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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Naquela época, a prova já não se importava com o método que o aluno usou para ter
conhecimento dos assuntos abordados, o que explicita a desconsideração com a aprendizagem
efetiva e duradoura. Se o aluno decorou temporariamente os tópicos, mas consegue resolver o
problema apresentado, ele será bem avaliado, independente de levar ou não o conhecimento
para sua vida. O Enem, de acordo com a ex-presidente do Inep, Maria Helena Guimarães de
Castro, em 1998, foi considerado um exame inteligente que fez uso de uma abordagem nova
de avaliação prevista na Lei de Diretrizes e Bases, recebendo grandes expectativas para seu
desenvolvimento no futuro.
Em 2001, tivemos pela primeira vez a possibilidade de isenção de taxa para aqueles
que cursaram o ensino médio em escolas públicas ou que foram bolsistas em escolas
particulares. Por esse motivo, tivemos um salto nas inscrições do Enem, que atingiu o número
de 1.624.131 alunos, sendo 82% deles
beneficiados com a isenção da taxa de inscrição.
Analisando o aumento das inscrições, é
perceptível a tentativa anual do governo de levar
mais estudantes à realização do exame para
aumentar a relevância e aderência em âmbito nacional. O Enem passa a ser uma referência e
influencia diretamente no currículo escolar, dando a partir do exame uma base de conteúdos
essenciais que devem ser aplicados para os estudantes do Ensino Médio a fim que tenham um
bom rendimento na prova.
Analisando o Enem como uma avaliação externa, encontramos uma dualidade intensa
e uma contradição inegável: da mesma forma que se diz uma prova robusta e composta por
habilidades e competências que precisam ser treinadas, também permite ano após ano que
alunos menos favorecidos socialmente e economicamente tenham mais acessos e
possibilidades. Quando deixa de ser uma avaliação focada apenas em entender o nível e o
andamento da educação básica para se tornar uma referência de prova para entrada em
instituições de ensino superior, esta conversa com o sentido de trazer um conteúdo mais
aprofundado, mas deixa de dialogar com aqueles que não possuem um ensino qualificado e
faz com que a prova se torne, mais uma vez, um medidor do bom e do ruim, do pobre e do
rico, do que tem mérito e do que não tem. Permanece o questionamento intrigante: o Enem
2021 teve o menor número de inscritos em mais de uma década. Segundo a Unicef, havia
cerca de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos sem qualquer tipo de acesso à educação no
Brasil. Apesar de todas as reais tentativas, o Enem é mesmo um exame inclusivo, visto que
enxerga seus inscritos com homogeneidade e sem relacionamento com questões externas?
Por ser uma avaliação em larga escala, o Enem propõe mudanças em currículos
inapropriados e desenvolve no estudante o desafio do melhor resultado, como Bauer, Alavarse
e Oliveira (2015) traziam em seus estudos. Visualizando o exame de maneira
pedagogicamente crítica, a avaliação enxuga totalmente quaisquer possibilidades de
metodologias diversas, focando apenas no mecânico e no tradicional, ou seja, independente da
teoria de desenvolvimento da aprendizagem em larga escala ou da defasagem do currículo, o
Enem ainda será um exame tradicionalista que incentiva o foco no resultado e promove a
desigualdade social e cultural.
REFERÊNCIAS:
Bauer, A., Alavarse, O. M., & Oliveira, R. P. de. (2015). Avaliações em larga escala:
uma sistematização do debate. Educação E Pesquisa, 41(spe), 1367-1384.
Alves Machado, P. H., & Lima, E. G. dos S. (2014). O ENEM no contexto das
políticas para o Ensino Médio. Perspectiva, 32(1), 355–373.
Wikipedia, disponível em
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Exame_Nacional_do_Ensino_M%C3%A9dio>. Acesso
em 17/09/2022.
Bonamino, A., & Sousa, S. Z. (2012). Três gerações de avaliação da educação básica
no Brasil: interfaces com o currículo da/na escola. Educação E Pesquisa, 38(2), 373-
388.