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Contextos Clínicos, 3(1):51-61, janeiro-junho 2010

© 2010 by Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2010.31.06

Re-escolha profissional: relato de experiência de


orientação profissional com estudantes do Ensino Normal

Vocational reguidance: Experience report of vocational


guidance with High School students of teaching practices

Jean Von Hohendorff, Laíssa Eschiletti Prati


Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT).
Av. Oscar Martins Rangel, 4500, RS 115, 95600-000, Taquara, RS, Brasil.
jhohendorff@gmail.com, laissa.prati@gmail.com

Resumo: Programas de orientação profissional cumprem sua função quan-


do levam indivíduos a analisarem suas características e explorarem aspectos
de sua personalidade que possam influenciar no processo de escolha. Foi
realizado um programa de orientação profissional com um grupo de nove
estudantes do quarto ano do Ensino Normal de uma escola privada do Rio
Grande do Sul. Esta intervenção foi destinada a um público pouco explorado
por programas de orientação profissional e indica a importância de práticas
voltadas a este público. Por meio de discussões, objetivou-se despertar nos
alunos o interesse pelo assunto da escolha e re-escolha profissional. Foram
realizados seis encontros, abordando temas como dúvidas, escolhas, profis-
sões e família. Evidenciou-se que os alunos possuíam dúvidas quanto à in-
serção no mercado profissional e/ou quanto a cursar uma faculdade, tendo,
assim, que vivenciar um momento de re-escolha profissional. A vivência do
projeto foi vista como satisfatória pelos participantes, uma vez que os alunos
relataram ganhos significativos com a participação neste.

Palavras-chave: orientação profissional, Ensino Normal, psicologia escolar.

Abstract: Professional guidance programs reach their proposal when they


are able to lead individuals to analyze their features and explore aspects
of their personality that might influence on the choice process. A program
of professional guidance was performed with a group of nine High School
students from the fourth grade of teaching practice from a private school
in Rio Grande do Sul. This project had the focus on a rather unexplored
audience and indicates the importance of practices designed to this group.
Through some discussions, it was aimed to arouse students’ interest in pro-
fessional guidance and reguidance. There were six meetings, in order to dis-
cuss subjects such as questions, choices, occupations and family. With this
study, it was evidenced that students have some doubts about the inclusion
in professional market and also about college, which means a reevaluation
of their first professional choice. The project experience was seen as satisfac-
tory by the participants, since the students reported significant gains in this
participation.

Key words: professional guidance, high school students, school psychology.


Re-escolha profissional: relato de experiência de orientação profissional com estudantes do Ensino Normal

Introdução damentais de investigação durante o processo


de escolha profissional é o conhecimento que o
Na sociedade atual, o momento da escolha indivíduo possui sobre si mesmo. O condutor
profissional costuma coincidir com a adoles- do processo de escolha profissional pode ex-
cência, etapa da vida na qual o indivíduo se plorar temas como interesses, habilidades, va-
depara com diversas mudanças, não só corpo- lores e o modo como estes aspectos interferem
rais, mas também psicológicas e emocionais na construção do autoconhecimento. Diante
(Papalia e Olds, 2000). Com relação às mu- disso, Andrade et al. (2002) afirmam que um
danças psicológicas, Erikson (1972) afirma que programa de orientação destinado à escolha
a tarefa mais importante da adolescência é a profissional cumpre sua função quando leva
construção da identidade, ou seja, obter uma o indivíduo a analisar suas características, ex-
autodefinição, uma conceituação sobre si mes- plorando aspectos da sua personalidade. Além
mo, levando em consideração seus valores e disso, é importante aprender a lidar com es-
objetivos de vida. Santos (2005) enfatiza que é colhas e com situações conflitivas. É através
inevitável ao adolescente ter muitas dúvidas, do processo de orientação que os indivíduos
pois está atravessando uma etapa de transfor- se conhecem melhor, percebendo suas carac-
mações e definições. Sentimentos de dúvida terísticas, identificações e singularidades. Esse
são inerentes ao ser humano e evidenciam a processo os leva a refletir sobre si mesmo e ad-
capacidade maturacional de discriminação, re- quirir melhores condições de organizar seus
lacionada à etapa do desenvolvimento em que projetos de vida, entre eles, definir sua escolha
o indivíduo desenvolve o pensamento hipoté- profissional.
tico (Leventus e Nunes, 2002). Levenfus e Nunes (2002) evidenciam ser
As dúvidas normais dos adolescentes gi- comum entre os jovens que buscam orienta-
ram em torno de diversos assuntos, dentre ção profissional a falta de informações sobre
eles, a escolha profissional. Para o processo de si mesmos, sobre profissões e sobre o mundo
formação de identidade, mais especificamen- de trabalho. Tais questões costumam aparecer
te, questões referentes ao futuro profissional nos jovens que estão em meio ao processo de
do jovem estão inclusas (Bastos, 2002). As di- escolha profissional, por intermédio das se-
ficuldades que os adolescentes podem apre- guintes abordagens: busco informações (pro-
sentar sobre a escolha profissional vão desde curar informações); tenho informações (pos-
a dúvida entre a totalidade das profissões que suir informações sobre algumas profissões);
podem escolher até estarem divididos entre conheço pouco (possuir informações escassas
duas possibilidades. Alguns adolescentes cos- sobre as profissões); quero mais (ter interesse
tumam ter dúvidas sobre a competitividade e em saber mais sobre as profissões); não conhe-
a instabilidade do mundo profissional (Leh- ço (não conhecer muito sobre as profissões);
man et al., 2006). Com essas inúmeras mudan- professor (ser fonte de informações) e super-
ças, os adolescentes podem se beneficiar de al- ficial (não ter um aprofundamento nas infor-
guma ajuda estruturada que auxilie a entrada mações sobre as profissões). Conforme Ivatiuk
no “mundo adulto” com maior segurança. e Amaral (2004), é papel do orientador profis-
A orientação profissional, tendo por objetivo sional incentivar o indivíduo para o processo
atender indivíduos que se encontram no pro- de busca de informações, ampliando o conhe-
cesso de escolha de uma profissão (Melo-Silva cimento que o adolescente tem de suas possi-
et al., 2004), pode ser um campo de apoio aos bilidades profissionais.
adolescentes. Para que se alcance o objetivo de Além da importância do autoconhecimen-
auxiliar os indivíduos em sua escolha, as prá- to e da busca por informações, o papel da fa-
ticas mais comuns de orientação profissional mília durante a escolha profissional também
focam temas como autoconhecimento, informa- é essencial. Bohoslavsky (1998) afirma que a
ção sobre as profissões e o processo de escolha família é o grupo de participação e de referên-
(Andrade et al., 2002; Melo-Silva et al., 2004). cia fundamental e, por este motivo, os valores
Durante o processo de escolha, o adoles- deste grupo são significativos na orientação do
cente depara-se com expectativas quanto a si jovem. É na família que o adolescente tende a
próprio, suas preferências, suas habilidades buscar apoio, pois, na maioria das vezes, são
já desenvolvidas, seus limites e possibilida- os pais que irão pagar a faculdade ou manter
des. Todo o mundo interno do indivíduo é (emocionalmente e financeiramente) o adoles-
mobilizado neste momento (Bock et al., 2002). cente enquanto estuda. Nesse ponto, a família
Para Neiva et al. (2005), um dos aspectos fun- pode atuar tanto como um grupo positivo (de

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referência) quanto como um grupo negativo dificuldades enfrentadas, foi citada a pressão
(cerceador). Santos (2005), investigando as per- por parte dos familiares, indicando uma possí-
cepções dos adolescentes quanto à influência vel influência negativa da família. Esse grupo
da família e de terceiros na escolha profissio- também evidenciou a relevância do autoco-
nal, concluiu que o discurso dos pais pode tan- nhecimento no momento de escolha. Tais re-
to gerar dúvidas no adolescente quanto trazer sultados reforçam a necessidade de trabalhar
segurança ou significar alguma obrigação. O esses aspectos em um programa de orientação
estudo de Barreto e Aiello-Vaisberg (2007) in- profissional no Ensino Normal que conduza o
dicou que o desejo parental pode ser expresso adolescente a refletir sobre aspectos pessoais
na tendência que o jovem tem em adotar pro- (autoconhecimento) e sobre as possibilidades
fissões tradicionais, suprindo uma necessidade de desenvolvimento profissional.
ou expectativa dos pais. Santos (2005) afirma, Diante disso, a orientação profissional, ao
também, que a falta de opinião por parte dos ajudar o jovem a refletir sobre a sua escolha
pais gera insegurança no adolescente e que o profissional (Bastos, 2002), vem sendo consi-
apoio pode gerar segurança ou dependência. derada como um fator preventivo ao estresse
Dessa forma, pode-se supor que o apoio fami- e promotor de saúde (Sparta, 2007). Diferentes
liar, quando inexistente, gera uma sensação de teorias (Ivatiuk e Amaral, 2004) e diversos mo-
solidão ou individualidade ao jovem. Da mes- delos de orientação (Abade, 2005; Lehman et
ma forma, quando o suporte é demasiado, o al., 2006; Silva e Birk, 2002; Tupinambá, 1988)
adolescente pode se acomodar às expectativas são estudados e desenvolvidos, indicando a
apresentadas pelos pais, delegando aos demais constante revisão deste campo. No Brasil, a
algumas de suas responsabilidades, adiando o orientação profissional desenvolveu-se prin-
processo de individuação necessário para o de- cipalmente destinada a estudantes do Ensino
senvolvimento emocional saudável. A família Médio (Melo-Silva et al., 2004), que estão rea-
é um entre os vários facilitadores ou dificulta- lizando, normalmente, a primeira escolha. Os
dores do processo de escolha e deve ser sempre programas de orientação profissional geral-
considerada ao se trabalhar com aspectos do mente são realizados em grupos, proporcio-
projeto de vida do adolescente. nando uma melhor exposição das dúvidas,
A diversidade de fatores que estão impli- anseios, necessidades e incertezas (Silva e
cados em uma escolha profissional é notável. Birk, 2002). Esta estrutura tem como resultado
Existem fatores que influenciam tanto em um o compartilhamento de questões com indiví-
primeiro momento de escolha, como em defi- duos que estão vivendo o mesmo momento de
nições realizadas em dois momentos (escolher dúvidas e tomada de decisões (Soares e Kra-
um curso técnico e depois um curso superior, wulski, 2002). Além disso, no grupo ocorrem
por exemplo). Este artigo pretende focar exa- identificações entre os jovens, trocas de ideias
tamente essa situação de re-escolha. Os indiví- e o consequente enriquecimento pessoal, rela-
duos que optam por realizar o Ensino Normal tos de experiências pessoais e feedbacks entre
no Ensino Médio precisam fazer uma primeira os componentes do grupo (Soares, 1987).
escolha quando estão completando o Ensino No Brasil, a produção de conhecimento
Fundamental e outra no final do Ensino Mé- científico, no que se refere à re-escolha profis-
dio. Assim, podem re-escolher seguir na pro- sional, é ainda incipiente (Sparta, 2007). Salien-
fissão (entrando no mercado de trabalho) e/ou ta-se, no entanto, a importância da disponibi-
partir para um curso de nível superior que os lização de novas técnicas e formas de atuação
afaste da primeira escolha realizada ou não. em orientação profissional. Esta é a proposta
A re-escolha profissional é ainda pouco es- deste artigo, que traz o relato de experiência e
tudada no Brasil. Entre os poucos estudos que com ele busca possibilitar reflexão e divulga-
investigam essa temática ressalta-se a disser- ção de um trabalho de re-escolha profissional
tação de Portella (2002), na qual a re-escolha é desenvolvido com alunos de Ensino Médio
caracterizada como um fenômeno processual que já haviam optado pelo Ensino Normal.
e particular, diferenciando-se da primeira es-
colha profissional. Moura e Menezes (2004) Descrição da intervenção
desenvolveram um levantamento preliminar
com um grupo de pessoas em condição de re- Este relato de experiência refere-se à exe-
escolha profissional, constatando que uma das cução de um projeto de orientação profissio-
necessidades desses indivíduos era ter maiores nal com alunos do Ensino Normal, realizada
informações sobre cursos disponíveis. Entre as como intervenção vinculada ao Estágio Bási-

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Re-escolha profissional: relato de experiência de orientação profissional com estudantes do Ensino Normal

co II, do curso de Psicologia das Faculdades tendo em vista a relevância de projetos de


Integradas de Taquara (Faccat). O objetivo foi orientação profissional com alunos, que, teo-
despertar novamente nos alunos o interesse ricamente, já escolheram uma profissão, mas
pelo tema da escolha profissional, por meio que poderiam ter dúvidas quanto ao seu futu-
de discussões orientadas acerca de assuntos ro profissional. O momento no qual a turma
relacionados: dúvidas, escolhas, profissões e se encontrava (quarto ano) caracterizava um
família. Especificamente, os objetivos foram: novo momento de decisão: trabalhar como
(a) identificar a necessidade e disponibilidade professores e/ou seguir estudando. Dessa
de se realizar orientação profissional com este forma, os estudantes necessitavam realizar
público; (b) promover discussões acerca de as- uma nova escolha. Esta se referia a perma-
suntos relacionados à escolha profissional; (c) necer trabalhando como professor (podendo
ampliar o conhecimento dos alunos sobre as ou não cursar o nível superior para aprimo-
profissões; e (d) estimular o processo de res- ramento da profissão escolhida) ou realizar
ponsabilização pelas questões de escolha pro- uma escolha por uma graduação diferente da
fissional. Proporcionar reflexões e vivências formação no Ensino Normal.
de situações que envolvem o tema escolhas, O projeto inicial contava com cinco encon-
contribuindo para o desenvolvimento do au- tros com intervalos quinzenais entre cada um.
toconhecimento e da percepção de si mesmo O número de encontros parecia condizente
como principal fator neste processo, também com os assuntos propostos e estava adequa-
constituíram as finalidades deste projeto. do ao tempo disponível para a sua execução.
O projeto foi planejado a partir das carac- A Tabela 1 apresenta o projeto proposto para
terísticas da turma (número de alunos, idade intervenção.
média dos participantes, atividades já de-
senvolvidas), da disponibilidade de horários Implementação do projeto
para os encontros e da análise do momento
de escolha profissional do grupo. O público A escola na qual esse processo foi desen-
dessa intervenção foi uma turma do quarto volvido, localizada no município de Taquara,
ano do Ensino Normal (antigo Magistério), interior do Rio Grande do Sul, é uma institui-

Tabela 1. Proposta de intervenção.


Table 1. Action proposal.

Atividades Temas abordados Objetivos


Apresentação geral do
Mensurar o nível de maturidade
programa e dos alunos,
dos alunos no início do projeto.
1º encontro aplicação da Escala de
Trabalhar dúvidas sobre a
Maturidade para Escolha
orientação profissional.
Profissional (EMEP)
E Discutir temas relevantes de forma
N a permitir ao jovem um campo de
2º encontro Escolha e Profissões
C desenvolvimento pessoal, assumindo
O a responsabilidade por suas decisões.
N Abordar o papel da família no
T 3º encontro Família
processo de escolha profissional.
R
Averiguar o nível de maturidade
O
dos alunos no final dos encontros.
S Escolha Profissional e
4º encontro Elaborar um painel ilustrativo
Reaplicação da EMEP
sobre o processo de escolha
profissional.
Devolução sobre o EMEP e
5º encontro Encerramento do processo.
avaliação do processo
Opções que os alunos fizeram Ter conhecimento das escolhas que
Contato pós-projeto
após a realização do projeto os alunos fizeram após o projeto.

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Jean Von Hohendorff, Laíssa Eschiletti Prati

ção privada de ensino tradicional. A direção processo contínuo de questionamento e refle-


da escola é composta por religiosas e atende xão sobre as suas expectativas de vida.
desde a pré-escola até o Ensino Médio, in- Foi realizada a apresentação dos compo-
cluindo o Ensino Normal. Após contato com nentes do grupo. Sentados em círculo, cada
a psicóloga da instituição e a verificação da jovem apresentou o colega que estava ao seu
necessidade e da disponibilidade em execu- lado, dizendo seu nome, seguido de caracterís-
tar o projeto, o mesmo foi desenvolvido en- ticas que julgava pertinente para o desenvol-
tre setembro e novembro de 2007. O projeto vimento do grupo de orientação profissional.
de orientação profissional foi executado com Tal atividade foi proposta com o objetivo de
um grupo de jovens da turma de quarto ano levar os jovens à reflexão sobre suas caracte-
do Ensino Normal, composto por nove jovens rísticas pessoais, possibilitando contato com as
(um rapaz e oito moças) com idades entre 17 impressões que cada um gera em seus colegas.
e 18 anos. A turma foi indicada pela psicóloga Neste ponto, foi notável o quanto tal ativida-
da escola, tendo em vista o momento em que de foi enriquecedora, pois os alunos puderam
se encontravam, ou seja, concluintes do Ensi- reconhecer o modo como seus colegas os per-
no Normal. Os encontros foram programados cebiam. Frases como “eu sou assim mesmo?”,
para acontecerem durante os períodos de aula “nunca tinha pensado nisso!”, “isso mesmo,
e, para isso, foi debatido com os professores você é bem assim!” ilustram que a atividade
quais seriam os períodos e disciplinas mais mobilizou os adolescentes, fazendo com que
apropriados para a intervenção. refletissem sobre si, seus interesses, habilida-
À medida que os encontros aconteciam, al- des e valores. O fato de terem suas caracterís-
guns ajustes foram feitos conforme a necessida- ticas apresentadas a partir do ponto de vista
de da escola. Um encontro a mais foi realizado, dos colegas permitiu o acesso à imagem que
pois a instituição solicitou que, em determi- o aluno transmitia de si. Essa possibilidade de
nado dia, um dos encontros fosse antecipado, ver-se pelo outro ampliou o autoconhecimento
pois havia disponibilidade de horário. Como dos adolescentes e permitiu que repensassem
este encontro demandava mais tempo, e o tem- as questões referentes à escolha e re-escolha
profissional.
po disponível para sua realização era menor, o
A Escala de Maturidade para a Escolha
encontro foi dividido em dois, totalizando, as-
Profissional (EMEP; Neiva, 1999) foi aplica-
sim, seis encontros. Além disso, a periodicida-
da1. A EMEP foi aplicada objetivando-se re-
de também foi alterada conforme necessidade e
alizar um comparativo entre os escores pré-
disponibilidade da escola.
intervenção e pós-intervenção, com vistas a
obter dados sobre o progresso (ou não) da
Desenvolvimento do projeto maturidade para escolha profissional. Após,
e resultados partiu-se para o trabalho sobre as dúvidas
dos adolescentes a respeito da orientação
Primeiro encontro profissional utilizando a técnica dos balões2.
As dúvidas mais frequentes foram: “Como
No primeiro encontro com o grupo, o proje- entrar no mercado de trabalho?”; “Consegui-
to foi apresentado e foi aberto espaço para que rei desempenhar o que eu escolher com su-
os alunos opinassem a respeito. Todos se inte- cesso?”; “Qual será minha futura profissão?”;
ressaram pelo projeto e se mostraram dispo- “Qual a profissão se encaixa no meu perfil e
níveis em fazer parte do mesmo, uma vez que na minha personalidade?”; “Quais as funções
relataram dúvidas acerca do seu futuro profis- do profissional desta área?”; “Neste momen-
sional. Alguns pensavam em seguir a profissão to, é mais importante pensar no que se gosta
escolhida anteriormente (magistério), mas es- ou no que vai trazer estabilidade financeira?”.
tavam em dúvida se fariam ou não um curso Questões referentes à re-escolha profissional
superior; outros sabiam que cursariam o nível não foram evidenciadas. Assim, os questiona-
superior, mas ainda não estavam seguros sobre mentos refletem uma dinâmica semelhante à
qual curso optar. Essas indagações evidenciam primeira escolha profissional. Por exemplo, o
o momento de re-escolha dos adolescentes, um questionamento “Conseguirei desempenhar

1
Os resultados da EMEP são apresentados ao final do relato do quinto encontro com os adolescentes.
2
Técnica na qual cada indivíduo participante escreve sua(s) dúvida(s) em um papel e este é colocado dentro de um balão.
Após um tempo de mistura dos balões, este é estourado e as dúvidas são lidas e discutidas no grupo.

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Re-escolha profissional: relato de experiência de orientação profissional com estudantes do Ensino Normal

o que eu escolher com sucesso?”, não consi- esse número poderia sofrer alterações. Ainda
dera o fato de que na verdade os alunos já re- foi comentado a respeito do sigilo, do respei-
alizaram uma escolha: o magistério. to aos horários de início e fim dos encontros,
O fato de já terem feito uma escolha pode bem como o respeito aos participantes. Foi sa-
influenciar nas dúvidas que foram apresenta- lientada a importância de falar tudo que sen-
das. De certa forma, esses adolescentes já têm tissem e pensassem sem temer julgamentos,
uma garantia quanto ao futuro profissional: uma vez que todos eram alunos que possuí-
eles são futuros professores e podem entrar am dúvidas acerca do seu futuro profissional.
no mercado de trabalho assim que termina- Foi salientado que todo o grupo estava em
rem o curso. Por outro lado, a opção pelo En- um momento de construção, no qual cada um
sino Normal é realizada durante a conclusão buscaria saber mais acerca de si mesmo e de
do Ensino Fundamental, momento no qual a seu contexto.
escolha pode não ter sida trabalhada adequa- Devido à antecipação da data desse en-
damente. Como esses jovens não referem o contro, a maioria dos alunos não havia trazi-
magistério como primeira escolha profissio- do consigo o material solicitado no encontro
nal, pode-se pensar que o jovem não a per- anterior. Um aluno levou textos retirados da
ceba como uma escolha propriamente dita. internet, e outras duas alunas procuraram o
O fato de serem somente duas possibilidades significado da palavra escolha no dicionário.
(normal ou científico) e de uma possível forte Cabe ressaltar que poderia ter sido utiliza-
influência da família e do grupo de amigos da a palavra re-escolha, uma vez o grupo de
no primeiro momento, pode descaracterizar adolescentes estava passando por um novo
a escolha como uma decisão pessoal do ado- momento de escolha. Após a leitura da defi-
lescente. Contudo, quando estão concluindo nição da palavra escolha, os alunos iniciaram
o Ensino Médio e há muitas possibilidades, um debate acerca do assunto, evidenciando
surge mais claramente a indicação de um um bom envolvimento da turma na segunda
processo de escolha e este é percebido como o etapa do encontro. Divididos em trios, discu-
primeiro a ser vivenciado. tiram sobre uma boa e uma má escolha que
Nota-se que as dúvidas dos adolescentes haviam realizado, levando em consideração
foram relacionadas a vários aspectos da es- o uso ou não de critérios e quais foram uti-
colha profissional, englobando o mercado de lizados para realizar essa escolha. Os alunos
trabalho, a satisfação pessoal, as caracterís- chegaram à conclusão de que é imprescindí-
ticas da profissão e a questão financeira. Tal vel pensar a respeito de suas escolhas e bus-
fato corrobora com as informações trazidas car informações. O fator mais citado por eles
pela literatura (Andrade et al., 2002; Melo- para uma escolha mal sucedida foi o agir sem
Silva et al., 2004), as quais mostram a impor- pensar. A boa escolha relatada pelos trios foi
tância de englobar no trabalho de orientação unânime: a escolha pelo magistério. Esta en-
profissional os diferentes aspectos da escolha volveu, segundo os alunos, a opinião dos pais
profissional, não se detendo em somente um e o pensamento no futuro. Como resultados
deles. Ao final do encontro, foi solicitado aos dessa escolha, foram relatadas a experiência
alunos que pesquisassem o significado da pa- de vida obtida durante o curso, o coleguismo
lavra escolha, introduzindo o assunto a ser e a possibilidade de conhecer novas pessoas.
debatido no próximo encontro. A percepção da escolha pelo magistério como
uma boa escolha pode ter influenciado o não
Segundo encontro questionamento sobre o processo de re-esco-
lha profissional que estavam vivenciando.
O encontro teve o objetivo de debater o No tocante à má escolha, os alunos relataram
assunto escolha. Por demanda da escola, este ir a festas que não foram legais e dizer coisas sem
encontro foi antecipado. pensar. “Não pensar nas consequências”, “dei-
Durante o encontro, alguns aspectos do xar se influenciar pelos outros” e“ir pela opinião
enquadre foram esclarecidos, objetivando o dos outros” são fatores que influenciam uma má
melhor andamento da execução do projeto. escolha, na opinião dos alunos. Esta atividade
Foi salientado que o grupo seria composto permitiu que os participantes refletissem sobre o
somente pela turma do quarto ano do Ensino que é necessário para se realizar uma escolha (ou
Normal, não havendo possibilidade de inte- até mesmo re-escolha) adequada. Ao final do en-
grantes de outras turmas. Também foi falado contro, foi solicitado que buscassem informações
sobre o número de encontros previstos e que sobre diversas profissões.

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Jean Von Hohendorff, Laíssa Eschiletti Prati

Terceiro encontro profissões de seus familiares e a possível in-


fluência destas em sua escolha. Sete jovens
O encontro foi dedicado ao assunto profis- mencioram que algum familiar havia feito o
sões. A técnica Gincana das Profissões3, relata- Ensino Normal e que estes exerciam ou exer-
da por Soares (2002), foi utilizada com o objeti- ceram a profissão de professor. Os familiares
vo de despertar nos adolescentes o interesse de mais citados foram mãe, irmãs e tias. Isso
obter informações acerca das profissões. Foram evidencia a possível influência que o grupo
utilizados 60 cartões com profissões diferentes, familiar pode exercer sobre o adolescente em
desde as mais tradicionais (tais como Medicina meio a um processo de escolha.
e Direito) até as menos comuns (Museologia e A música Família (Titãs) foi utilizada como
Geofísica, por exemplo). Os cartões continham estímulo para um debate sobre os espaços nos
informações sobre o mercado de trabalho e as quais as famílias influenciam o desenvolvimen-
características principais de cada profissão. to dos jovens. À medida que a discussão sobre
Durante a realização da atividade, ficou os trechos da música era conduzida, os alunos
evidente que os alunos não possuíam muitas relatavam momentos em que o tema escolha
informações sobre as profissões ou que as in- profissional surgiu em suas famílias, frequen-
formações eram superficiais, uma vez que, ao temente em conversas com os pais. Uma das
se depararem com as características das profis- alunas relatou uma cena familiar na qual ela e
sões acabavam mencionando frases como “não seu pai discutiam a respeito da sua escolha por
tenho ideia”, “não sabemos”, “nunca ouvi falar uma determinada profissão, ao passo que sua
nisso”. Porém, os mesmos mostraram interes- mãe assistia a situação tentando amenizar o que
se e até solicitaram o empréstimo dos cartões ocorria. A aluna relatou que a sua decisão por
com as profissões para poderem estudar com determinado curso superior não estava de acor-
mais calma. Isso evidencia as seguintes formas do com aquilo que o seu pai queria. Tal situação
de abordagem acerca do assunto profissões, foi dramatizada por ela e por algumas colegas.
segundo Levenfus e Nunes (2002): não conheço, Após a dramatização, todos os alunos se envol-
conheço pouco, além de busca e quer mais. Com veram na atividade, sugerindo possíveis reso-
essa atividade, foi possível verificar o interesse luções para o conflito. Outra cena, dessa vez
de alguns em cursar uma faculdade, tendo no fictícia, abordando uma situação de discussão
magistério uma possibilidade de custear seus sobre a escolha profissional de uma filha com
estudos. Assim, a re-escolha por uma forma- seus pais, foi dramatizada. Após a dramatiza-
ção superior não significa necessariamente o ção, buscou-se conduzir uma discussão sobre
abandono da profissão anterior. Inclusive, al- possíveis soluções para os conflitos familiares
guns cursos superiores podem ser considera- que, eventualmente, podem surgir na família
dos pelo adolescente como uma continuação quando se trata de escolha profissional. Por
do Ensino Normal, confirmando a boa escolha meio dessa intervenção, objetivou-se que os
realizada ao optarem por seguir o magistério. adolescentes visualizassem esses momentos de
Ao final do encontro, foi solicitado que os discussões na família, elaborando soluções para
alunos elaborassem, como tarefa de casa, a possíveis conflitos relacionados ao processo de
árvore genealógica da família. Tal árvore de- escolha e re-escolha profissional. Como resulta-
veria ter como ênfase as profissões de cada do, os alunos mencionaram o diálogo como o
membro familiar. principal fator de entendimento. Foi solicitado
aos alunos que reunissem material visual para
Quarto encontro a confecção de um painel sobre a escolha profis-
sional no encontro seguinte.
Nesse encontro, o assunto família foi deba-
tido. Devido à mudança na data do encontro, Quinto encontro
os alunos não haviam confeccionado o mate-
rial combinado no encontro anterior. Desse Nesse encontro, procedeu-se a reaplicação
modo, a árvore genealógica profissional de da EMEP (Neiva, 1999). Além disso, devido à
cada aluno foi confeccionada durante o en- alteração na data do encontro, novamente os
contro e, após, os alunos discutiram sobre as alunos não haviam reunido o material para a

3
A técnica consiste em um jogo no qual são formadas equipes que competem entre si, utilizando cartões com informações
de diversas profissões. Para a realização da técnica, a turma foi dividida em dois grupos.

Contextos Clínicos, vol. 3, n. 1, janeiro-junho 2010 57


Re-escolha profissional: relato de experiência de orientação profissional com estudantes do Ensino Normal

confecção do painel ilustrativo das questões os alunos concordaram que, por intermédio
debatidas durante a execução do projeto. A es- do projeto de orientação profissional, obtive-
cola disponibilizou revistas e demais materiais ram esclarecimento de dúvidas, maior acesso
para que a atividade pudesse ser realizada. Os a informações (principalmente sobre as profis-
alunos utilizaram imagens que remetiam a te- sões), troca de ideias e opiniões, além de haver
mas como família, escolhas, dinheiro, diferen- um aumento na responsabilidade e na preo-
tes profissões, dúvidas e vestibular para com- cupação de cada um em relação a sua escolha
por o painel. Nota-se, assim, a diversidade de profissional. Os alunos também concordaram
variáveis envolvidas em um processo de esco- em dizer que, apesar de algumas dúvidas se-
lha profissional. No caso específico de alunos rem sanadas, outras foram despertadas devi-
do Ensino Normal, é interessante frisar que os do ao maior acesso às informações e à reflexão
itens enfatizavam tanto as influências na sua sobre o assunto. Entretanto, isso foi aponta-
escolha pelo magistério (a influência da famí- do como positivo pelos alunos. Com relação
lia nessa decisão) quanto os aspectos normais a aspectos negativos, os alunos apontaram a
do processo de escolha profissional e revisão troca de datas e horários dos encontros sem
desta escolha (profissões, dúvidas, escolhas e, aviso prévio. Os estudantes relataram que tais
principalmente, vestibular). acontecimentos acabaram atrapalhando o de-
O objetivo dessa atividade foi fazer um fe- sempenho de algumas tarefas propostas. Na
chamento do programa, englobando todas as segunda parte do encontro, os resultados da
questões trabalhadas. Além disso, buscou-se EMEP foram apresentados de forma individu-
fazer com que os alunos produzissem algo que al, salientando os progressos de cada um, além
servisse como um resultado, um produto do da sugestão de atividades para que os alunos
trabalho realizado durante os encontros. O pai- progredissem no seu processo re-escolha pro-
nel com figuras ficou exposto na sala de aula. fissional. Conforme a Tabela 2, verifica-se que
três participantes do grupo obtiveram um au-
Sexto encontro mento para Maturidade Total. Dois integran-
tes obtiveram diminuição do escore e quatro
O encontro foi destinado à avaliação do mantiveram a mesma classificação obtida na
projeto de orientação profissional. Ademais, primeira aplicação.
foi realizada a devolução dos resultados da Cabe levar em consideração as caracte-
EMEP para os alunos. rísticas pessoais de cada aluno que puderam
Sentados em círculo, foi solicitado aos alu- colaborar para seu progresso ou não nos re-
nos que apontassem aspectos positivos e ne- sultados da EMEP. Assim, os estudantes que
gativos sobre o trabalho desenvolvido. Todos têm maior interesse no assunto e pensam em

Tabela 2. Classificação individual da EMEP quanto a Maturidade Total.


Table 2. Individual classification of EMEP on Total Maturity.

Pré-orientação profissional Pós-orientação profissional


classificação e percentil classificação e percentil
Estudante A Inferior (10) Médio Inferior (20)
Estudante B Médio Inferior (20) Médio Inferior (25)
Estudante C Inferior (5) Médio Inferior (25)
Estudante D Inferior (10) Inferior (10)
Estudante E Médio Inferior (20) Inferior (10)
Estudante F Inferior (5) Inferior (10)
Estudante G Médio Inferior (25) Inferior (10)
Estudante H Inferior (10) Inferior (10)
Estudante I Inferior (10) Médio Inferior (20)

Contextos Clínicos, vol. 3, n. 1, janeiro-junho 2010 58


Jean Von Hohendorff, Laíssa Eschiletti Prati

escolher um curso superior se engajam mais Contato pós-intervenção


em tarefas e reflexões acerca de sua escolha.
Sendo assim, o fato de estarem satisfeitos com Decorridos seis meses após o final da exe-
o magistério e vendo-o como uma forma de cução do projeto, buscou-se saber quais foram
sustento financeiro imediato pode ter influen- os caminhos escolhidos pelos alunos que par-
ciado nos escores da EMEP. Deve-se, ainda, ticiparam do mesmo. Para isso, os alunos fo-
salientar que a condição de já terem escolhido ram contatados via e-mail e preencheram um
uma profissão pode diminuir a angústia que questionário contendo perguntas sobre a re-
o momento de primeira escolha desperta nos alização ou não de vestibular. De um total de
adolescentes. Outro aspecto importante foi a nove alunos, sete fizeram vestibular e estão
duração breve da intervenção. Acredita-se que cursando faculdade, sendo que quatro o fize-
o processo de maturidade para escolha pro- ram logo após o término do projeto, ou seja, no
fissional é algo construído ao longo do tempo processo seletivo de verão, enquanto três pres-
por meio de práticas constantes. Assim, o pro- taram vestibular no processo seletivo de inver-
jeto de orientação profissional executado pode no. Os cursos escolhidos pelos jovens foram:
ser considerado o primeiro passo de um pro- Pedagogia, Medicina Veterinária, Administra-
cesso que, mesmo com o término dos encon- ção, Fisioterapia, Educação Física e Psicolo-
tros, continuará acontecendo devido ao inte- gia. Dentre as escolhas por cursos superiores,
resse e à reflexão despertada nos adolescentes destacam-se Pedagogia e Educação Física, pois
participantes. Esta reflexão constitui-se como são profissões diretamente relacionadas ao en-
objetivo principal desta intervenção. sino. A escolha por tais cursos pode evidenciar
Durante a devolução individual dos resul- uma reafirmação da primeira escolha feita pelo
tados da escala EMEP, foi dado um destaque jovem: o magistério. Dois alunos não haviam
para o incentivo à busca constante por infor- prestado vestibular, mas pretendiam fazê-lo no
mações, a dificuldade de realizar escolhas e o ano seguinte. Estes alunos relataram algumas
constante processo de amadurecimento obtido dúvidas quanto à escolha do curso superior,
a partir da reflexão sobre o assunto de esco- evidenciada pela indecisão entre dois ou mais
lha profissional. Consideram-se tais sugestões cursos. Vale ressaltar que, entre os cursos co-
relevantes, uma vez que a busca por informa- gitados, estava o curso de História. Mais uma
ções é fundamental para o esclarecimento de vez pode-se notar a possível reafirmação da
dúvidas. O fato de explicitar a dificuldade em primeira escolha feita pelos adolescentes.
realizar escolhas mostra ao adolescente que a
ansiedade que ele pode estar sentido é algo Considerações finais
normal neste momento e o amadurecimento é
construído ao longo do tempo e não de uma O trabalho de orientação profissional rea-
forma repentina. lizado proporcionou aos alunos uma reflexão
Os alunos concordaram com os resulta- sobre os diferentes aspectos relacionados à re-
dos, dizendo que se sentiam mais interessa- escolha profissional. Assim, os objetivos iniciais
dos pela escolha profissional, pois, através do projeto foram alcançados. Conforme An-
dos debates realizados, houve maior acesso drade et al. (2002), um programa de orientação
à informação. Um dos alunos resumiu o que destinado à escolha profissional cumpre sua
todos os colegas falaram durante a discussão função quando leva o indivíduo a analisar suas
dos resultados. Ele relatou que, por intermé- características, explorando diversos aspectos
dio do programa de orientação profissional, de sua personalidade. Além disso, foi notável o
houve um amadurecimento com relação a sua interesse despertado nos alunos, que passaram
escolha profissional, porém, ao mesmo tem- a pensar mais em suas futuras opções profissio-
po, algumas dúvidas surgiram enquanto ou- nais e no processo de escolha destas.
tras foram sanadas. Segundo ele, essas novas As dúvidas que os alunos verbalizaram
dúvidas evidenciam um amadurecimento no durante o primeiro encontro foram abordadas
processo de escolha profissional, pois, quanto durante as atividades programadas. Dúvidas
mais informações se têm, mais dúvidas sur- quanto às funções de profissionais de deter-
gem. Para este aluno, assim como para os ou- minada área e como ingressar no mercado
tros, ficou evidente o progresso do grupo e de trabalho puderam ser debatidas durante
o quanto é necessário continuar pensando e o segundo encontro, por exemplo. Salienta-se
empreendendo atividades para que esse pro- que o objetivo não era trazer respostas pron-
gresso seja maior ainda. tas para estas dúvidas, mas, sim, instigar a

Contextos Clínicos, vol. 3, n. 1, janeiro-junho 2010 59


Re-escolha profissional: relato de experiência de orientação profissional com estudantes do Ensino Normal

reflexão. Assim, dúvidas quanto ao mercado Por fim, salienta-se que a execução deste
de trabalho, as funções de profissionais de de- projeto foi importante, pois permitiu o conta-
terminadas áreas, estabilidade financeira e as- to com a realidade profissional do psicólogo,
pectos pessoais para a re-escolha profissional além da integração entre a teoria e a prática.
puderam ser debatidas durante os encontros, Sugere-se a execução de mais trabalhos com
proporcionando aos alunos oportunidades de tal demanda (alunos do Ensino Normal) que,
partilha de opiniões e maior reflexão sobre embora já tenham realizado uma escolha, ne-
estes aspectos da escolha por uma profissão. cessitam de um auxílio, pois podem estar em
Além disso, o psicólogo precisa considerar o meio a uma nova escolha: permanecer com
espaço/perspectiva dos diferentes profissio- sua opção pelo magistério ou buscar novos
nais que também trabalham na escola. caminhos profissionais. Sugere-se ainda que
É evidente que, durante a realização do tais pesquisas sejam compartilhadas com a
programa de orientação profissional em uma comunidade científica devido à falta de ma-
escola, algumas alterações são necessárias, terial publicado sobre intervenções com esse
tendo em vista as necessidades desta institui- público específico. Partindo da construção de
ção. Julga-se que isso faz parte do cotidiano um conhecimento sobre peculiaridades deste
de diversas profissões, não sendo diferente na público, no que diz respeito a programas de
Psicologia. É importante se adaptar a essa rea- orientação profissional, pode-se buscar o apri-
lidade e ter flexibilidade para continuar reali- moramento das intervenções. Para tal, o com-
zando o trabalho. Acredita-se, também, que o partilhamento de estudos é importante.
psicólogo que atua em escola está trabalhando
em um ambiente em que há outros profissio- Referências
nais e divide espaço com estes, sejam eles pro-
fessores, pedagogos ou outros colaboradores ABADE, F.L. 2005. Orientação profissional no Brasil:
da escola, precisando levar em consideração o uma revisão histórica da produção científica. Re-
espaço de cada um. Por outro lado, as mudan- vista Brasileira de Orientação Profissional, 6:15-24.
ANDRADE, J.M.; MEIRA, G.R.J.M.; VASCONCE-
ças de datas e horários ocorridas colaboraram LOS, Z.B. 2002. O processo de orientação profis-
para que os alunos, muitas vezes, não desem- sional frente ao século XXI: perspectivas e desa-
penhassem as atividades propostas para a re- fios. Psicologia Ciência e Profissão, 22:46-53.
alização no intervalo entre os encontros. Essas BARRETO, M.A.; AIELLO-VAISBERG, T. 2007.
atividades objetivaram manter os participan- Escolha profissional e dramática do viver
tes em constante contato com o tema durante adolescente. Psicologia e Sociedade, 19:107-114.
os intervalos do encontro e provocar um maior http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822007000100015
BASTOS, A.L.G. 2002. O adolescente com deficiên-
envolvimento do orientando no processo de cia e seu processo de escolha profissional. Ado-
orientação (Soares e Krawulski, 2002). Apesar lescencia Latinoamericana, 3(1). Disponível em:
da não realização destas atividades, referi-las http://ral-adolec.bvs.br/scielo.php?script=sci_
já foi válido, pois mantiveram os alunos em arttext&pid=S1414-71302002000100005&lng=pt
contato com o tema central do projeto. Isso &nrm=isso, acessado em: 12/09/2007.
pode ser percebido pela preocupação dos alu- BOCK, A.M.B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M.L.T.
nos em realizá-las, evidenciado ao longo dos 2002. Psicologias: uma introdução ao estudo de psi-
cologia. 13ª ed., São Paulo, Saraiva, 318 p.
encontros e no fechamento do projeto. BOHOSLAVSKY, R. 1998. Orientação vocacional: a
Durante a realização do programa de orien- estratégia clínica. 11ª ed., São Paulo, Martins Fon-
tação profissional, foi evidente o quanto os tes, 222 p.
alunos possuíam poucas informações sobre o ERIKSON, E.H. 1972. Identidade, juventude e crise.
assunto, principalmente acerca das profissões. Rio de Janeiro, Zahar, 324 p.
Além disso, a escolha atual pode deixá-los me- IVATIUK, A.L.; AMARAL, V.L.A.R. 2004. Algumas
nos apreensivos, uma vez que tem certa garan- propostas da análise do comportamento para
a orientação profissional. Revista Brasileira de
tia quanto à inserção no mercado de trabalho, Orientação Profissional, 5:21-29.
embora pudessem cursar uma faculdade e ini- LEHMAN, Y.P.; UVALDO, M.C.C.; SILVA, F.F. 2006. O
ciarem uma nova carreira. A avaliação que os jovem e o mundo do trabalho: consultas terapêu-
alunos fizeram do projeto foi positiva, refor- ticas e orientação profissional. Imaginário, 12:81-96.
çando que o objetivo principal foi alcançado, LEVENFUS, R.S.; NUNES, M.L.T. 2002. Principais te-
por tê-los levado a refletir sobre o assunto. O mas abordados por jovens centrados na escolha
esclarecimento de dúvidas, o acesso a infor- profissional. In: R.S. LEVENFUS; D.H.P. SOA-
RES (orgs.), Orientação vocacional ocupacional: no-
mações e a troca de ideias e de opiniões foram vos achados teóricos, técnicos e instrumentais para a
citados como aspectos positivos do programa. escola e a empresa. Porto Alegre, Artmed, p. 61-78.

Contextos Clínicos, vol. 3, n. 1, janeiro-junho 2010 60


Jean Von Hohendorff, Laíssa Eschiletti Prati

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