Você está na página 1de 78

Aula Português

05 2C

Textos jornalísticos:
notícia
Narrativas não ficcionais
Os textos jornalísticos mais comuns são as notícias e as reportagens. Ambas são textos predominantemente nar-
rativos, cujo compromisso básico é a informação. A diferença está na maior profundidade e extensão da reportagem,
em contraposição ao caráter mais imediato da notícia. Elas serão objeto de estudo da próxima aula.
Talvez a pior acusação que se possa fazer contra um jornal ou jornalista é que ele inventou ou distorceu fatos.
Supostamente, a notícia e a reportagem devem ser a expressão da verdade. Nas sociedades democráticas, também se
espera que sejam textos imparciais, ou seja, que não sejam textos opinativos. Por isso, uma regra de ouro do jornalismo
democrático é a necessidade de sempre ouvir os dois lados da notícia.
Isso, contudo, não significa que o jornal não traga textos de opinião – que estudaremos daqui a duas aulas. Eles
estão presentes em quase todos os cadernos. O importante, apenas, é que esse tipo de texto pode ser claramente
distinguido das notícias e reportagens informativas e não opinativas.

Notícia e reportagem
As narrativas jornalísticas são denominadas notícias ou reportagens. Ambos os termos fazem alusão à ideia de que
o autor ou as fontes desses textos estão diretamente ligados aos fatos, relatam aquilo que presenciaram ou com que
tiveram contato próximo. Disso decorre sua veracidade, seu caráter de fato, não de rumor ou boato.
A diferença entre eles estaria na maior extensão e densidade da reportagem, em oposição à notícia. O Manual da
redação e estilo do jornal O Estado de S. Paulo assim se refere a esses dois tipos de texto:

A reportagem pode ser considerada a própria essência de um jornal e difere da notícia pelo conteúdo,
extensão e profundidade. A notícia, de modo geral, descreve o fato e, no máximo, seus efeitos e consequên-
cias. A reportagem busca mais: partindo da própria notícia, desenvolve uma sequência investigativa que não
cabe na notícia. Assim, apura não somente as origens do fato, mas suas razões e efeitos mais importantes e
divide-o, quando se justifica, em retrancas diferentes que poderão ser agrupadas em uma ou mais páginas.
A notícia não esgota o fato: a reportagem pretende fazê-lo.
O ESTADO DE S. PAULO. Manual de redação e estilo (org. e ed. por Eduardo Martins). São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1990, p. 67.

Elementos da notícia e da reportagem


A notícia jornalística é um texto constituído, essencialmente, não apenas do texto escrito em si, mas de variados
recursos gráficos e visuais. Em primeiro lugar, há os recursos tipográficos, como o uso de cor, negrito, itálico, fontes
com corpo maior ou menor, sombreamento, molduras, etc. E a articulação do texto escrito com outros textos, verbais
e não verbais, como a fotografia e sua legenda, tabelas e gráficos, desenhos, ilustrações, mapas, quadros cronológicos,
etc. Na verdade, é assim que em geral se apresentam os textos jornalísticos. Apenas as notas e os textos menores
trazem pouca variação visual.

1
Mais extensa, a reportagem é composta por dois ou mais textos escritos, chamados, no jargão jornalístico, de
retrancas, além dos textos não verbais. Assim, uma reportagem sobre, digamos, um acidente rodoviário causado por
um buraco aberto na pista, pode ser composta por vários elementos e textos. Por exemplo:
• o texto principal, mais longo,

©Folhapress
com as informações específicas
do acidente
• texto com depoimentos das
vítimas
• boxe (texto curto inserido entre
molduras) com a versão dos
responsáveis públicos ou particu-
lares pela conservação da rodovia
• quadro com o histórico de outros
acidentes na mesma rodovia
• fotografia (com respectiva legen-
da) do buraco na pista
• fotografia (com respectiva le-
genda) dos carros envolvidos no
acidente
• mapa com a localização do trecho
da rodovia em que houve o
acidente

` A página ao lado exemplifica o tratamen-


to dado a uma reportagem considerada
mais importante. No dia 17 de dezem-
bro de 2004, os jornais noticiaram que
o número de brasileiros acima do peso é
maior que o de brasileiros subnutridos (o
que não deixa de ser surpreendente, num
país com tantos problemas sociais). A Fo-
lha de S.Paulo dedicou ao tema a página
de abertura de seu caderno Cotidiano
(além de chamada na primeira página e
complemento da reportagem na página
C3). Note que a página é composta de
vários textos e elementos. Além do texto
principal, há um boxe à esquerda e dois
textos na parte inferior (com dois perfis,
um sobre uma mulher acima do peso,
outro sobre uma mulher subnutrida). Há
também duas fotografias com legenda,
ilustração, gráficos, mapas, tabelas e um
quadro-resumo.

Folha de S.Paulo, 17 dez. 2004, p. C1

Também é interesse notar que muitas notícias desdobram-se por dois ou mais dias. No exemplo acima, à primeira
reportagem poderiam seguir-se outras, com as investigações sobre a causa do acidente, as medidas para que não
se repita, as reações das vítimas ou de outros usuários da rodovia, etc. No jargão jornalístico, o texto que retoma e
desenvolve fato publicado no dia anterior é denominado suíte. Nesses casos, é relativamente comum a presença de
uma vinheta, isto é, uma palavra ou expressão que identifique o assunto maior a que a suíte faz referência.

2 Extensivo Terceirão
Aula 05

Produção de textos os elementos a serem relatados. Assim, os parágrafos


seguintes ao lide e ao sublide trazem pormenores que
expõem mais exatamente o fato noticiado.
Notícia jornalística: relato Neste ponto, é bastante comum o recurso a depoimen-
objetivo e não ficcional tos – registrados com falas entre aspas (discurso direto) ou
pela própria voz do repórter (discurso indireto). Afinal, o
Mais tradicional dos gêneros próprios do jornalismo, repórter em geral não presenciou os fatos e, assim, se vale
a notícia é um texto informativo que requer objetivida- das informações obtidas por meio de relatos pessoais.
de, mas não dispensa detalhamento e, eventualmente,
contextualização. Contextualização
O relato jornalístico pode ser caracterizada pelos
seguintes traços: Muitos fatos desdobram-se por vários dias no notici-
ário. Nesses casos, é comum que as notícias apresentem
a) trata-se de um texto informativo e não opinativo, breve contextualização, que resgate fatos anteriores
baseado, portanto, em fatos e não nos pontos de vista necessários para a compreensão do relato do dia.
do autor;
b) trata-se de um texto narrativo não ficcional, ou seja,
aquele em que se relata um acontecimento tido como
Gênero notícia: análise de
verídico; proposta de redação
c) sua linguagem é preponderantemente objetiva, dis- Por meio de uma proposta aplicada recentemente,
tanciando-se, sob esse aspecto, da narrativa literária. vejamos, de forma mais prática, como escrever uma
redação dentro do gênero notícia. Primeiramente, co-
Estrutura nheceremos a proposta para, em seguida, analisarmos
alguns exemplos.
Por sua objetividade e seu caráter prático, trata-se de
um texto relativamente menos variado que outros gêne- (UEPG – PR) – Elabore sua redação, em prosa, com um
ros. Em geral, o relato jornalístico traz alguns elementos mínimo de 10 linhas e máximo de 17 linhas, colocando
estruturais básicos, como os comentados a seguir. um título.
Proposta:
Título
Notícias jornalísticas sempre têm título, também de Há escolas que são gaiolas e há escolas
natureza informativa. O hábito é que este título apresen- que são asas
te verbos no presente do indicativo e substantivos que “Escolas que são gaiolas existem para que os
não estejam acompanhados de artigos. pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros
engaiolados são pássaros sob controle. Engaio-
lados, o seu dono pode levá-los para onde qui-
Lide e sublide ser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono.
O parágrafo inicial da notícia busca responder a ques- Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos
tões essenciais do fato relatado, geralmente expressas pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam
pelas perguntas quem?, o quê?, quando?, onde?, como?, e pássaros engaiolados. O que elas amam são pás-
por quê? Esse princípio geral, todavia, tem duas restrições. saros em voo. Existem para dar aos pássaros
coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não
Muitas vezes uma ou algumas dessas perguntas podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos
não são relevantes ou não têm resposta conhecida no pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode
momento em que a notícia é publicada. Na prática, as ser encorajado.»
quatro primeiras perguntas são as mais frequentes. Adaptado de: Rubem Alves.

Outra possibilidade é distribuir a resposta a essas


perguntas em dois parágrafos, mantendo as mais rele- O texto de apoio destaca dois tipos de escola:
vantes no parágrafo de abertura (o lide propriamente
dito), e as restantes em seguida (no sublide). Escolas que são gaiolas
Escolas que são asas
Detalhamento e depoimentos Escolha apenas UM dos tipos de escola para desenvolver
As respostas às perguntas essenciais, presentes já na um texto no GÊNERO NOTÍCIA. A expressão escolhida
abertura da notícia, não esgotam, naturalmente, todos pode ser utilizada como título/manchete do seu texto.

Português 2C 3
Exemplos de redação
Vamos analisar três redações. Vamos começar por uma avaliada como abaixo da média, até chegarmos à terceira, a
redação considerada acima da média. Comparemos os textos para, assim, entendermos as características de uma boa
redação no gênero notícia.

Redação 01
1 Escolas que são asas
2 Pesquisas recentes apontam que as escolas buscam mais que inserir conteúdos e valorizar
3 notas, elas investem em fazer o aluno a refletir, pesquisar e despertar seu senso crítico.
4 Professores relatam que ao se mostrarem como mestres que encorajam e apoiam os educandos
5 para voarem cada vez mais alto, recebem como resultado animo, participação, maior sucesso na
6 carreira estudantil dos alunos.
7 Ademais, escolas que adotam o método tradicional percebem que o desenvolvimento do aluno
8 “livre” é maior que o aluno “decoreba”. Assim, pretendem alterar seus métodos sem comprometer
9 a identidade da escola, mas proporcionar e incentivar o aluno a desafiar seu potencial elevar suas
10 habilidades e competências, mostrando-lhe como podem chegar cada vez mais longe.
Extraído de: <http://cps.uepg.br/vestibular/documentos/2015_Arquitetura%20da%20redacao_completa.pdf>. Acesso em: 26/01/18

Redação 02
1 Escolas que são asas
2 Uma escola do interior do Paraná desenvolveu um projeto chamado “Mini e Futuros
3 Professores”. O projeto visa aprimorar o conhecimento de alguns alunos e auxiliar no aprendizado
4 de outros.
5 No Mini e Futuros Professores, alunos do 9º. Ano se voluntariaram para auxiliar alunos
6 dos 6º., 7º. e 8º. anos nas matérias em que possuíam dificuldades. “o projeto é bom porque além
7 de ajudarmos os colegas com dificuldades, também acabamos aprendendo um pouco mais e
8 fixando os conteúdos que nós mesmos”, diz João Batista, de 14 anos.
9 As aulas extras são realizadas em contraturnos no próprio colégio, podendo o aluno utilizar
10 seus materiais e recursos para o preparo e a realização das mesmas.
11 “Essas aulas são meio de mostrar aos alunos que todos nós temos algo a passar e a ensinar para
12 alguém, mesmo que de maneira informal, e incentivá-los a sempre procurar pelo aprendizado,
13 ainda que não se sintam preparados o suficiente.”, finaliza a diretora Maria Vitória.
Extraído de: <http://cps.uepg.br/vestibular/documentos/2015_Arquitetura%20da%20redacao_completa.pdf>. Acesso em: 26/01/18

Redação 03
1 Escolas que são asas
2 Projetos que estimulem a criatividade dos alunos são premiadas
3 Ontem, 22 de novembro, no Centro de Cultura de Ponta Grossa, houve a premiação
4 das Instituições que participaram do Projeto “Escolas que são asas”. O trabalho se constituía
5 em elaborar um projeto que estimulasse a criatividade e a liberdade entre os alunos.

4 Extensivo Terceirão
Aula 05

6 A Escola Bet’s foi a ganhadora do prêmio máximo. “Desenvolvemos um projeto que


7 aliava música e literatura, trabalhando com várias inteligências. Tínhamos como meta a
8 criação de uma Banda Marcial e a ampliação da biblioteca. Ofertamos vários instrumentos e
9 aulas teóricas. O requesito básico para cada aula é ler um livro novo. Hoje nossa Banda tem
10 120 músicas e a biblioteca triplicou de tamanho, além de termos oficinas semanais de
11 leitura.” relata a diretora.
12 “Estimular as crianças, tornando-as cidadãos críticos e ativos e dando base para o seu
13 futuro é o que nos motivou a criar esse projeto” diz seu idealizador.
14 Para a próxima edição, 250 escolas já estão inscritas e o tema será: “Educação e futuro:
15 crianças e democracia”. Além do troféu, a escola vencedora ganhará uma rede nova de
16 computadores.
Extraído de: <http://cps.uepg.br/vestibular/documentos/2015_Arquitetura%20da%20redacao_completa.pdf>. Acesso em: 26/01/18

Testes
tes e com dificuldade de tomar decisões. “Os de
Assimilação 18 anos agem como se tivessem 15 em gerações
anteriores”, comenta Twenge. Ela diz que isto tem
Instrução: Texto para a próxima questão. relação com a superconectividade típica desta
geração, que passa em média seis horas por dia
A geração smartphone, que bebe conectada à internet, enviando mensagens e jo-
menos álcool, faz menos sexo e não gando jogos online.
está preparada para a vida adulta Por conta disto, acabam passando menos tem-
Jovens que cresceram na era dos smartphones po com amigos, o que pode afetar o desenvolvi-
estão menos preparados para a vida adulta, se- mento de suas habilidades sociais. O estudo mos-
gundo uma pesquisa americana. A chamada “ge- trou ainda que quanto mais tempo o jovem passa
ração smartphone”, daqueles que nasceram após na frente do computador, maiores os níveis de in-
1995, vem amadurecendo mais lentamente do felicidade. “O que me impressionou na pesquisa
que as anteriores. foi que os adolescentes estavam bastante cientes
Eles são menos propensos a dirigir, trabalhar, dos efeitos negativos dos celulares”, comentou a
fazer sexo, sair e beber álcool, de acordo com Jean pesquisadora. “E um estudo com 200 universitá-
Twenge, professora de Psicologia da Universidade rios que fizemos mostrou que quase todos prefe-
Estadual de San Diego, nos Estados Unidos. Suas ririam ver seus amigos pessoalmente”, continua.
conclusões estão no recém-publicado livro iGen: Essa consciência, no entanto, não se traduz na
Why Today’s Super-Connected Kids are Growing prática. A Geração Smartphone, segundo a pes-
up Less Rebellious, More Tolerant, Less Happy quisa com base no universo americano, sofre com
- and Completely Unprepared for Adulthood altos níveis de ansiedade, depressão e solidão. A
(iGen: Por que as crianças superconectadas estão taxa de suicídio, por exemplo, triplicou na última
crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, me- década entre meninas de 12 a 14 anos.
nos felizes - e completamente despreparadas para 1
Mas, ao mesmo tempo, trata-se de uma ge-
a vida adulta, em tradução livre), com os resul- ração mais realista com o mercado de trabalho
tados de uma investigação baseada em pesquisas e mais disposta a trabalhar duro, o que Twenge
com 11 milhões de jovens americanos e entrevis- vê como “boa notícia para empresas”. “Eles não
tas em profundidade. têm grandes expectativas como as que tinham os
Em entrevista à BBC Mundo, o serviço da BBC millennials (a geração anterior, dos nascidos após
em espanhol, Twenge explicou que esses jovens 1980)”, compara. “Eles estão mais preocupados
cresceram em um ambiente mais seguro e se ex- em estar física e emocionalmente seguros. Bebem
põem menos a situações de risco. Mas, por outro menos e não gostam de riscos.”
lado, chegam à universidade e ao mundo do tra- Segundo o livro, por terem uma infância mais
balho com menos experiências, mais dependen- protegida, têm um crescimento mais lento. Para

Português 2C 5
Twenge, “não gostam de fazer coisas nas quais b) tenham maior possibilidade de estar atentas ao bem-estar
não se sintam seguros, o que fazem é adiar os de seus familiares, por meio de um contato direto com os
prazeres e as responsabilidades”. Embora as prin- profissionais que os assistem.
cipais conclusões pareçam acenar para um sinal c) se aproximem mais dos especialistas de sua confiança, po-
de alerta, a pesquisadora comenta que a geração dendo tirar dúvidas e conferir os serviços oferecidos em seu
smartphone é tolerante com pessoas diferentes e plano de assistência médico-hospitalar, sem sair de casa.
ativa na defesa de direitos LGBT e da população.
“E mais ainda que as gerações anteriores, eles d) compartilhem os resultados das investigações a que fo-
acreditam que as pessoas devem ser o que são”, ram submetidas, e até mesmo o tipo sanguíneo nas redes
completa. sociais, para que sejam orientadas quanto aos melhores
tratamentos e a quem podem recorrer.
Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/
geral-41080541. Acesso em: 29 Ago, 2017. e) socializem com sua rede de amigos uma lista de persona-
gens renomadas na área médica e de sistemas de saúde
que são considerados os mais atualizados.
05.01. (IFSC – adaptada) – Considerando o trecho “Mas, ao
mesmo tempo, trata-se de uma geração mais realista com Instrução: Texto para a próxima questão.
o mercado de trabalho e mais disposta a trabalhar duro, o
que Twenge vê como ‘boa notícia para as empresas’” (ref. 1), No início de 2015, um questionário com 36
assinale a alternativa CORRETA. perguntas e quatro minutos ininterruptos de con-
tato visual ficou conhecido por causa de um arti-
a) A palavra “Mas” pode ser substituída por “além disso”, sem
go da escritora Mandy Len Catron, publicado no
prejuízo de sentido.
jornal norte-americano The New York Times. No
b) Ser “mais realista (...) e mais disposta para trabalhar duro” texto, ela conta a história de como se apaixonou
são características da geração smartphone. pelo marido com a ajuda de um método usado
c) As aspas em “boa notícia para as empresas” servem para para criar intimidade romântica em laboratório,
indicar a fala do autor da notícia. experimento criado há mais de 20 anos pelo pro-
d) Ser “mais realista (...) e mais disposta a trabalhar duro” são fessor de psicologia social Arthur Aron, da Uni-
características atribuídas aos jovens da geração millennial. versidade de Stony Brooks, nos Estados Unidos.
e) Estar “mais disposta a trabalhar duro” tem sentido equiva- Em nove dias, o texto foi lido por mais de
lente a ter grandes expectativas em relação ao mercado 5 milhões de pessoas e compartilhado 270 mil
de trabalho. vezes no Facebook (inclusive por Mark Zucker-
berg). “Criamos esse questionário a fim de ter um
05.02. (EBMSP) – Um novo app promete usar a tecnologia método para ser usado em laboratório e estudar
para aproximar médicos e pacientes. Batizado de Docpad, os efeitos da intimidade na vida social de uma
o aplicativo criado por brasileiros foi lançado no começo pessoa. Esse método já foi utilizado em centenas
do mês. de estudos”, disse Aron à reportagem.
Quando foi criado, o estudo tinha regras bem
Quem quiser usar o Docpad deve informar da- rígidas: um homem e uma mulher heterossexuais
dos, como tipo sanguíneo e plano de saúde. Após entram em um laboratório por portas separadas.
o cadastro inicial, o usuário pode usar seu perfil Eles se sentam frente a frente e respondem às per-
para salvar e compartilhar exames, criar uma lista guntas, que têm um teor cada vez mais pessoal.
de médicos de sua confiança e marcar consultas Essa fase leva cerca de 45 minutos e, em seguida,
com profissionais que também usem o aplicativo. é preciso encarar o outro nos olhos durante quatro
“Nossa ideia era criar um app que ajudasse as minutos, sem desviar o foco. Na experiência con-
pessoas a cuidar da saúde de amigos e familiares”, duzida pelo professor Aron, dois participantes do
explicou em entrevista a EXAME.com o diretor teste se casaram depois de seis meses e chamaram
de tecnologia da ThinkTank, startup que está por os funcionários do laboratório para a cerimônia.
trás do app. LOUREIRO, G. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/
Revista/noticia/2015/03/querencontrar-o-amor-ciencia-e-
BRASILEIROS criam app que aproximam médicos e pacientes. Disponível tecnologia-podem-te-ajudar.html >. Acesso em: 10 out. 2016.
em: <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/brasileiros-criam-
app-que-aproxima-medicos-e-pacientes>. Acesso em: 23 set. 2016.
05.03. (UEMG) – Assinale a alternativa em que o trecho
Da leitura do texto, é correto afirmar que as novas tecnologias em destaque tem a função de dar ênfase à informação
de informação e comunicação permitem que as pessoas apresentada no excerto:
a) possam acompanhar, de forma mais sistemática, a sua a) “Eles se sentam frente a frente e respondem às perguntas,
saúde, tendo acesso mais rápido e prático aos seus mé- que têm um teor cada vez mais pessoal.”
dicos e seus exames. b) “Em nove dias, o texto foi lido por mais de 5 milhões de
pessoas e compartilhado 270 mil vezes no Facebook
(inclusive por Mark Zuckerberg)”.

6 Extensivo Terceirão
Aula 05

c) “[...] um método usado para criar intimidade romântica 05.05. (CM – RJ) – Assinale V, para as informações VERDA-
em laboratório, experimento criado há mais de 20 anos DEIRAS, e F, para as informações FALSAS. Depois indique a
pelo professor de psicologia social Arthur Aron”. alternativa que apresenta a ordem correta de preenchimento
d) “No início de 2015, um questionário com 36 perguntas e dos parênteses, de cima para baixo.
quatro minutos ininterruptos de contato visual ficou Diante dos fatos apresentados no texto, pode-se concluir que
conhecido por causa de um artigo da escritora Mandy ( ) a culpa de o menino fazer birra é do pipoqueiro.
Len Catron”. ( ) a culpa da falta de controle do menino é da criação
da mãe.
Instrução: Texto para a próxima questão. ( ) Ancelmo Gois, o jornalista que noticia o ocorrido, con-
sidera o pedido da mãe correto.
Imagine alguém contando essa historinha: “De- ( ) A mãe pediu ajuda a Ancelmo Gois para forçar a saída
pois de receber uma premagem, o ludâmbulo des- do pipoqueiro da porta da escola.
ligou o lucivelo, colocou o focale, chamou o cine- ( ) Ancelmo Gois fez uso da ironia para criticar a atitude da
síforo e foi ao local da runimol de que teve notícia mãe do menino.
por um amigo alvissareiro”. Assim seria contada a) V – F – V – F – V
essa historinha se se tivesse adotado a proposta de
b) F – V – V – F – V
Antônio Castro Lopes, filólogo que viveu de 1827 a
1901. Os neologismos que ele propôs, como ludâm- c) F – V – V – V – V
bulo, focalo e cinesíforo não pegaram. Então pode- d) F – V – F – F – F
mos contar hoje a mesma historinha assim: “Depois e) F – V – F – F – V
de receber uma massagem, o turista desligou o aba-
jur, colocou o cachecol, chamou o motorista e foi ao Instrução: Texto para a próxima questão.
local da avalanche de que teve notícia por um amigo
repórter”. Acho muito estranho nessas palavras a No Brasil, a política é o tipo de intolerância
proposta de usar “alvissareiro” em vez de repórter. de maior audiência na internet. A conclusão é de
Alvíssaras é uma palavra sempre relacionada a boas uma pesquisa da agência de propaganda Nova/
notícias, o que não é bem o caso da maioria do que SB, realizada no ano de 2016, que mapeou os dez
ouvimos ou lemos dos repórteres. tipos mais recorrentes de extremismos nas redes
BENEDITO, M. Disponível em: <https://blogdaboitempo.com.br/2016/03/11/ sociais. Uma rápida navegação comprova esse re-
chato-cricri-ezung- zung/>. Acesso em: 03 out. 2016. (Adaptado).
sultado, que se agrava de forma cruel e pessimis-
ta, uma vez que são raras as vezes em que há um
05.04. (UEMG) – No fragmento, o autor questiona o empre- debate inteligente ou preocupado com questões
sociais e coletivas. A discussão é feroz, infantil e
go do termo “alvissareiro” por considerá-lo
cega, e não há vencedores ao final.
a) distante da realidade linguística do português brasileiro.
A intolerância das pessoas chega a ser mesqui-
b) impróprio para designar o dia a dia do trabalho de repórter.
nha, pequena e imoral. Agem como se não hou-
c) estranho para ser utilizado como sinônimo de“más notícias”. vesse impunidade, pois existe a ilusão de que o
d) inadequado diante do teor negativo atribuído a notícias mundo digital é uma terra de ninguém, quando
jornalísticas. muitos casos poderiam ser enquadrados em cri-
mes cibernéticos. De insultos a notícias falsas, as
infrações no mundo digital também devem ser
Aperfeiçoamento julgadas e punidas sem exceção.
Instrução: Texto para a próxima questão. Uma pesquisa da Quartz divulgada em janei-
ro deste ano, constatou que 55% dos brasileiros
consideram que não há nada na internet além do
Mãe que não consegue dizer ‘não’ ao filho pede Facebook. Para boa parte dos entrevistados, o Fa-
à escola que proíba pipoqueiro na porta cebook e a internet são a mesma coisa. Nos EUA,
Ancelmo Gois
o índice foi de apenas 5%.
Madame não educa
DIAS, Eliane. Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores
A mãe de um aluno de um colégio particular que emudecem.
tradicional da Tijuca, no Rio, pediu que a direção Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/-home/
proíba o pipoqueiro de trabalhar na porta da esco- internet-nao-e-o-facebook/>. Acesso em: ago. 2017.

la. É que ela proibiu o filho de comer pipoca. Mas,


sempre que vê o pipoqueiro, o miúdo pede à mãe 05.06. (EBMSP) – De acordo com o texto, é correto inferir:
para comprar. E ela não sabe dizer não. Ah, bom!
a) O Brasil é um país em que as reflexões políticas se de-
Blog do Ancelmo Gois, Jornal O Globo, 08/08/2017. Disponível em:
<https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/mae-que-nao-
senvolvem apenas por meio da internet, o que acaba
consegue-dizer-nao-ao-filho-pede-escola-queproiba-pipoqueiro- por generalizar a postura crítica e coletiva dos cidadãos.
na-porta.html>. Acesso em: 10 ago. 2018. (Adaptado)

Português 2C 7
b) A maioria dos brasileiros não amplia as possibilidades
de uso da internet, limitando a sua experiência virtual Com a transferência de Neymar, Doha pode
à rede social onde mais há expressão de intolerância à estar de olho em investir em ‘soft power’. O con-
ceito de ‘soft power’ (‘poder suave’, em tradução
diversidade de pensamento político.
livre) foi elaborado para definir a influência de
c) Os debates políticos comprometidos com a ética e o países nas relações internacionais por meio de in-
respeito às alteridades se limitam ao âmbito do Facebook, vestimentos em ações positivas.
não se concretizando nas práticas sociais do cotidiano.
“Esse é um golpe de ‘soft power’. O Catar pre-
d) Os norte-americanos, ao contrário dos brasileiros, não cisa demonstrar ao mundo que, apesar de todas
utilizam o Facebook para expressar intolerância em rela- as acusações, é o país mais resiliente no Oriente
ção a posicionamentos políticos, buscando meios mais Médio”, disse4 à AFP Andreas Krieg, analista de
legítimos e democráticos. risco político no King’s College de Londres. “Ter
e) A prática do preconceito e a intolerância à diversidade o melhor jogador do mundo mostra ao resto do
de pensamento, no Brasil, se justificam pela ausência de mundo que se o Catar é determinado, eles ainda
punição, o que agrava e aumenta a cada ano os compor- têm os maiores recursos para tirar e, se necessá-
tamentos extremistas e as injúrias. rio, usar o dinheiro que têm para promover a sua
agenda”, acrescentou.
Instrução: Texto para a próxima questão. O custo da transferência de Neymar “envia um
sinal muito forte para o mundo esportivo e um
Transferência de Neymar ao PSG é sinal muito forte de desafio contra os Emirados
golpe de ‘soft power’ do Catar a países Árabes Unidos e a Arábia Saudita”, disse Krieg.
do Golfo, dizem especialistas “Eles queriam esse jogador e usaram o dinheiro
A transferência do fenômeno1 brasileiro Ney- para comprá-lo a qualquer preço”. [...]
mar ao Paris Saint-Germain (PSG) representa https://g1.globo.com/mundo/noticia/transferenciade-neymar-ao-psg-e-
uma estratégia de marketing e um golpe de ‘soft golpe-de-soft-power-docatar-a-paises-do-golfo-dizem-especialistas.ghtml
power’ do Catar contra os países do Golfo que
cortaram relações diplomáticas com o emirado.
Esta é a análise de especialistas ouvidos pela agên- 05.07. (UECE) – A notícia é tomada como um gênero textual
cia de notícias France Presse e do comentarista da da esfera jornalística que tem como objetivo divulgar temas
GloboNews, Marcelo Lins. da atualidade de maneira imparcial. Na notícia acima, este
Neymar se tornou o jogador mais caro da his- objetivo é alcançado pelo enunciador por meio de alguns
tória do futebol, com o pagamento da cláusula recursos linguísticos textuais, EXCETO pelo (a)
de rescisão no valor de € 222 milhões (R$ 812 a) uso predominante do discurso direto como forma de o
milhões). enunciador atribuir a outrem as informações divulgadas.
Segundo Mathieu Guidere, especialista em ge- b) presença de elementos linguísticos avaliativos, como o
opolítica do mundo árabe consultado pela AFP, termo “fenômeno” (referência 1), que amplia a dimensão
o anúncio da transferência do jogador ao PSG, informativa do gênero notícia.
que é de um fundo de investimentos do Catar, c) emprego de verbos dicendi, como “afirmou” (referência
“foi testado entre catarianos como uma espécie de 2) e “disse” (referências 3 e 4), para isentar o enunciador
estratégia de comunicação que ofuscaria o debate de revelar o seu ponto de vista.
em torno de outras considerações, como o terro- d) presença do relato em terceira pessoa, o qual busca um
rismo”. distanciamento em relação ao fato, o que constrói a ideia
Marcelo Lins, comentarista da GloboNews, da objetividade, de forma a sustentar a credibilidade da
afirmou2 que a transferência beneficia a imagem informação.
do Catar. “Um pequeno país riquíssimo em pe-
tróleo, do Golfo, que bota tanto dinheiro para dar Instrução: Texto para a próxima questão.
alegria a uma torcida, ou a milhões de torcedo-
res espalhados pelo mundo... você tem uma volta Orgânicos: definição, composto e
disso na imagem do Catar, que é muito grande”, como fazer a compostagem
disse3 à GloboNews. “É uma grande jogada de
SUA HISTÓRIA
marketing do Catar como um todo”, acrescentou.
A matéria orgânica é definida biologicamen-
O Catar enfrenta a sua pior crise política em
te como matéria de origem animal ou vegetal e
décadas, com a Arábia Saudita e outros países do
geologicamente como compostos de origem or-
Golfo tendo cortado relações diplomáticas com o
gânica, encontrados sob a superfície do solo. Os
emirado por acusações de apoio a grupos terroris-
papéis, que são feitos com fibra vegetal, também
tas. O Catar nega as acusações e diz que o objeti-
são considerados matéria orgânica, porém, trata-
vo é prejudicar o emirado rico em gás.
remos dele separadamente.

8 Extensivo Terceirão
Aula 05

Falaremos aqui do aproveitamento de restos em presença de umidade e oxigênio, se alimen-


de comida (cascas de frutas e verduras, folhas, tam dessa matéria e propiciam que seus elementos
talo, etc.) para a fertilização do solo, num proces- químicos e nutrientes voltem à terra. Essa decom-
so conhecido como compostagem. posição envolve processos físicos e químicos que
ocorrem em matas, parques e quintais. Os proces-
COMPOSTAGEM: A RECICLAGEM NA NA-
sos físicos são realizados por invertebrados como
TUREZA
ácaros, centopeias, besouros, minhocas, lesmas e
A compostagem é um processo de transfor- caracóis que transformam os resíduos em peque-
mação que pode ser executado com parte do nas partículas. Já os processos químicos, incluem
nosso lixo doméstico resultando em um excelen- a ação de bactérias, fungos e alguns protozoários
te adubo para ser utilizado em hortas, vasos de que degradam os resíduos em partículas meno-
plantas, jardins ou algum terreno que você tenha res, dióxido de carbono e água. Essa técnica vem
disponível. Este é um dos métodos mais antigos sendo utilizada há mais de cinco mil anos pelos
de reciclagem no qual imitamos os processos da chineses (FREIRE, 2003) e é uma prática utilizada
natureza para melhorarmos a terra. O conceito de em propriedades rurais.
resíduo na natureza passou a existir com a sua
Disponível em: http://www.recicloteca.org.br/material-reciclavel/
excessiva geração aliada à crescente produção e
organicos/. Acesso em: 7/9/2016. (Texto adaptado)
uso de materiais sintéticos que não se degradam
facilmente, além da utilização de substâncias quí-
micas perigosas, como tintas, solventes e metais 05.08. (IFSC) – Assinale a alternativa que contém a afirma-
pesados utilizados em baterias, entre outras (FI- ção CORRETA em relação ao texto.
GUEIREDO, 1995). a) Trata-se de um texto que busca esclarecer o leitor sobre
Dos resíduos gerados no estado do Rio de o processo de compostagem e a importância, para a
Janeiro, cerca de 52% são orgânicos, contra preservação da natureza, de se separarem os resíduos
44% de recicláveis e 9% de rejeitos. Em anos, orgânicos presentes no lixo.
a porcentagem de lixo orgânico aumentou 16% b) O texto é uma crônica porque trata de um assunto do dia
(COMLURB, 2001). É importante ressaltar que a dia: a separação do lixo doméstico no Rio de Janeiro.
nem todos os 52% podem ser compostados. O c) É uma notícia porque responde as perguntas: O quê?
conceito de resíduo na natureza passou a existir
Quem? Quando? Como? Onde? e Por quê? E tem como
com a sua excessiva geração aliada à crescente
tema a Usina de Compostagem de Irajá, no Rio de Janeiro.
produção e uso de materiais sintéticos que não
se degradam facilmente, além da utilização de d) É um texto narrativo que conta, em primeira pessoa, a
substâncias químicas perigosas, como tintas, sol- história das famílias cariocas que separam o lixo domés-
ventes e metais pesados utilizados em baterias, tico para compostagem.
entre outras (FIGUEIREDO, 1995). Além disso, e) É um texto essencialmente dissertativo porque apresenta
elementos químicos perigosos ao meio ambiente os prós e contras de se fazer a separação do lixo doméstico
e à saúde contaminam o composto e comprome- para a compostagem.
tem a sua qualidade.
Segundo estudos feitos na Usina de Compos- Instrução: Texto para a próxima questão.
tagem de Irajá, no Rio de Janeiro, existe cerca de
5% de metais pesados por de composto (AZE- Gabarito da segunda aplicação do Enem
VEDO et al., 2003). Esse elevado percentual de 2016 é divulgado; uma questão é anulada
metal pesado e de material orgânico não compos- Enem de dezembro ocorreu devido às
tável em nosso lixo retrata o baixo percentual de ocupações de locais de prova por movimentos
resíduo orgânico que é transformado em compos- estudantis. Inep divulgou respostas oficiais
to, não só no Brasil, com somente 1% mas em nesta quarta (7); nota final sai em janeiro.
países que já fazem a separação prévia de seus O gabarito oficial da segunda aplicação do
materiais, como a Alemanha cujo índice chega a Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi di-
5% (BALERINI, 2000). vulgado nesta quarta-feira (7), pelo Instituto Na-
O QUE É COMPOSTO E COMPOSTAGEM? cional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aní-
sio Teixeira (Inep). Uma das questões da prova
O composto é um material escuro usado como de ciências da natureza foi anulada, na prova de
um tipo de adubo também chamado de terra pre- sábado, dia 3 de dezembro: é a 52 na prova ama-
ta ou húmus. rela, 88 na rosa, 60 na azul e 58 na branca.
Compostagem é o processo de decomposição A pergunta pedia que o candidato analisasse
biológica da matéria orgânica contida em resídu- quatro gráficos. De acordo com o Inep, embora
os animais ou vegetais. É feita por muitas espécies não haja incorreções nos dados, “as escalas apre-
de micro-organismos e animais invertebrados que sentadas podem ter dificultado a visualização dos

Português 2C 9
pontos relativos à concentração de gases e assim, violação de direitos humanos não prende mais o
a partir de um cálculo mais sofisticado, permiti- indivíduo a correntes, mas compreende outros
do uma segunda interpretação por alguns parti- mecanismos, que acometem a dignidade e a liber-
cipantes”. Segundo o órgão, a pergunta não será dade do trabalhador e o mantêm submisso a uma
considerada no cálculo das proficiências. “Como situação extrema de exploração.
a prova do Enem é baseada na Teoria de Resposta Qualquer um dos quatro elementos abaixo é
ao Item (TRI), a anulação não tem impacto no re- suficiente para configurar uma situação de traba-
sultado final”, afirma o comunicado do Inep. lho escravo:
Disponível em: http://g1.globo.com/educacao/enem/2016/ TRABALHO FORÇADO: o indivíduo é obri-
noticia/gabarito-da-segunda-aplicacao-do-enem-2016-
e-divulgado.ghtml. Acesso em 10 Dez 2016. gado a se submeter a condições de trabalho em
que é explorado, sem possibilidade de deixar o
local seja por causa de dívidas, seja por ameaça e
05.09. (IFSC) – Considerando o texto, analise as afirmações violências física ou psicológica.
abaixo e assinale a alternativa CORRETA. JORNADA EXAUSTIVA: expediente penoso
I. O título e o subtítulo desse texto concentram as infor- que vai além de horas extras e coloca em risco a
mações relevantes que serão apresentadas a seguir, de integridade física do trabalhador, já que o interva-
modo a reforçar os objetivos do gênero notícia: relatar lo entre as jornadas é insuficiente para a reposição
fatos e informar o leitor, de modo objetivo. de energia. Há casos em que o descanso semanal
II. Para auxiliar o efeito de objetividade necessário à notícia, não é respeitado. Assim, o trabalhador também
o texto utiliza a terceira pessoa do discurso. fica impedido de manter vida social e familiar.
III. O autor dessa notícia usa predominantemente os verbos SERVIDÃO POR DÍVIDA: fabricação de dí-
no pretérito imperfeito, para marcar a sequência dos vidas ilegais referentes a gastos com transporte,
fatos relatados. alimentação, aluguel e ferramentas de trabalho.
IV. A citação de datas, de quantidades e de fontes específicas Esses itens são cobrados de forma abusiva e des-
contribui para a imparcialidade do texto e traz credibi- contados do salário do trabalhador, que permane-
ce sempre devendo ao empregador.
lidade à notícia.
a) Somente as afirmações II e IV são verdadeiras. CONDIÇÕES DEGRADANTES: um conjunto
de elementos irregulares que caracterizam a pre-
b) Somente as afirmações I, II e IV são verdadeiras. cariedade do trabalho e das condições de vida sob
c) Somente as afirmações I, II e III são verdadeiras. a qual o trabalhador é submetido, atentando con-
d) Somente a afirmação III é verdadeira. tra a sua dignidade.
e) Somente as afirmações I e II são verdadeiras. Quem são os trabalhadores escravos? Em ge-
ral, são migrantes que deixaram suas casas em
Instrução: Texto para a próxima questão. busca de melhores condições de vida e de sus-
tento para as suas famílias. Saem de suas cidades
TRABALHO ESCRAVO É AINDA atraídos por falsas promessas de aliciadores ou
UMA REALIDADE NO BRASIL migram forçadamente por uma série de motivos,
Esse tipo de violação não prende mais o in- que podem incluir a falta de opção econômica,
divíduo a correntes, mas acomete a liberdade do guerras e até perseguições políticas. No Brasil, os
trabalhador e o mantém submisso a uma situação trabalhadores provêm de diversos estados das re-
de exploração. giões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, mas tam-
bém podem ser migrantes internacionais de paí-
O trabalho escravo ainda é uma violação de
ses latino-americanos – como a Bolívia, Paraguai
direitos humanos que persiste no Brasil. A sua
e Peru –, africanos, além do Haiti e do Oriente
existência foi assumida pelo governo federal pe-
Médio. Essas pessoas podem se destinar à região
rante o país e a Organização Internacional do
de expansão agrícola ou aos centros urbanos à
Trabalho (OIT) em 1995, o que fez com que se
procura de oportunidades de trabalho.
tornasse uma das primeiras nações do mundo a
reconhecer oficialmente a escravidão contempo- Tradicionalmente, o trabalho escravo é em-
rânea em seu território. Daquele ano até 2016, pregado em atividades econômicas na zona rural,
mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de como a pecuária, a produção de carvão e os cul-
situações análogas à de escravidão em atividades tivos de cana-de-açúcar, soja e algodão. Nos últi-
econômicas nas zonas rural e urbana. mos anos, essa situação também é verificada em
centros urbanos, principalmente na construção
Mas o que é trabalho escravo contemporâneo?
civil e na confecção têxtil.
O trabalho escravo não é somente uma violação
trabalhista, tampouco se trata daquela escravidão No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao tra-
dos períodos colonial e imperial do Brasil. Essa balho escravo rural são homens. Em geral, as ati-

10 Extensivo Terceirão
Aula 05

vidades para as quais esse tipo de mão de obra é


utilizado exigem força física, por isso os aliciado- Aprofundamento
res buscam principalmente homens e jovens. Os
dados oficiais do Programa Seguro-Desemprego Instrução: Texto para as próximas 2 questões.
de 2003 a 2014 indicam que, entre os trabalhado-
res libertados, 72,1% são analfabetos ou não con- Vídeos falsos confundem o público e a imprensa
cluíram o quinto ano do Ensino Fundamental. Por Jasper Jackson, tradução de Jo Amado.
Muitas vezes, o trabalhador submetido ao tra- Cerca de duas horas depois da divulgação dos
balho escravo consegue fugir da situação de ex- atentados de terça-feira (22/03) em Bruxelas, apa-
ploração, colocando a sua vida em risco. Quando receu um vídeo no YouTube, sob a alegação de que
tem sucesso em sua empreitada, recorre a órgãos seriam imagens do circuito fechado de televisão
governamentais ou organizações da sociedade ci- (CCTV), mostrando uma explosão no aeroporto
vil para denunciar a violação que sofreu. Diante Zaventem, da cidade. As imagens rapidamente se
disso, o governo brasileiro tem centrado seus es- espalharam pelas redes sociais e foram divulgadas
forços para o combate desse crime, especialmente por alguns dos principais sites de notícias. Depois
na fiscalização de propriedades e na repressão por desse, surgiu outro vídeo, supostamente mostran-
meio da punição administrativa e econômica de do uma explosão na estação de metrô Maelbeek,
empregadores flagrados utilizando mão de obra próxima ao Parlamento Europeu, e ainda um ou-
escrava. tro, alegando ser do aeroporto.
Enquanto isso, o trabalhador libertado tende Entretanto, nenhum dos vídeos era o que ale-
a retornar à sua cidade de origem, onde as con- gava ser. Os três vídeos eram gravações de 2011,
dições que o levaram a migrar permanecem as dois de um atentado ao aeroporto Domodedovo,
mesmas. Diante dessa situação, o indivíduo pode de Moscou, e um de uma bomba que explodiu
novamente ser aliciado para outro trabalho em numa estação de metrô de Minsk, capital da Be-
que será explorado, perpetuando uma dinâmica larus.
que chamamos de “Ciclo do Trabalho Escravo”.
As imagens distorcidas dos clipes do circuito
Para que esse ciclo vicioso seja rompido, são fechado de televisão foram convertidas de cor em
necessárias ações que incidam na vida do tra- preto e branco, horizontalmente invertidas, no-
balhador para além do âmbito da repressão do vamente etiquetadas e postadas como se tivessem
crime. Por isso, a erradicação do problema pas- surgido dos acontecimentos do dia. Embora a
sa também pela adoção de políticas públicas de conta do YouTube que compartilhou as imagens
assistência à vítima e prevenção para reverter a com falsos objetivos tenha sido rapidamente tira-
situação de pobreza e de vulnerabilidade de co- da do ar, outros veículos as reproduziram dizendo
munidades. que eram de Bruxelas.
Adaptado.SUZUKI, Natalia; CASTELI, Thiago. Trabalho escravo
é ainda uma realidade no Brasil. Disponível em: <http://www.
Os vídeos ilusórios são exemplos de um fe-
cartaeducacao.com.br/aulas/fundamental-2/trabalho-escravo- nômeno que vem se tornando cada vez mais co-
e-ainda-uma-realidade-no-brasil/>. Acesso: 19 mar. 2017. mum em quase todas as matérias importantes que
tratam de acontecimentos violentos e que ocor-
rem rapidamente. Reportagens falsas ou ilusórias
05.10. (IFPE) – Em relação ao gênero textual, é CORRETO espalham-se rapidamente pelas redes sociais e são
afirmar que o texto é acessadas por organizações jornalísticas respeitá-
a) artigo de opinião, pois os autores se utilizam de um tema, veis, confundindo ainda mais um quadro já incri-
a escravidão no Brasil contemporâneo, para defender o velmente confuso.
ponto de vista que têm acerca dessa problemática. A disseminação e divulgação de falsas infor-
b) uma notícia, por expor um fato importante, a existência mações não têm nada de novo, mas a internet tor-
de escravidão no Brasil contemporâneo, indicando seus nou mais fácil plantar matérias e provas falsas e
responsáveis, bem como outras informações necessárias, ilusórias, que serão amplamente compartilhadas
a exemplo de local, momento e modo como este ocorreu. pelo Twitter e pelo Facebook.
c) uma reportagem, por oferecer ao leitor informações sobre Alastair Reid, editor administrativo do site
um tema, a escravidão contemporânea no Brasil, com First Draft, que é uma coalizão de organizações
extensão e profundidade que caracterizam esse gênero. que se especializam em checar informações e
d) um texto instrucional, por apresentar as maneiras através conta com o apoio do Google, disse que parte do
das quais é possível evitar que pessoas se submetam ao problema é que qualquer pessoa que publique em
trabalho escravo no Brasil. plataformas como o Facebook tem a capacidade
e) um relato feito por pessoas que já vivenciaram uma de atingir uma audiência tão ampla quanto aque-
situação de escravidão e narram a sequência desse las que são atingidas por uma organização jorna-
acontecimento. lística. “Pode tratar-se de alguém tentando desviar

Português 2C 11
propositalmente a pauta jornalística por motivos c) as organizações jornalísticas deveriam ter exclusividade
políticos, ou muitas vezes são apenas pessoas que na divulgação de fatos violentos, como atos terroristas.
querem os números, os cliques e os compartilha- d) falsas notícias são facilmente divulgadas e compartilhadas
mentos porque querem fazer parte da conversa nas redes sociais por motivos diversos.
ou da validade da informação”, disse ele. “Eles
e) as organizações jornalísticas de credibilidade também são
não têm quaisquer padrões de ética, mas têm o
responsáveis pela divulgação de notícias falsas.
mesmo tipo de distribuição.”
Nesse meio tempo, a rápida divulgação das 05.13. (ITA – SP) – Marque a opção que NÃO constitui causa
notícias online e a concorrência com as redes so- de divulgação de informações falsas na internet por orga-
ciais também aumentaram a pressão sobre as or- nizações jornalísticas respeitáveis, de acordo com o texto.
ganizações jornalísticas para serem as primeiras a a) A rapidez com que as informações são divulgadas online.
divulgar cada avanço, ao mesmo tempo em que
b) A pressão para serem as primeiras a divulgar as novidades.
eliminam alguns dos obstáculos que permitem
informações equivocadas. c) A concorrência com as redes sociais.
Uma página na web não só pode ser atuali- d) A credibilidade despertada pela boa qualidade das
zada de maneira a eliminar qualquer vestígio de imagens falsas.
uma mensagem falsa, mas, quando muitas pes- e) A impossibilidade de retirada de algo já veiculado.
soas apenas se limitam a registrar qual o website
em que estão lendo uma reportagem, a ameaça Instrução: Texto para a próxima questão.
à reputação é significativamente menor que no
jornal impresso. Em muitos casos, um fragmento CAMPANHA DE DOAÇÃO DE SANGUE
de informação, uma fotografia ou um vídeo são APORTA NO CIN DA UFPE
simplesmente bons demais para checar. O Programa de Educação Tutorial (PET) de
Alastair Reid disse: “Agora talvez haja mais Informática promove, na próxima quarta-feira,
pressão junto a algumas organizações para agirem uma campanha de doação de sangue no Centro
rapidamente, para clicar, para ser a primeira… E de Informática (CIn) da Universidade Federal de
há, evidentemente, uma pressão comercial para Pernambuco. A ação foi articulada em parceria
ter aquele vídeo fantástico, aquela foto fantástica, com o Hemope. Para doar, basta portar a carteira
para ser de maior interesse jornalístico, mais com- de identidade ou Carteira Nacional de Habilitação
partilhável e tudo isso pode se sobrepor ao desejo (CNH) e comparecer ao Centro de 8h30 às 12h
de ser certo.” ou de 13h30 às 17h. É importante lembrar que
Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/terrorismo/videos- crachás não poderão ser utilizados como docu-
falsos-confundem-o-publico-e-a-imprensa/. (Publicado originalmente mento de identificação. O posto de doação estará
no jornal The Guardian em 23/3/2016. Acesso em 30/03/2016.) localizado no Bloco A do CIn.
Para doar, é necessário ter entre 18 e 60 anos,
05.11. (ITA – SP) – De acordo com o texto, ter peso superior a 50 kg e não ter feito tatuagens
a) a divulgação deliberada de informações e vídeos falsos ou piercings recentemente. É necessário também
pela internet é um comportamento antiético. estar descansado e bem alimentado, não ingerir
bebida alcoólica nas 12 horas que antecedem a
b) notícias veiculadas em redes sociais, como Facebook e doação e estar em boas condições de saúde.
Twitter, não merecem credibilidade por parte do leitor.
Há a oportunidade de ajudar na realização da
c) as adaptações feitas em fotos normalmente são grosseiras
campanha além da doação, participando como
e, por isso, despertam a desconfiança dos leitores. voluntário. Os interessados devem enviar um
d) acontecimentos extremamente sérios são banalizados e email para petcomputacao-l@cin.ufpe.br infor-
propositalmente deturpados por organizações jornalís- mando o seu nome e a melhor forma de contato.
ticas respeitáveis. Diário de Pernambuco (versão on-line). Disponível em: <<http://www.
e) a concorrência acirrada pela audiência é a única respon- diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2017/03/15/
interna_vidaurbana,694183/campanha-de-doacao-de-sangue-
sável pela eventual divulgação de dados incorretos pela aporta-no-cin-da-ufpe.shtml>>. Acesso: 08 maio 2017.
imprensa.

05.12. (ITA – SP) – De acordo com o texto, é INCORRETO 05.14. (IFPE) – A principal informação veiculada pela notícia
afirmar que que compõe o texto é
a) a reputação de um jornal impresso é mais vulnerável do a) os critérios necessários para uma pessoa ser considerada
que a de uma página na web quanto à divulgação de apta a doar sangue.
notícias falsas. b) a parceria firmada entre a universidade e o Hemope.
b) interesses comerciais podem ser razões para a divulgação c) o acontecimento de uma campanha de doação de
precipitada de fotos e vídeos na rede. sangue.

12 Extensivo Terceirão
Aula 05

d) a importância de levar a documentação adequada no 05.16. (PUCPR) – Leia o texto, analise as afirmações feitas e
ato da doação. escolha a opção CORRETA.
e) a oportunidade de ajudar na realização da campanha,
atuando como voluntário. Hackers podem acessar mensagens de 600
milhões de smartphones da Samsung
05.15. (PUCPR) – De acordo com o texto, analise as afirma- Foi descoberta uma vulnerabilidade
ções e marque a alternativa CORRETA. no software dos gadgets
Se você tem um Galaxy é bom ficar longe de
O que aconteceria se a internet conexões abertas de wi-fi. Foi descoberta uma
deixasse de existir? vulnerabilidade no software dos smartphones que
Não seria tarefa fácil derrubar todas as redes permite que hackers acessem a câmera do celular,
conectadas que compõem a internet, mas, se isso ouçam o microfone, leiam mensagens enviadas
acontecesse, as consequências seriam radicalmen- ou recebidas e instalem apps. E, além de ficar fora
te mais graves que o fim dos emoji trocados com de redes que não sejam protegidas (o que ainda
seus amigos. “Se a internet deixasse de existir, se- não garante proteção completa), há pouco que os
ria como dizimar um continente com mais de 2 usuários podem fazer.
bilhões de pessoas”, afirma Humberto de Sousa O hack funciona a partir de uma falha no sis-
Delgado, coordenador de tecnologia em redes de tema IME de teclado, uma versão nova do Swif-
computadores e sistemas para internet da Fiap. tKey que a Samsung inclui nos telefones. Esse
Basicamente, toda a produção econômica do software pede por atualizações periódicas para
mundo seria comprometida – na indústria, no um servidor, mas hackers podem ‘fingir’ ser o ser-
setor de serviços, nas transações comerciais ou vidor e enviar malwares para o aparelho. Então
nas operações financeiras nas bolsas de valores –, não importa se o usuário faz uso desse software
com consequências imprevisíveis no âmbito polí- específico, já que os pedidos por atualizações são
tico e social. feitos ao servidor de forma automática.
A falha é confirmada nos modelos Samsung
“Segundo dados de pesquisa realizada pela Galaxy S6, S6 e Galaxy S4 Mini – porém, pode
Federação Brasileira de Bancos, as transações estar ativa em outros telefones Galaxy.
via internet banking superaram qualquer outro A Samsung afirmou que já lançou a atualiza-
meio de operação e já são em número quatro ve- ção para as operadoras de telefonia móvel – e elas
zes maior quando comparadas às transações nas devem corrigir o problema. Mas ainda não sabe-
agências físicas”, diz Delgado. mos se alguma operadora já o fez.
Deixando o colapso econômico global de lado, Já a SwiftKey, fabricante do software de tecla-
também viveríamos uma regressão cultural: o fim do, afirmou que o problema não afeta a versão do
dos mais de 870 mil artigos da Wikipédia em app disponível para download na Google Play ou
português, dos 30 bilhões de fotos hospedadas na App Store. A falha existiria apenas na versão já
no Instagram ou das 300 horas de vídeos adicio- instalada nos Galaxys.
nadas a cada minuto no YouTube representaria a Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Tecnologia/
destruição de parte do patrimônio guardado pe- noticia/2015/06/hackers-podem-acessar-mensagens-de-600-milhoes-
desmartphones-da-samsung.html>. Acesso em: Junho de 2015.
los usuários na rede, uma espécie de destruição
da Biblioteca de Alexandria em escala exponen-
cial. Não seria o apocalipse zumbi, mas estaría- a) Os telefones Samsung pedem atualizações automáticas
mos bem próximos disso... que autorizam hackers a acessarem seu fornecedor.
Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/05/o-
b) Samsung enfrenta hacking por meio de conexões wi-fi,
que-aconteceria-se-internet-deixasse-de existir.html>.Acesso em: maio 2015. devido à versão nova do Swiftkey.
c) Todos os smartphones da Samsung estão sendo atingidos
I. Sem internet seria um grande caos. por hackers por meio de conexões wi-fi.
II. Sem internet não poderíamos mais ter indústrias ou d) Nenhuma operadora corrigiu o problema, permitindo o
transações comerciais. acesso de hackers.
III. A regressão cultural seria devastadora. e) Os smartphones Galaxy, por meio de conexões wi-fi, não
IV. Seria o apocalipse total. fizeram as atualizações necessárias para que o problema
fosse corrigido.
a) V–V–F–F
b) F–V–F–V
c) V–F–V–F
d) F–F–V–V
e) V–V–V–F

Português 2C 13
Instrução: Texto para as próximas 2 questões. 05.17. (UFPR) – Segundo o texto, são estratégias utilizadas
Para responder a(s) quest(ões) a seguir, leia o seguinte di- pelos jornais ao fazer citações:
álogo entre os personagens Simei e Colonna, no romance 1. Escolher criteriosamente as citações das testemunhas
Número Zero, de Umberto Eco: para contemplar pontos de vista divergentes sobre um
mesmo fato.
– Colonna, exemplifique para os nossos amigos 2. Salientar os pontos de vista que mais interessam ao jor-
como é que se pode seguir, ou dar mostras de nalista.
seguir, um princípio fundamental do jornalismo 3. Redigir as notícias de tal forma que as opiniões sejam
democrático: fatos separados de opiniões. Opi- apresentadas como fatos.
niões no Amanhã [nome do jornal] haverá inú- 4. Citar em primeiro lugar as palavras da testemunha que
meras, e evidenciadas como tais, mas como é que faz uma análise mais racional dos acontecimentos.
se demonstra que em outros artigos são citados Estão de acordo com o texto as estratégias:
apenas fatos? a) 1 e 2 apenas.
– Muito simples – disse eu. – Observem os gran- b) 1 e 4 apenas.
des jornais de língua inglesa. Quando falam, sei c) 1, 2 e 3 apenas.
lá, de um incêndio ou de um acidente de carro,
d) 1, 3 e 4 apenas.
evidentemente não podem dizer o que acham
daquilo. Então inserem no artigo, entre aspas, e) 2, 3 e 4 apenas.
as declarações de uma testemunha, um homem 05.18. (UFPR) – Assinale a alternativa correta sobre afirma-
comum, um representante da opinião pública. ções encontradas no texto.
Pondo-se aspas, essas afirmações se tornam fa-
a) Ao mencionar “um princípio fundamental do jornalismo
tos, ou seja, é um fato que aquele sujeito tenha
democrático: fatos separados de opiniões”, Simei destaca
expressado tal opinião. Mas seria possível supor
que os jornais seguem rigorosamente esse princípio.
que o jornalista tivesse dado a palavra somente a
b) Ao dizer que “o leitor tem a impressão de estar sendo in-
quem pensasse como ele. Portanto, haverá duas
formado de dois fatos, mas é induzido a aceitar uma única
declarações discordantes entre si, para mostrar
opinião”, Colonna explicita uma forma de manipulação da
que é fato que há opiniões diferentes sobre um
opinião do leitor.
caso, e o jornal expõe esse fato irretorquível. A es-
perteza está em pôr antes entre aspas uma opinião c) Na primeira linha do texto, Simei faz uma retificação (“...
banal e depois outra opinião, mais racional, que seguir, ou dar mostras de seguir...”) para deixar claro que
se assemelhe muito à opinião do jornalista. Assim o jornalista deve não só separar fatos de opiniões como
o leitor tem a impressão de estar sendo informado indicar isso explicitamente nos artigos.
de dois fatos, mas é induzido a aceitar uma úni- d) Ao afirmar que “é fato que há opiniões diferentes sobre
ca opinião como a mais convincente. Vamos ver um caso, e o jornal expõe esse fato irretorquível”, Colonna
um exemplo. Um viaduto desmoronou, um cami- destaca a imparcialidade do jornal ao incluir nos artigos
nhão caiu e o motorista morreu. O texto, depois opiniões divergentes.
de relatar rigorosamente o fato, dirá: Ouvimos o e) Ao afirmar, no final do texto, que “o problema é no quê
senhor Rossi, 42 anos, que tem uma banca de jor- e como pôr aspas”, Colonna enfatiza a importância da
nal na esquina. Fazer o quê, foi uma fatalidade, fidelidade na citação das palavras das testemunhas de
disse ele, sinto pena desse coitado, mas destino cada fato noticiado.
é destino. Logo depois um senhor Bianchi, 34
anos, pedreiro que estava trabalhando numa obra Desafio
ao lado, dirá: É culpa da prefeitura, que esse via-
duto estava com problemas eu já sabia há muito Instrução: Texto para a próxima questão.
tempo. Com quem o leitor se identificará? Com Texto 1
quem culpa alguém ou alguma coisa, com quem
aponta responsabilidade. Está claro? O problema
Nova data? Escola não libera muçulmanos para
é no quê e como pôr aspas. festa religiosa
ECO, Umberto. Número Zero. Rio de Janeiro: Record, 2015, p. 55-6. Diretor afirmou que aqueles que não
comparecessem às aulas levariam falta
Nesta quinta-feira (24), a religião Islã come-
mora a Festa do Sacrifício, uma das datas religio-
sas mais importantes para os muçulmanos. Apesar

14 Extensivo Terceirão
Aula 05

do feriado religioso, uma escola no Reino Unido “O que chamou a atenção foi que eles começa-
não liberou seus alunos das aulas e informou que ram a levantar a Bíblia e a chamar todo mundo de
aqueles que não comparecessem levariam falta. ‘diabo’, ‘vai para o inferno’, ‘Jesus está voltando’”,
As informações são do Independent. afirmou a avó da menina, Káthia Marinho. Na de-
Normalmente, em feriados religiosos, as esco- legacia, o caso foi registrado como preconceito de
raça, cor, etnia ou religião e também como lesão
las tendem a dar uma “falta autorizada” aos alunos
corporal, provocada por pedrada. Os agressores
de determinada religião. No entanto, a instituição fugiram num ônibus que passava pela Avenida
afirmou aos pais que os alunos muçulmanos não Meriti, no mesmo bairro. A polícia, agora, bus-
seriam liberados e poderiam comemorar a data na ca imagens das câmeras de segurança do veículo
sexta-feira (25), quando a escola estará fechada para tentar identificar os dois homens.
pra um treinamento dos professores. “Sexta-feira
A avó da criança lançou uma campanha na
não significa nada. O Eid al-Adha (Festa do Sacri-
internet e tirou fotos segurando um cartaz com
fício) é na quinta”, disse a mãe de uma das alunas as frases: “Eu visto branco, branco da paz. Sou
da escola, que estranhou a decisão da instituição, do candomblé, e você?”. A campanha recebeu o
já que as crianças normalmente são liberadas. apoio de amigos e pessoas que defendem a liber-
A carta enviada pela diretoria aos pais dizia: dade religiosa. Uma delas escreveu: “Mãe Kátia,
“Nós permitimos que os estudantes registrados estamos juntos nessa”.
como muçulmanos tenham um dia de falta auto- Iniciada no candomblé há mais de 30 anos,
rizada para celebrar a ocasião. A sexta-feira, 25 de a avó da garota diz que nunca havia passado por
setembro, quando a Academia estará fechada para uma situação como essa.
alunos, foi reservada para isso. Nesse dia todos os http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/06/menina-vitima-de-
alunos terão direito a uma falta autorizada”. intolerancia-religiosa-diz-que-vai-ser-dificil-esquecer-pedrada.html
Muitos pais ficaram insatisfeitos e alunos não
foram à escola, apesar da posição da diretoria. No
feriado da Festa do Sacrifício, os muçulmanos re- 05.19. (UFJF – MG) – Os textos 1 e 2 têm um tema em
servam o dia para rezar, trocar presentes e come- comum. Qual é esse tema? Justifique sua resposta.
morar com a família e amigos.
http://noticias.terra.com.br/educacao/nova-data-escola-
nao-libera-muculmanos-para-festa-religiosa,13596104
77ae131c95eb751344b0b21e8mkih63u.html

Texto 2

Menina vítima de intolerância religiosa


diz que vai ser difícil esquecer pedrada
Criança é do candomblé e foi
agredida na saída do culto.
Avó iniciou campanha na internet
e recebeu apoio de amigos. 05.20. (UNICAMP – SP) – Reproduzimos abaixo a chamada
de capa e a notícia publicadas em um jornal brasileiro que
A marca da violência está na cabeça da menina
de 11 anos que foi agredida no Subúrbio do Rio apresenta um estilo mais informal.
por intolerância religiosa, mas esta não é a maior
cicatriz. “Achei que ia morrer. Eu sei que vai ser di- Governo quer fazer a galera pendurar
fícil. Toda vez que eu fecho o olho eu vejo tudo de a chuteira mais tarde
novo. Isso vai ser difícil de tirar da memória”, afir- Duro de parar Como a vovozada vive até mais
mou Kailane Campos, que é candomblecista e foi tarde, a intenção, agora, é criar regra para aumen-
apedrejada na saída de um culto. Ela deu a decla- tar a idade mínima exigida para a aposentadoria;
ração em entrevista ao RJTV desta terça-feira (16). objetivo é impedir que o INSS quebre de vez
A garota foi agredida no último domingo (14) Descanso mais longe
e, segundo a avó, que é mãe de santo, todos esta-
vam vestidos de branco, porque tinham acabado O brasileiro tá vivendo cada vez mais – o que é
de sair do culto. Eles caminhavam para casa, na bom. Só que quanto mais ele vive, mais a situação
Vila da Penha, quando dois homens começaram a do INSS se complica, e mais o governo trata de difi-
insultar o grupo. Um deles jogou uma pedra, que cultar a aposentadoria do pessoal pelo teto (o valor
bateu num poste e depois atingiu a menina. integral que a pessoa teria direito de receber quan-
do pendura as chuteiras) – o que não é tão bom.

Português 2C 15
A última novidade que já tá em discussão lá em Brasília é botar pra funcionar a regra 85/95, que diz que
só se aposenta ganhando o teto quem somar 85 anos entre idade e tempo de contribuição (se for mulher) e
95 anos (se for homem).
Ou seja, uma mulher de 60 anos só levaria a grana toda se tivesse trampado registrada por 25 anos
(60+25=85) e um homem da mesma idade, se tivesse contribuído por 35 (60+35=95).
Quem quiser se aposentar antes, pode – só que vai receber menos do que teria direito com a conta fechada.
(notícia JÁ, Campinas, 30/06/2012, p.1 e 12.)

a) Retire dos textos duas marcas que caracterizariam a informalidade pretendida pela publicação, explicitando de que tipo
elas são (sintáticas, morfológicas, fonológicas ou lexicais, isto é, de vocabulário).

b) Pode-se afirmar que certas expressões empregadas no texto, como “tá” e “botar”, se diferenciam de outras, como “galera” e
“grana”, quanto ao modo como funcionam na sociedade brasileira. Explique que diferença é essa.

16 Extensivo Terceirão
Aula 05

Produção de textos
Proposta 01
(UNIFAP) – O gênero notícia consiste em um texto jornalístico, de cunho informativo, que tende a relatar fatos condiciona-
dos ao interesse do público em geral, de modo exato e imparcial. Diariamente, interagimos com notícias relacionadas aos
mais variados temas: política, esporte, economia, etc. Dessa forma, a linguagem necessariamente deverá ser clara, objetiva
e precisa, isentando-se de quaisquer possibilidades de ocasionar múltiplas interpretações por parte do receptor, por isso a
predominância da 3ª pessoa no relato dos fatos.
Assim, a partir dessas informações e de seus conhecimentos sobre esse gênero, elabore uma notícia em que o fato central esteja
relacionado ao meio ambiente. Abaixo seguem alguns textos de apoio que poderão auxiliá-lo no desenvolvimento do tema.
Texto 1
04/08/2011

Notícia velha: o Brasil continua detonando a Amazônia. De acordo com a última medição, até junho 2.429,5
quilômetros quadrados de florestas deixaram de existir. Viraram lenha ou móveis de grifes na sala de algum
bacana no exterior. O Governo Dilma ensaiou que iria enfrentar este problema lançando um gabinete de crise,
mas foi só balão de ensaio mesmo. As motosserras continuam a todo vapor, derrubando árvores de espécies
preciosas. Algumas delas podem conter a cura de muitas doenças e até a cura do câncer, mas nunca vamos
saber. Porque a leniência de governos (isto inclui todos eles, inclusive os militares) e a ganância e o atraso de
nossas elites, permitem que este tesouro seja dilapidado sem dó nem piedade. O que vamos dizer às futuras
gerações? Desculpas? Não serve! No meu ponto de vista a situação na Amazônia se resolve de forma simples:
Relocar todos os moradores que não forem indígenas da região; implantar postos avançados da Marinha, Exér-
cito e Aeronáutica e determinar o desmatamento zero; instalar um centro de estudos de última geração para
abrigar cientistas brasileiros em projeto vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia para mapear espécies,
com ênfase a identificar o estudo do potencial medicinal da fauna, bem como a sua exploração racional e sus-
tentada. Só isso já salvaria uma das regiões de biodiversidade mais rica do planeta da ignorância das motosserras.
Afonso Mascarenhas, A ignorância das motosserras In: http://esportepr.orangotoe.com.br

Texto 2
06/07/2011

Mais uma vez pagaram com a própria vida os Ativistas, Ecologistas Jose Cláudio Ribeiro e sua esposa Ma-
ria do Espírito Santo, brutalmente assassinados na região de Marabá, leste do Pará, ao defenderem a floresta
não só para si, mas para as gerações futuras, principalmente. As milenares castanheiras que pelo extrativismo
uma só castanheira rendia produzindo castanhas e óleo para as indústrias cosméticas R$ 900,00 por cada
safra colhida. O mais trágico é que com a árvore derrubada e enviada para as madeireiras clandestinas valem
no máximo R$ 200,00 para os que derrubam a floresta. Como se não bastasse toda essa devastação, em lugar
das árvores que davam vida à biodiversidade são plantadas hoje soja e pastagem. Assim é a Marcha da Insen-
satez contra a Natureza e a Vida. Poucos sabem, mas o Geógrafo Jared Diamond no seu Livro “O Colapso”,
citou que a civilização Maia desapareceu porque esgotou seus recursos naturais. Nós já utilizamos 125%
daquilo que a natureza pode produzir, ela não consegue mais sua regeneração. Algo de trágico está por vir,
pelas leis da causa e efeito, não teremos uma segunda chance, pelo que fazemos contra a natureza e a vida.
José Pedro Naisser, A marcha da insensatez na Amazônia In:http://173.192.214.83/política/noticias

Texto 3

AS INDÚSTRIAS E O MEIO AMBIENTE


Desde meados do século XIX quando a revolução industrial surgiu, o meio ambiente sofreu impactos in-
calculáveis gerados pela poluição das indústrias. Hoje o estrago ambiental ainda é enorme, mas as empresas
podem minimizar a poluição gerada pela produção de suas fábricas. As empresas hoje podem investir em em-
pregos que respeitem os princípios do desenvolvimento sustentável. A compensação ambiental também ajuda
a reduzir impactos ambientais causados pela execução de empreendimentos. Atualmente estudos apontam que
automóveis causam mais estragos no meio ambiente do que as indústrias. Mesmo assim, governo e sociedade
devem estar atentos para fiscalizar a produção industrial. A mudança climática é uma realidade e não existe
solução simples. Devemos todos trabalhar em conjunto para devolver ao planeta a sua saúde. Que assim seja!
Marco Pozzana In: www.meioambienteurgente.blogger.com.br

Português 2C 17
Texto 4 Texto 5

WWW.google.com/aprendizesdanatureza.blogspot.com WWW.google.com/aprendizesdanatureza.blogspot.com

18 Extensivo Terceirão
Aula 05

Proposta 02
(UFPR) – Adoniran Barbosa é um ícone do samba paulista. Os temas de suas composições giravam em torno dos tipos huma-
nos mais comuns e da realidade crua de uma metrópole que não para. Em suas músicas, usou sempre a linguagem popular
paulistana para dar vida a suas personagens. “Saudosa Maloca” (1951) conta um fato, que é retratado a partir do ponto de
vista de uma das personagens.

Saudosa Maloca*
Se o senhor não tá lembrado, Doía no coração.
Dá licença de contá Mato Grosso quis gritá
Que aqui, onde agora está Mas em cima eu falei:
Esse edifício arto, “Os home tá cá razão
Era uma casa veia, Nóis arranja outro lugá.”
Um palacete assobradado. Só se conformemos
Foi aqui, seu moço, Quando o Joca falou:
Que eu, Mato Grosso e o Joca “Deus dá o frio conforme o cobertô.”
Construímos nossa maloca. E hoje nóis pega a paia** nas grama do jardim
Mas um dia, E pra esquecê nóis cantemos assim:
Nóis nem pode se alembrá, Saudosa maloca, maloca querida,
Veio os home c´as ferramentas Que dim donde nóis passemos os dias feliz de
O dono mandô derrubá. nossa vida.
Peguemos todas nossas coisa Saudosa maloca, maloca querida,
E fumos pro meio da rua Que dim donde nóis passemos os dias feliz de
nossa vida.
Apreciá a demolição.
*Maloca: casa muito pobre e rústica; lar.
Que tristeza que nóis sentia,
**Pegar uma palha ou puxar uma palha: dormir.
Cada tauba que caía

A partir da leitura dessa música, redija uma notícia de jornal que informe ao leitor os fatos narrados. Seu texto deve:
• ser introduzido por um título (manchete);
• apresentar a narrativa do ponto de vista do veículo de comunicação;
• ser fiel aos fatos apresentados na letra da música, podendo haver acréscimo de detalhes, inventados por você, que atua-
lizem a narrativa e permitam adequá-la ao gênero “notícia de jornal”;
• apresentar a linguagem e a estrutura próprias do gênero;
• ter de 7 a 10 linhas.

Português 2C 19
Proposta 03
(UNICAMP – SP) – Você é um estudante do Ensino Médio e foi convidado pelo Grêmio Estudantil para fazer uma palestra aos
colegas sobre um fenômeno recente: o da pós-verdade. Leia os textos abaixo e, a partir deles, escreva um texto base para a
sua palestra, que será lido em voz alta na íntegra. Seu texto deve conter: a) uma explicação sobre o que é pós-verdade e sua
relação com as redes sociais; b) alguns exemplos de notícias falsas que circularam nas redes sociais e se tornaram pós-verdade;
e c) consequências sociais que a disseminação de pós-verdades pode trazer. Você poderá usar também informações de outras
fontes para compor o seu texto.
TEXTO A

(Disponível em https://horizontesafins.wordpress.com/2017/02/02/averdade-da-pos-verdade/. Acesso em: 03/09/2017.)

TEXTO B

O que é “pós-verdade”, a palavra do ano segundo a Universidade de Oxford


Anualmente, a Oxford Dictionaries, parte do departamento de imprensa da Universidade de Oxford
responsável pela elaboração de dicionários, elege uma palavra para a língua inglesa. A de 2016 foi “pós-ver-
dade” (post-truth).
A palavra é usada por quem avalia que a verdade está perdendo importância no debate político. Por
exemplo: o boato amplamente divulgado de que o Papa Francisco apoiava a candidatura de Donald Trump
não vale menos do que as fontes confiáveis que negaram esta história. Segundo Oxford Dictionaries, a pala-
vra vem sendo empregada em análises sobre dois importante acontecimentos políticos: a eleição de Donald
Trump como presidente dos Estados Unidos e o referendo que decidiu pela saída da Grã-Bretanha da União
Europeia, designada como Brexit. Ambas as campanhas fizeram uso indiscriminado de mentiras, como a de
que a permanência na União Europeia custava à Grã-Bretanha US$ 470 milhões por semana, no caso do
Brexit, ou a de que Barack Obama é fundador do Estado Islâmico, no caso da eleição de Trump.
Em um artigo publicado em setembro de 2016, a influente revista britânica The Economist destaca que
políticos sempre mentiram, mas Donald Trump atingiu um outro patamar. A leitura de muitos acadêmicos e
da mídia tradicional é que as mentiras fizeram parte de uma bem-sucedida estratégia de apelar a preconceitos
e radicalizar posicionamentos do eleitorado. Apesar de claramente infundadas, denunciar essas informações
como falsas não bastou para mudar o voto majoritário.
Para diversos veículos de imprensa, a proliferação de boatos no Facebook e a forma como o feed de
notícias funciona foram decisivos para que informações falsas tivessem alcance e legitimidade. Este e outros
motivos têm sido apontados para explicar a ascensão da pós-verdade.
Plataformas como Facebook, Twitter e Whatsapp favorecem a replicação de boatos e mentiras. Grande
parte dos factoides são compartilhados por conhecidos nos quais os usuários têm confiança, o que aumenta
a aparência de legitimidade das histórias. Os algoritmos utilizados pelo Facebook fazem com que usuários
tendam a receber informações que corroboram seu ponto de vista, formando bolhas que isolam as narrativas
às quais aderem de questionamentos à esquerda ou à direita.
(Adaptado de André Cabette Fábio. O que é ‘pós-verdade’, a palavra do ano segundo a Universidade de Oxford. Nexo, 16/11/2016. Disponível em https://
www.nexojornal.com.br/expresso/2016/11/16/O-que-é-‘pós-verdade’-a-palavra do-ano-segundo-a-Universidade-de-Oxford. Acesso em: 01/12/2017).

20 Extensivo Terceirão
Aula 05

Português 2C 21
Gabarito
05.01. b 05.19. Em ambos os textos estamos diante da marcas é de natureza lexical, como
05.02. a intolerância religiosa. O texto 1 diz res- galera, vovozada, quebrar, trampado,
05.03. b peito à intolerância religiosa em uma grana, botar. Há marcas como pra, tá,
05.04. d escola no Reino Unido que não liberou que podem ser tomadas como va-
05.05. e os alunos muçulmanos para que come- riantes de pronúncia representadas
05.06. b morassem a tradicional Festa do Sacri- na escrita.
05.07. b fício. O texto 2 diz respeito à agressão b) Espera-se também que o candidato
05.08. a cometida por evangélicos fanáticos a perceba que, quanto ao funciona-
05.09. b uma família que se vestia com roupas mento social de algumas dessas mar-
05.10. c do candomblé. Uma jovem levou uma cas, há aquelas que são fortemente
05.11. b pedrada na cabeça e o grupo foi tam- relacionadas a grupos específicos –
05.12. a bém agredido com xingos e injúrias. como galera, grana – e aquelas que
05.13. e 05.20. a) Espera-se que o candidato indique são de uso geral, como tá, botar, que
05.14. c duas marcas da informalidade pre- funcionam no português brasileiro
05.15. c tendida pelo texto jornalístico em como marcas de informalidade para
05.16. b questão e, como solicita o enuncia- todos os falantes.
05.17. c do, expresse a que nível de análise
05.18. b estão relacionadas. A maior parte das

22 Extensivo Terceirão
Português
Aula 06 2C 1B
Textos Argumentativos

Informação X Opinião A decisão do governo, se confirmada, pode ge-


rar controvérsia: o Brasil vive um problema grave
Para esta aula, será fundamental saber diferenciar
a escrita com finalidade essencialmente informativa, de falta de médicos – o que foi um dos motivos
para a criação do programa Mais Médicos, man-
como a notícia, de textos que possuem como intenção
tido pelo governo Temer. Sem uma expansão na
explícita a defesa de uma opinião a respeito de um tema.
quantidade de vagas, o sistema de saúde pode ter
Defender um posicionamento é a característica principal
ainda mais problemas. 
dos textos argumentativos.
Por outro lado, nada na nova regra do MEC
Embora útil para fins de estudo, é muito importante impediria a expansão dos cursos que já existem.
um cuidado quanto à classificação “informação x opi- Extraído de: <http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/mec-quer-
nião”: todo texto possui informação. Porém, na escrita -suspender-criacao-de-cursos-de-medicina-por-5-anos-c3uhzx8bsvo-
c41e29hyhguzfu>. Acesso em: 28/01/18
argumentativa, informação e opinião se relacionam,
afinal, uma boa argumentação se constrói a partir de
informações. Note como, apesar de haver a citação da argumen-
O texto a seguir é uma notícia a respeito do propósito tação do MEC, esse texto possui evidente estruturação
do Ministério da Educação e Cultura de suspender tem- informativa. Não há nesse texto a marcação explícita de
porariamente a abertura de novos cursos de Medicina. um posicionamento de quem o escreveu.

MEC quer suspender criação de cursos de


Medicina por 5 anos Textos com finalidade
Segundo declaração de ministro à Folha de S. argumentativa
Paulo, o objetivo é preservar a qualidade da
formação Por outro lado, há textos em que a opinião de seus
autores está marcada de forma explícita. É isso que
usaremos como base para a classificação de textos
Da Redação  argumentativos nesta aula.
[17/11/2017]  O texto argumentativo (ou texto de opinião) pode
[10h23] aparecer em diversas formas (dissertação, artigo de opi-
nião, carta argumentativa etc.), porém, em todos esses
diferentes formatos, há uma base comum formada por
O Ministério da Educação cogita suspender a duas partes:
criação de cursos de medicina por cinco anos. A
decisão, ainda não anunciada oficialmente, teria • Tese: posicionamento adotado pelo autor pe-
como objetivo evitar uma queda na qualidade da
rante o tema. Trata-se da opinião propriamente
formação de médicos. 
dita que será marcada e defendida ao longo do
A informação foi publicada pela coluna de Mô- texto.
nica Bergamo na Folha de S. Paulo e confirmada
pela Gazeta do Povo. • Argumentação: raciocínio desenvolvido ao
longo do texto com a finalidade de justificar, de-
A ideia é preservar a qualidade do ensino: “Há
monstrar, comprovar o ponto de vista adotado
um clamor dos profissionais de medicina para
pelo autor.
que se suspenda por um período determinado a
abertura de novas faculdades, em nome da pre-
Como exemplo, o texto a seguir foi escolhido
servação da qualidade do ensino”, afirmou o mi-
propositalmente por ter o mesmo tema da notícia lida
nistro Mendonça Filho à coluna.
anteriormente: a suspenção da abertura dos cursos
de Medicina. Entretanto, será fácil notar a finalidade
Português 2C 23
opinativa que marcará o artigo de Drauzio Varella, publi- O argumento de que temos profissionais em
cado na Folha de São Paulo. Durante a leitura, perceba o número insuficiente e que o aumento de vagas
posicionamento do autor perante essa ideia do MEC e o servirá para compensar essa falta é infantil: nossos
raciocínio que ele usa para defender esse ponto de vista. médicos estão mal distribuídos. Senão, vejamos:
1. A julgar pela média do país, não estamos
Médicos são liberados para a vida profissional tão mal: 2,1 médicos para cada mil habi-
sem controle de qualidade tantes, contra 2,5 nos Estados Unidos, 2,4
Drauzio Varella no Canadá e 2,2 no Japão;
Somos vice-campeões mundiais em número de 2. O problema é que 55% deles trabalham no
faculdades de medicina. Temos 305. Sudeste, o triplo da região norte. No Mara-
nhão há apenas 1,3%;
A Índia é a primeira colocada com cerca de 400
faculdades, para uma população seis vezes maior 3. Nas 27 capitais estão concentrados 55%
do que a nossa. Na China há 150 faculdades para dos profissionais. Os demais ficam respon-
1,3 bilhão de habitantes; nos Estados Unidos, sáveis por 5.543 municípios.
131 para 300 milhões. A formação médica completa exige seis anos
Em 1997, tínhamos 85 escolas médicas. Em 20 de curso em período integral e mais cinco anos
anos mais do que triplicamos esse número, graças de residência. Depois de investir tanto tempo
à explosão das escolas particulares que hoje corres- e recursos financeiros, quantos se interessarão
pondem a mais de 60% do total, a um custo men- em mudar para cidades pequenas, sem dispor
sal que varia de R$ 5.000 a R$ 16 mil, por aluno. de uma carreira organizada no serviço público
Há 13 anos, o Conselho Regional de Medicina (como a dos juízes, por exemplo), recursos téc-
do Estado de São Paulo (Cremesp) realiza exame nicos e instalações mínimas para a prática da
teórico, facultativo, para os doutorandos do Es- profissão?
tado. Apesar de a prova abranger temas gerais de De que cartola tiraram a ideia de que filhos
grau intermediário de dificuldade, são reprovados de famílias em condições de pagar em média
mais da metade dos alunos. R$ 6.000 a R$ 7.000 por mês estarão dispostos a
Não é difícil explicar: abandonar as comodidades da vida urbana, para
atender ribeirinhos na Amazônia, lavradores no
1. No país, não existem professores com for- interior do Maranhão ou conviver com a vio-
mação acadêmica em número suficiente. lência das comunidades periféricas das cidades
2. As instalações e os laboratórios de boa par- brasileiras?
te das faculdades são inadequados para o O Cremesp propõe que os alunos de medicina
ensino das cadeiras básicas. sejam submetidos a avaliações a cada dois anos,
3. A maior parte das faculdades autorizadas para que as falhas na formação sejam corrigidas
pelo MEC não conta com hospitais-escolas a tempo. Os diplomados fariam um exame na-
dignos desse nome. cional obrigatório, por lei. Os reprovados volta-
4. A expansão agravou a falta de vagas para a riam para cursos de reforço nas faculdades em
residência médica, que hoje mal atendem que estudaram.
metade dos recém-formados. Em pouco tempo, escolas com índices altos
de reprovação seriam fechadas pelo MEC.
Alunos com preparo deficiente são reprovados
nos concursos para residência, fase essencial para Não conheço um médico que não esteja preocu-
o aprendizado clínico. Vivemos um paradoxo: en- pado com a qualidade dos profissionais que essas
quanto os melhores alunos investem mais cinco escolas medíocres despejam no mercado. Não co-
anos na formação, uma legião de despreparados nheço um que não seja a favor da avaliação obriga-
vai atender gente doente. tória. Duvido que você, leitor, seja contrário.
A OAB enfrenta o problema com o exame da Se todos concordam que um exame de sufici-
Ordem, sem o qual o advogado não exerce a pro- ência semelhante ao que o Cremesp realiza aju-
fissão. Se a OAB considera esse procedimento es- daria a proteger a sociedade da incompetência de
sencial, com muito mais razão deveria existir uma médicos mal formados, quais interesses políticos
lei semelhante para os médicos. e financeiros impedem que uma lei com essa exi-
gência seja aprovada? 
O mercado tem mecanismos para se livrar do
Extraído de: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drau-
advogado incompetente, enquanto os médicos ziovarella/2018/01/1948392-medicos-sao-liberados-para-
são liberados para a vida profissional sem o me- -a-vida-profissional-sem-controle-de-qualidade.shtml>. Acesso
em: 11/01/18
nor controle de qualidade. Por acaso, quem vai ao
Crédito: Site Drauzio Varella
SUS ou sofre um acidente na estrada pode sele-
cionar o médico que vai atendê-lo?
24 Extensivo Terceirão
Aula 06

Escrita de textos argumen- tros se ativeram às formas de violência contra a mulher.


Assim, várias redações não deram ênfase na discussão
tativos de causas/consequências, ou na demonstração de como
acontece essa persistência da violência contra a mulher.
Em aulas posteriores, estudaremos a estruturação de Da mesma forma, muitos não fizeram a contextualização
diferentes tipos de textos argumentativos cobrados no na sociedade brasileira, como pedia o tema.
ENEM e nos principais vestibulares do país:
Portanto, não se lê apressadamente o tema da
• Texto dissertativo-argumentativo. redação; muito menos, começa-se a escrever a medida
• Artigo de opinião. em que se leem o tema e os textos motivadores. É fun-
• Textos de opinião fora dos moldes tradicionais. damental ler com calma o enunciado da questão, pois
uma boa redação começa pela compreensão do tema
• Carta argumentativa (carta do leitor, carta de recla-
proposto.
mação e de resposta etc.
Embora possam existir por meio de diversos forma-
tos, os textos argumentativos possuem uma base co- 2. Que posicionamento será
mum que já vimos: tese e argumentação. Nesta aula, defendido no meu texto?
como início de uma série, nosso foco será o planejamen-
to do texto de opinião. Antes de escrever uma redação, é Após um breve levantamento de ideias relacionadas
fundamental definir o rumo que terá o texto. Nesse caso, ao tema, é preciso definir qual será a opinião quanto ao
é preciso, assim que se tenha o conhecimento do tema, tema do texto.
levantar ideias e definir, de forma prática, objetiva:
3. Quais argumentos irei utilizar
1. Qual é o tema da redação? para defender esse ponto de
Apesar de elementar, afinal, nada é mais básico
numa redação que saber o tema que será objeto de
vista?
escrita, muitas falhas de escrita têm como origem a No momento de planejar o texto, é possível fazer
má interpretação do tema do texto. Um bom exemplo um levantamento de ideias sobre o tema em questão.
recente é o tema do ENEM 2015: “A persistência da Porém, não é possível, numa redação com número
violência contra a mulher na sociedade brasileira”. limitado de linhas, desenvolver todos os argumentos
Muitos candidatos cometeram falhas devidas existentes. Nesse caso, será mais útil fazer uma seleção
principalmente à falta de atenção ao que foi pedido de quais argumentos poderão ser melhor desenvolvidos
no tema. Talvez empolgados pelas recentes discussões dentro do limite de linhas do texto.
de políticas e ideologias de gênero, vários candidatos
escreveram textos sobre o machismo de forma geral; ou-

Testes
Assimilação
Instrução: Texto para a próxima questão.
Leia o poema “Sou um evadido”, do escritor português Fernando Pessoa, para responder à(s) questão(ões) a seguir.

Sou um evadido. Minha alma procura-me


Logo que nasci Mas eu 1ando a monte,
Fecharam-me em mim, Oxalá que ela
Ah, mas eu fugi. Nunca me encontre.

Se a gente se cansa Ser um é cadeia,


Do mesmo lugar, Ser eu é não ser.
Do mesmo ser Viverei fugindo
Por que não se cansar? Mas vivo a valer.
(Obra poética, 1997.) 1“andar a monte”: andar fugido das autoridades.

Português 2C 25
06.01. (UNIFESP) – O eu lírico inclui o leitor em sua argu-
esposas, nem filhos, nem amantes por quem pos-
mentação
sam sofrer emoções violentas; são condicionadas
a) na terceira estrofe, apenas. de tal modo que praticamente não podem deixar
b) na primeira estrofe, apenas. de se portar como devem. E se, por acaso, alguma
c) na quarta estrofe, apenas. coisa andar mal, há o soma.”
d) na segunda estrofe, apenas. Para chegar à estabilidade absoluta, foi neces-
e) na segunda e na terceira estrofes. sário abrir mão da arte e da ciência. “A felicidade
universal mantém as engrenagens em funciona-
Instrução: Texto para a próxima questão. mento regular; a verdade e a beleza são incapazes
de fazê-lo”, diz o líder. “Cada vez que as massas
MAIS QUE ORWELL, HUXLEY tomavam o poder público, era a felicidade, mais
PREVIU NOSSO TEMPO que a verdade e a beleza, o que importava.” A
Hélio Gurovitz
verdade é considerada uma ameaça; a ciência e a
arte, perigos públicos. Mas não é necessário esfor-
Publicado em 1948, o livro 1984, de George ço totalitário para controlá-las. Todos aceitam de
Orwell, saltou para o topo da lista dos mais ven- bom grado, fazem “qualquer sacrifício em troca
didos (...) A distopia de Orwel, mesmo situada no de uma vida sossegada” e de sua dose diária de
futuro, tinha um endereço certo em seu tempo: o soma. “Não foi muito bom para a verdade, sem
stalinismo. (...) O mundo da “pós-verdade”, dos “fa- dúvida. Mas foi excelente para a felicidade.”
tos alternativos” e da anestesia intelectual nas redes No universo de Orwell, a população é contro-
sociais mais parece outra distopia, publicada em lada pela dor. No de Huxley, pelo prazer. “Orwell
1932: Admirável mundo novo, de Aldous Huxley. temia que nossa ruína seria causada pelo que
Não se trata de uma tese nova. Ela foi levan- odiamos. Huxley, pelo que amamos”, escreve
tada pela primeira vez em 1985, num livreto do Postman. Só precisa haver censura, diz ele, se os
teórico da comunicação americano Neil Postman: tiranos acreditam que o público sabe a diferença
Amusing ourselves to death (Nos divertindo até entre discurso sério e entretenimento. (...) O alvo
morrer), relembrado por seu filho Andrew em ar- de Postman, em seu tempo, era a televisão, que
tigo recente no The Guardian. “Na visão de Hux- ele julgava ter imposto uma cultura fragmentada
ley, não é necessário nenhum Grande Irmão para e superficial, incapaz de manter com a verdade a
despojar a população de autonomia, maturida- relação reflexiva e racional da palavra impressa. O
de ou história”, escreveu Postman. “Ela acabaria computador só engatinhava, e Postman mal po-
amando sua opressão, adorando as tecnologias deria prever como celulares, tablets e redes sociais
que destroem sua capacidade de pensar. Orwell se tornariam – bem mais que a TV – o soma con-
temia aqueles que proibiriam os livros. Huxley temporâneo. Mas suas palavras foram prescientes:
temia que não haveria motivo para proibir um “O que afligia a população em Admirável mundo
livro, pois não haveria ninguém que quisesse lê- novo não é que estivessem rindo em vez de pen-
-los. Orwell temia aqueles que nos privariam de sar, mas que não sabiam do que estavam rindo,
informação. Huxley, aqueles que nos dariam tanta nem tinham parado de pensar”.
que seríamos reduzidos à passividade e ao egoís- Adaptado, Revista Época nº 973 – 13 de fevereiro de 2017, p. 67.
mo. Orwell temia que a verdade fosse escondida
de nós. Huxley, que fosse afogada num mar de Distopia = Pensamento, filosofia ou processo dis-
irrelevância.” cursivo caracterizado pelo totalitarismo, autorita-
No futuro pintado por Huxley, (...) não há rismo e opressivo controle da sociedade, repre-
mães, pais ou casamentos. O sexo é livre. A diver- sentando a antítese de utopia.
são está disponível na forma de jogos esportivos, (BECHARA, E. Dicionário da língua portuguesa. 1ª ed. Rio
cinema multissensorial e de uma droga que garan- de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2011, p. 533).
te o bem-estar sem efeito colateral: o soma. Res-
taram na Terra dez áreas civilizadas e uns poucos
territórios selvagens, onde grupos nativos ainda 06.02. (EPCAR – MG) – Do ponto de vista da composição,
preservam costumes e tradições primitivos, como só NÃO é correto afirmar que o texto se vale de
família ou religião. “O mundo agora é estável”, a) apresentação de ideias contrárias que vão conduzindo a
diz um líder civilizado. “As pessoas são felizes, argumentação.
têm o que desejam e nunca desejam o que não b) descrição de uma realidade imaginária que dá ensejo à
podem ter. Sentem-se bem, estão em segurança; discussão.
nunca adoecem; não têm medo da morte; vivem c) exemplos que esclarecem conceitos menos acessíveis
na ditosa ignorância da paixão e da velhice; não ao leitor.
se acham sobrecarregadas de pais e mães; não têm
d) citações que conferem autenticidade aos argumentos.

26 Extensivo Terceirão
Aula 06

Instrução: Texto para a próxima questão.


dutor, como se tivessem vindo buscá-la. Alguém
pensou nas vovós solitárias quando inventou o
Fiu-fiu assovio?
Luis Fernando Veríssimo O fato é que não há mais refúgio. Nem caste-
Existe coisa mais melancólica do que uma mesa los anti-smartphones com um fosso em volta. Eles
de quatro pessoas, num restaurante, em que três agora podem atravessar o fosso.
estão dedilhando seus smartphones e uma está fa- Jornal O Globo, 03/08/2014. Disponível em <https://oglobo.globo.com/
lando sozinha? opiniao/fiu-fiu-13464128>. Último acesso em 30 de setembro de 2017.

Lançaram agora um celular à prova d’água,


que você pode usar no chuveiro. Ou em qualquer
06.03. (CM – RJ) – Na crônica de Veríssimo, o título chama
outro lugar embaixo d’água. No mar, por exem-
plo. a atenção para uma expressão, usada ao final, em uma
exemplificação que
– Bem, não me espere para o jantar...
a) não tem qualquer relação com a argumentação, já que
– Onde você está? não está entre os aspectos negativos ligados ao uso dos
– Sabe a nossa pesca submarina? celulares.
– O que houve? b) apoia a argumentação do autor: velhinhas costumam não
– Pensei que fosse uma garoupa e era um tu- reconhecer o toque do celular.
barão. E ele está vindo na minha direção. c) dá suporte à argumentação, mostrando que os celulares
– Você ainda está embaixo d’água?! podem causar problemas.
– Estou. d) poderia ser descartada, já que não tem relação com as
ideias de solidão e indiferença, marcadas antes no texto.
– E o seu arpão?
e) apoia a ideia de que, apesar de imprescindíveis na vida
– O tubarão engoliu! moderna, devemos ter cuidado com os celulares nas
– Ligue para a Guarda Costeira! mãos de idosos.
São cada vez mais raros os lugares em que
você pode se ver livre de celulares, e agora nem as Instrução: Texto para a próxima questão.
piscinas estão seguras.
Os celulares são práticos e se tornaram indis- Vivemos num mundo confuso e confusamente
pensáveis, eu sei, mas empobreceram a vida so- percebido. De fato, se desejamos escapar à crença
cial. Existe coisa mais melancólica do que uma de que esse mundo assim apresentado é verda-
mesa de quatro pessoas, num restaurante, em que deiro, e não queremos admitir a permanência de
três estão dedilhando seus smartphones e uma sua percepção enganosa, devemos considerar a
está falando sozinha? Ou um casal em outra mesa, existência de pelo menos três mundos num só. O
os dois mergulhados nos respectivos celulares primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-
sem nem se olharem, o que dirá se falarem – a não -lo: a globalização como fábula. O segundo seria
ser que estejam trocando mensagens silenciosas o mundo tal como ele é: a globalização como per-
entre si, o que é ainda mais triste. versidade. E o terceiro, o mundo como ele pode
Os celulares podem ser perigosos de várias ma- ser: uma outra globalização.
neiras, mesmo que não derretam o cérebro, como Este mundo globalizado, visto como fábula,
se andou espalhando há algum tempo. Imagino constrói como verdade um certo número de fan-
uma velhinha que ganhou um celular dos netos tasias. Fala-se, por exemplo, em aldeia global para
sem que estes se dessem ao trabalho de explicar fazer crer que a difusão instantânea de notícias
seu funcionamento para a vovó. Não contaram, realmente informa as pessoas. A partir desse mito
por exemplo, que o celular dado assobia quando e do encurtamento das distâncias – para aqueles
recebe uma mensagem. É um assovio humano, que realmente podem viajar – também se difunde
um nítido fiu-fiu avisando que alguém ligou, e a noção de tempo e espaço contraídos. É como se
que pode soar a qualquer hora do dia ou da noite. o mundo houvesse se tornado, para todos, ao al-
E imagino a vovó, que mora sozinha, dormindo e, cance da mão. Um mercado avassalador dito glob-
de repente, acordando com o assovio. Um fiu-fiu al é apresentado como capaz de homogeneizar o
no meio da noite! A vovó, se não morrer imedia- planeta quando, na verdade, as diferenças locais
tamente do coração, pode ficar apavorada. Quem
são aprofundadas. O mundo se torna menos uni-
está lá? Um ladrão ou um fantasma assoviador? E
do, tornando também mais distante o sonho de
o assovio tem algo de galante. A vovó pode muito
uma cidadania de fato universal. Enquanto isso, o
bem sair da cama, sem saber se está acordada ou
culto ao consumo é estimulado.
sonhando, e caminhar na direção do fiu-fiu se-

Português 2C 27
1
Na verdade, para a maior parte da humani- vemos qualquer menção de outros mundos e gen-
dade, a globalização está se impondo como uma tes. Pelo contrário, os homens são as criaturas es-
fábrica de perversidades. O desemprego crescente colhidas e, portanto, privilegiadas.
torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes Todos os animais e plantas terrestres estão
médias perdem em qualidade de vida. O salário aqui para nos servir. Ser inteligente é uma dádiva
médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se que nos põe no topo da pirâmide da vida.
generalizam em todos os continentes. Novas en- O que ocorreria se travássemos contato com
fermidades se instalam e velhas doenças, suposta- outra civilização inteligente? Deixando de lado as
mente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. inúmeras dificuldades de um contato dessa nature-
Todavia, podemos pensar na construção de za – da raridade da vida aos desafios tecnológicos
um outro mundo, mediante uma globalização de viagens interestelares – tudo depende do nível
mais humana. As bases materiais do período atual de inteligência dos membros dessa civilização.
são, entre outras, a unicidade da técnica, a con- Se são eles que vêm até aqui, não há dúvida
vergência dos momentos e o conhecimento do de que são muito mais desenvolvidos do que nós.
planeta. É nessas bases técnicas que o grande ca- Não necessariamente mais inteligentes, mas com
pital se apoia para construir a globalização per- mais tempo para desenvolver suas tecnologias.
versa de que falamos acima. Mas essas mesmas Afinal, estamos ainda na infância da era tecnoló-
bases técnicas poderão servir a outros objetivos, gica: a primeira locomotiva a vapor foi inventada
se forem postas a serviço de outros fundamentos há menos de 200 anos (em 1814).
sociais e políticos.
Tal qual a reação dos nativos das Américas
MILTON SANTOS
Adaptado de Por uma outra globalização: do pensamento único à
quando viram as armas de fogo dos europeus, o
consciência universal. que são capazes de fazer nos pareceria mágica.
Rio de Janeiro: Record, 2004.
Claro, ao abrirmos a possibilidade de que
vida extraterrestre inteligente exista, a probabili-
06.04. (UERJ) – Na verdade, para a maior parte da humani- dade de que sejam mais inteligentes do que nós
é alta. De qualquer forma, mais inteligentes ou
dade, a globalização está se impondo como uma fábrica
mais avançados tecnologicamente, nossa reação
de perversidades. (ref. 1). No terceiro parágrafo, as frases
ao travar contato com tais seres seria um misto de
posteriores ao trecho citado desenvolvem a argumentação adoração e terror. Se fossem muito mais avança-
do autor por meio da apresentação de: dos do que nós, a ponto de haverem desenvolvido
a) hipóteses tecnologias que os liberassem de seus corpos, es-
b) evidências ses seres teriam uma existência apenas espiritual.
c) digressões A essa altura, seria difícil distingui-los de deuses.
d) discordâncias Por mais de 40 anos, cientistas vasculham os
céus com seus radiotelescópios tentando ouvir si-
nais de civilizações inteligentes. (...) Infelizmente,
Aperfeiçoamento até agora nada foi encontrado. Muitos cientistas
acham essa busca uma imensa perda de tempo e
Instrução: Texto para a próxima questão.
de dinheiro. As chances de que algo significativo
venha a ser encontrado são extremamente remotas.
Astroteologia Em quais frequências os ETs estariam enviando
Aparentemente, foi o filósofo grego Epicuro os seus sinais? E como decifrá-los? Por outro lado,
que sugeriu, já em torno de 270 a.C., que existem os que defendem a busca afirmam que um resultado
inúmeros mundos espalhados pelo cosmo, alguns positivo mudaria profundamente a nossa civiliza-
como o nosso e outros completamente diferentes, ção. A confirmação da existência de outra forma de
muitos deles com criaturas e plantas. vida inteligente no universo provocaria uma revolu-
Desde então, ideias sobre a pluralidade dos ção. Alguns até afirmam que seria a maior notícia já
mundos têm ocupado uma fração significativa do anunciada de todos os tempos. Eu concordo.
debate entre ciência e religião. Em um exemplo Não estaríamos mais sós. Se os ETs fossem mais
dramático, o monge Giordano Bruno foi quei- avançados e pacíficos, poderiam nos ajudar a lidar
mado vivo pela Inquisição Romana em 1600 por com nossos problemas sociais, como a fome, o ra-
pregar, dentre outras coisas, que cada estrela é um cismo e os confrontos religiosos. Talvez nos ajudas-
Sol e que cada Sol tem seus planetas. sem a resolver desafios científicos. Nesse caso, quão
Religiões mais conservadoras negam a possi- diferentes seriam dos deuses que tantos acreditam
bilidade de vida extraterrestre, especialmente se existir? Não é à toa que inúmeras seitas modernas
for inteligente. No caso do cristianismo, Deus é dirigem suas preces às estrelas e não aos altares.
o criador e a criação é descrita na Bíblia, e não Marcelo Gleiser. Folha de São Paulo, 01/03/2009

28 Extensivo Terceirão
Aula 06

06.05. (UERJ) – Todo texto argumentativo é construído com e) Apresentar a avaliação de alguns estudiosos sobre as
base na apresentação e defesa de pontos de vista. A premis- ideias presentes no livro.
sa do autor a favor de pesquisas interplanetárias apoia-se,
sobretudo, na possibilidade de: Instrução: Texto para a próxima questão.
a) incentivar o interesse por outras civilizações
b) livrar os seres humanos dos confrontos religiosos Eu tinha nove ou dez anos, e uma tia, que era
c) encorajar os cientistas na busca de novos desafios pintora, me convidara para ir ao seu ateliê para
conhecer o local onde ela trabalhava. O peque-
d) conduzir a humanidade a profundas transformações
no aposento estava frio e tinha um cheiro mara-
Instrução: Texto para a próxima questão. vilhoso de terebintina e óleo; as telas armazena-
das, apoiadas uma nas outras, me pareciam livros
deformados no sonho de alguém que soubesse
vagamente o que eram livros e os houvesse imagi-
nado enormes, feitos de uma única página, dura
e grossa [...].
Francis Bacon observou que, para os antigos,
todas as imagens que o mundo dispõe diante de
nós já se acham encerradas em nossa memória
desde o nascimento. “Desse modo, Platão tinha
a concepção”, escreveu ele, “de que todo conhe-
cimento não passava de recordação; do mesmo
modo, Salomão proferiu sua conclusão de que
toda novidade não passa de esquecimento”. Se
Neste segundo volume de sua obra-prima, Si- isso for verdade, estamos todos refletidos de al-
mone de Beauvoir analisa a condição da mulher gum modo nas numerosas e distintas imagens
em todas as suas dimensões: sexual, psicológica, que nos rodeiam, uma vez que elas já são parte
social e política. Começa pela sua formação: na daquilo que somos: imagens que criamos e ima-
infância, na adolescência, na vida sexual, tudo pa- gens que emolduramos; imagens que compomos
rece disposto a aumentar a distância que a separa fisicamente, à mão, e imagens que se formam es-
do homem para transformar as diferenças em de- pontaneamente na imaginação; imagens de ros-
sigualdade, e essa desigualdade em inferioridade. tos, árvores, prédios, nuvens, paisagens, instru-
Em seguida, Simone descreve a situação da mu- mentos, água, fogo e imagens daquelas imagens
lher no casamento – com suas premissas e suas – pintadas, esculpidas, encenadas... Quer descu-
tradições –, na maternidade, na vida social, na bramos nessas imagens circundantes lembranças
prostituição, na maturidade e na velhice. Por fim, desbotadas de uma beleza que, em outros tem-
ela contempla os problemas que se apresentam às pos, foi nossa (como sugeriu Platão), quer elas
mulheres e o caminho da libertação. exijam de nós uma interpretação nova e original,
por meio de todas as possibilidades que nossa lin-
“As mulheres de hoje estão destronando o
guagem tenha a oferecer, somos essencialmente
mito da feminilidade; começam a afirmar concre-
criaturas de imagens, de figuras.
tamente sua independência; mas não é sem difi-
(MANGUEL, Alberto. Lendo imagens. São Paulo:
culdade que conseguem viver integralmente sua Companhia das Letras, 2009. p. 19-20.)
condição de ser humano. [...]”
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: a experiência vivida. 3ª
ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. v. 2. (adaptado). 06.07. (CM – RJ) – A argumentação pode ser construída
por meio de diferentes recursos, sempre visando convencer
o leitor sobre a validade de determinada tese. Nesse sentido,
06.06. (IFPE) – O texto corresponde à quarta capa de um
é correto afirmar que Manguel
livro. Assinale a alternativa que se refere ao objetivo desse
texto. a) prefere o diálogo com o leitor à apresentação de seus
argumentos.
a) Descrever as principais características da personagem
que protagoniza o livro. b) apresenta sua tese no primeiro parágrafo, por meio de
uma narração.
b) Construir argumentação que convença o leitor sobre o
mérito da teoria defendida no livro. c) demonstra a pobreza da linguagem verbal, porque ela é
incapaz de verbalizar todas as imagens.
c) Resumir os fatos mais importantes ocorridos na vida da
autora que escreveu o livro. d) articula, por uma condicional, argumentos de autoridade
à coletividade expressa na primeira pessoa do plural.
d) Fornecer informações ao leitor para que ele levante hipó-
teses sobre o conteúdo do livro. e) apresenta Francis Bacon, Platão e Salomão como as únicas
autoridades no assunto, conferindo credibilidade ao texto.

Português 2C 29
Instrução: Texto para a próxima questão. inaugurado no dia 25 de março de 2012. A edi-
Leia o texto com atenção e, em seguida, responda à questão ficação é discreta e ao mesmo tempo tocante. Na
a seguir. verdade, é preciso conhecer o lugar, ou ser previa-
mente informado, para saber que na cidade existe
um memorial e, ademais, um museu basicamente
Por que temos poucos memoriais dedicado ao tema.
de abolição da escravidão? Andar por aquela estranha calçada, agachar
Lilia Schwarcz para ler os nomes dos navios, observar as datas
Lembrar é uma forma de não deixar esquecer. em que cada uma destas embarcações circulou,
O Brasil foi destino de mais de 40% de africanos e olhar para o mesmo mar, acaba sendo um exer-
africanas por aqui escravizados, e precisa cuidar, cício muito doloroso. Difícil sair de lá da mesma
de maneira crítica, da sua memória. maneira como se chegou. É impossível deixar de
Bem no meio da pacata cidade de Nantes, na anotar a inacreditável quantidade de naus dedica-
França, uma calçada reluz estranhamente ao Sol. das a esse comércio de almas, que gerou a maior
São centenas de pequenas placas retangulares, diáspora desde a época romana. Mais difícil ainda
feitas de um vidro translúcido e de cor azul celeste, é tentar visualizar a maneira como se “armazena-
espalhadas por uma via onde passam mães levando vam” os bens importados, sem discriminação de
seus carrinhos de bebê, rapazes andando de bici- pessoas ou produtos. Esse talvez seja o motivo de
cleta, moços e moças fazendo jogging, senhores e o memorial continuar numa espécie de subsolo,
senhoras apressados a caminho do trabalho. onde se encontra uma cronologia da escravidão
Somente apurando bem os olhos é possível e uma série de frases retiradas de textos de ativis-
notar que há sempre um título gravado por de- tas, literatos e filósofos que lutaram pela abolição
baixo desses delicados sinais brilhantes, dispostos desse sistema. [...]
simetricamente ao chão. Le Saint Jean Baptiste, Memória e história nem sempre andam juntas.
Le Juste, L’Union, La Valeur, La Felicité, Le Bien Afinal, muitas vezes, quando é difícil lembrar, o
Aimée e Brásil são alguns dos muitos nomes de melhor caminho parece ser ignorar. Fico me per-
navios negreiros que, desde o século 16 e até o guntando, no entanto, se esquecer ou descuidar
final do 19, partiram de porto de Nantes ou lá não são maneiras de dar espaço à incredulidade e
aportaram. Os apelidos dados aos barcos parecem de construir o pouco caso diante de uma realidade
denotar uma certa culpa, tamanha a desproporção tão brutal e tão presente em nossa história nacio-
entre eles e a tarefa que buscavam descrever. nal contemporânea.
Essas eram embarcações que transportavam de Em maio de 2018 faremos 130 anos de
tudo um pouco: tecidos, produtos agrícolas, azu- abolição da escravidão mercantil no Brasil. Que a
lejos, minérios, especiarias, mas, acima de tudo, data vire cicatriz. Como escreveu Caio Fernando
pessoas. Eles eram tumbeiros, navios negreiros Abreu: “Menos pela cicatriz deixada, uma ferida
que faziam o comércio de almas no contexto antiga mede-se mais exatamente pela dor que
moderno, quando o mundo ocidental reinventou provocou, e para sempre perdeu-se no momento
uma nova escravidão; uma escravidão mercantil. em que cessou de doer, embora lateje louca nos
Os navios vinham e voltavam cheios de “merca- dias de chuva”.
dorias”. Não havia espaço ocioso ou lugar nas em- (Adaptado de Nexo Jornal Ltda. Coluna. 9 de abril de 2018.
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2018/
barcações que deixassem de auferir lucro: de uma Por-que-temos-poucos-memoriais-de-aboli%C3%A7%C3%A3o-
ponta saíam produtos agrícolas, de outra, metais da-escravid%C3%A3o. Acesso em 17 de setembro de 2018.)
preciosos, de outra, ainda, africanos e africanas
transformados em valiosos objetos de comércio. 06.08. (CFT – RJ) – Na construção da argumentação do
Foram recenseadas mais de 27.233 expe- texto, a referência à cidade de Nantes, na França, cumpre
dições marítimas que partiram de portos euro- principalmente o papel de:
peus durante esses quatro longos séculos em que a) criar uma digressão no texto, desviando o leitor das ques-
perdurou o sistema escravocrata. No total, mais tões imprescindíveis para o processo de argumentação.
de 12 milhões e meio de mulheres, homens e
b) comprovar o grande repertório cultural e vivencial da
crianças foram arrancadas à força da África e de-
autora, que ganha maior credibilidade dos leitores.
portados para as Américas e para o caribe. Mais
de um milhão e meio dessas pessoas morreram c) estabelecer uma oposição com a realidade brasileira, em
durante a travessia. Só de Nantes saíram em torno que há poucos memoriais da abolição da escravidão.
de 1.800 expedições negreiras, tendo elas apresa- d) explicitar que a situação da França em relação à existência
do mais 550 mil africanos e africanas. de memoriais de abolição da escravidão assemelha-se à
Os números são fortes, definitivos, e explicam brasileira.
o motivo da criação, em Nantes, de um impres-
sionante “Memorial da abolição da escravidão”,

30 Extensivo Terceirão
Aula 06

Instrução: Texto para a próxima questão.


tade de um domínio tecnicista sobre o saber uni-
versal e humanista.
Inteligência o quê?
Se é possível criar máquinas habilitadas no
Inteligência vem da junção das palavras lati- domínio da lógica para resolver problemas estra-
nas inter (entre) legere (escolher). Por meio da tégicos, não é possível dotá-las de atributos ine-
seleção e da escolha os humanos compreendem rentes à condição humana.
as coisas.
Conforme defende L.H. Dreyfus (“intelligence
Na idade média, os filósofos se referiam à in- artificiele – Mythes et limites”, 1984), existem
teligência como a parte superior da alma e sua ca- quatro postulados bastantes discutíveis quando
pacidade de conhecimento. Desde então, compõe se fala de inteligência- artificial: o biológico (os
um trio inseparável: memória-inteligência-vonta- impulsos cerebrais), o psicológico (a própria
de. mente), o epistemológico (relativo ao saber e às
Quando se fala em inteligência artificial, nin- suas formulações) e o ontológico (os elementos
guém pode deixar de lado esse ternário. É ater- determinados e independentes de todo contexto).
rorizante imaginar essas três atividades operando Na porta do século XXI, o desenvolvimento
conjuntamente em outro local que não o cérebro das tecnologias é exponencial, basta refletir com
humano. tranquilidade para saber que a técnica ajuda, fa-
Seria possível dotar um computador de razão? cilita e até resolve, mas não é tudo e nem pode
Capaz de compreender, julgar, ter bom senso, superar o cérebro humano naquilo que ele tem de
juízo? melhor – e pior: a razão – ou desrazão.
Os computadores guardam ainda a base de seu A desafiadora expressão inteligência artificial,
desenvolvimento na década de 40, a capacidade portanto pode enganar mais do que esclarecer.
algorítmica, aptos para resolver cálculos científi- Prefiro a reação de Millôr Fernandes ao saber des-
cos, mas não para analisá-los, como se explica na te diálogo impertinente: “Me chamem quando fo-
“Enciclopédia Filosófica Universal”, o local menos rem discutir a burrice natural”.
suspeito para uma consulta sobre máquinas teori-
Caio Túlio Costa in Folha de São Paulo, 23 jul. 2017.
camente habilitadas a simular a inteligência.
O computador tem conseguido ultrapassar
o homem na rapidez e na confiabilidade das 06.09. (IFBA) – Sobre o texto acima, é correto afirmar:
operações matemáticas, nas tarefas de rotina, nos I. Posiciona-se a favor da inteligência natural, humana, em
encadeamentos lógicos. A máquina na qual escrevi detrimento da inteligência artificial.
essa coluna, evidentemente, não compreende o II. Trabalha dentro da oposição humano versus máquina.
texto escrito nela. Pode até vertê-lo para outra
III. Constrói uma argumentação em que a máquina preva-
língua, mas jamais vai poder entender e traduzir
em toda a sua profundidade o significado doce e lece sobre o humano.
doloroso de uma palavra como saudade, existente IV. Narra episódios da evolução das pesquisas em inteli-
somente na língua portuguesa. gência artificial.
Já inventaram programas de computador Assinale a alternativa que corresponde às opções verdadeiras:
como o Elisa que “conversa” com as pessoas e a) I e II
parece compreendê-las. Representa comporta- b) I, II, III
mentos pré-definidos como o de um psicanalista c) II, III
e responde com alguma lógica a questões menos
d) II, III, IV
profundas. Tudo pré-programado e incapaz de
evitar o inesperado. e) I, II, III, IV
Enganar com o computador, como se vê, Instrução: Texto para a próxima questão.
pode ser possível. Calma. Ninguém se preocupe
se a técnica parece dominar tudo e os técnicos
assumem ares de seres superpoderosos e únicos Norma e padrão
receptáculos de um saber só entendido por eles, Uma das comparações que os estudiosos de
porque falam entre si numa linguagem cifrada e variação linguística mais gostam de utilizar é a da
incompreensível. língua com a vestimenta. Esta, como sabemos, é
Tudo pode ser decodificado facilmente, e o bastante variada, indo da mais formal (longo e
que hoje perece intransponível não o será logo smoking) à mais informal (biquíni e sunga, ou
mais. Basta ver a facilidade da criançada com os camisola e pijama). A ideia dos que fazem essa
computadores. Assim, termos como inteligência comparação é a seguinte: não existem, a rigor,
artificial ainda servem apenas para ocultar a von- formas linguísticas erradas, existem formas lin-

Português 2C 31
guísticas inadequadas. Como as roupas: assim filho que obedece os pais”. O que estou fazendo é
como ninguém vai à praia de smoking ou de lon- cobrar coerência, um pouquinho só: se o padrão
go, também ninguém casa de biquíni e de sunga, vem da fala dos bacanas, se os mais bacanas são os
ou de camisola e de pijama (sem negar que estas poetas consagrados, por que, antes das dez, numa
sejam vestimentas, e adequadas!), assim ninguém aula de literatura, podemos curtir seu estilo e em
diz “me dá esse troço aí” num banquete público e outra aula, depois das onze, dizemos aos alunos
formal nem “faça-me o obséquio de passar-me o e aos demais interessados: viram o Drummond, o
sal” numa situação de intimidade familiar. Murilo, o Machado, o Guimarães Rosa? Que cria-
Os gramáticos e os sociolinguistas, cada um tividade!!! Mas vocês não podem fazer como eles.
com seu viés, costumam dizer que o padrão lin- POSSENTI, Sírio. A cor da língua e outras croniquinhas de linguística.
guístico é usado pelas pessoas representativas de Campinas: Mercado de Letras, 2001. p. 111-112. (Adaptado).

uma sociedade. Os gramáticos dizem isso, mas


acabam não analisando o padrão, nem recomen-
06.10. (UEG – GO) – Considerando-se suas características
dando-o de fato. Recomendam uma norma, uma
norma ideal. Vou dar uns exemplos: se o padrão é retóricas, o texto de Sírio Possenti realiza predominantemen-
o usado pelos figurões, então deveriam ser consi- te a seguinte tipologia textual:
derados padrões o verbo “ter” no lugar de “haver”; a) narração
a regência de “preferir x do que y”, em vez de b) descrição
“preferir x a y”; o uso do anacoluto (A inflação, c) argumentação
ela estará dominada quando...); a posição enclí- d) exposição
tica dos pronomes átonos. O que não significa e) injunção
proibir as mais conservadoras. Algumas dessas
formas “novas” aparecem em muitíssimo boa li-
teratura, em autores absolutamente consagrados, Aprofundamento
que poderiam servir de base para que os gramáti-
cos liberassem seu uso – para os que necessitam Instrução: Texto para a próxima questão.
da licença dos outros.
Vejam-se esses versos de Murilo Mendes: Texto
“Desse lado tem meu corpo / tem o sonho / tem a
minha namorada na janela / tem as ruas gritando Achei que estava bem na foto. Magro, olhar
de luzes e movimentos / tem meu amor tão lento vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não
/ tem o mundo batendo na minha memória / tem havia cabelos brancos entre os poucos que so-
o caminho pro trabalho. Do outro lado tem outras breviviam. Comparada ao homem de hoje, era a
vidas vivendo da minha vida / tem pensamentos fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela
sérios me esperando na sala de visitas / tem minha época, entretanto, idade em que me considera-
noiva definitiva me esperando com flores na mão va bem distante da juventude. Se me for dado o
/ tem a morte, as colunas da ordem e da desor- privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da
dem.”. razão, é possível que uma imagem de agora me
cause impressão semelhante.
Faltou ao poeta acrescentar: tem uns gramáti- O envelhecimento é sombra que nos acom-
cos do tempo da onça / de antes do tempo em que panha desde a concepção: o feto de seis meses é
se começou a andar pra frente. muito mais velho do que o embrião de cinco dias.
Não vou citar Drummond de Andrade, com Lidar com a inexorabilidade desse processo exige
seu por demais conhecido “Tinha uma pedra no uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a
meio do caminho...”, nem o Chico Buarque de adaptação. Não há animal capaz de criar soluções
“Tem dias que a gente se sente / como quem par- diante da adversidade como nós, de sobreviver
tiu ou morreu...”. em nichos ecológicos que vão do calor tropical às
Mas acho que vou citar “Pronominais”, do geleiras do Ártico.
glorioso Oswald de Andrade: Dê-me um cigarro / Da mesma forma que ensaiamos os primeiros
Diz a gramática / Do professor e do aluno / E do passos por imitação, temos que aprender a ser
mulato sabido / Mas o bom negro e o bom branco adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais ve-
/ Da nação brasileira / Dizem todos os dias / Deixa lhos. A adolescência é um fenômeno moderno.
disso camarada / Me dá um cigarro. Nossos ancestrais passavam da infância à vida
Quero insistir: ao contrário do que se poderia adulta sem estágios intermediários. Nas comuni-
pensar (e vários disseram), não sou anarquista, dades agrárias o menino de sete anos trabalhava
defensor do tudo pode, ou do vale tudo. Nem es- na roça e as meninas cuidavam dos afazeres do-
tou dizendo que “Nós vai” é igual a “Tem muito mésticos antes de chegar a essa idade.

32 Extensivo Terceirão
Aula 06

A figura do adolescente que mora com os pais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se com-
até os 30 anos, sem abrir mão do direito de recla- porta como criança de dez. Ainda que maldigamos
mar da comida à mesa e da camisa mal passada, o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação
surgiu nas sociedades industrializadas depois da das ambiguidades, das diferenças, do contraditório
Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos e abre espaço para uma diversidade de experiên-
avós tinham filhos para criar. cias com as quais nem sonhávamos anteriormente.
A exaltação da juventude como o período áu- VARELLA, D. A arte de envelhecer. Adaptado. Disponível em <http://www1.
reo da existência humana é um mito das socie- folha.uol.com.br/colunas/2016/01/1732457> Acesso em: mai. 2017.

dades ocidentais. Confinar aos jovens a publici-


dade dos bens de consumo, exaltar a estética, os
06.11. (ITA – SP) – Em todas as opções, o autor vale-se de
costumes e os padrões de comportamento carac-
metáforas para construir sua argumentação, EXCETO em
terísticos dessa faixa etária tem o efeito perverso
de insinuar que o declínio começa assim que essa a) sombra que nos acompanha (parágrafo 2)
fase se aproxima do fim. b) período áureo (parágrafo 5)
A ideia de envelhecer aflige mulheres e ho- c) dores sem analgesia (parágrafo 7)
mens modernos, muito mais do que afligia nossos d) a mais temível das criaturas (parágrafo 7)
antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, e) editora autoritária (parágrafo 9)
Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se
lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos Instrução: Texto para a próxima questão.
gregos, romanos ou judeus viviam em média 30
anos. No início do século 20, a expectativa de
vida ao nascer nos países da Europa mais desen-
volvida não passava dos 40 anos.
A mortalidade infantil era altíssima; epide-
mias de peste negra, varíola, malária, febre ama-
rela, gripe e tuberculose dizimavam populações
inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo
devastado por guerras, enfermidades infecciosas,
escravidão, dores sem analgesia e a onipresença
da mais temível das criaturas. Que sentido have-
ria em pensar na velhice quando a probabilida-
de de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje
preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade,
que pouquíssimos conhecerão.
Os que estão vivos agora têm boa chance de
passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria
para aceitar que nossos atributos se modificam
com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia
devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18,
mas que envelhecer não é sinônimo de decadên-
cia física para aqueles que se movimentam, não
fumam, comem com parcimônia, exercitam a
cognição e continuam atentos às transformações Quino. Mafalda. Disponível em: <http//www.cultzone.com.br./cultzone exibe.
pho?d-5797>. Acesso 23 set. 2015
do mundo.
Considerar a vida um vale de lágrimas no 06.12. (IFPE) – Na tirinha de Quino, a personagem Mafalda
qual submergimos de corpo e alma ao deixar a
afirma, no último quadrinho, ter sido persuadida por Susanita
juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar,
(sua interlocutora), esta teria sido, inclusive, a razão para Ma-
aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos
15 aos 25 é não levar em conta que a memória é falda apelar para a violência. A propósito, qual foi a estratégia
editora autoritária, capaz de suprimir por conta argumentativa de que se valeu a personagem Susanita para
própria as experiências traumáticas e relegar ao convencer Mafalda?
esquecimento inseguranças, medos, desilusões a) Exemplificação, pois Susanita cita um fato ocorrido com
afetivas, riscos desnecessários e as burradas que Mafalda que materializa a tese que defende.
fizemos nessa época. b) Utilização de dados concretos, visto que a personagem faz
Nada mais ofensivo para o velho do que dizer uso de elementos como: estatísticas, valores financeiros
que ele tem “cabeça de jovem”. É considerá-lo mais e pesquisas de opinião.

Português 2C 33
c) Argumentação por causa-consequência, pois estabelece
uma relação entre a sua tese e as consequências que uma a problemática das relações de trabalho envolve
opção diferente poderia gerar. também uma questão: qual o tipo de desenvol-
vimento que nós, como cidadãos, queremos ter?
d) Argumentação por testemunho de autoridade, uma vez
que Susanita é uma pessoa reconhecida como profunda Segundo Christiane, é preciso “articular” o
econômico e o social, como acontece na econo-
conhecedora do assunto debatido.
mia solidária.
e) Indução, pois Susanita elabora sua estratégia argumen-
tativa de acordo com os anseios que a personagem “Ela é uma das alternativas que aparecem e
precisa ser discutida. A resposta do trabalhador
Mafalda possui.
se manifesta por meio do estresse, de doenças
Instrução: Texto para a próxima questão. diversas e do suicídio. A gente não se pergunta
o suficiente sobre o peso da gestão do trabalho”,
disse a representante do Ipea.
Competição e individualismo excessivos
Adaptado de www.diariodasaude.com.br
ameaçam saúde dos trabalhadores
Ideologia do individualismo
06.13. (UERJ) – No texto, as falas do professor universitário e
O novo cenário mundial do trabalho apresenta da coordenadora do instituto de pesquisa reforçam o sentido
facetas como a da competição globalizada e a da geral antecipado pelo título da matéria jornalística. A citação
ideologia do individualismo. A afirmação foi feita
de falas como as referidas acima é um recurso conhecido da
pelo professor da Universidade de Brasília (UnB)
argumentação.
Mário César Ferreira, ao participar do seminário
Trabalho em Debate: Crise e Oportunidades. Esse recurso está corretamente descrito em:
Segundo ele, pela primeira vez, há uma liga- a) exemplificação de fatos enunciados no texto
ção direta entre trabalho e índices de suicídio, b) registro da divergência entre diferentes autores
sobretudo na França, em função das mudanças c) apoio nas palavras de especialistas em uma área
focadas na ideia de excelência. d) apresentação de dados quantificados por pesquisas
Fim da especialização Instrução: Texto para a próxima questão.
A configuração do mundo do trabalho é cada
vez mais volátil”, disse o professor. Ele destacou Um poema de Vinicius de Moraes
ainda a crescente expansão do terceiro setor, do
trabalho em domicílio e do trabalho feminino, A flutuação do gosto em relação aos poetas é
bem como a exclusão de perfis como o de tra- normal, como é normal a sucessão dos modos de
balhadores jovens e dos fortemente especializa- fazer poesia. Pelo visto, Vinicius de Moraes anda
dos. “As organizações preferem perfis polivalentes em baixa acentuada. Talvez o seu prestígio tenha
e multifuncionais.” Desta forma, a escolarização diminuído porque se tornou cantor e composi-
clássica do trabalhador amplia-se para a qualifi- tor, levando a opinião a considerá-lo mais letrista
cação contínua, enquanto a ultraespecialização do que poeta. Mas deve ter sido também porque
evolui para a multiespecialização. encarnou um tipo de poesia oposto a certas mo-
dalidades para as quais cada palavra tende a ser
Metamorfoses do trabalho objeto autônomo, portador de maneira isolada
Ele ressaltou que as “metamorfoses” no cená- (ou quase) do significado poético.
rio do trabalho não são “indolores” para os que Na história da literatura brasileira ele é um po-
trabalham e provocam erros frequentes, retraba- eta de continuidades, não de rupturas; e o nosso
lho, danificação de máquinas e queda de produ- é um tempo que tende à ruptura, ao triunfo do
tividade. ritmo e mesmo do ruído sobre a melodia, assim
Outra grande consequência, de acordo com o como tende a suprimir as manifestações da afeti-
professor, diz respeito à saúde dos trabalhadores, vidade.
que leva à alta rotatividade nos postos de trabalho Ora, Vinicius é melodioso e não tem medo
e aos casos de suicídio. “Trata-se de um cenário de manifestar sentimentos, com uma naturali-
em que todos perdem, a sociedade, os governan- dade que deve desgostar as poéticas de choque.
tes e, em particular, os trabalhadores”, avaliou. Por vezes, ele chega mesmo a cometer o pecado
maior para o nosso tempo: o sentimentalismo.
Articulação entre econômico e social Isso lhe permitiu dar estatuto de poesia a coisas,
Para a coordenadora da Diretoria de Coopera- sentimentos e palavras extraídos do mais singelo
ção e Desenvolvimento do Instituto de Pesquisa cotidiano, do coloquial mais familiar e até piegas,
Econômica Aplicada (Ipea), Christiane Girard, de maneira a parecer muitas vezes um seresteiro

34 Extensivo Terceirão
Aula 06

milagrosamente transformado em poeta maior. Mas o que aqueles pássaros construíram não
João Cabral disse mais de uma vez que sua pró- foi uma parede: foi um buraco. Erguemos pare-
pria poesia remava contra a maré da tradição lí- des inteiras como se fôssemos tucanos cegos. De
rica de língua portuguesa. Vinicius seria, ao con- um e do outro lado há sempre algo que morre,
trário, alguém integrado no fluxo da sua corrente, truncado do seu lado gêmeo. Aprendemos a de-
porque se dispôs a atualizar a tradição. Isso foi marcarmo-nos do Outro e do Estranho como se
possível devido à maestria com que dominou o fossem ameaças à nossa integridade. Temos medo
verso, jogando com todas as suas possibilidades. da mudança, medo da desordem, medo da com-
Ele consegue ser moderno usando metrifica- plexidade. 1Precisamos de modelos para entender
ção e cultivando a melodia, com uma imaginação o universo (que é, afinal, um pluriverso ou um
renovadora e uma liberdade que quebram as con- multiverso), que foi construído em permanente
venções e conseguem preservar os valores colo- mudança, no meio do caos e do imprevisível.
quiais. Rigoroso como Olavo Bilac, fluido como A própria palavra “fronteira” nasceu como um
o Manuel Bandeira dos versos regulares, terra a conceito militar, era o modo como se designava
terra como os poemas conversados de Mário de a frente de batalha. Nesse mesmo berço aconte-
Andrade, esse mestre do soneto e da crônica é um ceu um fato curioso: um oficial do exército fran-
raro malabarista. cês inventou um código de gravação de mensa-
ANTONIO CANDIDO. Adaptado de Teoria e debate, nº 49. gens em alto-relevo. Esse código servia para que,
São Paulo: Fundação Perseu Abramo, out-dez, 2001. nas noites de combate, os soldados pudessem se
comunicar em silêncio e no escuro. Foi a partir
desse código que se inventou o sistema de leitura
06.14. (UERJ) – A articulação do primeiro com o segundo Braille. No mesmo lugar em que nasceu a pala-
parágrafo revela o seguinte eixo principal da argumentação vra “fronteira” sucedeu um episódio que negava o
do crítico: sentido limitador da palavra.
a) valorização de versos coloquiais A fronteira concebida como vedação estanque
b) descrição de uma poética singular tem a ver com o modo como pensamos e vive-
c) contestação de artistas modernos mos a nossa própria identidade. Somos um pouco
d) exaltação de uma obra convencional como a tucana que se despluma dentro do escuro:
temos a ilusão de que a nossa proteção vem da
Instrução: Texto para as próximas 2 questões. espessura da parede. Mas seriam as asas e a capa-
cidade de voar que nos devolveriam a segurança
Nosso pensamento, como toda entidade viva, de ter o mundo inteiro como a nossa casa.
nasce para se vestir de fronteiras. Essa invenção MIA COUTO
Adaptado de fronteiras.com, 10/08/2014.
é uma espécie de vício de arquitetura, pois não
há infinito sem linha do horizonte. A verdade é
que a vida tem fome de fronteiras. Porque essas 06.15. (UERJ) – Precisamos de modelos para entender o uni-
fronteiras da natureza não servem apenas para verso (que é, afinal, um pluriverso ou um multiverso), (ref. 1)
fechar. Todas as membranas orgânicas são entida-
des vivas e permeáveis. São fronteiras feitas para, Nesse trecho, o conteúdo entre parênteses propõe uma re-
ao mesmo tempo, delimitar e negociar: o “dentro” formulação da palavra universo, em função da argumentação
e o “fora” trocam-se por turnos. feita pelo autor. Essa reformulação explora o seguinte recurso:
Um dos casos mais notáveis na construção de a) contraste de morfemas de sentidos distintos
fronteiras acontece no mundo das aves. É o caso b) citação de neologismos de valor polissêmico
do nosso tucano, o tucano africano, que fabrica o c) comparação de conceitos relacionados ao tema
ninho a partir do oco de uma árvore. Nesse vão, d) enumeração de sinônimos possíveis no contexto
a fêmea se empareda literalmente, erguendo, ela e
o macho, um tapume de barro. Essa parede tem 06.16. (UERJ) – No penúltimo parágrafo, a menção ao
apenas um pequeno orifício, ele é a única janela surgimento do sistema de leitura Braile serve de exemplo à
aberta sobre o mundo. Naquele cárcere escuro, argumentação do autor. Esse exemplo, no contexto, assume
a fêmea arranca as próprias penas para preparar o seguinte objetivo:
o ninho das futuras crias. Se quisesse desistir da a) rever o caráter restritivo das experiências pessoais
empreitada, ela morreria, sem possibilidade de b) contradizer os usos correntes da linguagem técnica
voar. Mesmo neste caso de consentida clausura, a
divisória foi inventada para ser negada. c) ressaltar a fragilidade humana nos contextos de guerra
d) demonstrar apropriação nova no emprego de uma ideia

Português 2C 35
Instrução: Texto para a próxima questão. toda a nova ordem de coisas, trocando a noção de-
Leia o trecho do conto “A igreja do Diabo”, de Machado de las, fazendo amar as perversas e detestar as sãs.
Assis (1839 –1908), para responder à questão a seguir: Nada mais curioso, por exemplo, do que a
definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe
Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um o braço esquerdo do homem; o braço direito
minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula1 bene- era a força; e concluía: Muitos homens são ca-
ditina, como hábito de boa fama, e entrou a es- nhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos
palhar uma doutrina nova e extraordinária, com fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns
uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele fossem canhotos, outros destros; aceitava a to-
prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da dos, menos os que não fossem nada. A demons-
terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. tração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a
Confessava que era o Diabo; mas confessava-o da venalidade5. Um casuísta6 do tempo chegou
para retificar a noção que os homens tinham dele a confessar que era um monumento de lógica.
e desmentir as histórias que a seu respeito conta- A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de
vam as velhas beatas. um direito superior a todos os direitos. Se tu
– Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapa-
das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror to, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma
das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o razão jurídica e legal, mas que, em todo caso,
próprio gênio da natureza, a que se deu aquele estão fora de ti, como é que não podes ven-
nome para arredá-lo do coração dos homens. Ve- der a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a
de-me gentil e airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque
Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo?
meu desdouro2, fazei dele um troféu e um lába- Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório.
ro3, e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, Pois não há mulheres que vendem os cabelos?
tudo... não pode um homem vender uma parte do seu
sangue para transfundi-lo a outro homem anê-
Era assim que falava, a princípio, para excitar
mico? e o sangue e os cabelos, partes físicas,
o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar,
terão um privilégio que se nega ao caráter, à
em suma, as multidões ao pé de si. E elas vie-
porção moral do homem? Demonstrando assim
ram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir
o princípio, o Diabo não se demorou em expor
a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca
as vantagens de ordem temporal ou pecuniária;
de um espírito de negação. Isso quanto à substân-
depois, mostrou ainda que, à vista do precon-
cia, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil,
ceito social, conviria dissimular o exercício de
outras cínica e deslavada.
um direito tão legítimo, o que era exercer ao
Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto
substituídas por outras, que eram as naturais e é, merecer duplicadamente.
legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram
(Contos: uma antologia, 1998.)
reabilitadas, e assim também a avareza, que decla-
rou não ser mais do que a mãe da economia, com 1. cogula: espécie de túnica larga, sem mangas, usada por certos religiosos.

a diferença que a mãe era robusta, e a filha uma 2. desdouro: descrédito, desonra.

esgalgada4. A ira tinha a melhor defesa na exis- 3. lábaro: estandarte, bandeira.


4. esgalgado: comprido e estreito.
tência de Homero; sem o furor de Aquiles, não
5. venalidade: condição ou qualidade do que pode ser vendido.
haveria a Ilíada: “Musa, canta a cólera de Aqui-
6. casuísta: pessoa que pratica o casuísmo (argumento fundamentado em
les, filho de Peleu”... [...] Pela sua parte o Diabo raciocínio enganador ou falso).
prometia substituir a vinha do Senhor, expressão
metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e
verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com 06.17. (UNIFESP) – No último parágrafo, o principal recurso
o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto retórico mobilizado pelo Diabo em sua argumentação a
à inveja, pregou friamente que era a virtude prin- respeito da venalidade é
cipal, origem de prosperidades infinitas; virtude a) a repetição.
preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e b) a interrogação.
ao próprio talento. c) a citação.
As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O d) a hesitação.
Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloquência, e) a periodização.

36 Extensivo Terceirão
Aula 06

Instrução: Texto para a próxima questão.


mente. Não faltam no livro trivialidades moralis-
tas sobre o caráter insaciável de nosso desejo. Não
Felicidade nas telas faltam também evocações saudosistas do sossego
Uma amiga inventou um jeito de curtir sua de algum passado rural. Em matéria de infelici-
fossa. Depois de um dia de trabalho, de volta em dade, é sempre fácil (e um pouco tolo) culpar a
casa, ela se enfia na cama, abre seu laptop e entra sociedade de consumo e sua propaganda, que vi-
no Facebook. Ela não procura amigos e conheci- veriam às custas de nossa insatisfação.
dos para aliviar o clima solitário e deprê do fim do Anotei na margem: mas quem disse que a in-
dia. Essa talvez tenha sido a intenção nas primei- felicidade é a mesma coisa que a insatisfação? E se
ras vezes, mas, hoje, experiência feita, ela entra no a infelicidade fosse, ao contrário, o efeito de uma
Facebook, à noite, como disse, para curtir sua fos- saciedade muito grande, capaz de estancar nosso
sa. De que forma? Visitando as páginas de amigos desejo? Que tal se a infelicidade não tivesse nada
e conhecidos, ela descobre que todos estão muito a ver com a ansiedade das buscas frustradas, mas
bem: namorando (finalmente), prestes a se casar, fosse uma espécie de preguiça do desejo, mais pa-
renovando o apartamento que sempre desejaram recida com o tédio de viver do que com a falta
remodelar, comprando a casa de praia que tanto de gratificação? Em suma, você é infeliz por que
queriam, conseguindo a bolsa para passar dois ainda não conseguiu tudo o que você queria, ou
anos no exterior, sendo promovidos no emprego por que parou de querer, e isso torna a vida muito
ou encontrando um novo “job” fantasticamente chata? Seja como for, lendo o livro e me lembran-
interessante. E todos vivem essas bem-aventuran- do da fossa de minha amiga no Facebook, ocor-
ças circundados de amigos maravilhosos, afetu- reu-me que talvez uma das fontes da infelicidade
osos, alegres, festeiros e sempre presentes, como seja a necessidade de parecermos felizes. Por que
nas fotografias postadas. precisaríamos mostrar ao mundo uma cara (ou
Minha amiga, em suma, sente-se excluída da uma careta) de felicidade?
felicidade geral da nação facebookiana: só ela não A felicidade dá status, como a riqueza. Por
foi promovida, não encontrou um namorado fa- isso, os sinais aparentes de felicidade podem ser
buloso, não mudou de casa, não ganhou nesta ro- mais relevantes do que a íntima sensação de bem-
dada da loto. É mesmo um bom jeito de aprofun- -estar; além disso, somos cronicamente depen-
dar e curtir a fossa: a sensação de um privilégio dentes do olhar dos outros. Consequência: para
negativo, pelo qual nós seríamos os únicos a so- ter certeza de que sou feliz, preciso constatar que
frer, enquanto o resto do mundo se diverte. Numa os outros enxergam minha felicidade. Nada grave,
dessas noites de fossa e curtição, minha amiga, mas isso leva a algo mais chato: a prova de mi-
ao voltar para sua própria página no Facebook, nha felicidade é a inveja dos outros. O resultado
deu-se conta de que a página não era diferente dessa necessidade de parecermos felizes é que a
das outras. Ou seja, quem a visitasse acharia que felicidade é este paradoxo: uma grande impostura
minha amiga estava numa época de grandes reali- da qual receamos não fazer parte e que, por isso
zações e contentamentos. Ela comentou: “As fotos mesmo, não conseguimos denunciar.
das minhas férias, por exemplo, esbanjam alegria;
CALIGARIS, C. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/
elas não passaram por nenhum photoshop, acon- fq2309201026.htm>. Acesso em: 03 out. 2016. (Adaptado).
tece que são três ou quatro fotos “felizes” entre as
mais de 500 que eu tirei”.
Logo nestes dias, acabei de ler Porque somos 06.18. (CFT – MG) – Para desenvolver a argumentação e
infelizes, organizado por Paolo Crepet. São seis expressar um ponto de vista sobre o tema, o autor
textos de psiquiatras e psicanalistas (e um de um a) cita especialistas, apresentando dados técnicos sobre o
geneticista), tentando nos explicar “por que so- fenômeno observado.
mos infelizes” e, em muitos casos, por que não b) utiliza linguagem emotiva, com o intuito de sensibilizar
deveríamos nos queixar disso. Por exemplo, a in- e comover o público-leitor.
felicidade é uma das motivações essenciais; sem c) recorre a exemplificações, fazendo referência a situações
ela nos empurrando, provavelmente, ficaríamos que fundamentam sua tese.
parados no tempo, no espaço e na vida. Ou ainda,
d) propõe hipóteses lógicas, discutindo as causas e conse-
a infelicidade é indissociável da razão e da memó-
ria, pois a razão nos repete que a significação de quências do problema analisado.
nossa existência só pode ser ilusória e a memória
não para de fazer comparações desvantajosas en-
tre o que alcançamos e o que desejávamos inicial-

Português 2C 37
Instrução: Texto para a próxima questão:
Desafio A questão a seguir toma por base um trecho do artigo “Horror
Instrução: Texto para a próxima questão. a aprender” (06.01.1957), escrito pelo historiador e crítico
literário Afrânio Coutinho (1911-2000).
Pensar no envelhecimento é algo que costuma
incomodar a maior parte das pessoas. Herdamos Horror a aprender
das gerações passadas a ideia de que a idade ine- Se quiséssemos numa fórmula definir a men-
xoravelmente sinaliza o fim de uma vida produtiva talidade mais ou menos generalizada dos que mi-
plena e que o melhor a fazer é aceitar a decadência litam na vida literária brasileira, não lograríamos
física, almejando contar com o conforto proporcio- descobrir outra que melhor se prestasse do que
nado por uma boa aposentadoria. Mas o mundo esta: horror a aprender. Nosso autodidatismo en-
mudou. Hoje, uma nova geração descobre que, se raizado, nossa falta de hábito universitário, fazem
tomar decisões sábias na juventude, pode tornar o com que aprender, entre nós, seja motivo de infe-
tempo futuro uma genuína etapa da vida e, mais rioridade intelectual. Ninguém gosta de aprender.
do que isso, uma fase áurea da nossa existência. Ninguém se quer dar ao trabalho de aprender.
Estudos demográficos apontam que as gerações Porque já se nasce sabendo. Todos somos mestres
nascidas desde a década de 60 podem contar com, antes de ser discípulos. Aprender o quê? Pois já
pelo menos, mais 20 anos em sua expectativa de sabemos tudo de nascença! Ignoramos essa ver-
vida. Na verdade, se recuarmos um pouco mais, dade de extrema sabedoria: só os bons discípulos
vamos constatar que esse bônus de longevidade é dão grandes mestres, e só é bom mestre quem foi
maior ainda. No início do século 20, mais ou me- um dia bom discípulo e continua com o espírito
nos na mesma época em que a aposentadoria foi aberto a um perpétuo aprendizado. Quem sabe
criada, a expectativa de vida ao nascer do brasilei- aprender sabe ensinar, e só quem gosta de apren-
ro era, em média, de 33 anos. Hoje estamos quase der tem o direito de dar lições. Como pode di-
chegando aos 80. Em pouco mais de 100 anos o vulgar e orientar conhecimentos quem mantém o
bônus de longevidade foi de quase 50 anos! espírito impermeável a qualquer aprendizagem?
Você S/A – Previdência, setembro de 2016.
Nossos jovens intelectuais, em sua maioria,
primam pelo pedantismo, autossuficiência e falta
de humildade de espírito. São mestres antes de ter
06.19. (FGV – SP) – No texto, a frase “Mas o mundo mudou.” sido discípulos. Saber não os preocupa, estudar,
(1º parágrafo) relaciona diferentes informações da argumen- ninguém lhes viu os estudos. É só meter-lhes na
tação do autor. mão uma pena e cair-lhes ao alcance uma coluna
a) Que tipo de oração coordenada o autor empregou? Que de jornal, e lá vem doutrinação leviana e prosa
sentido ela estabelece no texto? de meia-tigela. Não lhes importa verificar se es-
tão arrombando portas abertas ou chovendo no
molhado.
(No hospital das letras, 1963.)

06.20. (UNESP – SP) – No segundo parágrafo, para reforçar


sua argumentação, Coutinho se vale de duas expressões
idiomáticas que apresentam praticamente o mesmo sentido.
Identifique estas duas expressões idiomáticas e, com base no
sentido comum a ambas, esclareça o argumento do autor.

b) Qual é o ponto de vista do autor sobre o assunto de que


trata e que tipo de argumento ele usa para sustentá-lo?

38 Extensivo Terceirão
Aula 06

Produção de Textos
Proposta 01
(UTFPR) – Considere o texto abaixo:

Pela 1ª vez, abelhas se tornam espécies ameaçadas de extinção


Sete espécies das abelhas amarelas do Havaí são consideradas perigosamente
ameaçadas pelo Serviço Americano de Pesca e Vida Selvagem
Pela primeira vez, as abelhas entraram na lista de espécies ameaçadas de extinção dos Estados Unidos.
Sete espécies da subfamília Hylaeus, encontradas no Havaí, foram listadas pelo Serviço Americano de Pesca
e Vida Selvagem (U. S. Fish and Wildlife Service), após um detalhado estudo feito em conjunto com a Socie-
dade Xerces, organização americana de conservação de invertebrados. A informação foi anunciada na última
sexta-feira pelo órgão americano.
Segundo as pesquisas, no começo do século passado, as abelhas listadas eram as mais abundantes da
região. Em 2015, Matthew Shepherd, diretor de comunicações da Sociedade Xerces, havia publicado no site
da organização alguns motivos para a diminuição dessas abelhas havaianas e apresentou petições pedindo
a proteção dos órgãos federais às espécies ameaçadas. “As abelhas estão sumindo devido à perda de habitat,
invasão de predadores e mudanças climáticas da ilha”, afirmou.
Incêndios florestais, causados pela ação humana, e o aparecimento de espécies não nativas, como as “for-
migas aliens”, que se alimentam das larvas das abelhas, também foram apontados como responsáveis pela
escassez dos insetos.
Segundo cientistas, as abelhas amarelas são essenciais para a polinização do ecossistema no Havaí. “Elas
são decisivas para a preservação de plantas e outros animais da ilha”, disse Gregory Koob, do Serviço Ame-
ricano de Pesca e Vida Selvagem (U. S. Fish and Wildlife Service).
(...)
http://veja.abril.com.br/ciencia/pela-1a-vez-abelhas-se-tornam-especies-ameacadas-de-extincao/. Acesso em 06.10.2016

O texto acima trata dos riscos de extinção das abelhas havaianas, o que viria a comprometer o ecossistema da ilha. A partir
da leitura, produza um texto argumentativo abordando o papel do ser humano em relação ao meio ambiente.

Português 2C 39
Proposta 02
(UFPR) – Considere o texto abaixo:

A ascensão política de Donald Trump nos EUA, a decisão britânica de deixar a União Europeia e a defini-
ção contrária ao acordo de paz na Colômbia têm sido elencados como exemplos de uma crise da democracia
global e dos sistemas de representação política. [...]
Para o filósofo norte-americano Jason Brennan, os três casos são símbolo de problemas na tomada de
decisões políticas. Esses impasses favorecem a participação das pessoas em detrimento do conhecimento que
elas têm sobre a realidade em questão – o que leva, segundo ele, a escolhas irracionais.
Este é o caso específico do “brexit”, na visão de Brennan, em que as pessoas tomaram “uma decisão es-
túpida” porque não tinham informações sobre a realidade britânica. E é o modelo que aproximou Trump
da Presidência dos EUA, apesar de fazer campanha com pouco apego a fatos reais e a mentir em das suas
declarações, segundo o site PolitiFact, que checa discursos políticos. [...]
Em entrevista à Folha, por telefone, Brennan falou sobre suas críticas aos sistemas democráticos, reunidas
no recente livro “Against Democracy” (contra a democracia), em que sugere a implementação de um sistema
político diferente: a epistocracia. Ele defende que apenas uma elite com conhecimento aprofundado sobre
temas de relevância nacional possa tomar decisões.
Criticado por sua visão de mundo “elitista”, ele diz que a democracia ainda é o melhor sistema de gover-
no, mas que isso não significa que não precise evoluir.
Epistocracia (ou epistemocracia, como também aparece citado em trabalhos acadêmicos no Brasil), é um
conceito de sistema político baseado na ideia de epistem. O termo foi usado por Platão na filosofia grega, no
século 4º a.C., para se referir ao “conhecimento verdadeiro”, em oposição à opinião infundada, sem reflexão.
Por esse sistema, o poder político não deveria ser distribuído igualmente a todos os cidadãos, em contra-
posição à democracia, mas sim estar nas mãos das pessoas sábias.
Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/11/1829957>

Escreva um texto argumentativo posicionando-se em relação à proposta apresentada por Jason Brennan.
O seu texto deve:
• explicitar em linhas gerais as ideias de Jason Brennan;
• assumir uma posição contra ou a favor dela, contrapondo argumentos se for contra, ou reforçando os já apresentados se
for a favor.

40 Extensivo Terceirão
Aula 06

Proposta 03
(UNISC – RS) – Focalize um único tema entre as três propostas apresentadas, e construa o seu texto com clareza, coerência
e correção, defendendo o seu ponto de vista com ideias bem organizadas.
• Não esqueça que seu texto tem um leitor, um destinatário.
• Não esqueça de dar um título à sua redação, coerente com a temática escolhida.
• Numere o título de sua redação, de acordo com o número do tema escolhido.
TEMA 1

A tolerância é antes de mais nada uma exigência ética. Ela representa o direito que cada um possui de ser
aquilo que é e de continuar a sê-lo. (Leonardo Boff)
O que se vê, no entanto, no mundo e na sociedade brasileira é a manifestação de ódio e intolerância

Aborde essas temáticas num texto argumentativo.


TEMA 2

A felicidade é um momento durável de satisfação em que o indivíduo se sente plenamente feliz e realiza-
do, um momento no qual não há nenhum tipo de sofrimento. A felicidade é particular para cada ser huma-
no, é uma questão muito individual. Mesmo que a ideia compartilhada entre a maior parte das pessoas seja
que esse conceito é construído com saúde, amor, dinheiro, entre outros itens.
http://www.afilosofia.com.br/post/o-conceito-felicidade-para-os-filosofos/542

Ser feliz
O melhor lugar é ser feliz
O melhor é ser feliz
Mas
Onde estou
Não importa tanto aonde vou
O melhor é ter amor.
(Caetano Veloso)

O que é ser feliz? Produza um texto argumentativo para expor suas ideias, com organicidade e coerência.
TEMA 3

Um conceito de opinião pública nos leva à expressão da participação popular na criação, controle, exe-
cução e crítica das diretrizes de uma sociedade.
Como você vê o processo de formação da opinião numa dada sociedade? Pode ser caracterizado pela
neutralidade e isenção dos meios de comunicação social, por exemplo, ou por parte dos demais atores que
assumem papel no processo de formação das opiniões individuais que depois convergem para o fenômeno
da Opinião Pública?
MARQUES DE MELLO, José. Teoria e pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1971 (adaptado).

Português 2C 41
Produza um texto argumentativo abordando a temática.

42 Extensivo Terceirão
Aula 06

Gabarito
06.01. d 06.17. b b) A respeito da longevidade do brasi-
06.02. c 06.18. c leiro, o autor se posiciona de modo
06.03. c 06.19. a) A oração coordenada empregada favorável, argumentando priorita-
06.04. b pelo autor foi adversativa. Seu senti- riamente que decisões conscientes,
06.05. d do é marcar a adversidade entre dois tomadas durante a juventude, inter-
06.06. d posicionamentos: no passado, havia ferem positivamente na existência
06.07. d preocupação com a velhice, fase mar- futura, garantindo-lhe qualidade.
06.08. b cada pelo “fim de uma vida produtiva 06.20. No último período do texto, Coutinho
06.09. a plena”, cuja única possibilidade era vale-se de duas expressões idiomáticas:
06.10. c “aceitar a decadência física”; no pre- “arrombando portas abertas” e “choven-
06.11. c sente, pensa-se que, de acordo com do no molhado”. A primeira acentua a
06.12. c comportamentos sábios durante a crítica aos jovens intelectuais que pen-
06.13. c juventude, a velhice se tornará “uma sam ser mestres antes de ser discípulos
06.14. b fase áurea da nossa existência”. e a segunda, à exposição de ideias e
06.15. a conceitos que não acrescentam nada ao
06.16. d que já foi formulado por outros.

Português 2C 43
Português
Aula 07 2C 1B
Texto dissertativo-argumentativo I
T

O texto mais cobrado nas escrita. Apesar de algumas bancas de correção serem
mais flexíveis, outras são bastante rígidas quanto ao
provas de redação cumprimento dessas convenções. Assim, o melhor a
fazer, nesse tipo de texto, é conhecer e aplicar essas
Apesar de muitos vestibulares já estarem cobrando
características. Vamos a elas:
textos de opinião em formatos diferentes das convenções
tradicionais, o texto dissertativo-argumentativo ainda é
o mais incidente nas provas de redação da maioria dos 1. Linguagem
exames do Brasil, especialmente o ENEM. Dessa forma,
Por ser um texto construído para uma avaliação,
é importante destacar esse tipo de texto como uma das
cabe ao autor manter uma linguagem adequada à
prioridades de estudo e, nesta aula, destacaremos as
situação. Dessa forma, a melhor forma de se expressar
características gerais da dissertação argumentativa.
nesse contexto é a adequação às normas da língua
Finalidade escrita formal, pois o domínio das regras da norma-
-padrão da Língua Portuguesa também faz parte da
A finalidade maior da dissertação argumentativa é avaliação da redação.
a defesa de um ponto de vista a respeito de um tema.
Assim, esse texto não pode apenas expor informações
sobre o tema, pois sua finalidade maior não é informati- 2. Impessoalidade
va; é preciso analisar o tema, colocá-lo em debate. Expressão preferencial em 3a. pessoa: também faz
parte da linguagem dissertativa a impessoalidade. Por
As bases dessa redação entender-se que a dissertação é uma exposição racional
O texto dissertativo-argumentativo, como todo texto e objetiva de uma argumentação, é preciso evitar, ao
de opinião, tem como base dois elementos, que, obriga- longo da produção do texto, marcas próprias da subje-
toriamente, devem ser expostos na redação: tividade. Com isso, evita-se a expressão em 1a. pessoa no
• Tese: o autor, ao se deparar com o tema da redação, texto dissertativo-argumentativo.
deve definir uma ideia central, um posicionamento Além disso, expressões como “eu acho que” ou “na
que será defendido ao longo do texto. minha opinião” não costumam ser bem vistas apenas por
• Argumentação: naturalmente, o bom texto de causa do caráter subjetivo. Mais grave que a subjetividade,
opinião não possui apenas afirmações. Afinal, a boa expressões desse tipo podem enfraquecer a redação por
opinião é resultado de uma análise. Por isso, é neces- passar impressão de que a argumentação está baseada
sário, também, que o autor da dissertação demonstre em “achismos” e palpites.
as razões que justificam determinado ponto de vista. Evite dirigir-se ao leitor: esse tipo de texto não deve
ser dirigido a um leitor específico. Como é escrito para
Dissertação: convenções uma espécie de “leitor universal”, ou para a sociedade
tradicionais em geral, procura-se evitar, ao longo do texto, marcas de
interlocução com o leitor. Portanto, a dissertação deve
Por ser o tipo de redação mais tradicional, a disser- ser impessoal tanto para quem a escreve como para
tação argumentativa possui algumas convenções de quem a lê.

44 Extensivo Terceirão
Aula 07

3. Título o levaram tomar o posicionamento (tese) colocado no


parágrafo da introdução.
Apesar de fazer parte dessa estrutura tradicional, Esse é o momento da argumentação propriamente
o título, atualmente, vem se tornando uma parte cada dita. É nos parágrafos de desenvolvimento que o autor
vez mais em desuso. Tanto que, em muitas provas, da redação demonstra o conhecimento sobre o tema
especialmente o ENEM, ele é um elemento opcional e, assim, busca persuadir o leitor a respeito da ideia
da estrutura dissertativa. Porém, nas provas, a melhor defendida no texto.
orientação é sempre ler os comandos das questões e
ver se nelas há uma orientação para que se coloque Uma boa avaliação depende da capacidade, por par-
título na redação. te de quem escreve o texto, de estabelecer a coerência,
a logica, entre a argumentação escolhida e o posiciona-
mento adotado.
Estrutura: as partes da
dissertação 3. Conclusão
A estruturação tradicional dissertativa deve ser Após desenvolver a argumentação, é necessário
composta de três partes: compor um fechamento para a redação. Nesse momen-
to, você retomará, ou melhor, confirmará, de forma clara
1. Introdução e sucinta, a tese do texto. Além disso, cabe, também,
nesse último parágrafo, um comentário final a respeito
É fundamental que, no primeiro parágrafo, seja do tema.
apresentado o tema que será discutido ao longo do
texto. Além do tema proposto, também é recomendável
registrar, nesse parágrafo, o ponto de vista defendido
pelo autor a respeito desse tema. Atenção!
Assim, basicamente, a introdução é composta de Na redação do ENEM, o parágrafo de conclusão
dois elementos: tema, tese e argumentos. pode ser o momento da exposição de propostas
de intervenção para o problema proposto no
tema.
• Tema: no texto dissertativo, cabe ao autor, na in-
trodução, dar ao leitor uma referência sobre qual
é o objeto de discussão, que será analisado ao
longo de toda a redação. É uma espécie de con- Análise de redação
textualização, para que o leitor tenha noção do
que irá ler. Como exercício de assimilação da estrutura disserta-
tiva tradicional, analisemos uma redação feita no ENEM
• Tese: é a afirmação de um posicionamento sobre
2016. Trata-se de um texto que atingiu a nota máxima
o tema. Trata-se da ideia proposta pelo autor, que
será defendida pelos argumentos que serão ex- (nota 1000), e que pode servir como um exemplo de
postos na parte seguinte da redação. escrita que cumpre as convenções vistas nesta aula.
Durante a leitura, procure identificá-las.
• Argumentos: desde já, é preciso esclarecer que
nunca é possível debater todos os aspectos pos-
síveis de um tema numa redação. Por isso, é fun-
damental saber delimitar o que será exposto no
Proposta de redação
texto. Dessa forma, o final do parágrafo de intro-
Texto I
dução pode citar quais argumentos serão expos-
tos nos parágrafos seguintes. Atenção, apenas os
mencione! Pois eles serão devidamente desen- Em consonância com a Constituição da Repú-
volvidos na segunda parte do texto. blica Federativa do Brasil e com toda a legislação
que assegura a liberdade de crença religiosa às
pessoas, além de proteção e respeito às manifes-
2. Desenvolvimento tações religiosas, a laicidade do Estado deve ser
buscada, afastando a possibilidade de interferên-
Trata-se da parte mais longa do texto, já que, após cia de correntes religiosas em matérias sociais, po-
a apresentação geral do tema, esse é o momento da líticas, culturais etc.
exposição das ideias de maneira mais minuciosa. Afinal, Disponível em: <www.mprj.mp.br>. Acesso em: 21 maio 2016.
(fragmento).
é muito importante que você traga à tona os fatores que

Português 2C 45
Texto II Exemplo de redação
O direito de criticar dogmas e encaminhamentos
é assegurado como liberdade de expressão, mas A Constituição nacional prevê a liberdade de
atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferen- credo e de expressão religiosa, sendo crimes de
ciado a alguém em função de crença ou de não ter intolerância considerados graves e de pena im-
religião são crimes inafiançáveis e imprescritíveis. prescritível. No entanto, é comum ouvir piadas
STECK, J. Intolerância religiosa é crime de ódio e fere a dignidade. sobre “macumbeiros” e, em alguns casos, vio-
Jornal do Senado. Acesso em: 21 maio 2016. (fragmento). lência física contra praticantes do candomblé. O
combate dessas atitudes pressupõe uma análise
Texto III histórica e educacional.
Por razões diacrônicas, certas religiões são es-
CAPÍTULO I tigmatizadas como “inferiores”. No Período Co-
Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso lonial brasileiro, era nítida a preocupação dos je-
Ultraje a culto e impedimento ou perturbação suítas e da Coroa Portuguesa em “cristianizar” os
de ato a ele relativo indígenas e, posteriormente, os negros africanos.
Em “Casa Grande e Senzala”, o sociólogo Gilber-
Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, to Freyre defende que a cultura foi formada nes-
por motivo de crença ou função religiosa; impedir tes três pilares: nativo, colonizador e escravo. De
ou perturbar cerimônia ou prática de culto reli- fato, a resistência dos índios e dos negros rendeu
gioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de uma herança imaterial híbrida, contudo, a tradi-
culto religioso: ção etnocentrista permanece. A sociedade, muitas
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. vezes, repete visões preconceituosas, pois ainda
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a não houve um efetivo pensamento crítico, uma
pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da conscientização que contrariasse o senso comum.
correspondente à violência. O ensino formal também corrobora a proble-
BRASIL. Código Penal. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. mática. As escolas, por serem o espaço de forma-
Acesso em: 21 maio 2016. (fragmento). ção cidadã do indivíduo, deveriam estar abertas
para amplas discussões e para promoção de va-
Texto IV lores coletivos. Não é o que se vê, por exemplo,
no privilégio da religião cristã – ensaios teatrais
natalinos, homenagem a santos e a anjos – em
detrimento das restantes. A grade curricular tam-
bém não explora de forma profunda as matrizes
culturais afro-brasileiras (as mais discriminadas),
como a umbanda (uma fusão do cristianismo, do
espiritismo e dos orixás negros).
Tendo em vista a desconstrução da herança et-
nocentrista, cabe à sociedade civil (desde estudio-
sos ativistas a familiares) incentivar o pluralismo
e a tolerância religiosa, através de palestras e de
núcleos culturais gratuitos em praças públicas. Por
outro lado, são necessárias ações do Estado na de-
fesa de festivais escolares afro-brasileiros e na refor-
A partir da leitura dos textos motivadores e com base ma da grade curricular de História e de Sociologia,
nos conhecimentos construídos ao longo de sua forma- por meio da formação de comissões especiais na
ção, redija um texto dissertativo-argumentativo em Câmara dos Deputados, com participação de espe-
modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre cialistas na área de Educação, objetivando a uma
o tema “Caminhos para combater a intolerância reli- educação mais aberta e democrática. Assim, será
giosa no Brasil”, apresentando proposta de intervenção possível formar cidadãos que entendam, que res-
peitem e que se orgulhem de sua cultura.”
que respeite os direitos humanos. Selecione, organize
Extraído de <https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-
e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e nota-mil-do-enem-2016.ghtml>. Acesso em: 13/02/18
fatos para defesa de seu ponto de vista.

46 Extensivo Terceirão
Aula 07

Testes
Assimilação de e tiverem a sua dignidade roubada por carta-
zes com os dizeres “só para brancos”. [...] Não
Instrução: Texto para a próxima questão. estamos satisfeitos e nem ficaremos satisfeitos até
que “a justiça jorre como uma fonte; e a equidade,
EU TENHO UM SONHO como uma poderosa correnteza”.
Estou contente de me reunir com vocês nesta E digo-lhes hoje, meus amigos, mesmo diante
que será conhecida como a maior demonstração das dificuldades de hoje e de amanhã, ainda te-
pela liberdade na história de nossa nação. nho um sonho, um sonho profundamente enrai-
Há dez décadas, um grande americano, sob zado no sonho americano.
cuja sombra simbólica nos encontramos hoje, as- Eu tenho um sonho de que um dia esta na-
sinou a Proclamação da Emancipação. Esse mag- ção se erguerá e experimentará o verdadeiro sig-
nífico decreto surgiu como um grande farol de nificado de sua crença: “Acreditamos que essas
esperança para milhões de escravos negros que verdades são evidentes, que todos os homens são
arderam nas chamas da árida injustiça. Ele surgiu criados iguais”.
como uma aurora de júbilo para pôr fim à longa [...]
noite de cativeiro. Eu tenho um sonho de que os meus quatro
Mas cem anos depois, o negro ainda não é livre. filhos pequenos viverão um dia numa nação onde
Cem anos depois, a vida do negro ainda está triste- não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo
mente debilitada pelas algemas da segregação e pe- conteúdo de seu caráter. [...]
los grilhões da discriminação. Cem anos depois, o KING JR., Martin Luther. Em: ABAURRE, M.L.M.; ABAURRE,
negro vive isolado numa ilha de pobreza em meio M. B. M.; PONTARA, M. Português: contexto interlocução
e sentido. São Paulo: Moderna, 2016. Vol. I
a um vasto oceano de prosperidade material. Cem
anos depois, o negro ainda vive abandonado nos
recantos da sociedade na América, exilado em sua 07.01. (IFPE) – Martin Luther King Jr. (1929-1968)
própria terra. Assim, hoje viemos aqui para repre- envolveu-se cedo na luta pelos direitos civis. Pastor
sentar a nossa vergonhosa condição. protestante, tornou-se líder dos movimentos negros
De uma certa forma, viemos à capital da nação nos Estados Unidos, na década de 1960. Organizou
para descontar um cheque. Quando os arquite- boicotes e marchas para reivindicar o direito ao voto,
tos da nossa república escreveram as magníficas o fim da segregação e da violência, o que despertou a
palavras da Constituição e da Declaração da In- ira de segmentos segregacionistas, concentrados nos
dependência, eles estavam assinando uma nota estados do sul. Ao receber o Nobel da Paz (1964),
promissória da qual todos os americanos seriam afirmou: “Acredito ainda que triunfaremos”. Em 4 de
herdeiros. A nota era uma promessa de que todos abril de 1968, momentos antes de mais uma marcha
os homens, sim, negros e brancos igualmente, te- pela liberdade na cidade de Memphis, foi assassinado
riam garantidos os “direitos inalienáveis à vida, à a tiros numa varanda de hotel.
liberdade e à busca da felicidade”. É óbvio neste ABAURRE, M.L.M.; ABAURRE, M. B. M.; PONTARA, M. Português: contexto interlocu-
momento que, no que diz respeito aos seus cida- ção e sentido. São Paulo: Moderna, 2016. Vol. I
dãos de cor, a América não pagou essa promessa.
Marque a alternativa que indica os tipos textuais predomi-
Em vez de honrar a sagrada obrigação, a América
entregou à população negra, um cheque que vol- nantes no texto “Eu tenho um sonho” e no texto apresentado
tou com o carimbo de “sem fundos”. acima, respectivamente.
No entanto, recusamos a acreditar que o ban- a) Argumentativo, pois é notável que Luther King pretende
co da justiça esteja falido. Recusamos a acreditar convencer seus interlocutores a agirem de forma a com-
que não haja fundos suficientes nos grandes co- bater as desigualdades ainda existentes entre negros
fres de oportunidade desta nação. E, assim, vie- e brancos no seu país; e descritivo, por apresentar um
mos descontar esse cheque, um cheque que nos retrato de Luther King, através de suas características
garantirá, sob demanda, as riquezas da liberdade físicas e psicológicas.
e a segurança da justiça. b) Descritivo, pois Luther King retrata com detalhes a si-
[...] tuação do negro de seu tempo nos Estados Unidos; e
Não ficaremos satisfeitos enquanto o negro for argumentativo, pois o texto pretende convencer o inter-
vítima dos inenarráveis horrores da brutalidade locutor de que Luther King foi um homem que deve ser
policial. [...] Não ficaremos satisfeitos enquanto respeitado por todos os seus atos em prol da população
nossos filhos forem despidos de sua personalida- negra americana.

Português 2C 47
c) Narrativo, pois a finalidade do texto de Luther King é
contar e situar historicamente os vários momentos da sião. 1A Suíça, de fato, é um país de contos de fada
história do negro nos Estados Unidos; e instrucional, já onde tudo funciona, onde todos são belos, onde a
vida parece uma pintura, um rótulo de chocolate.
que indica um passo a passo do que fazer para ter uma
Mas falta uma ebulição que a salve do marasmo.
vida dedicada aos seus ideias sociais, políticos e humanos.
Retornando ao assunto: pessoas habitadas são
d) Argumentativo, pois predominam sequências em que aquelas possuídas por si mesmas, em diversas
Luther King pretende fazer com que o interlocutor partilhe versões. Os habitados estão preenchidos de inda-
de suas ideias e concepções, defendendo seus pontos de gações, angústias, incertezas, mas não são menos
vista; e narrativo, já que fatos da vida de Luther King são felizes por causa disso. Não transformam suas
contados no passado, com espaço e tempo definidos. “inadequações” em doença, mas em força e curio-
e) Descritivo, pois há o predomínio de adjetivações que sidade. Não recuam diante de encruzilhadas, não
caracterizam negros e brancos, com a finalidade de se amedrontam com transgressões, não adotam as
diferenciá-los fisicamente, mas de igualá-los em humani- opiniões dos outros para facilitar o diálogo. São
dade; e narrativo, pois narra fatos da vida de Luther King, pessoas que surpreendem com um gesto ou uma
especificando tempo e espaço. fala fora do script, sem nenhuma disposição para
serem bonecos de ventríloquos. Ao contrário, en-
Instrução: Texto para a próxima questão: cantam pela verdade pessoal que defendem. Além
Leia a tira abaixo, para resolução da questão. disso, mantêm com a solidão uma relação mais do
que cordial.
Então são as criaturas mais incríveis do uni-
verso? Não necessariamente. Entre os habitados
há de tudo, gente fenomenal e também assassinos,
pervertidos e demais malucos que não merecem
abrandamento de pena pelo fato de serem, em
certos aspectos, bastante interessantes. Interessam,
mas assustam. Interessam, mas causam dano. Eu
07.02. (IFSUL – RS) – O desenvolvimento argumentativo do não gostaria de repartir a mesa de um restaurante
personagem revela uma contradição, uma vez que com Hannibal Lecter, “The Cannibal”, ainda que
a) o dono do gato afirma ter uma dieta vegetariana. eu não tenha dúvida de que o personagem imor-
talizado por Anthony Hopkins renderia um papo
b) o personagem humano demonstra não ter amor aos
mais estimulante do que uma conversa com, sei lá,
animais.
Britney Spears, que só tem gente em casa porque
c) os humanos baseiam sua alimentação na carne de animais está grávida.
inocentes. Que tenhamos a sorte de esbarrar com seres ha-
d) o gato demonstra tristeza por ver que animais servem de bitados e ao mesmo tempo inofensivos, cujo único
alimento aos homens. mal que possam fazer seja nos fascinar e nos man-
ter acordados uma madrugada inteira. Ou a vida
Instrução: Texto para a próxima questão. inteira, o que é melhor ainda.
MEDEIROS, Martha. In: Org. e Int. SANTOS, Joaquim Ferreira dos.
Pessoas habitadas As Cem Melhores Crônicas Brasileiras. Objetiva, 324-325.
Estava conversando com uma amiga, dia desses.
Ela comentava sobre uma terceira pessoa, que eu
07.03. (UECE) – Sobre o excerto “A Suíça, de fato, é um país
não conhecia. Descreveu-a como sendo boa gente,
de contos de fada onde tudo funciona, onde todos são belos,
esforçada, ótimo caráter. “Só tem um probleminha:
não é habitada”. Rimos. Uma expressão coloquial onde a vida parece uma pintura, um rótulo de chocolate. Mas
na França – habité‚ – mas nunca tinha escutado falta uma ebulição que a salve do marasmo” (referência 1), é
por estas paragens e com este sentido. Lembrei-me INCORRETO fazer a seguinte afirmação:
de uma outra amiga que, de forma parecida, tam- a) ao longo do trecho, desenvolve-se uma descrição da
bém costuma dizer “aquela ali tem gente em casa” Suíça incompatível com as noções do senso comum
quando se refere a pessoas que fazem diferença. sobre esse país.
Uma pessoa pode ser altamente confiável, gen- b) a avaliação inicial – “A Suíça, de fato, é um país de contos
til, carinhosa, simpática, mas, se não é habitada, de fada” – é feita em forma de metáfora.
rapidinho coloca os outros pra dormir. Uma pes- c) a avaliação, aparentemente positiva, torna-se negativa na
soa habitada é uma pessoa possuída, não necessa- perspectiva da crônica.
riamente pelo demo, ainda que satanás esteja longe d) todas as informações subsequentes a “A Suíça, de fato, é
de ser má referência. Clarice Lispector certa vez es- um país de contos de fada” cumprem o papel argumen-
creveu uma carta a Fernando Sabino dizendo que tativo de reforçar a ideia de perfeição.
faltava demônio em Berna, onde morava na oca-

48 Extensivo Terceirão
Aula 07

Instrução: Texto para a próxima questão.


Para responder à questão a seguir, leia o fragmento de um
Aperfeiçoamento
texto publicado em 1867 no semanário Cabrião. Instrução: Leia o texto a seguir para responder às questões
07.05 a 07.08.
São Paulo, 10 de março de 1867. Texto A:
Estamos em plena quaresma.
A população paulista azafama-se a preparar-se A era dos memes na crise política atual
para a lavagem geral das consciências nas águas
lustrais do confessionário e do jejum. Seria cômico, se não fosse trágico, o estado de
irreverência do brasileiro frente à crise em que o
A cambuquira* e o bacalhau afidalgam-se no
país encontra-se imerso. A nossa capacidade de
mercado.
fazer piada de nós mesmos e da acentuada crise
A carne, mísera condenada pelos santos con- político-econômica atual nos instiga a refletir se
cílios, fica reduzida aos pouquíssimos dentes estamos “jogando a toalha” ou se este é apenas
acatólicos da população, e desce quase a zero na um “jeitinho brasileiro” de encarar a realidade. A
pauta dos preços. criatividade de produzir piadas, memes e áudios
O que não sobe nem desce na escala dos fatos engraçados expõe um certo tipo de estratégia do
normais é a vilania, a usura, o egoísmo, a estatística brasileiro para lidar com situações de conflito:
dos crimes e o montão de fatos vergonhosos, “Tira a Dilma. Tira o Aécio. Tira o Cunha. Tira
perversos, ruins e feios que precedem todas as o Temer. Tira a calça jeans e bota um fio dental,
contrições oficiais do confessionário, e que depois morena você é tão sensual”. Eis uma das milhares
delas continuam com imperturbável regularidade. de piadas que circulam nas redes sociais e que,
É o caso de desejar-se mais obras e menos de forma irreverente, estimulam o debate. Não
palavras. há aquele que não se divirta com essa piada ou
E se não, de que é que serve o jejum, as ma- outra congênere; que não gargalhe diante dos di-
cerações, o arrependimento, a contrição e quejan- versos textos engraçados que circulam por meio
das religiosidades? de postagens ou mensagens de celular, indepen-
O que é a religião sem o aperfeiçoamento mo- dentemente do grau de escolaridade de quem
ral da consciência? compartilha. Seja por meio do deboche e do riso,
é de “notório saber” que todas as classes estão
O que vale a perturbação das funções gas-
conscientes da gravidade da situação e que, por
tronômicas do estômago sem consciência livre,
conseguinte, concordam que medidas enérgicas
ilustrada, honesta e virtuosa?
precisam ser tomadas. A diferença está na forma
Seja como for, o fato é que a quaresma toma as ideologicamente defendida para a tomada de me-
rédeas do governo social, e tudo entristece, e tudo didas.
esfria com o exercício de seus místicos preceitos
de silêncio e meditação. A “memecrítica” é uma categoria de crítica
social que tem causado desconforto nos políticos
De que é que vale a meditação por ofício, a
e membros dos poderes judiciário e executivo,
meditação hipócrita e obrigada, que consiste uni-
estimulando, inclusive, tentativas frustradas de
camente na aparência?
mapeamento e controle do uso da internet por
Pois o que é que constitui a virtude? É a forma parte dos internautas. [...]
ou é o fundo? É a intenção do ato, ou sua feição
ostensiva? Por outro lado, questionar as contradições
presentes apenas por meio da piada, em certo as-
Neste sentido, aconselhamos aos bons leitores
pecto politizada, não garante mudanças sociais de
que comutem sem o menor escrúpulo os jejuns,
grande impacto.
as confissões e rezas em boas e santas ações, em
esmolas aos pobres. Esses manifestos e/ou críticas de formas iso-
ladas (ou uníssonas) podem, mesmo sem inten-
(Ângelo Agostini, Américo de Campos e Antônio Manoel
dos Reis. Cabrião, 10.03.1867. Adaptado.) ção, relegar os cidadãos brasileiros a um estado
* Iguaria constituída de brotos de abóbora guisados, geralmente servida como de inércia, a uma condição de estado permanente
acompanhamento de assados. de sonolência eterna em “berço esplêndido”. Já
os manifestos, protestos e/ou passeatas nas ruas e
demais enfrentamentos em espaços de poder ins-
07.04. (UNESP – SP) – Pelo seu tema e desenvolvimento tituídos ainda são os mecanismos mais eloquentes
argumentativo, o texto pode ser classificado como e potenciais para contrapor discursos e práticas
a) crítico. b) lírico. opressoras que contribuem para o caos social. É
c) narrativo. d) histórico. preciso o tête-à-tête, o diálogo crítico e reflexivo
e) épico. em casa, na comunidade e demais ambientes so-

Português 2C 49
cioculturais. Entretanto, um diálogo respeitoso, internet – passaram a ser tratados como peças de
cordial, que busca a alteridade. Que apresente museu, literalmente. Criado como um projeto do
discordâncias, entretanto respeite a opinião di- curso de Estudos de Mídia na Universidade Fede-
vergente, sem abrir mão da ética e do respeito aos ral Fluminense (UFF), o Museu dos Memes leva
direitos humanos. justamente a zoeira a sério. […]
(Luciano Freitas Filho – Carta Capital (adaptado), junho/2017. Ainda que sejam tratados como besteira, para
Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com. o criador e coordenador do museu, Viktor Cha-
br/2017/06/07/era-dos-memes-nacrise-politica-atual/>.)
gas, os memes possuem, para além de sua função
cômica, uma função social – basta olhar para as
07.05. (UFPR) – Considere as avaliações dos memes en- diversas hashtags de denúncia em causas como
quanto prática social e assinale a alternativa que se apresenta dentro do movimento negro e feminista para en-
coerente com o proposto pelo texto: tender que tal lógica possui mais desdobramen-
a) Em razão do seu modo de funcionamento, os memes não tos, possibilidades e sentidos do que imaginamos
têm o mesmo efeito que as manifestações convencionais. em seu aspecto mais pueril.
(Disponível em: <http://www.hypeness.com.br/2017/05/o-
b) As tentativas de controle da disseminação dos memes museu-de-memes-e-brasileiro-e-e-a-melhor-forma-de-eternizar-
no espaço virtual, por parte dos poderes instituídos, têm a-zueira-que-abunda-nainternet/>. Acesso em 29/09/17)
gerado situações de desconforto.
c) A adesão ao conteúdo dos memes se apresenta de modo
convergente para pessoas de diferentes classes sociais e 07.07. (UFPR) – Com base no texto B, identifique como
posições políticas. verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas:
d) Por se revestirem simultaneamente de caráter de crítica ( ) A função cômica, própria dos memes, é apresenta-
e de deboche, os memes são a melhor forma de embate da como atenuante da função social, que também é
tête-atête. própria deles.
( ) O autor do texto antecipa-se a uma avaliação negativa
e) Apesar de sua força expressiva, os memes não constituem acerca dos memes e apresenta contra-argumento em
recurso para mudanças sociais efetivas, porque seu lugar relação a ela.
de circulação não goza de legitimidade. ( ) Os exemplos de memes como peças de museu, apre-
sentados no início do texto, servem de sustentação à
07.06. (UFPR) – Considere as afirmativas abaixo acerca dos
ideia de paradoxo entre zoeira e seriedade.
usos de aspas presentes no texto: ( ) O autor apresenta a denúncia em causas como a fem-
1. Em “Tira a Dilma, Tira o Aécio, Tira o Cunha, Tira o Temer. inista e a do movimento negro para explicitar a lógica
Tira a calça jeans e bota o fio dental, morena você é tão de funcionamento das hashtags.
sensual”, as aspas cumprem o papel de demarcar citação.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de
2. Em “jogando a toalha”, as aspas estão demarcando uma cima para baixo.
expressão idiomática.
3. Em “memecrítica”, as aspas estão demarcando um deslo- a) F – V – V – F.
camento do sentido usual da palavra. b) F – V – F – V.
4. Em “berço esplêndido” as aspas demarcam ironia pela via c) V – F – F – V.
do recurso da intertextualidade. d) V – F – V – F.
Assinale a alternativa correta. e) F – F – V – V.
a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
07.08. (UFPR) – O que distingue centralmente o texto A
b) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. do texto B é:
c) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. a) o caráter de seriedade atribuído aos memes no texto A
d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. em contraste com o de zoeira no texto B.
e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. b) a crítica de caráter político atribuída aos memes no texto
A em contraste com a crítica de caráter social no texto B.
Instrução: O texto B serve de referência para a questão 07.07.
c) a referência a alguma forma de efeito produzido pelos
Texto B: memes, presente no texto B, em contraste com sua
ausência no texto A.
Glória Pires incapaz de opinar no Oscar, Edu- d) a crítica aos memes como prática com limites de alcance,
ardo Jorge, Tapa na pantera, Luisa Marilac, Japo- explicitada no texto A, em contraste com a ausência desse
nês da federal, John Travolta confuso, diferento- crítica no texto B.
na, cala a boca Galvão, Nissim Ourfali, Winona e) a larga circulação dos memes apresentada no texto A em
Ryder em choque, e tantos outros memes e virais contraste com sua fixidez e imobilidade apresentadas no
– que costumam ser tratados como mera zoeira,
texto B.
simplesmente uma das mil manias derivadas da

50 Extensivo Terceirão
Aula 07

Instrução: Texto para a próxima questão. e) representar verbalmente um objeto sensível, através da
indicação dos seus aspectos mais característicos, que o
Grande parte dos avanços tecnológicos inte- individualizam.
gra o processo evolutivo da comunicação, con-
duzindo-nos para uma maior democratização Instrução: Texto para a próxima questão.
da informação e, consequentemente, do saber.
A comunicação virtual introduz um conceito de A lógica do humor
descentralização da informação e do poder de Piada racista termina com polícia em casa de
comunicar. Todo computador, conectado à inter- shows. É engraçado gozar de minorias? Até onde
net, possui a capacidade de transmitir palavras, se pode chegar para fazer os outros rirem? Aliás,
imagens, sons. Não se limita apenas aos donos de do que rimos?
jornais e emissoras; qualquer pessoa pode cons- De um modo geral, achamos graça quando
truir um site na internet, sobre qualquer assunto percebemos um choque entre dois códigos de re-
e propagá-lo de maneira simples. O espaço ci- gras ou de contextos, todos consistentes, mas in-
bernético tem se tornado um lugar essencial, um compatíveis entre si. Um exemplo: “O masoquista
futuro próximo de comunicação completamente é a pessoa que gosta de um banho frio pelas ma-
distinta da mídia clássica. [...]. nhãs e, por isso, toma uma ducha quente”.
A internet proporciona a interação entre locu- Cometo agora a heresia de explicar a piada.
tor e interlocutor, uma vez que, na rede, qualquer Aqui, o fato de o sujeito da anedota ser um maso-
elemento adquire a possibilidade de interação, quista subverte a lógica normal: ele faz o contrá-
havendo interconexões entre pessoas dos mais rio do que gosta, porque gosta de sofrer. É claro
diferentes lugares do planeta, facilitando, por- que a lógica normal não coexiste com seu reverso,
tanto, o contato entre elas, assim como a busca daí a graça da pilhéria. Uma variante no mesmo
por opiniões e ideias convergentes. Uma prova da padrão é: “O sádico é a pessoa que é gentil com o
eficiência da internet em construir esse ideal de masoquista”.
propagação de mensagens e opiniões está na mul-
tiplicidade de temas que podem ser encontrados Essa “gramática” dá conta da estrutura in-
nela. Além dos sites, as listas de discussão, que telectual das piadas, mas há também dinâmicas
agregam pessoas interessadas em um dado assun- emocionais. Kant, na “Crítica do Juízo”, diz que
to, também merecem consideração. o riso é o resultado da “súbita transformação de
uma expectativa tensa em nada”. Rimos porque
É nesse ponto que a internet se sobressai, pois nos sentimos aliviados. Torna-se plausível rir de
integra e condensa nela todos os recursos de todas desgraças alheias. Em alemão, há até uma palavra
as formas de comunicação, como jornal, por exem- para isso: “Schadenfreude”, que é o sentimento
plo. Além de apresentar todas as funções do jorna- de alegria provocado pelo sofrimento de terceiros.
lismo, que, segundo Beltrão são econômica, social Não necessariamente estamos felizes pelo infor-
educativa e de entretenimento, ela é um meio de túnio do outro, mas sentimo-nos aliviados com o
comunicação interativo. Além disso, há a questão da fato de não sermos nós a vítima.
dinamicidade e da interatividade: o espaço virtual,
diferentemente de um texto de jornal ou revista em Mais ou menos na mesma linha vai o filóso-
papel, está constantemente em movimento. fo francês Henri Bergson. Em “O Riso”, ele ob-
serva que muitas piadas exigem “uma anestesia
GALLI, Fernanda. Linguagem da internet: um meio de comunicação global.
In: Hipertexto e gêneros digitais. momentânea do coração”. Ou seja, pelo menos as
MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antonio Carlos (Org.). partes mais primitivas de nosso eu acham graça
São Paulo: Cortez, 2010, p. 151-2. (adaptado) em troçar dos outros. Daí os inevitáveis choques
entre humor e adequação social.
Como não podemos dispensar o riso nem o
07.09. (IFBA) – O texto é um fragmento de um artigo, que
combate à discriminação, o conflito é inevitável.
se insere no conjunto dos textos de tipo argumentativo, os Resta torcer para que seja autolimitado. Não dei-
quais se caracterizam por xaremos de rir de piadas racistas, mas não po-
a) apresentar dados sobre um objeto ou fato específico, sua demos esquecer que elas colocam um problema
descrição e a indicação de suas qualidades. moral.
b) ter a função apelativa como predominante, e tentar con- Hélio Schwartsman, Folha de São Paulo, 16/03/2012.
vencer o receptor a tender à vontade do emissor.
c) arranjar uma sequência de fatos na qual os personagens
se movimentam num determinado espaço à medida que 07.10. (INSPER – SP) – O primeiro parágrafo apresenta uma
o tempo passa. das formas clássicas de introdução de um texto de caráter
d) defender um ponto de vista, em que apresentar funda- argumentativo, porque contém resumidamente elementos
mentos para sustentar a tese é essencial. essenciais ao desenvolvimento das ideias do autor. Esses

Português 2C 51
elementos, presentes em “A lógica do humor”, podem ser ros, sob molhos complicados, de apelido francês.
definidos como: Nesse ramo da alimentação há também que con-
a) declaração de natureza subjetiva – enumeração de siderar o que sejam produtos transgênicos, orgâ-
subtemas. nicos, as ameaças do glúten, do sódio, da química
b) registro de testemunho histórico – exemplificação do nociva de tantos fertilizantes. Tudo muito sofis-
problema. ticado e atingindo altos níveis de audiência nos
programas de TV: já seremos um país povoado
c) uso de perguntas retóricas – emprego de contra- por cozinheiros, quer dizer, por chefs de cuisi-
-argumentação. ne?**
d) afirmação da autoridade do enunciador – apresentação Temas palpitantes, certamente de interesse
do problema. público, estão no campo da educação: há, por
e) relato de fato notório – delimitação do tema por meio de exemplo, quem veja nos livros de História uma
questionamentos. orientação ideológica conduzida pelos autores;
8
há quem defenda uma neutralidade absoluta
Aprofundamento diante de fatos que seriam indiscutíveis. 9Que
sentido mesmo tiveram a abolição da escravatu-
ra e a proclamação da República? E o suicídio de
Instrução: Texto para as questões 07.11 a 07.18.
Getúlio Vargas? E os acontecimentos de 1964? Já
a literatura e a redação andam questionadas como
Cronista sem assunto itens de vestibular: mas sob quais argumentos o
Difícil é ser cronista regular de algum perió- desempenho linguístico e a arte literária seriam
dico. Uma crônica por semana, havendo ou não dispensáveis numa formação escolar de verdade?
assunto... É buscar na cabeça uma luzinha, uma Enfim, 10o cronista que se dizia sem assunto
palavra que possa acender toda uma frase, um pa- de repente fica aflito por ter de escolher um no in-
rágrafo, uma página inteira – mas qual? 1Onde o finito cardápio digital de assuntos. Que esperará
ímã que atraia uma boa limalha? 2Onde a farinha ler seu leitor? 11Amenidades? Alguma informação
que proverá o pão substancioso? O relógio está científica? A quadratura do círculo encontrada
correndo e o assunto não vem. Cronos, crono- pelo futebol alemão? A situação do cinema e do
logia, crônica, tempo, tempo, tempo... Que tal teatro nacionais, dependentes de financiamento
falar da falta de assunto? Mas isso já aconteceu por incentivos fiscais? Os megatons da última
umas três vezes... Há cronista que abre a Bíblia banda de rock que visitou o Brasil? O ativismo
em busca de um grande tema: os mandamentos, político das ruas? Uma viagem fantasiosa pelo in-
um faraó, o Egito antigo, as pragas, as pirâmides terior de um buraco negro, esse mistério maior
erguidas pelo trabalho escravo? Mas como atuali- tocado pela Física? A posição do Reino Unido di-
zar o interesse em tudo isso? O leitor de jornal ou ante da União Europeia?
de revista anda com mais pressa do que nunca, 3e, 12
Houve época em que bastava ao cronista
aliás, está munido de um celular que lhe coloca o ser poético: o reencontro com a primeira namo-
mundo nas mãos a qualquer momento. radinha, uma tarde chuvosa, um passeio pela
Sim, a internet! O Google! É a salvação. 4Lá infância distante, um amor machucado, 13tudo
vai o cronista caçar assunto no computador. Mas podia virar uma valsa melancólica ou um tango
aí o problema fica sendo o excesso: ele digita, arrebatador. Mas hoje parece que estamos todos
por exemplo, “Liberdade”, e 5lá vem a estátua mais exigentes e utilitaristas, e os jovens cronis-
nova-iorquina com seu facho de luz saudando tas dos jornais abordam criticamente os rumores
os navegantes, ou o bairro do imigrante japonês contemporâneos, valem-se do vocabulário liga-
em São Paulo, 6ou a letra de um hino cívico, do a novos comportamentos, ou despejam um
ou um tratado filosófico, até mesmo o “Libertas humor ácido em seus leitores, 14num tempo sem
quae sera tamen*” dos inconfidentes mineiros... nostalgia e sem utopias.
Tenta-se outro tema geral: “Política”. Aí mesmo É bom lembrar que o papel em que se
é que não para mais: vêm coisas desde a polis imprimem livros, jornais e revistas está sob ameaça
grega até um poema de Drummond, salta-se da como suporte de comunicação. 15O mesmo
política econômica para a financeira, chega-se à ocorre com o material das fitas, dos CDs e DVDs:
política de preservação de bens naturais, à políti- o mundo digital armazena tudo e propaga tudo
ca ecológica, à partidária, à política imperialista, à instantaneamente. Já surgem incontáveis blogs de
política do velho Maquiavel, ufa. cronistas, onde os autores discutem on-line com
Que tal então a gastronomia, mais na moda do seus leitores aspectos da matéria tratada em seus
que nunca? 7O velho bifinho da tia ou o saudoso textos. A interatividade tornou-se praticamente
picadinho da vovó, receitas domésticas guardadas uma regra: há mesmo quem diga que a própria
no segredo das bocas, viraram nomes estrangei- noção de autor, ou de autoria, já caducou, em

52 Extensivo Terceirão
Aula 07

função da multiplicidade de vozes que se podem a) “e, aliás, está munido de um celular que lhe coloca o
afirmar num mesmo espaço textual. Num plano mundo nas mãos a qualquer momento” (ref. 3) / ideia que
cósmico: quem é o autor do Universo? Deus? O reforça a dificuldade do cronista em atualizar o interesse
Big Bang? A Física é que explica tudo ou deixemos em um velho tema: o leitor de jornal ou de revista já dispõe
tudo com o criacionismo? de acesso, e mais rápido, a um determinado assunto do
Enquanto não chega seu apocalipse profissio- que uma crônica sobre o mesmo tema poderia possibilitar.
nal, o cronista de periódico ainda tem emprego, b) “Lá vai o cronista caçar assunto no computador” (ref. 4) /
o que não é pouco, em tempo de crise. Pois en- frase em que a ironia é arma de ataque a cronistas sem
tão que arrume assunto, e um bom assunto, para assunto que buscam facilitar seu trabalho utilizando
não perder seus leitores. Como não dá para ser informações organizadas por empresa estrangeira que
sempre um Machado de Assis, um Rubem Braga, desconhece a cultura brasileira.
um Luis Fernando Veríssimo, há que se contentar
c) “O velho bifinho da tia ou o saudoso picadinho da vovó,
com um mínimo de estilo e uma boa escolha de
tema. A variedade da vida há de conduzi-lo por receitas domésticas guardadas no segredo das bocas,
um bom caminho; é função do cronista encontrar viraram nomes estrangeiros, sob molhos complicados, de
algum por onde possa transitar acompanhado de apelido francês” (ref. 7) / frase que exprime, por meio da
muitos e, de preferência, bons leitores. exploração do risível nas formas diminutivas, que dificil-
mente seremos um país povoado [...] por chefs de cuisine.
(Teobaldo Astúrias, inédito)
* Liberdade ainda que tardia. d) “Que sentido mesmo tiveram a abolição da escravatura
** chefes de cozinha. e a proclamação da República?” (ref. 9) / indagação que
evidencia que o campo da educação, no Brasil, é frágil,
visto que episódios históricos relevantes nem mesmo
07.11. (PUCCAMP – SP) – Afirma-se com correção: o autor são bem compreendidos por grande parte do público
brasileiro, o que dificulta a escolha de temas pelo cronista.
a) critica publicações, como jornais e revistas, que aparecem
em intervalos fixos ou regulares, por exigirem dos cronis- e) “O mesmo ocorre com o material das fitas, dos CDs e DVDs:
tas análises consistentes sobre o que acontece no dia a o mundo digital armazena tudo e propaga tudo instanta-
dia do universo em que os periódicos circulam, como se neamente” (ref. 15) / afirmação pela qual se defende que
nota em Difícil é ser cronista regular de algum periódico. a transitoriedade, que atingirá o papel como suporte de
comunicação, também atingirá o mundo digital, o que
b) defende que, hoje, os cronistas estão mais bem prepa-
justifica a previsão do apocalipse profissional do cronista.
rados para exercer sua profissão, pois assumem atitude
mais crítica do que nostálgica, o que justifica a maior 07.13. (PUCCAMP – SP) – Já a literatura e a redação andam
preocupação deles com o seu presente do que com o questionadas como itens de vestibular: mas sob quais
seu passado (os jovens cronistas dos jornais abordam argumentos o desempenho linguístico e a arte literária
criticamente os rumores contemporâneos). seriam dispensáveis numa formação escolar de verdade?
c) ressalta a importância de um bom assunto para a concep- Considerando as orientações da gramática normativa, é
ção de uma boa crônica, reprovando fontes tradicionais de correto afirmar sobre a frase acima:
inspiração, como a Bíblia, por exemplo, pela dificuldade de
a) Respeitada a determinação dos termos destacados em
atualização de seus temas, e exaltando as mais modernas,
Já a literatura e a redação andam questionadas como
como o Google, que oferece informações várias sobre a
itens de vestibular, é correta a substituição por “Quanto
matéria escolhida.
a literatura e a redação: andam questionadas como itens
d) d) compõe seu texto valendo-se de formas que suge- de vestibular”.
rem as sensações experimentadas pelo cronista em sua
b) A expressão andam questionadas indica que o questiona-
procura de assunto, como, por exemplo, indagações que
mento ocorre há muito tempo, tendo se tornado ponto
exprimem dúvida ou inquietação – Mas como atualizar
inseparável da reflexão no campo da educação.
o interesse em tudo isso? − , ou expressões que indiciam
esperança – Sim, a internet! c) Há perfeito paralelismo de construção do período: na
segunda oração, as unidades que compõem o sujeito da
e) e) demonstra a necessidade de cronistas estarem sempre
primeira são retomadas, em outra formulação, mas em
atentos à atualização, quer no que se refere aos temas,
idêntica ordem de apresentação dos termos.
quer quanto às formas de difusão de seus textos, pois a
modernização é o fator predominante na preservação d) Os dois-pontos podem, com correção, ser substituídos por
desse tipo de profissional, como comprovam os blogs ponto final, com a necessária alteração de mas para “Mas”;
de cronistas. seria inadmissível, porém, a substituição dos dois-pontos
por ponto e vírgula.
07.12. (PUCCAMP – SP) – Cada um dos segmentos abaixo e) O emprego da expressão de verdade permite que se
transcritos está associado a um comentário sobre o sentido admita que há formações escolares que não cumprem
que tem no processo argumentativo. A alternativa que com seu dever.
apresenta a correta associação é:

Português 2C 53
07.14. (PUCCAMP – SP) – Considerada a situação em que I. As duas orações iniciais do período correlacionam-se pela
está inserido, o segmento que NÃO está empregado em ideia de concomitância.
sentido figurado é: II. O pronome seu recupera termo presente no período
a) (parágrafo 1) Onde o ímã que atraia uma boa limalha? imediatamente anterior.
b) (parágrafo 2) lá vem a estátua nova-iorquina com seu III. O emprego de ainda, no contexto, indica que a falta de
facho de luz saudando os navegantes. emprego é determinada pelo momento da aposenta-
c) (parágrafo 6) Houve época em que bastava ao cronista doria.
ser poético. IV. A expressão em tempo de crise restringe a ideia explici-
d) (parágrafo 6) tudo podia virar uma valsa melancólica ou tada no segmento imediatamente anterior.
um tango arrebatador. Está correto o que se afirma APENAS em
e) (parágrafo 5) o cronista que se dizia sem assunto de re- a) I e III.
pente fica aflito por ter de escolher um no infinito cardápio b) II e IV.
digital de assuntos. c) I, II e IV.
07.15. (PUCCAMP – SP) – Considerado o contexto, está d) I e IV.
adequadamente entendido o seguinte segmento: e) II e III.
a) (parágrafo 1) Onde a farinha que proverá o pão substan-
cioso? / Em que lugar se produzirá a farinha com que se 07.18. (PUCCAMP – SP) – A variedade da vida há de condu-
faz o pão saudável? zi-lo por um bom caminho; é função do cronista encontrar
algum por onde possa transitar acompanhado de muitos e,
b) (parágrafo 2) ou a letra de um hino cívico / ou a letra de
de preferência, bons leitores.
um cântico solene de louvor a Deus.
O período acima recebeu outras formulações. A redação que,
c) (parágrafo 4) há quem defenda uma neutralidade abso-
clara e correta – considerada a norma-padrão da língua −,
luta diante de fatos que seriam indiscutíveis / há aqueles
não prejudica o sentido original é:
que defendem uma atitude objetiva e rigorosa quando
se trata de narrativa de acontecimentos que, por sua a) A variedade que a vida possue possibilita ter vários
natureza, não merecem avaliação. caminhos; que o cronista, em sua função, percorra pelo
menos um por onde transitar podendo ter a preferência
d) (parágrafo 5) Amenidades? / Especulações sobre a vida
de acompanhar muitos e bons leitores.
alheia?
b) Bons caminhos são vários na vida e todos há de conduzir
e) (parágrafo 6) num tempo sem nostalgia e sem utopias /
a bons destinos; o cronista necessita algum caminho que
numa época em que as pessoas não sentem saudades de
transite na companhia, preferencialmente, de muitos e
tempos já vividos, nem sonham com um mundo ideal.
bons leitores.
07.16. (PUCCAMP – SP) – Entende-se corretamente do c) A vida oferece, com certeza, vários e bons caminhos; cabe
último parágrafo: ao cronista encontrar algum que lhe permita nele transitar
a) A expressão apocalipse profissional está, nesse parágrafo, na companhia de muitos e, de preferência, bons leitores.
associada a ideias positivas sobre a profissão de cronista d) O cronista deve encontrar, sendo essa a função desse
de periódico. profissional, algum caminho aonde possa estar junto com
b) Em o cronista de periódico ainda tem emprego, o advér- muitos e bons leitores, de preferência, pois a variedade
bio está empregado com o sentido de “até”, “inclusive”, da vida há de bem conduzi-lo.
como se tem em “Foram todos bem recebidos, ainda os e) A vida há de oferecer, em sua variedade, um bom caminho
que criticaram seu programa”. ao cronista, conduzindo-lhe; sua função é encontrar uma
c) Machado de Assis, Rubem Braga e Luis Fernando Veris- passagem, afim de que ele transite, preferencialmente,
simo são citados em sequência que vai do escritor de junto a muitos e bons leitores.
maior para o de menor prestígio, pois esse movimento
descendente é relevante na exposição do tema. Desafio
d) Em há que se contentar e há de conduzi-lo expressam-se,
respectivamente, a ideia de “ter inevitavelmente de se 07.19. (UNICAMP – SP) – O trecho abaixo corresponde à
contentar” e o intenso desejo de que a referida condução parte final do primeiro Sermão de Quarta-Feira de Cinza,
ocorra no futuro. pregado em 1672 pelo Padre Antonio Vieira.
e) Em há de conduzi-lo, o pronome remete a tema.
“Em que cuidamos, e em que não cuidamos?
07.17. (PUCCAMP – SP) – Enquanto não chega seu apoca- Homens mortais, homens imortais, se todos os
lipse profissional, o cronista de periódico ainda tem emprego, dias podemos morrer, se cada dia nos imos che-
o que não é pouco, em tempo de crise. gando mais à morte, e ela a nós; não se acabe com
Considere a frase acima e as afirmações que seguem. este dia a memória da morte. Resolução, resolu-

54 Extensivo Terceirão
Aula 07

ção uma vez, que sem resolução nada se faz. E Instrução: Leia o texto a seguir para responder à questão.
para que esta resolução dure, e não seja como ou-
tras, tomemos cada dia uma hora em que cuide- Canção é tudo aquilo que se canta com inflexão
mos bem naquela hora. De vinte e quatro horas melódica (ou entoativa) e letra. Há um “artesanato”
que tem o dia, por que se não dará uma hora à específico para privilegiar ora a força entoativa da
triste alma? Esta é a melhor devoção e mais útil palavra ora a forma musical; nem só poesia nem só
penitência, e mais agradável a Deus, que podeis música. Um dos equívocos dos nossos dias é jus-
fazer nesta Quaresma. (...) Torno a dizer para tamente dizer que a canção tende a acabar porque
que vos fique na memória: Quanto tenho vivido? vem perdendo terreno para o rap! Ora, nada é mais
Como vivi? Quanto posso viver? Como é bem que radical como canção do que uma fala que conserva
viva? Memento homo.” a entoação crua. A fala no rap é entoada com cer-
ta regularidade rítmica, o que a torna diferente de
(Antonio Vieira, Sermões de Quarta-Feira de Cinza. uma fala usual. Apesar de convivermos hoje “com
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2016, p.102.)
uma diversidade cancional jamais vista”, prevalece
na mídia, nos meios cultural e musical “a opinião
a) Levando em conta o trecho acima e o propósito argu- uniforme de que estamos mergulhados num ‘lixo’
mentativo do Sermão, explique por que, segundo Vieira, de produção viciada e desinteressante”. Vivemos
se deve preservar “a memória da morte”. uma descentralização, com eventos musicais ricos
e variados, “e a força do talento desses novos can-
cionistas também não diminuiu”.
O rap serve-se da entoação quase pura, para
transmitir informações verbais, normalmente in-
tensas, sem perder os traços musicais da lingua-
gem da canção. Seu formato, menos música mais
fala, é ideal para se fazer pronunciamentos, mani-
festações, revelações, denúncias, etc., sem que se
abandone a seara cancional. Podemos dizer que
o trabalho musical, no rap, é para restabelecer as
balizas sonoras do canto, mas nunca para perder a
concretude da linguagem oral ou conter a crueza e
o peso de seus significados pessoais e sociais. Ate-
nuar a musicalização é reconhecer que as melodias
cantadas comportam figuras entoativas (modos de
dizer) que precisam ser reveladas por suas letras.
(Adaptado de Luiz Tatit. Artigos disponíveis em http://www.luiztatit.
com.br/artigos/artigo?id=29/CancionistasInvis%C3%ADveis.
html e http://www.scielo.br/pdf/rieb/n59/0020-3874-
rieb-59-00369.pdf. Acessados em 11/12/2017.)
b) Considere as perguntas presentes no trecho acima e
explique sua função para a mensagem final do Sermão.
07.20. (UNICAMP – SP) – A partir da leitura dos textos acima,
a) aponte dois argumentos de Luiz Tatit que defendem a
ideia de que o rap é um tipo de canção;

b) cite duas características, apresentadas nos textos, que


corroboram que o rap é uma forma ideal de “canção de
protesto”.

Português 2C 55
Produção de textos
Proposta 01
(PUCCAMP – SP) – Leia o editorial abaixo procurando apreender o tema nele desenvolvido. Em seguida, elabore uma disser-
tação, na qual você exporá, de modo claro e coerente, suas ideias acerca desse tema.

A equipe brasileira teve o melhor desempenho da história dos Jogos Olímpicos. Superou sua melhor clas-
sificação na tabela em número de medalhas de ouro e também de pódios e esteve perto da meta do Comitê
Olímpico do Brasil (ficar entre os dez primeiros) em termos de total de láureas.
Não chegou perto, porém, dos resultados das potências esportivas que sediaram a Olimpíada nos últimos
50 anos.
Os números nacionais destoam dos indicadores econômicos e sociais do país. O Brasil alcançou o 13° lu-
gar na classificação dos Jogos do Rio. Em renda per capita ou em desenvolvimento social, a posição brasileira
no ranking mundial anda perto do septuagésimo lugar.
Tais estatísticas, porém, nem de longe dizem tudo sobre as perspectivas em Olimpíadas. Além da quali-
dade de vida, o desempenho nos esportes de elite está ainda relacionado a tradições esportivas e a desejos
de projetar a imagem do país.
Isto posto, o que fazer da ansiedade nacional por se destacar no esporte de alto nível? Quais são o inte-
resse, o custo e o benefício?
Apesar do resultado recorde no Rio, o governo investiu soma consideravelmente maior nestes Jogos. Em
cálculo rudimentar, o custo por medalha aumentou. Em linhas gerais, no entanto, o desempenho não ficou
muito longe da média recente em termos de pódios.
Desde a Olimpíada de Atlanta, em 1996, as equipes brasileiras vinham conquistando algo em torno de
1,5% das medalhas. Antes de Atlanta, o esporte nacional ficava com um terço disso.
Tornam-se cada vez mais altos os custos de alcançar resultados melhores apenas por meio do investimen-
to em poucos atletas de nível internacional. Parece não haver progresso substantivo de benefícios, em termos
de medalhas, imagem e, mais importante, melhorias sociais gerais.
Desde que o Brasil se dedicou mais a satisfazer seu desejo de projeção esportiva, quando decidiu sediar
a Olimpíada, não houve programa consistente de disseminação da cultura esportiva no país: de práticas
saudáveis, de educação esportiva e de competições de base, a começar pelas escolas.
Tal programa teria o efeito de, a médio prazo, multiplicar o número de praticantes, facilitar a revelação de
talentos e lançar mais luz sobre a saúde de jovens e sobre a situação material das escolas.
Um programa assim poderia satisfazer anseios nacionais de projetar a imagem do país de modo social-
mente mais relevante: criando uma massa de atletas, talvez futuros campeões, em vez de se fiar apenas em
gastos nas poucas figuras excepcionais que ainda dominam o esporte olímpico brasileiro.
(Folha de S.Paulo. 22/08/2016)

56 Extensivo Terceirão
Aula 07

Português 2C 57
Proposta 02
(PUCCAMP – SP) – Leia atentamente os textos abaixo.
Texto I

O uso de “buscadores”, na internet, tem marcado a esmagadora maioria de pesquisas que se fazem em
todos os lugares, nas casas, nas escolas e nas empresas, com as mais diferentes finalidades. É uma ferramenta
moderna, legítima e imprescindível: o saber humano estocado e alcançado pelo toque de uma tecla.

Texto II

Em sã consciência, ninguém refutará a utilidade dos buscadores da internet. Mas é preciso ter cautela,
para não confundir quantidade de informação com qualidade de formação. Os dados de arquivos, por am-
plos que sejam, podem ser incorretos, e nunca dispensam a necessidade de articulação crítica de quem venha
a usá-los.

Redija uma dissertação em prosa, na qual você analisará criticamente os argumentos apresentados nos dois textos acima.

58 Extensivo Terceirão
Aula 07

Proposta 03
(UEPG – PR) – Leia os fragmentos abaixo e elabore um texto de opinião dissertativo-argumentativo sobre a busca pelo corpo
perfeito.

Portadores de vigorexia não medem esforços para deixar o corpo cada vez mais em forma
Movidas por uma insatisfação com o próprio corpo, algumas pessoas passam horas fazendo musculação
e controlam excessivamente a alimentação para conseguirem adquirir músculos e se sentirem mais bonitas.
Essa atitude pode indicar um distúrbio psicológico chamado vigorexia. “É o contrário da anorexia. Ao invés
das pessoas desejarem ficar mais magras, querem ficar cada vez mais musculosas”, explica o professor Mar-
cos Polito, vice-coordenador do mestrado em educação física da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Não há estatísticas de quantos são os vigoréxicos no Brasil, mas Polito acredita que a doença é mais comum
do que se imagina, principalmente no caso dos homens.
Adaptado de: Carol Manhani, disponível em http://www.jornaldelondrina.com.br/edicaododia/conteudo.phtml?id=971661, acesso em junho de 2012.

Português 2C 59
Nosso mundo é cheio de padrões a serem seguidos, como o padrão de beleza, que submete as pessoas a
uma busca incessante por atividades ou decisões radicais. Beleza, no entanto, não significa saúde, mas pela
busca desse ideal muitos lançam mão de tudo, perdendo não apenas a saúde como também o prazer de viver
sem culpa.
Adaptado de: Maria Luiza Gorga, disponível em http://www.educacional.com.br/articulistas/
outrosComportamentos_artigo.asp?artigo=artigo0066, acesso em junho de 2012.

60 Extensivo Terceirão
Aula 07

Gabarito
07.01. d -se dos prazeres materiais em vista ter o firme propósito do exercício da
07.02. c da salvação da alma. Preservar a me- virtude, a examinar sua vida pessoal
07.03. a mória da morte é não perder de vista com base na mensagem bíblica e,
07.04. a a finitude humana, produzir uma por fim, a realizar uma reflexão sobre
07.05. a atenção máxima ao tempo presente a condição humana.
07.06. c e reiterar, como a Igreja faz na liturgia 07.20. a) O rap pode ser considerado uma for-
07.07. a da Quarta-Feira de Cinzas, a mensa- ma de canção pois é uma fala ento-
07.08. d gem cristã contida na advertência da ada com certa regularidade rítmica,
07.09. d própria epígrafe do sermão: “Lembra- o que o torna diferente da fala usual.
07.10. e -te homem que sois pó, e em pó vos Além disso, ainda que se sirva da en-
07.11. d haveis de converter”. tonação quase pura, não perde sua
07.12. a b) As perguntas que aparecem no tex- musicalidade.
07.13. e to têm uma função exortativa, ou b) De acordo com o texto, ao enfatizar a
07.14. c interpelativa. As últimas, sobretudo, fala, o rap torna-se propício a denún-
07.15. e destacadas por Vieira, incidem sobre cias, manifestações individuais e cole-
07.16. d a relação entre os tempos presente, tivas. Ao atenuar a musicalidade sem
07.17. d passado e futuro, temporalidades que perder a “concretude da linguagem
07.18. c abarcam a totalidade da experiência oral”, o rap ressalta os significados
07.19. a) O sermão recupera o sentido da pe- humana, mensurando-a quantitativa pessoais e sociais em suas letras.
nitência como exercício espiritual e qualitativamente no que concerne
que transforma o homem, dando à salvação cristã. Tais perguntas con-
destaque à necessidade de liberar- clamam o ouvinte do sermão a man-

Português 2C 61
Português
Aula 08 2C 1B
Texto dissertativo-argumentativo II
Te

Planejamento da redação à opinião perante o tema, vale uma orientação muito


importante quanto a essa tomada de posição.
Muitas redações de candidatos bem preparados aca- Algumas questões propõem que o candidato se ma-
bam prejudicadas nas avaliações por duas grandes razões: nifeste contrária ou favoravelmente a determinado tema.
fuga total ou parcial do tema do texto. Em diversos casos Vamos tomar como exemplo um tema do vestibular PUC
assim, a causa está numa falha cometida antes da escrita – PR 2018, “A (im)possibilidade de redução da violência
da redação: a falta de atenção na leitura do tema proposto. no Brasil e do alcance de soluções favoráveis para a
Outro motivo da incidência de fuga do tema não é sociedade cultivar os valores da paz”. Esse tema permite
necessariamente falta de conteúdo por parte do autor. ao candidato se posicionar de forma favorável, e defender
Em diversas vezes, os textos pecam por motivo oposto: que há possibilidade de redução da violência e de solu-
excesso de conteúdo, porém exposto de forma desorga- ções de cultivo de valores da paz no Brasil. Por outro lado,
nizada, dispersiva. também é possível manter posicionamento contrário, e
Geralmente, redações assim são feitas sem planeja- argumentar que essas possibilidades não existem.
mento. Por diversas razões, como a ansiedade ou a sim- Porém, nem todas as questões possuem a dicotomia
ples preguiça, muitos candidatos, nas provas, procuram “contra x a favor”. Algumas provas de redação, especial-
produzir redações de forma instantânea. Assim, no mo- mente o ENEM, propõem temas em que não cabe esse
mento da escrita, não se faz a devida reflexão a respeito tipo de posicionamento. Veja a questão do ENEM 2017,
da coerência dos argumentos em relação ao tema. Para “Desafios para a formação educacional de surdos no
evitar esses problemas, é preciso criar uma cultura nova: o Brasil”. Perceba que não há cabimento discordar da exis-
hábito de planejar o que será escrito na redação. tência do problema proposto, muito menos ser contra
a formação educacional de surdos. Nessa situação, o
1. Leitura do tema melhor de posicionamento é confirmar a existência do
problema e comprová-lo por meio de argumentos.
A sua redação não começa apenas na escrita do pa-
rágrafo de introdução. O bom início de um texto está no
entendimento do tema proposto no enunciado da questão, 3. Seleção dos argumentos
pois muitas redações falham por não demonstrarem foco Também deve fazer parte do planejamento da reda-
no que se pede no tema. Utilizemos como exemplo o tema ção a escolha dos argumentos que defenderão o ponto
do ENEM 2014: “Publicidade infantil em questão no Brasil”. de vista do texto. Nesse momento, é importante saber
A partir desse tema, muitos candidatos desatentos levantar ideias e, principalmente, selecionar quais serão
perderam o foco e, por isso, dissertaram genericamente desenvolvidas na redação.
sobre a Publicidade (de forma geral), sobre o Capitalis- Ao se deparar com o tema, é importante registrar
mo, sobre o consumismo na sociedade, ou seja, escre- todas as ideias possíveis a respeito dele. Entretanto, é
veram a respeito de assuntos genéricos que permeavam necessário também ter consciência de que, numa reda-
esse tema. Isso gerou diversas redações que deixaram ção (em geral limitada em 30 linhas), é impossível expor
de discutir a questão principal (a publicidade infantil) e todos os argumentos possíveis a respeito de um tema.
seu contexto (no Brasil). Além disso, a colocação de muitos argumentos pode
Para que você não cometa essa falha grave, é fun- gerar um efeito contrário ao objetivo do texto, pois a
damental criar o hábito de planejar sua redação, e esse argumentação pode ficar enfraquecida justamente por
planejamento começa na leitura atenta do tema do texto. falta de espaço para que eles sejam desenvolvidos.
Para a composição de um bom texto argumenta-
2. Definição do posicionamento tivo, tem mais valor alguns bons argumentos, porém
Já que se trata de um texto de opinião, também é desenvolvidos, demonstrados e bem trabalhados nos
fundamental que o autor defina qual será o posiciona- parágrafos de desenvolvimento. Assim, a redação não
mento que será defendido ao longo da redação. Quanto será a mera enumeração de argumentos.
62 Extensivo Terceirão
Aula 08

Em resumo, num texto de 30 linhas, trabalhe com dois -argumentativo em modalidade escrita formal da
ou três argumentos, para que eles sejam devidamente língua portuguesa sobre o tema “A persistência da
demonstrados nos parágrafos de desenvolvimento. violência contra a mulher na sociedade brasileira”,
Isso pode, inclusive, ajudar você na organização dos apresentando proposta de intervenção que respeite
parágrafos: no desenvolvimento, separe um parágrafo os direitos humanos. Selecione, organize e relacione,
por argumento. de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para
defesa de seu ponto de vista.
Esquema de organização Texto I
do texto dissertativo Nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 fo-
Embora sejam possíveis diversas maneiras de ram assassinadas no país acima de 92 mil mu-
estruturar um texto, adotemos um esquema que pode lheres, 43,7 mil só na última década. O número
ser muito útil para quem possui dificuldades para de mortes nesse período passou de 1.353 para
organizar as ideias para a elaboração de um texto 4.465, que representa um aumento de 230%,
dissertativo-argumentativo. À medida que você for mais que triplicando o quantitativo de mulheres
ficando mais experiente na escrita, é possível buscar vítimas de assassinato no país.
WALSELFISZ. J. J. Mapa da Violência 2012.
variações. Atualização: Homicídio de mulheres no Brasil.
Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br.
Acesso em: 8 jun. 2015.
1. Planejamento do texto
Tema • Qual é o tema da redação? Texto II

• Qual é o posicionamento que


Tese
será defendido na redação?

• Argumento 01
Argumentos • Argumento 02
• Argumento 03

2. Estruturação do texto
Brasil. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Balanço 2014.
Introdução • Apresenação do tema, da tese e Central do Atendimento à Mulher: Disque 180. Brasília, 2015.
01 parágrafo dos argumentos. Disponível em: www.spm.gov.br. Acesso em: 24 jun. 2015.
(Adaptado).

Desenvolvimento
02 ou 03 • Um parágrafo por argumento
parágrafos Texto III

Conclusão • Confirmação da tese


01 parágrafo • Comentário final

Análise de redação
Façamos, agora, a leitura de um texto dissertativo-
-argumentativo avaliado com nota máxima (1000
pontos) no ENEM. Durante a leitura, vamos procurar
identificar a organização textual discutida na aula.

Proposta de redação
Disponível em: www.compromissoatitude.org.br. Acesso em: 24 jun.
A partir da leitura dos textos motivadores seguin- 2015. (Adaptado).
tes e com base nos conhecimentos construídos ao
longo de sua formação, redija um texto dissertativo-

Português 2C 63
Texto IV

O impacto em números
Com base na Lei Maria da Penha, mais de 330 mil processos foram instaurados apenas nos juizados e
varas especializadas.

Exemplo de redação
Parte desfavorecida
De acordo com o sociólogo Émile Durkheim, a sociedade pode ser comparada a um “corpo biológico” por
ser, assim como esse, composta por partes que interagem entre si. Desse modo, para que esse organismo seja
igualitário e coeso, é necessário que todos os direitos dos cidadãos sejam garantidos. Contudo, no Brasil, isso
não ocorre, pois em pleno século XXI as mulheres ainda são alvos de violência. Esse quadro de persistência
de maus tratos com esse setor é fruto, principalmente, de uma cultura de valorização do sexo masculino e de
punições lentas e pouco eficientes por parte do Governo.
Ao longo da formação do território brasileiro, o patriarcalismo sempre esteve presente, como por exemplo
na posição do “Senhor do Engenho”, consequentemente foi criada uma noção de inferioridade da mulher
em relação ao homem. Dessa forma, muitas pessoas julgam ser correto tratar o sexo feminino de maneira
diferenciada e até desrespeitosa. Logo, há muitos casos de violência contra esse grupo, em que a agressão
física é a mais relatada, correspondendo a 51,68% dos casos. Nesse sentido, percebe-se que as mulheres
têm suas imagens difamadas e seus direitos negligenciados por causa de uma cultural geral preconceituosa.
Sendo assim, esse pensamento é passado de geração em geração, o que favorece o continuísmo dos abusos.
Além dessa visão segregacionista, a lentidão e a burocracia do sistema punitivo colaboram com a per-
manência das inúmeras formas de agressão. No país, os processos são demorados e as medidas coercitivas
acabam não sendo tomadas no devido momento. Isso ocorre também com a Lei Maria da Penha, que entre
2006 e 2011 teve apenas 33,4% dos casos julgados. Nessa perspectiva, muitos indivíduos ao verem essa
ineficiência continuam violentando as mulheres e não são punidos. Assim, essas são alvos de torturas psico-
lógicas e abusos sexuais em diversos locais, como em casa e no trabalho.
A violência contra esse setor, portanto, ainda é uma realidade brasileira, pois há uma diminuição do valor
das mulheres, além do Estado agir de forma lenta. Para que o Brasil seja mais articulado como um “corpo
biológico” cabe ao Governo fazer parceria com as ONGs, em que elas possam encaminhar, mais rapidamente,
os casos de agressões às Delegacias da Mulher e o Estado fiscalizar severamente o andamento dos processos.
Passa a ser a função também das instituições de educação promoverem aulas de Sociologia, História e Biolo-
gia, que enfatizem a igualdade de gênero, por meio de palestras, materiais históricos e produções culturais,
com o intuito de amenizar e, futuramente, acabar com o patriarcalismo. Outras medidas devem ser tomadas,
mas, como disse Oscar Wilde: “O primeiro passo é o mais importante na evolução de um homem ou nação. ”
Extraído de: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-do-enem-2015-que-tiraram-nota-maxima.ghtml>. Acesso em: 13/02/18

64 Extensivo Terceirão
Aula 08

Testes
08.01. (UFMG) – Com base na leitura feita, é correto afirmar
Assimilação que o objetivo do texto é:
a) defender a parceria entre o papel e o texto como uma
Instrução: Leia o texto para responder a questão a seguir. história de êxitos.
b) discutir as implicações da era digital no uso da escrita.
A revolução digital c) descrever as vantagens e as desvantagens da internet
Texto e papel. Parceiros de uma história de na atualidade.
êxitos. Pareciam feitos um para o outro. d) narrar a história do papel e do texto desde a antiguidade.
Disse “pareciam”, assim, com o verbo no pas-
sado, e já me explico: estão em processo de sepa- 08.02. (UERJ) − Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma
ração. aventura, mas experiência, a que me induziram, alternada-
Secular, a união não ruirá do dia para a noite. mente, séries de raciocínios e intuições.
Mas o divórcio virá, certo como o pôr-do-sol a A fala inicial do conto “O espelho”, de João Guimarães Rosa,
cada fim de tarde. anuncia que a história combina gêneros textuais distintos.
O texto mantinha com o papel uma relação Além da narrativa, o outro gênero que se realiza nesse conto
de dependência. A perpetuação da escrita parecia é o da:
condicionada à produção de celulose. a) dissertação
Súbito, a palavra descobriu um novo meio de b) reportagem
propagação: o cristal líquido. Saem as árvores. c) entrevista
Entram as nuvens de elétrons.
d) carta
A mudança conduz a veredas ainda inexplora-
das. De concreto há apenas a impressão de que, Instrução: Texto para a próxima questão.
longe de enfraquecer, a ebulição digital tonifica a
escrita. A EDUCAÇÃO PELA SEDA
E isso é bom. Quando nos chega por um ouvi- Vestidos muito justos são vulgares. Revelar
do, a palavra costuma sair por outro. Vazando-nos formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgari-
pelos olhos, o texto inunda de imagens a alma. dade abominável.
Em outras palavras: falada, a palavra perde-se Os conceitos a vestiram como uma segunda
nos desvãos da memória; impressa, desperta o cé- pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a
rebro, produzindo uma circulação de ideias que vida ao primeiro olhar.
gera novos textos.
Rosa Amanda Strausz
A Internet é, por assim dizer, um livro inte- Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.
rativo. Plugados à rede, somos autores e leitores.
Podemos visitar as páginas de um clássico da lite-
ratura. Ou simplesmente arriscar textos próprios. 08.03. (UERJ) – O conto contrasta dois tipos de texto em
Otto Lara Resende costumava dizer que as sua estrutura. Enquanto o segundo parágrafo se configura
pessoas haviam perdido o gosto pela troca de como narrativo, o primeiro parágrafo se aproxima da seguinte
correspondências. Antes de morrer, brindou-me tipologia:
com dois telefonemas. Em um deles prometeu: a) injuntivo
“Mando-te uma carta qualquer dia desses”. b) descritivo
Não sei se teve tempo de render-se ao com- c) dramático
putador. Creio que não. Mas, vivo, Otto estaria d) argumentativo
surpreso com a popularização crescente do cor-
reio eletrônico. Instrução: Texto para a próxima questão.
O papel começa a experimentar o mesmo Leia o excerto do livro Violência urbana, de Paulo Sérgio
martírio imposto à pedra quando da descoberta Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida, para responder à(s)
do papiro. A era digital está revolucionando o uso questão(ões) abaixo.
do texto. Estamos virando uma página. Ou, por
outra, estamos pressionando a tecla “enter”. De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem
SOUZA, Josias de. A revolução digital. Folha de São Paulo, abertos. Evite falar com estranhos. À noite, não
São Paulo, 6 de maio de 1996. Caderno Brasil, p. 2.
saia para caminhar, principalmente se estiver so-
zinho e seu bairro for deserto. Quando estacionar,

Português 2C 65
tranque bem as portas do carro [...]. De madruga- tipo de inimigo, curioso ou forasteiro, inclusive,
da, não pare em sinal vermelho. Se for assaltado, depois, os historiadores.
não reaja – entregue tudo. Já no modelo novo de resistência, o quilombo
É provável que você já esteja exausto de ler abolicionista, as lideranças são muito bem conheci-
e ouvir várias dessas recomendações. Faz tempo das, cidadãos prestantes, com documentação civil
que a ideia de integrar uma comunidade e em dia e, principalmente, muito bem articulados
sentir-se confiante e seguro por ser parte de um politicamente. Não mais os grandes guerreiros do
coletivo deixou de ser um sentimento comum modelo anterior, mas um tipo novo de liderança,
aos habitantes das grandes cidades brasileiras. As uma espécie de instância de intermediação entre a
noções de segurança e de vida comunitária foram comunidade de fugitivos e a sociedade envolvente.
substituídas pelo sentimento de insegurança Sabemos hoje que a existência de um quilombo in-
e pelo isolamento que o medo impõe. O outro teiramente isolado foi coisa rara. Mas, no caso dos
deixa de ser visto como parceiro ou parceira quilombos abolicionistas, os contatos com a socie-
em potencial; o desconhecido é encarado como dade são tantos e tão essenciais que o quilombo
ameaça. O sentimento de insegurança transforma encontra-se já internalizado, parte do jogo político
e desfigura a vida em nossas cidades. De lugares da sociedade mais ampla.
de encontro, troca, comunidade, participação (Quilombo abolicionista – cap. 1; p. 11. SILVA, Eduardo:
coletiva, as moradias e os espaços públicos As Camélias do Leblon e a abolição da escravatura: uma
investigação de história cultural. SP: Cia das Letras, 2003.)
transformam-se em palco do horror, do pânico e
do medo.
A violência urbana subverte e desvirtua a 08.05. (UFPR) – Com base no texto, assinale a alternativa
função das cidades, drena recursos públicos já es- INCORRETA.
cassos, ceifa vidas – especialmente as dos jovens a) Segundo o autor, a organização quilombola, no período
e dos mais pobres –, Dilacera famílias, modifican- pré-abolição, não era constituída exclusivamente como
do nossas existências dramaticamente para pior. modelo de resistência belicoso.
De potenciais cidadãos, passamos a ser consumi-
dores do medo. O que fazer diante desse quadro b) As lideranças de ambos os tipos de organização quilom-
de insegurança e pânico, denunciado diariamente bola apontados no texto eram ocupadas por indivíduos
pelos jornais e alardeado pela mídia eletrônica? de prestígio na sociedade circundante.
Qual tarefa impõe-se aos cidadãos, na democracia c) Cada um dos tipos de quilombo apontados pelo autor do
e no Estado de direito? texto, no Brasil, tinha estratégias e finalidades diferentes.
(Violência urbana, 2003.) d) Quilombos inteiramente isolados não eram tão comuns,
segundo Silva, contrariamente ao que sempre se acreditou.
e) Os chamados quilombos abolicionistas eram mais inte-
08.04. (UNESP – SP) – O modo de organização do discurso grados à sociedade circundante, mantendo com ela uma
predominante no excerto é estreita relação.
a) a dissertação argumentativa.
b) a narração. 08.06. (UFPR) – As expressões ‘cidadãos prestantes’ e ‘ins-
c) a descrição objetiva. tância de intermediação’, no segundo parágrafo, podem ser
d) a descrição subjetiva. interpretadas, segundo o contexto de ocorrência, respecti-
vamente, como:
e) a dissertação expositiva.
a) ‘pessoas que têm crenças religiosas’ e ‘foro oficial’.
b) ‘indivíduos que prestam serviços’ e ‘lugar de recurso’.
Aperfeiçoamento c) ‘cidadãos que se distinguem na sociedade’ e ‘nível de
mediação’.
Instrução: O texto abaixo é referência para as questões
d) ‘cidadãos que são prestativos’ e ‘intermediários eventuais’.
08.05 e 08.06.
e) ‘pessoas que protestam contra injustiças’ e ‘nível inter-
mediário’.
A crise final da escravidão, no Brasil, deu lu-
gar ao aparecimento de um modelo novo de re- Instrução: O texto a seguir é referência para as questões
sistência, a que podemos chamar quilombo abo- 08.07 e 08.08.
licionista. No modelo tradicional de resistência à
escravidão, o quilombo-rompimento, a tendência
TV a Serviço da Tecnologia e do Racismo
dominante era a política do esconderijo e do se-
gredo de guerra. Por isso, esforçavam-se os qui- Os meios de comunicação, todos eles, têm
lombolas exatamente para proteger seu dia a dia, sido braço direito e esquerdo da propagação das
sua organização interna e suas lideranças de todo tecnologias da estrutura racista. Isso é uma verda-

66 Extensivo Terceirão
Aula 08

de que se pode confirmar com absoluta facilidade tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer
em todos os veículos de comunicação disponí- do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difí-
veis, em especial a televisão. cil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além
O poderoso e influente jornalista Assis Cha- disso, julgando a matéria superior às minhas for-
teaubriand foi o responsável pela primeira trans- ças, esperei que outros mais aptos se ocupassem
missão televisiva no Brasil, em 18 de setembro de dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se
1950, pela TV Tupi, em São Paulo. No ano seguin- verá. Também me afligiu a ideia de jogar no papel
te, seria a vez de o Rio de Janeiro ser contemplado criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que
com essa novíssima ferramenta, viabilizada por têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las,
recursos importados dos Estados Unidos. O Bra- dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie
sil, então, passou a ser o quarto país do mundo a de romance; mas teria eu o direito de utilizá-las
operar esse tipo de veículo, ficando atrás apenas em história presumivelmente verdadeira? Que
da Inglaterra, França e dos próprios Estados Uni- diriam elas se se vissem impressas, realizando
dos. O país seguia pouco mais de meio século de atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis
pós-abolição. Uma pós-abolição que ora tentava e obliteradas?
se livrar das sobras humanas, cuja exploração ex- RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio, São Paulo: Record, 2004, p. 33.
plícita já não era mais permitida pela lei, ora se
valia da fragilidade dessas sobras vivas para pros-
seguir com os acúmulos de riqueza construída à 08.09. (IFAL) – Que alternativa abaixo não resulta de leitura
custa da exploração histórica e não reparada. [...] adequada do texto?
(Joice Beth, Le Monde Diplomatique Brasil, junho/2017, p. 38. Adaptado.)
a) No excerto, dá-se um processo argumentativo, cujo obje-
tivo é justificar a escrita do texto e a suposta demora do
autor para iniciar-se essa tarefa.
08.07. (UFPR) – Com relação à palavra “sobras” citada na b) O interesse do autor seria o de dar ao seu texto um as-
última frase do texto, é correto afirmar que refere: pecto romanesco, embora lhe fosse repugnante a ideia
a) os recursos humanos da TV. de deformar personagens ou atribuir-lhes nome falso.
b) os negros pós-abolição. c) O autor considera importante que seus leitores entendam
c) a sociedade manipulada pela TV. que o que ele irá contar realmente aconteceu, muito em-
d) os profissionais da tecnologia televisiva. bora aceite que sua versão da história pode ser contestada.
e) os líderes abolicionistas. d) O uso das notas tomadas pelo autor serviria, conforme seu
pensamento, para atestar a legitimidade factual do relato.
08.08. (UFPR) – O parágrafo a seguir dá continuidade ao e) O autor julga que, para a redação de seu texto, é impor-
texto de Joice Beth. tante preservar bem a memória do passado.
O mito da democracia racial foi amplamente propagado,
__________ sempre, nas telenovelas, negros e brancos Instrução: Texto para a próxima questão.
conviviam de forma pacífica, __________ alicerçou na
mentalidade do sujeito negro uma aceitação inexistente da A internet e os direitos autorais
negritude, __________ essa convivência era claramente A internet e outras tecnologias mudaram a
hierarquizada, estabelecendo sem nenhum constrangimento rotina das famílias, a vida social e até a sua per-
quem era “superior” – e mandava – e quem era “inferior” – e, cepção do mundo. Distâncias parecem menores,
__________, obedecia. a ideia de privacidade está em questão, e os rela-
Assinale a alternativa que preenche adequadamente as cionamentos amorosos ganharam nova dimensão.
lacunas, na ordem em que aparecem no texto. De forma tão avassaladora, que quem não partici-
a) visto que – o que – pois – portanto. pa das redes sociais em algum momento pode se
b) onde – desse modo – mas – no entanto. sentir excluído ou desinformado.
c) mesmo que – por isso – de modo que – por isso. A transformação trazida pela tecnologia, no
entanto, não pode ser confundida com ruptura
d) que – a qual – entretanto – por conseguinte.
com tudo o que havia antes. Os critérios para ava-
e) pois – contudo – sendo que – assim. liar um livro continuam os mesmos, não importa
se em e-book ou edição de capa dura; a relação
Instrução: Texto para a próxima questão.
custo-benefício de uma compra ainda precisa ser
pensada com critério, seja em e-commerce ou loja
Resolvo-me a contar, depois de muita hesi- de shopping; e o cuidado com a publicação de
tação, casos passados há dez anos – e, antes de uma notícia, o que inclui a sua correta apuração
começar, digo os motivos porque silenciei e por- e a clareza do texto, deve ser o mesmo em site ou
que me decido. Não conservo notas: algumas que jornal de papel.

Português 2C 67
O mesmo raciocínio se aplica à propriedade
intelectual de músicas, textos, filmes e quaisquer Aprofundamento
outras obras, que ganham novas formas de expo-
sição com a internet, mas continuam a ter donos. Instrução: Texto para a próxima questão.
Da mesma maneira que antes do aparecimento Leia o texto para responder à(s) questão(ões).
das mídias digitais. Infelizmente, não é dessa for-
ma que parecem pensar grandes empresas inter- Humor não é bullying
nacionais da internet, que brigam na Justiça com
Natalia Klein
a União Brasileira das Editoras de Música e impe-
1
dem assim o pagamento aos filiados à entidade Não existe nada mais fácil do que sacanear
dos valores relativos à exibição de seus trabalhos quem já é frequentemente sacaneado. É tiro certo,
nos canais de áudio e vídeo. É uma situação inad- todos vão achar graça. Mas aí não estamos falando
missível, que já dura muitos meses. de humor. O nome disso é bullying.
O respeito aos direitos autorais na era da in- [...] 2Recentemente, dei uma entrevista em
ternet é questão vital porque o mercado de CDs que me perguntaram sobre os limites do humor.
só faz encolher. As novas mídias representam a Por uma infelicidade, publicaram apenas um
perspectiva de trabalho para os criadores a longo trecho da minha resposta, em que eu digo que
prazo. É necessário assegurar a sua adequada re- “não posso mais fazer piadas com anão, negros,
muneração e, por extensão, os recursos para que homossexuais”.
a produção musical se sustente a longo prazo. A É importante deixar claro que eu disse sim
agilidade e a onipresença da rede podem – e de- essa frase pavorosa. Mas em um contexto muito
vem – servir para trazer mais recursos ao compo- mais amplo. O que eu expliquei – ou, pelo menos,
sitor, e não o contrário. tentei explicar – é que não se pode fazer piadas
Empresas jornalísticas, no Brasil e no mundo, envolvendo assuntos polêmicos sem correr o risco
também já viram o conteúdo da imprensa profis- de ser tachado de preconceituoso. 3Mas fingir que
sional ser divulgado na internet sem contraparti- o preconceito não existe é infinitamente pior.
da alguma ignorando os altos custos de produção 4
Não sou a favor de fazer graça de quem já
da notícia. No Brasil, a Associação Nacional de tem que lidar diariamente com a intolerância. Sou
Jornais (ANJ) proíbe, por notificação judicial, que a favor de se fazer piada da intolerância em si.
se reproduza a íntegra dos textos dos associados. Em colocar na mesa os nossos podres para que a
Se as novas tecnologias facilitam o entreteni- gente lembre que eles existem.
mento e aumentam a oferta de bens culturais a (Fonte: http: //www.adoravelpsicose.com.br/2011/10/
consumidores no mundo inteiro, elas são bem- humor-nao-e-bullying.html Acessado em: 27/08/2015)
-vindas. Mas isso não pode acontecer à custa do
sagrado direito autoral.
08.11. (CP2 – RJ) – Os advérbios em português servem
Rio de Janeiro, O Globo, Opinião, 23 abr. 2015, p.16. Adaptado.
para traduzir variadas circunstâncias, mas também, em
alguns contextos, como nos textos argumentativos, são
08.10. (FMP – SC) – O editorial é um gênero textual de usados para expressar um ponto de vista defendido pelo
caráter argumentativo, destinado a defender uma opinião produtor do texto.
sobre algum assunto da atualidade. Esse segundo uso do advérbio aparece em
O texto defende a tese de que a) “Não sou a favor de fazer graça de quem já tem que lidar
a) o mercado audiovisual tem muito a ganhar com a divul- diariamente com a intolerância (...)” (ref. 4)
gação de seus produtos pela internet. b) “Recentemente, dei uma entrevista em que me pergun-
b) os órgãos da justiça brasileira deveriam penalizar as taram sobre os limites do humor.” (ref. 2)
grandes empresas de comunicação digital. c) “Não existe nada mais fácil do que sacanear quem já é
c) o desenvolvimento da tecnologia provocou um aumento frequentemente sacaneado.” (ref. 1)
avassalador do uso das redes sociais. d) “Mas fingir que o preconceito não existe é infinitamente
d) a divulgação de conteúdos na rede deve respeitar a pior.” (ref. 3)
propriedade intelectual de seus autores.
e) as grandes empresas de comunicação impressa precisam
considerar os direitos dos jornalistas.

68 Extensivo Terceirão
Aula 08

Instrução: Texto para a próxima questão. se vangloriavam da melhoria na alimentação de


seus escravos, nos anos de alta no preço do açú-
Nós, escravocratas car. Continuamos escravocratas, comemorando
Há exatos cem anos, saía da vida para a história gestos parciais. Antes, com a proibição do tráfico,
um dos maiores brasileiros de todos os tempos: o a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários.
pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ou- Agora, com o bolsa família, o voto do analfabeto
sou pensar, intelectual que não se omitiu em agir, ou a aposentadoria rural. Medidas generosas, para
pensador e ativista com causa, principal artífice da inglês ver e sem a ousadia da abolição plena.
abolição do regime escravocrata no Brasil. Somos escravocratas porque, como no sé-
Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabu- culo XIX, não percebemos a estupidez de não
co reconhecia: “Acabar com a escravidão não basta. abolirmos a escravidão. Ficamos na mesquinhez
É preciso acabar com a obra da escravidão”, como dos nossos interesses imediatos negando fazer a
lembrou na semana passada Marcos Vinicios Vila- revolução educacional que poderia completar a
ça, em solenidade na Academia Brasileira de Letras. quase-abolição de 1888. Não ousamos romper
Mas a obra da escravidão continua viva, sob a forma as amarras que envergonham e impedem nosso
da exclusão social: pobres, especialmente negros, salto para uma sociedade civilizada, como, por
sem terra, sem emprego, sem casa, sem água, sem 350 anos, a escravidão nos envergonhava e amar-
esgoto, muitos ainda sem comida; sobretudo sem rava nosso avanço. Cem anos depois da morte de
acesso à educação de qualidade. Cem anos depois Joaquim Nabuco, a obra criada pela escravidão
da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão continua, porque continuamos escravocratas. E,
se mantém e continuamos escravocratas. ao continuarmos escravocratas, não libertamos os
Somos escravocratas ao deixarmos que a esco- escravos condenados à falta de educação.
la seja tão diferenciada, conforme a renda da fa- CRISTOVAM BUARQUE. Adaptado de http://oglobo.globo.com, 30/01/2000.
mília de uma criança, quanto eram diferenciadas
as vidas na Casa Grande ou na Senzala. Somos
escravocratas porque, até hoje, não fizemos a dis- 08.12. (UERJ) – No desenvolvimento da argumentação, o
tribuição do conhecimento: instrumento decisivo autor enumera razões específicas, facilmente constatadas no
para a liberdade nos dias atuais. Somos escravo- cotidiano, para sustentar sua opinião, anunciada no título, de
cratas porque todos nós, que estudamos, escre- que todos nós seríamos ainda escravocratas.
vemos, lemos e obtemos empregos graças aos Esse método argumentativo, que apresenta elementos es-
diplomas, beneficiamo-nos da exclusão dos que pecíficos da experiência social cotidiana, para deles extrair
não estudaram. Como antes, os brasileiros livres uma conclusão geral, é conhecido como:
se beneficiavam do trabalho dos escravos. a) direto b) dialético
Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os c) dedutivo d) indutivo
analfabetos, a culpa por não saberem ler, em vez
de assumirmos nossa própria culpa pelas deci- Instrução: Texto para a próxima questão.
sões tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos
investimentos econômicos no lugar de escolas e
professores. Somos escravocratas, porque cons- Algum tempo hesitei se devia abrir estas me-
truímos universidades para nossos filhos, mas mórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria
negamos a mesma chance aos jovens que foram em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha
deserdados do Ensino Médio completo com qua- morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo
lidade. Somos escravocratas de um novo tipo: a nascimento, duas considerações me levaram a
negação da educação é parte da obra deixada pe- adotar diferente método: a primeira é que eu não
los séculos de escravidão. sou propriamente um autor defunto, mas um de-
funto autor, para quem a campa foi outro berço; a
A exclusão da educação substituiu o seques- segunda é que o escrito ficaria assim mais galante
tro na África, o transporte até o Brasil, a prisão e e mais novo. Moisés, que também contou a sua
o trabalho forçado. Somos escravocratas que não morte, não a pôs no introito, mas no cabo: dife-
pagamos para ter escravos: nossa escravidão ficou rença radical entre este livro e o Pentateuco.
mais barata, e o dinheiro para comprar os escravos
pode ser usado em benefício dos novos escravocra- Dito isto, expirei às duas horas da tarde de
tas. Como na escravidão, o trabalho braçal fica re- uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na mi-
servado para os novos escravos: os sem educação. nha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta
Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão. e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, pos-
suía cerca de trezentos contos e fui acompanhado
Somos escravocratas porque ainda achamos ao cemitério por onze amigos.
naturais as novas formas de escravidão; e nossos
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
intelectuais e economistas comemoram minúscu-
la distribuição de renda, como antes os senhores
Português 2C 69
08.13. (FGV – RJ) – Pode-se apontar, no texto, a contradição, tificial dos cumes incultos teria parecido tão absurda
que repercute na obra a que ele pertence, entre como a criação de santuários para pássaros e animais
a) o discurso ostensivamente racional e as alegações incom- que não podiam ser comidos ou caçados. A tarefa do
patíveis com a esfera da razão. homem, nas palavras do Gênesis (I, 28), era “encher
b) o tom elevado, solene, e o vocabulário de caráter oral- a terra e submetê-la”, derrubar matas, lavrar o solo,
-popular. eliminar predadores, matar insetos nocivos, arran-
c) a evidente filiação do narrador ao Espiritismo e sua refe- car fetos, drenar pântanos. A agricultura estava para
rência ao Velho Testamento. a terra assim como o cozimento para a carne crua.
d) o caráter clássico da erudição do narrador e o romantismo Convertia a natureza em cultura. Terra não cultiva-
de sua demanda de originalidade. da significava homens incultos. E quando os ingleses
seiscentistas mudaram-se para Massachusetts, parte
e) a frieza analítica da argumentação e a intensidade emo- de sua argumentação em defesa da ocupação dos ter-
cional do conteúdo nela veiculado. ritórios indígenas foi que aqueles que por si mesmos
Instrução: Texto para a próxima questão. não submetiam e cultivavam a terra não tinham direi-
to de impedir que outros o fizessem.
Fetos: plantas da espécie que inclui samambaias e avencas.
Sermão de Santo Antônio (THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. S.
Vos estis sal terrae. São Mateus, vs. l3 Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 17-18.)

“Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os


pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da Texto 2:
terra, porque quer que façam na terra, o que faz o
sal. O efeito do sal e impedir a corrupção; mas quan- Antes dos anos 80, o termo biodiversidade não
do a terra se vê tão corrupta como esta a nossa, ha- era conhecido. Esse termo, que une as palavras ‘di-
vendo tantos nela que tem oficio de sal, qual será, ou versidade’ e ‘biológica’, foi popularizado pelo livro
qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque Biodiversidade, de 1988, organizado pelo biólogo
o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. norte-americano Edward O. Wilson, um dos pio-
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não neiros da ecologia, a partir dos debates do Fórum
pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se Nacional de Biodiversidade, realizado dois anos an-
não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a tes em Washington (Estados Unidos).
doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é O livro foi publicado no Brasil em 1997. No
porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma conceito de biodiversidade estão incluídos todos
cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa os seres vivos e as relações que esses organismos
salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles têm entre si e com o meio físico, transformando e
fazem, que fazer o que eles dizem. Ou é porque o construindo florestas, lagos e todos os elementos da
sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não paisagem que normalmente chamamos de natureza.
a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os Assim, plantas, animais e ecossistemas passaram a
ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus ser entendidos como um complexo integrado, que
apetites. Não e tudo isto verdade? Ainda mal.” dá forma e funcionamento à vida no planeta.
(Pregado em Sao Luiz do Maranhao, ano de 1654.)
A biodiversidade, portanto, não se refere exclu-
sivamente aos organismos em si, mas também ao
08.14. (CFTMG) – Nesse fragmento, não há ambiente criado a partir da presença deles. É como
a) organização textual marcada por paralelismos sintáticos. um jogo de xadrez. De que valem as peças se não
b) reflexão construída a partir de uma imagem metafórica. forem realizadas boas jogadas? Precisamos compre-
ender as complexas regras desse jogo, para evitar ou
c) intenção moralizante contra a depravação de costumes.
minimizar nossas interferências nefastas. No caso da
d) argumentação elogiosa aos evangelizadores. Amazônia, precisamos apreender a biodiversidade
da região em toda a sua complexidade e dinâmi-
Instrução: Textos para as próximas 2 questões. ca, entender os efeitos dos processos de mudança
Texto 1: e buscar as melhores soluções para a manutenção
dessa diversidade.
Apenas poucos séculos atrás, a mera ideia de
(A Amazônia está mudando. Ciência Hoje, jul. 2007, p. 40.)
resistir à agricultura, ao invés de estimulá-la, pare-
ceria ininteligível. Como teria progredido a civiliza-
ção sem a limpeza das florestas, o cultivo do solo e a 08.15. (UFPR) – Sobre o conceito de biodiversidade discu-
conversão da paisagem agreste em terra colonizada tido no Texto 2, é correto afirmar:
pelo homem? Os reis e grandes proprietários podiam a) A biodiversidade é como um jogo de xadrez, em que as
reservar florestas e parques para caça e extração de
jogadas são realizadas pela natureza e estão imunes às
madeira, mas na Inglaterra Tudor a preservação ar-
intervenções humanas.

70 Extensivo Terceirão
Aula 08

b) O conceito de biodiversidade está centrado no inventário


do conjunto de seres vivos e dos ambientes físicos propí- Obs.: Peter Ferdinand Drucker (1909-2005),
escritor, professor e consultor administrativo de
cios à vida desses seres.
origem austríaca; é considerado o pai da adminis-
c) O conceito de biodiversidade inclui o conjunto de seres tração moderna, tida por ele como a ciência que
vivos e as relações desses seres entre si e com o ambiente. trata sobre pessoas nas organizações.
d) Só existe biodiversidade em locais preservados, com (POLITO, Reinaldo. Citar pessoas num discurso...,
vegetação e fauna nativa e sem atividades de agricultura economia.uol.com.br. 21/04/2016)
e pecuária.
e) Os estudos relativos à biodiversidade mostram que o meio Texto II
físico independe da atuação dos seres vivos.
O argumento de prestígio mais nitidamen-
08.16. (UFPR) – Relacione os textos 1 e 2 e considere as
te caracterizado é o argumento de autoridade, o
afirmativas a seguir: qual utiliza atos ou juízos de uma pessoa ou de
1. O conceito de biodiversidade, formulado no século XX, um grupo de pessoas como meio de prova a favor
reflete uma avaliação das intervenções humanas sobre a de uma tese.
natureza diferente da concepção vigente no século XVI.
Para nós [...], o argumento de autoridade é de
2. A busca de preservação da biodiversidade já estava im-
extrema importância e, embora sempre seja per-
plícita na atitude seiscentista de buscar, através do culti-
mitido, numa argumentação particular, contestar-
vo da terra, converter a natureza em cultura.
-lhe o valor, não se pode, sem mais, descartá-lo
3. Ambos os textos ressaltam a importância da agricultura como irrelevante, salvo em casos especiais [...].
para o homem e a natureza.
O espaço do argumento de autoridade na ar-
4. No século XVI, os reis e grandes proprietários que preser-
gumentação é considerável.
vavam áreas incultas em suas terras pretendiam garantir
a sobrevivência de espécies vivas ameaçadas. (PERELMAN, Chaïm e OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da
argumentação: a nova retórica. Trad. Maria Ermantina de Almeida
Assinale a alternativa correta. Prado Galvão. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 348)

a) Somente a afirmativa 4 é verdadeira.


b) Somente a afirmativa 1 é verdadeira. 08.17. (PUCCAMP – SP) – Análise cuidadosa dos textos
c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. evidencia:
d) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. a) I e II constituem aconselhamento sobre técnicas de lin-
e) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. guagem; em I, o interlocutor almejado por Polito é um
orador fisicamente diante de um público, em II, somente
Instrução: Textos para a próxima questão. se admite que o interlocutor almejado pelos autores seja
Texto I o que se expressa por escrito.
b) considerando “discurso“ como argumentação; “orador”,
Citar pessoas que sejam autoridades reconhe- aquele que a apresenta; e “auditório”, aqueles a quem
cidas em determinada matéria é um recurso exce- ela se dirige, I e II pretendem atingir a todos que, se pro-
lente para dar ainda mais credibilidade ao orador. pondo a utilizar a linguagem na tarefa de convencer, nas
Fácil deduzir. mais cotidianas ou especializadas situações, buscam tirar
Se você faz palestra sobre gestão e cita, por proveito dos modos de argumentar.
exemplo, uma frase de Peter Drucker, que corres- c) os autores de I e II insistem na maneira pela qual um
ponde à sua forma de pensar, terá grande chance orador, ao defender uma ideia, deve efetuar a comuni-
de fortalecer ainda mais a credibilidade da sua cação para que seja não só bem sucedido, mas também
mensagem. reconhecido como autoridade no tema a que se dedica.
Por isso, as citações precisam ser de pessoas d) I e II manifestam o entendimento dos autores de que é em
que tenham inquestionável autoridade sobre o função do perfil do público-alvo que um orador/escritor
tema apresentado. Se a autoridade de quem foi deve pensar e desenvolver a apresentação de suas ideias,
citado é contestada por uma parte do público, ha- pois estruturas argumentativas nada pesam no processo
verá risco de quem o citou também ser contami- de convencimento.
nado por essa resistência. e) I e II detalham as situações em que um mesmo recurso
No exemplo acima, alguém poderia até não argumentativo pode ser usado e que cautelas devem
concordar com Peter Drucker, mas dificilmente ser tomadas para que se consiga influenciar o compor-
contestaria a autoridade dele. tamento dos interlocutores, sempre com o objetivo de
atingir consenso.

Português 2C 71
Instrução: Texto para a próxima questão.
dos para não pensar, passam a não gostar do que
não conhecem. Mas há quem tenha descoberto
O desaparecimento dos livros na vida cotidia- esse prazer que é o prazer de pensar a partir da
na e a diminuição da leitura é preocupante quan- experiência da linguagem – compreensão e diálo-
do sabemos que os livros são dispositivos funda- go – que sempre está ofertado em um livro. Cer-
mentais na formação subjetiva das pessoas. Nos tamente para essas pessoas, o mundo todo – e ela
perguntamos sobre o que os meios de comunica- mesma – é algo bem diferente.
ção fazem conosco: da televisão ao computador,
(TIBURI, Márcia. Potência do pensamento: por uma
dos brinquedos ao telefone celular, somos forma- filosofia política da leitura. Disponível em http://revistacult.
dos por objetos e aparelhos. uol.com.br – 31 jan. 2016 – com adaptações)

Se em nossa época a leitura diminui vertigi-


nosamente, ao mesmo tempo, cresce o elogio da
08.18. (COLÉGIO NAVAL – RJ) – Em seu processo argumen-
ignorância, nossa velha conhecida. Há, nesse con-
tativo, o texto
texto, dois tipos de ignorância. Uma é a ignorân-
cia filosófica, aquela que em Sócrates se expunha a) faz uma análise totalmente imparcial sobre as causas do
na ironia do “sei-que-nada-sei”. Aquele que não desaparecimento dos livros na vida cotidiana.
sabe e quer saber pode procurar os livros, esses b) explora a ideia da ignorância sob um ponto de vista
objetos que guardam tantas informações, tantos fundamentalmente empírico.
conteúdos, que podemos esperar deles muita coi- c) contrapõe o ato de pensar ao de ler, mostrando que este
sa: perguntas e, até mesmo, respostas. A outra é implica silêncio e aquele, concentração.
a ignorância prepotente, à qual alguns filósofos d) associa leitura a pensamento, mostrando que muitos
deram o nome de “burrice”. Pela burrice, essa for- desconhecem essa relação prazerosa.
ma cognitiva impotente e, contudo, muito prepo-
e) ratifica a ideia de que os meios tecnológicos de comuni-
tente, alguém transforma o não saber em suposto
cação são mais completos que os livros.
saber, a resposta pronta é transformada em verda-
de. Nesse caso, os livros são esquecidos. Eles são
desnecessários como “meios para o saber”. Can-
celada a curiosidade, como sinal de um desejo de
Desafio
conhecimento, os livros tornam-se inúteis. Assim,
a ignorância que nos permite saber se opõe à que 08.19. (UNICAMP – SP) – Em ensaio publicado em 2002,
nos deforma por estagnação. A primeira gosta dos Nicolau Sevcenko discorre sobre a repercussão da obra de
livros, a segunda os detesta. Euclides da Cunha no pensamento político nacional.
[...]
Para aprender a perguntar, precisamos apren- “Acima de tudo Euclides exaltava o papel
der a ler. Não porque o pensamento dependa da crucial do agenciamento histórico da população
gramática ou da língua formal, mas porque ler é brasileira. Sua maior aposta para o futuro do país
um tipo de experiência que nos ensina a desenvol- era a educação em massa das camadas subalter-
ver raciocínios, nos ensina a entender, a ouvir e a nas, qualificando as gentes para assumir em suas
falar para compreender. Nos ensina a interpretar. próprias mãos seu destino e o do Brasil. Por isso
Nos ajuda, portanto, a elaborar questões, a fazer se viu em conflito direto com as autoridades re-
perguntas. Perguntas que nos ajudam a dialogar, publicanas, da mesma forma como outrora lu-
ou seja, a entrar em contato com o outro. Nem tara contra os tiranetes da monarquia. Nunca
que este outro seja, em um primeiro momento, haveria democracia digna desse nome enquanto
apenas cada um de nós mesmos. prevalecesse o ambiente mesquinho e corrupto
da ‘república dos medíocres’(...). Gente incapaz
Pensar, esse ato que está faltando entre nós, e indisposta a romper com as mazelas deixadas
começa aí, muitas vezes em silêncio, quando nos pelo latifúndio, pela escravidão e pela exploração
dedicamos a esse gesto simples e ao mesmo tem- predatória da terra e do povo.
po complexo que é ler um livro. É lamentável
que as pessoas sucumbam ao clima programado (...) Euclides expôs a mistificação republi-
da cultura em que ler é proibido. Os meios tec- cana de uma ‘ordem’ excludente e um ‘progresso’
nológicos de comunicação são insidiosos nesse comprometido com o legado mais abominável do
momento, pois prometem uma completude que passado. Sua morte precoce foi um alívio para os
o ato de ler um livro nunca prometeu. É que o ato césares. A história, porém, orgulhosa de quem a
da leitura nunca nos engana. Por isso, também, resgatou, não deixa que sua voz se cale.”
muitos afastam-se dele. Muitos que foram educa- (Nicolau Sevcenko, O outono dos césares e a primavera da história.
Revista da USP, São Paulo, n. 54, p. 30-37, jun-ago 2002.)

72 Extensivo Terceirão
Aula 08

a) No último período do texto, há uma ocorrência do conec- O texto faz parte de uma campanha do Governo Federal em
tivo “porém”. Que argumentos do texto são articulados favor da doação de órgãos.
por esse conectivo? c) Qual o sentido de “coração” em cada uma das frases em
que aparece? Explique.

b) Apresente o argumento que embasa a posição atribuída


a Euclides da Cunha em relação ao lema da Bandeira
Nacional.
d) De que forma o texto é construído para cumprir com o
propósito de convencer o leitor sobre a importância da
doação de órgãos? Exemplifique.

08.20. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir.

Seja um doador de órgãos.


Seja um doador de vidas.
Deixe sua visão para o homem que nunca viu
o amanhecer nos braços de sua amada. Deixe
seu coração para a mulher que viver para fazer
o coração de seu filho feliz. Deixe o exemplo.
E, principalmente deixe sua família saber do seu
desejo de ser um doador de órgãos. Quem deixa
o seu o melhor deixa a vida seguir em frente.

Acesse: www.facebook.com/doacaodeorgaos
e divulgue nas redes sociais? #doeorgaos.

(ISTOÉ n. 2189, p.139, 26 out. 2011.)

Português 2C 73
Produção de textos
Proposta 01
(INSPER – SP) – Reflita sobre as ideias apresentadas nos textos a seguir e desenvolva uma dissertação em prosa sobre o tema:
Tema/Título: Violência, uma epidemia?
Texto 01

Abordei no mês passado o caráter patológico dos suicídios, que tendem a ocorrer em séries. Sabe-se
ainda que massacres do tipo Columbine também têm acontecido de forma epidêmica, como se um episódio
engatilhasse o seguinte, seja pela celebridade imediata que confere aos seus perpetradores, seja pelo impacto
que provoca na sociedade.
Agora vimos os saques em Londres varrer a Inglaterra de ponta a ponta também como numa pandemia. O
que quer dizer tudo isso? Que, se antes éramos assolados por cólera, gripe espanhola e outras pragas, agora
a grande moléstia que nos ameaça é uma coleção de epidemias comportamentais? Talvez seja difícil entender
esse tipo de violência que não está diretamente ligado exclusivamente à diferença social e à miséria, e decla-
rações de David Cameron e da direita do Parlamento londrino de que esses atos são “puro crime” mostram
quanto esses políticos estão fora de sintonia com a realidade.
Intelectuais e sociólogos que pesquisam a questão afirmam que a violência é sim uma epidemia, uma
nova moléstia social, derivação das inúmeras patologias urbanas. Resta saber se será possível inventar uma
“vacina” contra esse novo tipo de gripe espanhola.
http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/42_PATRICIA+MELO

Texto 02

Mais bonzinhos do que nunca


Alguém que afirme que os últimos 100 anos foram os mais pacíficos da humanidade certamente não co-
nhece história. Não sabe dos 55 milhões de mortos da Segunda Guerra Mundial, do extermínio de 6 milhões
de judeus no Holocausto e do brutal desaparecimento, entre 2003 e 2010, de pelo menos 300 mil pessoas na
guerra civil de Darfur, no Sudão. Isso sem falar do terrorismo, que, apenas neste século que se inicia, já ma-
tou milhares nos Estados Unidos, na Europa e em dezenas de países da Ásia e do Oriente Médio. Se isso tudo
parece distante, ainda há a violência urbana: os moradores das grandes metrópoles se sentem crescentemente
assediados por vândalos, assassinos e ladrões. A sensação de que a violência permeia nossa vida (reforçada
pelo fato de que vivemos cercados de policiais ou seguranças) desafia qualquer um a defender o pacifismo,
ainda que relativo, dos últimos 100 anos. O psicólogo canadense Steven Pinker não é tolo nem ignorante,
mas se lançou à tarefa de demonstrar que o mundo nunca foi um lugar tão seguro para viver.
(...)
Para sustentar a tese de que nunca se matou tão pouco na história, Pinker muniu-se de dados que su-
gerem a tendência cada vez mais pacífica da humanidade. Os cálculos, na maior parte das vezes, são em-
prestados de outros especialistas, como do criminologista europeu Manuel Eisner. Pesquisando em arquivos
históricos, Eisner constatou que as taxas de homicídios em países da Europa têm caído século após século.
Na Londres do século XIV, a cada 100 mil habitantes, 50 morriam assassinados. Hoje, a mesma estatística
em Londres é de dois assassinatos por 100 mil. Na Europa como um todo, o número de mortes violentas por
100 mil varia entre um e três.
http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2011/10/mais-bonzinhos-do-que-nunca.html

74 Extensivo Terceirão
Aula 08

Proposta 02
Leia o texto a seguir.

Sírio Possenti afirma, em Os humores da língua (Campinas: Mercado das Letras, 1988. p. 25-26), que
piadas são “um tipo de material altamente interessante” para estudo, porque [1] “praticamente só há piadas
sobre temas que são socialmente controversos” (sexo, política, racismo, crenças, escola, loucura, morte,
desgraças, deficiências físicas, etc.), [2] “piadas operam fortemente com estereótipos” (judeu avarento, por-
tuguês estúpido, gaúcho enrustido, marido traído, esposa infiel, mineiro esperto, loura burra, etc.), [3] “pia-
das são quase sempre veículo de um discurso proibido, subterrâneo, não oficial” (casamentos por interesse,
governos corruptos, professores incompetentes, religiosos sem vocação etc.). Assim sendo, com frequência,
episódios relacionados ao humor causam constrangimento quando vêm a público, via internet, TV, jornais
impressos e outras mídias.

Português 2C 75
(UFES) – Escreva um texto dissertativo-argumentativo, posicionando-se quanto à questão: O humor pode ter total liberdade
ou deve ter limites éticos ou morais? Inclua, em sua argumentação, pelo menos uma piada que possa ser tomada como
exemplo para o ponto de vista desenvolvido.

Proposta 03
A ameaça dos robôs
Robôs se rebelarem contra seres humanos com a finalidade de exterminá-los é tema recorrente em livros
e filmes de ficção científica. O que é novidade, e realidade aterradora, é o fato de engenheiros de robótica de
todo o mundo terem se reunido, na semana passada, na Asilomar Conference Grounds realizada nos EUA,
para discutir os riscos do surgimento de uma verdadeira geração de “robopatas” - máquinas perigosas e a
perda de seu controle pelo homem.
Os cientistas descartam, é claro, a possibilidade de elas adquirirem por si mesmas tal patamar de com-
portamento, porque isso significaria admitir, absurdamente, que robô pode ter livre-arbítrio. Mas o grande

76 Extensivo Terceirão
Aula 08

receio dos pesquisadores, na verdade, é a possibilidade de esses robôs serem manipulados por criminosos
comuns, como já os são pelos governos de alguns países em momentos de guerra.
Seria uma atitude no mínimo reacionária negar a importância de robôs na evolução da humanidade e
na melhoria da qualidade de vida. Desde que saíram dos laboratórios, sobretudo nos EUA e no Japão, as
máquinas de inteligência artificial se espalharam em empresas, bancos, escolas, supermercados, hospitais e
asilos. Esses robôs, nascidos para o bem, são refratários a tentativas de serem pervertidos - não foram pro-
gramados para a agressividade. O problema, no entanto, é que o próprio homem, no poço sem fundo de seu
instinto de criar tecnologias cada vez mais fantásticas, acaba ultrapassando limites. Há cerca de meio século
o matemático I.J.Good já alertava para o perigo daquilo que chamava de “explosão nervosa” da inteligência
artificial. Atualmente, até mesmo um dos maiores entusiastas dessa forma de inteligência, o cientista Tom
Mitchell, da Universidade Carnegie Mellow, revê sua boa fé: “Fui muito otimista”.
(Adaptado de: SGARBI, L. A ameaça dos robôs. Isto É. São Paulo, nº 2073, pp. 80-81, 5 ago. 2009)

(UEL – PR) – Com base na reportagem, elabore um texto dissertativo-argumentativo defendendo o seu ponto de vista a
respeito dos limites da inteligência artificial.

Português 2C 77
Gabarito
08.01. b isso, sua morte precoce foi um alívio a amor, no caso, a dar amor (sentido
08.02. a para os césares. A esse argumento figurado).
08.03. d de Sevcenko se contrapõe outro, b) Desde o título, há um apelo à emo-
08.04. a marcado pela presença do conectivo ção. As duas primeiras frases do texto
08.05. b “porém”, que afirma que a história não continuam com à referência à afetivi-
08.06. c deixa que a voz de Euclides da Cunha dade: “Deixe sua visão para o homem
08.07. b se cale. que nunca viu o amanhecer nos bra-
08.08. a b) O lema “Ordem e Progresso” tem ços de sua amada. Deixe seu coração
08.09. b outro significado para Euclides da para a mulher que vive para fazer o
08.10. d Cunha. Para o autor, ele é uma mis- coração de seu filho feliz”. Como se
08.11. d tificação (republicana) porque a “or- trata de tema delicado, uma vez que,
08.12. d dem” remete à exclusão das camadas em grande parte das situações, en-
08.13. d subalternas da população, e o “pro- volve a morte de alguém, optou-se
08.14. d gresso” está comprometido com o por falar em vida. A vida de alguém
08.15. d legado mais abominável do passado: que se transformará, que ganhará
08.16. b as mazelas deixadas pelo latifúndio, uma nova oportunidade. Fala-se aos
08.17. b pela escravidão e pela exploração sentimentos, busca-se a sensibiliza-
08.18. d predatória da terra e do povo. ção do leitor, doador em potencial.
08.19. a) Para Sevcenko, Euclides da Cunha 08.20. a) Na primeira ocorrência (“Deixe seu Vele lembrar que há também desta-
expôs a mistificação republicana (de coração para a mulher [...]”), “coração” que para a lucidez: “E, principalmente,
uma “ordem” excludente e um “pro- é o órgão (sentido literal); na segunda deixe sua família saber do seu desejo
gresso” comprometido com o legado (“[...] que vive para fazer o coração de de ser um doador de órgãos”.
mais abominável do passado”) e, por seu filho feliz”), “coração” diz respeito

78 Extensivo Terceirão

Você também pode gostar