Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ABRIL DE 2023
Resumo
O presente relatório apresenta os resultados parciais da pesquisa Ações Afirmativas nas Pós-
graduação da UFSC, no campus de Florianópolis, com o intuito de contribuir para a
construção de indicadores que possibilitem avaliar essas políticas. A pesquisa contou com
amostras de 21 Programas, dentre 9 áreas de conhecimento da universidade. Optou-se por
analisar inicialmente os editais que já adotavam as ações afirmativas anterior a Resolução
Normativa N. 145,2020/CUN que instituiu e normatizou as políticas de ações afirmativas, em
seguida foi analisados os editais anteriores e posteriores a resolução. Nas análises iniciais, foi
observado que as ações afirmativas dos PPGs selecionados, estavam mais voltadas para o
ingresso de estudantes atendidos pelas cotas, sobretudo negros/as e indígenas, e menos para a
permanência dos mesmos. As análises comparativas dos editais anteriores e posteriores a
resolução apontaram algumas mudanças significativas nos Programas da amostra, como a
ampliação dos grupos atendidos, as reservas e distribuição de bolsas, alterações nos processos
seletivos, presença de banca de heteroidentificação. A análise também apontou para PPGs
que não estavam cumprimento todas as exigências determinadas na resolução, assim como
identificou a pouca oferta e prioridade de bolsas para o público das ações afirmativas.
Palavras- chave: ações afirmativas; pós-graduação, cotas raciais.
Introdução
As ações afirmativas são resultado das lutas dos movimentos sociais, sobretudo, dos
movimentos negros. São essas lutas que vão beneficiar não somente a negros, mas, estudantes
de escolas públicas, indígenas, pessoas com deficiência, travestis, transexuais, refugiados, etc.
(PASSOS, CRUZ, MWEWA, 2014). Foi somente após a participação da delegação brasileira
na III Conferência Internacional sobre Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as
Intolerâncias Correlatas, ocorrida em 2001, na cidade de Durban, na África do Sul, que o debate
se fortaleceu. A partir disso, diversas universidades públicas adotaram as ações afirmativas
pelo sistema de cotas. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade
Estadual do Norte Fluminense (UENF) inauguraram o sistema de cotas por exigência da Lei
Estadual 3.708. Seguiram-se a essas a Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e a
Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UFMS), em 2002, e a Universidade de Brasília
(UnB), em 2003. As experiências iniciais dessas universidades foram fundamentais, não só
porque ousaram e comprovaram a viabilidade das cotas, mas, porque pautaram e assumiram o
debate público sobre as desigualdades raciais, o racismo e a importância das ações afirmativas
na sociedade brasileira tendo como base a autonomia universitária (PASSOS, 2015).
Passados 20 anos da primeira iniciativa de ações afirmativa no ensino superior no Brasil,
em que pesem os tensionamentos elas vão se consolidando como política de Estado em
consonância direta com as reivindicações dos movimentos sociais negros. As mudanças são
perceptíveis, principalmente, porque alteram de forma efetiva e profunda a vida das pessoas
beneficiadas por essa política, bem como seus grupos familiares e comunidades.
A pesquisa que aqui vem sendo realizada tem as ações afirmativas na pós-graduação
como objeto, por acreditarmos que essas políticas possibilitam enfrentar o racismo acadêmico
e epistêmico, pois, tensionam com práticas e epistemologias eurocêntricas ainda existentes
nesse meio e, porque urge a formação de intelectuais negros e negras que possam ingressar
como docentes nas universidades públicas.
Desde o final da década de 1990, já́ havia um debate, ainda que incipiente, a respeito do
acesso de negros/as à pós-graduação (CARVALHO, 2003). Em 2002, a Universidade Estadual
da Bahia (UNEB) estabelece uma política de ação afirmativa para ingresso de negros e
indígenas em cursos de pós-graduação de ensino superior. (CARVALHO, 2005).
Demonstrando que as medidas de ações afirmativas para a pós-graduação foram discutidas
concomitantemente às políticas para a graduação.
O “Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford”, criado em
2001, e o “Programa de dotações para mestrado em direitos humanos no Brasil”, criado em
2003 e coordenado pela Fundação Carlos Chagas são consideradas as primeiras iniciativas de
inclusão de candidatos pertencentes a grupos sub-representações na pós-graduação
(Rosemberg, 2013; Santos, 2005).
Mas, somente a partir de 2012 que as ações afirmativas na pós-graduação passam a ser
discutidas e propostas com mais expressão. O Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Social do Museu Nacional (PPGAS-MN), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
se tornou então, uma referência no debate sobre ações afirmativas para pós-graduação ao
começar a discutir uma política em 2007 e aprová-la em 2012 (VENTURINI, 2017).
A pesquisa de Kelly Martins Bezerra “Universidade de Brasília, para quê? e para quem?
Um estudo sobre as ações afirmativas para negros(as)no Programa de Pós-Graduação em
Direito da Unb” (2020) analisa o processo de implantação das ações afirmativas no âmbito do
Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Brasília (PPGD-UnB). O objetivo
foi conhecer quais os possíveis efeitos e impactos da implementação das ações afirmativas no
referido Programa. Como procedimento metodológico foi realizada análise documental dos
processos seletivos, atos, resoluções e registros do PPGD, além de entrevistas com professores,
técnicos e estudantes oriundos e participantes do processo e do sistema de cotas do Programa.
A pesquisa evidencia a importância de articular políticas de ingresso às políticas de
permanência. Os dados apresentados indicam que o objetivo das ações afirmativas na pós-
graduação de garantir o ingresso e ampliar a representação de estudantes negros(as) no
Programa não tem sido alcançado em sua potencialidade.
Artes (2013) em pesquisa que analisou a distribuição por sexo e cor/raça dos ingressantes
nos cursos de pós-graduação, constatou a partir dos censos demográficos 2000 e 2010 que a
ampliação do acesso aos cursos de graduação no ensino superior no Brasil tem aumentado e
diversificado o perfil nesse nível de ensino. Em relação ao sexo, as mulheres que já constituíam
a maioria dos estudantes de pós-graduação em 2000, ampliaram sua participação relativa de
51,0% para 53,4%. No que se refere à cor/raça, entre 2000 e 2010 os negros aumentaram sua
participação em 194,6%. Os negros representavam 13,2% do total de estudantes em 2000,
passaram a ocupar 24,9% das vagas na pós-graduação.
De maneira semelhante, um estudo mais recente realizado por Oliveira (2017) continua
confirmando a sobre representação de pós-graduandos brancos (mais de 70%) em relação aos
negros (menos de 25%) e indígenas (menos de 1%) nos PPGs das instituições públicas e
também privadas de ensino cadastradas na plataforma Sucupira. Contudo, a pesquisa
identificou uma perspectiva de mudança, ainda que tímida, no perfil dos discentes, tendo em
vista que das sete IES que responderam à pesquisa, seis já haviam adotado políticas de Ações
Afirmativas em seus processos seletivos para a pós-graduação, com apoio de instrumentos
jurídicos recentes (de 2014 a 2018), como resoluções e instruções normativas de suas reitorias
e/ou colegiados. Em relação aos programas de pós-graduação, isso significa que 536 dos PPGs
consultados confirmaram a adoção de algum tipo de AAs, enquanto 72 deles ainda não.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
Procedimentos Metodológicos
Com isso, a análise documental da implantação das Ações Afirmativas nos editais de
seleção dos PPGs da UFSC se pautou pela Resolução Normativa Nº 145/2020/CUN e dos
demais documentos orientadores que visam qualificar a aplicação da política de Ações
Afirmativas na pós-graduação da UFSC, como o Ofício Circular N.º 16/2021/PROPG e o
template intitulado “Instruções para Elaboração de Edital de Processos Seletivos da Pós
Graduação Lato Sensu e Stricto Sensu da UFSC no que se refere à Política de Ações
Afirmativas, em conformidade com a Resolução Normativa 145/CUn/2020”.
Desse modo, foram selecionados 21 programas de pós-graduação acadêmicos da
UFSC, campus Florianópolis, dentre as 9 áreas de conhecimento da universidade. A escolha
do campus se deu pela sua extensão, por concentrar o maior número de cursos, além de serem
os mais antigos e, portanto, mais consolidados. Optou-se por contemplar pelo menos dois PPGs
por área de conhecimento, subdividida entre as áreas de Ciências Sociais Aplicadas; Humanas;
Linguística, Letras e Artes; Multidisciplinar; Saúde; Agrárias; Biológicas; Engenharias; Exatas
e da Terra.
A seleção dos programas, então, foi baseada no seu alcance, ou seja, no somatório de
estudantes matriculadas/os nos níveis de mestrado e doutorado de acordo com a área de
conhecimento na qual cada PPG está inserido. Para identificar o quantitativo de matrículas
ativas nos PPGs, foi consultado o site da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFSC, que dispõe
de uma página com um quadro de informações detalhadas e atualizadas sobre os números totais
de matriculados, bolsistas e concluintes de cada Programa. Além disso, foi considerado
também os PPGs que já adotavam algum tipo de AA em seus editais de seleção anteriormente
à aprovação da Resolução Normativa Nº 145/2020/CUN, ou seja, utilizamos como critério de
seleção, ainda, o tempo de implementação das Ações Afirmativas nos cursos.
A partir disso, a fim de coletar dados dos editais de seleção tanto para mestrado quanto
para doutorado dos programas selecionados de maneira sistematizada, foram elencados os
seguintes critérios:
Para além disso, quando necessário, foram observadas outras informações não
contempladas nos critérios supracitados, consideradas pertinentes ao estudo. É necessário
pontuar, ainda, que tais critérios foram observados não somente em relação às vagas reservadas
para Ações Afirmativas, mas também para aquelas destinadas à Ampla Concorrência, para fins
de comparação.
Assim, para obter um panorama em relação à implantação das Ações Afirmativas nos
programas selecionados, optou-se por analisar os editais do ano de 2021, já atendendo a
Resolução Normativa N. 145/2020/CUN, e de 2020, anterior à mesma Resolução. Ainda, para
os Programas que já previam reserva de vagas antes mesmo de tal normativa, foi analisado o
primeiro edital marcado pela implantação das Ações Afirmativas.
DO: 14.28%
Educação ME/DO Negros, ME: 12N; 1I; ME: 31.25% Edital não
(2019) Indígenas, 1Q; 1TT faz
Quilombolas referência
e Pessoas DO: 40.54%
trans e DO: 12N; 1I;
travestis 1Q; 1TT
(TT)
Educação ME/DO Negros, ME: 8N; 1I; ME: 33.33% Edital não
Científica e Indígenas, 1PcD faz
Tecnológica PcDs referência
(2019) DO: 35%
DO: 5N; 1I;
1PcD (2020)
Psicologia ME/DO Negros, ME: 8N; 1I; ME: 29% Sem garantia
(2020) Indígenas, 1PcD; 1TT prévia de
PcDs e bolsa
Pessoas trans DO: 32%
e travestis DO: 5N; 1I;
1PcD; 1TT
Nesse mesmo sentido, nos editais dos PPGs em História e Educação houve também uma
diferenciação nas notas mínimas para seleção entre candidatos/as de ampla concorrência e
aqueles optantes pela reserva de vagas. Em ambos os editais analisados, a nota mínima para
candidatos/as cotistas (com exceção de estrangeiros/as, no caso do PPG em História) foi
prevista para 5 (cinco), e 7 (sete) para os demais candidatos/as. Ainda, no edital do PPG em
Antropologia Social para AA não foi prevista uma nota mínima. Desse modo, a flexibilização
das notas mínimas de seleção, ainda que seja na minoria dos editais, demonstra uma
preocupação em tornar o processo seletivo mais acessível e menos rígido.
Outro aspecto relevante diz respeito aos critérios de validação dos documentos que
comprovam o pertencimento do/a candidato/a aos grupos atendidos pelas Ações Afirmativas.
Antes da normativa, para seis dos programas analisados que já vinham adotando a política de
AA (Psicologia, Ecologia, Direito, Educação, Estudos da Tradução e Educação Científica e
Tecnológica) bastava apenas a autodeclaração como documento comprobatório, não havendo
necessidade das comissões de validação (como as de heteroidentificação de fenótipo para
pessoas pretas e pardas), o que facilita as possibilidades de fraude. Sobre isso, a normativa
determina que as autodeclarações e outros documentos comprobatórios devem ser verificados
pela comissão de seleção de cada Programa, através da formação de bancas de validação com
orientação e auxílio da SAAD. No Ofício Circular N.º 16/2021/PROPG, que trata sobre a
“Validação de autodeclaração da Política de Ações Afirmativas nos editais de processo seletivo
de ingresso nos programas de pós-graduação”, é destacado que a
SAAD auxiliará na formação dos membros e na organização
das bancas, bem como na sugestão de cronogramas, e que a
participação de docentes e/ou técnico-administrativos dos
programas em bancas de validação é importante, porque, além
de ampliar o número de pessoas possíveis para as bancas,
permite a formação dos membros das comissões com igual
conhecimento.
Além de prevenir possíveis fraudes no acesso a vagas e bolsas por meio das Ações
Afirmativas, a exigência de formação de bancas de validação estimula que os/as profissionais
envolvidos/as no processo de seleção para a pós-graduação entrem em contato com os assuntos
relacionados à política de AA, cuja circulação no ambiente acadêmico geralmente é limitada à
espaços e/ou setores específicos.
Na área dos cursos de Ciências Humanas, todos os programas da amostra (Antropologia Social,
Educação, História e Psicologia) incluem outras categorias como pessoas trans e travestis,
(exceto o PPGH); refugiados, professores e demais profissionais da educação com vínculo
ativo na rede pública de educação básica, pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e
quilombolas (PPGE); e estrangeiros (PPGH). Poucas mudanças foram percebidas com após a
resolução normativa de 2020, apenas o PPGE alterou as etapas de seleção, retirando a prova
escrita como uma das formas de avaliação; além disso, o Programa diminuiu a nota de corte de
7 para 6 para ampla concorrência e manteve 5 para cotistas. O PPGE e PPGH se mantem como
os únicos da amostra das Humanas a distinguirem as notas entre a ampla concorrência e as
ações afirmativas, enquanto o PPGP e PPGAS mantém nota 7 para todos os públicos, tanto
para mestrado quanto para doutorado. Na amostra apenas o PPGAS prioriza parte das bolsas
(quando disponíveis) para os primeiros colocados nos editais específicos para ações afirmativas
(um para negros(as), outro para indígenas), apesar de comporem o público-alvo das ações
afirmativas, o edital de seleção não indica a reserva de bolsa para pessoas trans e travestis, e
pessoas com deficiência.
Na área de Linguística, Letras e Artes analisados (Estudos da Tradução, Linguística e
Literatura) já adotavam reserva de vagas para negros, indígenas e pessoas com deficiência
anteriormente a resolução, a única mudança observada após a resolução quanto ao público-alvo
é a inclusão de pessoas trans, professores da atenção básica e refugiados no PPGL. Em relação
ao processo seletivo, apenas o PPGLit faz alguma adaptação na nota de corte de 7 para 6. O
destaque da amostra é o aumento do número de vagas de ofertadas no PPGET, passando de 27
vagas para público geral e 11 destinadas para negros, indígenas e PcDs para 62 vagas no
público geral e 27 destinadas a AA. Nenhum dos editais de seleção dos programas acima
especifica os critérios de distribuição das bolsas.
Além disso foi identificado que grande número das vagas reservadas as ações
afirmativas não têm sido preenchidas, conforme quadro abaixo.
Quadro 2: Relação entre as vagas ofertadas e vagas preenchidas do Programas de Ações Afirmativas na
Pós-Graduação da UFSC em 2021, após aprovação da Resolução Normativa N. 145/2020/CUN
MESTRADO DOUTORADO
Engenharia
de
Agrárias Alimentos 6 4 67% 6 1 17% Sim
Farmacolo
Biológicas gia 16 1 6% 15 0 0% Sim
Engenharia Não
Elétrica 71 3 4% 34 encontrado - Sim
Ciência da
Computaçã Não Não Não faz
o 10 informado - 7 informado - referência
Exatos e da
Terra Química 6 1 17% 6 1 17% Sim
Antropolog
ia Social 6 2 33% 6 5 83% Sim
Não faz
Educação 23 9 39% 23 9 39% referência
Não faz
História 7 0 0% 7 2 29% referência
Educação
Científica e
Tecnológic
a 9 3 33% 9 2 22% Sim
Engenharia
e Gestão do
Multidiscipli Conhecime Não faz
nar nto 10 0 0% 10 3 30% referência
Arquitetura
e Não faz
urbanismo 13 3 23% 8 2 25% referência
Fonte: as autoras, com base nos editais analisados e nos resultados finais dos mesmos.
Resultados parciais
Em relação os a processos seletivos notou-se que a diferenciação das notas de corte entre vagas
reservadas de ações afirmativas e ampla concorrência, e outras alterações nas etapas de seleção
não podem ser lidos como facilitadores no processo desses candidatos, antes porém são parte
da própria política de ações afirmativas, uma vez que essas são ferramentas que tem como
objetivo “Alterar realidades sociais estruturalmente marcadas por desigualdades” ( AP DOS
SANTOS, 2020), levar em consideração as pluralidades dos saberes que advém de diversas
fontes como a cultura pessoal, cultura escolar e formação acadêmica, além de outras formas de
codificar o conhecimento, nada mais é tornar o processo equiparado a realidade dos candidatos.
O que também foi possível observar é que apesar da resolução estabelecer um número mínimo
de reserva de vagas e bolsas, não impõe limite dessas reservas, porém em nenhum curso teve
aumento significativo dessas reservas além dos previstos na normativa.
Verificou-se também a baixa ocupação das vagas reservadas, ainda que tenha sido analisado
apenas o primeiro ano após a obrigatoriedade da adoção das Ações Afirmativas pelos PPGs.
Isso demonstra a necessidade de uma ampla divulgação das Ações Afirmativas na pós da UFSC
por parte de todos os setores da universidade, bem como de iniciativas que tenham como
objetivo a preparação de estudantes cotistas para ingressar na pós-graduação. Além disso
alguns programas como caso das Exatas não disponibilizam de forma acessível resultado das
ocupações das vagas reservadas.
Por último o que vale destacar nessa análise dos documentos, é o não cumprimento de algumas
normas estabelecidas na Resolução, sendo a permanência o principal ponto negligenciado por
mais da metade dos Programas ao não especificarem acerca das distribuições e reservas de
bolsas (28% segundo a resolução), ou a criação de outros fomentos de permanência. Além
disso os escassos dados sobre as possibilidades oferecidas aos estudantes cotistas para a
permanência na pós-graduação, embora representem desafios para as instituições, apontam que
a ênfase dos programas de ações afirmativas em um primeiro momento, tem sido no ingresso,
tornando-se secundária a questão da permanência.
Considerações finais
A pesquisa segue em andamento, agora passando pela fase de instrumentalização dos roteiros
de entrevistas e posteriormente a elaboração de um questionário, com o objetivo de conhecer
melhor os perfis dos ingressados pelas ações afirmativas a fim de produzir dados que possam
ser uteis nas avaliações dos Programas de Pós-graduação.
Durante o processo de investigação e análise dos documentos, bem como na socialização dos
resultados com o grupo de pesquisa nacional no Seminário Nacional de Pesquisa em ações
afirmativas: encruzos e percalços, ficou evidente para mim não só a importância da construção
desses dados como forma de avaliação das políticas, mas também ressoou em mim as memórias
de lutas ancestrais pelo acesso e permanência de grupos marginalizados historicamente, assim
fazer parte dessa pesquisa possibilita não só meu desenvolvimento com a pesquisa e suas várias
metodologias, mas também ORÍenta meus saberes e caminhos pessoais.
a. PLANO DE ATIVIDADES
• Participação em formação sobre pesquisa em relações raciais, ações afirmativas e
consulta em bases de dados.
• Participação na construção de um banco de dados da produção acadêmica sobre o
tema da pesquisa.
• das fontes a serem analisadas.
• Participação na construção dos instrumentos de pesquisa e nas análises da produção
acadêmica levantada e dos documentos/fontes.
• Apresentação dos resultados parciais e finais da pesquisa em eventos internos e
externos à UFSC.
• Elaboração do relatório parcial e final das atividades realizadas.
Referências
ARTES. A. Estudantes de pós-graduação no brasil: distribuição por sexo e cor/raça a partir dos
censos demográficos 2000 e 2010. 36ª Reunião da ANPED: Goiânia, 2013.
DOS SANTOS, Adilson Pereira. Gestão universitária e a Lei de Cotas. Editora Appris, 2020. OLIVEIRA,
A. L. As políticas de cotas sociorraciais como ação afirmativa nos programas de pós-
graduação das universidades públicas brasileiras. 2019. Dissertação (Mestrado) --
Universidade de São Paulo, Faculdade de Direito de Ribeirão Preto, Programa de Pós-
Graduação em Direito, Ribeirão Preto, BR-SP, 2019.
SANTOS, S.A. Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Diversidade, p.45- 80,
2005.
SOUZA, J.L. GAUDIO, E.S. PASSOS, J.C. Ações Afirmativas no Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina: Antes e depois da
obrigatoriedade. In: Congresso de Pesquisadores(as) Negros(as) da Região Sul (V
COPENE Sul). Criciúma, 2021.