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Projeto Dançar eé Resistir

Dançar Resistir
integração, permanência e conclusão da Graduação em Dança na Unicamp para estudantes pretos e pardos
Camilla Sant Ana de Lima  INSTITUTO DE ARTES - UNICAMP e Ana Maria Rodriguez Costas   INSTITUTO DE ARTES – UNICAMP
Financiamento: PIBIC/Pesquisa-SAE.Palavras-Chave:  juventude negra, políticas de ações afirmativas, graduação em dança, Unicamp, permanência, estudos raciais.
INTRODUÇÃO formação na UNICAMP.A perspectiva de Gomes (2016) se destacasobre este tema,
Este projeto é um estudo sobre a permanência e a conclusão do curso de graduação em trazendo à tona a importância da instituição de ensino como agente na identidade
Dança da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) por estudantes pretos/as e negra; para a autora, a identidade negra segue sendo construída e moldada durante a
pardos/as no período entre 2015 e 2021. O objetivo é compreender quais são os fatores vida pelas relações sociais, e se dá a partir da desconstrução do ideal racista e a
que contribuem e quais são as adversidades que inibem o desenvolvimento e a construção de novas perspectivas sobre si. Muitos dos relatos dos entrevistados da
finalização do curso por parte desses estudantes. Para tanto, estão sendo realizadas pesquisa de Gomes (2016) se assemelham aos relatos que coletei. Assim, aqui também
entrevistas com graduandos e com aqueles/as que concluíram ou não a graduação. há dificuldade de nomear sentimentos e violências vividas dentro da universidade, o que
O projeto faz-se necessário para o reconhecimento da condição atual dos estudantes me leva a refletir que esse despertar e a dificuldade de nomear as violências estão
negros/as do curso de graduação em Dança da Unicamp. As informações vêm sendo relacionados.
coletadas através de entrevistas e os dados obtidos serão analisadas de modo a Durante o curso, diante da proposta de realizacão de pesquisas sobre a diversidade da
possibilitar um panorama desses graduandos, evidenciando quais são os possíveis fatores dança, alguns corpos são apontados como “outros” em aula, mas esse "outros" se
excludentes para essa população. Assim, o intuito do estudo é pesquisar as relações parecem com os próprios entrevistados, o que lhes causa estranheza. Logo o conflito é
sociais, culturais e corporais desses estudantes com a vida acadêmica, procurando ver a si como esse "outro" a ser estudado, gerando a sensação de não pertencimento ou
contribuir com reflexões e proposições capazes de auxiliar e integrar estudantes incapacidade de ocupar o lugar de sujeito pesquisador. Em entrevista um/a da/os
negras/os no referido curso. estudantes relatou que não tinha referência imagética de si nas disciplinas e comenta
METODOLOGIA DA PESQUISA sobre uma conversa em sala:
O levantamento de referências bibliográficas sobre corporalidade negra na dança, Aí as pessoas falavam 'os outros', nesta ideia de outridades. A
educação para esta população, racismo estrutural, políticas afirmativas e de permanência gente vai pesquisar os outros! Então, aí é interessante pensar
que nesse momento os outros eram parecidos comigo [...]
na universidade relacionadas a esta população e processos de formação em Dança, tem então na verdade eles não eram os outros, eram mais eu (HHS,
sido realizado em todo o percurso da pesquisa de modo a sustentar as etapas de coleta e 2022).
análise de dados. Paralelamente trabalhei na divulgação de um chamamento para Enfim, enfrentamos dificuldades emocionais, psíquicas e até físicas, já que os corpos
estabelecer contato com estudantes negros/as que ingressaram e estão cursando, que que em geral são ilustrados nos conteúdos estudados não são os nossos. Há críticas
concluíram ou não o curso, interessados em participar da pesquisa. O contato, o quanto a isso nas falas dos entrevistados. Destacou-se a pergunta “quais fatores
agendamento e a realização das entrevistas tem sido de acordo com as possibilidades dos contribuíram para que você progredisse no curso?" verificou-se que o fator humano e as
participantes que se candidataram. As entrevistas são semi-estruturadas e estão dirigidas redes de apoio são indispensáveis para a progressão destes alunos, a família, os colegas
a colher informações socioeconômicas e culturais que impactam o ingresso, a de turma, os amigos em outros cursos, as/os orientadoras, PADs e PEDs, são os
permanência ou a conclusão da graduação dos estudantes negras/os. É minha intenção principais suportes emocionais entre nós.
que essas entrevistas possam ser um modo de coletar narrativas das experiências dos/as CONCLUSÃO
estudantes, daí a escolha por perguntas de resposta aberta que possibilitem o As relações interpessoais foram apontadas como fator que mais contribui para a
enriquecimento das falas dos/as participantes. diplomação dos estudantes pretos e pardos: “criamos nosso próprio programa de
Através dos sites da Unicamp, especialmente junto ao Serviço de Apoio ao Estudante, o permanência" (GMJ, 2022), relatou uma das entrevistadas ao citar a rede de apoio que
SAE, foram coletadas informações sobre as políticas que se referem à permanência e à criou com as colegas de turma. Já as adversidades têm relação com a sensação de não
integração disponíveis. pertencimento, a não representatividade de seus corpos e para alguns a exaustão devido
RESULTADOS PARCIAIS E DUSCUSSÃO concluiu a Nenhum ao esforço para conseguir se manter financeiramente de diferentes maneiras.
graduação em
3
quatro anos 3 A pesquisa ainda está em andamento e há muito o que ser discutido a respeito das
1 formação 3
4
são os
cursaram
ensino médio
formação
em escolas
em projetos formação em questões levantadas no percurso das entrevistas realizadas. Mesmo assim, acredito que
primeiros na sociaias academias
privadas
casa no ensino
superior
em escolas
técnicas
2 desses com
bolsa sua realização possa contribuir com a identificação de novas perspectivas sobre
2
formação
educação
necessidades dos estudantes pretos e pardos do curso de Dança da Unicamp,
em escolas iniciação
formal
5
públicas
6 artistíca
6 explicitando as dificuldades e possibilitando a adequação de políticas e espaços para que
relataram relataram
problemas entrevistados sensação de não
pertencimento
o curso se torne mais diverso. Para mim, como pesquisadora, tem sido desafiador e
financeiros
1 gratificante realizar este estudo, fazendo parte da rede de apoio dos meus colegas de
trabalhou fora situações de
da instituição financeiro interpessoal racismo turma e construindo um espaço de diálogo e reflexão sobre nossas realidades. Posso
durante toda a
5
trabalharam
graduação perceber que cada um de nós tem sua singularidade, e essa percepção, com certeza, me
pelo menos um
semestre fora da
instituição
2 relataram 6
sem expectativa de
torna uma pesquisadora e arte-educadora mais atenta e mais capaz de discutir as
dificuldade em participaram de não se sentem
acessar os
programas de
pelo menos dois
programas de
representatividade
cultural
representados questões que nos perpassam. É um orgulho ocupar espaços que meus antepassados não
permanência permanencia APOIO
puderam ocupar e garantir que sejam lugares mais acolhedores para os meus
descendentes.
Alguns dos dados coletados nas entrevistas e apresentados na figura acima, ainda estão em
BIBLIOGRAFIA
processo de análise. Uma das questões que chamaram minha atenção foi o processo das/os
GOMES, Nilma Lino; Educação, identidade negra e formação de professores/as: um olhar sobre o corpo
estudantes em perceber-se ou reafirmar-se como jovem negro/a durante o percurso de negro e o cabelo crespo Revista Eletrônica de Educação, v. 10, n. 2, p. 234-246, 2016.

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