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Internacionalização da pós-graduação stricto sensu: uma análise da

meta 14 do Plano Nacional de Educação (2014-2024)

Nadine Alves de Oliveira e Silva (UFRN)


nadine.oliveira.705@ufrn.edu.br

Maria Luíza Shiiki de França Amorim (UFRN)


luiza.shiiki.713@ufrn.edu.br

Fabiana Araújo Nogueira (UFRN)


Fabiaaraujo25@gmail.com

Alda Maria Duarte Araújo Castro (UFRN)


Aldacastro01@hotmail.com

Introdução

O presente trabalho tem por objetivo analisar as contribuições


da meta 14 do Plano Nacional de Educação-PNE-(2014-2024) para a
internacionalização da pós-graduação stricto sensu. Para tanto,
realizamos uma revisão bibliográfica dos principais autores que
discutem esta temática, uma análise documental do PNE (2014-2024)
e coletamos os dados do sistema de informações georreferenciadas
da capes- GeoCapes, referentes as bolsas da capes para o exterior no
período de 2014 a 2020, por ser 2014 o primeiro ano de vigência do
plano.
Este trabalho é fruto parcial do projeto de pesquisa integrado
(UFG/UFG/CNPq) intitulado: “Expansão e qualidade da educação
superior no contexto do Plano Nacional de Educação – PNE 2014-
2024:Transições políticas, novos modos de regulação e perspectivas
de controle social”, na qual as autoras fazem parte da pesquisa.
As discussões acerca da temática da internacionalização são
numerosas, por se tratar de um objeto que não é recente na
educação superior, contudo, na atualidade obtém-se novas
configurações em decorrência das mudanças sociais, políticas e
econômicas, sobretudo relacionadas ao setor produtivo. Ademais,
essa temática está presente em dos principais planos estratégicos do
país, o PNE em vigência, principalmente na meta 14, com estratégias
para a pós-graduação.
A internacionalização é considerada uma das principais formas
de se estabelecer relações entre as instituições de educação superior,
estas, consideradas na atualidade como importante e estratégico
fator para o desenvolvimento econômico global. Para Morosini
(2006), esse fenômeno tem como objetivo a expansão da pesquisa, a
formação do pesquisador e a sua inserção no mercado de trabalho.
A partir desse entendimento, as universidades passaram a
redefinir sua forma de atuação e sentiram a necessidade de se
integrarem ao acelerado processo de internacionalização, tanto no
campo científico quanto no campo tecnológico. Com isso, essa
questão torna-se uma questão de sobrevivência, uma vez que a
demanda desse processo é necessária para que as instituições
estejam em níveis semelhantes de competição.
Contudo, constata-se que no Brasil as políticas de austeridade
têm contribuído para a redução da concessão de bolsas internacionais
com sérios prejuízos a qualidade da pós-graduação brasileira, e ao
sistema de avaliação dos programas de pós-graduação, além de
comprometer o cumprimento da meta 14, no que se refere a
internacionalização.

Desenvolvimento

O atual PNE (2014-2024), foi sancionado em 25 de junho de


2014, na lei de N° 13.005/2014 pela ex-presidente Dilma Rousseff. O
documento possui 20 metas e 233 estratégias com diretrizes que
contemplam as áreas da educação infantil a pós-graduação. O Plano
traz em suas 20 metas e estratégias avanços consideráveis quanto à
ampliação do acesso, permanência e qualidade da educação.
Com a aprovação do PNE (2014-2024), duas metas específicas
foram estabelecidas para a pós-graduação stricto sensu, as metas 13
e 14. A meta 13 trata de “Elevar a qualidade da educação superior e
ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em
efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior para
75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores” e a meta 14
determina “Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-
graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de
60.000 (sessenta mil) mestres e 25.000 (vinte e cinco mil) doutores”.
No que se refere as estratégias da meta 14 relacionadas a
internacionalização, podemos citar:

(Meta 14.9) Consolidar programas, projetos e ações que


objetivem a internacionalização da pesquisa e da pós-
graduação brasileiras, incentivando a atuação em rede e o
fortalecimento de grupos de pesquisa [...].
(Meta 14.10) Promover o intercâmbio científico e tecnológico,
nacional e internacional, entre as instituições de ensino,
pesquisa e extensão [...] (BRASIL, 2014).

Para tanto, a capes tem o papel fundamental no cumprimento


dessas metas, estimulando a integração e a atuação articulada com
as instituições de educação superior e as agências estaduais de
fomento à pesquisa. Para analisar como está o cumprimento dessas
estratégias, por meio do financiamento da capes com bolsas para o
exterior, coletamos os dados do sistema de informações
georreferenciadas da capes- GeoCapes, referentes as bolsas da capes
para o exterior no período de 2014 a 2020. Catalogamos as tabelas a
seguir a partir da distribuição de bolsas no exterior por região:
Europa, América Latina e África, Ásia e Oceania e América do Norte.
A partir das tabelas acima, divididas por região, podemos notar,
que os países que obtiveram mais mobilidade de bolsas ficam
localizados na Europa. São eles: França, Reino Unido, Alemanha,
Espanha e Portugal. É notável a diminuição do número de bolsas no
período 2014-2020. Porém, a partir do ano de 2018, a plataforma
apresenta dados mais alarmantes em relação a diminuição no número
de bolsas. Os anos de 2014 e 2015 foram os que mais obtiveram
fomento a bolsas no exterior. As dimensões que mais foram
fomentadas foram doutorado sanduíche, doutorado pleno e pós-
doutorado, porém também que sofreram bastante retração no
número de bolsas. O foco maior do investimento está no
doutoramento, visto que é o nível de ensino que confere mais
autonomia ao pesquisador e está mais vinculado a pesquisa e
produção do conhecimento.
No que se refere a escolha da região e dos países de destino, a
Europa e América do Norte se destaca em detrimento das demais
regiões. Segundo Castro e Cabral Neto (2012), a preferencias por
essas regiões deve-se ao fato de possuírem países com grande
desenvolvimento industrial, tecnológico, de capitalismo avançado, e
por possuírem as universidades mais renomadas do mundo.
Os dados permitem observar que há uma diminuição
substancial na concessão de bolsas durante o período analisado.
Diversos fatores contribuíram para esse resultado, em especial as
políticas de austeridade fiscal provenientes da Emenda nº 95/2016,
que provocou cortes orçamentários na Capes, levando a extinção de
programas como o Ciência sem Fronteiras, além da pandemia do
Coronavírus. Observa-se, que a categoria que teve um maior
decréscimo foi a de mestrado, na qual o seu quantitativo de bolsas foi
quase exaurido integralmente, seguida pelas categorias de
doutorado, pós-doc e mestrado Sanduíche, que tiveram cortes
substanciais em 2020, de seu quantitativo inicial em 2014.

Conclusões

Considera-se que os sucessivos cortes no número de bolsas


comprometem a política de internacionalização da capes e
cumprimento da meta 14 do PNE concernentes a internacionalização.
Nota-se que o campo da educação na atualidade, encontra-se sob
fortes ataques dos governos conservadores, com cada vez mais
prejuízos para a educação nacional. Além disso, constata-se que no
Brasil as políticas de austeridade têm contribuído para a redução da
concessão de bolsas internacionais com sérios prejuízos a qualidade
da pós-graduação brasileira, e ao sistema de avaliação dos
programas de pós-graduação que tem nesse requisito um dos fatores
mais importantes do estabelecimento do seu conceito avaliativo.
Portanto, os contornos de um agressivo aprofundamento da
austeridade, atuando na supressão da responsabilidade do Estado
enquanto equalizador social, tem expressões latentes no campo da
pós-graduação, com repercussões na expansão e qualidade desse
nível de ensino, na produção do conhecimento e desenvolvimento da
ciência e tecnologia no país.

Referências:
BRASIL. Plano Nacional de Educação - PNE, Lei número 13.005,
20 de junho de 2014.

BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior. GEOCAPES- Sistema de Informações
Georeferenciadas. Disponível em:
<https://geocapes.capes.gov.br/geocapes/>. Acesso em: 6 de set.
de 2022.

CASTRO, Alda Araújo; CABRAL NETO, Antônio. O ensino superior: a


mobilidade estudantil como estratégia de internacionalização
na América Latina. Revista Lusófona de Educação, [s. l], v. 21, p.
69-96, 28 out. 2012. Disponível em:
<https://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/article/view/308
2>. Acesso em: 7 de set. de 2022.

MOROSINI, M. C. Internacionalização da educação superior: um


modelo em construção. Educação Superior em Debate: Modelos
Institucionais de Educação Superior, Brasília – DF, v.7, p. 93 –118,
2006

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