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Resumo
Este projeto tem como objetivo principal investigar o processo de seleção para ingresso na
Universidade de São Paulo, que se inicia com a inscrição no vestibular da Fuvest e é concluído
com a lista dos selecionados para a matrícula em seus cursos de Graduação, no período de 2018
a 2023, buscando as diferenciações dos participantes do processo, em função de variáveis
étnico/raciais, socioeconômicas e educacionais, nos momentos críticos definidos com a 1ª Fase
e a 2ª Fase do vestibular. Fruto de uma parceria entre a Pró-Reitoria de Graduação da USP e o
Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave) da Feusp, o
desenvolvimento do projeto, mediante análises dos resultados nas provas e das respostas aos
questionários na inscrição no Vestibular da Fuvest, pretende-se caracterizar os(as)
candidatos(as) com base num conjunto de variáveis que permitem responder a duas questões
simultaneamente: O que sabe e quem entra na USP? Com isso, da perspectiva educacional,
busca-se uma caracterização detalhada do domínio dos conhecimentos – o que sabe – nas áreas
abarcadas pelas provas da Fuvest em função das variáveis socioeconômicas – quem entra –,
possibilitando à USP melhores informações sobre seus ingressantes, compreendendo a seleção
acadêmica operada e, sobretudo, facultando eventuais iniciativas de apoio acadêmico e de
permanência estudantil, detalhada por curso de Graduação. Cogita-se ainda, embora a depender
da disponibilização de dados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), efetuar o tratamento adaptado aos(às) candidatos(as) que optaram pelo
acesso à USP pelo Sisu, até 2022, ou pelo Enem-USP, iniciado em 2023. Tomando-se como
referência os(as) candidatos(as) inscritos, será possível estudar quem são os que têm sucesso
em cada um desses momentos críticos procurando identificar tendências e padrões no período.
Espera-se, como resultado da pesquisa, pelo cruzamento de dados, fornecer subsídios,
especialmente, para o aprimoramento de políticas afirmativas para o ingresso de candidatos(as)
autodeclarados pretos e pardos, bem como para sua permanência na USP com sucesso escolar,
ademais de sua contribuição para os debates em curso no Brasil sobre ações afirmativas, em
geral, e sobre a Lei de Cotas, em particular. Como parte da metodologia, será feito tratamento
e a análise de microdados coletados pela Fundação para o Vestibular (Fuvest) e pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2018 a 2023.
Justificativa
Ingressar na Universidade de São Paulo é um desafio que exige grande esforço por parte dos
pretendentes, o que para a população negra é ainda maior, corroborado pelos dados, por
exemplo, de 2021 do anuário estatístico da própria USP, que mostram apenas 21% desse
Várias pesquisas demonstraram que esse esforço para o ingresso dependia, também, das
condições socioeconômicas dos candidatos, de tal maneira que a meritocracia tout court, ou
seja, de que os mais “esforçados” eram os que tinham maiores notas e, por isso, mereciam
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escolher as vagas antes dos “menos esforçados” não se sustentava, ou pelo menos não tinha a
força argumentativa utilizada por mais de cem anos de processos seletivos para justificar
ingresso na Educação Superior, com base no que se denomina “ampla concorrência” com
candidatos hierarquizados exclusivamente nas notas das provas desse processo. Diante desse
cenário, uma série de iniciativas começaram a ser implementadas para atenuar os efeitos dessas
condições nos resultados de candidatos, com destaque para aqueles que compõem a população
são os estudantes de escolas públicas, com vistas a estabelecer um processo seletivo mais justo.
Vale destacar estudos indicando a importância e os efeitos das cotas, como encontramos em
Senkevics (2021, p. 61), para quem “há elementos para se afirmar que a Lei de Cotas representa
Ensino Superior] e resultou em uma expansão sem precedentes das políticas de ação afirmativa
pelo país”. Munanga (2004, p. 53) complementa que “o fundamental é aumentar o contingente
negro no ensino superior de boa qualidade, descobrindo os caminhos para que isso aconteça”.
Neste projeto pretende-se avançar uma caracterização mais detalhada do contingente que
participa do processo seletivo de tal modo que tanto se possa fazer melhores sinalizações
qualitativas para um contexto social mais amplo, inclusive para incrementar a própria
sucesso escolar.
No âmbito da USP, de 2006 a 2018, com algumas alterações no período, tivemos o Programa
escolas públicas em seu vestibular, que incluía o Programa de Avaliação Seriada (Pasusp),
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destinado a estudantes ainda no ensino médio público, que também cursaram o ensino
estudar na USP, pois essas predisposições, como salienta Bourdieu (2014, p. 83), são ações
“habitadas por uma espécie de finalidade objetiva sem serem conscientemente organizadas em
Até 2011, os estudantes que tivessem feito a prova do Pasusp, de acordo com seu desempenho,
2012 era concedido o bônus integralmente a todos que acertassem ao menos 27 questões na
primeira fase. Para a última edição do Pasusp, a Resolução CoG nº 7363, de 04 de julho de
2017, concedeu um bônus de até 15% na pontuação da primeira fase da Fuvest a estudantes da
3ª série do Ensino Médio que haviam cursado essa etapa, exclusivamente, em escolas públicas
brasileiras, e mais 5%, caso esse estudante tivesse participado do Pasusp 2016.
extintos na USP. Desde então, 60% das vagas são para ampla concorrência e 40% reservadas
para as cotas. Essas cotas são destinadas a estudantes que cursaram todo o ensino médio em
escolas públicas brasileiras. Das vagas reservadas às cotas, 37,5% são para candidatos de
A consulta à literatura que trata de processos seletivos para ingresso na Educação Superior nos
mostra que esta apresenta raros estudos que focam no cruzamento de variáveis socioeconômicas
Adicionalmente, a pesquisa aqui apresentada contribuirá com medidas mais ajustadas com
notadamente no contexto brasileiro de adoção de cotas para atenuar os efeitos de condições que
59) aponta a importância de se explorar a granularidade dessa política, o que este projeto visa
notadamente pelas variáveis étnico/raciais que serão associadas a outras informações que
Objetivos
Educacional (Gepave), fruto de uma parceria com a Pró-Reitoria de Graduação da USP (PRG-
USP), considerando que as análises das condições socioeconômicas ganham relevância nesse
contexto de discussão nacional das cotas, igualmente seriam necessárias aquelas que pudessem
identificar e qualificar quem são os estudantes que iniciam o processo seletivo, pela inscrição
Com efeito, a investigação do fluxo dos candidatos, desde a inscrição até a seleção para
ingresso, busca caracterizá-los com base num conjunto de variáveis, entre as quais estão aquelas
Partindo do problema de pesquisa “O que sabe quem entra na USP?”, este projeto tem por
objetivo geral qualificar o sucesso nesse processo, entre a inscrição e a chamada para a
matrícula, que tem como contraponto o insucesso daqueles que deixam o processo seletivo
devido aos resultados da Fuvest. Deve ser salientado que os resultados das provas se revestem
seletivo com implicações analíticas para a escolarização que o embasa, ainda que não
projeto de tutoria em curso, para assegurar condições de sucesso escolar em seus cursos.
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conjunto de variáveis adotadas pela Fuvest na inscrição: sexo, raça/cor, idade, escolaridade dos
pais, renda familiar, dependência administrativa da escola de Ensino Médio, tempo desde a
Como contribuição para processos seletivos em geral e para o refinamento das análises para
Identificar, eventuais, tendências no período de 2018 a 2023 que possam contribuir com a
tomada de decisões no âmbito da USP quer para ações mais amplas, como seriam aquelas
destinadas às escolas de Ensino Médio, quer para aquelas destinadas aos cursos da universidade
considerando, por exemplo, os resultados das provas e seus potenciais impactos na permanência
Métodos
Para que se possa responder ao problema da pesquisa, uma primeira etapa será a constituição
de uma base de dados a partir das informações disponibilizadas pela Fuvest, via PRG-USP, na
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qual para cada inscrito na Fuvest ou admitido pelo Enem-USP (ou do Sisu), para o período de
2018 a 2023, haverá um vetor com valores para cada uma das variáveis.
Com isso, para os inscritos na Fuvest, será realizada uma análise que qualifique, a cada
momento crítico, o sucesso e o insucesso, ressaltando-se que para aqueles que se inscrevem
pelo Enem-USP (ou do Sisu) será possível qualificar com base nas variáveis fornecidas pelo
2018 a 2023, buscando identificar o fluxo no processo seletivo, perfazendo um ciclo de seis
anos. Haverá, ainda, análises entre os anos do período da pesquisa para se identificar eventuais
tendências ou padrões que possam permitir agrupamentos dos estudantes aprovados, baseados
De posse de microdados, será possível estabelecer cruzamentos entre as variáveis, bem como
escola de origem, escolaridade dos pais e a variável dependente – os resultados nas provas da
sobre fatores associados a resultados de testes, com ênfase naqueles relativos a aspectos
socioeconômicos. Estão previstos seminários nos quais os bolsistas poderão apresentar suas
considerações sobre o andamento das atividades, com preparação prévia, sendo que tais
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produção de seus relatórios. Haverá, ainda, com agenda a ser definida em função dos
responsável pelo projeto. Nestes termos, a avaliação terá como critério o cumprimento das
Fazendo uma análise acerca do Vestibular da Fuvest e do Enem, considera-se que será possível
candidatas negras e dos candidatos negros. Barros (2014, p. 1065), a esse respeito, conclui que
“o critério de classe social é insuficiente para explicar as diferentes práticas escolares adotadas
pelos diversos tipos de grupos familiares”, o que reforça a necessidade de se avançar para uma
caracterização mais detalhada dos(as) candidatos(as) à USP, reiterado pela consideração de que
(ALMEIDA, 1999, p. 4). Nesse sentido, a pesquisa deve fornecer elementos que contribuam no
processo de revisão da Lei da Cotas, como previsto no Art. 7º da Lei nº 12.711, indicando
resultados obtidos nas provas dos processos seletivos (Fuvest e Enem) e o desempenho do
estudante ao longo de seu curso, permitindo, se for o caso, a identificação de fragilidades que
podem ser enfrentadas por meio de ações voltadas à melhoria de desempenho acadêmico e
consequente diminuição da evasão existente nos cursos da USP, sobretudo nas licenciaturas, ou
seja, que possam fornecer informações para subsidiar a reflexão sobre incrementos nas políticas
com base nas variáveis apresentadas, que favoreça a tomada de decisão tanto pela universidade
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como um todo com vistas às normativas para seleção de candidatos quanto para cada Unidade
Haverá períodos com atividades de estudo, a partir de uma seleção inicial apresentada nas
Referências
ALMEIDA, Ana Maria Fonseca de. As escolas dos dirigentes paulistas: ensino médio,
vestibular, desigualdade social. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2009. 192 p. (Trabalho &
Desigualdade, 4).
AMARAL, Iago; GOLGHER, André Braz. Diferenças no desempenho acadêmico na UFMG:
entre ingressantes via vestibular e via Enem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 48,
e237939, p. 1-27, 2022.
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