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Resumo
A Universidade de São Paulo adotou em 2016 políticas de ação afirmativa de ingresso a seus
cursos de graduação com vistas a mitigar desigualdades histórias no acesso ao ensino
superior, estabelecendo mecanismo de reserva de vagas para candidatos de segmentos sub-
representados no alunado, do ponto de vista étnico-racial e socioeconômico. A política de
inclusão foi implementada de forma gradual e progressiva nos cursos oferecidos pelas 42
Unidades de Ensino e Pesquisa da instituição. No presente estudo pretende-se avaliar as
mudanças no perfil dos(as) estudantes ingressantes nos cursos de graduação das áreas de
Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Exatas e Tecnológicas e Ciências Humanas e
Sociais da USP, no tocante ao perfil sociodemográfico, formação escolar pré-universitária,
envolvimento em atividade laboral e escolaridade dos pais, comparando-se as coortes de
ingressantes de 2014-2015 (previamente à adoção das políticas afirmativas) às de 2016-
2023 (após adoção das políticas afirmativas). Adicionalmente, será comparado o
desempenho escolar dos ingressantes nas referidas coortes, em relação às variáveis de
interesse mencionadas.
1. Introdução e Justificativa
Sabe-se que existe uma grande desigualdade no acesso democrático à educação superior
no Brasil, especialmente em relação a classes tradicionalmente desfavorecidas, social e
economicamente. Em decorrência de razões históricas, culturais ou de estigmatização, tais
grupos populacionais tiveram sua inserção social prejudicada, incluindo, em especial nesse
contexto, o acesso à educação no âmbito do ensino superior. Grupos étnico-raciais durante
muito tempo foram excluídos e ignorados em relação a sua participação ou contribuição nos
contextos educacionais¹.
De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu Artigo I, “Todos os
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”². Assim, todos os indivíduos
devem ter igualdade de direitos e nenhuma discriminação pode ser feita. Porém,
reconhecendo-se a dificuldade de acesso destes determinados grupos sociais nas
universidades públicas do Brasil¹, a necessidade de promover iniciativas para garantir maior
equidade dos direitos sociais em relação ao acesso às universidades públicas começou a ser
mais debatida, assim como a ampliação de vagas nestas universidades, já que o direito à
educação é assegurado pela Constituição Federal de 1988³, dispondo que a educação é
direito de todos e dever do Estado e da família.
Com esse propósito, vêm sendo implementadas políticas públicas para a promoção de ações
afirmativas, visando promover a inclusão de segmentos populacionais ainda em posição de
sub-representação na sociedade na educação superior, com o intuito de ampliar as taxas de
acesso à essa etapa educacional. A Lei de Cotas no Ensino Superior (Lei nº 12.711/2012)4
determinou a todas as instituições federais de ensino superior (IFES) e de ensino técnico de
nível médio que estabelecessem reserva de 50% das vagas para ingresso de estudantes com
formação pré-universitária em escolas públicas, sendo a metade dessas destinada a pessoas
de baixa renda. Além disso, em 2016, a lei incluiu dispositivo para que as vagas fossem
subdivididas em cotas para candidatos pretos, pardos, indígenas (PPIs) e pessoas com
deficiência, levando em conta o percentual mínimo correspondente ao da soma de PPIs no
estado, conforme o último censo demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) ⁵. Estabeleceu-se, ainda, que a norma fosse implementada gradualmente.
Ademais, o Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005 de 2014)⁶, sancionou a ampliação
das políticas de inclusão na educação superior.
A Universidade de São Paulo (USP) é uma universidade pública, mantida pelo governo do
estado de São Paulo. Foi fundada em 1934 com a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras e sua integração a instituições de ensino superior já em funcionamento no estado a
partir de diferentes datas de fundação, como a Faculdade de Direito (1827), Escola
Politécnica (1893), Faculdade de Farmácia e Odontologia (1898), Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (1901), Faculdade de Medicina (1912), Faculdade de Higiene e
Saúde Pública (1918) e Faculdade de Medicina Veterinária (1919). Atualmente a USP é
reconhecida nacional e internacionalmente pela excelência de seu desempenho acadêmico,
destacando-se em rankings mundiais pela qualidade de ensino e, em especial, por sua
produtividade científica, já que a Universidade é responsável por mais de 20% da produção
científica brasileira. No nível do ensino de graduação a USP oferece cursos abrangendo as
diversas áreas de conhecimento amais de 59 mil alunos, vinculados a 42 unidades de ensino
e pesquisa⁷. Dentre esses, 18 cursos de graduação vinculam-se à Área da Saúde, sendo
ministrados em 18 das 42 unidades de ensino da universidade.
No que tange às políticas de inclusão universitária, inicialmente em 2015, a Universidade de
São Paulo criou o Programa de Inclusão Social (INCLUSP)⁸, mediante o qual se concedeu
bonificação a alunos egressos de escolas públicas nas notas por eles obtidas no exame
vestibular da Fuvest, atribuindo alterações na proporcionalidade dos acertos nas questões.
As categorias foram de bônus de 12% para estudantes que haviam cursado ou estavam
cursando o ensino médio em escolas públicas no Brasil, 15% para estudantes aos que
cursaram os ensinos fundamental e médio integralmente em escolas públicas no Brasil, com
acréscimo de 5% à bonificação caso os candidatos com formação pré-universitária
integralmente cumprida em escolas públicas fossem também autodeclarados PPI (pretos,
pardos e indígenas). Adicionalmente, atribuiu-se acréscimo de 5% à bonificação se esses
estudantes oriundos integralmente de escolas públicas tivessem participado do Programa de
Avaliação Seriada.
A partir de 2016 a USP adotou o Sistema de Seleção Unificada (Sisu)⁹, processo de seleção
informatizado por meio do qual as instituições públicas de ensino superior oferecem vagas
para candidatos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), como
mecanismo alternativo à Fuvest para seleção de ingresso à Universidade. Ao implantar essa
nova modalidade de ingresso à universidade, a USP passou, de forma progressiva, a aderir
às ações afirmativas em vigência no sistema federal de ensino superior, em substituição à
concessão de bônus na nota do seu próprio vestibular. Com isso, 13,5% das vagas nos cursos
de graduação da USP foram destinadas ao SiSU, sendo 70% delas oferecidas a estudantes
que haviam completado integralmente o ensino médio em escola pública (EP), 22% para
ampla concorrência (AC) e 8% para candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas
(PPI). Em 2018, todas as Unidades de Ensino e Pesquisa da USP, incluindo a Escola de
Engenharia de São Carlos, a Faculdade de Medicina e o Instituto de Física aderiram à oferta
de vagas para o SiSU. Nesse mesmo ano, a porcentagem de vagas do SISU em relação ao
total foi de 21,1%, com incremento, portanto, de 57% em relação ao ano anterior, sendo que
49% foram oferecidas a candidatos egressos de escolas públicas, 26% em vagas de ampla
concorrência e 25% para candidatos autodeclarados PPIs⁹. Assim, as matrículas de
ingressantes em 2017 na USP foram de 36,5% candidatos egressos de escolas públicas,
sendo que 32% deles se autodeclararam PPIs.
Finalmente, em 2018, a USP passou a aplicar as ações afirmativas nos dois processos de
seleção para ingresso na Universidade (Fuvest e SiSU)¹º, designando 37% das vagas para
candidatos da Fuvest e igualmente do SiSU a alunos egressos de escolas públicas, com
alocação de vagas a alunos autodeclarados pretos, pardos e indígenas na proporção de
13,7% naquele ano. Sucessivamente, em 2019, essa proporção foi elevada para 40% das
vagas¹¹, em 2020 para 45%, em 2021 a reserva atingiu 50% do total de ingressantes,
cumprindo, por fim, integralmente à Lei das Cotas no Ensino Superior, situação que se
manteve nos anos de 2022 e 2023.
Embora a USP tenha aderido às citadas ações afirmativas, visando ampliar a inclusão de
segmentos populacionais historicamente sub-representados na Universidade de São Paulo,
valorizando a participação integral de diferentes grupos étnico-raciais, classes sociais e
estratos econômicos em seu alunado, o impacto dessas medidas ainda carece de análise
mais detalhada. Com esse intuito, propõe-se no presente estudo descrever as características
sociodemográficas dos alunos ingressantes em cursos de graduação das três áreas de
conhecimento (Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Exatas e Tecnológicas e Ciências
Humanas e Sociais) na Universidade entre 2016 a 2023, comparando-as com às das coortes
de ingressantes nos anos de 2014 e 2015 (previamente à adoção das ações afirmativas), e
avaliar o desempenho acadêmico nos cursos de graduação da USP a que estão vinculados,
relacionando tais dados com os perfis do alunado.
2. Objetivos
- Comparar o desempenho acadêmico dos alunos ingressantes nos cursos das Áreas de
Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Exatas e Tecnológicas e Ciências Humanas e
Sociais da USP entre 2014 e 2023 de acordo com perfil sociodemográfico, formação escolar
pré-universitária, envolvimento em atividade laboral, escolaridade dos pais e coortes de
ingresso (2014-2015 e 2016-2023).
3. Métodos
3.1. Desenho do estudo
Estudo de coorte retrospectiva.
3.2. Procedimentos do estudo
Todos os dados serão extraídos da Base Institucional de Gestão dos cursos de graduação
da USP (Sistema Júpiter) e compilados em Banco de Dados especificamente desenhado
para o presente estudo, empregando-se o software Microsoft Excel 2016.
6. Cronograma
2023 2024
Etapa do projeto
Jun-Jul Ago-Set Out-Dez Jan-Mar Abr-Jun Jul
Redação do projeto X
Coleta de dados X
Análise de dados X X X X
Apresentação de resultados em
X X
eventos acadêmico-científicos
7. Referências
1. Silva TD. Ação afirmativa e população negra na educação superior: acesso e perfil
discente [Internet]. Gov.br. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2569.pdf. [acessado em
2023 Junho 5]
2. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Resolução 217 A III, Paris, art. 1.
[Internet]. Unicef.org. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-
universal-dos-direitos-humanos. www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12711.htm
4. Lei nº 12.711. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições
federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. De 29 Agosto
2012. [Internet]. Gov.br. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12711.htm. [acessado em 2023 Junho 5]
8. Alunos da rede pública podem receber bônus no vestibular da USP. [Internet]. Gov.br.
2009 agosto 04. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/alunos-
da-rede-publica-podem-receber-bonus-no-vestibular-da-usp-1/. [acessado em 2023 Junho
5]