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ISSN 2446-6123
Introdução
A democratização do acesso à educação superior no Brasil enfrenta o desafio
de reverter o quadro elitista que historicamente atendeu determinada parcela da sociedade
brasileira, por meio de critérios seletivos de exclusão, no qual a educação superior não era
considerada um bem público, com a finalidade precípua de atender indistintamente a todos os
cidadãos, por meio de um projeto democrático, solidário e heterogêneo. Gradativamente
observa-se um novo desenho da política pública de democratização - a universidade tem se
transformado com a presença de jovens oriundos das camadas populares. Com eles são
engendradas novas tarefas e responsabilidades às instituições, decorrentes da necessidade de
lidar com esse novo perfil de ingressantes, que em sua maioria pertencem à primeira geração
das suas famílias a ingressar no ensino superior e, conforme assinalou Coulon (2008), o
estudante ao ingressar na universidade precisa adquirir os status de igual, compreender e
decodificar os códigos inerentes da cultura universitária, daí resulta a sua afiliação ou o
fracasso.
Nesse sentido, os estudos sobre as políticas de permanência e assistência
estudantil se constituem no cenário nacional por representarem as medidas efetivas que
poderão garantir que esses jovens permaneçam nos bancos universitários e tenham êxito
acadêmico.
A partir da aprovação da Lei N.13.005, de 25 de junho de 2014 que aprovou o
Plano Nacional de Educação - PNE, com vigência por 10 (dez) anos, a meta prevista para a
Educação Superior é de elevar a taxa bruta de matrícula para 50% (cinquenta por
cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24
(vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40%
(quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento público. Expandir o acesso e
aumentar a escolaridade da população é desafiador na medida em que requer a articulação
com políticas de permanência, nesse contexto, a Política Nacional de Assistência Estudantil se
constitui num mecanismo imprescindível devido à acentuada disparidade de renda existente
no nosso país.
Esse estudo insere-se na pesquisa nacional vinculada ao Projeto Políticas de
Expansão Educação Superior no Brasil - OBEDUC/CNPq, desenvolvido pela Rede
Universitas/Br que visa analisar a política nacional voltada para acesso e permanência na
educação superior implementadas no contexto das instituições de educação superior, uma vez
que são nesses espaços que a política nacional é materializada. Buscaremos responder a
seguinte questão: As políticas de assistência estudantil que estão sendo implementadas na
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) garantem a permanência?
Os dados utilizados na pesquisa se constituem em informações extraídas do
Censo da Educação Superior (INEP, 2015) e em dados institucionais, obtidos junto aos
próprios setores da UFGD, especificamente: Pró-Reitoria de Assuntos Acadêmicos e
Estudantis (PROAE) e Pró-Reitoria de Avaliação Institucional e Planejamento (PROAP).
Cumpre destacar que os dados do Censo Educacional não contem todas as informações
necessárias para as análises qualitativas que envolvem as iniciativas de permanência
nacionais, bem como não contempla a política institucional.
O referencial teórico-metodológico usado tem por base o construcionismo
contextual de análise de políticas públicas (Palumbo, 1994), que considera que o contexto
histórico-político-social interfere na configuração das políticas, sejam nacionais ou
institucionais. Assim, a análise das políticas deve partir do conjunto de iniciativas e intenções
1
Política é um processo, ou uma série histórica de intenções, ações e comportamentos de muitos
participantes. (Tradução livre).
2
Estamos adotando aqui os princípios de Gomes e Moraes (2012) que ao se pautarem na teoria de Martin
Trow, utilizam como padrão de classificação do sistema educacional o percentual de atendimento da
população de 18 a 24 anos de idade, que seria a faixa etária ideal para a educação superior, estabelecendo três
marcos, a saber: até 14% de pessoas atendidas seria um sistema de educação superior elitizado, de 15% a 30%
seria um sistema de massa e acima de 30% seria um sistema democratizado.
Fonte: Construção própria a partir de dados do Centro da Educação Superior (INEP, 2015)
É possível, ainda, observar que a UFGD se constitui como a principal medida
de expansão, considerando o número de matrículas públicas no estado, quando se compara
com o universo das universidades federais.
Os dados apresentados na Tabela 2 apontam que havia 52 (cinquenta e duas)
universidades federais, em 2005, ano em que a UFGD foi criada. Dessas universidades 12
(doze) apresentavam menos de 3 (três) mil alunos matriculados, o que representa um
percentual de 23,10% do total de universidades. Cabe destacar que entre essas consta a
UFGD.
Em 2014, pode-se notar que o conjunto das universidades federais chegou a 62
(sessenta e duas) instituições. Desse conjunto, 18 (dezoito) universidades, o que representa
29,03% do total existente, apresentaram percentual de crescimento do número de matrículas
superior 50%, ou seja superior à media nacional que foi de 46,51%. E dentre essas está a
UFGD. Pode-se constatar, ainda, a partir dos dados disponibilizados na Tabela 2, que todas as
12 (doze) universidades que em 2005 tinham menos de 3 mil alunos cresceram mais do que
50% em 2015.
Esses dados, mesmo que apresentando apenas as taxas de matrículas, permitem
inferir que a politica nacional de promoção do acesso se efetivou, especialmente em algumas
instituições em que se conseguiu de fato ampliar as taxas de matrículas. Esse fato representa
aumento da inserção da população nas universidades públicas, onde a priori a qualidade da
educação superior seria melhor (SEVERINO, 2009).
Tabela 2 – Matrículas das universidades federais, considerando os anos 2005 e 2014
Nº Instituição 2005 2014 %
01 Universidade Federal de Rondônia 9.795 8.856 -10,60
02 Universidade Federal do Acre 6.981 9.619 27,42
03 Universidade Federal do Amazonas 16.444 29.357 43,99
04 Universidade Federal de Roraima 2.811 5.988 53,05
05 Univ. Federal Rural da Amazônia 1.802 4.355 58,62
06 Universidade Federal do Pará 33.225 35.567 6,58
07 Universidade Federal do Amapá 6.856 7.028 2,45
08 Universidade Federal do Tocantins 8.568 16.530 48,17
09 Universidade Federal do Maranhão 11.220 26.467 57,60
10 Universidade Federal do Piauí 13.256 22.488 41,05
11 Universidade Federal do Ceará 20.070 23.253 13,69
12 Univ. Federal Rural do Semi-Árido 1.018 7.548 86,51
13 Univ. Fed. do Rio Grande do Norte 18.950 25.166 24,70
14 Universidade Federal da Paraíba 15.456 27.847 44,50
15 Univ. Federal de Campina Grande 8.299 15.884 47,75
16 Univ. Fed. Vale do São Francisco 474 5.390 91,20
17 Univ. Federal Rural de Pernambuco 6.100 10.550 42,19
3
A expressão guarani “teko arandu” significa modo sábio de viver.
4
Para consultar histórico completo do curso acessar: < http://www.ufgd.edu.br/faind/licenciatura-
indigena/historico>. Acesso em 1 de fevereiro de 2016.
Municipais de Educação dos municípios do Cone Sul do estado de Mato Grosso do Sul que
possuem populações Guarani (Kaiowá e Ñandeva) e a Secretaria Estadual de Educação do
MS. Essa parceria viabiliza que professores atuantes em salas de aula da educação básica
possam participar do curso, além do diálogo constante que o próprio movimento dos
professores indígenas.
Além dessa iniciativa, a UFGD desenvolve ações voltadas para a
permanência estudantil, por meio de programas específicos, a partir de 2006. Essas ações
estão listadas no Quadro 1, a seguir exposto.
VI - cultura;
VII - esporte;
VIII - creche;
IX - apoio pedagógico; e
X - acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação. (BRASIL, 2010).
[...] nos anos 2000, a preocupação do Estado centra-se ainda na ampliação do acesso
à educação superior e em menor proporção, ao apoio a parcelas específicas de
estudantes da graduação, com vistas à sua permanência e terminalidade, a partir do
pagamento de bolsas e/ou financiamento estudantil
parte das instituições. É importante destacar que muitos desses estudantes pertencem
à primeira geração das suas famílias a ingressar no ensino superior. Vários
estudantes que conseguiram ingressar em uma universidade pública nos anos
recentes viveram dificuldades em termos econômicos e também em termos do
acesso a diferentes oportunidades de inclusão em atividades oferecidas pelas
universidades (HERINGER, 2013, p. 86).
Considerações finais
Referências
w&usg=AFQjCNGyS-km-iIaeALwvsJaPWbz9CIZJA&bvm=bv.95039771,d.b2w>. Acesso
em: 06 jun. 2015.
MEC. Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). Brasília: 2016. Disponível em: <
http://portal.mec.gov.br/pnaes > . Acesso realizado em: 12 mar. 2016.
PALUMBO, Dennis. James. Public policy in America: government in action. 2. ed. Harcourt
Brace & Company, 1994.
RAMOS, Antonio Dari. Antonio Dari Ramos fala sobre o Teko Arandu e a formação de
pessoas. Entrevista concedida à Assessoria de Comunicação Social da Universidade Federal
da Grande Dourados, em 18 de abril de 2011. Dourados: UFGD, 2011. Disponível em: <
http://www.ufgd.edu.br/noticias/entrevista-antonio-dari-ramos-fala-sobre-o-teko-arandu-e-a-
formacao-de-pessoas >. Acesso em: 2 abr. 2016.
REAL, Giselle Cristina Martins; MARQUES, Eugenia Portela Siqueira; OLIVEIRA, Jonas
SILVA, Maria das Graças Martins; VELOSO, Tereza Christina Mertens Aguiar. Acesso nas
políticas de educação superior: dimensões e indicadores em questão. Avaliação, Campinas;
Sorocaba, v. 18, n. 3, p. 727-747, nov. 2013.