
cristãs. Algumas religiões têm como doutrina que todos são filhos de Deus,
enquanto outras consideram que todos são criaturas de Deus, mas alguns
são também filhos de Deus. Portanto, qual a diferença entre criaturas e
filhos de Deus? Vamos abordar também a relação entre homem e Deus,
criador e a criatura, e como Deus e o homem se posicionam nessa relação,
considerando a fé e o livre arbítrio, sem os quais não pode haver relaciona-
mento entre Deus e o homem.
Na segunda seção, Os anjos e os homens, teremos o estudo da angeo-
logia, ou seja, a origem e a natureza dos anjos. O que a Bíblia ensina sobre os
anjos? Como as diferentes denominações religiosas interpretam esses textos
bíblicos? Quais as crenças, tradições e mitologias da antiguidade que influen-
ciaram as doutrinas sobre esse tema? A curiosidade e até mesmo a devoção
aos anjos têm lugar de destaque na arte (cinema, pintura, literatura, etc.), na
religiosidade de cada povo e nas religiões.
Na terceira Seção, A natureza humana segundo a Bíblia, buscaremos
entender o que é a natureza humana, quais são seus componentes, o que as
religiões denominam de corrupção da natureza humana e se ela poderia ser
transformada. Esses conceitos tangenciam-se na filosofia, antropologia, ética
e em outras áreas de estudo que se inter-relacionam com a teologia.
Não pode faltar
Caro aluno, buscando compreender os elementos que diferenciam a

criatura e os filhos de Deus, ou seja, criador e criatura, trabalharemos juntos
para entender o verdadeiro significado e a essência do que realmente somos;
portanto, serão questões refletidas à luz da Bíblia e de diferentes doutrinas
que versam sobre o assunto. Com base nessas referências, o objetivo deste
estudo também é mostrar quais os caminhos necessários, segundo o cristia-
nismo, para que criaturas possam tornar-se filhos de Deus.
Compreender quem é o homem, diante de Deus, é uma tarefa funda-
mental para relacionar-se com ele. Esse é o principal papel da religião, (re)
ligar o homem a Deus. Na busca, então, dessa identidade humana diante
da divindade, nascem questionamentos como: todas as pessoas são filhas
de Deus? E se são filhos de Deus, são livres para escolher os caminhos
que desejam para suas vidas? Essa liberdade do homem não anularia a
soberania de Deus?
De acordo com os textos bíblicos, o homem foi feito à imagem e semelhança
de Deus. Você já parou para pensar o que significa essa afirmação? Em que
sentido Deus criou o homem à sua imagem e semelhança? Para fazer essa
comparação de forma eficiente, precisamos, primeiro, estabelecer quem e o
que é o homem em relação a Deus, como ele é constituído e formado. Neste
momento do nosso estudo, é interessante explorarmos algumas referências
bíblicas que fundamentam a doutrina cristã sobre esses assuntos, como, por
exemplo, os trechos de Romanos 8:14; 1 João 3:1 e João 1:12-13.
A Bíblia usa terminologias e metáforas que, muitas vezes, confundem
seus leitores. No contexto do tema que estamos abordando, um exemplo é
o termo “nascer de novo”, expressão que Jesus usa durante um diálogo com
Nicodemus, narrado pelo apóstolo João (João 3:3). Nicodemus, que era
considerado um homem sábio, fica perplexo: como seria isso? Como alguém
pode nascer de novo? Em que sentido Jesus usa essa expressão?
A Teologia Natural explica a natureza como sendo testemunho da
existência de Deus, conforme vimos anteriormente. Ao fazermos parte da
natureza, nós também nos tornamos testemunhas da criação e do criador,
conforme essa linha de raciocínio teológico. O entendimento de quem é o
homem e qual é a sua relação com Deus é fundamental para a construção
da identidade de cada um e para a definição do seu relacionamento com o
mundo, com a natureza e com os outros. Essas questões são respondidas de
maneiras diferentes por cada religião e crença, mas todas precisam dar uma
resposta a esses questionamentos, já que a interpretação da vida e do sentido
da vida é inerente ao homem. É natural, portanto, que ao buscar saber mais
sobre si mesmo, o homem se indague a respeito da existência de Deus, bem
como, ao crer num Deus, passe a tentar estabelecer qual é sua relação com
ele. Criatura? Filho? Servo? Semelhante?
Em sua essência, e com liberdade de escolha, conforme sua natureza,
cada homem faz essas perguntas e busca respostas nas mais diversas filoso-
fias, em conceitos, crenças e na ciência.
Ao se considerar essas questões, é preciso lembrar que a teologia não
trabalha com verdades absolutas, portanto, nosso estudo e nossas reflexões
devem sempre acolher as diversas ideias e os conceitos sobre cada tema,
cabendo a cada um pesar, ponderar, refletir e concluir conforme seu reper-
tório de conhecimento, informação e valores.
Seção 1
As criaturas e os filhos de Deus
Diálogo aberto
O que é o homem, uma criatura (um ser criado) ou um filho de Deus?
Essa é uma das grandes questões teológicas abordadas por todas as religiões.
É uma questão importante, pois da resposta depende o tipo de relaciona-
mento que se tem com Deus. Muitas vezes, usamos os termos criaturas e
filhos de Deus sem observar o verdadeiro significado e a essência do que eles
realmente refletem. São questões que não podem ser ignoradas ou tratadas a
partir do senso comum. Para respondê-las, devemos considerar cuidadosa-
mente as análises, os estudos e as reflexões existentes e já expostas, abarcando
o maior número possível de vertentes e possibilidades diferentes, antes de
concluirmos qual é a nossa posição a respeito desse assunto.
A partir de agora, vejamos, então, qual é a teologia cristã sobre esse
tema. Mesmo entre as igrejas cristãs, esse assunto é controverso. Há igrejas e
doutrinas que defendem a ideia de que todos os homens são filhos de Deus e
outras que pregam que o único homem filho de Deus foi Jesus Cristo. Parte
da controvérsia se deve, sem dúvida, ao sentido em que a palavra “filho” é
empregada. O que significa dizer que alguém é “filho” de Deus? Essa é outra
questão a ser analisada na teologia.
Algumas confissões, principalmente as de linha reformada e protestante,
acreditam que todos os homens são criaturas de Deus, mas nem todos são
filhos de Deus. Abordaremos, a seguir, essa linha teológica com suas inter-
pretações bíblicas como justificativas.
A concepção cristã de que somos filhos baseia-se, principalmente, numa
visão de Deus como pai. Essa é uma ideia ensinada pelo próprio Jesus. No
Velho Testamento, o povo de Israel não tinha essa noção de Deus. A palavra
Pai, referindo-se a Deus, aparece somente 8 vezes no Antigo Testamento, mas
sempre no sentido de “Criador”, “Líder” ou “Chefe” do povo de Israel. No
Novo Testamento, essa denominação de “pai” para Deus aparece 272 vezes, o
que denota uma grande transformação da visão que os judeus passaram a ter
de Deus a partir de Jesus. Mais do que chamar Deus de “pai”, Jesus o chamou
de “Aba”, uma palavra que denota intimidade e carinho, como “paizinho”.
Observe este texto extraído do livro de João, no Novo Testamento: “vejam
como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de
Deus, o que de fato somos” (1 Jo 3:1). Interessante o autor dizer que o amor
de Deus nos permite sermos “chamados” de filhos. Essa ideia é corroborada
138
neste outro trecho: “Contudo, aos que o receberam, aos que creram em
seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não
nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela
vontade de algum homem, mas nasceram de Deus” (João 1:12-13).
Veja que o primeiro versículo fala em “sermos chamados filhos de
Deus” e o segundo texto detalha com mais precisão quem são realmente
os filhos de Deus. São aqueles que receberam a Cristo e creram nele, esses
se tornaram filhos de Deus. Portanto, parte dos cristãos crê que todos são
criaturas, mas nem todos são filhos. O que vale a pena destacar aqui é que
todos são aptos a ser filhos de Deus ou se tornarem filhos de Deus, já que
a própria Bíblia indica que, para isso, é preciso apenas crer em Jesus Cristo
como Filho de Deus.
Essa linha teológica se apoia nessa premissa para destacar a importância
do evangelismo. Jesus ordenou que se pregasse o Evangelho a toda criatura,
a fim de que todos pudessem crer e ser chamados filhos de Deus. Você irá
perceber que as igrejas que seguem esse raciocínio dão grande importância
para o trabalho missionário.
Reflita
De modo geral, todas as religiões teocêntricas (religiões que creem na
existência de um Deus Criador), creem também que o homem é uma
criatura de Deus, ou seja, um ser criado por Deus. No entanto, nem
todas as doutrinas religiosas concordam que o homem é filho de Deus.
De que maneira o fato do homem ser filho de Deus o tornaria diferente

das outras criaturas de Deus? Como isso afetaria a sua identidade e o
seu relacionamento com Deus?
A questão da paternidade e filiação entre Deus e o homem é crucial

também para a discussão do livro arbítrio.
Já vimos que o livre arbítrio é tema de intensos debates entre cristãos
e não cristãos. Alguns defendem que o homem tem o poder de fazer suas
próprias escolhas, enquanto outros afirmam que isso é uma ilusão e outros,
ainda, dizem que o livre arbítrio não deveria ter sido dado ao homem, por ser
a causa do pecado. Essa discussão não é específica do cristianismo e nem se
originou em sua história, mas está impregnada em praticamente toda a bíblia.
Já no Gênesis, primeiro livro, que relata a criação da terra e do homem, Adão
e Eva desobedecem uma ordem de Deus. A desobediência é uma ação da
vontade própria; nesse sentido, a teologia entende que Deus deu ao homem o
139
poder ou o direito de escolher obedecer ou desobedecer, e essa liberdade de
escolha é definida, dentro da teologia, como livre arbítrio.
Segundo a teologia cristã, Deus não escraviza o homem, é o próprio
homem quem escolhe os seus caminhos, porém, ele deve assumir as
consequências de suas escolhas, o que também é conhecido na teologia
como “pedagogia divina”. É próprio da natureza humana pôr em prática
seus desejos sem antes pensar nas consequências. As crianças fazem isso
o tempo todo. À medida que amadurece e passa a conhecer consequên-
cias e a refletir antes de agir e tomar decisões, o homem começa a agir de
maneira diferente, tornando-se mais responsável e consequente. O termo
livre arbítrio não se encontra na bíblia, porém, está subentendido. Segundo
os valores bíblicos, o homem pode escolher o bem ou o mal, lembrando
sempre que, juntamente com suas decisões estão uma gama de consequên-
cias e de possibilidades. É nesse contexto que Paulo afirma em sua carta aos
Coríntios: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm;
todas as coisas me são permitidas, mas eu não me deixarei dominar por
nenhuma delas” (1 Coríntios 6:12).
Assimile
A expressão “nascer de novo” que nos referimos acima, usada por
Jesus, está intimamente ligada aos conceitos de filiação, paternidade
divina e livre arbítrio.
Para a teologia cristã, nascer de novo significa a escolha por uma nova
vida, em que Deus se torna pai e o cristão se torna filho. É possível
também interpretar esse termo sem espiritualizar, no sentido de refazer
a própria vida, olhar para as coisas com uma nova perspectiva.
Na teologia cristã, o homem é feito à imagem de Deus. Vejamos os versí-

culos a seguir. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus
o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27). “Este é o livro da genea-
logia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o
fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de
Adão, no dia em que foram criados” (Gênesis 5:1-2). Mas o que significa ser
criado à imagem e semelhança de Deus? Seria dizer que somos fisicamente
parecidos com Ele? De acordo com a Bíblia, não, pois Deus é espírito e não
possui um corpo como o nosso (João 4:24). Portanto, teologicamente falando,
a imagem de Deus se refere à parte espiritual do homem. Assim como Deus,
o homem também é um ser espiritual, o que o capacita a ter comunhão com
o seu criador. A teologia também considera essa semelhança do ponto de
vista moral, mental e social. O homem foi criado como um agente racional e
140
com poder de escolha: em outras palavras, o homem pode raciocinar e fazer
escolhas; isso é um reflexo do intelecto e da liberdade de Deus.
De todas as criaturas de Deus, o homem foi a única criada com a capaci-
dade de raciocínio e com valores morais. Essas características são reflexo
do fato de o homem ser a imagem e semelhança de Deus. A capacidade de
fazer escolhas entendendo suas consequências é exatamente uma das carac-
terísticas do ser humano que seriam fruto dessa imagem e semelhança de
Deus. Confirmamos isso nas seguintes leituras: (Gálatas 6:7): “Aquilo que o
homem semear, isso também ceifará”; (Provérbios 11:18): “Mas o que semeia
justiça, terá recompensa verdadeira”; (Gálatas 6:9): “Não cansemos de fazer o
bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos”; e para concluir
esse pensamento: “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o
bem e o homem mau, do mau tesouro do seu coração, tira o mal, porque da
abundância do seu coração fala a boca” (Lucas 6:45).
Agostinho de Hipona (354 a.C – 430 d.C), grande teólogo e filósofo dos
primeiros séculos do cristianismo, menciona a relação entre a imagem e
a semelhança observando que onde ocorre a primeira (imagem) também
há a segunda (semelhança); mas faz uma ressalva com relação ao inverso,
pois onde há semelhança não necessariamente ou imediatamente ocorrerá
a imagem. Nesse sentido, entende-se que a semelhança é essencial à
imagem. “[…] Agostinho compreende que o homem foi criado à imagem
e semelhança de Deus, que só existe enquanto seu ser permanece fundado
em Deus.” (VAHL, 2016, p. 12).
Figura 4.1 | A imagem e semelhança, a natureza e sua essência
Fonte: iStock.
141
Com relação ainda aos conceitos de imagem e semelhança, a teologia
cristã faz uma diferenciação entre o homem, feito à imagem de Deus, e
Cristo, que seria a própria imagem de Deus. Em Gênesis está escrito: “E disse
Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança;
e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e
sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra” (Gênesis
1:26). Percebe-se que o termo “à nossa imagem” difere de “é a imagem”,
expressão usada por Paulo na carta aos colossenses ao se referir a Jesus
Cristo: “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a
criação” (Colossenses 1:15). Portanto, Jesus não foi feito “à imagem”, “Ele
é a imagem”. No primeiro caso, temos uma aproximação, e no segundo,
uma igualdade perfeita, ou seja, Jesus, como Filho, possui semelhanças
perfeitas com Deus (Pai). Portanto, é assim que a teologia cristã explica que
o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, enquanto Jesus Cristo é
a imagem perfeita de Deus. Quem vê Jesus, vê também o Pai, como descrito
neste versículo: “Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a
meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto” (João 14:7).
A relação entre homem e Deus

É da natureza humana indagar se existe um ser superior que criou todas
as coisas e com o homem pode se relacionar. As religiões existem exatamente
por causa desse questionamento.
Se Deus existe, pode haver uma relação entre o criador e a criatura.
Esse é o território da fé, a capacidade humana de crer naquilo que não se
vê e não se pode provar como se fosse real. Feuerbach, para quem Deus é o
espelho do homem, descreve bem esse anseio. Para ele, nas palavras do site
Só Filosofando: “A natureza é dura com os humanos e os nossos sofrimentos
não são ouvidos pela natureza, e necessitamos ser ouvidos, acalentados,
compreendidos, e como a natureza não nos ouve, acalenta ou compreende,
nós buscamos tudo isso em algo fora de nós e fora da natureza” (2008, [s.p.]).
Nesse sentido, o homem cria um deus para explicar tudo aquilo que ele
não compreende ou que anseia e não pode suprir por si mesmo. Portanto,
quando menciona que Deus é o espelho do homem, Feuerbach quer dizer
que a consciência que se tem de Deus é a consciência que o homem tem de
si mesmo. Nesse contexto, não é Deus que criou os homens, mas os homens
que criaram deus na busca de uma explicação para as coisas ou para alívio de
seus sofrimentos.
Este é um exemplo de como o homem pode apoiar-se na ciência (nesse
caso específico, na psicologia e filosofia) para fazer explicar a si mesmo, a
Deus e ao seu mundo.
142
Sem medo de errar
A proposta deste estudo é responder a alguns questionamentos e a situa-

ções que nos fazem refletir sobre a existência de Deus e sua relação com os
homens.
É natural que cada ser humano visualize a paisagem natural de maneira
diferente, conforme seus ideais e suas perspectivas. Para aqueles que creem
em Deus, a natureza é uma manifestação da própria existência de Dele; para
os ateus, ela é resultado de fenômenos que podem ser explicados pela ciência.
A liberdade de pensar, refletir e concluir é também a liberdade de crer em
doutrinas diferentes.
Na teologia cristã, o homem é uma criatura de Deus; algumas confissões
cristãs creem também que o homem é filho de Deus ou que pode tornar-se
filho de Deus, desde que creia em Jesus Cristo.
Embora possa parecer simples, questão de terminologia ou semântica,
essa nomenclatura é importante pois, como vimos anteriormente, ela trans-
cende a questão das palavras e vai ao âmago da identidade humana e seu
relacionamento com Deus. Por isso, é importante que você entenda bem essa
discussão teológica. Para as denominações cristãs que fazem essa diferen-
ciação, todo ser é criatura de Deus, pois Deus é visto como o criador de todas
as coisas e seres vivos. Essa doutrina percebe o homem como um ser especial
na criação divina, um ser que pode tornar-se mais do que criatura, pode
tornar-se filho. No entanto, existem condições para que ele possa ser conside-
rado filho de Deus. De acordo com as escrituras, passam a ser filhos quando
nascem de novo (e por isso dedicamos parte do nosso estudo a entender o
significado dessa expressão), quando se arrependem dos pecados e creem
em Jesus Cristo como o Filho de Deus, aceitando-o como Senhor e Salvador.
Para os cristãos adeptos dessa doutrina, ela se fundamenta principalmente no
Novo Testamento Bíblico. Você pode consultar os seguintes trechos da Bíblia
sobre esse tema específico: João 1:12-13; Mateus 5:9; 5:45; Romanos 8:14; e
1 João 3:1.
Essa doutrina também entende que a razão pela qual Cristo ordenou que
se pregasse o Evangelho a toda criatura é justamente para que todos aqueles
que cressem fossem feitos filhos e filhas de Deus. Por isso há muitas igrejas
cristãs, principalmente de denominações protestantes (formadas após a
Reforma), que dão uma ênfase especial a missões e evangelismo.
O livre arbítrio é um componente essencial da doutrina cristã que
diferencia criaturas e filhos de Deus. Isso porque o livre arbítrio seria o direito
que Deus concedeu às criaturas humanas de escolherem crer nele, segui-lo
e se tornarem, assim, filhos dele. Vale destacar que o fato de se tornarem
143
filhos de Deus não significa serem escravos da própria fé. A doutrina do
livre arbítrio especifica que todo homem é livre para escolher o caminho
que deseja seguir e aquilo em que deseja crer. Esse pressuposto não é uma
doutrina exclusivamente cristã; ele é defendido também por outras religiões,
como o judaísmo, o islamismo, o budismo. A liberdade, em todas as suas
dimensões, é um valor intrínseco à vida humana e, por isso, é também funda-
mental para a teologia.
Um dos aspectos importantes da religião é que ela confere propósito e
identidade ao homem. O livro de Gênesis, que, de acordo com a maioria dos
teólogos, teria sido escrito por Moisés, conta a história da criação do homem
e, por isso, é a base das três grandes religiões monoteístas da atualidade: o
cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Segundo a Bíblia, o homem foi criado
por Deus à sua imagem e semelhança. Essa doutrina é importantíssima por
oferecer uma resposta a um dos maiores questionamentos humanos: quem
sou eu? Ela dá ao homem uma identidade diferente da dos outros seres
criados por Deus, pois apenas o homem foi criado à imagem e semelhança
de Deus. Ela torna o ser humano especial no contexto da criação divina.
Ela também dá ao homem características divinas, como o pensamento
racional, o livre arbítrio, a criatividade, a capacidade de amar, de julgar, de
ter valores morais. São exatamente essas características que permitem ao ser
humano relacionar-se com Deus, não só como criatura, mas como filho.
Faça valer a pena
1. O livre arbítrio permite que o homem faça escolhas. De acordo com a

Bíblia, Adão e Eva usaram essa liberdade para pecar, pois desobedeceram
a Deus comendo do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Segundo a doutrina cristã, a consequência desse pecado foi a separação entre
Deus e o homem, e, portanto, a necessidade de redenção para a humanidade
(Romanos 3:23).
É nesse contexto que se menciona que o homem se________________________
de Deus e, portanto, precisa _____________ para tornar-se
uma_________________________.
a. aproximou; crescer; nova criatura.
b. separou; nascer de novo; nova criatura.
c. aproximou; repensar; vida serena.
144
d. descontentou; morrer; nova criatura.
e. desviou; olhar; imagem.
2. A teologia entende o livre arbítrio como a liberdade de escolher e agir

que o homem tem. No entanto, de acordo com a bíblia, desde cedo o homem
tem aprendido que liberdade exige responsabilidade, pois todas as escolhas
humanas têm consequências. Nesse sentido, verifica-se o texto de Mateus
7:13-14: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho
que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é
a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem”.
Com base nesse texto, analise as afirmativas a seguir:
I. É próprio da natureza humana pôr em prática seus desejos sem antes
pensar nas consequências.
II. Quando se fala em porta larga, o texto está se referindo à tendência
humana de buscar sempre as escolhas mais fáceis.
III. A porta estreita representa um esforço, a opção pela escolha mais
difícil diante das circunstâncias.
IV. O homem pode fazer suas próprias escolhas, mas deve pensar sempre
que, juntamente com suas decisões, há uma gama de consequências
e de possibilidades.
a. I, apenas.
b. I e II, apenas.
c. II e III, apenas.
d. III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.
145
3. Todas as crenças, de forma mais ou menos abrangente, enxergam o
homem como um ser em construção e, portanto, passível de constante
transformação. O recomeço é um conceito importante na teologia, permi-
tindo mudanças de vida e novas perspectivas, a partir dos princípios de cada
religião. No cristianismo, fala-se em “nascer de novo”. Sobre esse novo nasci-
mento, citado por Jesus no Novo Testamento (João 3:3), analise as afirma-
tivas a seguir:
I. Significa um novo início, um novo relacionamento entre Deus e
aquele que nasce de novo.
II. O novo nascimento é um fenômeno espiritual e não físico.
III. Deus adota a pessoa que nasce de novo como filho.
IV. Quando falou sobre o novo nascimento, Jesus se referia ao batismo
nas águas.
V. O novo nascimento é uma condição espiritual que não permite mais
o pecado na vida da pessoa.
a. I e III, apenas.
b. II e IV, apenas.
c. I e V, apenas.
d. I, II e III, apenas.
146
Seção 2
Os anjos e o homem
Diálogo aberto
“Eu não acredito em fantasmas, mas que eles existem, existem!”. Essa frase,
bastante popular representa de maneira irônica e até engraçada o sentimento
de muita gente a respeito de personagens sobrenaturais, como fantasmas,
bruxas, lobisomens e anjos. Anjos? Sim! Anjos são personagens sobrenatu-
rais, ou seja, seres que não podem ser explicados ou estudados pela ciência.
Além de sobrenaturais, anjos também são muito populares. Eles protago-
nizam filmes, seriados de tevê, livros, aparecem em quadros famosos, dão
títulos a músicas, perfumes, têm páginas na internet, nomeiam igrejas, são
cultuados e tidos como objeto de devoção. No entanto, existe uma diferença
entre os anjos e os demais seres sobrenaturais; eles são considerados seres
reais para as grandes religiões de tradição ocidental (cristianismo, judaísmo e
islamismo). Vale a pena destacar, entretanto, que, para hinduístas e budistas,
pessoas evoluídas podem transformar-se em seres angelicais. Esses seres são
chamados devas, palavra que significa seres brilhantes ou luminosos.
Embora a doutrina religiosa determine a existência dos anjos, não se pode
observá-los na perspectiva da matéria física. Eles são uma realidade provada
em dogmas e verdades de fé, e não em métodos cartesianos científicos. O
cristianismo tem uma doutrina própria para os anjos e existe até um ramo da
teologia para estudá-los, chamado angeologia ou angelologia. Considerando
os pressupostos desse curso, será a partir dessa perspectiva que esse tema
será abordado no presente material.
Você não gostaria de descobrir o que a Bíblia afirma sobre os anjos e de
saber diferenciar o que é fantasia e o que é doutrina teológica a respeito desse
assunto? Afinal, quem são os anjos segundo os pressupostos bíblicos? Como
e por que eles foram criados? Como eles interferem a vida na terra e como se
relacionam com a humanidade? Essas perguntas vão guiar nossos estudos.
Num final de tarde de sábado, Gregório e Helena resolveram assistir ao
filme Cidade dos Anjos, um clássico do cinema produzido em 1987, pelo
diretor alemão Wim Wenders, e refilmado em 1998. Gregório é estudante
de teologia e ficou curioso ao ouvir o professor citar o filme numa das aulas
sobre angeologia.
147
O filme conta a história do anjo Seth, encarregado de tomar conta da
cidade de Los Angeles. Ele observa o trabalho de Maggie, uma cirurgiã, e
acaba se apaixonando por ela, sendo confrontado com o dilema da escolha de
perder sua imortalidade para viver um romance com uma mortal.
Depois do filme, Helena questiona Gregório, querendo saber se o enredo
todo é uma fantasia, ou se há, no filme, aspectos condizentes com a doutrina
cristã. Afinal, anjos existem? Eles observam e interferem mesmo na vida
dos seres humanos? Eles podem se apaixonar, casar e ter filhos? Eles podem
escolher, como os homens, o que querem para suas vidas?
Não pode faltar
A existência dos anjos é um dos dogmas da fé cristã confirmado por

vários Concílios da Igreja Católica, como o de Nicéia, no ano 325, pela Bíblia
e pela Tradição da Igreja, que os apresenta em textos de teólogos famosos,
como Santo Agostinho, Tomás de Aquino, Gregório Magno e Vicente Ferrer,
para citar alguns. Agostinho foi o primeiro teólogo a formalizar, no século
IV, mesmo que de forma incipiente, uma doutrina sobre os anjos. Segundo
Gilson (2007), Agostinho afirma no seu livro Enchiridion, conhecido em
português como Manual da Fé, Esperança e Caridade, que os serem humanos
só conhecerão plenamente a natureza dos anjos quando estiverem unidos a
eles na bem-aventurança eterna.
Assimile
Outras religiões também acreditam em anjos. É o caso dos muçulmanos,
dos hindus e budistas, por exemplo. Todos aceitam sua existência,
mesmo que com características e funções diferentes das que lhes são
atribuídas pela tradição judaico-cristã.
A biblioteca de Nag Hammadi, descoberta em 1945, no Egito, continha

livros do século IV tratando de angelologia, com relatos de que a
fronteira entre Deus e os homens é coberta por trinta “archons”, seres
intermediários, possivelmente anjos, que guardam as regiões celestes.
Os anjos são mencionados mais de 300 vezes na Bíblia, e alguns por nomes,
como os anjos Miguel e Gabriel. É interessante observar que o nome confere
personalidade, mas diferentemente da numerologia, por exemplo, a Teologia
cristã não confere personalidade geral aos anjos.
148
Podemos aprender muito sobre eles olhando as citações bíblicas. Por exemplo:
• A Bíblia afirma que os anjos foram criados por Deus com o propósito
de servi-lo e adorá-lo (Colossenses 1:13-17).
• Que eles existem antes da criação do homem (Jó 38:3-7) e são milhares
(Apocalipse 5:11).
• Que eles obedecem a Deus e que muitas vezes agem a favor do homem
(Salmos 91:11).
• Às vezes eles são descritos como seres espirituais que voam (Salmos
18:10); outras vezes têm a forma humana (Hebreus 13:2).
• Não se casam, nem têm filhos (Marcos 12:25).
• Têm uma língua própria (1 Coríntios 13:1) e hierarquia: anjos,
arcanjos, querubins e serafins (Isaías 6:2) e (Colossenses 1:16).
A primeira menção a anjos na Bíblia acontece em Gênesis, no capítulo 3,
quando Deus coloca querubins a leste do Jardim do Éden para guardar
a árvore da vida. Eles povoam praticamente todos os livros do Antigo
Testamento, surgindo como mensageiros, guardiões, guerreiros. O profeta
Isaías menciona também serafins, anjos de seis asas (Isaías 6:1,2). Dois queru-
bins de ouro ficavam em cima da Arca da Aliança, um dos objetos sagrados
dos israelitas (Êxodo 25:18-21).
No Novo Testamento, os anjos aparecem antes do próprio Cristo, na
passagem do anúncio do nascimento de João Batista ao seu pai, o sacerdote
Zacarias (Lucas 1:5-25).
Os anjos participaram ativamente da vida de Jesus, desde o anúncio de
sua concepção, que podemos ler em Lucas 1, feito pelo anjo Gabriel à virgem
Maria, até a sua ascensão ao Céu, como o próprio Lucas relata no livro de
Atos. Conforme ele, um anjo foi quem confortou a Cristo no Monte das
Oliveiras quando, angustiado, suou sangue (Lucas 22:39-46). E de acordo
com a escatologia, que é o ramo da teologia que estuda o fim dos tempos,
Jesus voltará à Terra acompanhado de um exército celestial (Apocalipse 19).
Reflita
A Bíblia diz que os anjos foram criados por Deus (Salmos 148: 2-5) e
que o homem foi formado por Deus. Você já pensou nessa diferença? O
homem foi formado do barro, do pó da terra, criado individualmente e
de forma única à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 2:7), a quem
foi ensinado por Jesus a chamar de Pai.
149
Como vimos, de acordo com a Bíblia, anjos e homens foram criados por
Deus, mas de maneira diferente e em ocasiões distintas. O livro de Jó faz uma
referência aos anjos testemunhando a criação do homem (Jó 38:7), portanto,
eles já estavam aqui antes de nós. E o livro de Salmos diferencia os homens
dos anjos, destacando que fomos feitos “um pouco menores” do que eles
(Salmos 8:4,5). Assim, é possível facilmente diferenciar homens e anjos.
No entanto, embora sejam superiores aos homens, a doutrina dos anjos
também deixa claro que eles não têm os mesmos atributos de Deus. Eles
não são omniscientes (Mateus 24:36), ou seja, não sabem todas as coisas,
tampouco onipotentes, o que significa que não podem todas as coisas. E
embora eles se locomovam de maneira diferente da nossa, cruzando os ares
e atravessando barreiras intransponíveis para nós, eles não podem estar em
dois lugares ao mesmo tempo, assim, não são onipresentes como Deus.
Não se pode afirmar com certeza que eles sejam eternos, embora o fato
de não terem corpos físicos os torne imortais. Conforme vimos, os anjos
são seres criados, o que pressupõe que eles sejam finitos, embora para esse
tema exista controvérsia entre os teólogos. Há trechos bíblicos que falam da
destruição de anjos maus (2 Pedro 2:4) no juízo final.
Os anjos têm livre-arbítrio e fazem escolhas morais, portanto, podem ser
bons ou maus (Judas 1:6); (2 Pedro 2:4).
Todo estudo sobre angelologia deve passar pelos escritos e pelas ponde-
rações de São Tomás de Aquino, que discorreu muito sobre o tema. Para esse
autor, os anjos fazem escolhas próprias:
É forçoso admitir-se a vontade nos anjos. Para a evidência

do que se deve considerar na procedência de todos os
seres, da vontade divina; todos, a seu modo, mas diversa-
mente, inclinando-se ao bem, pelo apetite... Donde, conhe-
cendo os anjos, pelo intelecto, a natureza universal do bem,
é manifesto que neles há vontade. (AQUINO, [s.d.], p. 525).
Os anjos atuam e interferem diretamente na Terra e na vida humana,

cumprindo ordens de Deus. Eles protegem o povo de Deus (Salmos 91:11),
registram as ações humanas (Eclesiastes 5:6), trazem mensagens, preparam
o caminho e as circunstâncias para o agir de Deus entre os homens
(Malaquias 3:1).
150
Assimile
A palavra anjo vem do grego angelos, que quer dizer, justamente,
mensageiro. No hebraico a palavra é mal’âk e tem a mesma conotação.
É compreensível, portanto, a identificação do homem com os anjos,

sua tentativa de retratá-los como se fossem homens com características
especiais (asas, espadas flamejantes, brilho fulgurante), o que se chama
antropomorfismo.
Nessa perspectiva, nasce a devoção aos anjos. A devoção é um apego
fervoroso baseado num sentimento religioso.
Segundo o Papa Joao Paulo II no Catecismo da Igreja Católica (1997,
p. 336) a vida de todo ser humano é sempre acompanhada pela assistência
e intercessão dos anjos: “Cada fiel tem ao seu lado um anjo como protetor e
pastor para o guiar na vida. Desde este mundo, a vida cristã participa, pela
fé, na sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus.”
Diante disso, os católicos creem que podem, até mesmo, falar com os
anjos e orar pedindo proteção e livramento a eles.
Exemplificando
Veja esta oração bastante conhecida, extraída do livro Aprendendo
Latim Eclesiástico, específica para o Santo Anjo da Guarda: “Santo Anjo
do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina,
sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine. Amém”. Essa
oração pode ser compreendida como um exemplo de como a doutrina
cristã interpreta a existência dos anjos.
Para os católicos, a devoção é diferente da adoração. O catolicismo

permite a devoção aos anjos, mas os cristãos protestantes consideram essa
prática uma idolatria e não creem que existam anjos da guarda pessoais. Para
João Calvino (2018), um dos principais teólogos da Reforma Protestante,
muitos anjos têm o compromisso de cuidar de toda a Igreja, ajudando cada
membro de acordo com suas necessidades. Para os calvinistas, portanto, não
existe anjo da guarda.
Em alguns casos, a devoção aos anjos é levada a extremos que não têm
qualquer embasamento teológico, havendo muita especulação sobre o tema.
151
Reflita
Diante de tudo que vimos até agora, qual é a sua conclusão a respeito
da devoção direcionada aos anjos? Em algumas denominações cristãs,
como o catolicismo, os anjos são tidos como protetores dos homens;
essa é a origem da figura do anjo da guarda. Já outras denominações,
como a maior parte das igrejas protestantes, entendem que os anjos
obedecem apenas a Deus, e que não devem ser objeto de devoção por
parte dos homens. O que você pensa a respeito?
Ao longo da história, os anjos foram representados de várias maneiras

diferentes numa tentativa humana de caracterizar seus atributos ou funções
celestiais. Por exemplo, no século IV eles eram pintados ou esculpidos com
asas, enfatizando seu caráter de mensageiros de Deus.
Lembre-se
A Bíblia é uma coleção de livros escritos ao longo de mais de 1600 anos.
A quantidade de livros do Antigo Testamento depende da denominação
cristã. A Bíblia protestante tem 39 livros no AT, enquanto que a Bíblia
católica possui 46 e a ortodoxa, 51. O Novo Testamento compreende os
27 livros escritos depois de Cristo. A maior parte do Antigo Testamento
foi escrita no hebraico, havendo alguns trechos em aramaico. Já o novo
Testamento foi escrito no grego.
No Renascimento, os anjos aparecem retratados como crianças aladas,

uma influência da arte greco-romana, com o objetivo de mostrar a inocência
e a pureza dos seres angelicais.
Embora sejam vistos, na maioria das vezes, como protetores e benfeitores
do homem, os anjos também podem trazer destruição e julgamento da parte
de Deus à humanidade. No livro de Êxodo, um anjo traz a morte sobre todos
os primogênitos do Egito. Há ainda um relato impressionante, no 2 livro de
Reis, em que um anjo mata 185 mil homens (2 Reis 19), motivo pelo qual
são também representados como guerreiros, embainhando espadas e condu-
zindo exércitos, conforme descrito em Josué (5:13-14).
Os anjos são personagens ativos no juízo final. Veja esta descrição no
livro de Marcos:
Ora, naqueles dias, depois daquela aflição, o sol se escure-

cerá, e a lua não dará a sua luz. E as estrelas cairão do céu,
e as forças que estão nos céus serão abaladas. E então
152
verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder
e glória. E ele enviará os seus anjos, e ajuntará os seus
escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da
terra até a extremidade do céu (Marcos 13:27).
Os anjos são figuras importantes no Apocalipse – o livro bíblico que fala

sobre o fim dos tempos. Nele, eles aparecem voando sobre os céus, trazendo
mensagens de Deus, tocando trombetas para anunciar o juízo final e derra-
mando pragas sobre a terra.
Dentro de uma perspectiva dualista, bastante comum nas religiões que
considera a existência de bem e mal, os anjos também podem ser categori-
zados como “bons” ou “ruins”. Essa ideia também se verifica no cristianismo
nascente, que trouxe vários elementos do judaísmo. A concepção do mal e
sua personificação em anjos e demônios constitui uma das elaborações mais
complexas do contexto medieval. Na visão de padres apostólicos da igreja
primitiva, como Santo Inácio, bispo de Antioquia martirizado no ano 107, o
diabo era um anjo caído que tinha milhares de seguidores.
A doutrina sobre os anjos aparece na maioria das religiões, principal-
mente nas de confissão cristã. Um exemplo é o Adventismo do Sétimo Dia.
Uma síntese sobre as concepções dos adventistas acerca dos anjos aparece
no capítulo “Os maus espíritos” do livro O Grande Conflito, escrito por sua
fundadora, Ellen G. White. Nesse capítulo. a autora enfatiza que há anjos que
são enviados por Cristo para proteger os homens dos anjos maus.
Os anjos também são importantes para algumas doutrinas protestantes
não trinitárias, como os Santos dos Últimos Dias (mórmons). Eles creem que
foi um anjo, chamado Moroni, quem trouxe a revelação da doutrina para o
seu fundador, Joseph Smith. A história é narrada no Livro de Mórmon.
A Bíblia fala sobre anjos caídos, seres celestiais que foram expulsos do céu
ao seguirem Lúcifer em sua rebelião contra Deus (Isaías 14:12-15; Mateus
25:41; Apocalipse 12:9). Essa interpretação originou a crença defendida por
muitas igrejas cristãs de que os demônios são, justamente, anjos rebeldes.
Portanto, segundo os pressupostos bíblicos, os anjos têm livre-arbítrio e não
são imunes à tentação, nem ao pecado. No entanto, na literatura judaica e
islâmica, a concepção de demônios é diferente. A tradição judaica descreve os
demónios como seres imperfeitos, criados após o homem, cujos atos tendem
à destruição e ao caos. Para o islamismo os demônios não são anjos, pois os
anjos não têm livre-arbítrio, ou seja, não podem pecar. Você pode saber mais
sobre esse assunto consultando o Dicionário Bíblico Vida Nova e o artigo
A presença do diabo no cotidiano medieval judaico: os ritos de passagem, de
153
Sergio Alberto Feldeman, publicado na Fenix, Revista de História e Estudos
Culturais.
Sem medo de errar
Depois de assistirem ao filme Cidade dos Anjos, Gregório e sua namorada

Helena conversam sobre o enredo. Helena está curiosa para saber a opinião
de Gregório, que é estudante de Teologia, sobre a história de Seth, um anjo
que se apaixona por uma mulher e que enfrenta o dilema de tornar-se
humano para viver sua paixão por ela.
Relembrando o que aprendeu sobre o tema, Gregório pondera que o
filme parte de uma verdade cristã, que é a doutrina dos anjos. Ele mostra
a Helena várias passagens bíblicas que confirmam a existência dos anjos,
mostrando que eles foram criados por Deus e que atuam sob as ordens Dele
como mensageiros, guerreiros e protetores da raça humana.
Helena está fascinada pelo assunto, pois nunca antes havia parado para
refletir sobre isso. Gregório pega suas anotações das aulas de angelologia e
encontra uma relação de versículos bíblicos que falam sobre os anjos; são
mais de 300 citações na Bíblia.
Convencidos de que os anjos são seres reais, Gregório e Helena passam
a considerar o relacionamento entre os anjos e os homens. Helena aposta na
possibilidade de um romance entre Seth e Maggie, mas Gregório discorda.
Segundo ele, o próprio Jesus teria afirmado que anjos não se casam, nem têm
filhos (Mateus 22:30), o que os leva a discorrer sobre a natureza dos anjos e
dos homens. Seriam seres diferentes?
Conforme a Teologia Sistemática, anjos seriam seres espirituais criados
por Deus com inteligência, mas desprovidos de corpo físico (GRUDEM,
2009). Para Gregório, isso faz sentido, pois condiz com a afirmação de Paulo
na carta aos Hebreus: “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados
para serviço a favor do que hão de herdar a salvação?” (Hebreus 1:14).
Helena tem suas dúvidas: por acaso não há relatos de anjos que aparecem
em forma humana? Não foi assim que o anjo Gabriel apareceu para anunciar
a Maria que ela conceberia e daria à luz o Messias? Com um pouco de
pesquisa bíblica, Gregório encontra várias menções a aparições de anjos em
forma humana. Por exemplo, o anjo descrito como um jovem que é visto
pelas mulheres sentado do lado de fora do túmulo de Jesus (Marcos 16:5).
Gregório acaba concordando que talvez os anjos não tenham corpos físicos,
mas possam assumir a aparência de seres humanos. A conversa foi longe e
o tempo passou rápido. Gregório percebe que é tarde e está na hora de levar
Helena para casa. Ambos concluem que para discutir teologia é preciso se
154
despir de ideias pré-concebidas, estar sempre disposto a aprender, a refletir
sobre novos conceitos, e principalmente, lembrar que o homem não tem
todas as respostas a respeito das coisas de Deus.
Os anjos e o livre-arbítrio
No carro, a caminho da casa de Helena, ela e o namorado Gregório,
estudante de Teologia, continuam conversando sobre o filme que acabaram
de assistir, Cidade de Deus. Depois de concordarem que anjos e homens são
seres criados por Deus, mas com naturezas diferentes, Gregório e Ana se
questionam se um anjo poderia tornar-se mortal, como acontece com Seth, o
anjo que é o protagonista do filme. Helena lembra que quando era pequena,
foi ao enterro de um coleguinha da escola, morto por atropelamento, e ouviu
várias pessoas comentarem que ele havia se tornando um anjinho. Será que
anjos podem tornar-se humanos e humanos também podem virar anjos?
Na tradição judaico-cristã, anjos são feitos de luz e humanos são feitos de
pó. Essa é uma forma simplista, porém objetiva de explicar a diferença entre
a natureza dos anjos e dos homens.
Conforme vimos anteriormente, a Bíblia mostra que os anjos foram
criados antes dos seres humanos e têm uma natureza diferente da nossa.
Portanto, para as religiões cristãs, seres humanos não viram anjos, e anjos
não podem tornar-se humanos. De acordo com a Bíblia, anjos não precisam
de redenção, nem de salvação, não têm corpos físicos e, portanto, não experi-
mentam a morte e nem passarão pela ressurreição.
Depois de muita conversa e muita leitura, Gregório e Helena concordam
que a união romântica de Seth e Maggie em Cidade dos Anjos é ficção, o que
não tira o mérito do filme, segundo Gregório, nem torna a história menos
romântica, de acordo com Helena.
155
Faça valer a pena
1. Segundo os pressupostos do cristianismo e de outras orientações religiosas

monoteístas, anjos são seres celestiais, superiores ao homem; eles podem
fazer coisas que o homem não consegue fazer. De acordo com a Bíblia, eles
voam, atravessam paredes, destroem cidades e podem influenciar fenômenos
da natureza, detendo os ventos e espalhando doenças. Eles são poderosos!
De acordo com a doutrina dos anjos, a respeito da sua natureza, pode-se
afirmar que:
a. Eles são onipotentes (podem fazer qualquer coisa).
b. Eles são onipresentes (podem estar em vários lugares ao mesmo
tempo).
c. Eles são seres espirituais.
d. Todos eles são bons.
e. Eles são oniscientes (sabem todas as coisas).
2. Embora anjos e homens tenham naturezas diferentes, existe uma relação

entre eles, segundo os pressupostos de religiões monoteístas. Os anjos atuam
e interferem diretamente na terra e na vida humana, cumprindo ordens de
Deus. Por isso, é compreensível a identificação do homem com os anjos e sua
tentativa de retratá-los como se fossem homens com características especiais
(asas, espadas flamejantes, força extraordinária). Nessa perspectiva, nasce a
devoção aos anjos, um apego fervoroso baseado num sentimento religioso.
Segundo a doutrina dos anjos, com relação ao relacionamento entre nós e
eles, é correto afirmar que:
a. Os homens devem adorar os anjos, pois eles são seres celestiais criados
por Deus.
b. Os homens podem fazer pedidos e dar ordens somente ao seu anjo
da guarda.
c. Os anjos foram criados para servir aos homens, portanto, podemos
considerá-los seres inferiores a nós.
d. Todos os anjos são bons, nunca fazendo mal aos homens.
e. Os anjos são seres criados por Deus que pertencem a Ele e só
obedecem a Ele.
156
3. Os anjos participam da vida humana em muitos momentos da história,
cumprindo diferentes papeis e desempenhando diversas funções delegadas
por Deus. Eles aparecem mais de 300 vezes na Bíblia, tendo testemunhado a
criação deste mundo e da humanidade.
Assinale a resposta correta que define as funções angelicais, conforme a
doutrina dos anjos:
a. Mensageiros, protetores, guerreiros, ministradores.
b. Protetores, juízes, mentores, ministradores.
c. Curadores, mentores, mensageiros, protetores.
d. Guerreiros, benfeitores, protetores, juízes.
e. Ministradores, mentores, guerreiros, benfeitores.
157
Seção 3
A natureza humana segundo a bíblia
Diálogo aberto
A visão teológica do homem é muito diferente do conceito antropocên-
trico adotado por quase todas as sociedades atuais. Para a Bíblia, apesar de
ter sido criado à imagem de Deus, o homem tem uma natureza carnal que
o torna propenso ao pecado, e que só pode ser transformada por meio da fé
em Jesus e da conversão a Deus. Veja, por exemplo, as obras da carne enume-
radas por Paulo no capítulo 5 do livro de Gálatas. Esse é um discurso duro
para culturas que têm o homem como o centro do universo, que defendem
que o ser humano é intrinsicamente bom e capaz de melhorar a si mesmo,
evoluindo continuamente. Para o humanismo, o mundo vem sendo aperfei-
çoado pela tecnologia, pelos direitos humanos e pelo avanço do conheci-
mento; para a Bíblia, todo homem continua nascendo pecador e precisando
da graça de Deus para ser salvo.
Você já notou como o bem e o mal parecem travar uma batalha diária
dentro de cada um de nós e como é frustrante ver que nossas boas inten-
ções nem sempre nos conduzem às atitudes que gostaríamos de ter? Nossa
percepção a respeito de nós mesmos é bastante limitada. De acordo com
Whitney (1985), o psicanalista Carl Jung afirmava que aquele que olha apenas
para fora, sonha, e somente aquele que olha para dentro, consegue acordar.
Que tal dar uma espiada dentro de si mesmo usando as lentes da teologia?
Mateus, de 14 anos, é um jovem aprendiz que trabalha na mesma insti-
tuição em que você trabalha. Ele frequenta uma igreja cristã e tem um bom
relacionamento com todos na empresa. Ao saber que você é estudante de
teologia, decidiu compartilhar uma dúvida: — “Eu aprendi na igreja que sou
feito de carne, alma e espírito, que tenho uma natureza carnal que sempre
quer fazer coisas erradas e uma natureza espiritual que quer fazer o que é
certo. E elas estão sempre disputando dentro de mim. Será que é por isso que
muitas vezes eu sei que não devo fazer alguma coisa, mas faço assim mesmo?
Como pode a minha vontade discordar da minha consciência?”
O dilema de Mateus é o mesmo de todo cristão: uma luta contínua dentro
de si mesmo entre a natureza corrupta do homem e a nova criatura nascida
do espírito; uma batalha entre o bem e o mal, entre a vontade humana e a
vontade de Deus.
A teologia explica onde esse conflito começou e como o homem pode sair
vitorioso dele.
158
Não pode faltar
A Natureza Humana
Uma fábula de Esopo conta a história de um escorpião que precisava
atravessar um lago. Como não sabia nadar, ele pediu ajuda a uma rã para
levá-lo nas costas até a outra margem. A rã, a princípio, ficou desconfiada e
negou, com medo de ser picada. No entanto, o escorpião garantiu que não
faria isso e apresentou um bom argumento, explicando que se ele a picasse e a
rã morresse, ele também morreria afogado. Convencida, a rã decidiu prestar
o favor e o escorpião subiu nas suas costas. Quando estavam no meio do rio,
a rã sentiu a picada do escorpião e gritou:
— “Por que você fez isso? Agora vamos morrer os dois!” — E o escor-
pião respondeu:
— “Desculpe, não pude evitar. É a minha natureza.”
Essa é uma boa ilustração para entendermos o que é a natureza de cada
ser: é o conjunto de características que determina seu comportamento e
atitudes. Assim, a natureza humana é aquilo que caracteriza a essência do
homem, independentemente da sua cultura ou da influência do meio externo.
Definir essas características e o quanto elas podem ser mudadas estão entre
as questões mais importantes para a filosofia, a ética, a política e a teologia.
Veja esta afirmação de Sócrates no livro Fedro, escrito pelo filósofo Platão
no Século IV.
Ainda não cheguei a ser capaz, como recomenda a inscrição

délfica, de conhecer a mim próprio. Parece-me ridículo,
pois, não possuindo eu ainda esse conhecimento, que me
ponha a examinar coisas que não me digam respeito. Não
são as fábulas que investigo: é a mim mesmo. (SÓCRATES,
apud PLATÃO, 2017, [s.p.])
Para a filosofia, o homem é um ser pensante. René Descartes, filósofo

francês que viveu no Século XVII, dizia que o homem pensa, portanto, existe:
“cogito, ergo sub”, ou “penso, logo existo”. O constante conflito entre o homem
e seu conhecimento sobre o mundo foi apontado por Hegel, Descartes e Kant
como parte da natureza humana.
Para a ética, o homem é um ser moral, com capacidade para diferenciar
o bem e o mal, estabelecer valores como certos e errados e optar entre eles.
159
Para a psicologia, o homem é um ser relacional, que busca estabelecer
conexões com outros homens e seres, e que a partir dessas conexões ele
cresce, aprende e se desenvolve.
Como vemos, existem muitas características que definem o homem,
um ser complexo que pode ser visto e analisado a partir de vários ângulos
diferentes. De modo geral e olhando para a questão de forma bastante
objetiva, podemos descrever a natureza humana como as capacidades de
pensar, raciocinar, amar e criar, que nos distinguem dos outros seres vivos.
Componentes da Natureza Humana

De acordo com a tradição judaico-cristã, o patriarca Jó foi o primeiro dos
homens mencionados na Bíblia a interrogar acerca do homem. Ele perguntou
a Deus: “Que é o homem, para que tanto o estimes, e ponhas nele o teu cuidado,
e cada manhã o visites, e cada momento o ponhas à prova?” (Jó 7:17-18).
A Bíblia revela que a natureza humana, criada à imagem de Deus, é trina
e una, composta de corpo, alma e espírito. “E o mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo, e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente
conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1
Tessalonicenses 5:23).
Assimile
Você se lembra do que aprendemos a respeito da Trindade? Três
pessoas ou seres unidos em essência e propósito? O homem, criado à
imagem de Deus, também é composto de três partes distintas, porém,
indivisíveis.
O corpo também é chamado de “carne” na Bíblia. A palavra grega para

“carne” no Novo Testamento é sarx, um termo que se refere ao corpo físico.
A alma ou o segundo componente da natureza humana tem emoções,
raciocina e tem vontade, ela é capaz de “interpretar” a experiência física
do corpo, atribuindo conceitos, valores e significados para cada sensação.
Etimologicamente, a palavra alma deriva do termo latino animu, que signi-
fica “o que anima”, portanto, ela seria a “vida” que anima o corpo. A criativi-
dade, a inteligência, as emoções, as decisões, tudo o que torna a vida mais do
que o resultado do instinto ou de processos automáticos é função da alma;
assim como interpreta as experiências físicas do corpo, ela também ressig-
nifica a comunhão do espírito humano com Deus na vida diária, bem como
160
inter-relaciona as experiências do corpo e do espírito à consciência, vontade
e inteligência.
O espírito é o componente por meio do qual o homem tem comunhão
com o Espírito de Deus. É pelo espírito que o homem pode conhecer a Deus,
conforme vemos em 1 Coríntios 2:14: “Ora, o homem carnal não compreende
as coisas do Espírito de Deus... porque elas se discernem espiritualmente”.
Exemplificando
Uma maneira menos abstrata de ajudar você a entender essa trico-
tomia, ou melhor, essa composição trina do homem, seria usando este
exemplo:
Figura 4.2| Composição trina do homem – exemplo
A parte visível do ovo é a casca. Seu formato é redondo e sua cor é

branca, no entanto, dentro do ovo temos a clara e a gema, duas substân-
cias distintas, com funções diferentes e específicas, que também são
componentes do ovo. Assim, ao olhar uma pessoa, nós vemos apenas o
seu corpo físico, que é o seu componente visível, mas ela também tem
alma e espírito.
Embora esse exemplo seja apenas uma alegoria, já que o ser humano
é muito mais complexo do que o ovo, ele nos ajuda a demonstrar o
conceito de que cada pessoa é uma composição única de três elementos:
corpo, alma e espírito.
161
A Corrupção da Natureza Humana
A natureza humana é estudada pela ética, pela filosofia, psicologia e por
muitas ciências.
Há várias concepções sobre o tema, como o Contratualismo, uma visão
racional defendida por teóricos como Thomas Hobbes, John Locke e Jean
Jacque Rousseau. O estado natural do homem seria aquele em que o homem
vive focado nos seus instintos de autopreservação e sobrevivência. O homem
natural é guiado por sensações como medo, fome, sono, instinto sexual. No
seu livro O Contrato Social, Rousseau(2017), explica que a vida em socie-
dade ensina ao homem os benefícios de aliar-se a outros seres humanos, de
maneira a juntar forças na construção de uma sociedade mais acolhedora e
segura. Esse seria o “contrato social”, não um documento de papel, mas um
pacto feito entre os homens com vistas ao progresso e fundamentado princi-
palmente na educação e nos valores de civilidade e cidadania.
A teologia cristã diz que o homem foi criado por Deus, à sua imagem
e semelhança, e que depois de haver criado todas as coisas, incluindo o
homem, Deus viu que “tudo era muito bom” (Gênesis 1:31). Deus ficou satis-
feito com a sua criação. O mundo que Deus criara era perfeito, tudo coexistia
em harmonia, não havia dor, violência ou maldade, mas havia escolha.
Deus colocou o homem no Paraíso e lhe deu mandamentos, bem como
o livre-arbítrio, ou seja, a capacidade de escolher obedecer ou desobedecer, e
conforme a Bilia, o homem (e a mulher) escolheu desobedecer.
A natureza humana que conhecemos hoje é fruto dessa desobediência,
também conhecida teologicamente como “A Queda” de Adão e Eva. Quando
comeram do fruto da Árvore do Bem e do Mal, a sua comunhão com Deus
foi rompida. O pecado trouxe consequências terríveis: “O salário do pecado
é a morte”, ensina Paulo aos Romanos (Romanos 6:23). E assim, o homem foi
expulso do Paraíso, tornou-se mortal, sujeito à dor e ao sofrimento, marcado
para sempre pelo pecado que corrompeu a natureza humana perfeita criada
por Deus.
Paulo explica que a desobediência voluntária de Adão e Eva teve como
consequência a corrupção da carne e do espírito, ou seja, a morte física e
espiritual. “Por intermédio de um só homem entrou o pecado no mundo, e
a morte por intermédio do pecado, e assim a morte se espalhou a todos os
homens, porque todos tinham pecado” (Romanos 5:12).
A morte física todos conhecemos, é o fim da vida no corpo. A morte
espiritual é o rompimento da comunhão natural do homem com Deus.
Quanto mais se afasta de Deus, mais corrupto o homem se torna. A partir
162
da queda, a corrupção passa a ser o estado natural do homem. O profeta
Jeremias diz que o coração do homem é enganoso e “desesperadamente
corrupto” (Jeremias 17:9). Portanto, ao falarmos de natureza humana, do
ponto de vista teológico cristão, a primeira coisa que devemos considerar
é que somos todos pecadores. O próprio Deus afirma que a natureza do
coração humano é má: “[...] porque a imaginação do coração do homem é
má, desde a sua infância” (Gênesis 8:21). O apóstolo Paulo reitera que “Não
há nenhum justo, não há quem tenha entendimento, ou que busque a Deus;
todos se desviaram e pecaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça
o bem, nem um sequer” (Romanos 3:10-18). Esse conceito é explicado de
maneira extensa também no livro de Efésios, em que Paulo detalha o estado
do homem antes da redenção “[...] mortos em ofensas e pecados, [...] andando
nos desejos da carne, [...] sendo filhos da ira” (Efésios 2:1,2).
Do ponto de vista bíblico, a carne ou a natureza carnal do homem é,
portanto, corrupta e voltada para o mal. Isso fica bem explícito quando
vemos a descrição das obras da carne na carta de Paulo à igreja dos gálatas
(Gálatas 5:19-21):
Porque as obras da carne são manifestas, as quais são:

adultério, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimi-
zades. Porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões,
heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e
coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro,
como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas
não herdarão o reino de Deus.
Desde a queda, o pecado contamina cada aspecto da existência humana.

Por natureza, somos seres que buscam agradar a nós mesmos e não a Deus.
Esse é o conceito da mente carnal citado por Paulo na sua carta aos colos-
senses; um intelecto que só compreende as coisas do ponto de vista humano,
carnal e temporal. É fácil perceber isso no corpo físico: a fome, a sede, o sono,
o prazer sensual, todos voltados para si mesmo. No entanto, a mente carnal
também só trabalha em benefício próprio. São os desejos egoístas. Você
pode observar na lista das obras da carne citadas acima que Paulo menciona
pecados relacionados a pensamentos e a comportamentos. A mente e a carne
estão igualmente caídas; ambas estão ajustadas para agradar a si mesmas,
não a Deus.
No mesmo livro de Gálatas, logo depois de citar as obras da carne, Paulo
as contrapõem com os frutos do espírito: amor, gozo, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança. E aqui percebemos,
163
claramente, a luta travada por todo ser humano, durante toda a sua vida,
uma guerra contínua entre a carne o Espírito. “Digo, porém: andai no
Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita
contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si”
(Gálatas 5:16).
Essa mesma questão foi longamente exposta por Agostinho, que definia
Deus como o “bem supremo” e o mal como uma perversão da vontade divina
(AGOSTINHO, 2001). Para esse teólogo cristão, a origem do mal está, justa-
mente, no livre-arbítrio do homem, já que o permite escolher entre o bem
e o mal. Agostinho considera, no entanto, que o livre arbítrio foi dado ao
homem para que ele possa viver “retamente”, ou seja, escolher o bem: “[...]
não podemos agir com retidão a não ser pelo livre arbítrio da vontade”
(AGOSTINHO, 2001, p. 248).
Dica
É importante aqui destacar que a luta citada por Paulo não é entre a
carne e o espírito humano, ou seja, não é entre o corpo e o espírito do
homem, mas entre a vida que serve à carne, isto é, natureza humana
caída e a vida guiada pelo Espírito Santo, caso contrário, cairemos no
dualismo, um conceito religioso combatido pelo cristianismo que prega
que o corpo e o espírito são independentes entre si; que o corpo, sendo
mau, é o que peca, e o espírito, sendo bom, não peca. Para o dualismo, o
corpo pode pecar sem afetar o espírito. As consequências desse pensa-
mento afetaram bastante a teologia cristã.
A visão dualista platônica e neoplatônica introduziu no pensamento

teológico cristão uma tendência, que se tornou mais forte com o
passar dos séculos, de se renegar aspectos da cultura, frequentemente
chamados de “as coisas do mundo”, criando, por sua vez, um Cristia-
nismo espiritualizado, com dificuldades de lidar com o corpo, com os
prazeres, com a sexualidade, com o riso. (ROSA, 2010, p. 23)
O dualismo acredita que há dois princípios divergentes ou duas reali-

dades opostas no mundo, o bem e o mal, que são incapazes de se
sobrepor uma à outra ou de se conciliar. Para o dualismo, essas duas
forças também são insubordináveis entre si, o que significa dizer que
uma não pode vencer a outra. O problema dessa crença é que ela coloca
o bem e o mal no mesmo patamar; Deus e o diabo como sendo duas
faces opostas com o mesmo poder.
164
O dualismo influenciou bastante as mitologias grega e romana, bem
como as religiões nórdicas, no entanto, essa maneira de enxergar as
coisas não é condizente com a crença cristã. O cristianismo enxerga
Deus como o ser supremo. “Deus domina grandiosamente em sua
criação...eu sou Deus, e não há outro Deus, nem outro semelhante a
mim”. (Salmos 144;5). Além disso, as religiões cristãs também creem
que Deus é bom, pois o próprio Jesus afirmou isso: “Ninguém é bom,
senão um, que é Deus” (Marcos 10:18).
Portanto, para o cristianismo, o dualismo não passa de uma heresia.

Acreditar que o diabo pode medir forças com Deus é contrariar a
própria Palavra de Deus.
O teólogo reformado Martinho Lutero afirmava ter três inimigos: a carne,

o mundo e o diabo, e combatê-los não é tarefa fácil. Lutero fez teologia essen-
cialmente por meio do estudo da Bíblia, em especial as epístolas de Paulo no
Novo Testamento, mas também foi bastante influenciado pelos escritos de
Agostinho. Para o reformador, o livre arbítrio era uma suposição equivocada:
“a onipotência e presciência de Deus abolem completamente o dogma do
livre-arbítrio” (LUTERO, 1993, p. 137). Para provar sua teoria a respeito do
livro arbítrio e para refutar as afirmações de outro teólogo da época, Erasmo
de Rotterdam, sobre o assunto, Lutero escreve o livro De Servo Arbítrio, em
que usa a figura de um jumento como metáfora: o animal anda dirigido pelo
seu montador, seja ele Deus ou o diabo. E nem para escolher o montador o
jumento tem liberdade: “não está em seu arbítrio correr para um dos dois
cavaleiros ou procurá-lo; antes, os próprios cavaleiros lutam para o obter e
possuir” (LUTERO, 1993, p. 49).
A Natureza Humana Transformada

Os primeiros filósofos a deixar registros na história, como Heráclito, não
separavam o homem da natureza. Para eles, a constante mutação da natureza
era também uma característica humana. A partir de Platão, que viveu mais de
300 anos antes de Cristo, o homem se torna o centro da filosofia (PLATAO,
1956), a natureza humana passa a ser vista de forma mais complexa e o corpo
como um repositório da alma.
Ao se reconhecer pecador, o homem admite que precisa de perdão, de
salvação e da ajuda de Deus. Esse é o conceito bíblico de conversão, uma
mudança de direção e de sentido na vida e também o início da transfor-
mação do velho homem carnal em uma nova criatura, conforme citado
várias vezes por Paulo em suas epístolas. “Portanto, se alguém está em Cristo,
165
é nova criatura” (2 Coríntios 5:17). A conversão é o despertar do espírito
que se volta para Deus em arrependimento e fé. Essa é também a filosofia de
Agostinho, que até hoje influencia a teologia cristã. Agostinho continuou o
caminho iniciado por Platão, fazendo de Cristo a meta final.
A alma do homem, ainda que dê testemunho da Luz, não

é, porém, a Luz; mas o Verbo — Deus — é a Luz verda-
deira que ilumina todo homem que vem a este mundo.
Estava neste mundo que foi feito por Ele, e o mundo não
o conheceu. Porém, que veio para o que era seu e os seus
não o receberam; que a todos os que o receberam lhes
deu poder de fazerem filhos de Deus aos que crescessem
em seu nome — Isso não li naqueles livros. (AGOSTINHO,
1973, p. 137)
A partir desse despertar espiritual por meio da fé, o Espírito de Deus

ou Espírito Santo passa a viver no crente. Por isso a Bíblia diz que o
homem se torna morada do Espírito Santo, templo onde Deus habita. “Não
sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?”
(1 Coríntios 3:16). E é essa comunhão entre o espírito humano e o Espírito
de Deus que transforma a natureza corrupta do homem por meio de um
processo conhecido por santificação.
A esse respeito, Justino, o Mártir, historiador do início do cristianismo,
teria escrito que aqueles que odiavam e destruíram, devido a diferenças de
costumes, e recusavam-se a viver com homens de tribos diferentes, desde o
surgimento de Cristo, vivem com eles em termos de intercâmbio familiar, e
oram por seus inimigos (JUSTINO, 1995).
De acordo com a teologia cristã, tanto a salvação como a santificação são
resultantes da misericórdia divina. Segundo os fundamentos do cristianismo,
Deus criou o homem perfeito, sem maldade, mas com livre-arbítrio, ou seja,
com o poder de escolha. Por causa da sua desobediência, a natureza humana
tornou-se corrupta, mortal, e o homem perdeu a comunhão com Deus.
Assim como ele não pode evitar a morte física, tampouco pode evitar a morte
espiritual. Por isso a Bíblia afirma que, sem Deus, o homem anda em trevas.
“Eles não conhecem, nem entendem; andam em trevas” (Salmos 82:5).
Esse cenário parece bastante desolador, não é? Seria, se não fosse pelo
amor de Deus, “o qual nos tirou da potestade das trevas e nos transportou
para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1:13). A providência divina
colocou em prática um plano (o plano de salvação) para redimir o homem e
166
trazê-lo de volta ao seu estado original (sem pecado), à comunhão com Deus
e à vida eterna.
“Por que Deus amou ao mundo de tal maneira, que deu seu Filho
Unigênito para que todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha a vida
eterna” (João 3:16). Esse plano é Jesus Cristo, a encarnação, o sacrifício e
a ressurreição de Deus em favor da humanidade. “Eu sou a luz que vim ao
mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”
(João 12:46). Essa é, em suma, a visão teológica cristã da natureza transfor-
mada do homem.
No entanto, há outras opiniões a respeito do tema, não só nas religiões,
mas na própria filosofia. O século XV inaugurou a dúvida metódica e a visão
mecanicista com as contribuições de René Descartes. Esse filósofo resolveu
combater o ceticismo em busca de uma verdade absoluta; para isso, ele
começou duvidando de tudo, até perceber que o que restava era a própria
dúvida, ou seja, a razão. Essa metodologia, conhecida também como método
cartesiano, tornou-se a base da investigação científica. É de Descartes a
frase famosa: “Penso, logo existo”, presente no livro Discurso sobre o Método
(2011). O homem torna-se objeto da investigação científica e a razão passa a
ser considerada suficiente para orientá-lo no caminho do bem.
É possível concluir, portanto, que a natureza humana é vista de diferentes
maneiras, inclusive dentro da teologia, já que ela sempre caminha lado a lado
com outras ciências sociais como a filosofia e a antropologia, por exemplo,
sendo bastante influenciada por elas.
Sem medo de errar
Mateus, um garoto de 14 anos que trabalha na mesma empresa que você,

ficou com dúvidas depois de aprender sobre a natureza carnal do homem.
Sabendo que você é aluno de teologia, decidiu compartilhá-las com você.
Com paciência e de maneira bem simples e didática, você pode explicar o
conceito da natureza humana, segundo a Bíblia, complementando que ela
sempre tende a nos fazer escolher o pecado, enquanto que a natureza espiri-
tual nos leva a escolhas que honram e agradam a Deus. Para ajudar o menino
a entender como administrar esse conflito, você pode usar um exemplo que
aborde o assunto de maneira mais concreta, como a seguinte metáfora:
Todos nós temos uma natureza carnal e outra espiritual. Pense nelas
como se fossem dois lobos vivendo dentro de você: um deles bom e o outro
muito malvado, que tentam constantemente influenciá-lo nas suas decisões
e atitudes. Às vezes, o lobo mau ganha e você faz escolhas que entristecem
o coração de Deus e que trazem consequências ruins para a sua vida; outras
167
vezes, o lobo bom leva a melhor e convence você a escolher o bem. É impor-
tante que você entenda que a influência deles vai depender de qual deles é
mais forte. Você não pode se livrar dos lobos, Mateus, mas pode escolher
qual deles vai alimentar e fortalecer para que prevaleça sobre o outro.
Alimentando o espírito
Dias depois da conversa com Mateus sobre a natureza humana, o garoto
voltou ao assunto durante um intervalo no trabalho.
– Lembra da história dos lobos que você me contou? Eu entendi que
preciso escolher qual deles vou alimentar para que ele seja o mais forte em
mim: o lobo bom ou o lobo ruim. O lobo bom representa a natureza carnal
e o lobo ruim a espiritual, não é? O que eu não consegui entender é: como
saber que estou alimentando o lobo certo? Ou seja, como eu posso aprender
a tomar decisões e atitudes que sejam boas para a minha vida?
Agostinho, um dos grandes teólogos do cristianismo, reconheceu que o
homem é um “grande abismo” (AGOSTINHO, 1999, p. 22). Suas reflexões
apontam para a natureza trina do homem, carne, alma e espírito, e também
mostram que cada um desses componentes da natureza humana deve ser
respeitado, valorizado e cuidado.
Se consideramos nosso corpo, embora morra como o dos

animais irracionais e seja menos vigoroso que o de muitos
deles, quanta bondade e quanta providência de Deus não
brilha em cada uma de suas partes! Não estão os órgãos
dos sentidos e os demais membros tão bem-dispostos e tão
bem ordenados sua beleza, forma e modo, que indicam às
claras haverem sido feitos para o serviço de alma racional?
Vemos curvados para a terra os animais irracionais. O
homem não foi criado assim. A forma de seu corpo, ereto e
erguido para o céu, adverte-o de que deve desejar apenas
as cosas do alto (AGOSTINHO, 2001, p. 240).
Já a alma, para Agostinho (1999), alimenta-se dos sentimentos conforme

relata no livro Confissões, e é superior ao corpo por conter a razão e a
inteligência.
168
Mas deixemos de lado essas riquezas que qualquer pessoa,
caso lhe apresentarem a opção, prefere perder antes que
a vida, pois, ninguém lhes dá a preferência, ninguém as
equipara aos olhos do corpo, por meio dos quais todos os
homens possuem o céu – o que não acontece com o ouro,
privilégio apenas de alguns. Mediante os olhos corporais,
todo homem possui o que vê com agrado. Quem, ao não
poder possuir ambas as coisas e se for obrigado a renunciar
a uma das duas, não prefere perder as riquezas, a perder os
olhos? Mas se, nas mesmas condições lhe perguntamos, se
prefere perder os olhos ou a mente, quem não vê dentro de
si que prefere perder os olhos a perder a mente? A mente
continua humana mesmo privada dos olhos corporais. Os
olhos, porém, sem a mente, serão como os dos animais. E
quem não prefere ser homem, mesmo cego, a ser animal e
enxergar? (AGOSTINHO, 1998, p.19)
É na razão e na inteligência, portanto, que o homem deveria investir seu

tempo e esforços, segundo Agostinho, já que para ele, são elas que, por meio
da ciência e da doutrina, alcançam a percepção da verdade e do amor. Essa
seria a suprema sabedoria: vencer os vícios da natureza humana e alcançar o
soberano Bem, qual seja, o próprio Deus.
Faça valer a pena
1. Por séculos os filósofos enxergaram o ser humano como composto

por duas partes diferentes e separadas entre si: o corpo (material) e a alma
(espiritual). Essa teoria, difundida por Platão, é chamada de dualismo. Entre
os principais opositores dessa ideia, temos o teólogo dominicano Tomás
de Aquino. Ele sustentava que a alma é unida substancialmente ao corpo
material, ou seja, eles não podem ser separados a não ser na morte. Desse
modo, segundo Aquino (2017), o corpo não pode existir sem a alma, e
também a alma, por sua vez, não tem uma vida sem o corpo. Segundo o
autor, a alma precisa do corpo para chegar ao seu fim, sendo que é pelo corpo
que adquire a perfeição no conhecimento e na virtude.
169
A respeito da natureza humana, escolha a alternativa correta entre os
enunciados a seguir:
a. O homem é uma tríade constituída de intelecto, emoções e razão.
b. A alma é a sede da razão e das emoções; ela interpreta as percepções
do corpo e do espírito.
c. Os pecados do corpo são carnais e não maculam o espírito.
d. A natureza humana é transformada pela cultura, pela genética e pelo
meio.
e. A alma não carece do corpo, pois é imaterial e transcendental em
diferentes aspectos.
2. Na sua carta aos cristãos romanos, Paulo aborda a luta entre o velho
homem e a nova criatura em Cristo, confessando que a sua natureza carnal,
muitas vezes, vencia a batalha. Veja o que ele diz: “Porque não faço o bem que
quero, mas o mal que não quero, esse faço” (Romanos 7:19).
Leia agora as seguintes afirmações sobre esse tema:
I. Ao se converter e ter comunhão com Deus, o homem se livra da sua
natureza carnal e não peca mais.
II. A luta interior descrita por Paulo não é entre a carne e o espírito
humano, mas entre a vida que serve à carne, isto é, a natureza
humana caída e a vida guiada pelo Espírito Santo.
III. A morte espiritual é o rompimento da comunhão natural do homem
com Deus. Quanto mais se afasta de Deus, mais corrupto o homem
se torna.
IV. O dualismo é um conceito religioso aceito pelo cristianismo que
ensina que o corpo e o espírito são independentes entre si.
V. De acordo com a teologia cristã, todo pecado nasce no coração do
homem, portanto, o homem é o único inimigo de si mesmo.
a. I e II, apenas.
b. III e IV, apenas.
c. II e III, apenas.
d. I, III e V, apenas.
170
e. II, III e IV, apenas.
3. A Bíblia registra várias experiências de conversão, algumas dramáticas,

como é o caso de Paulo e da mulher samaritana. No entanto, para a teologia,
a conversão não é um sentimento que alguém experimenta, mas uma atitude.
A respeito da conversão, podemos afirmar:
I. A conversão é mais do que arrependimento, é uma mudança de
filosofia e estilo de vida.
II. A conversão é resultado da obra do Espírito Santo e do livre-arbítrio
do homem.
III. Converter-se é mudar de direção, voltando-se para Deus.
IV. Somente as pessoas convertidas são capazes de realizar coisas boas.
V. O plano de salvação é a redenção do homem para que ele se converta
e volte a ter comunhão com Deus.
a. I, II e III, apenas.
b. I, III e IV, apenas
c. II, IV e V, apenas
d. I, II, III e V, apenas.
e. I, III, IV e V, apenas.
171
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Introdução à

Presidência Gerência Editorial

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

1. Teologia. 2. Igreja. 3. Cristianismo. I. Martins, Phoenix

A teologia como saber sistematizado da

A teologia como ciência

Não pode faltar

Quando utilizamos o jargão “religião, política e futebol não se discutem”,

O que percebemos nesta discussão não é muito diferente do que acontece

Fonte: elaborada pelo autor.

A raiz desse termo é grega e versava sobre o aparecimento dos deuses

A semântica estuda o significado das palavras. Debruça-se

Embora o termo teologia tenha, em sua origem, um significado diferente

O campo de estudo da teologia é bastante abrangente: Deus

Considerando que a teologia é um estudo sistemático sobre a divindade,

A teologia é um saber organizado, com regras próprias.

Há vários métodos que são utilizados no estudo teológico. Outras fontes

a) definir e esclarecer o problema ou a questão teológica

Considerando o vasto campo teológico, seja ele cristão ou revelado, identi-

Sem medo de errar

Vamos buscar agora a resposta ou delinear algumas reflexões para a situa-

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