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Niterói
2017
MARIANE BRITO DA COSTA
Niterói
2017
C837 Costa, Mariane Brito da.
Rumo à universidade: percursos biográficos de jovens aprovados para cursos
altamente seletivos da UFF / Mariane Brito da Costa. – 2017.
276 f. : il.
Orientador: Paulo César Rodrigues Carrano.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Educação,
2017.
Bibliografia: f. 221-234.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Prof. Dr.º Paulo César Rodrigues Carrano (Orientador – UFF)
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Marilia Pontes Sposito (USP)
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Mônica Dias Peregrino Ferreira (UNIRIO)
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Hustana Maria Vargas (UFF)
______________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Léa Pinheiro Paixão (UFF)
AGRADECIMENTOS
COSTA, Mariane Brito da. Towards University: Approved Youth Courses for Highly
Selective Courses at UFF. Thesis (Doctorate in Education), Fluminense Federal University,
2017. Orientated by: Paulo C. Rodrigues Carrano.
The aim of this research is to understand young university students training courses path,
based on their experiences in highly selective courses at the Universidade Federal Fluminense
– UFF. The starting point is the assumption that the knowledge of these young people social
reality is a critical for the formulation of most appropriate educational practices for the
students approaching public universities. The present work analyses the biographical
trajectories of young people from different schools and social backgrounds in four highly
selective courses (Social Communication - Advertising, Law, Civil Engineering and
Medicine) admitted at the UFF 2011 and 2012 entrance examination tests. The methodology
is divided in two parts. The first is quantitative and consists of the application of a structured
questionnaire to 411 university students, seeking to trace their socioeconomic-cultural profile
and to identify the internal differences between the courses. The second is qualitative and
consists of an interview of 12 students, between 17 and 29 years old, coursing the fifth and
sixth academic period. With regard to the theoretical framework, the Danilo Martuccelli
concepts pf “existential supports” and “proofs” and the Alberto Melucci and José Machado
Pais “daily life” construct were used. Results demonstrate that school, social and family
conditions contributed to these young people admissions to highly selective UFF courses. In
addition, it was also pointed out that inclusion policies (bonuses, quotas) have gradually
changed the social profile of university students coursing at the four UFF higher selective
courses. The analysis of the biographies evidenced multiple educational paths and meanings
attributed by young to the university. These findings are due to the contexts that led them to
choose the course, the tensions and dilemmas faced in the academic space, the identification
of the supports that contributed to the permanence in the university and the possibility after
the conclusion of the university course.
INTRODUÇÃO 13
1 ITINERÁRIOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS 22
1.1 Reflexões sobre o objeto de e studo 22
1.2 As pesquisas sobre o acesso e a permanência de jovens no ensino s uperior 24
1.3 As abordagens metodológicas da pesquisa 32
1.4 Perspectiva analítica da pesquisa 38
2 EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL 48
2.1 Expansão do e nsino superior no Brasil 52
3 CONTEXTO DA PESQUISA: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 60
3.1 A UFF em Niterói 60
3.2 A UFF e seus processos seletivos 63
3.3 Os cursos altamente seletivos da UFF 65
3.4 O percurso da pesquisa de campo 68
3.5 Critérios de seleção para participação na e ntrevista 75
4 AS APROXIMAÇÕES COM OS SUJEITOS DA PESQUISA 79
4.1 Perfil dos jovens universitários de cursos altamente seletivos 79
4.2 Perfil dos jovens e sua distribuição nos cursos superiores 84
4.2.1 A faixa etária dos jovens universitários 85
4.2.2 O sexo direcionando a escolha da carreira 86
4.2.3 Papel da variável cor/raça na distribuição dos jovens nos cursos investigados 88
4.2.4 O local de moradia dos jovens universitários 90
4.2.5 Influência da renda familiar na escolarização dos jovens 93
4.2.6 Importância do nível de escolaridade dos pais no percurso escolar dos jovens 95
4.2.7 Histórico escolar anterior ao ingresso na universidade 98
4.2.8 Influência da família na escolha do curso superior 100
4.2.9 As experiências dos jovens com viagem para o exterior 102
4.2.10 A preparação dos jovens e as tentativas para aprovação no vestibular/ENEM 104
4.2.11 Significados da universidade para os jovens universitários 106
4.3.2 Pedro: um percurso de vida marcado pela expectativa por ascensão social 128
4.3.4 Melissa – o suporte familiar e sua influência nas possibilidades de escolha 145
4.3.6 Priscila – mobilidade escolar para além de sua posição de origem 159
4.3.7 Matheus – a passagem pela universidade como um fluxo normal da vida 168
4.3.8 Anderson – o enfrentamento da guerra do vestibular 174
4.3.9 Alice – persistência e suportes para alcançar o curso superior almejado 180
4.3.10 Eduardo – um trajeto universitário inesperado 185
4.3.11 Paola – um percurso de sucesso escolar engendrado na persistência 191
4.3.12 Carolina – a tia como suporte para o prolongamento dos estudos 199
5 ANÁLISE DOS PERCURSOS DE JOVENS EM CURSOS ALTAMENTE
205
SELETIVOS
215
CONSIDERAÇÕES FINAIS
221
REFERÊNCIAS
235
APÊNDICES
13
INTRODUÇÃO
1
Considera-se “mobilidade social ascendente” a passagem de um indivíduo ou de um grupo de uma posição
social para outra dentro de uma constelação de grupos e estratos sociais.
2
O termo “percurso” empregado na pesquisa se refere aos aspectos significativos narrados pelos jovens que nos
possibilitam compreender seus processos de formação na universidade.
3
Nesta pesquisa, utiliza-se o termo “trajetórias” para fazer menção às etapas de escolarização (educação infantil
e ensinos fundamental, médio e superior) vivenciadas pelos jovens ao longo da vida escolar.
14
(...) análise das diferenças entre as notas dos candidatos aprovados em cada
curso permite constituir uma hierarquia que indica a existência de um
subgrupo de formações para as quais dirigem-se os candidatos que possuem
um capital escolar mais elevado (ALMEIDA, 1999, p. 51).
4
Disponível em: http://www.uff.br/reuni/. Acesso em 22 de fev. de 2016.
5
A realização desse concurso é atribuição da Coordenação de Seleção Acadêmica (COSEAC), vinculada à Pró-
Reitoria da Graduação (PROGRA D).
15
6
No ano de 2012, a UFF concedia um bônus de 20% na nota final da prova aos candidatos que concluíram todo
o ensino médio em escolas públicas estaduais ou municipais, excluindo colégios federais, universitá rios,
militares e de aplicação, desde que solicitado no ato da inscrição.
7
No concurso vestibular do ano de 2012, 7.662 vagas foram destinadas ao vestibular tradicional e 1.850 ao
Sistema de Seleção Unificada (SISU/MEC). A partir do vestibular do ano de 2013, vigorou, apenas nas
instituições de ensino superior público, o sistema de seleção unificada (SISU/MEC), extinguindo o vestibular
tradicional.
8
No concurso vestibular do ano de 2012, 7.662 vagas foram destinadas ao vestibular tradicional e 1.850 ao
Sistema de Seleção Unificada (SISU/MEC). A partir do vestibular do ano de 2013, vigorou, apenas nas
instituições de ensino superior público, o sistema de seleção unificada (SISU/MEC), extinguindo o vestibular
tradicional.
9
Cabe ressaltar que, no concurso vestibular de 2011, a UFF também adotou a política de ação afirmativa e de
inclusão, instituindo a bonificação de 10% atribuída à nota final dos candidatos que tivessem cursado todo o
ensino médio em estabelecimento da rede pública estadual ou municipal. Neste concurso, 1.541 das vagas foram
reservadas para o Sistema de Seleção Unificada (SISU) e 6.281 pelo vestibular tradicional da UFF.
16
Portes (2001) identifica como “cursos altamente seletivos” aqueles que se situam no
topo da hierarquia dos cursos universitários. Da mesma forma, carreiras como Medicina,
Direito e Engenharia são denominadas, em estudos sociológicos, como “profissões imperiais”
17
(COELHO, 1999), por terem, ao longo dos anos, produzido “práticas monopolísticas que
reforçaram suas posições de prestígio e estabeleceram barreiras frente às demais profissões”
(VARGAS, 2010, p. 107).
Todavia, Portes (2001) admite um significativo avanço no que se refere ao acesso de
jovens filhos de trabalhadores de baixa renda à universidade brasileira, principalmente, a
cursos considerados de menor prestígio social10 . Uma vez que o mesmo não se observa com
relação ao ingresso de estudantes em carreiras tradicionais como Direito, Engenharia Elétrica,
Engenharia Química, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia, ou as mais recentes,
como Ciências da Computação, Comunicação Social e Fisioterapia, já que “a entrada nessas
carreiras parece ser restrita àqueles que possuem um volume mais significativo de capital
escolar e cultural” (PORTES, 2001, p. 10-11).
A noção de estratificação que orientou este estudo não está referenciada apenas nas
questões objetivas cujos indivíduos são concebidos a partir de status social similar, mas
considera também os diferentes modos de vida dos jovens e suas particularidades nos
enfrentamentos das provas encontradas no cotidiano para garantia da consecução de seus
planos objetivos e subjetivos (MARTUCCELLI, 2007). Portanto, torna-se relevante examinar
as condições sociais dos jovens a partir de indicadores tais como grau de instrução de mães e
pais, renda familiar, cor da pele, sexo, trajetória de escolarização etc.
Os estudos clássicos da Sociologia da Educação que empregam o termo “classe social”
se configuraram em torno da construção de disposições ligadas ao conceito de habitus11 de
Bourdieu (1983), para quem a posição de classe e a socialização familiar e escolar transmitem
aos indivíduos valores, normas e regras que representam um conjunto de capitais que os
predispõem a determinados resultados escolares. Assim, os indivíduos oriundos de famílias
com maior capital cultural estariam mais predispostos ao sucesso escolar:
Elas [as famílias] investem tanto mais na educação escolar quanto mais
importante for seu capital cultural e quanto maior for o peso relativo de seu
capital cultural em relação ao capital econômico e, também, quanto menos
eficazes forem as outras estratégias de reprodução (particularmente as
estratégias de herança que visam à transmissão direta do capital econômico)
ou relativamente menos rentáveis (BOURDIEU, 1996, p. 211).
10
Para Portes (2001), os cursos em que houve avanço no que se refere ao acesso de filhos de trabalhadores de
baixa renda são: Biblioteconomia, Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Enfermagem, En genharia de Minas,
Física, Geografia, Geologia, História, Letras, Matemática, Pedagogia, Química e Terapia Ocupacional, entre
outros.
11
O conceito de habitus é definido por Bourdieu (1983, p. 65) como “um sistema de disposições duráveis e
transponíveis, que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de
percepções, de apreciações e de ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas,
graças às transferências analógicas de esquemas [...]”.
18
No entanto, nos últimos anos, diversos pesquisadores – tais como Portes (1993), Viana
(1998) e Zago (2006) – têm demonstrado as constantes exceções de estudantes provenientes
de famílias com baixo capital cultural que obtiveram êxito escolar. Cada vez mais é possível
encontrar jovens que fogem à regra no percurso de suas trajetórias, por meio de adoção de
estratégias que possibilitam a superação de obstáculos socialmente construídos na conquista
da longevidade escolar.
A multiplicidade de situações vividas por esses jovens se fundamenta na
complexidade sociológica entendida por Velho (2003, p. 78-79) como “coexistência de
diferentes estilos de vida e visões de mundo”:
Para Martuccelli (2007), os estados sociais são muitos diversos e, portanto, não podem
ser reduzidos à teoria da estrutura posicional, tornando-se necessário construir uma análise
empírica destinada a compreender as possíveis experiências dos indivíduos e suas maneiras de
forjar (ou não) protegidos espaços sociais:
12
O campo de possibilidades refere-se a um contexto sociocultural, um lugar em que se realiza escolha e
configura a construção e a execução de projetos. Trata-se do que é dado como alternativa construída no
processo sócio-histórico e com o potencial interpretativo do mundo simbólico da cultura (VELHO, 2003).
19
Sposito (2010, p. 100), por sua vez, destaca que as práticas cotidianas e as
experiências juvenis constituem um território pouco explorado no campo de estudos sobre a
juventude:
Trata-se, na verdade, de um desafio teórico-metodológico importante, pois
demanda o mergulho em uma tradição de investigações centradas em torno
da vida cotidiana ainda desconhecida por grande parte dos pesquisadores
sobre juventude no Brasil.
percursos de vida dos jovens. Por fim, apresento as conclusões sobre as questões elencadas ao
longo deste estudo e a apresentação dos resultados obtidos nesta pesquisa.
22
Numa, elabora suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabelece seus
resultados; noutra, inventa, ratifica seu caminho, abandona certas vias e
encaminha-se para certas direções privilegiadas (MINAYO, 1994, p. 12).
Construir uma questão de pesquisa requer que se estabeleça uma relação entre os
aportes teóricos e metodológicos dos diversos campos e áreas de conhecimento e a
compreensão das diversas situações que a vida em sociedade impõe a esses métodos. Desse
modo, torna-se necessário conhecer a realidade a ser investigada e superar as pré-noções
lançadas ao pesquisador sobre o problema social estudado.
A investigação inicia por um problema ou com uma questão, partindo das escolhas
feitas pelo pesquisador sobre as dimensões sociais que pretende analisar. Cada pesquisador
estabelece um recorte específico da realidade, a partir de interesses e inquietações que movem
seu olhar para determinado artefato social. Isso significa que não há neutralidade sobre os
rumos da escolha do método ou teoria empregada na pesquisa.
A escolha por determinada questão gerativa de estudo tem forte relação com as
inclinações do pesquisador e com o seu interesse pelo objeto a ser investigado. Logo, um dos
grandes desafios é a necessidade de se ter certo conhecimento sobre o campo de estudo para
que o trabalho seja conduzido com segurança e favoreça novas reflexões.
Velho (2004, p. 67) destaca sobre a relevância da escolha dos referenciais teóricos e
metodológicos na pesquisa, a fim de que eles sejam contemplados como ponto de partida para
a entrada no campo investigativo. Mas, para o autor, “por mais sofisticada que seja a teoria de
que se parta, por mais entusiasmo que tenha por seu aparente poder explicativo”, caso não
haja uma ligação com o procedimento metodológico, toma-se “ao risco da precipitação e da
superficialidade intelectuais”.
É nesse âmbito de produção de pesquisa científica que esta proposta de estudo se
desenvolveu, vinculando-se a questões de ordem epistemológica, teórica e metodológica que
visam a fundamentar questionamentos assentados em um processo de objetivação da realidade
e a conhecer e interpretar as nuances que a dinâmica social produz sobre os indivíduos.
Empregou-se uma perspectiva de estudo que privilegia os percursos dos jovens universitários
em detrimento da dimensão institucional ou política, não deixando de reconhecer que esta
última perpassa pelo objeto de estudo em questão.
Por sua vez, Sposito (2009, p. 18) destaca que se faz necessário delimitar os estudos
sobre os jovens como parte do campo acadêmico e coloca o desafio que consiste no
distanciamento dos estereótipos sobre a juventude impostos na sociedade contemporânea para
muitos pesquisadores no campo da educação. Para a autora, este necessário distanciamento
24
acontece “de modo que o objeto possa sofrer um esforço claro de construção científica e,
assim, alcançar alguma legitimidade teórica”, como sendo uma das condições para a
objetivação da realidade.
Entende-se que esse distanciamento do pesquisador contribui para a análise, de forma
a favorecer a captura de pistas e elementos imersos no cotidiano que tendem a passar
despercebidos na estrutura social. Da mesma maneira, contribui para a superação de práticas
nas quais estão implicados posicionamentos político-ideológicos que dificultam a
compreensão dos dados coletados na investigação.
13
Para o levantamento dos trabalhos acadêmicos e dos periódicos nacionais disponíveis na internet foram
utilizadas como referência as seguintes palavras-chave: trajetórias no ensino superior, acesso e permanência no
ensino superior, estudantes universitários .
25
Souza e Silva (1999), em sua tese de doutorado, teve como objetivo fundamental
estudar trajetórias escolares bem-sucedidas percorridas por jovens das comunidades da Maré
– um dos maiores complexos de favelas da cidade do Rio de Janeiro. O autor investigou as
razões que levaram jovens com características similares (socioeconômicas e culturais) a
ingressarem na universidade, a partir de mapeamento e interpretação das suas experiências.
Em seu processo de análise, o autor se apropriou dos conceitos de habitus, campo, e
das noções de estratégias e trajetória de Pierre Bourdieu, de modo a enfatizar que a
permanência na escola está associada a variáveis estruturais e a estratégias elaboradas pelos
indivíduos em detrimento de seus interesses.
Em sua pesquisa, os que eram inclinados ao abandono escolar estavam inseridos em
redes sociais que não valorizavam as estratégias de escolarização como meio de conservação
ou de mudança da posição social. Duas estratégias foram identificadas entre os pais dos
sujeitos da pesquisa sobre o processo de escolarização: (i) a escolarização representa uma
oportunidade para melhorar a posição social e reescrever o futuro; (ii) a escola se configura
como algo inexorável, ou seja, um sentimento de obrigação familiar inquestionável de
conduzir as crianças à escola. Outro aspecto importante sobre a permanência do aluno na
escola é que o conhecimento cognitivo não é o elemento mais expressivo – haveria outros,
como a sua posição nos campos escolar e familiar.
Maria da Graça Setton (2005) se dedicou a investigar a trajetória de estudantes de
origem popular que ingressaram em cursos considerados de elite 14 da Universidade de São
Paulo (USP). Seu objetivo foi analisar alguns aspectos das trajetórias pessoais e familiares de
alunos que obtiveram sucesso acadêmico. Para o desenvolvimento desse estudo qualitativo, a
autora entrevistou dez jovens e algumas mães com baixa escolaridade provenientes de lares
com baixos rendimentos econômicos, com a intenção de identificar a articulação das
estratégias educativas postas em prática pela família e pelo aluno. A formação escolar desses
jovens era bem heterogênea: a maior parte já tivera experiência no ensino superior ou passara
alguns anos em cursinhos preparatórios para vestibular. Os relatos destas experiências
levaram a autora à conclusão de que suas trajetórias não foram vividas sem dificuldades.
Analisando a relação familiar, a autora identificou que (i) a figura materna aparece em
constante diálogo com os filhos, (ii) existem formas de investimento pedagógico familiar e
(iii) a presença paterna é pouco mencionada pelos alunos. Como quarta conclusão, a
14
A autora classificou como cursos de elite: Administração, Arquitetura, Editoração, Relações Públicas, Direito,
Rádio/TV.
26
Maria Alice Nogueira (2000) nos apresenta uma pesquisa realizada com um grupo de
trinta e sete estudantes ou recém-formados em cursos oferecidos pela UFMG. A autora
selecionou um estudante de cada curso ofertado pela instituição, a fim de evitar a valorização
de um curso em detrimento de outro. Outro critério da pesquisa foi ter como pais professores
do ensino superior. Com o estudo, Nogueira “visa conhecer os itinerários escolares
percorridos por esses jovens até o momento da entrevista, e as estratégias postas em prática
pelas famílias e por eles próprios no decorrer dessas escolaridades”. A autora partiu do
pressuposto de que as formas de atuação do capital cultural da família possibilitavam aos
filhos melhores oportunidades escolares (2000, p. 127).
A autora analisou práticas e trajetórias escolares dos estudantes a partir das seguintes
questões: fluxo das trajetórias escolares; redes de ensino e estabelecimentos frequentados;
preparo e realização do vestibular; vida universitária; estudos no exterior. No que se refere ao
fluxo das trajetórias escolares, Nogueira identificou que há linearidade, ou seja, os percursos
escolares foram realizados sem reprovações, fazendo com que a transição para o ensino
superior fosse algo natural na vida dos indivíduos entrevistados.
Quanto às redes de ensino e aos estabelecimentos frequentados pelos jovens, a autora
verificou que, “no caso das famílias das camadas médias intelectualizadas, foi possível
perceber sua capacidade de tirar proveito das oportunidades, triunfos e recursos disponíveis –
em cada conjuntura particular do campo escolar – em favor do destino escolar dos filhos”
(NOGUEIRA, 2000, p. 150).
Em reconhecido estudo sobre a presença de estudantes de origem popular na
universidade, Zago (2006) trata da problemática das desigualdades educacionais. Os
resultados se apoiaram em uma pesquisa de natureza qualiquantitativa, a partir de dados sobre
candidatos ao vestibular e de entrevistas com indivíduos oriundos de escola pública, tendo
como eixo as questões de desigualdade de acesso e permanência no ensino superior.
Segundo Zago, os estudantes entrevistados não veem seu ingresso no ensino superior
como uma etapa natural, “mesmo porque parte significativa deles, até o ensino fundamental e,
em muitos casos, ainda no ensino médio, possuía um baixo grau de informação sobre o
vestibular e a formação universitária” (2006, p. 230). Neste contexto, o processo de escolha
do curso superior está relacionado à realidade social e não se reduz a questões de interesses e
preferências pessoais. Há um conjunto de fatores de ordem econômica, social e cultural que
influenciaram essa escolha:
29
às tomadas de decisão dos filhos. Não obstante, ela incentiva e estimula o prolongamento dos
estudos dos filhos no ensino superior, por meio de apoio material, simbólico e afetivo.
Em seu reconhecido estudo sobre longevidade escolar em famílias de camadas
populares, Viana (1998) investiga a permanência de estudantes oriundos dessas famílias no
sistema escolar até o ensino superior, de modo a compreender os fatores que possibilitaram
essa escolarização prolongada. Participaram da pesquisa sete estudantes (de ambos os sexos)
que cursavam graduação e pós-graduação, escolhidos entre “famílias com baixo nível de
escolaridade, com dificuldades econômicas, ainda que em níveis diferenciados, e cujos pais
exerciam no momento da pesquisa, ou exerceram no passado, ocupações predominantemente
manuais” (VIANA, 1998, p. 5).
A autora identificou que os estudantes e suas respectivas famílias não possuíam um
projeto organizado e consciente sobre uma trajetória prolongada até o ensino superior. Este
foi se construindo aos poucos, partindo das chances e oportunidades encontradas ao longo da
trajetória de vida dos jovens:
Dessa forma, a autora concluiu que é possível ocorrer longevidade escolar nas
camadas populares, mesmo na ausência de investimentos familiares.
Compartilhando dessa problemática, Souza (2009) analisou a presença de estudantes
das camadas populares nos cursos mais seletivos da Universidade Federal do Acre (UFAC),
neste caso, nos cursos de Direito e Medicina. A autora utilizou como procedimento
quantitativo a base de dados dos estudantes que ingressaram em 2008 e, no que se refere ao
procedimento de natureza qualitativa, realizou vinte e três entrevistas com sete estudantes e
dessezeis outras pessoas que, de algum modo, participaram da trajetória escolar desses
indivíduos. A pesquisa se referenciou no conceito de habitus de Pierre Bourdieu e no de
disposições de Bernard Lahire, bem como na noção de configuração social de Norbert Elias e
em autores brasileiros que estudam os casos escolares que sobrepujam as probabilidades
estatísticas.
Quanto aos critérios de seleção para a etapa de entrevista, os indivíduos deveriam ser
de origem popular, ter nascido no Acre e admitidos nos cursos de Direito e de Medicina da
31
UFAC no ano de 2008. Desse processo analítico, cinco estudantes de Direito foram
escolhidos por estarem situados nesse perfil, enquanto no curso de Medicina nenhum dos
admitidos em 2008 preencheu todos os critérios definidos, levando a pesquisadora a
entrevistar apenas dois estudantes de Medicina indicados pelo setor acadêmico da instituição,
professores e estudantes do curso.
O estudo de Souza (2009) demonstrou que, embora o número de estudantes
provenientes de camadas populares acreanas na universidade seja maior, representando 60%
das vagas do Campus de Rio Branco, eles estão em cursos que não interessam a estudantes
oriundos de camadas sociais mais favorecidas. Notou-se que a presença de estudantes das
camadas populares nos dois cursos de maior prestígio (Medicina e Direito) da universidade é
muito reduzida, sendo um indício de hierarquização desses cursos no campo acadêmico. Já a
análise dos dados qualitativos identificou que as trajetórias escolares “foram construídas a
partir de forte mobilização dos estudantes e de algumas famílias e, em alguns casos, de
referências sociais externas ao núcleo familiar, com grande visibilidade, neste caso, para
professores e pessoas vinculadas ao universo escolar” (SOUZA, 2009, p. 188).
A partir da análise dos trabalhos apresentados acima, percebe-se que apesar deles
tratarem direto ou indiretamente sobre a problemática das desigualdades sociais e
educacionais que perpassa tanto pela educação básica quanto pelo ensino superior, eles se
diferenciam por privilegiarem um recorte específico da realidade ou elementos de análise. No
que se refere às metodologias, a direção empreendida se volta especialmente para o método
qualitativo, principalmente através de entrevistas. Poucos estudos se apropriam de estatísticas
e dados quantitativos.
Observa-se que a maior parte dos estudos destacados neste capítulo se insere no
campo da Sociologia da Educação, sobretudo na relação família-escola, a partir de caminhos
teóricos e metodológicos muito próximos, tendo como principais precursores Pierre Bourdieu
e Bernard Lahire, que trazem contribuições importantes para as pesquisas brasileiras.
Com efeito, tais estudos apontam avanços e lacunas no que se refere às investigações
sobre o acesso e permanência no ensino superior, convocando-nos a reformular e elaborar
novas referências empírico-teóricas que ampliem o conhecimento sobre o tema. Além disso,
foi possível identificar a necessidade de investigar os percursos dos jovens universitários com
perfis diversificados de escolarização, objetivando tanto os grupos economicamente
privilegiados como aqueles advindos de camadas populares.
A partir desse desafio, a direção empreendida nesta pesquisa se voltou para a
abordagem quantitativa, objetivando traçar o perfil dos jovens universitários e os cruzamentos
32
o autor, “estas correntes já se diferenciam segundo a vida que levam em conta: global,
singular, plural, educativa, formativa, profissional, etc” (p. 339).
Esse tipo de abordagem abrange práticas diversificadas que apresentam pontos
convergentes – pois se inscrevem no mesmo campo metodológico – e divergentes – por não
apresentarem práticas homogêneas na reconstrução das narrativas de um ou vários indivíduos.
Para Takeuti e Niewiadomski (2009, p. 15):
tradição etnográfica nas suas técnicas de observação, mas que constrói seus objetos pela
referência a problemáticas sociológicas” (BERTAUX, 2010, p. 23). Tal perspectiva concentra
o estudo em uma ou mais “categoria de situação”, nas quais os indivíduos estão envolvidos no
mesmo contexto social. Trata-se de um
Os relatos de vida, assim como outras metodologias qualitativas que se apropriam das
narrativas como fonte de dados empíricos, nem sempre são reconhecidos no campo científico
como dados fidedignos de pesquisa. A falta de provas de que os fatos narrados são realmente
autênticos tem levado muitos cientistas sociais a enfrentarem a desconfiança daqueles que
defendem os estudos quantitativos. Em contrapartida, Bertaux (2005, p. 24) questiona a
veracidade dos critérios de metodologia elaborados para a pesquisa quantitativa:
Por último, a função expressiva se refere à redação dos relatos de vida coletados.
Bertaux (2009) destaca duas formas possíveis: (i) utilizar-se de uma ilustração ou de um
exemplo extraído do relato; porém, esse fragmento não deverá ser considerado como uma
prova que vise a dar legitimidade ao texto, mas uma maneira de ilustrar a realidade; (ii)
basear-se na “totalidade das observações” para descrever o máximo os relatos recolhidos,
visando à totalidade dos fatos.
37
Somente a partir dos anos de 1990 é que esses estudos experimentam uma expansão
significativa, através de inúmeros programas e pesquisas que empregam tais procedimentos
metodológicos. Essa impulsão contribuiu para o aumento do interesse no campo acadêmico
brasileiro pela abordagem biográfica, fomentando diferentes práticas de pesquisa.
Cabe enfatizar que o discurso narrativo utilizado na abordagem biográfica se assenta
nos princípios dos trabalhos com a oralidade. Nesse contexto, Thompson (1992) destaca a
importância do uso da oralidade como fonte investigativa para resgate da memória, diante da
capacidade do ser humano em rememorar o passado enquanto testemunha viva no presente.
Por meio da memória, tem-se uma visão dos acontecimentos do passado de forma organizada
ou não das situações vividas na trajetória. Ela favorece a conscientização das fontes do
passado por meio de uma relação com as situações presentes no dia a dia, que também
possibilitará compreender as projeções frente ao futuro.
Sobre a memória coletiva, o sociólogo Maurice Halbwachs (2004) afirma que ela não
é neutra; existem diferentes alusões que organizam a memória e que introduzem o nosso lugar
de pertencimento. Isso quer dizer que a memória coletiva não se resume às recordações de um
indivíduo, mas de um indivíduo inserido em um contexto social, em que suas recordações são
atravessadas consequentemente pelo coletivo. Para esse autor, toda memória é coletiva e está
longe de ser contemplada como imposição, dominação ou violência simbólica – a atividade,
exercida pela memória, de reforçar a coesão social acontece por adesão afetiva ao grupo,
formando o que ele denomina “comunidade afetiva”.
Halbwachs (2004, p. 12) adverte que, além do processo de seletividade constituído na
memória, revigora-se também um processo de negociação para relacionar a memória coletiva
e individual:
Para que nossa memória se beneficie da dos outros, não basta que eles
tragam os seus testemunhos: é preciso também que ela não tenha deixado de
concordar com suas memórias e que haja suficientes pontos de contato entre
ela e as outras para que a lembrança que os outros nos trazem possa ser
reconstruídas sobre uma base comum.
38
possível compreender as diversas situações que levam os jovens a tal escolha e a conhecer
distintas experiências vivenciadas na vida universitária.
Nesta pespectiva empírico-analítica, os jovens são atores-chave concebidos não
apenas como uma fase cronológica da vida, mas como uma categoria social e historicamente
produzida, capaz de revelar uma pluralidade de modos de se viver a juventude, a partir de
suas características familiares, culturais, sexuais, raciais e sociais. Hoje, são muitas as
possibilidades de combinações e formas de viver a condição juvenil, ultrapassando uma visão
que encadeia uma vida linear, homogênea e objetiva, para um olhar “pós-linear15 ”, que
envolve uma pluralidade de percursos que podem ser percorridos pelos jovens universitários.
Sobre essa questão, Pais (2001, p. 58) utiliza a metáfora da trajetória ioiô para
enfatizar as idas e vindas dos jovens nas estruturas sociais em função das escolhas individuais
que já não coincidem necessariamente com os padrões e orientações das instituições do
mundo adulto, notadamente a família. Isto significa dizer que, no cenário de grandes
mudanças societárias, os jovens possuem um campo maior de autonomia que já não são mais
impostos como herança institicional. O conhecimento acumulado e transmitido entre gerações
se encontra diluído, o que impõe uma nova dinâmica nas formas de sociabilidade, de modo a
levar os jovens a construir os seus próprios acervos e repertórios culturais.
As passagens entre o tempo da juventude e vida adulta se encontram cada vez mais
diversificadas, sem marcadores precisos que delimitem o modo como o juvenil é conceituado
ou representado. Os jovens não dispõem, hoje, de uma única via de transição para a vida
adulta, mas de uma grande diversidade de caminhos “culturalmente certos” que lhes é dado a
possibilidade de escolher. Entretanto, tais escolhas são fortemente influenciadas por
condições e disposições estipuladas pelo meio social em que vivem.
15
Termo empregado por Pais (2001).
40
E em outros casos, como dos jovens de famílias de baixa renda, o trabalho é primordial para a
subsistência do agregado familiar, ocorrendo muitas vezes a interrupção dos estudos ou a sua
combinação com o trabalho.
A existência de uma espécie de moratória nos percursos estabelecidos durante a
juventude – período no qual se subentende que algumas responsabilidades com o trabalho
estão suspensas e que há maior dedicação ao estudo e ao lazer – nos permite apreender as
diferenças existentes dentro dos grupos e das classes sociais através da identificação da
distribuição desigual do uso da condição juvenil no plano simbólico. Esse tempo de liberação
das pressões do mundo do trabalho não é uma realidade comum e tangível a todos os jovens,
ela varia conforme a posição e o contexto social no qual ele está inserido.
impossibilidade de ver a totalidade, uma vez que a apropriação dos detalhes pode contribuir
para revelar a estrutura social de forma a restabelecer o todo através das partes, pois,
frequentemente, um acaba por influenciar o outro. De acordo com Pais (2003, p. 32), “a alma
da sociologia da vida quotidiana está no modo como se cerca desses fatos ditos cotidianos – o
modo como os interroga e os revela”.
Ao abordar os “paradigmas sociológicos da vida cotidiana”, Pais (2003, p.75) aponta
duas considerações prévias sobre a forma de conceber o cotidiano. A primeira esclarece que a
perspectiva “macroscópica do social” não absorve “todos os pequenos jogos sociais que
constituem a trama do social”. Assim, torna-se necessário acionar paradigmas sociológicos
que permitam entrelaçar as visões micro – e macro – na análise sociológica. A segunda se
volta para as correntes sociológicas em que as análises são microscópicas ou de pequena
escala. É nessa margem que a sociologia da vida cotidiana se assenta, “situada numa zona
intermédia entre perspectivas e as hipóteses mais detalhistas da investigação e as especulações
e teorizações mais integrantes e globalizantes” (PAIS, 2003, p.76).
Nesse contexto, o grande desafio da sociologia da vida cotidiana se fundamenta nos
pequenos “nadas da vida” (PAIS, 2003, p. 82-83), que consistem em
Martuccelli (2007) nos convida a realizar uma análise baseada nas singularidades
constituídas nas biografias e a pensar na realidade social a partir de suas temporalidades e
espacialidades, com o intuito de compreender as diversas provas que os indivíduos enfrentam
no mundo contemporâneo. O conceito de prova é utilizado por este autor como desafios
históricos, sociais e culturais que os indivíduos são obrigados a defrontar no interior de um
processo estrutural de individuação.
Nesse sentido, as provas constituem um operador analítico que nos permite perceber
as diferentes respostas dadas subjetivamente pelos indivíduos na sua relação com a estrutura
social à qual pertence. Para Martuccelli (2007), os indivíduos não são concebidos apenas
pelas circunstâncias, mas sim, pelo resultado da combinação entre a natureza estrutural das
provas e a maneira como eles percebem e enfrentam os desafios da vida.
Para o autor, a noção de provas pressupõe quatro características. A primeira se refere a
situações difíceis e dolorosas que os indivíduos enfrentam em seus percursos, de modo a
produzir diferentes discernimentos a cerca dos processos vividos. A segunda característica se
47
relaciona com a singularidade dos indivíduos, que condiz com a capacidade que o ser humano
possui de produzir diferentes respostas a uma prova, mesmo em casos traumáticos. A terceira
característica envolve a obtenção de sucesso ou falha, já que, de acordo com o
confrontamento com os obstáculos, o resultado pode produzir diferentes consequências. Já a
quarta se relaciona com o conjunto de desafios estruturais, formais e informais que o
indivíduo lida na sociedade. Neste sentido, em cada estrutura social existe um conjunto de
provas mais ou menos pré-determinado.
Neste contexto, a noção de suportes existenciais também tem uma dimensão
privilegiada pelo autor por entender que, para lidar com as provas, os indivíduos se apropriam
de um conjunto de suportes que lhes estão disponíveis. Esses apoios se relacionam em torno
das redes e apoios materiais, simbólicos ou afetivos que interferem em maior ou menor grau
sobre as experiências dos indivíduos.
Retomando a tese de Martuccelli (2004), os indivíduos não são capazes de se
sustentarem sozinhos no mundo, o que torna um mito pensá-lo como soberano e absoluto. É
neste cenário que os suportes são contemplados como um conjunto de diferentes elementos
reais ou imaginários dos quais os indivíduos se apropriam para se construir face aos desafios
do mundo.
Os conceitos apresentados acima foram explorados neste estudo e usados para
construir as bases teóricas que apoiaram a análise empírica dos percursos dos jovens
aprovados para cursos altamente seletivos da UFF. O objetivo foi entrelaçar os interlocutores
teóricos e empíricos sem, entretanto, distanciar-se do contexto social investigado.
48
Todavia, o que dispõe esse artigo não tem sido concedido de maneira igualitária,
principalmente, àqueles oriundos de camadas populares, que encontram maior dificuldade no
acesso ao ensino superior. Essa situação ressalta uma realidade social marcada por profundas
desigualdades de inserção e integração social.
A gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais também é consagrada
como princípio constitucional nos termos do artigo 206, inciso IV da Constituição Federal
(BRASIL, 1988). Tal princípio, intimamente ligado à democratização do acesso à educação, é
fruto do trabalho do Fórum da Educação na Constituinte, que apresentou emendas populares à
Assembleia Constituinte em defesa do ensino público e gratuito em todos os níveis. Segundo
Amaral (2003, p. 108), a gratuidade assegurada por lei conduz ao entendimento de que a
“educação superior é um bem público e que, portanto, os recursos públicos deveriam ser
gastos até o limite da riqueza nacional, de modo a atender ao maior número possível de
jovens”. As garantias dessa gratuidade estão contidas no artigo 213 (BRASIL, 1988), o qual
faz menção, no parágrafo 2, que as atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão
receber apoio financeiro do poder público.
49
A Lei nº 9394/96 (BRASIL, 1996) assegura, em seu artigo 16, que o sistema federal
de ensino compreende:
Outro marco histórico de grande valia para a Educação Superior foi a aprovação do
Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado em 09 de janeiro de 2001 pela Presidência da
República, para vigorar até 2010. Este programa une os governos federal, estadual e
municipal em um conjunto de metas e estratégias em prol da educação nacional. No que se
refere mais especificamente ao ensino superior, tal PNE previa, dentre outros objetivos
gerais16 :
a) prover, até o final da década, a oferta de educação superior para, pelo menos, 30%
da faixa etária de 18 a 24 anos.
16
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm. Acesso em: 22 fev. 2016.
52
Com base nos indicadores da educação superior produzidos pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO), Pinto (2004) analisa a situação do acesso à educação superior
53
no Brasil nos últimos 40 anos e expressa com clareza que a implantação desse nível de ensino
no Brasil se deu com bastante atraso, tendo em vista que as primeiras universidades da
América se ergueram ainda no século XVI, enquanto que no Brasil a primeira instituição de
nível superior foi fundada somente no século XX. Para o autor, esse atraso em relação aos
vizinhos latino-americanos, juntamente com o longo processo de escravidão que se
configurou no Brasil, constituem elementos que acentuam, em parte, as desigualdades entre o
Brasil e os demais países:
Constata-se, assim, que as políticas educacionais instituídas nas últimas décadas para
expansão do ensino superior se assentam no setor privado. O que aconteceu, principalmente,
com a Reforma Universitária de 1968 (Lei n. 5.540/68) e a aprovação, em 1996, da nova Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Como consequência, apesar dos avanços no que
se refere à expansão do ensino superior no Brasil, a mesma tem ocorrido ao longo desses anos
de forma desigual entre as instituições públicas e privadas, de maneira a não assegurar a todos
os jovens o acesso equitativo ao ensino superior.
Mais especificamente a partir dos anos de 1980, houve intenso aumento no número de
matrículas no ensino superior, e o mesmo ganhou ainda mais força a partir da década de 1990.
Tal expansão continuou se dando, em um primeiro momento, por meio de instituições
privadas sem qualquer relação com o crescimento do ensino público. Houve a promoção de
maior flexibilização na oferta de cursos e, em seguida, na criação de alternativas ao
bacharelado convencional de quatro anos, constituídas por cursos sequenciais, tecnológicos e
a distância.
Nesse contexto, as instituições privadas passaram a oferecer cursos de baixo custo, de
modo a atender à demanda de jovens provenientes das classes média e baixa que encontraram
nestas instituições a possibilidade de ingressar no ensino superior. Entretanto, pode se
observar que a ampliação da oferta de cursos não ocorreu em todas as áreas de conhecimento.
Houve um crescimento do setor privado predominantemente nos
ainda concentra o maior número – 4.374.431 matrículas presenciais – ou seja, 71% do total. Os
outros 1.777.974 estudantes estão em instituições públicas (IPEA, 2013).
Essas informações nos levam a perceber que houve significativa expansão do ensino
superior no Brasil, mas que esse aumento ainda permanece no setor privado, onde se nota um
grande número de matrículas quando comparado ao setor público. Outro aspecto relevante é
que grande parte das vagas em cursos superiores é disponibilizada pelos setores privados em
turno noturno (70%), enquanto que nos setores públicos ocorre oferta de vagas,
predominantemente, em turno diurno ou integral. Essa realidade aponta para a dificuldade que
muitos jovens devem encontrar para ingressar e, principalmente, se manter em uma
universidade pública quando necessitam estar inseridos no mercado de trabalho.
Cabe ressaltar que o processo de incorporação dos jovens à educação superior
depende, em grande medida, do fluxo escolar do ensino fundamental e da continuidade dos
estudos no ensino médio. Castro, Torres e França (2013, p. 5) afirmam que “entre 1999 e
2011, mais que dobrou a proporção dos que abandonaram a escola no ensino médio (de 7,4%
para 16,2%); a proporção dos que nem trabalham nem estudam atinge 24% dos jovens com 18
anos de idade e 25% daqueles com 20 anos”.
No mesmo sentido, Simon (2006, p. 14) defende que “o que mais determina as
diferenças de resultado e de oportunidades educacionais continua sendo a renda das famílias,
a educação dos pais, e outras variáveis como o tipo de escola que o jovem frequentou”. Para o
autor, o desempenho do estudante no curso de graduação escolhido depende da sua formação
anterior, o que está diretamente relacionado à condição socioeconômica da sua família.
A partir desses resultados, observa-se que está comprometido o acesso ao ensino
superior de grande parcela de jovens que não conseguiu realizar uma trajetória de
escolarização prolongada devido a entraves em seu fluxo escolar, resultantes, dentre outros
fatores, de distorção série/idade, reprovação, evasão e baixo índice de conclusão.
Quanto ao número de matrículas em determinados cursos de ensino superior, os dados
do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2013)
destacam os cursos de Administração (800.114), Direito (769.889) e Pedagogia (614.835) como
aqueles que detêm maior número de estudantes, o que indica que alguns cursos superiores
tiveram maior expansão quando comparados a outros cursos no processo seletivo no concurso
vestibular. Nota-se, ainda, que prevalece entre os cursos superiores uma seletividade que
reflete no acesso a certos cursos, principalmente para os jovens advindos de estratos sociais
mais baixos. Percebe-se que em cursos considerados de maior prestígio social, como
Medicina e Engenharias, pouco se avançou quanto à democratização do acesso às vagas.
58
da educação básica; 3. de discriminação racial e social, uma vez que a universidade ainda não
se encontra preparada para receber este novo público oriundo das classes de baixa renda.
Não se trata, portanto, apenas de garantir acesso ao ensino superior, mas também de
pensar nas dificuldades que muitos jovens ainda precisam enfrentar para permanecer na
universidade. A democratização no ensino superior envolve um conjunto de questões como,
por exemplo, a independência entre a origem social do estudante e o seu desempenho
acadêmico, a escolha das carreiras e a permanência nos cursos. Questões estas que nos
demandam um grande esforço de discussão e reflexão a partir da compreensão de que o
acesso e a permanência no ensino superior de qualidade não se limita a somente agregar mais
estudantes para esta etapa de ensino.
Sendo assim, a crescente expansão do ensino superior reforça a necessidade da
reformulação de ações para que também seja garantida a permanência destes estudantes nos
cursos superiores, uma vez que essas políticas de inclusão têm efetivado maior entrada de
estudantes com perfis sociais diversificados. Isso significa dizer que também é necessário
criar investimentos no âmbito da Assistência Estudantil para que milhares de jovens de
camadas populares e oriundos de escolas públicas tenham a possibilidade de não apenas
ingressar, mas principalmente permanecer na universidade, independentemente de suas
condições materiais, já que estas podem vir a justificar a causa do grande número de evasão e
retenção ao longo do ensino superior.
60
De acordo com Vieira (1985), diversos fatores contribuíram para a criação de uma
universidade federal no estado do Rio de Janeiro, como a eleição de Roberto da Silveira para
governador do estado; a atuação do movimento estudantil, que se baseava na luta por ensino
gratuito, posicionando-se contrariamente ao alto preço das taxas escolares das instituições
superiores; o comprometimento do jornal O Fluminense, que acompanhava e divulgava todo o
trâmite legal e os debates em torno do assunto; o importante papel exercido pelas expressivas
lideranças locais; o corpo docente das faculdades existentes na região, para quem tal criação
significava a possibilidade de estabilidade empregatícia e reconhecimento social.
As primeiras instituições federalizadas foram as faculdades de Medicina e de
Veterinária, em 1950. Em 1956, federalizaram-se as faculdades de Direito de Niterói e de
Farmácia e Odontologia. Por fim, em 1960, federalizaram-se a Escola de Serviço Social, a
Faculdade Fluminense de Filosofia, a Faculdade de Ciências Econômicas, a Escola de
Enfermagem e a Escola Fluminense de Engenharia.
61
17
Disponível em: <http://www.uff.br/?q=uff/hist%C3%B3ria>. Acesso em: 21 out. 2010.
18
Disponível em: <http://www.coseac.uff.br/cidades/nithist.htm>. Acesso em: 21 out. 2010.
19
Disponível em: <http://www.coseac.uff.br/cidades/nitorgao.htm>. Acesso em: 21 out. 2010.
62
20
O Centro de Artes UFF, localizado no prédio da Reitoria, em Icaraí, é o mais completo centro cultural de
Niterói. Como polo de produção e difusão cultural, realiza programas voltados para todas as manifestações
artísticas, tais como exposições, shows, concertos, ciclos cinematográficos, peças teatrais e apresentações
diversas. Em seu conjunto de espaços, reúne a Galeria de Arte UFF, o Espaço UFF de Fotografia, o Espaço
Aberto UFF, o Cine Arte UFF e o Teatro da UFF.
21
Disponível em: http://cwur.org/2016/Fluminense-Federal-University.php, Acesso em: 17 jun. 2017.
63
O ingresso dos jovens universitários nos cursos de graduação da UFF se dá por quatro
modalidades distintas de seleção. 1) O concurso vestibular, no qual são destinas vagas para os
candidatos que tenham concluído o ensino médio ou que estejam cursando o último ano na
ocasião. 2) A transferência facultativa, que dá a oportunidade aos estudantes de outras
instituições de ensino superior, públicas ou privadas, de dar prosseguimento aos seus estudos
na UFF. 3) O concurso de reingresso, que oferece aos indivíduos que já concluíram algum
curso de nível superior a possibilidade de realizar outro curso de graduação. 4) E, por último,
o processo seletivo de mudança de curso destinado para os estudantes da UFF.
Entretanto, a escala de investigação da pesquisa concentra-se no processo seletivo do
concurso vestibular do ano de 2012, no qual foram ofertadas 7.762 vagas. Desse total, 1.850
vagas foram preenchidas pelo Sistema de Seleção Unificado do MEC – SISU. Pode-se
observar nesse concurso que houve vagas tanto pelo sistema de Seleção Unificada (SISU)22
quanto pelo vestibular tradicional como forma de ingresso dos estudantes aos cursos
superiores nesta instituição. Posterior a esse concurso vestibular, a UFF aderiu o SISU como
única forma de ingresso dos estudantes.
Quanto à distribuição das vagas, foram oferecidas 4.826 para os cursos da unidade de
Niterói e 2.836 vagas distribuídas entre outras unidades como, Angra dos Reis, Campos dos
Goytacazes, Itaperuna, Macaé, Miracema, Nova Friburgo, Rio das Ostras, Santo Antônio de
Pádua e Volta Redonda. Embora o concurso vestibular do ano de 2012 tenha ofertado vagas
para os cursos da unidade de Niterói e outras unidades (Apêndice G), esta pesquisa buscou
privilegiar os quatro cursos da unidade de Niterói considerados como altamente seletivos, são
eles: Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, Direito, Medicina e Engenharia Civil.
A escolha por esses cursos partiu da combinação de dois parâmetros: a relação
candidato/vaga (Apêndice E) e a pontuação mínima/máxima exigida para aprovação no curso
escolhido (popularmente conhecida como “nota de corte”) (Apêndice F) do Concurso
Vestibular UFF 2012.
22
O Sistema de Seleção Unificado (SISU) constitui um sistema informatizado gerenciado pelo Ministério da
Educação (MEC), no qual instituições públicas de ensino superior oferecem vagas para candidatos participantes
do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem).
64
Vale ressaltar que este processo seletivo, do ano de 2012, foi o último a oferecer vagas
através do vestibular tradicional e a ofertar a bonificação de 20% (vinte por cento) sobre a
nota final no concurso. A partir do vestibular do ano de 2013, vigorou, apenas nesta
instituição de ensino, o sistema de seleção unificada (SISU/MEC), de modo a incorporar a
política de reserva de vagas de caráter social, objetivando maior entrada de estudantes
oriundos de escolas públicas.
Para ter direito à política de bônus no vestibular de 2012, os candidatos deveriam ter
cursado todo o ensino médio em estabelecimento da rede pública estadual ou municipal de
qualquer unidade da federação, excluídos os colégios federais, universitários, militares e de
aplicação. Essa política visava reduzir as diferenças sociais que permeiam a escolarização dos
estudantes do ensino médio, de forma a possibilitar que os estudantes oriundos de escolas
públicas, mas principalmente com condições socioeconômicas desfavoráveis, tivessem maior
acesso a este nível de ensino.
Além dessa política de inclusão (bônus e cotas), a UFF adota a política de Assistência
Estudantil através de programas voltados para a permanência dos estudantes no ensino
superior. O setor responsável pela Assistência Estudantil é a Pró-Reitoria de Assuntos
Estudantis – PROAES, criado em 2010, que tem “a finalidade de desenvolver políticas de
apoio estudantil por meio de ações que promovam a melhoria do desempenho acadêmico,
contribuindo desta forma para a formação profissional e cidadã dos estudantes da UFF”. Para
tanto, ela “desenvolve ações de assistência estudantil com a finalidade de melhorar as
condições de permanência na universidade, oferecendo aos estudantes oportunidade de acesso
a um ensino de qualidade”23 . Antes da criação do PROAES, o órgão responsável pela
assistência estudantil na UFF era o Departamento de Assuntos Comunitários – DARC.
Atualmente, a UFF oferece 1.700 bolsas de assistência estudantil além de outros
programas que dão suporte aos estudantes como: apoio acadêmico, restaurante universitário e
moradia estudantil. Tais “programas e projetos desenvolvidos visam, acima de tudo,
contribuir para formação profissional e construção de cidadania dos estudantes da UFF”24 .
Cabe ressaltar que esses programas de assistência estudantil praticados pela UFF
constituem ações e estratégias propostas pelo Programa Nacional de Assitência Estudantil
(PNAES), que está em vigor, a partir da Portaria Normativa n. 39, de 12 de dezembro de
2007, do Ministério da Educação (MEC). No ano de 2010, essa portaria passa a vigorar pelo
23
Disponível em: <http://www.proaes.uff.br/>. Acesso em: 03 dez. 2012.
24
Disponível em: <http:// http://www.uff.br/?q=grupo/assuntos -estudantis. Acesso em: 08 jan. 2013.
65
25
Disponível em: http://www.coseac.uff.br/cursos/comu_c.htm. Acesso em: 19 dez.2015.
66
26
Disponível em: http://www.uff.br/?q=curso/direito/12699/bacharelado/niteroi. Acesso em: 19 de dez. de 2015.
67
27
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
28
Na Escola de Engenharia da UFF são oferecidos os seguintes cursos : Desenho Industrial, Engenharia Agrícola,
Civil, Elétrica, Mecânica, Petróleo, Produção, Química, Recursos Hídricos, Telecomunicações.
29
Disponível em: http://www.engenharia.uff.br/a-escola/estrutura/histórico. Acesso em: 21dez. 2015.
30
Disponível em: http://www.engenharia.uff.br/cursos/graduacao/eng-civil. Acesso em: 21dez. 2015.
68
31
Disponível em: http://www.tgc.uff.br/.Acesso em: 21dez. 2015.
32
Disponível em: http://www.uff.br/?q=curso/medicina/12692/bacharelado/niteroi. Acesso em: 21 dez. 2015
33
Disponível em: http://www.proac.uff.br/biomedicina/content/quais -principais-diferen%C3%A7-entre-os-
cursos-de-biomedicina-e-de-medicina. Acesso em: 21 dez. 2015.
69
para uma das profissões também muito bem reconhecidas socialmente no mercado de
trabalho.
A primeira fase da pesquisa de campo se constituiu na aplicação de um questionário
preliminar a 40 estudantes matriculados no oitavo período do curso de Pedagogia, de acordo
com a indicação do orientador, com o objetivo de validar e/ou corrigir possíveis erros. Apesar
do referido curso não se constituir em objeto privilegiado neste estudo, a realização dessa
etapa foi importante, porque contribuiu para reformulação de algumas questões que não
mostravam clareza em sua redação.
Na segunda etapa, com o Questionário Exploratório definitivo (Apêndice A),
composto por 70 questões fechadas (a maioria) e abertas, objetivou-se a coleta de dados do
maior número possível de universitários dos cursos investigados.
A premissa para a participação era ter ingressado na UFF através do vestibular do ano
de 2012. Entretanto, no momento da realização desta etapa da pesquisa, percebeu-se a
necessidade de estender este critério, de modo a incluir os jovens admitidos no concurso
vestibular de 2011. Isso aconteceu porque foram encontrados alguns destes jovens compondo
as turmas das disciplinas em cujas aulas os questionários foram aplicados. Cabe destacar que,
mesmo estando matriculados em determinado período letivo, muitos jovens universitários têm
a possibilidade de cursar disciplinas mais avançadas ou com atraso.
O questionário foi aplicado a 411 universitários, em amostra não probabilística, assim
distribuídos: Comunicação Social – Publicidade e Propaganda: 44; Direito: 169; Engenharia
Civil: 64; Medicina: 134. Dentre os cursos investigados, Direito e Medicina apresentam um
número maior de questionários aplicados por terem um quantitativo superior de estudantes
matriculados em comparação aos outros cursos investigados (Quadro1). Nesta pesquisa, foi
possível trabalhar com aproximações do número de estudantes matriculados nos cursos
investigados a partir dos dados fornecidos pelos coordenadores e professores dos respectivos
cursos. Essa primeira etapa investigativa ocorreu entre os meses de setembro e outubro de
2014.
A autorização para realização da pesquisa de campo foi precedida por contatos
presenciais com os coordenadores dos cursos no início do mês de agosto de 2014. Neste
momento, foram definidas as disciplinas cursadas pelos estudantes sujeitos desta pesquisa nas
quais seria aplicado o Questionário Exploratório, bem como foram agendadas as datas e os
horários da referida aplicação e identificada a estimativa do número de estudantes
matriculados nos cursos e também nas disciplinas. Em alguns cursos, a informação sobre o
70
quantitativo de estudantes em determinada disciplina foi dada diretamente pelo professor que
lecionava no dia da aplicação do questionário.
Quadro 1: Número de matriculados e questionários aplicado em cada curso
Cursos Número de Número de Semestre/Ano
matriculados questionários
Comunicação Social-
232 44 2º/2014
Publicidade e Propaganda
Direito 1456 169 2º/2014
Engenharia Civil 600 64 2º/2014
Medicina 982 134 2º/2014
Total 3270 411 2º/2014
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
34
A faixa etária de 17 a 29 anos é definida com base na idade esperada de entrada em curso superior.
35
Ao longo desses últimos nove anos, em que o Estatuto da Juventude tramitou na Câmara dos Deputados e no
Senado Federal, firmou-se um entendimento de que a população jovem comp reenderia as pessoas com idade de
15 a 29 anos. Tal compreensão orientou o governo federal a sancionar a Lei nº 11.129/2005, que criou a
Secretaria e o Conselho Nacional de Juventude, com responsabilidades sobre as políticas públicas voltadas “aos
71
dos mesmos nesta pesquisa. Tal inclusão também foi feita por se levar em conta os dados das
pesquisas nacionais levadas a efeito pelo IBGE (2010), que tem apontado aumento na idade
dos ingressantes em cursos superiores.
Outra situação que chamou a atenção foi o comprometimento dos jovens universitários
no preenchimento do questionário, observado por meio de solicitações de esclarecimentos
sobre a pesquisa. Muitos elogiaram a qualidade do material e compararam o instrumento de
pesquisa às provas aplicadas pelo ENEM, devido o número de questões. Também foi notória
a conduta dos professores em disponibilizarem tempo de suas aulas, bem como o interesse
pelo objeto de estudo – segundo eles, há poucas informações sobre o alunado que ingressa na
universidade.
A escolha pela aplicação dos questionários nas disciplinas obrigatórias do quinto e
sexto período partiu da indicação de alguns dos coordenadores dos cursos investigados. É
importante lembrar que muitos dos fluxogramas dos cursos superiores da UFF são
constituídos por disciplinas obrigatórias (de formação básica e profissional), optativas e
eletivas.
As disciplinas obrigatórias, de formação básica e profissional, são aquelas que
fornecem conhecimentos mais específicos da habilitação do curso. As disciplinas optativas
tem o objetivo de ampliar a formação profissional e são escolhidas pelo estudante dentre um
rol de disciplinas previamente determinadas por Resolução do Colegiado do Curso. Por
último, as disciplinas eletivas são aquelas incluídas no elenco de disciplinas oferecidas pela
universidade, dentre as quais os estudantes têm a opção de escolher aquelas de seu maior
interesse, também visando ampliar a sua formação geral36 .
No entanto, cabe ressaltar que o curso de Medicina emprega outro modelo de
fluxograma, distinto dos padrões utilizados nos cursos superiores da universidade. Sua
proposta engloba quatro programas independentes, compostos por disciplinas ministradas por
professores de um ou mais departamento de ensino. Os programas que compõem o curso são:
programa teórico demonstrativo, programa prático-conceitual, programa de internato médico
e o programa de iniciação científica37 .
Ao todo, o curso de Medicina é desenvolvido em seis etapas, sendo uma por ano. As
quatro primeiras etapas são comuns a dois programas – ao teórico demonstrativo e ao prático
jovens na faixa etária entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos, ressalvado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de
julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
36
Disponível em: http://www.letras.uff.br/graduacao/fluxogramas . Acesso em: 22 dez. 2015.
37
Disponível em: http://www.medicina.uff.br/?q=content/gradua%C3%A7%C3%A3o . Acesso em: 23 dez.
2015.
72
devido à ausência do referido profissional). Por ele, foram indicadas para a aplicação do
questionário as disciplinas obrigatórias de Direito Público das Relações Internacionais II e
Direitos Humanos, respectivamente, dos quinto e sexto períodos. O coordenador forneceu,
ainda, o contato dos professores para que fosse providenciado o agendamento da atividade.
Neste caso, houve tentativa de agendamento via e-mail, mas não se obteve resposta
para autorização da realização da atividade por parte do professor da disciplina Direito
Público das Relações Internacionais II. Apenas o professor da disciplina Direitos Humanos
respondeu ao e-mail oferecendo o tempo necessário de sua aula para a aplicação do
questionário e demonstrando interesse pela pesquisa.
Diante desse contratempo, o coordenador permitiu que os próximos contatos com os
professores fossem realizados antes do início das aulas de cada disciplina, de modo que eles
permitissem a aplicação do questionário 15 minutos antes do término das aulas. Percebeu-se,
neste momento, a necessidade de aplicar o questionário nas duas turmas de quinto e sexto
períodos do curso de Direito, dado o fato de o número de alunos neste curso ser maior do que
nos demais cursos investigados: a cada semestre, para cada período, havia duas turmas,
totalizando 1.456 alunos, que estudavam nos horários diurno (manhã e tarde) ou noturno, com
aproximadamente 40 a 60 alunos em cada turma.
Neste curso, os estudantes têm maior flexibilidade em organizar seus horários, uma
vez que as mesmas disciplinas são oferecidas em diferentes turnos. Foi observado, ainda,
através do contato direto com os professores, que muitos deles eram contratados e não
possuíam cargos efetivos na universidade, o que aponta para a necessidade de expansão do
quadro de docentes para este curso.
Diante da boa receptividade do professor da disciplina Direitos Humanos, a aplicação
do questionário foi realizada em sua turma do sexto período. Esta disciplina era oferecida na
terça-feira, no turno da manhã, e contava com 65 alunos matriculados, tendo participado da
aplicação do questionário 50 alunos. Posteriormente, aplicou-se o questionário, neste mesmo
dia e turno, na turma do quinto período da disciplina Direito Constitucional, que possuia 65
alunos matriculados, dos quais 45 preencheram o questionário. Devido à avaliação dessa
disciplina ter sido realizada na aula anterior, muitos alunos estavam ausentes no momento da
atividade.
No turno da noite, aplicou-se o questionário na turma da disciplina Introdução ao
Processo Civil, ofertada na terça-feira aos estudantes do quinto período. Nesta disciplina
havia 60 alunos matriculados; porém, em sala de aula, no momento da aplicação, estavam
presentes 40 alunos. Subsequentemente, o questionário foi aplicado na turma do sexto período
74
da disciplina Processo de Conhecimento Civil, que também era oferecida pelo curso na terça-
feira e tinha 42 alunos matriculados, sendo que 34 participaram da atividade. Observa-se que
esta turma foi a que apresentou o menor número de alunos matriculados, quando comparada a
outras disciplinas do curso.
Por último, procedeu-se à aplicação do questionário aos estudantes do curso de
Medicina, no qual não houve dificuldades para obtenção de autorização do coordenador, nem
de resposta dos professores que lecionavam nas disciplinas dos quinto e sexto períodos. As
informações sobre a pesquisa foram fornecidas aos professores antes do início das aulas, de
forma que eles autorizaram a realização da atividade antes do término das aulas.
Este curso possuia aproximadamente 982 alunos matriculados. Em cada semestre são
formadas duas turmas por período, compostas, em média, por 45 alunos cada. A aplicação do
questionário ocorreu no prédio anexo ao Hospital Universitário Antônio Pedro.
Devido à presença dos estudantes em período diurno, a aplicação do questionário se
deu no mesmo dia em quase todas as turmas investigadas, ficando para a semana seguinte
apenas uma turma do quinto período. Tal atividade foi iniciada na terça-feira em duas turmas
do sexto período que estavam cursando a mesma disciplina – Epidemiologia III –, porém com
professores e em salas de aulas distintas. Uma das turmas do sexto período possuia 37 alunos
matriculados, tendo sido preenchidos 36 questionários. Na outra turma, havia 44 alunos
matriculados, obtendo-se, todavia, 31 questionários respondidos.
No que se refere às duas turmas do quinto período, identificou-se que cada uma estava
cursando, na terça-feira, disciplinas diferentes. Uma das turmas cursava a disciplina
Planejamento e Gerência em Saúde, com 42 alunos matriculados. Nesta, no momento da
aplicação, 32 alunos responderam ao questionário, o que corresponde ao número de alunos
que estavam presentes em sala. A outra turma, com 43 alunos matriculados, cursava a
disciplina Saúde e Sociedade IV; nesta, 35 alunos preencheram o questionário.
A aplicação do questionário nesta última disciplina foi muito prazerosa e
enriquecedora, pois fui convidada pelas professoras para assistir à aula e ouvir os
depoimentos dos estudantes de Medicina sobre as entrevistas que haviam realizado com os
pacientes no Hospital Universitário Antônio Pedro como atividade da disciplina, que tinha por
objetivo o desenvolvimento de habilidades do aluno no encontro médico-paciente.
Observou-se, nesta etapa investigativa, que os cursos de Direito e Medicina possuem
maior número de jovens matriculados dentre os quatro cursos superiores analisados nesta
pesquisa, devido ao número significativo de vagas oferecido no processo seletivo do
75
vestibular, se comparado aos demais cursos investigados, que têm apenas uma turma por
semestre.
Embora a realização desta pesquisa de campo tenha sido marcada por idas e vindas e
contratempos ocorridos nos primeiros contatos com alguns coordenadores para o pedido de
autorização de aplicação do questionário, esta etapa investigativa foi importante porque
possibilitou aproximar-me dos jovens estudantes e conhecer os seus espaços de circulação na
universidade. Além disso, os dados coletados possibilitaram reconhecer analiticamente a
composição do público universitário que tem ingressado nos cursos de alta seletividade da
UFF e a definir critérios de seleção para a participação da fase subsquente, que consistiu na
realização de entrevistas biográficas com um grupo menor de jovens que se encontram nos
quatro cursos superiores investigados.
O aprofundamento do olhar sobre as experiências dos jovens em seu processo de
formação na UFF permitiu uma reflexão sobre os processos mais amplos da relação dos
jovens com a universidade, no que se concerne às motivações que orientaram a escolha do
curso, às tensões e dilemas vivenciados na universidade, aos suportes que contribuem para sua
permanência na universidade e aos seus respectivos projetos de vida.
O último perfil-tipo incorpora as respostas dos jovens que fizeram referência a escolas
consideradas, nesta pesquisa, como instituições privadas ou públicas de excelência, por
estarem aliadas a melhores condições de ensino e situadas socialmente como instituições que
gozam de um estatuto privilegiado em relação ao conjunto de escolas da cidade.
As instituições estaduais e federais consideradas de excelência se estruturam a partir
da lógica da competição e da seletividade, onde o seu ingresso se dá através de um processo
seletivo que, frequentemente, atrai para os seus bancos escolares os jovens que possuem um
maior volume de capitais, em especial, econômicos e culturais.
O contato para o agendamento das entrevistas com os jovens foi realizado, por e-mail,
a partir do mês de maio de 2015. Este teve como propósito informá-los sobre a pesquisa e
averiguar o interesse e a disponibilidade de horário para a sua realização. Para facilitar esse
encontro com os jovens selecionados, as entrevistas foram agendadas e realizadas em salas de
aula disponíveis nos prédios de cada curso investigado. Embora a universidade se encontrasse
77
em greve38 , alguns jovens decidiram participar da pesquisa neste período. Outros solicitaram
que a entrevista se realizasse após o fim da greve, por não estarem residindo em Niterói.
Cabe destacar que, no momento do agendamento e da realização das entrevistas, não
houve desistência de nenhum dos jovens selecionados. Esse processo foi eficaz visto que os
jovens agendavam os horários de acordo com o seu tempo disponível na universidade. Grande
parte das entrevistas ocorreu antes ou após o término de suas aulas. Desta forma, eu precisei
me predispor a atendê-los nos horários e dias sugeridos por eles. Tal etapa de realização de
entrevista teve seu término em dezembro de 2015 e foi marcado por idas e vindas ao campus
de cada curso investigado, visando alcançar o número de entrevistas estipulado inicialmente.
Para cada participante da etapa de entrevista (Quadro 3), foram estabelecidos nomes
fictícios para os jovens a fim de preservar suas identidades. Da mesma maneira, cada um
deles assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C) que consiste na
autorização dos estudantes em utilizar os dados obtidos nas entrevistas apenas no campo
científico, levando em conta diretrizes éticas de pesquisa.
Quadro 3: Jovens participantes da etapa de entrevista
Nomes Cursos Superiores
Antes de iniciar cada entrevista, relatei sobre a relevância deste estudo, os objetivos da
pesquisa e o procedimento metodológico para que fosse eliminada qualquer possível dúvida.
Também adotei uma linguagem mais informal, visando criar um ambiente favorável para que
eles se sentissem a vontade em compartilhar aspectos particulares de sua vida.
As entrevistas foram conduzidas mediante um roteiro (Apêndice D) utilizado apenas
como guia de orientação e de organização do trabalho de campo, de modo a auxiliar na coleta
de maiores informações sobre as experiências vivenciadas pelos jovens. Ao final de cada
entrevista, recorria-se ao roteiro para verificação de que todos os aspectos haviam sido
efetivamente abordados.
38
A greve dos professores da UFF teve início no final do mês de maio e refutava as medidas do governo que
cortavam recursos da educação e direitos dos trabalhadores sob o argumento do “ajuste fiscal”. Ela teve a
duração de quatro meses, encerrando-se no dia 29 de setembro de 2015.
78
A base de análise desta pesquisa são 411 jovens estudantes que ingressaram nos
referidos cursos altamente seletivos da UFF, assim distribuídos: 10,7% em Comunicação
Social – Publicidade e Propaganda; 41,1% em Direito; 32,6% em Medicina; 15,6% em
Engenharia Civil (Tabela1). Dentre estes cursos, Direito e Medicina possuem o maior número
de jovens matriculados.
Nestes cursos, o sexo feminino representa um percentual maior de matrícula – 51,% –
do que o masculino: 48,% (Tabela 2). Tal fato pode estar relacionado à elevação da
escolarização das mulheres que vem ocorrendo nas últimas décadas, em contraponto à
predominância histórica do sexo masculino nesse setor (BELTRÃO e TEIXEIRA, 2005).
Em relação à idade, observa-se um público bastante jovem, na faixa etária de 17 a 24
anos (85,9%), contrastando com aqueles que se encontram na faixa etária de 25 a 30 anos, que
representam 11,5% desta população; 1,9% compõe a faixa de 31 a 35 anos e 0,7% dos alunos
está acima de 36 anos (Tabela 3).
Em relação ao atributo cor/raça, os dados revelam uma maioria de jovens na categoria
branca (75,9%) e uma minoria em outras categorias, como: parda (19,3%), preta (2,8%),
amarela (1,8%) e indígena (0,3%) (Tabela 4).
39
Importante salientar que a análise foi por estatística descritiva e não por correlação estatística.
80
40
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0807200701.htm>. Acesso em: 20 jan. 2014.
81
residem no mesmo município sede dos cursos da UFF – ou seja, Niterói – ou em municípios
próximos.
Com relação ao grau de instrução dos pais, 37,8% das mães têm ensino superior e
24,6% são pós-graduadas (Tabela 10); enquanto 36,8% dos pais possuem ensino superior e
23,7% são detentores de diplomas de pós-graduação (Tabela 11). Observa-se que a grande
maioria possui pais com alta escolaridade e inserida em famílias com tradição escolar.
A renda familiar predominante (47,4%) se situa na faixa superior a 11 salários
mínimos41 (ou seja, acima da média nacional42 ), seguida da faixa entre 8 e 11 SM (20,2%);
entre 5 e 8 SM encontram-se 16,9%; 13,6% estão na faixa entre 2 e 5 SM e 1,9% entre 1 e 2
SM (Tabela 12).
Cabe ressaltar que a renda mensal da família apresenta forte relação com a situação
empregatícia e o grau de escolaridade dos pais. A corroborar tal afirmação, está o dado de que
grande parte dos pais desses jovens possui na estrutura hierárquica das profissões altos cargos
profissionais (Apêndice H) e tem como nível de instrução mínima o ensino superior,
possibilitando, em consequência, melhor suporte financeiro à escolarização dos filhos
(Apêndices I e J).
Quanto à participação dos jovens nas despesas da casa, 77,8% declararam que não
colaboram e que recebem auxílio da família; por sua vez, 20,7% assumem o pagamento de
parte das despesas; enquanto 1,7% arcam sozinhos com todas as despesas (Tabela 13). O
número elevado de jovens que não participam das despesas e que recebem auxílio da família
sugere que os pais com rendas mais elevadas tendem a ter maior envolvimento com as
despesas dos filhos, fornecendo-lhes suporte material que os tornam livres da necessidade de
trabalhar concomitantemente à realização dos estudos. Diante das exigências da sociedade por
maiores qualificações, é possível perceber que muitos jovens prolongam o tempo da
juventude, permanecendo na casa dos pais por um período prolongado. Isso abre a
possibilidade de continuar recebendo suporte financeiro dos pais e de se preparar por um
período mais extenso para a futura inserção na vida produtiva.
41
Na época de aplicação do questionário, um salário mínimo equivalia a R$ 678,00.
42
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), tendo por base a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a renda média nacional do brasileiro é R$1.052. Essa pesquisa do
chamado rendimento domiciliar per capita soma a renda de todos os moradores de uma casa (salários e outros
rendimentos, como aluguel ou aposentadoria) e divide o total pelo número de pessoas que moram no lugar.
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2015-02/rendimento-domiciliar-capita-do-
brasileiro-e-de-r-1052-mil-d iz-ibge> Acesso em: 7 set. 2016.
82
43
Considerou-se nesta pesquisa apenas os dados sobre a trajetória escolar no ensino infantil, devido o recente
marco legal da obrigatoriedade desta etapa de ensino para todos os cidadãos, e no segundo segmento do ensino
fundamental, a fim de compreender a partir de um ponto de vista mais global o histórico escolar e os
estabelecimentos de ensino frequentados pelos estudantes investigados na pesquisa.
83
segmento do ensino fundamental (antiga quinta à oitava série), enquanto 1,9% foi reprovado
apenas uma vez (Tabela 17).
Quanto ao tipo de escola frequentada pelos jovens no segundo segmento do ensino
fundamental (antiga quinta à oitava série), a maioria (81%) estudou em escola particular,
enquanto 11,2% são oriundos de escolas públicas da rede municipal e estadual. Embora a Lei
de Diretrizes e Bases Nacional (Lei n. 9394/96), em seu artigo 11, enfatize que é de
responsabilidade dos municípios oferecer a educação infantil e o ensino fundamental, optou-
se por agrupar, nesta pesquisa, a categoria municipal/estadual, por existirem ainda escolas da
rede estadual que não foram municipalizadas.
Entre os jovens que mudaram de rede de ensino ao longo do segundo segmento do
ensino fundamental, 3,9% estudaram inicialmente em escola pública (municipal ou estadual) e
posteriormente em escola particular. Aqueles que estudaram inicialmente em escola particular
e posteriormente em escola pública (municipal ou estadual) representam 2,2%. Em
contrapartida, 1% cursou o segundo segmento do ensino fundamental apenas em escola
militar e 0,7% em escola federal (Tabela 18).
Registrou-se êxito escolar também no ensino médio, quando 97,6% dos estudantes
jamais foram reprovados, contra 2,4% que repetiram uma vez (Tabela 19). No que se refere
ao estabelecimento público ou privado, 81% são oriundos de escola particular, enquanto
17,2% vêm de escola pública estadual. Os que frequentaram escola federal nesta etapa de
ensino representam 5,4%, seguidos daqueles que mudaram de escola: sendo 2,7% de escola
particular para escola pública e 1,2% de escola pública para escola particular. 1,7% cursou o
ensino médio em escola militar (Tabela 20).
A escolha predominante por estabelecimento de ensino particular no ensino médio
pode estar associada à preocupação da família com a qualidade de ensino, uma vez que nessa
etapa os jovens estão mais próximos do vestibular e os investimentos para o alcance do
ingresso na universidade é algo esperado. Nogueira (2000, p. 132) enfatiza que, excluindo a
pré-escola, no momento de definir em qual escola matricular seus filhos,
Quanto ao tipo de curso de ensino médio, a maior parte dos jovens (88,8%) concluiu a
formação geral, enquanto 10,5% cursaram o técnico, conhecido também como formação
profissionalizante (Tabela 21).
O interesse dos jovens pela formação geral pode estar associado à possibilidade de
adquirir uma formação que os prepare para os exames vestibulares, considerando que a
maioria dos cursos técnicos é voltada exclusivamente para a inserção no mercado de trabalho.
Entretanto, as escolas públicas profissionalizantes, principalmente as federais, têm sido
utilizadas pelas famílias de classe média como forma de reduzir os gastos com a escola
privada, que continua sendo concebida por eles como de alta qualidade.
A partir da análise desses dados, verifica-se que o universo da pesquisa se caracteriza
por estudantes que apresentam trajetória linear, sem histórico de trancamento escolar ou
reprovações. Verifica-se inclusive que grande parte desses jovens é oriunda de escolas
privadas. Nesses cursos de alta seletividade, há uma menor representatividade de estudantes
egressos de instituições públicas das diferentes redes de ensino (municipal, estadual, federal e
militar). É inegável que uma formação considerada de qualidade nos ensinos fundamental e
médio contribui para o ingresso em uma instituição com forte concorrência no vestibular
como a UFF.
4.2 Perfil dos jovens universitários e sua distribuição nos cursos superiores
Cabe ressaltar que não houve a pretensão, nesta etapa analítica, de examinar todas as
questões do questionário exploratório (Apêndice A), mas sim aquelas que se mostraram mais
relevantes para o objeto de estudo dessa pesquisa.
Ao analisar a faixa etária dos estudantes nos quatro cursos investigados, foi possível
identificar que predomina um público bem jovem com idade entre 17 a 24 anos em todos os
cursos: Comunicação Social - Publicidade e Propaganda (90,9%), Direito (89,3%), Medicina
(80,6%) e Engenharia Civil (84,4%). Tal informação indica que há maior proporção de jovens
pertencentes à faixa etária considerada ideal para o ingresso a universidade (Tabela 1).
Nesta mesma direção, recente estudo realizado pela Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES, 2016, p.12) mostra que,
independente da região de localização da IFES de graduação, “a maioria dos graduandos se
encontra na faixa etária de 18 a 24 anos (em média 66,28%). Em seguida, a maior frequência
de graduandos se dá na faixa etária 25 anos e mais (em média 33,14%). Por fim, em torno de
apenas 1% dos graduandos está na fixa 17 anos e menos”.
Entretanto, os cursos que apresentam maior percentual de jovens acima desta faixa
etária, na comparação entre os cursos, é o de Engenharia Civil (14,1%) e Medicina (17,2%)
com estudantes na idade entre 25 e 30 anos. É possível que este maior percentual de jovens
mais velhos esteja associado ao número de tentativas no vestibular, uma vez que grande parte
dos jovens dos cursos de alta seletividade possui trajetória linear e progressiva de
escolarização que se estende logo após o ensino médio. Cabe ainda ressaltar que esses dois
cursos estão situados entre aqueles mais concorridos, ou seja, com maior nota de corte no
concurso vestibular de 2012.
86
Tabela 1: Distribuição dos estudantes investigados na UFF segundo curso e faixa etária
Curso
Faixa Etária Comunicação Social- Direito Engenharia Medicina Total
Publicidade e Propaganda Civil
N % N % N % N % N %
De 17 a 24 anos 40 90,9 151 89,3 54 84,4 108 80,6 353 85,9
Cabe ressaltar que a significativa presença do sexo feminino nos cursos seletos
contrapõe os estudos de Selton (1999) que, ao investigar o universo de estudantes dos cursos
de humanidades da Universidade de São Paulo (USP), identificou uma preferência maior de
uma clientela masculina nos cursos seletos. Enquanto que nos cursos populares essa tendência
se inverte com certa preferência do público feminino.
4.2.3 O papel da variável cor/raça na distribuição dos jovens nos cursos investigados
44
Disponível em: <http://dssbr.org/site/2012/01/a-nova-composicao-racial-brasileira-segundo-o-censo-2010/>.
Acesso em: 02 mar. 2015.
90
raça em um país que foi escravocrata e que muito tardia e lentamente iniciou o
estabelecimento de política de equidade. Santos (1998, p. 241) destaca que, desde o período
imperial, o Brasil apresentava um contexto social historicamente marcado pelo ingresso no
ensino superior de jovens mais abastados da sociedade.
A compreensão das maneiras com que os jovens negros lidam com suas escolhas, bem
como a formulação de políticas e práticas educacionais de incentivo e atração de negros para
cursos mais prestigiados desde sua formação ainda na educação básica, podem contribuir para
o aumento da presença dessa população em cursos superiores de alta seletividade.
Outro dado analisado foi o local de moradia dos jovens universitários, com o intento
de identificar se eles ainda residem ou não com suas famílias após o ingresso no curso
91
Pessoas que não são 12 27,9 36 22,1 20 35,1 76 59,4 144 36,8
da família
Cônjuges 1 2,3 11 6,7 1 1,8 2 1,6 15 3,8
Quanto aos dados sobre a intensa presença dos jovens investigados na casa dos pais,
pode-se dizer que essa situação pode estar associada às diversas questões, como por exemplo,
a dificuldade de se sustentar ou custear a sua própria moradia nesta fase em que eles ainda
92
Já as respostas dos jovens à pergunta sobre o tipo de moradia45 revelam que 55,8% dos
estudantes de Comunicação Social- Publicidade e Propaganda, 62% dos de Direito e 53,2%
dos de Engenharia Civil residem em moradia própria. Estes dados coincidem com a
informação que esses jovens ainda moram na casa de suas famílias. Em contrapartida, 52,2%
do curso de Medicina moram em residência alugada.
Contudo, foi possível observar que poucos jovens matriculados nos cursos altamente
seletivos residem em “repúblicas de estudantes” (Comunicação Social:
Publicidade/Propaganda – 18,6%; Direito – 11,7%; Medicina – 15,7%; Engenharia Civil –
12,9%). As repúblicas estudantis correspondem a moradias utilizadas por jovens que buscam
espaço próximo as instâncias da universidade, inclusive quando eles advêm de outra cidade.
São chamadas de repúblicas as moradias compartilhadas apenas por estudantes.
Existem repúblicas estudantis de fim privado, pela qual é cobrado um valor aos jovens
moradores que compartilham o espaço. Mas em algumas universidades, as repúblicas também
são conhecidas por residências universitárias e são oferecidas pela própria instituição como
parte do programa de assistência a estudantes de baixa renda advindos de outros municípios
ou estados. Embora a UFF ofereça residências estudantis, observou-se neste estudo que este
tipo de moradia não é algo muito utilizado pelos jovens investigados. Sendo assim, a
república pode ser compreendida como um elemento de distinção social no interior dos cursos
45
Entende-se que o local e as características de moradia são elementos relevantes para explicar a existência ou
não de restrições financeiras das famílias. A ausência de casa própria e a consequente necessidade de pagar
aluguel são fatores que dificultam a realização de investimentos no percurso escolar de seus filhos.
93
universitários, uma vez que o tipo de moradia nos aponta as diferenças de recursos sociais
entre as famílias.
Tabela 5: Distribuição dos estudantes investigados na UFF segundo curso e tipo de moradia
Tipo de Curso
moradia Comunicação Social- Direito Engenharia Medicina Total
Publicidade e Propaganda Civil
N % N % N % N % N %
Própria 24 55,8 101 62,0 33 53,2 42 31,3 200 49,8
Os dados levantados sobre a renda familiar46 dos jovens confirmam que eles são
provenientes de famílias cuja renda se concentra em patamares econômicos médios (2 a 5
SM), média-alta (5 a 11 SM) e altos (acima de 11 SM), e que há baixa proporção de jovens
cujas famílias têm níveis econômicos baixos (1 a 2 SM). Destacam-se, nessa amostragem, os
percentuais de 52,8% e 49,2% de jovens dos cursos de Direito e Medicina, respectivamente,
cujas famílias concentram as maiores rendas (Tabela 6).
Na faixa de renda familiar média-alta (5 a 11 SM) situam-se os cursos de
Comunicação Social – Publicidade e Propaganda (45%) e Engenharia Civil (47,6%).
Entretanto, notou-se que na categoria renda média o curso de Comunicação Social –
Publicidade e Propaganda (17,5%) se repete, ou seja, é o curso que apresenta o maior
percentual com patamares econômicos médios. Já o curso de Direito se situa, entre, todos os
cursos investigados, com a maior proporção de renda familiar baixa, que corresponde de 1 a 2
salários mínimos (2,8%).
Os resultados da ANDIFES (2016) relativos à renda familiar per capita média dos
graduandos, segundo área de conhecimento do curso, vão ao encontro aos dados obtidos nesta
pesquisa. De acordo com a associação, nos cursos de Engenharia (R$1.085,5) e Ciências So-
46
Nesta tabela sobre a renda familiar, inclui-se o somatório dos rendimentos dos membros da família, inclusive
dos jovens, caso o mesmo trabalhe e possua salário.
94
ciais Aplicadas (R$1.080,7), seguidos do grupo das Ciências da Saúde (R$ 870), encontram-
se os estudantes com renda mensal familiar per capita média mais alta.
Portanto, verificou-se que nos cursos de prestígio social (Comunicação Social -
Publicidade e Propaganda, Direito, Engenharia Civil e Medicina) há um grupo de jovens com
condição socioeconômica diferenciada, ou seja, com alta renda per capita. A proporção dos
estudantes com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos representa uma
realidade econômica distante das famílias da sociedade brasileira, nas quais essa renda
equivale a apenas 7% (RISTOFF, 2013).
Tabela 6: Distribuição dos estudantes investigados na UFF segundo curso e renda familiar
Curso
Renda familiar Comunicação Social- Direito Engenharia Medicina Total
Publicidade e Propaganda Civil
N % N % N % N % N %
1 a 2 SM 1 2,5 4 2,8 0 0,0 2 1,6 7 1,9
Ristoff (2013, p. 13) em sua análise de dois ciclos completos (2004 a 2009) do Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), apresenta o perfil socioeconômico dos
estudantes de graduação no Brasil:
Apesar dos cursos universitários mais seletivos serem o alvo preferencial de uma
população socialmente privilegiada, entende-se que muitas das estratégias de ampliação dos
estudos não são determinadas apenas pelas condições financeiras dos jovens em suas
trajetórias de vida – também é possível pensar em um conjunto de ações e outros fatores que
são capazes de melhor explicar a questão do êxito escolar em meio às limitações materiais.
Selton (2005) destaca que, embora a renda familiar seja um indicador bastante representativo
95
nos estudos sobre trajetória escolar, ela serve como uma referência se analisada
comparativamente a outros indicadores sociais.
4.2.6 A importância do nível de escolaridade dos pais no percurso escolar dos jovens
O grau de instrução dos pais também é um dos indicadores da origem social dos
jovens. Contudo, a expansão de oferta de ensino em todos os níveis de escolaridade tem
proporcionado maiores chances de acesso a toda a população, o que torna cada vez mais
complexo apreender os limites entre os diferentes grupos sociais a partir do nível de
escolarização dos pais.
No âmbito da Sociologia da Educação, a escolaridade da mãe constitui um fator
importante para se verificar o capital cultural herdado pelos filhos. As pesquisas parecem
sugerir que mães com maior nível de escolarização tendem a ter maior envolvimento com o
percurso escolar de seus filhos, favorecendo-lhes suportes materiais e simbólicos que
contribuem para o alcance de melhores rendimentos escolares.
Nesta pesquisa, constatou-se, em todos os cursos, que o grau de instrução das mães é
alto, o que indica elevado capital escolar. Com os maiores percentuais referentes ao nível de
ensino superior, estão: 38,6% em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda; 35,7% em
Direito; 35,1% em Medicina e 48,4% em Engenharia Civil (Tabela 7).
96
Tabela 7: Distribuição dos estudantes investigados na UFF segundo curso e escolaridade materna
Curso
Escolaridade Materna Comunicação Social- Direito Engenharia Medicina Total
Publicidade e Propaganda Civil
N % N % N % N % N %
Sem escolaridade 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 0,7 1 0,2
Através dos resultados da ANDIFES (2016, p. 65), é possível verificar que, em âmbito
nacional, os maiores percentuais são os de estudantes cujos pais (25,04%) e mães (27,42%)
têm ensino médio completo. Já o segundo maior percentual é de graduandos cujos pais (15,03
%) e mães (18,14%) têm ensino superior completo. Esses dados se assemelham ao perfil
identificado nesta pesquisa, uma vez que apresenta estudantes com pais (pai e mãe) detentores
de escolaridade média e alta.
Para uma investigação mais apurada do nível de escolaridade da família dos jovens,
busquei também analisar as informações (tabela7 e 8) a partir das seguintes categorias: o
grupo sem escolaridade e fundamental incompleto foi denominado como baixa escolaridade;
o grupo de ensino médio como média escolaridade; e o grupo com ensino superior e pós-
graduação como alta escolaridade.
Em relação ao grau de instrução da mãe, observou-se que o curso de Medicina
(12,6%) apresenta o maior percentual de mãe com baixa escolaridade na comparação com os
cursos de Direito (8,4%), Comunicação Social – Publicidade e Propaganda (6,8%), de
Engenharia Civil (4,7%). Por outro lado, o curso de Comunicação Social (22,7%) se destaca
dentre os outros cursos investigados – Engenharia Civil (21,9%); Medicina (20,9%); Direito
(17,9%) – por concentrar o maior número de mães agrupadas no nível de escolaridade média.
Quanto à categoria alta escolaridade, identificou-se que os cursos de Direito (73,7%) e
Engenharia Civil (73,4%) possuem maior número de mães com capital escolar elevado dentre
97
Como o ensino médio se constitui na última etapa da educação básica, a maioria dos
jovens, antes de iniciá-lo já tinha um posicionamento em relação ao tipo de curso que
frequentariam: formação geral ou técnico profissionalizante. Nesta pesquisa, tal como dito
99
anteriormente, 88,8% optaram pela formação geral, enquanto 10,5% cursaram o técnico 47
(vide Tabela 21).
Na tentativa de conhecer o histórico escolar dos jovens investigados anterior ao ingresso
na universidade, foram sugeridos seis tipos de escolas em que cada um poderia ter cursado o
ensino médio: estadual, particular, federal, militar, particular/estadual, estadual/particular48 .
Ao analisar esses atributos na distribuição dos estudantes nos cursos investigados –
Comunicação Social – Publicidade e Propaganda (72,7%); Direito (74,0%); Medicina
(66,4%); Engenharia Civil (76,5%) –, observou-se que a resposta “escola particular”
apresenta o maior percentual dentre as opções. Isso evidencia que a presença de jovens
oriundos de escolas públicas é ainda muito reduzida nesses cursos e que as desigualdades de
formação escolar também se expressam através da natureza administrativa das instituições:
pública e privada (Tabela 9).
Por sua vez, os dados do INEP (2013) reforçam a desigualdade entre as instituições de
ensino ao revelar que os estudantes que frequentam o ensino médio público representam a
maioria no Brasil, com 85% das matrículas, enquanto a rede privada atende a 12,7% e as
redes federal e municipal, juntas, recebem pouco mais que 2%.
Tabela 9: Distribuição dos estudantes investigados na UFF segundo curso
e tipo de escola do ensino médio
Curso
Tipo de escola do Comunicação Social- Direito Engenharia Medicina Total
Ensino Médio Publicidade e Propaganda Civil
N % N % N % N % N %
Estadual 7 15,9 28 16,6 5 7,8 31 23,2 71 17,3
47
Esses dados (tabela 21) encontram-se em anexo (Apêndice B).
48
O termo “particular/pública” se refere aos jovens que, durante o ensino médio, mudaram de uma escola
particular para uma escola pública; e “pública/particular” aos jovens que mudaram uma escola pública para uma
escola particular.
100
seguida, o de Direito (16,6%), com o segundo maior percentual de jovens oriundos da escola
estadual do ensino médio. Este resultado pode ser considerado significativo por representar
um avanço na participação de egressos de escolas públicas em curso de alta seletividade. Mas
também nos leva a indagar se esse ingresso ocorreu em função dos avanços legais da política
de cotas e bônus que determina a reserva de vagas para estudantes de escolas públicas.
Atualmente, o acesso a uma formação escolar considerada mais sólida e de qualidade
tem sido um dos preceitos relacionados ao ingresso na universidade. No entanto, a questão da
qualidade do ensino básico constitui uma das maiores dificuldades enfrentada pelos
estudantes de escola pública que almejam o ensino superior. O discurso da democratização do
acesso ao ensino, muitas vezes, oculta a perversa desigualdade de condições de escolarização
e do acesso ao saber que se reflete sobre o percurso dos jovens ao longo de suas vidas.
Diante desse fato, o investimento no percurso escolar realizado pelas famílias dos
estudantes em escolas particulares e cursinhos pré-vestibulares se transformou em uma
espécie de receita para o êxito no ingresso ao ensino superior. Os dados quantitativos nos
mostram que o acesso ao ensino superior envolve questões antecedentes, tais como: o tipo de
estabelecimento frequentado e a formação escolar recebida no decorrer da educação básica.
Dessa maneira, é possível concluir que a condição econômica, social e cultural da família
interfere diretamente sobre o percurso escolar dos jovens e nas suas possíveis experiências
futuras.
Nos últimos anos, diversos autores, tais como Nogueira (2013) e Vargas (2010), vêm
problematizando o processo de escolha do curso superior. Eles chamam a atenção para a forte
relação existente entre o contexto social dos indivíduos e as suas possibilidades de escolhas a
partir do peso dos diferentes capitais (social, econômico e cultural) herdados por suas
famílias.
As experiências dos jovens participantes da pesquisa comprovam esse tipo de
influência quando declaram que o principal incentivo para a escolha do curso veio do seio
familiar, conforme se destacam os percentuais em Comunicação Social – Publicidade e
Propaganda (56,4%), Direito (80,9%), Medicina (81,4%) e Engenharia Civil (86,2%) (Tabela
10).
101
Esta pesquisa tem seus dados semelhantes aos constantes na Pesquisa Nacional sobre
Perfil e Opinião dos Jovens Brasileiros (BRASIL, 2013), que demonstra que os pais ocupam
posição central na vida dos jovens sobre assuntos relacionados à educação e ao destino
profissional, ao passo que os colegas são escolhidos para discutir outros assuntos, por
exemplo, sexualidade.
Os dados da pesquisa revelam a importância da família para os jovens, principalmente
no que concerne a escolha do curso superior, uma vez que esta questão não se limita apenas a
interesses e preferências, mas também está associada a um conjunto de fatores, tais como a
origem familiar, a trajetória escolar, o capital cultural individual, o grau de inserção no
mercado de trabalho e a rede social dos indivíduos (NOGUEIRA, 2007, p. 18).
Almeida (2003) também confirma as constatações acima. A autora demostra em seu
estudo que existe um forte vínculo entre aqueles que possuem pais e/ou irmãos com
escolaridade superior e os estudantes com um percurso mais vantajoso em termos de prestígio
de curso e de universidade. Ela também identificou correspondência recorrente entre o tipo de
moradia, bairro, curso e universidade, de modo a apontar que os estudantes matriculados nos
cursos mais seletos das universidades públicas estão espacialmente mais bem localizados em
determinadas regiões de sua cidade.
Portanto, os resultados apresentados nesta pesquisa nos remetem para a condição de
estudantes de origem mais favorecida socialmente, na qual se verifica que muitos dos jovens
que frequentam os cursos mais seletos são oriundos de famílias de condição social e
102
Com o intuito de conhecer o capital cultural expressos em viagens, dos jovens que
ingressaram nos cursos de seletividade da UFF, considerou-se pertinente incluir no
questionário exploratório (Apêndice A), e também nesta análise, a pergunta sobre a realização
de viagem para o exterior. O conhecimento sobre esta questão nos possibilita revelar algo do
capital social das famílias dos estudantes dos diferentes cursos investigados. Isso porque,
neste estudo, entende-se que a viagem para o exterior constitui um diferencial social por
exigir dos estudantes um conjunto de fatores como: estímulo, capital de informações sobre o
exterior, disponibilidade de tempo e, principalmente, recursos financeiros para custear as
despesas com a viagem.
Atualmente, diversos autores (NOGUEIRA, 2013; PRADO, 2002; AGUIAR, 2009)
vêm produzindo importantes estudos no campo da Sociologia da Educação sobre as
estratégias educativas das famílias de investirem em seus filhos através de diversificados
recursos simbólicos internacionais, tais como: estágios linguísticos, intercâmbios escolares e
universitários, viagens para o exterior, dentre outros, visando à aquisição de conhecimentos
cognitivos (idioma, cultura etc.) e à ampliação das relações sociais e das oportunidades
profissionais futuras.
No artigo intitulado “Estratégias de internacionalização dos estudos: Um fator de
desigualdade escolar?”, Nogueira (2013, p. 34) conclui que toda dimensão internacional de
investimentos educativos constitui hoje um papel importante nas práticas de determinados
grupos sociais por transmitir aos filhos privilegiadas experiências pessoais, escolares e
profissionais.
103
49
O Ciência sem Fronteiras é um dos programas desenvolvidos em parceria com o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI) e com o Ministério da Educação (MEC) – por meio de suas respectivas
instituições de fomento (CNPq e Capes) – e Secretarias de Ensino Superior e de Ens ino Tecnológico do MEC.
Ele era destinado a oferecer intercâmbio e mobilidade internacional aos estudantes de graduação e pós -
graduação através de estágio no exterior. No ano de 2016, o governo encerrou esse programa na modalidade de
cursos para graduação, passando a atender apenas os cursos de pós -graduação, como mestrado, doutorado e pós -
doutorado.
104
Medicina, 81,3%; Engenharia Civil, 68, 8%), a maioria dos jovens realizou a viagem para o
exterior com a finalidade de lazer. Esta pode ser definida como um tempo em que um
indivíduo se dedica exclusivamente a uma atividade que aprecie e que não esteja relacionada
a obrigações de trabalho ou estudo (Tabela 12).
Tabela 12: Distribuição dos estudantes investigados na UFF segundo curso
e objetivo da viagem para o exterior
Curso
Qual o objetivo Comunicação Social- Direito Engenharia Medicina Total
da viagem? Publicidade e Propaganda Civil
N % N % N % N % N %
Lazer 12 60,0 74 68,5 22 68,8 52 81,3 160 71,4
como uma etapa a ser percorrida na trajetória dos estudantes que almejam o ensino superior
diante da competitividade dos concursos vestibular/ENEM.
Tabela 13: Distribuição dos estudantes investigados na UFF segundo curso
e espaço/meio usado na preparação do vestibular ENEM
Curso
Qual deste espaço ou Comunicação Social- Direito Engenharia Medicina Total
meio você usou para se Publicidade e Propaganda Civil
preparar para o vestibular?
N % N % N % N % N %
Pré-vestibular particular 30 68,2 85 50,6 35 54,7 121 90,3 271 66,1
Pré-vestibular
comunitário/social 0 0,0 8 4,8 0 0,0 0 0,0 8 2,0
mais tentativas (84,3%), o que aponta para um maior nível de concorrência e de exigência de
excelência deste curso (Tabela 14).
Tabela 14 : Distribuição dos jovens investigados na UFF segundo curso e número de tentativas no
vestibular /ENEM para aprovação no curso escolhido como primeira opção
Curso
Nº de tentativas no Comunicação Social - Direito Engenharia Medicina Total
Vestibular/ENEM Publicidade e Propaganda Civil
N % N % N % N % N %
Uma vez 24 54,5 125 74,4 40 65,6 21 15,7 210 51,6
operam num vácuo, mas sim a partir de premissas e paradigmas culturais compartilhados por
universos específicos.
Por mais que a aprovação em cursos superiores de alta seletividade esteja
condicionada por um conjunto de fatores de ordem econômica, social e cultural, o ingresso
em uma universidade deve ter significados diferenciados para cada um que alcançou este
projeto de vida, uma vez que coroa um passado de experiências, memórias e múltiplas
expectativas. Isso quer dizer que a aprovação nos cursos mais seletos da UFF pode revelar
significados diferentes para os jovens que planejaram e investiram neste projeto de inserção a
universidade.
Ao se analisar esse atributo na distribuição dos estudantes nos cursos investigados,
observou-se que os cursos de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda e Medicina
apresentam os maiores percentuais – 38,6% e 38,8%, respectivamente – de estudantes que
relacionam o significado da universidade à realização pessoal de ter alcançado o objetivo de
ingressar em um curso superior. Já para os jovens dos cursos de Direito (27,4%) e Engenharia
Civil (29,7%), o significado está majoritariamente associado a ser uma pessoa de referência,
tendo o prestígio e o status do curso superior escolhido (Tabela 15).
108
De maneira geral, o curso de Medicina se mantém entre os que mais atraem os jovens
no exame do vestibular/ENEM. A preferência por este curso, que apresenta uma relação
candidato/vaga de 72,38 (UFF, 2012) (Apêndice E), está relacionada, sem dúvida, ao
significado social que ele encerra, tal como prestígio social, boa remuneração, possibilidade
concreta de ajudar as pessoas etc.
Apesar do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda não ser visto sob
o mesmo prisma (talvez devido à falta de tradição), ele tem sido um dos cursos mais bem
reconhecidos socialmente. A intensa concorrência que se observa no vestibular – relação
candidato/vaga de 30,80 – (Apêndice E) pode estar relacionada à influência dos meios de
comunicação na sociedade contemporânea, o que têm exigido profissionais qualificados para
atuar nesse campo.
109
Com relação à opção dos jovens do curso de Direito, constatou-se que ainda prevalece,
no âmbito da sociedade, a imagem de um curso que possibilita o “status de ser doutor”,
devido ao seu elevado prestígio social construído ao longo da história no país.
Embora este curso, desde os anos de 1970, venha passando por um processo de
massificação, ele permanece como um dos cursos com maior número de candidatos/vaga e
nota de corte nos exames do vestibular da UFF em 2012 (Apêndices E e F). Os diferentes
campos de atuação oferecidos pelo curso podem ser elementos que contribuam para que ele se
mantenha entre os cursos mais concorridos.
Destaca-se, ainda, que a conclusão do curso superior de Direito não garante o
exercício da profissão: é necessário ser aprovado em exame de suficiência aplicado pela
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que, por apresentar alto nível de exigência, tem
aprovado um quantitativo cada vez menor, o que contribui para aumentar o prestígio social
desta carreira.
Também em Engenharia Civil o significado está relacionado ao status social que o
curso proporciona. É preciso ressaltar que, além de ser considerado um curso tradicional e que
ocupa posições de prestígio social, o crescimento consistente do país e as exigências do
mercado de trabalho neste campo de atuação podem ter exercido influência sobre as escolhas
profissionais destes jovens.
Para concluir, estudo realizado por Vargas (2010, p. 111) sobre as chamadas
“profissões imperiais” (Medicina, Direito e Engenharia) aborda sobre a situação dos
profissionais de Engenharia no mercado de trabalho:
Outro aspecto importante a ser analisado é o valor que os jovens atribuem aos cursos.
Sobre essa questão, 42,9% dos jovens de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda,
68,8% dos de Medicina e 60,7% dos de Engenharia Civil valorizam, sobremaneira, o
conteúdo das disciplinas/aula, enquanto 46,0% dos estudantes de Direito valorizam mais a
110
possibilidade de conseguir trabalho. O que nos leva a entender que este curso pode ser visto
como um passaporte empregatício a ser concedido após a conclusão (Tabela 16).
Ao evidenciarem o conteúdo das disciplinas/aulas como o aspecto que eles mais
valorizam nos cursos, esta pesquisa aponta que são altas as expectativas dos jovens em
relação ao conhecimento e à sua utilidade. As disposições favoráveis ao estudo demonstradas
por eles revelam a familiaridade com a cultura universitária e com os conhecimentos relativos
aos conteúdos das disciplinas dos cursos.
A afiliação dos jovens à vida acadêmica, expressa na valorização do conteúdo das
disciplinas e na projeção de conseguir trabalho, pode ser contemplada como questão favorável
à naturalização do ensino superior enquanto horizonte regulador dos seus futuros. O conceito
de afiliação é definido por Coulon (2008) como um processo de adaptação ativa a um novo
espaço, neste caso, à universidade, na qual se exige dos estudantes o domínio de certo número
de mecanismos e códigos para o alcance do sucesso acadêmico.
A afiliação é compreendida em três tempos distintos: o do estranhamento (inserção
dos estudantes a um novo contexto que não os é familiar), o da aprendizagem (fase de
assimilação e acomodação dos conhecimentos, de modo a adaptar-se progressivamente à
universidade), e o da afiliação (domínio e apreensão das regras, de modo a conduzi-lo ao novo
status social, o de veterano).
Este autor ainda destaca duas formas de afiliação. Uma é a institucional, que envolve a
compreensão da dinâmica da universidade enquanto instituição dotada de regras e formas de
funcionamento particulares. Neste caso, o estudante afiliado institucionalmente é aquele que
se adapta às normas da instituição, fazendo uso do seu espaço e assimilando suas rotinas. A
outra é a afiliação intelectual, que está relacionada à utilização das competências acadêmicas
para a apreensão dos conteúdos transmitidos na universidade e, assim, “navegar com
facilidade na organização, exposição e utilização adequada dos saberes” (COULON, 2008, p.
231). Cabe ressaltar que o processo de afiliação não é vivenciado pelos estudantes de forma
homogênea, ela ocorre de maneiras distintas e em tempos diferenciados.
111
A relação com os
professores 2 4,8 8 4,9 0 0,0 4 3,1 14 3,6
Possibilidade de
conseguir trabalho 12 28,6 75 46,0 16 26,2 22 17,1 125 31,6
O tema “trabalho” é sempre muito presente nas pesquisas sobre juventude. Elas
revelam diferentes significados atribuídos pelos jovens no que se refere a este assunto:
necessidades objetivas; utilização do dinheiro para seu próprio sustento; obtenção de
experiência profissional, dentre outros (MADEIRA, 1986). Isso quer dizer que o lugar que
essa instância ocupa na vida dos indivíduos varia de acordo com o contexto social no qual se
está inserido.
A par da universidade, o trabalho ocupa centralidade na vida de muitos jovens. Porém,
a relação com esses dois campos de socialização é vivenciada, em muitos aspectos, de forma
diferenciada por aqueles que precisam conciliar trabalho e estudo e aqueles que podem se
dedicar inteiramente aos estudos.
A realização de estágio no momento da formação universitária não pode ser
confundida com emprego. O primeiro corresponde a um momento em que os jovens
vivenciam, na prática, atividades relacionadas à sua futura área profissional, visando ao
aprimoramento de conhecimentos e habilidades apreendidos na universidade. Geralmente, o
112
estágio constitui um requisito obrigatório nos cursos superiores, podendo ser ou não
remunerado.
Com relação a atual atividade profissional na distribuição dos jovens nos cursos
investigados, constatou-se que o estágio corresponde à realidade da maioria deles: 85,7% em
Comunicação Social – Publicidade e Propaganda; 76% em Direito; 61,5% em Medicina; 63%
em Engenharia Civil. Em contrapartida, aqueles que possuem vínculo empregatício de carteira
assinada, representam baixos percentuais: Comunicação Social – Publicidade e Propaganda:
0,0%; Direito: 9,6%; Medicina: 3,8%; Engenharia Civil: 18,5% (Tabela 17).
Na tentativa de captar um pouco mais sobre a dinâmica da relação estabelecida entre
os jovens universitários e suas condições de trabalho, verificou-se que, nos dados da
ANDIFES (2016, p. 104), o estágio é a principal condição de trabalho em três regiões do país
(Centro-Oeste, 28,21%; Sudeste, 33,44% e Sul, 30,37%), com a maior participação relativa
entre os graduandos que trabalham. “Já na região Norte, a condição de trabalho ‘funcionário
público’ apresenta a maior participação entre os estudantes que trabalham (31,66%). E, na
região Nordeste, o trabalho ‘com carteira assinada’ é o mais frequente entre os estudantes que
trabalham (28,36%)”. Em âmbito nacional, o estágio continua sendo a principal condição de
trabalho dos jovens universitários (29,06%).
Tabela 17: Distribuição dos estudantes investigados na UFF segundo curso
e tipo de vínculo que representa a atual atividade profissional
Curso
Situação atual no Comunicação Social- Direito Engenharia Medicina Total
trabalho Publicidade e Propaganda Civil
N % N % N % N % N %
Carteira assinada 0 0,0 10 9,6 5 18,5 1 3,8 16 8,4
50
Refere-se aos jovens que trabalham e estudam, tendo no vínculo empregatício a garantia dos direitos
trabalhistas.
113
ingresso tardio no mercado de trabalho, de modo a poder investir o seu tempo na formação
universitária e a realizar o estágio que favorece melhor colocação no mercado de trabalho.
Entretanto, ao considerar apenas a inserção profissional, os dados da pesquisa do IBGE
(2012) nos apresenta outra realidade social, na qual o ingresso da população jovem no
mercado de trabalho é muito comum no Brasil: na faixa etária de 16 a 24 anos, 43%
trabalham e têm rendimento mensal de até um salário mínimo.
Ainda nesse contexto, por meio da análise das respostas dadas às questões abertas do
Questionário Exploratório (Apêndice A), foram identificados outros fatores que dificultam o
prosseguimento dos estudos e que levam, muitas vezes, ao trancamento e/ou abandono do
curso, tais como: doença na família, desmotivação com o curso, falta de flexibilidade dos
horários do curso, problemas de saúde, condição financeira e distância entre o local de
moradia e a universidade.
Por fim, entende-se que o ingresso na universidade não garante a permanência e a
realização de uma trajetória universitária satisfatória, uma vez que existe um conjunto de
questões objetivas e subjetivas que interfere no percurso dos estudantes investigados, de
modo a ser identificado por eles como obstáculos que dificultam o prosseguimento dos
estudos na universidade.
116
Outros
1 2,3 3 1,8 4 6,4 7 5,3 15 3,7
A atuação profissional futura dos jovens foi analisada a partir das respostas dadas a
seguinte questão: Em qual das atuações profissionais você pretende seguir? Nesta questão, a
opção “ser funcionário público” assume posição predominante nos cursos de Comunicação
Social – Publicidade e Propaganda, Direito e Engenharia Civil – 45,2%; 79,1% e 45,8%,
respectivamente. Em Medicina, há interesse maior (50,4%) em ter o próprio negócio (Tabela
20).
É possível que os jovens que almejam o funcionalismo público (Comunicação Social –
Publicidade e Propaganda; Direito e Engenharia Civil) estejam, provavelmente, priorizando a
estabilidade. Por outro lado, quem pretende ter o seu próprio negócio, ou seja, ser um
profissional liberal, apresenta respostas que caracterizam um perfil orientado para o mercado,
algo que se mostra mais expressivo nos jovens de Medicina.
Cabe destacar que muitas das expectativas profissionais dos jovens se relacionam com
as suas experiências pessoais e acadêmicas, de modo a contribuir para a elaboração de
projetos possíveis de serem alcançados dentro dos seus campos de possibilidades.
118
Tabela 20 : Distribuição dos estudantes investigados na UFF segundo curso e expectativa profissional
Curso
Expectati va Comunicação Social - Direito Engenharia Medicina Total
profissional Publicidade e Propaganda Civil
N % N % N % N % N %
Ter o próprio negócio 12 28,6 11 7,0 21 35,6 59 50,4 103 27,5
Com base nos dados recolhidos através das entrevistas serão apresentados relatos de
vida de jovens inscritos nos cursos superiores selecionados. Nesta etapa, apresento, a partir da
abordagem biográfica, as reconstruções dos relatos de vida de cada jovem enfatizando seus
processos de formação na universidade e, mais especificamente, nos cursos altamente
seletivos.
O conhecimento de suas vivências universitárias favorece o esboço do retrato da
realidade dos jovens ao possibilitar informar detalhes sobre: as trajetórias de escolarização
dos jovens que se encontram matriculados nos cursos seletos, as motivações para as escolhas
do curso superior, as tensões e os dilemas enfrentados na universidade, suas perspectivas
futuras e a identificação dos suportes utilizados pelos jovens no decorrer dos seus percursos.
Nesse sentido, adotou-se uma perspectiva de análise que leva em conta as experiências plurais
vivenciadas pelos jovens em diferentes tempos e espaços sociais nos quais eles estão
inseridos.
No quadro a seguir, apresento as principais características dos jovens participantes da
etapa de entrevista, visando revelar da forma mais detalhada possível quem são os jovens
entrevistados que se encontram em quatro cursos de alta seletividade na UFF.
119
Ensino Médio Ensino Fundamental Ensino Superior Ensino Superior Ensino Superior Ensino Médio
Escolaridade da Mãe (Completo) (Incompleto) (Completo) Pós-graduada Pós-graduada (Completo)
Ensino
Ensino superior Ensino Fundamental Ensino superior Pós- Ensino Superior Ensino Fundamental
Escolaridade do Pai Fundamental
Pós-graduado (Incompleto) graduado Pós-graduado (Incompleto)
(Incompleto)
Irmãos 0 02 01 01 01 02
Renda familiar per Mais de 11 SM De 5 a 8 SM Mais de 11 SM De 2 a 5 SM Mais de 11 SM De 2 a 5 SM
Ensino Médio Ensino Médio Ensino Médio Ensino Médio Ensino Superior Ensino Médio
Escolaridade do Pai (Completo) (Completo) (Completo) (Completo) Pós-graduado (Completo)
Irmãos 01 01 01 01 01 01
Renda familiar per
Mais de 11 SM De 2 a 5 SM De 8 a 11 SM De 5 a 8 SM Mais de 11 SM De 2 a 5 SM
capita
A narrativa a seguir relata a história de uma jovem parda, com cabelos castanhos
e crespos, mas que se autodeclara mestiça por possuir certa combinação de
características físicas de pessoas negras e brancas. Com o seu jeito tímido e delicado na
maneira de falar, Beatriz, no decorrer da entrevista, nos conta sobre o seu percurso na
universidade e nos revela como a formação acadêmica ampliou o seu horizonte no que
se refere à conquista de autonomia.
Ela é uma jovem que, no momento da entrevista, tinha 22 anos e cursava o oitavo
semestre de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda na UFF. Beatriz reside
com seus pais em um bairro muito conceituado de Niterói, onde os residentes possuem
entre médio e alto poder aquisitivo. A renda familiar de sua família, por exemplo,
equivale a mais de 11 salários mínimos.
Ainda no que se refere ao local de moradia, Beatriz menciona que já morou no
município do Rio de Janeiro. Porém, seus pais se mudaram para Niterói quando ela
tinha cinco anos, o que a fez viver neste município desde a sua infância até os dias
atuais. Sendo filha única, Beatriz destaca que sempre teve regalias e uma vida muito
confortável.
Quanto ao nível de instrução dos seus pais, sua mãe tem ensino médio completo
e trabalha como atriz. Já o seu pai é formado em Administração, com pós-graduação em
Markentig. Ele é empresário dono de uma corretora de seguros, mas também possui
outro estabelecimento: uma loja de roupa social sob medida.
Quando perguntei sobre a sua vida escolar antes do ingresso na universidade,
Beatriz relatou fatos ocorridos em seu percurso que deixaram recordações não muito
agradáveis ao longo da sua escolarização no ensino fundamental. Ela narra que cursou a
educação infantil e o primeiro segmento do ensino fundamental na mesma instituição
privada, dando continuidade com sua turma desde a alfabetização até a 4° série (atual 5°
ano). Entretanto, devido a problemas com bullying, seus pais a mudaram de escola no
início do segundo segmento do ensino fundamental.
Este fato narrado acima nos mostra uma realidade social marcada pelo racismo e
pela discriminação, à qual muitas crianças e jovens é confrontada desde a mais tenra
idade ainda na escola. O interesse dessa jovem por mudar de escola representa uma
alternativa encontrada para conseguir superar os obstáculos aparentemente não
ultrapassados durante sua estada na escola.
Em seu relato, ela menciona que seus pais sempre tiveram preocupação com a
sua vida escolar. Ao mudar de escola no ensino fundamental, seu pai a colocou em outra
escola da rede ensino particular, onde ela estudou do segundo segmento do ensino
fundamental até o ensino médio. Tal escola se situa no bairro Icaraí e possui a tradição
de preparar os estudantes para o vestibular, oferecendo o ensino médio com formação
geral. Além disso, essa escola desenvolve preparação específica para o vestibular
através de aulas aos sábados e domingos para os seus estudantes.
Nota-se que, quando essa jovem escolhe um caminho esperado pela família sem
ter grande autonomia em suas escolhas, posteriormente, ela começa a repensar o seu
percurso de vida. Apesar dela não ser enfática no que se refere à falta de liberdade para
tomar suas próprias decisões, o movimento de indagações acerca da escolha da
universidade elucida novas reflexões.
Cabe ressaltar que existem diferentes maneiras dos pais influenciarem seus
filhos na escolha da carreira. Por mais horizontais que algumas relações familiares
possam ser, elas pressupõem modos muito sutis de estabelecimento de controle e
autoridade que nem sempre se mostram explícitas. Isso significa dizer que muitos dos
modelos de subordinação existentes no seio familiar geram diferentes formas de
dependência e determinam, em grande medida, o nível de autonomia dos jovens.
Os estudos de Almeida (2009, p. 119) apresentam diferenças conceituais entre
autonomia e dependência. O primeiro conceito pode ser definido como “um conjunto de
(in)competências psicosociológicas transitórias ou permanentes, também servindo para
aferir a condição global do sujeito face a outros, numa ou em todas as dimensões de sua
existência, independentemente da fase do ciclo da vida”; enquanto que a independência
se resume à “autossuficiência do indivíduo no que diz respeito aos recursos que
mobiliza para agir”.
Na identificação de alguns aspectos que reforçam essa busca pela autonomia, foi
possível verificar que a viagem de Beatriz para a realização de um curso nos Estados
Unidos no período de um mês, mais precisamente nas férias da universidade,
possibilitou ter novas experiências e maior autonomia em suas escolhas frente à
sustentação e à tolerância do meio familiar. Essa experiência no exterior a levou a tomar
suas próprias decisões no que se refere ao rumo de sua vida futuramente, o que a faz
relatar que pretende fazer o mestrado fora do Brasil.
Eu acho que por eu ser filha única meus pais sempre tiveram essa
visão de me dar uma educação mais completa, me dar coisas que eles
não tiveram. Então, essa experiência no exterior foi uma oportunidade
que eu tive de fazer um curso nos Estados Unidos. Aí que eu vi o que
125
a sua coordenadora. Depois, ela foi aprovada em um processo seletivo de uma emissora
de TV, onde iniciou o seu segundo estágio, no setor de aquisições. Ela explica que é a
partir da rede social Facebook que recebe informações sobre as oportunidades de
estágio em Comunicação Social- Publicidade e Propaganda.
Por recomendação de um professor da universidade, durante o período de
estágio na emissora de TV, ela começou outro estágio em uma produtora que fazia
longas-metragens. Mas, devido à dificuldade de conciliar dois estágios, ela preferiu sair
da emissora de TV. Em suas narrativas, ela menciona que decidiu arriscar essa mudança
de estágio porque estava no dilema de querer seguir a área de cinema. No entanto,
posteriormente, afirma que se arrependeu de ter saído do estágio da emissora de TV. Tal
insegurança referente à escolha profissional pode ser compreendida em seu relato:
Ainda sobre suas experiências nos diferentes estágios, foi possível identificar
que a formação acadêmica tem lhe possibilitado vivenciar diversos campos de atuação
de maneira que possivelmente contribuirá para a sua inserção e o seu futuro crescimento
profissional. No entanto, tais vivências só foram possíveis devido à realidade social em
que ela está inserida, onde tem a possibilidade de dedicar o seu tempo à vida acadêmica,
uma vez que não tem a obrigação de trabalhar para se sustentar.
Nesse sentido, Beatriz parece desfrutar de uma situação confortável ao morar
com os pais, o que lhe permite se concentrar nos estudos e nos estágios, estando sempre
disponível para investir seu tempo em sua formação universitária. De acordo Almeida
(2004, p. 91), com o prolongamento da juventude, as famílias têm passado por um
processo de “(re)definições e (re)configurações das dinâmicas de convivência familiar”,
onde os pais se tornam “o principal suporte financeiro e instrumental de apoio material
nas trajetórias juvenis” no processo de transição para a vida adulta.
No que diz respeito aos seus planos para o futuro, Beatriz relata que pretende,
após o término da universidade, concorrer a uma bolsa de estudos no exterior para fazer
o mestrado. Por isso, tem produzido trabalhos acadêmicos a fim de otimizar a sua
participação em um processo de seleção de bolsas. Em seu relato, os conceitos de
independência e autonomia reaparecem quando ela fala sobre a oportunidade de
128
realização do mestrado no exterior. Sabe-se que o fato dela possuir certo conhecimento
das exigências acadêmicas e das estratégias de investimento contribui de maneira
significativa para a sua participação em um processo de seleção de bolsa no exterior.
4.3.2 Pedro: um percurso de vida marcado pela expectativa por ascensão social
51
Cabe ressaltar que, este município é o segundo mais populoso do estado, atrás apenas da capital do Rio
de Janeiro.
130
Sobre suas experiências com trabalho, Pedro relata que no ensino médio, mais
precisamente, no primeiro e no início do segundo ano letivo, trabalhou no comércio
com o seu pai após o término de suas aulas na escola. Ele explica que estudava em casa
apenas quando precisava porque tinha facilidade de aprender e de fazer os exercícios
rapidamente no final do dia. Neste caso, o trabalho parece ser concebido como espaço
de sociabilidade, como uma maneira de colaborar com seu pai no pequeno negócio de
sua propriedade. Sendo assim, essa experiência laboral não se relaciona com uma
necessidade de sobrevivência que pudesse vir a comprometer a sua escolarização.
Posteriormente, Pedro diz que deixou de trabalhar com o seu pai para fazer um
curso no SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de mecânica de
usinagem, como jovem aprendiz52 . Através desse curso, Pedro se inseriu em uma
empresa do ramo para aprimorar as habilidades profissionais. Essa experiência
aconteceu a partir do meado do segundo ano até o início do terceiro ano do ensino
médio, no contraturno do horário da escola, o que corresponde ao período de duração do
curso no SENAI. Após a realização desse curso, Pedro dedicou o seu tempo apenas aos
estudos visando se preparar para o vestibular.
Com relação à fase de escolha do curso superior, Pedro narra que ficou muito
perdido sobre a carreira a seguir. Para ele, foi um momento muito cruel por, ainda muito
cedo, ver-se obrigado a escolher o que faria pelo resto da vida. Por ter feito o curso de
mecânica de usinagem, ele sabia que não tinha vocação para esta área, pois se considera
bom apenas com a teoria, tendo com poucas habilidades para a prática. Pensou em fazer
graduação em Matemática, mas desistiu após refletir sobre a atuação do professor e
também porque sabia que essa profissão não lhe traria muito retorno financeiro.
Identifica-se que sua escolha resultou de uma análise que leva em conta a inserção e o
52
A lei n. 10.097, de 19 de dezembro de 2000, determina como aprendiz o jovem contratado diretamente
pelo empregador ou por intermédio de entidades sem fins lucrativos, e que tenha a faixa etária entre 14 e
24 anos e esteja matriculado e frequentando a escola.
133
campo de atuação das profissões, mas também as chances de, a partir da aquisição do
diploma, alcançar certa ascensão social.
Pedro teve conhecimento sobre feiras das profissões através da escola. Nelas, ele
passou a ter acesso a várias informações e palestras sobre diversos cursos. Ele conta
que, após ter visitado algumas delas, muitas vezes organizadas pelas próprias
universidades, conheceu a área de mobilidade urbana e se interessou pelo assunto, o que
o levou a pesquisar na internet sobre esta formação no ensino superior. Em suas
pesquisas, descobriu que existiam apenas duas universidades federais – a Universidade
Federal de Santa Catarina e Universidade Federal de Itajuba, em Minas Gerais – que
ofereciam o curso. Mas depois ele percebeu que a mobilidade urbana era um ramo do
curso de Engenharia Civil e optou, então, por este curso superior. Dessa maneira, ficou
satisfeito também por evitar ficar longe dos seus pais e viver sozinho em outro estado.
Os contextos não escolares vivenciados por este jovem nos mostram os
múltiplos espaços onde a sociabilidade pode ser construída, revelando-nos que os
diferentes espaços de relações sociais se manifestam como canal de diálogo com o
mundo ao seu redor.
O conhecimento sobre diferentes campos de atuação das áreas de seu interesse e
as experiências como jovem aprendiz lhe possibilitou ter uma visão mais ampla sobre as
possibilidades para a sua inserção laboral. Além disso, o acesso a outros contextos,
como as feiras de profissões, parece ter redefinido a sua escolha profissional dando um
novo sentido e despertando-lhe o interesse pelo campo da Engenharia Civil.
Pedro relata ainda que sua mãe, por sua vez, ficou receosa e não gostou muito da
sua ideia de fazer o curso de Matemática. Mas depois quando ele começou a demonstrar
interesse pela Engenharia Civil, ela ficou mais satisfeita por acreditar que esta seja uma
área com maior mercado de trabalho e que lhe traria retorno financeiro. Essa situação
nos mostra como a família, mais precisamente, a mãe, pode influenciar nas escolhas dos
filhos.
Ao falar sobre a prova do vestibular, ele conta que, no dia, ainda não se sentia
preparado e que ficou preocupado com algumas questões. Ele menciona que não ficou
confiante com o seu desempenho na prova. Mas quando soube a nota final, percebeu
que tinha chance de ingressar na universidade.
Diante da incerteza de sua convocação pela UFF, Pedro começou a frequentar o
curso pré-vestibular porque pensava que teria que se preparar para o exame por mais um
ano. Mas, no segundo semestre do ano letivo, ele foi convocado na reclassificação, o
que o levou ao trancamento do curso preparatório. Observa-se que, assim como para
muito jovens, o vestibular foi vivido de forma intensa e rodeado de insegurança.
Em sua narrativa, fica evidente sua admiração pela conquista do ingresso à
universidade. Ele demonstra reconhecer que todo esforço realizado – como por
exemplo, a privação de sair para ficar estudando, deixar de namorar etc – foi
fundamental para a sua aprovação no vestibular imediatamente após a conclusão do
terceiro ano do ensino médio, mesmo que não tenha sido convocado na primeira
chamada.
No entanto, para além da sua própria mobilização e esforço em alcançar o
objetivo de ingressar no ensino superior, em seu percurso, é possível observar outros
fatores que contribuiram para a aprovação no vestibular, como por exemplo, o
investimento familiar ao longo de sua escolarização.
A entrada de Pedro na universidade assume em sua narrativa um lugar de
aquisição de novos conhecimentos e aprendizagens, que se tornou possível através de
um projeto construído e executado em seu percurso de escolarização. Ele parece definir
a sua entrada no ensino superior como a realização do seu projeto de vida, de modo a
conjeturar novos projetos para após a concretização dos estudos na universidade como,
por exemplo, fazer outro curso visando ter novos conhecimentos, e não apenas pela
questão financeira ou status advindo da formação.
passou a ter um ritmo de vida e um tipo de ensino com especificidades próprias. Para
ele, essa dificuldade de adaptação ao novo sistema institucional o levou a tirar notas
baixas nas avaliações das disciplinas consideradas mais difíceis, aquelas que envolvem
cálculo, álgebra lineal e física. Ele explica que isso aconteceu apesar de dedicar grande
parte do seu tempo (manhã, tarde e noite) à vida universitária.
Cabe ressaltar que a empresa Júnior citada por Pedro é denominada Meta
Consultoria- Empresa Júnior de Engenharia e Gestão de Negócios da Universidade
Federal Fluminense. Ela é uma instituição sem fins lucrativos, gerida apenas por
estudantes da universidade que lidam com projetos e com rotina de uma empresa. Os
projetos desenvolvidos são orientados por professores ou por um profissional de
mercado especializado no assunto do projeto.
Na tentativa de explicar o seu cotidiano na universidade, Pedro afirma que sua
jornada diária é bem cansativa, dedicada aos estudos, a monitoria e o estágio. No
período da manhã, ele sempre tem aulas e realiza a monitoria na disciplina de
resistência de materiais. Segundo ele, é o turno em que se encontra o maior número de
disciplinas. Depois, ele segue para o estágio, em uma empresa localizada em Niterói, e
em seguida retorna à universidade para realizar as disciplinas do turno da noite.
Ainda sobre sua experiência no estágio, ele enfatiza que a empresa tem o
costume de contratar estudantes da UFF e que os donos conhecem a grade curricular e
os horários das aulas, de modo a permitir que os estagiários realizem a carga horária de
20 horas de acordo com os horários disponíveis de cada um. Essa flexibilidade de
horário e a localização da empresa são mencionadas por Pedro como fatores vantajosos.
Ele acrescenta que, quando necessário, é possível faltar o estágio para estudar para uma
determinada prova e, posteriormente, ele compensa a carga horária pendente em outro
dia.
No que diz respeito às suas perspectivas de futuro, Pedro ressalta que, embora
sua maior motivação para entrada no curso de Engenharia Civil tenha sido a área de
mobilidade, ainda tem muitas dúvidas sobre o campo de atuação que pretende seguir,
principalmente, diante dos muitos segmentos que se pode trabalhar.
138
Ainda não decidi, ainda tenho tempo para pensar. Mas eu fico
pensativo porque temos muitos caminhos. Dentro da própria
Engenharia Civil, a gente tem muitos segmentos que podemos
trabalhar. Mas como eu falei, o que me motivou a entrar na
Engenharia foi a área de mobilidade, mas como aqui na UFF a gente
tem poucas matérias sobre esse assunto, ainda não sei se vou querer
seguir de fato essa área.
Pedro reconhece que, atualmente, apesar de ainda estar indeciso sobre suas
perspectivas futuras, está mais voltado para a área de estruturas e que está bastante
inclinado para estudar para concurso público. Ele pensa tanto na possibilidade de prestar
um concurso público, a fim de ter estabilidade e uma boa remuneração, quanto nas
chances de entrar no mercado de trabalho privado.
Hoje em dia, eu estou muito mais voltado para área de estruturas, mas
ainda não sei se tentarei um concurso público pela estabilidade e uma
remuneração bacana ou se vou para o mercado privado. Acho que está
muito incerto, com essa crise econômica, ninguém está chamando
novos engenheiros para trabalhar, então, a gente fica meio incerto,
inseguro. Mas, hoje em dia, eu estou mais inclinado a estudar para
concurso público.
estar situada entre as escolas da cidade do Rio de Janeiro como aquela que apresenta
privilegiadas condições de ensino e melhores resultados no ENEM53 .
A escolha por esse estabelecimento foi marcada pela tradição familiar e pelo
status social que essa escola possui, pois sua mãe é católica e estudou nesta mesma
instituição. Já o seu pai tem como religião o judaísmo e concordou com a realização da
trajetória escolar dos seus filhos nesta instituição por ser considerada uma escola
conceituada na cidade do Rio de Janeiro. A partir do relato de Vitor, percebe-se que a
escolha por esse estabelecimento de ensino produziu uma tensão familiar devido à
religião do seu pai, embora ele aceitasse a decisão de sua mãe:
Os professores são muitos rígidos, as provas não são fáceis, não basta
só ir para aula e estudar de véspera, a gente tinha que sempre estar
estudando e se dedicando bastante. Por isso que falo que é puxado,
porque o nível de exigência nas provas era muito alto e eles não
aliviavam na recuperação.
53
A instituição de ensino frequentada pelo entrevistado se encontra no ranking que revela as escolas
públicas e privadas do Rio de Janeiro que tiveram os melhores resultados no ENEM. Disponível em
http://www.csbrj.org.br/novo/wp-content/uploads/2015/08/Jornal-O-Dia4.pdf Acesso em: 21de agosto de
2016.
141
Estados Unidos por causa do trabalho do seu pai. Quando retornou para o Brasil,
ingressou no curso de inglês, concluindo o curso antes do período determinado.
No último ano do ensino médio, Vitor viajou novamente para o exterior com sua
família para Nova York, Paris e Londres. Ele relata que tem um tio que mora em Nova
York e que esse fato facilita a sua ida para o exterior. Percebe-se que essas viagens
proporcionadas por sua família também se constituem como uma importante etapa da
vida e da formação pessoal deste jovem. Além disso, elas se configuram, muitas vezes,
como estratégia da família com vistas a oferecer aos filhos o contato com outra cultura,
formas de socialização e aprendizado da língua.
Seus pais deram todo o apoio que Vitor precisava na época de preparação para o
vestibular e não interferiram na sua escolha pelo curso de Medicina. Ele menciona que a
família da sua mãe, principalmente seus avós, adora a sua escolha pela área médica. No
entanto, a pressão que Vitor tinha para as provas do vestibular era mais pessoal, pois ele
se cobrava muito visando alcançar melhores resultados nos exames. Ele relata que seus
pais sempre lhe falavam que ele poderia tentar novamente caso não fosse aprovado em
sua primeira tentativa.
Vitor relata que teve uma nota muito ruim no Enem, o que não lhe possibilitaria
o ingresso no curso de Medicina. Porém, neste mesmo período, ele também realizou os
vestibulares tradicionais de algumas universidades públicas como, por exemplo, o
último vestibular da UFF, onde ele conseguiu tirar uma boa nota e ser aprovado no
curso escolhido. No entanto, ele teve que aguardar a reclassificação porque sua nota não
foi o suficiente para ser convocado logo na primeira.
Diante da incerteza de sua convocação pela UFF, decidiu, após o término do
ensino médio, ingressar em um curso pré-vestibular com o objetivo de se preparar
novamente para a prova do vestibular. Entretanto, após alguns meses, foi convocado
através da reclassificação da UFF e abandonou o pré-vestibular.
Entrar na universidade foi uma conquista e também um alívio porque ele estava
muito inseguro com relação à sua convocação pela UFF. Ele ingressou nesta
universidade no início do segundo semestre e logo teve uma greve, o que fez com que
suas aulas retomassem apenas no mês de novembro. Para Vitor, o ingresso na
universidade foi muito importante em sua vida porque ele conseguiu concretizar o seu
projeto de inserção no curso de Medicina em uma instituição federal.
Atualmente, Vitor reside em um apartamento em Niterói a fim de evitar o
deslocamento para a cidade do Rio de Janeiro. Ele relata que morar sozinho não está
143
sendo tão difícil porque tem uma diarista que vai uma vez por semana no seu
apartamento. “Eu fico totalmente longe de minha família. Mas foi muito bom porque é
muito puxado ir e voltar todo dia de ônibus e de barca.”
Apesar de morar sozinho, nota-se que ele não possui independência financeira,
pois usufrui dos recursos econômicos da sua família. Em seu percurso, a constituição de
uma família e a inserção no mercado de trabalho são projetos que aparecem para após a
conquista da sua formação acadêmica, o que faz com que ele prorrogue as
responsabilidades da vida adulta.
Vitor se considera um jovem muito responsável, pois não é de gastar seu
dinheiro com o desnecessário, e quando precisa comprar alguma coisa ele utiliza o
cartão de crédito fornecido por seus pais. Mas, como seus pais estão se separando, ele
afirma que a situação financeira está um pouco mais complicada, mas mesmo assim,
afirma que está sendo muito mais responsável em relação ao seu dinheiro, tendo a
conscientização de seus gastos e despesas.
Identifica-se que Vitor tem uma vida muito confortável devido à situação
financeira de seus pais, o que lhe proporciona uma moradia perto da universidade e o
pagamento de uma diarista que o ajuda nos afazeres domésticos. Tais fatores facilitam o
prosseguimento dos estudos na universidade.
Para este jovem, o início da vida universitária foi difícil porque eram oferecidas
matérias básicas de seu curso e muitos professores faltavam às aulas. Além disso, ele
menciona a péssima conservação dos cadáveres das aulas práticas. Ele demonstra estar
muito decepcionado com a falta de comprometimento de alguns professores e de
infraestrutura da universidade.
Outro fator que dificulta o seu percurso na universidade é a carga horária de
algumas disciplinas. Nos primeiros períodos de Medicina, ele relata que são oferecidas
disciplinas da área médica, mas também temas sociais e culturais como, por exemplo,
violência contra mulher, lixos nas comunidades etc. Para ele, essas disciplinas
relacionadas a temas sociais poderiam ter uma carga horária menor nesse curso.
As experiências de Vitor, em período mais avançado do curso de Medicina,
permitiram-no ter uma visão mais ampla sobre as suas dificuldades em seu percurso de
formação, o que o leva a apontar a necessidade de reformulação da carga horária de
algumas disciplinas do seu curso.
Vitor conjuga o curso de Medicina com outras ocupações no seu dia a dia. Ele
faz estágio em Neuroanatomia e afirma que ainda não recebe auxílio financeiro. Seu
144
objetivo é conseguir, posteriormente, uma vaga de monitoria nesta área. Decidiu, então,
fazer esse estágio porque reconhece que, futuramente, esse conhecimento será muito
importante para a realização da residência médica.
Ele tem como projeto trabalhar em um hospital, porque afirma que gosta da
dinâmica e do ambiente hospitalar, e pretende fazer concurso público para ter
estabilidade. Além disso, Vitor projeta abrir uma clínica particular a fim de fazer
atendimento ambulatorial. Ele se mostra otimista em relação ao seu futuro no que diz
respeito à sua vida pessoal e profissional, construindo projetos possíveis de ser
realizados dentro do contexto social no qual está inserido.
Vitor não considera que a UFF esteja lhe preparando por completo para os seus
futuros desafios, pois relata que os estudantes precisam buscar cursos extracurriculares
para completar a sua formação universitária. Um exemplo é o curso de
Eletrocardiograma que considera ser uma formação muito importante para os
estudantes, mas que recebem, na UFF, apenas um conhecimento bem irrisório.
Vitor enfatiza em sua narrativa sobre a necessidade de complementar sua
formação para além do espaço acadêmico. Ele explica que busca por meio de aulas on
line e cursos extracurriculares os conhecimentos que não foram apreendidos na
universidade. Nota-se um esforço pessoal do estudante em aperfeiçoar os seus
conhecimentos buscando outras ferramentas pedagógicas. O acesso ao conhecimento
através da mídia digital mostra como os jovens têm usufruído de múltiplos espaços de
aprendizagem, revelando a esfera tecnológica como um canal de diálogo com o mundo
ao redor.
Ao analisar o percurso de Vitor, conclui-se que a participação ativa da família
em sua vida escolar se mostrou como um sinal de valorização da educação
institucionalizada. Verificou-se o investimento familiar na educação básica através da
matrícula em escolas privadas consideradas de excelência, o que o permitiu projetar o
ingresso em uma das melhores universidades e em um curso altamente seletivo.
Por fim, o contexto social de Vitor permite afirmar que ele pertence a uma
família ocupante de altas posições na escala econômica, uma vez que eles dispõem de
recursos materiais e condições de vida acima da média da população. Este fato se
evidenciou no percurso de Vitor por meio de alguns indicadores no seu modo de vida:
investimentos familiares na trajetória de escolar desse jovem em instituições privadas de
excelência; a realização de viagem para o exterior e a localização residencial, que se
encontra em um dos bairros mais nobres da cidade do Rio de Janeiro, onde o preço do
145
caso de Melissa, ao invés de brincar com outros estudantes no horário do recreio, sua
prioridade na escola consistia em dedicar o seu tempo à leitura de livros e a frequentar a
biblioteca.
Na adolescência, Melissa se considerava uma pessoa diferente dos seus amigos
do colégio devido ao seu comportamento. Ela conta que tinha gostos diferentes, que não
se encaixava muito bem nos grupos da escola. Ela não tinha muitos amigos, nem era
muito de sair, se contentava de ficar em casa na companhia de um livro. O seu gosto
para livros eram bem eclético. Ela lia desde fábulas, livros infantis e de religião até os
de antropologia da sua mãe. O seu gosto para filmes e músicas também eram distintos
dos de seus colegas de escola. Suas narrativas expressam que tinha uma maneira de
viver a juventude intimamente relacionada às suas próprias escolhas e à satisfação de
suas vontades, confrontadas às múltiplas possibilidades de se expressar e apreciar a
vida:
Ainda sobre o meu comportamento, não me adaptava à escola. Eu não
era a mais bonita, não estava entre o grupo das meninas populares,
com celular da moda, roupa da moda e também não tinha o costume
de sair à noite. Eu queria discutir política e ler livros. Eu ouvia outro
tipo de música porque a minha socialização na escola era diferente da
minha socialização familiar. Em casa, eu escutava músicas totalmente
diferentes do pessoal da escola. Fui criada ouvindo soul, jazz, blues,
MPB, samba de raiz, uma mistura de referências.
Com relação à trajetória escolar no ensino médio, Melissa narra que desde o
primeiro ano do ensino médio já tinha como objetivo se preparar para prestar o
vestibular e cursar o ensino superior, assim como sua mãe. Em seu relato, sobressai uma
forte identificação com a figura materna, cujas influências são visíveis, inclusive, no seu
gosto pela leitura e pela interiorização dos valores educacionais, de forma a fazê-la
pensar desde cedo na possibilidade de prolongamento dos estudos. Da mesma maneira,
expressa sua reflexão sobre uma possível inserção profissional após o término do ensino
médio, demostrando o real motivo que a levou a optar pelo ensino superior:
Melissa diz que, para cursar o ensino médio, só conseguiu vaga em um colégio
da rede estadual no turno da noite, onde estudou os dois primeiros anos desta etapa de
147
ensino. Somente no terceiro ano pode mudar para o turno da manhã. Ela destaca que, no
início, não ficou satisfeita em cursar o ensino médio noturno por ter uma visão negativa
da qualidade do ensino ofertado neste turno. Entretanto, esta forma de conceber o
ensino médio noturno foi modificada quando passou a ter convivência com os colegas
de sala de aula, conforme se observa no relato seguinte:
Nota-se que o discurso sobre o ensino médio noturno narrado por Melissa é
muito comum devido às representações negativas constituídas na nossa sociedade e que
afirmam que o mesmo oferece um ensino aquém do ensino diurno e que estaria
destinado aos jovens trabalhadores ou àqueles com trajetórias escolares já marcadas por
repetência ou evasão. No entanto, suas vivências a levaram a ter uma nova visão sobre o
ensino noturno, de forma a valorizar as relações sociais nele instituídas.
Sobre a sua formação no ensino médio, ela nos conta que teve aula com bons
professores que a ajudaram muito em sua preparação para o vestibular, embora a escola
não oferecesse uma formação voltada, especificamente, para esse objetivo. As ações
empreendidas por seus professores, como explicação e correção de questões, são
mencionadas em sua narrativa como situações que contribuíram para sua aprovação no
vestibular. Ela destaca a sua relação com os professores de Português, Matemática e
Química e o suporte recebido por eles na escola:
Foi possível identificar que a escolha pelo curso de Direito resultou não apenas
de uma experiência vivenciada no seu percurso biográfico, mas também por levar em
conta uma futura atuação profissional e as chances de, a partir da formação, alcançar
certa ascensão social.
Ela narra que, a princípio, gostaria de seguir o mesmo percurso de sua mãe e que
pensou no curso de Filosofia, mas desistiu por considerar um campo de estudo muito
abstrato. Depois, ela ficou com dúvida entre Ciências Sociais e Direito. Mas, sua mãe a
orientou, a partir de sua própria experiência de vida, que seria melhor ela cursar Direito
devido à possibilidade de conseguir melhores oportunidades no mercado de trabalho.
Tudo indica que, de fato, o acesso de Melissa ao ensino superior recebeu influências da
família, mas mais precisamente de sua mãe.
O curso de Direito também lhe chamou mais atenção porque, além de favorecer
uma futura condição social, ela teria a oportunidade de estar ajudando pessoas que
encontram dificuldades na vida. Assim, nota-se, em seu discurso, que suas intenções
para a realização do curso de Direito também perpassam por certa preocupação com as
questões sociais, embora ela tenha escolhido o curso visando à obtenção de
reconhecimento social e uma futura condição financeira.
É importante destacar que o fato de Melissa não precisar trabalhar lhe
possibilitou dedicar o seu tempo aos estudos, tanto no período do ensino médio como
durante o seu percurso na universidade. A ausência de emancipação econômica dos
jovens traz à tona a questão das negociações de direito frente à sua autonomia, uma vez
149
geralmente, as pessoas conseguiam uma vaga por intermédio de algum político ou tipo
de indicação.
Como Melissa estuda na UFF em horário integral (manhã e tarde), ela relata que,
nos primeiros meses, seus pais custeavam suas despesas com as passagens de ida e volta
para a universidade e com a alimentação. Posteriormente, quando ela conseguiu uma
vaga no transporte universitário público, ela passou a retornar para casa, mas apenas no
final da noite, de acordo com o horário do ônibus.
A partir da análise do relato de Melissa, percebeu-se que, desde o ingresso na
universidade, seu percurso foi marcado por provas/desafios que poderiam ocasionar
desânimo e, consequentemente, o abandono do prosseguimento dos estudos. Porém,
observou-se também a determinação desta jovem em continuar na universidade em
meio às desigualdades sociais que poderiam impedir sua permanência. Sendo assim, é
possível afirmar que as dificuldades acadêmicas enfrentadas por ela perpassam pela
falta de recursos materiais para custear as despesas com a universidade.
Melissa nos revela que, depois de três anos de idas e vindas entre a Região dos
Lagos e Niterói, a situação financeira de sua família melhorou, principalmente, porque
sua mãe começou a receber um salário melhor, mas também por ela ter conseguido um
estágio e uma bolsa de iniciação científica na universidade. Esses fatos relatados por
Melissa a possibilitaram se mudar para Niterói, mais próximo da UFF.
Em seu percurso biográfico, averiguaram-se características de uma estudante
com uma grande mobilização familiar em prol do prolongamento da sua escolaridade,
mesmo que sua família não conte com suficiente recursos econômico para efetuar
investimentos no decorrer de sua trajetória escolar.
Ao recordar o seu percurso na universidade, Melissa relata que passou a se
identificar com o curso de Direito no segundo período, quando teve como disciplinas
Antropologia Jurídica e Sociologia. A identificação com estas disciplinas ocorreu
através de boas aulas ministradas pelos professores e, mais precisamente, quando
precisou fazer um trabalho de campo. Essa experiência no curso de Direito foi
importante para ela porque a ajudou a perceber o real sentido da universidade para sua
vida e a refletir sobre suas possíveis atuações futuras frente à sua formação na
universidade.
sua vida.
Melissa narra que tem o objetivo de prestar um concurso público antes de
concluir a universidade. E depois, buscará realizar o mestrado em Sociologia do Direito.
Ou seja, sua intenção é passar em um concurso na área jurídica para, posteriormente,
conseguir ingressar na vida acadêmica. Ela relata que não é uma tarefa fácil conseguir
bolsa de estudo no mestrado em Sociologia em Direito, por isso, pretende se consolidar
financeiramente para não precisar depender de bolsa.
Seus relatos expressam ações que têm como objetivo o alcance de sua futura
inserção profissional e realização pessoal através do mestrado em Sociologia em
Direito. Melissa parece valorizar a sua formação acadêmica por lhe proporcionar certa
preparação para a conquista de seus objetivos de vida.
Com relação à sua formação universitária frente aos seus desafios futuros,
Melissa diz que a universidade está lhe preparando muito mais para ter uma vida
acadêmica do que para o mercado de trabalho. No entanto, ela busca aproveitar ao
máximo possível das aulas porque, segundo ela, o conteúdo será útil no momento de
prestar um concurso público.
Dentre alguns dos aspectos a serem destacados em seu relato, a experiência
positiva como bolsista de iniciação científica e o estágio parece ter sido fato importante
no seu percurso por ter possibilitado uma formação continuada que lhe ajudou também
nas despesas com a universidade e a moradia. Assim como para muitos jovens,
conseguir uma fonte de renda, ainda que proveniente de bolsa de iniciação científica
e/ou estágio, pode funcionar como suporte no enfrentamento de algumas dificuldades
encontradas no percurso universitário.
Além das diferenças sociais que permeiam sua vida no espaço universitário, foi
possível constatar que esta jovem parece reconhecer a sua própria situação de
vulnerabilidade, de modo a buscar superar as provas que dificultam a sua permanência
na universidade. Sendo assim, ela busca não desperdiçar as eventuais oportunidades que
lhe aparecem por serem contempladas por ela enquanto investimento em sua formação
universitária.
153
Já no terceiro ano do ensino médio, Carlos relata que seus pais o mudaram
novamente de escola visando sua melhor preparação para o vestibular. Percebe-se que
seus pais sempre tiveram, ao longo da sua trajetória escolar, preocupação com a sua
formação, o que os levou a colocá-lo no segundo segmento do ensino fundamental e no
ensino médio em instituições privada de excelência com melhores colocações no
ranking das escolas do Rio de Janeiro nos resultados no Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM).
Quanto ao seu empenho escolar, Carlos conta que não teve dificuldades
escolares, reprovação ou dependência em nenhuma disciplina. Ele se considerava um
bom aluno que conseguia alcançar notas satisfatórias nas provas.
Carlos revela que, na época do vestibular, não tinha real convicção da escolha do
curso superior. Porém, o único curso que ele não tinha interesse era o de Medicina.
Sendo assim, escolheu Engenharia Civil por considerar ter um campo mais amplo do
que outros cursos. Ele relata que direcionou os seus estudos para o vestibular da UFRJ
porque esse curso superior nesta universidade possui reconhecimento social. Apesar da
incerteza sobre a escolha do curso, Carlos se dedicou aos estudos e foi aprovado na sua
primeira tentativa para o vestibular da UFRJ.
Na época, sabia que não queria fazer Medicina. Então, decidi fazer
Engenharia porque achei que é um campo mais amplo do que outros
cursos e que iria acabar me encontrando, de alguma maneira, nesse
curso. Por isso, foquei muito na Engenharia da UFRJ. Ela é bem
reconhecida nesta universidade. E aí estudei muito baseado em provas
antigas da UFRJ. Na época, o vestibular da UFRJ, a prova também era
discursiva e acabei conseguindo passar para Engenharia Civil no
Fundão.
Embora sua família tenha formação acadêmica na área médica, eles apoiaram a
escolha de Carlos pelo curso em Engenharia, pois foi a área em que ele teve maior
identificação pessoal. Analisando a sua narrativa, compreende-se que sua escolha não
foi influenciada pelo processo de transmissão geracional atribuído a ele desde a
infância. Em seu depoimento, verifica-se que Carlos não tinha afinidades e interesse
pelos conhecimentos da área médica. Já o seu irmão mais novo sempre se mostrou mais
vocacionado para Medicina.
O meu avô, o pai do meu pai, também fez Medicina na UFF, ele se
formou na turma do ano de 1959. Já o meu pai e minha mãe também
se formaram em Medicina na UFF. E o meu irmão agora também está
155
Eles perceberam que seu filho estava confiante na sua decisão de realizar o curso de
Direito. Tal fato ocorrido no percurso de Carlos nos possibilita identificar que muitos
jovens ocupantes de posições sociais mais elevadas encontram-se assistidos pelos mais
sólidos suportes advindos da família, inclusive no que se refere à oferta de apoio
emocional e material, mesmo quando eles não escolhem o caminho esperado pela
família.
Para Carlos, de início, o retorno ao curso pré-vestibular foi impactante porque
que ele já havia vivenciado a experiência de ingresso na universidade. No entanto, ele
não acreditava que teria dificuldades para passar no vestibular novamente. Apesar dele
prestar o vestibular para outras instituições públicas, o seu objetivo era ser aprovado
para o curso de Direito na UFF. O seu depoimento ilustra sua autoconfiança na
aprovação do vestibular:
estágio remunerado advindo de sua formação na universidade, ele utiliza esse dinheiro
para os seus gastos pessoais e poupa os recursos recebidos do seu pai.
No momento da entrevista, Carlos realizava o seu segundo estágio na área de
Direito em uma empresa privada. Ele acredita que, neste, tem a possibilidade de ser
efetivado após a conclusão do curso na universidade. E relata que tem como perspectiva
de futuro permanecer neste escritório de advocacia e ingressar em uma pós-graduação
posteriormente à realização da prova da AOB (Ordem dos Advogados do Brasil). Além
disso, Carlos menciona que tem planos de abrir o seu próprio negócio, visando conciliá-
lo com a carreira no Direito.
Carlos reconhece a importância da universidade em sua formação profissional,
mas afirma que essa instrução, em um contexto isolado, não é capaz de prepará-lo para
o enfrentamento dos desafios futuros da sua profissão. Segundo ele, há vários aspectos,
como o estágio, que também contribuem para a sua formação universitária.
54
Cabe informar que a entrevista com essa estudante do curso de Direito foi realizada nesse campus pela
possibilidade de utilização da sala do Observatório Jovem na época que ocorria a greve dos professores,
que teve início no final de maio e encerrando-se no dia 29 de setembro de 2015.
160
escolar, identifica-se que ela recebeu auxílio de seu pai no processo de escolarização,
por exemplo, através do financiamento do curso preparatório.
Embora os investimentos financeiros das famílias na educação dos filhos se
façam muito mais presentes nos meios sociais mais favorecidos, é comum a
mobilização familiar das classes populares e médias em favorecer disposições escolares
rentáveis visando um projeto de ascensão social através da educação. Ou seja, a prática
da procura pela melhor escola pública da região ou mesmo a oferta de condições
propícias aos estudos constituem formas de estratégias de investimento familiar.
No ensino médio, Priscila escolheu o curso técnico em Eletrônica por
eliminatória. Ela explica que não tinha nenhuma afinidade com os cursos oferecidos
pela instituição, como se pode perceber em seu relato:
Pode-se constatar que Priscila foi uma jovem comprometida e dedicada aos
estudos. Mas ela afirma que a instituição em que estudou durante o ensino médio não a
ajudou a se preparar para o vestibular por ser uma escola voltada para o ensino médio
técnico, com matérias mais específicas dos cursos ofertados.
A partir da sua narrativa, identificou-se que Priscila reconhece que não teve
acesso a uma formação escolar que lhe permitisse disputar uma vaga na universidade
pública com estudantes provenientes da rede particular de ensino, que, como é
conhecido, prepara estrategicamente para o concurso do vestibular.
No entanto, apesar dela não ter tido um ensino médio propedêutico direcionado
para o ingresso ao ensino superior, ela narra que possui boas lembranças da escola e dos
professores que eram bem solícitos em ajudá-la quando necessário.
Após a conclusão do ensino médio, Priscila decidiu se preparar para o vestibular,
pois enfatiza que teria muita dificuldade, na época, de conciliar o colégio com algum
162
Analisando a narrativa de Priscila, foi possível perceber que muitas das provas
enfrentadas pelos estudantes não se limitam apenas às condições materiais, mas também
a provas simbólicas expressas através do preconceito e do racismo enfrentados na
universidade. Tal fato poderia levá-la a desistir do curso superior, porém, ela tem
superado essas provas permanecendo na universidade a fim de alcançar o seu diploma
universitário.
Ainda sobre as dificuldades encontradas na universidade, ela conta que no início
teve que se acostumar com o espaço universitário e com novos conhecimentos que
ainda não tinha aprendido. Isso porque, no primeiro período, ela tinha muitas matérias
filosóficas e no colégio ela havia aprendido muito pouco de Filosofia porque o ensino
médico era técnico. As suas recordações da matéria de Filosofia estavam apenas
relacionadas à preparação para o vestibular. Priscila relata que, posteriormente, foi
conhecendo a metodologia do professor, o conteúdo, como era a prova e começou a
criar técnicas para estudar com qualidade.
Essa estudante parece reconhecer que suas limitações materiais e escolares
interferem ao longo de seu percurso universitário, de modo a demonstrar consciência
plena sobre os rumos a serem dados à sua vida.
No que se refere aos aspectos facilitadores do seu percurso na universidade,
Priscila conta que o fato de estudar em uma universidade pública e não ter que se
preocupar em pagar a mensalidade proporciona ao seu pai a possibilidade de investir na
166
escolarização do seu irmão. Ela diz que seu irmão está tendo uma oportunidade escolar
que ela não teve em sua trajetória e que, se o seu ingresso na universidade pública não
se concretizasse, o seu pai não teria condições de financiar os estudos do seu irmão em
uma instituição privada.
Percebe-se, na narrativa de Priscila, que os conhecimentos adquiridos na
universidade são vistos como o instrumento que propiciará alcançar um futuro
promissor. A continuidade dos estudos no ensino superior constitui, para ela, a
oportunidade de ter uma trajetória escolar e profissional diferente da de seus pais, de
modo a apostar no processo de escolarização sem perceber que o futuro não está
garantido com o término da universidade:
Meu pai que bancava tudo. No início, era bem difícil porque ele tinha
que se esforçar bastante. As coisas ficavam um pouco apertadas em
casa porque ele tinha que tirar dinheiro de outras coisas para poder me
ajudar com os meus gastos com passagem, xérox, livro, que é bem
penoso.
que a UFF é uma universidade que lhe oferece um ensino de qualidade que pode ajudá-
la em seus projetos de vida. Ela valoriza o prestígio e o status que a instituição possui
no contexto social, de forma a considerar sua formação em Direito um detentor de
diferenciação social.
O percurso de Priscila revela uma forma distinta de viver a condição juvenil em
que o prolongamento da juventude não se refere a uma característica comum aos jovens
de origem popular. Isso porque finalizar os estudos em tempo hábil, dedicar o seu
tempo à preparação do vestibular, manter-se na casa dos pais e se planejar para a
inserção laboral após a conclusão da universidade pode ser concebido como estratégia
para o alcance de melhores condições de vida que se misturam com suas necessidades
objetivas ao longo do seu percurso de vida.
(ENEM)55 . Muitos dos estudantes egressos dessa escola são aprovados nos mais
prestigiosos cursos universitários, como foi o caso de Matheus.
Matheus sempre foi um estudante acima da média, nunca reprovou e apenas
ficou em prova final uma vez no 9° ano do ensino fundamental. Ele relata que a escola
exigia o máximo dos estudantes e que ele se esforçava para obter um bom desempenho.
Nota-se, através de seus relatos, que o ensino ofertado era permeado por
disciplinamento e normas rígidas de convívio social:
55
Levantamento feito pelo Ministério da Educação (MEC) mostra as notas das 15.640 escolas que
participaram do ENEM em 2014, realizado por 1.295.954 estudantes. A partir desses dados, foi publicado
um ranking que revela as escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro que tiveram os melhores
resultados no exame do vestibular. Disponível em http://www.csbrj.org.br/novo/wp-
content/uploads/2015/08/Jornal-O-Dia4.pdf Acesso em: 21 de agosto de 2016.
56
No ano de 2016, as mensalidades da instituição de ensino em que o entrevistado realizou a sua
trajetória de escolarização variavam conforme a etapa de ensino (Ensino Fundamental e Ensino Médio)
entre R$ 3.179,65 a R$ 3.339,93.
170
Matheus relata sobre sua rotina diária em horário integral no ensino médio,
narrando que tinha aula de manhã e, em alguns dias da semana, à tarde, quando tinha
aula nos laboratórios de Física, de Química e de Biologia. Nesses laboratórios, ele tinha
a oportunidade de ver, na prática, a aplicação da teoria. Cada turma tinha,
aproximadamente, trinta alunos que eram divididos em grupos para as aulas nos
laboratórios, geralmente, por ordem alfabética.
Com tempo integral para os estudos e nenhuma limitação financeira, percebe-se
que ele não precisou trabalhar em nenhum momento da sua escolarização. Essa
possibilidade de somente estudar é uma questão que não permeia as camadas menos
privilegiadas economicamente. Não se pode negar que a inserção laboral de muitos
jovens se relaciona com a situação financeira da família e com os significados que a
educação escolar tem nesse campo específico.
Como essa escola exige muito dos estudantes, Matheus relata que no terceiro
ano já se sentia preparado para passar no vestibular. E conta que, no final do ensino
171
universidade, seus pais o ajudavam financeiramente, mas depois que ele conseguiu esse
estágio remunerado, ele passou a não receber os mesmos recursos de seu pai. Ele relata
que ganhou do seu pai um carro e que, naquele momento, recebia apenas uma ajuda
financeira para o combustível do automóvel.
Como projeto para o futuro, Matheus pretende, após a conclusão da
universidade, fazer o processo seletivo para ser efetivado na empresa onde faz estágio.
Para ele, a continuação dos estudos constitui um objetivo planejado em sua vida. Ele
conta que tentará a permanência de vínculo para fazer graduação em Cinema. Mas se
não conseguir, vai fazer uma pós-graduação voltada para Marketing.
Matheus reconhece que a universidade tem contribuído para a sua formação
como ser humano pelas experiências que vivencia no cotidiano universitário. Mas
também acredita que adquire conhecimento independente do espaço da universidade,
pois busca outros meios além do auxílio dos professores em seu processo de formação.
As suas narrativas mostram a valorização do ambiente universitário e das possibilidades
de aquisição de conhecimento que estão para além da universidade, pois considera os
diferentes espaços e relações sociais como lugares de formação e preparação para os
desafios futuros.
Esse estudante revela uma preocupação com o futuro de forma a investir em sua
formação acadêmica através de estágios e participação em projetos oferecidos pela
universidade que lhe favoreça um diferencial na sua área de formação. Desse modo, o
curso de língua estrangeira e a viagem para o exterior aparecem como projetos
concretizados que também contribuem para a sua formação pessoal e profissional.
Em uma visão geral, deve-se levar em conta que o relato apresentado por
Matheus reflete comportamentos, valores e projetos de uma determinada classe social,
que possibilitam a família a investir no seu percurso biográfico. As ações, os
investimentos de tempo e o acompanhamento sistemático de todas as etapas da vida se
constituem como estratégias conscientes ou inconscientes que, de alguma forma,
traduzem o habitus familiar. Entende-se investimentos culturais, materiais e simbólicos
realizados pelas famílias na trajetória dos filhos como algo preponderante para o
sucesso escolar.
Por fim, observa-se que o ingresso e permanência de Matheus na universidade
constitui uma etapa esperada e vivenciada com tranquilidade em sua vida, de modo a
não mencionar na entrevista situações que poderiam impedir a concretização do
174
Anderson é um jovem de 24 anos, branco, solteiro, que residia com os pais e sua
irmã mais nova em um bairro da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro antes de sua
aprovação no vestibular em Medicina da UFF. No momento da entrevista, ele estava
matriculado no oitavo semestre deste curso e morava em um quarto alugado no
município de Niterói.
A renda mensal da sua família é de aproximadamente 2 a 5 SM, proveniente do
cargo de técnico em eletrônica que o seu pai ocupa em uma empresa privada, com
carteira assinada. Sua mãe é dona de casa e apresenta como escolaridade o ensino
fundamental incompleto. Seu pai possui o ensino médio completo.
O primeiro contato com Anderson foi intermediado por e-mail, através do qual
foi agendada a entrevista para ser realizada na biblioteca situada dentro do Hospital
Universitário Antônio Pedro, em Niterói. A partir do sua narrativa, pode-se perceber
que ele é um jovem calmo, sereno e perseverante, especialmente no enfrentamento de
situações como o vestibular, em que muitos estudantes desistem quando não conseguem
a aprovação para o curso escolhido na primeira tentativa.
No que se refere à sua trajetória escolar, Anderson relata que cursou o primeiro
segmento do ensino fundamental (1ª à 4ª série / 5° ano) em um colégio particular e que,
posteriormente, no segundo segmento, mudou-se para rede municipal de ensino. Essa
mudança foi devido à condição financeira da sua família e também porque passou a
residir em outro bairro da Zona Oeste. Ele narra que, quando cursava o ensino
fundamental, nunca reprovou nem ficou em dependência em nenhuma matéria, sempre
foi um aluno regular, embora tivesse dificuldades em Matemática.
Já no ensino médio, Anderson estudou em um colégio estadual com formação
geral. Ele narra que neste colégio passou a ter o objetivo de, futuramente, ingressar no
ensino superior. Apesar de ter estudado em uma escola pública, Anderson menciona que
em algumas matérias – como História, Geografia, Português e Literatura – o colégio não
deixou de oferecer uma base sólida de conhecimento. Entretanto, nas áreas de exatas,
175
segundo ele, o ensino foi insuficiente, onde teve que suprir e aprender novos
conhecimentos no cursinho pré-vestibular, como se pode observar em sua narrativa:
apesar disso, não desanimou e continuou tentando o vestibular. Ele se considera uma
pessoa persistente e relata que duas colegas do curso pré-vestibular que frequentava
também estavam tentando para o mesmo curso. Uma delas estava tentando há muito
mais tempo do que ele, o que o motivou a persistir.
Verifica-se que este jovem possui projetos bem definidos acerca do seu percurso
biográfico, ao ponto de superar os obstáculos e o monopólio que as classes dominantes
detêm sobre as instituições de ensino superior mais seletivas. Seu percurso de vida foi
marcado por provas e tensões relativas às inúmeras tentativas ao vestibular que
poderiam tê-lo levado a desistir de seu projeto de vida, mas ele não desistiu do seu
objetivo: “essa questão da persistência, de ser persistente, é fundamental. Porque se eu
tivesse desistido, eu não estaria aqui”.
Anderson relata que prestou o vestibular tradicional da UFF, no qual teve a
possibilidade de solicitar, na segunda etapa da prova, o bônus destinado a estudantes
oriundos de escolas públicas. Para ele, essa bonificação foi importante porque
possibilitou uma melhor colocação no resultado final da prova e sua convocação na
primeira classificação do curso de Medicina.
Percebe-se que as políticas de inclusão (bonificação, cotas) ocupam um lugar
importante na vida dos jovens oriundos de ensino médio público por favorecer o acesso
à universidade à parte da população excluída desse nível de ensino e,
consequentemente, efetivar, pouco a pouco, mudanças no perfil social dos estudantes
dos cursos altamente seletivos.
A superação da barreira do vestibular pode ser vista, na narrativa de Anderson,
como uma conquista individual e familiar, uma vez que o ingresso à universidade foi
obtido a custo de muito esforço e persistência. Pode-se dizer que esse jovem representa
o que a sociologia convencionou chama de êxitos atípicos porque ele conseguiu superar
o fatalismo de seu destino social.
Para Anderson, o vestibular foi marcado por inúmeras tentativas e contemplado
em sua vida como um combate em que precisou lutar e enfrentar, constantemente,
obstáculos sociais para conseguir o objetivo de ser aprovado no vestibular para
Medicina. Isso o levou a denominar esse de processo de guerra do vestibular:
178
Quando soube que passei para cá, eu estava sozinho em casa, não
tinha ninguém para contar! (risos) Fiquei numa explosão de felicidade,
não tem nem como descrever. Porque passar, e bem colocado, para
uma boa universidade, depois de ter enfrentado a guerra do vestibular,
foi um sonho mesmo!
Anderson narra que não teve dificuldades com as disciplinas teóricas e práticas
nos primeiros semestre do curso de Medicina. Porém, o que dificulta a sua vida
universitária é a estrutura do currículo e a falta de interdisciplinaridade entre as
disciplinas. Em seu relato, pode-se identificar questões que levam Anderson a
considerar falhas na estrutura curricular do curso de Medicina.
Diante da carga horária extensa do curso, Anderson relata que apenas consegue
fazer monitoria em Patologia nos horários disponíveis em sua grade curricular. Porém, a
realização de outras atividades, como iniciação cientifica, extensão e até estágio, torna-
se muito difícil no curso de Medicina devido à falta de flexibilidade de horário. Nota-se
que essa extensa carga horária não permite que ele vivencie com tranquilidade outras
experiências acadêmicas no seu percurso universitário.
Seu maior suporte para continuar estudando é sua família. Desde o seu ingresso
na universidade, seu pai ajuda financeiramente nas despesas com a universidade, como
a alimentação, o aluguel de um quarto em Niterói e o material exigido pelo curso.
Anderson diz que tenta ajudar seu pai economizando e evitando gastos desnecessários,
além de contribuir com as despesas com a bolsa de monitoria. Na verdade, nesse
período todo da universidade, com essa carga horária, eu fico dependente
financeiramente do meu pai, praticamente.
O que facilita o seu percurso é o fato da universidade ser gratuita, pois
possibilita a redução de gastos financeiros. E também o acesso aos livros na biblioteca,
pois relata que não tem condições de comprar todos os livros que gostaria da sua área de
formação. Sendo assim, ela facilita bastante no empréstimo dos livros que ele precisa.
179
Não se pode negar que o processo seletivo adotado como forma de ingresso dos
estudantes em algumas instituições das redes estadual e federal possibilita a oferta de
um ensino diferenciado e acaba reforçando as desiguais condições de competição, nas
quais os mais desfavorecidos socialmente se encontram em desvantagem na competição
por vagas em instituições públicas. O fato de Alice ter tido a trajetória escolar anterior
no ensino privado lhe concedeu uma boa formação escolar, o que acabou a levando a ter
vantagem em relação aos alunos de outras redes de ensino, de modo a não mencionar
dificuldades nos processos seletivos dos quais participou.
Alice estudou no ensino médio em horário integral, na parte da manhã ela
cursava as disciplinas de formação geral e à tarde as disciplinas do curso técnico, além
de estudar aos sábados para completar a carga horária do curso. No que se refere à sua
formação escolar, ela narra que considera o ensino ministrado nesta instituição fraco e a
mesma que não prepara os estudantes para a prova do vestibular.
No seu último ano do ensino médio (3° ano), Alice precisou fazer o estágio para
conseguir o diploma do curso técnico. Ela afirma que, por isso, não tinha
disponibilidade de horário para se preparar para o vestibular. O seu estágio era em uma
empreiteira, nas obras do projeto Minha Casa Minha Vida. Nele, ela realizava quatro
horas por dia de estágio conciliando com a escola.
Quando Alice iniciou o seu curso técnico, ela tinha como perspectiva de futuro
realizar o ensino superior em Arquitetura. Porém, suas experiências no curso, mais
precisamente com a disciplina de Desenho, levaram-na a perceber que ela não possuía o
perfil para trabalhar nesta área. No curso, ela descobriu que tinha maior identificação
com Engenharia. Essa mudança de opção demonstra que as escolhas realizadas a partir
das experiências cotidianas e da identificação pessoal são importantes, pois possibilitam
aos jovens tomarem decisões mais conscientes sobre a futura atuação profissional.
Alice afirma que fez o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) no terceiro
ano do ensino médio apenas para conhecer a prova e se preparar psicologicamente para
o ano seguinte, pois ela reconhece que não teria chances de ser aprovada. Nogueira
(2000) aponta que a prática de se expor ao exame do vestibular antes mesmo da
conclusão do ensino médio consiste em uma estratégia muito utilizada pelos jovens
visando o seu preparo para o exame antes do momento oportuno.
Alice relata que, posteriormente ao ensino médio, sua madrinha a matriculou em
um cursinho pré-vestibular. Mesmo assim, no ENEM, ela não obteve nota suficiente
para ingressar no curso que desejava. Por isso, optou pelo curso de Ciências da
182
Computação na UFF, em Rio das Ostras. Foi quando morou um ano neste município
para cursar este curso superior.
Nota-se que ela decidiu ingressar no curso de Ciências da Computação na
intenção de, futuramente, eliminar algumas disciplinas no curso de Engenharia Civil,
que notadamente era o seu objetivo. Quando os jovens não alcançam o projeto
almejado, eles acabam criando estratégias ou escolhendo opções que mais os
aproximam de suas perspectivas na tentativa de não desistir de seus objetivos de vida.
Alice explica que, no exame do ENEM, optou pelo curso mais fácil de entrar de
acordo com a sua nota, pensando na possibilidade de mudar de curso dentro da própria
universidade. Mas depois de realizar um ano do curso de Ciências da Computação, ela
decidiu fazer o ENEM novamente e passou para o curso de Engenharia Civil na UFF,
em Niterói.
Ela também explica que, neste último exame do ENEM, o conhecimento de
Matemática apreendido no curso de Ciências da Computação e o sistema de cotas
destinado a estudantes oriundos de escolas públicas contribuíram para o seu ingresso no
curso superior pretendido. Tal fato aponta que as políticas afirmativas têm beneficiado o
ingresso de estudantes em cursos mais seletivos, embora ainda exista maior
representatividade de jovens oriundos de escolas privadas nestes cursos.
Alice relata que sua opção pelo curso de Engenharia Civil teve muito apoio de
sua madrinha que sempre a incentivou em suas escolhas. Entretanto, em seu discurso,
ela parece perceber que sua madrinha a influenciou em sua trajetória escolar ao
mencionar que ela é formada em Engenharia Mecânica, apesar de não exercer a
profissão de engenheira.
A entrada no curso de Engenharia Civil não foi uma novidade para Alice, pois
ela já tinha passado anteriormente pela experiência de ter ingressado em um ensino
superior. Porém, essa nova etapa parece ter sido importante para ela pela oportunidade
de alcançar o projeto almejado em seu percurso de vida.
Ela recorda que, no primeiro semestre, conseguiu eliminar diversas matérias, e
só a partir do segundo começou a estudar todos os dias na UFF, de maneira a acreditar
que realmente tinha conseguido alcançar o seu objetivo. No entanto, a sua dificuldade
no percurso da universidade iniciou no segundo semestre, quando percebeu que não
tinha muito contato e amizade com os colegas de sua classe por ter realizado as
disciplinas, no semestre anterior, em apenas dois dias da semana. Além da dificuldade
de relacionamento, Alice relata que teve dificuldade na disciplina de Física, de modo a
183
Eu tenho muita vontade de fazer concurso público, mas não sei se vai
dar certo por conta dessa crise que se encontra o nosso país. Então,
não sei como vai estar a minha área quando me formar. Nesse
momento de dificuldade, a oportunidade que me aparecer vou agarrar.
Mais futuramente pretendo estudar para concurso.
Apesar dos percalços encontrados na UFF, Alice diz que essa universidade tem
lhe ajudando muito a se preparar para o futuro, porque, segundo ela, oferece um ensino
de qualidade e tem bastantes professores que estão interessados em transmitir
conhecimento, contribuindo, assim, para a formação de bons profissionais na área de
Engenharia. Ademais, menciona que a UFF é uma universidade rigorosa,
principalmente nas provas, e que a maioria dos professores exige muito dos estudantes.
Na identificação dos aspectos que se relacionam com o objeto de estudo, a
implementação de ações afirmativas no ensino superior público ocupa um lugar de
destaque, pois possibilita a redução da desigualdade de acesso aos cursos altamente
185
Não se pode negar que as aulas no curso preparatório para concurso público e,
posteriormente, a realização do curso pré-vestibular lhe possibilitaram uma bagagem de
conhecimentos que o permitiu competir por uma vaga na universidade. Estudos de Zago
(2006) apontam que a realização de cursinhos preparatórios pelos estudantes consiste
em uma estratégia empregada pelos oriundos de escolas públicas como uma forma de
complementar e suprir a defasagem da formação escolar recebida.
Antes mesmo da sua aprovação no vestibular, Eduardo pediu demissão do
emprego porque não havia possibilidade de crescimento na empresa. Nesta época, sua
família lhe ajudou com apoio psicológico e material, uma vez que ele não tinha
condições de manter suas próprias despesas e custeava o curso preparatório. É
importante destacar que esse apoio familiar foi extremamente relevante para que
Eduardo decidisse dedicar o seu tempo apenas aos estudos.
Pode-se verificar que, para Eduardo, a escolarização era inicialmente pensada até
a conclusão do ensino médio. No entanto, seu projeto foi estendido e passou a visar o
ensino superior como possibilidade de alcançar mobilidade social e melhor remuneração
no mercado de trabalho futuramente.
Para Eduardo, a escolha do curso não teve influência da sua família e do
contexto social em que está inserido. Seus pais não interferiram em sua escolha
profissional porque não tinham um conhecimento mais aprofundado sobre o curso
superior escolhido por seu filho. Ele representa a primeira geração familiar a cursar o
ensino superior:
A minha mãe e o meu pai não têm ensino superior e não sabem o que
é publicidade. Eles acham que é só propaganda. Eu não tive influência
nenhuma para escolher o curso, nem na minha casa e onde moro.
relação candidato/vaga no vestibular da UFF de 2012. Cabe ressaltar que muitas das
vagas deste curso são ocupadas por estudantes pertencentes às famílias de camadas
sociais médias e superiores, o que se difere da realidade social de Eduardo.
Ao ingressar na UFF, Eduardo percebeu que sua trajetória escolar era bem
distinta da dos colegas do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda.
Ele relata que, no início, sentiu-se incomodado porque ingressou com 23 anos na
universidade e os demais estudantes seguiam os estudos imediatamente após o ensino
médio e estavam na faixa etária entre 17 e 18 anos.
Este fato o levou a pensar que aquele espaço acadêmico não era o seu lugar, pois
tinha medo de sofrer algum tipo de exclusão por parte dos colegas. Entretanto, Eduardo
narra que esse desconforto foi superado quando conseguiu fazer algumas amizades. As
diferenças sociais entre os alunos percebidas por ele não afetaram o seu percurso
universitário, embora ele reconheça que tem uma realidade distinta dos estudantes que
ingressaram no ensino superior logo após o ensino médio.
O fato de ter sido aprovado para o curso superior almejado o faz querer
continuar estudando e investindo em sua formação acadêmica. Eduardo acredita que a
UFF tem proporcionado um ensino de qualidade, apesar de mencionar que ela precisa
melhorar para atender às demandas do mercado. Em todo caso, a qualidade do ensino
ofertada no curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda é enaltecida por
ele como um fator positivo em seu percurso universitário.
Apesar de Eduardo valorizar o ensino adquirido na UFF, ele não deixa de
questionar a estrutura curricular do curso de Comunicação Social. Para ele, a
universidade tem oferecido uma formação muito teórica e com poucas aulas práticas.
Ele relata que para ser um publicitário de criação, por exemplo, faz-se necessária a
realização de cursos que, muitas vezes, são financeiramente inviáveis.
As provas enfrentadas por este estudante se referem às limitações materiais
advindas do seu contexto social que dificultam maiores investimentos em sua formação
189
universitária. Tal situação é mencionada por ele como um fator que afeta sua futura
atuação no mercado de trabalho.
Além desses aspectos que dificultam o seu percurso na universidade, Eduardo
também destaca a questão da distância entre a sua residência, o trabalho e a
universidade. Ele explica que tem conseguido conciliar essa jornada devido à
flexibilidade de horário no trabalho e na universidade, já que está cursando apenas as
últimas disciplinas da grade curricular do curso de Comunicação Social – Publicidade e
Propaganda.
Desde o seu ingresso na UFF, Eduardo buscou se envolver com as atividades e
os projetos desenvolvidos na universidade. No primeiro semestre, ele conseguiu uma
bolsa de iniciação científica, na qual participou durante um ano de uma pesquisa
desenvolvida por um professor do seu curso. Nesta época, ele também teve a
oportunidade de participar de congressos e eventos acadêmicos visando a divulgação da
pesquisa da qual fazia parte. Quando a pesquisa foi concluída, Eduardo participou de
uma nova seleção na UFF e conseguiu uma bolsa de extensão para atuar em um projeto
de uma revista.
Em sua narrativa, fica evidente que as bolsas de iniciação científica e de
extensão foram de grande valia para a sua formação acadêmica e profissional, uma vez
que o fez despertar maior interesse pela área de Comunicação Social. Desde então, ele
tem buscado ampliar o seu capital cultural através do envolvimento com outras
atividades ofertadas pela universidade como, por exemplo, a participação em congressos
científicos.
A participação de Eduardo em programas acadêmicos como iniciação científica
e projetos de extensão pode ser vista como estratégia para conseguir cursar o ensino
superior com melhores condições de aproveitamento, principalmente, pela bolsa que o
ajuda a suprir suas despesas com a universidade.
Posteriormente, Eduardo conseguiu uma vaga de estágio e entrou para uma
agência de publicidade. Depois, ele foi para outra agência, desta vez de publicidade
multinacional, onde permaneceu por cinco meses. Após essas experiências
profissionais, Eduardo foi contratado por outra empresa para trabalhar com mídia
digital.
No momento da realização da entrevista, Eduardo se encontrava inserido no
mercado de trabalho e concluindo o curso de Comunicação Social – Publicidade e
Propaganda. A formação universitária lhe possibilitou vivenciar experiências de
190
estágios que marcaram o início do seu percurso profissional na área de mídia antes
mesmo da conclusão do curso superior.
Com relação aos seus projetos para o futuro, Eduardo parece estar determinado a
fazer o mestrado na área de mídia. Ele relata que se preparará para o processo seletivo
da USP, por mais que reconheça que este mestrado seja muito concorrido nesta
universidade. “A USP é uma das universidades mais concorridas aqui no Brasil e o meu
objetivo é fazer esse mestrado na USP”.
Eduardo explica que o fato de estar trabalhando não interfere no seu projeto de
continuar estudando, pois não identifica dificuldade em sair do emprego novamente
para continuar investindo em sua formação acadêmica. Percebe-se, assim, que este
jovem não se encontra enraizado ao mercado de trabalho e contempla novas
possibilidades de inserção profissional após a conclusão do ensino superior.
Para Eduardo, a universidade tem lhe preparado para os desafios futuros porque
lhe fornece uma formação voltada para as relações humanas. Além disso, para ele, os
desafios acadêmicos abrem os horizontes dos estudantes que trazem de sua trajetória
apenas a bagagem do ensino médio. Por permanecer tempo significativo na
universidade, este jovem parece identificar que as vivências no espaço acadêmico
ampliam os conhecimentos e a visão de mundo.
A partir da análise do percurso biográfico de Eduardo, foi possível identificar
que ele apresenta característica de um estudante com recurso econômico limitado que
possibilite o acesso a bens culturais, viagens e outros investimentos escolares com vista
à transmissão do capital cultural e social da família. Em suas narrativas, ficou evidente a
questão do seu próprio esforço para alcançar o ingresso na universidade. No entanto,
seu sucesso escolar, compreendido como ingresso e permanência na universidade, é
marcado pela superação de provas materiais e simbólicas que dificultam o seu percurso
na universidade.
Por fim, verificou-se o empenho deste estudante em buscar ascensão social e
econômica através dos estudos em um contexto social que poderia limitar suas escolhas.
Apesar da existência dos condicionantes estruturais que influenciam no percurso do
indivíduo, também foi possível notar um conjunto de ações e situações que podem
191
proporcionar sucesso escolar daqueles oriundos de famílias com baixo capital cultural
em cursos altamente seletivos.
A escola, para Paola, assume um lugar de fuga dos problemas pessoais, ao qual
ela dedicou intensamente o seu tempo aos estudos a fim de evitar o enfrentamento dos
fatos que produziram marcas de dores em sua vida. Geralmente, as experiências
ocorridas na vida levam muitos jovens a dar um novo sentido à escolarização ou a
valorizar a instituição escolar como possibilidade de recomeço.
Paola menciona que seus pais sempre priorizaram a sua educação e a do seu
irmão, pois eles não tiveram, na infância, o auxílio material para prosseguir nos estudos.
E também pelo fato de terem assumido a posição de chefes de família ainda muito cedo.
Apesar de, atualmente, não existir um consenso na sociedade acerca da idade em
que o matrimônio seja considerado ideal, observa-se que muitas famílias impõem
diversos condicionantes aos filhos, que acabam reproduzindo uma visão dominante que
essa experiência deva incidir após a conclusão dos estudos. A condição de dependência
familiar e o adiamento das obrigações de manter um lar autonomamente são vistos
como uma oportunidade de prolongar os estudos a fim de alcançar, no futuro, melhores
condições laborais.
Percebe-se que Paola recebeu auxílio de seus pais no seu processo de
escolarização através de um acompanhamento sistemático que se iniciou desde a
escolha da escola e que se fez presente com a preocupação de que seus filhos
investissem, na fase da juventude, em seus estudos, de modo que eles evitassem assumir
responsabilidades da vida adulta muito cedo.
No último ano do segundo segmento do ensino fundamental (antiga 8ª série;
atual 9° ano), sua mãe fez a sua inscrição no processo seletivo de uma escola técnica da
rede estadual de ensino, no qual ela fez a prova e foi aprovada. Tal instituição pública é
concebida como de excelência por existir um processo seletivo que permite o ingresso
apenas dos estudantes que possuem maior acúmulo de capital cultural. Essa lógica da
193
Observa-se que a escolha pelo curso técnico não teve nenhuma relação com seu
contexto familiar e com os seus próprios gostos e interesses, de forma a produzir certa
insatisfação pelo curso escolhido.
Paola relata que, após a conclusão do ensino médio, decidiu entrar em um curso
pré-vestibular visando o ingresso em uma universidade pública. Porém, quando ela
começou a estudar nesse curso, ela percebeu que não teve uma base sólida de
conhecimento que lhe preparasse para o vestibular, apesar dela ter sido uma boa aluna
no colégio. Em seu relato, expressa as suas dificuldades encontradas nesse espaço:
Após três anos de cursinho pré-vestibular, Paola foi aprovada para o curso de
Farmácia. Mas esse curso não foi a sua primeira opção nos vestibulares. Desde o início
de sua preparação, Paola escolhia o curso de Medicina. Em sua narrativa, é possível
encontrar pistas biográficas que revelam como as tensões e os dilemas ocorridos no
período de preparação do vestibular podem provocar a perda de projeções futuras e o
desânimo em continuar persistindo por uma vaga no curso de Medicina, embora ela
fosse uma jovem dedicada e comprometida aos estudos:
era uma derrota muito grande. O ensino médio não me preparou nada,
então, tive muita dificuldade de aprender aquele bando de coisas em
tão pouco tempo. Aí, eu lembro que comecei a entender as coisas
mesmo no segundo ano de cursinho e o meu desempenho subiu de
novo. Os meus amigos e os professores achavam que eu iria passar e
quando eu não passei foi um baque novamente.
Como Paola não conseguiu ingressar no curso de Medicina, ela escolheu como
segunda opção (SISU/MEC) o curso de Farmácia em uma universidade pública em São
Paulo. Ela destaca que seu pai continuou a incentivando para que ela permanecesse mais
um ano no cursinho pré-vestibular. Porém, Paola narra que não tinha condição
emocional para dar continuidade ao curso. Ela afirma que escolheu o curso de Farmácia
ao invés de Enfermagem porque teria muita dificuldade em conviver com uma área tão
próxima da que ela não havia conseguido ingressar.
Paola nos conta que, apesar de estar matriculada no curso de Farmácia, no
segundo semestre, decidiu prestar novamente o vestibular. Ela usava o espaço
universitário como terapia e hobby a fim de não ficar pensando nas tensões enfrentadas
época das provas do vestibular. Durante a semana, Paola estudava em casa à noite e, nos
finais de semana, voltou a estudar no cursinho pré-vestibular. Além disso, Paola relata
que priorizou estudar para o vestibular as matérias que ela tinha mais dificuldade, como
as da área de humanas, já que no curso de Farmácia estudava muito Química e Biologia.
Paola nos mostra que sua decisão de estudar para o vestibular novamente está
relacionada a uma experiência vivenciada no curso de Farmácia que a levou a perceber
que não gostaria de passar o resto da sua vida nesta profissão. Em seu relato, nota-se a
sua falta de motivação e interesse pelo conhecimento da área de Farmácia em uma aula
de laboratório em que os seus colegas de classe demonstraram satisfação e alegria em
produzir um comprimido:
Eu não estava feliz. Eu até tentei o curso de Farmácia, mas não estava
gostando. Teve um dia que a gente estava no laboratório e produzimos
o comprimido e, quando eu olhei para o lado, todos estavam felizes. E
pensei: “que ridículo”. Eu não senti um pingo de alegria. Eu peguei as
minhas coisas, anotei o relatório e fui embora. Eu não achei graça
nenhuma naquilo e percebi que não queria passar o resto da minha
vida na Farmácia.
Paola narra que, desde quando começou a estudar no curso pré-vestibular, visava
ingressar no curso de Medicina com a intenção de estudar psiquiatria. O interesse por
esta área adveio do suicídio de uma pessoa da família. Ela nos conta que, embora sua
mãe seja da área da saúde e que ela tenha crescido ouvindo relatos de casos de
195
hospitalares, a situação do suicídio a motivou querer seguir essa área a fim de ajudar as
pessoas. Ela percebia que sua família tinha dificuldade de lidar com a saúde mental.
Evidencia-se, em suas narrativas, que a escolha do curso superior está relacionada a
provas difíceis e dolorosas enfrentadas em seu percurso de vida, de modo a levá-la a
querer seguir a área da psiquiatria visando à superação de seus traumas e pela
possibilidade de ajudar a sua família.
Paola relata que seus pais, por sua vez, queriam que ela fizesse o vestibular para
o curso de Direito, mas ela afirma que estava focada em sua aprovação no curso de
Medicina. No entanto, quando ela não conseguiu bons resultados para o ingresso no
curso de Medicina, sua mãe tentou convencê-la a optar pelo curso de Enfermagem.
Na narrativa de Paola, é possível perceber que ela se responsabiliza por sua não
aprovação no vestibular ao relatar que não se considerava emocionalmente preparada
para se candidatar ao curso de Medicina, por ficar muito nervosa na realização das
provas. Observa-se, portanto, que existe um conjunto de fatores que podem interferir no
resultado do vestibular como, por exemplo, o estado emocional dos jovens.
Em relação à sua inserção no mercado de trabalho, Paola relata que ainda não
tem experiência. No primeiro ano do curso pré-vestibular, deu aula de reforço escolar
para um menino por aproximadamente quatro meses. Neste caso, a atividade não é
considerada um trabalho formal, mas sim um espaço de socialização que proporciona,
além de uma remuneração, uma ocupação no seu tempo livre. Paola parece ter
desfrutado de uma situação confortável e segura ao residir com seus pais, o que lhe
permitiu dedicar todo o seu tempo aos estudos e estar disponível para a realização de
outras atividades.
Outro fato interessante diz respeito ao contexto social em que ela está inserida.
Ela advém de uma família que apresenta características de classe média, pois seus pais
possuem escolaridade elevada e uma situação empregatícia estável. Além disso, eles são
proprietários de imóveis alugados, o que os possibilita ter uma outra renda mensal. No
percurso de Paola, não se evidencia nenhuma dificuldade material advinda da condição
familiar.
Em sua quarta tentativa para o vestibular/ENEM, Paola conseguiu ser aprovada
para o curso de Medicina na UFF, no estado do Rio de Janeiro, pelo SISU (Sistema de
Seleção Unificada). Mas, a princípio, ela não queria morar no Rio de Janeiro, por isso
que, anteriormente, havia realizado apenas os vestibulares cuja oferta de vagas se
destinava para as universidades da cidade de São Paulo, na qual residia com sua família.
196
universitária dos estudantes de Medicina. Paola apresenta senso crítico sobre a real
situação do hospital universitário:
Paola recebe dos seus pais um suporte financeiro e também uma bolsa de
monitoria em Bacteriologia que lhe ajudam nas despesas com a moradia, a alimentação
e os custos da universidade. A apropriação desses recursos econômicos favorece a
permanência do seu percurso na universidade.
Paola relata que o recebimento da bolsa de monitoria é importante porque alivia
bastante nas despesas com a universidade e ainda proporciona um conhecimento que
será de grande valia para a sua formação universitária. O único problema enfrentado
devido à monitoria de Bacteriologia está relacionado ao horário. Como o curso de
Medicina é ofertado em horário integral, Paola explica que geralmente perde uma aula
na tentativa de conciliar essas duas atividades em seu cotidiano universitário.
Paola nos conta que devido a este problema de horário entre a monitoria e as
aulas, ela buscava estudar em casa a matéria que perdia da disciplina. Mas ela relata
que, apesar de seu esforço e dedicação aos estudos, precisou realizar prova final em uma
198
das disciplinas que precisou faltar algumas vezes por causa da monitoria. No entanto,
ela conseguiu recuperar a nota, sendo aprovada na disciplina.
Na UFF, Paola participou também da liga de Psiquiatria. Ela narra que as ligas
acadêmicas são grupos de estudantes que organizam algumas atividades referentes
àquele tema. Mas com o passar do tempo ela mudou de liga acadêmica, passando a
participar da liga de Oncologia.
Observa-se, portanto, a preocupação desta jovem com a sua formação
acadêmica, de forma a investir todo o seu tempo ao curso de Medicina e às atividades
oferecidas pela universidade como um diferencial em sua futura carreira profissional.
Sua narrativa também mostra que a formação universitária desses jovens é composta por
várias experimentações e vivências que os proporciona repensar sobre suas escolhas e
redefinir novos projetos de vida.
No caso de Paola, as experiências ocorridas na universidade a ajudaram a
perceber o sentido da sua formação universitária para a sua vida, ao ponto dela repensar
sobre sua futura carreira profissional. Ela relata que, inicialmente, queria fazer
Psiquiatria, porém, percebeu que essa escolha não estava ligada à sua vocação
profissional, e sim relacionada à sua vida pessoal. No entanto, após algumas
experiências no atendimento de crianças no ambulatório, ela acabou se encontrando na
área de Pediatria e decidindo investir futuramente nessa residência.
Sobre seus projetos para o futuro, Paola conta que pretende cursar residência em
Pediatria em São Paulo. Ela tem a intenção de conhecer o funcionamento do sistema de
saúde de sua cidade natal. O seu retorno para São Paulo não está associado apenas à
proximidade com a família, mas à possibilidade de ter a vivência e a formação
acadêmica em outro sistema de saúde. Esse projeto de Paola é incentivado por seus
professores, pois eles reconhecem o estado de São Paulo como um polo acadêmico.
A falta de infraestrutura na UFF aparece na narrativa de Paola como um aspecto
que produz incerteza sobre a sua formação no futuro, tal como se pode averiguar em sua
narrativa:
Isso é um dilema, em algumas situações, eu sinto que estou tendo um
bom preparo, em outras tenho a sensação que a universidade não me
prepara tão bem. Eu acho que envolve a questão da infraestrutura
como já mencionei.
Por meio de seu relato, é possível afirmar que a estada na universidade também é
uma das etapas mais difíceis da vida dos jovens, uma vez que eles precisam lidar tanto
com as questões subjetivas que afetam o seu percurso biográfico, como também com o
199
diferenças de renda entre os indivíduos dos diversos estados e também devido à extensa
dimensão territorial e populacional (JÚNIOR, FERREIRA & FILHO, 2005).
Ao ir morar com sua tia, ela prontamente a matriculou em um cursinho
preparatório localizado em Laranjeira, na Zona Sul do Rio de Janeiro, que tinha o
objetivo de preparar os estudantes para o ingresso em escolas de ensino médio federais.
Carolina ficou, aproximadamente, um ano neste cursinho sem ingressar no ensino
médio, apenas estudando e se dedicando aos processos seletivos das escolas federais.
Conseguiu, assim, ser aprovada para o Colégio Pedro II e o CEFET.
Carolina relata que não se considerava uma aluna nerd, mas ela sempre se
esforçou para conseguir ser aprovada ao longo da sua trajetória escolar, por isso, nunca
repetiu de série e nem ficou em recuperação. Mas menciona que enfrentou dificuldades
escolares no ensino médio e que realizou aulas particulares de reforço escolar, pois sua
tia cobrava e exigia dela maior dedicação e bons resultados nos estudos.
No ensino médio, Carolina conseguiu se matricular em duas escolas e manter a
frequência tanto no Colégio Pedro II quanto no CEFET durante o período de um ano e
meio. Porém, ela optou por abandonar o curso técnico na CEFET porque sabia que não
exerceria imediatamente a profissão, já que sua tia não a deixaria trabalhar antes de
conseguir ingressar na universidade. Tudo indica que a escolarização prolongada de
Carolina, com o acesso ao ensino superior, constituía uma estratégia de futuro por parte
da sua tia que foi incorporada por ela própria quando foi morar ela.
Observou-se, no percurso de Carolina, que o postergamento da sua inserção no
mercado de trabalho e a permanência na casa de um parente constituem uma estratégia
visando o aumento da sua escolarização, por meio do acesso ao ensino superior. Nessa
direção, o prolongamento da transição para a vida adulta perpassa tanto pela
dependência financeira quanto pelo suporte emocional e afetivo que esta jovem recebe
de sua tia.
Outro motivo pelo qual Carolina optou por sair da CEFET foi devido à sua
jornada exaustiva para conciliar duas escolas nos horários diurno e noturno. Além disso,
ela não teve identificação pessoal com o curso técnico em Telecomunicações. Em sua
narrativa, pode-se identificar que a opinião da sua tia teve forte influência na sua
decisão de abandonar este curso, pois sua tia não considerava que ele possibilitaria uma
melhor colocação no mercado de trabalho.
No último ano do ensino médio, Carolina também ingressou em um curso pré-
vestibular, visando sua aprovação em uma universidade pública. No entanto, ela
201
continuou neste curso após o término do ensino médio porque não foi aprovada na
primeira tentativa para os cursos pretendidos.
Em sua segunda tentativa para o vestibular, Carolina foi aprovada para três
cursos superiores em diferentes instituições de ensino: Engenharia Civil na UFF,
Ciências Atuariais na UERJ e Desenho Industrial na UFRJ. Ela escolheu o curso que
lhe abriria um leque maior de possibilidades dentre os cursos aprovados e decidiu
realizar o curso de Engenharia Civil na UFF. O seu ingresso nesta universidade ocorreu
através da realização do último vestibular tradicional. A partir da sua narrativa,
identifica-se que a escolha do curso superior partiu de seus próprios interesses e por ter
maiores habilidades com desenhos geométricos:
Eu não sei explicar muito bem porque escolhi Engenharia Civil, mas
sempre gostei da parte de desenhos geométricos. E na Engenharia
Civil a gente tem essa parte de desenhos. Para a UERJ, coloquei
Ciências Atuariais porque precisava passar em algum curso. Eu fui
escolhendo o que mais me interessava.
Carolina narra que sua tia teve um percurso de vida muito parecido com o seu,
pois ela também veio do estado do Maranhão para o Rio de Janeiro buscando novas
perspectivas de vida através dos estudos e conseguiu concluir o ensino superior em
Direito.
Ela relata que sua tia ficou muito orgulhosa com a sua escolha pelo curso de
Engenharia Civil, pois ela não queria que sua sobrinha optasse por Desenho Industrial,
uma vez que considerava essa área muito incerta. No percurso de Carolina, percebe-se
que sua tia teve forte influência sobre sua vida, interferindo em suas escolhas
profissionais. Cabe destacar que, na família de Carolina, não existe nenhum parente
com formação em Engenharia Civil e que essa opção se relaciona com a possibilidade
de alcançar mobilidade social e adquirir retorno financeiro.
Quando Carolina ingressou na UFF, sua autoestima estava elevada, o que a faz
demonstrar no seu relato o significado da sua aprovação em uma instituição pública,
considerada por ela como um ambiente que passa a se constituir como uma referência
importante em seu crescimento pessoal e profissional:
Você sente que sobe um pouco o seu ego porque logo começa a
pensar: “Caramba! Eu passei para uma universidade pública!”. É
muito empolgante de início quando não se conhece nada ainda. Na
verdade, quando você entra, é como se você fosse uma criança, mas
depois você vai crescendo. Quando entrei na UFF, foi muito bom, a
positividade era superior do que qualquer coisa.
202
Carolina narra que, no curso de Engenharia Civil, já teve sérios problemas com
as avaliações. Tais problemas estão relacionados ao seu estado psicológico no momento
da realização da prova e com o histórico de alguns professores que têm altos índices de
reprovação nas disciplinas que lecionam. Ela afirma que esses fatos afetam a sua vida
universitária, pois a deixam tensa no momento das avaliações desses professores.
Quando Carolina ingressou na universidade, ela decidiu que não queria mais
depender financeiramente de sua tia porque se sentia incomodada em pedir dinheiro
para os gastos com a universidade e as despesas pessoais. Diante disso, ela se propôs a
buscar um estágio na sua área desde o primeiro semestre. No relato dessa jovem,
percebe-se a sua intenção de ampliar sua independência e autonomia frente aos rumos
de sua vida, inclusive quando se tratava de suas escolhas pessoais ou profissionais.
Ingressar no ensino superior e ter a possibilidade de conseguir um estágio remunerado
203
na área de formação, por exemplo, são citados por ela como fatores importantes no
alargamento de sua autonomia.
Apesar das principais dificuldades vivenciadas por Carolina na universidade se
referir ao ensino e à aprendizagem, identificou-se também que a conciliação do estágio
com a universidade desde o primeiro semestre do seu curso também dificultou na
realização das disciplinas e no seu desempenho, atrasando, assim, o término do curso de
Engenharia Civil no tempo estipulado de conclusão, que corresponde a cinco anos.
O primeiro estágio que ela conseguiu não oferecia uma boa remuneração e ainda
a prejudicou em algumas disciplinas devido aos horários. Depois de um ano e meio
nesta dupla jornada de universidade e estágio, ela decidiu sair desse primeiro estágio e
participar de alguns processos seletivos para conseguir uma nova vaga. Cabe ressaltar
que, neste estágio, Carolina conheceu o seu atual companheiro que, na época, também
era estagiário na empresa. Passados alguns anos de relacionamento, eles decidiram
morar juntos, embora ela ainda não tenha concluído o curso de Engenharia Civil.
No percurso de Carolina, a saída da casa de um parente (tia) e a constituição de
uma nova família durante o período de formação na universidade são eventos que
parecem ter marcado a sua independência e a assunção do status de adulto. Cabe
destacar que tais mudanças ocorridas em sua vida não a levaram a abandonar ou trancar
o curso superior de Engenharia Civil.
Posteriormente, Carolina conseguiu ser aprovada no processo seletivo para uma
vaga de estágio em uma empresa pública, onde ela realizou o estágio no período de
apenas seis meses. A coordenadora do seu curso não assinou os documentos de
autorização da realização do estágio porque Carolina ainda não havia realizado muitas
disciplinas do seu curso.
Em seguida, ela conseguiu outra vaga de estágio em Niterói, para o qual a
empresa não pediu autorização do seu curso. Carolina ficou aproximadamente um ano
neste estágio, mas decidiu sair após ter sido aprovada em um concurso público para
trabalhar em uma empresa de projetos navais. Ela explica que comprovou a formação
necessária com a documentação das disciplinas concluídas na área de desenho e com os
cursos realizados na universidade.
Para Carolina, existem dois fatores que auxiliam a sua vida universitária. O
primeiro é a comodidade de estar em um ambiente acadêmico onde os estudantes
conseguem almoçar e jantar com baixo custo. E o segundo se refere ao local para
estudar, porque a biblioteca possui um acervo imenso a disposição dos estudantes. Cabe
204
destacar que o restaurante universitário constitui uma das ações de assistência estudantil
visando ajudá-los nas despesas decorrentes com alimentação.
Em relação ao seu futuro, ela diz que sua maior recompensa será terminar os
estudos na universidade. A possibilidade de conseguir um trabalho melhor também a
incentiva, já que hoje ela é concursada como técnica em desenho e não tem
possibilidade de crescimento dentro da empresa. Nos relatos de Carolina, os seus
projetos para o futuro se relacionam com a busca por uma emancipação profissional que
ela atribui à aquisição do seu diploma de nível superior:
Quando Carolina foi interrogada sobre a formação recebida na UFF, ela disse
que universidade tem lhe preparado para os seus desafios futuros, não deixando a
desejar em sua formação. Ela explica que, além dos conhecimentos, tem-se a
oportunidade de conhecer pessoas e de compartilhar experiências dentro da
universidade. Esse reconhecimento indica a valorização dos estudos apreendidos e das
redes de relações interpessoais constituídas nos espaços universitários em meio aos
obstáculos enfrentados ao longo do percurso universitário.
Analisando o processo de adaptação e integração de Carolina à vida
universitária, pode-se perceber que seu processo de afiliação à universidade foi marcado
por duas distintas etapas: pelo estranhamento a um novo contexto institucional e pela
dificuldade de apreensão dos códigos necessários e exigidos em sua formação
acadêmica. No entanto, a sua afiliação institucional passou a ser bem sucedida quando
ela conseguiu interpretar e jogar com as regras da instituição na construção de seu
próprio percurso biográfico (SAMPAIO & SANTOS, 2012).
Em resumo, foi possível identificar no percurso biográfico de Carolina diversas
provas simbólicas e materiais que poderiam levá-la a abandonar ou trancar o curso de
Engenharia Civil. Porém, ela tem superado todos os obstáculos visando a obtenção do
diploma de ensino superior. Para ela, a aquisição dessa titulação representa a melhor
recompensa pelos investimentos realizados em sua formação universitária.
205
engessada: eles mencionam que os cursos possuem uma carga horária extensa e que
poucas disciplinas relacionam teoria e prática. Além disso, foi possível identificar certa
apreciação negativa dos estudantes sobre a metodologia e a avaliação adotadas por
alguns professores do curso de Direito e Engenharia Civil.
Já as dificuldades de ordem simbólica, expressadas através do preconceito, do
racismo e das diferenças sociais e culturais, tornaram-se mais evidentes nos relatos de
jovens dos cursos de Medicina e Direito. Os episódios de manifestação de desigualdade
social e racial ocorreram logo no ingresso na universidade, sobretudo com os estudantes
com limitadas condições econômicas e oriundos de escolas públicas. A experiência de
estar em um curso ocupado predominantemente por camadas sociais mais elevadas e
com maior presença dos que se autodeclaram brancos parece ter produzido nesses
estudantes certo estranhamento ao ambiente universitário por eles estarem inseridos em
contexto social distinto e que se mostrou inicialmente adverso à chegada de um novo
público universitário.
Quanto aos aspectos que facilitam o prosseguimento dos estudos, o fato de
estudar em uma universidade pública e não ter a preocupação com despesas de
mensalidade e a possibilidade de ter o acesso à formação de qualidade são enaltecidos
nos relatos dos jovens oriundos de famílias de camadas médias-baixas e populares dos
cursos de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, Direito, Engenharia Civil e
Medicina. Outros fatores que aparecem nos relatos desses jovens advindos dessa
condição social como dimensões importantes para a permanência na universidade são: o
restaurante universitário, a biblioteca, a experiência como bolsista de iniciação
científica, de monitoria e com o estágio. Cabe ressaltar que a UFF é uma instituição que
adota políticas de assistência estudantil visando à redução das desigualdades sociais que
se manifestam nas dificuldades de acesso e permanência dos estudantes na universidade.
Ademais, a oportunidade de ter uma moradia própria ou alugada próximo à
universidade é mencionada pelos estudantes dos cursos de Comunicação Social –
Publicidade/Propaganda, de Medicina com situação socioeconômica mais elevada como
uma condição que facilita o percurso da formação universitária. Essa condição social
constitui um diferencial de classe no percurso desses jovens, pois revela as diferenças de
recursos financeiros das famílias dos jovens entrevistados.
O fato desses jovens terem acesso a uma moradia melhor localizada na cidade e
serem menos dependentes do transporte público os permite evitar o enfrentamento de
problemas de mobilidade urbana como a necessidade de longos deslocamentos em
212
períodos e condições muitas vezes desfavoráveis, o que interfere também nas chances
do prolongamento bem-sucedido dos estudos.
Analiticamente, pode-se afirmar que a permanência na universidade está
intimamente relacionada aos projetos para o futuro dos jovens. Eles vivenciam seus
percursos universitários como possibilidade de alcançar certa realização pessoal e
profissional. Este fato se evidencia quando os jovens narram que buscam permanecer
em seus cursos superiores visando atuar, futuramente, na área de formação escolhida.
Neste sentido, os jovens entrevistados passam a ter como projetos para o futuro:
prestar concurso público; dar continuidade aos estudos através de outro curso superior;
realizar uma pós-graduação; seguir carreira profissional em uma empresa; conseguir
mudar de emprego; ter o seu próprio negócio. Tais projetos revelam formas de inserção
social a partir dos campos de possibilidades de cada um. Isso significa dizer que as
projeções para o futuro desses jovens são construídas a partir do contexto social em que
eles estão inseridos.
Para os estudantes de camadas médias-baixas e populares, esses projetos para o
futuro aparecem em suas narrativas vinculados à possibilidade de obter melhores
condições de vida e relacionados à crença que o alcance do diploma de ensino superior
é o caminho para conseguir mobilidade social ascendente. É importante ressaltar que,
para muito desses jovens, a conclusão do ensino superior representa fazer parte da
primeira geração familiar a ter a escolarização prolongada. Neste sentido, a conquista do
diploma representa uma ascensão em termos de status social e de possibilidade de
melhoria de vida.
Nas análises das entrevistas, a situação de adiamento da entrada na vida adulta
apareceu em diferentes perspectivas, revelando, assim, o grau de autonomia e
dependência dos jovens frente a suas famílias. Dentre os jovens entrevistados de
melhores condições econômicas e sociais, percebeu-se que eles se mantêm por mais
tempo em condições de moratória juvenil e de dependência dos recursos econômicos da
família através do recebimento de mesada ou outra forma de auxílio financeiro. Esses
mesmos jovens ainda permanecem na casa dos pais, ou em moradias disponibilizadas
por eles, sem ter a preocupação com a construção de uma vida mais independente nesta
fase de formação universitária. Nessa situação, a família representa o principal suporte
para esse adiamento.
Enquanto isso, os jovens que não contam com suficiente suporte econômico da
família vivem em condições de semidependência onde existe espaço para autonomia
213
construído na relação com os pais. Eles também permanecem na casa dos seus pais em
prol do prolongamento da escolaridade, mas não dependem financeiramente deles.
Nestes casos, percebeu-se que o recebimento de uma bolsa universitária ou de uma
remuneração advinda do estágio ajuda com a sua manutenção e, mais ainda, permite que
ele não dependa totalmente dos familiares.
Verificou-se que o prolongamento da juventude se manifesta pela tardia saída da
casa dos pais, pelo adiamento da constituição de um novo lar, pela postergação da
inserção profissional no mercado de trabalho e pela maternidade/paternidade que se
fazem presentes na análise dos percursos dos jovens universitários de diferentes estratos
sociais.
Embora esse marco geracional esteja mais presente em jovens de famílias de
níveis socioeconômicos elevados, identificou-se, nesta pesquisa, que o prolongamento
da juventude configura uma estratégia daqueles pertencentes a famílias de camadas
médias-baixas e populares, visando a mobilidade social, tanto na dimensão dos
diplomas universitários quanto da inserção profissional. Essa estratégia de
prolongamento os proporciona a oportunidade de viver intensamente a formação
universitária, o que favorece a integração simbólica e a experiência do relacionamento
efetivo com o espaço acadêmico.
Dos percursos biográficos analisados, foi possível identificar apenas uma jovem
cujas responsabilidades de vida adulta chegaram enquanto ainda experimentava a
juventude. Para essa jovem, o percurso universitário se deu concomitantemente à sua
inserção no mercado de trabalho através de um emprego público. Sobre sua
emancipação, notou-se que a mesma ocorreu com a saída da casa de sua tia e passando a
morar em uma casa alugada com seu companheiro. Percebeu-se que, em sua biografia, a
transição para a vida adulta a levou a assumir responsabilidades e obrigações ao ter que
manter um lar enquanto ainda frequenta a universidade.
No que se refere à situação ocupacional, averiguou-se que grande parte dos
jovens pesquisados se encontra em condições privilegiadas de não precisar trabalhar,
revelando, assim, pouca ou nenhuma experiência com o mundo do trabalho. Em sua
maioria, o estágio representa o único vínculo profissional que eles possuem, com
instituições públicas ou privadas, na área de sua formação universitária. A participação
em projetos acadêmicos e de iniciação científica também é relatada pelos jovens como
meio de aquisição de experiência profissional que possibilita uma remuneração que os
ajuda a suprir as despesas com a universidade.
214
CONSIDERAÇÕES FINAIS
suportes que os sustentam diante das provas que afetam a permanência na universidade;
e as perspectivas dos jovens para o momento posterior ao curso acadêmico.
Com efeito, os resultados obtidos no desenrolar da pesquisa demonstram a
existência de condições escolares, sociais e familiares que contribuíram para que esses
jovens lograssem o ingresso em cursos superiores altamente seletivos da UFF. Além
disso, percebeu-se que as políticas de inclusão (bonificação, cotas) têm efetivado, pouco
a pouco, mudanças no perfil social dos estudantes universitários, identificadas através
da comparação de semelhanças e diferenças sociais, econômicas e culturais dos jovens
matriculados nestes quatro cursos superiores.
A correspondência entre o perfil dos jovens e sua distribuição nos respectivos
cursos altamente seletivos, desenhada com base nos dados estatísticos, possibilitou
destacar abaixo alguns indicadores que apontam para sutis mudanças do público que os
compõem. Na variável sexo, foi possível identificar que as mulheres apresentam um
percentual maior do que os homens quanto ao ingresso em três cursos superiores
investigados (Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, Direito e Medicina).
Apenas no de Engenharia Civil ainda persiste a presença maior do sexo masculino. Essa
intensa presença das mulheres nos cursos superiores representa um avanço na estrutura
social, pois muitas delas foram excluídas do acesso à educação formal ao longo da
história do país.
Os dados sobre cor/raça também revelaram aspectos relevantes sobre esse
público ao mostrar um quantitativo maior daqueles que se declaram negros nos cursos
de Direito e Comunicação Social – Publicidade e Propaganda quando se fez a
correspondência com o percentual de negros em cada curso. Entretanto, os que se
declararam brancos ainda constituem a parcela maior em todos os cursos investigados.
No que se refere à origem escolar dos jovens, identificou-se que a maioria é
oriunda de escolas privadas. Mas na comparação entre os cursos superiores
investigados, constatou-se que o curso de Medicina e, posteriormente, o de Direito,
apresentam o maior número de jovens oriundos do ensino médio da rede estadual. Este
resultado é muito significativo, uma vez que nestes cursos se encontram estudantes com
volumes mais elevados de capital escolar e cultural. Ao conjugar a relação candidato-
vaga e a nota de corte no vestibular, esses dois cursos se situam entre os mais
concorridos e representam as carreiras de maior prestígio na universidade. Tal
fenômeno pode advir dos avanços legais das políticas afirmativas que determinam
reserva de vagas para estudantes de escolas públicas.
217
dedicadas aos estudos representam algumas das práticas sistemáticas concebidas por
eles como ponto de partida para o alcance do projeto de entrar na universidade. Tais
práticas reforçam o envolvimento e o comprometimento com os estudos e ajudam a
conseguir bons resultados nos concursos vestibulares.
Dentre esses investimentos acima, identificou-se que a realização de curso pré-
vestibular não constituiu uma estratégia de todos os jovens entrevistados. Apenas
aqueles de camadas médias-baixas e populares realizaram o curso preparatório em
instituições privadas e comunitárias. Já nos contextos familiares socialmente
favorecidos os jovens tiveram acesso a uma formação escolar em instituições privadas
de excelência com melhores condições de ensino, sem ter a necessidade de
complementar essa formação com o curso pré-vestibular.
Além disso, as biografias analisadas demostram que, de um modo geral, as
mesmas foram construídas a partir de forte mobilização dos estudantes, de algumas
famílias (pai/mãe) e de outras referências externas como tia, madrinha, amigos e um
professor de Biologia que tiveram papel decisivo na trajetória escolar dos jovens. Essas
redes relacionais aparecem como lócus de transmissão de valores através de
experiências pessoais e profissionais, o que acaba por influenciá-los na escolha do curso
superior.
As experiências de inserção laboral dos familiares com os quais os jovens se
relacionam são de diferentes naturezas: há aqueles com ensino superior que atuam na
área de sua formação acadêmica; outros que não tiveram as mesmas oportunidades de
ingressar no ensino superior, mas regozijam com a conquista de inserção do filho na
universidade por proporcionar a ascensão social da família. No entanto, verificou-se que
esses jovens escolhem uma formação superior que muitas vezes não se relaciona com a
atuação profissional de seus pais.
Nos relatos dos jovens, percebeu-se que essas redes relacionais, sobretudo a
familiar, interferem decisivamente na constituição do indivíduo e no que ele pretende
alcançar futuramente, o que nos revela o significado das distintas projeções dos jovens
sobre os possíveis campos de atuação futura. Seus projetos aparecem vinculados à
conquista de realização pessoal e profissional, o que exige deles esforço redobrado para
a superação das provas pessoais e sociais reconhecidas como fatores que dificultam a
permanência na universidade.
Para o alcance desses projetos para o futuro, os jovens se apropriam de
diferentes modos de suportes materiais e imateriais, transmutados pelo apoio financeiro
219
REFERÊNCIAS
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Nome: ______________________________________________________________
Ingresso na universidade: I___I___I___|___| ano I___I semestre
Nº quest. I___I___I___I
Não preencher
P7. Você tem filhos? P8. Quantos? P9. Com que idade teve o primeiro filho?
P10. Possui algum tipo de deficiência? P12. A sua religião é a mesma que a de sua mãe?
P11. Você professa alguma religião? Qual? P13. Você mudou de local de moradia para cursar a
universidade?
1. Evangélica pentecostal (Assembleia de Deus,
1. Sim 2. Não (pule para P15)
Universal etc.)
2. Evangélica não pentecostal (Metodista, Batista P14. Em qual cidade você residia antes de cursar a
etc.) universidade?
3. Católica ______________________________________
4. Espírita kardecista
5. Judaica P15. Sua moradia é:
P17. Com quem você mora atualmente? (pode marcar mais de uma alternativa)
P18. Marque um X a opção que corresponde ao nível de escolaridade de seu pai e de sua mãe, e do
cônjuge, caso tenha algum(a) companheiro(a).
Escolaridade Mãe / Responsável Pai / Responsável Cônjuge
1. Sem escolaridade
2. Fundamental (1º grau) incompleto
3. Fundamental (1º grau) completo
4. Médio (2º grau) incompleto
5. Médio (2º grau) completo
6. Superior incompleto
7. Superior completo
8. Pós-graduação
P19. Em qual profissão seu pai trabalha ou P19.1. Em qual profissão sua mãe trabalha ou
trabalhou a maior parte da vida? trabalhou a maior parte da vida?
_________________________________ ______________________________
P20. Somando todas as rendas do domicílio, P21. Qual sua posição com relação às despesas da
incluindo a sua, de quanto é casa?
aproximadamente a renda familiar em sua 1. Pago sozinho(a) todas as despesas .
casa?
2. Não colaboro com o pagamento das despesas;
1. Até 1 SM (R$678,00) recebo auxílio da família.
2. De 1 a 2 SM (R$678,00 a R$1.356,00) 3. Colaboro com o pagamento de parte das
despesas.
3. De 2 a 5 SM (R$1.356,00 a R$3.390,00)
4. De 5 a 8 SM (R$3.390,00 a R$ 5.424,00)
5. De 8 a 11 SM (R$5.424,00 a R$7.458,00)
6. Mais de 11 SM (R$7.458,00)
99. NS
238
P26. Qual a sua remuneração? (SM = Salário P27. Quantas horas você trabalha ou realiza
Mínimo) estágio por dia?
P32. Se sim, por quais motivos? (pode marcar P33. Você já repetiu de ano no ensino
mais de uma alternativa) fundamental (5ª à 8ª série/9° ano)?
1. Mudança de cidade 1. Nunca
2. Mudança de bairro 2. Sim, uma vez
3. Repetência 3. Sim, duas vezes
4. Problemas de disciplina na escola 4. Sim, três ou mais vezes
5. Não gostava dos professores 99. NS
6. Não gostava dos colegas
7. Preconceito / Perseguição / Bullying P.34. Em que período escolar você encontrou mais
dificuldade de estudar?
8. Problemas de saúde
9. Outros 1. Nenhum
2. 1ª à 4ª série do ensino fundamental
P32.1 Caso sua resposta acima seja SIM, informe
3. 5ª à 8ª série do ensino fundamental
em que ano do ensino fundamental você
4. Ensino médio
repetiu: _____________________________
5. Todos
P35. Em que tipo de escola você estudou no ensino P36. Em que tipo de escola você estudou no ensino
fundamental (5ª à 8ª série/9º ano)? médio (1º ao 3º ano)?
1. Escola municipal/estadual 1. Escola estadual
2. Escola particular 2. Escola particular
3. Escola federal 3. Escola federal
4. Escola militar 4. Escola militar
5. Uma parte na pública (municipal/estadual); outra 5. Uma parte na particular; outra parte na estadual
parte na particular
6. Uma parte na particular; outra parte na pública 6. Uma parte na estadual; outra parte na particular
(municipal/estadual)
P36.1. Informe a(s) instituição(ões) na(s) qual(ais) P36.1. Informe a(s) instituição(ões) na(s) qual(ais)
você estudou o ensino fundamental. você estudou o ensino médio.
___________________________________ ___________________________________
P37. Que tipo de ensino médio você cursou? P38. Você já repetiu algum ano do ensino médio?
1. Ensino médio com formação geral 1. Nunca (pule para P40)
2. Ensino médio técnico/profissionalizante 2. Sim, uma vez
3. EJA (Educação de Jovens e Adultos) 3. Sim, duas vezes
4. Ensino médio à distância 4. Sim, três ou mais vezes
5. Outro: __________________
P.38.1. Caso sua resposta acima seja SIM, informe
em que ano do ensino médio você repetiu.
__________________________________
240
P39. Quais foram os motivos da reprovação no ensino médio? (pode marcar mais de uma alternativa)
1. Problemas de saúde
2. Problemas de transporte
3. Trabalhava
4. Não gostava de estudar
5. Faltava muito às aulas
6. Não entendia as matérias
7. Tinha dificuldades de relacionamento com professores e colegas
8. Sofria discriminação, violência, bullying
9. Falta de acesso/recursos para pessoas com deficiência
10. Outro(s): ___________
40. Você realizou algum pré-vestibular antes de P40.1. Caso sua resposta anterior seja SIM,
ingressar na universidade? informe a(s) instituição(ões) na(s) qual(is)
1. Sim você cursou o pré-vestibular.
2. Não ____________________________
P41. Em que momento você começou a estudar P42. Qual deste espaço ou meio você usou para se
para o vestibular/ENEM? preparar para o vestibular/ENEM?
P46. O curso superior que você P46.1. Caso a sua resposta P46.2 Quem mais o/a incentivou
está cursando foi sua anterior tenha sido a escolher o curso
primeira opção? NÃO, informe a sua superior?
1. Sim primeira opção: 1. Familiares
____________________________ 2. Namorado/noivo/esposo
2. Não
3. Colegas de trabalho
4. Professores
5. Outro. Especifique: ________
6. Não recebi incentivo
P47. Qual foi a principal P48. Você já realizou alguma viagem para o exterior?
motivação para escolha
desse curso superior? 1. Sim
P49. Pensando em sua vida antes do ingresso a universidade, marque a alternativa que mais se relaciona
com sua perspectiva de futuro.
1. Acreditava que tinha um futuro pela frente. Sabia o que queria e fazia de tudo para conseguir, mesmo que
fosse necessário tentar mais de uma vez o vestibular.
2. Sabia que tinha um futuro pela frente, mas me sentia perdido e com dúvida sobre o curso superior
escolhido.
3. Não tinha muitos planos para o futuro; apenas escolhi o curso superior com o qual tinha mais afinidade e
interesse.
4. Não me importava com o futuro; o importante era conseguir ingressar na universidade, independentemente
do curso escolhido.
5. Outra. Qual: ______________
242
P51. O que significa, para você, realizar este curso superior na UFF?
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
P52.1. Caso a resposta acima seja SIM, informe o nome do curso que realizava:
_____________________________________________
P53. O que dificulta o prosseguimento de seus estudos na UFF? ( marcar apenas uma alternativa)
1. Trabalhar e estudar ao mesmo tempo.
2. Conciliar o estágio com a universidade.
3. Entender o que está sendo ensinado.
4. O que é ensinado não parece útil para a minha vida.
5. Falta de dinheiro.
6. Falta de transporte.
7. Falta de infraestrutura na universidade.
8. Falta de apoio da família.
9. Número de disciplinas
10. Outro. Qual? _______________
11. Nada dificulta
243
P54.1. Caso sua resposta acima seja SIM, descreva o que motivou essa vontade de abandonar os
estudos.
______________________________________________________________________________________
P55. Quem mais o/a incentiva a dar continuidade P56. Você já trancou ou abandonou os estudos
aos estudos? (marcar apenas uma alternativa) na UFF?
1. Familiares 1. Sim
2. Namorado(a)/noivo(a)/esposo(a)
2. Não
3. Filho(a)
4. Colegas de trabalho
P56.1. Caso sua resposta acima seja SIM,
olegas da universidade informe o motivo do abandono.
Professores __________________________________________
. Outros. Qual? _______________ __________________________________________
P57. Além de frequentar as aulas na UFF, você participa de algum dos grupos na/da UFF listados
abaixo? (pode marcar mais de uma alternativa)
1. Grêmio estudantil
2. Diretório acadêmico
3. Grupo religioso
4. Partido político
Grupo de defesa do meio ambiente ou ecológico
Grupo de identidade (jovens, mulheres, negros, homossexuais, pessoas com deficiência etc.)
P58. Você recebe algum tipo de bolsa/benefício? P58.1. Caso sua resposta anterior seja SIM,
1. Sim descreva qual o tipo de bolsa/benefício
que você recebe. ___________________
2. Não (pule para P59)
P59. Em que período do dia você frequenta as disciplinas? (pode marcar mais de uma alternativa)
P61. Fora da universidade, você participa de algum grupo/associação, como os listados abaixo? (pode
marcar mais de uma alternativa)
1. Movimento estudantil
2. Sindicato ou associação profissional
3. Grupo jovem religioso
4. Partido político
Grupo de defesa do meio ambiente ou ecológico
Grupo de identidade (jovens, mulheres, negros, homossexuais, pessoas com deficiência etc.)
10. Nenhum
P62. O que você mais valoriza no curso? (marcar apenas uma alternativa)
O conteúdo das disciplinas/aula
2. A relação com os professores
3. Encontrar os colegas
4. A infraestrutura
5. Outro. Qual? _________________________________
P63. Ao terminar o curso superior na UFF, o que pretende fazer? (marcar apenas uma alternativa)
Morar com os pais e conseguir um emprego
2. Morar sozinho e conseguir um emprego
3. Morar ou conseguir um emprego no exterior
4. Conseguir um emprego e formar uma família/casamento
5. Conseguir um emprego e curtir a vida de solteiro.
6. Outra coisa: _____________
99. NS
P64. Quando você entrou para a universidade, P64.1. Caso a resposta anterior seja SIM,
recebeu algum presente de sua família? informe o que você recebeu de presente:
1. Sim _____________________________
P65. Você considera que as atividades desenvolvidas hoje na UFF estão lhe preparando para atingir os
seus objetivos para o futuro?
P65.1. Sim. Por quê? ____________________________________________________________
P66. Você considera que alguma disciplina representa um obstáculo para continuação do curso?
Sim
P66.1 Caso a resposta anterior seja SIM, informe qual(is) a(s) disciplina(s).
__________________________________________________________
P67. Com relação aos seus planos, você pretende continuar estudando após a conclusão da
universidade? (marcar apenas uma alternativa)
Sim. Pretendo cursar uma pós -graduação ou cursos.
Sim, pretendo realizar um preparatório para concurso público.
Não tenho planos de continuar estudando depois do ensino superior.
Não tenho planos de estudar; quero apenas trabalhar depois do ensino superior.
P68. Em qual destas atuações profissionais você pretende seguir futuramente? (marcar apenas uma
alternativa)
Ter o próprio negócio.
Ser funcionário público.
Trabalhar com carteira assinada em uma empresa.
Free lance/autônomo.
. Qual? ________________________________________________________
P69. Até quando sua família o/a apoiaria financeiramente após a conclusão do curso?
Até seis meses.
De sete meses a um ano
De um a dois anos
Mais de dois anos
5. Não apoiaria mais
P70. Quais destes ambientes e/ou meios você já procurou ou tem procurado para expandir seus
conhecimentos? (pode marcar mais de uma alternativa)
1. Curso de língua estrangeira
2. Viagens ao exterior
3. Ambiente familiar
4. Proximidade com amigos/as
Curso de computação ou informática
Curso de artes plásticas ou atividades artísticas em geral
Curso profissionalizante/extensão/capacitação
246
CONTINUIDADE DA PESQUISA
Na próxima fase desta pesquisa, convidarei alguns de vocês para conversar sobre as respostas dadas
neste questionário.
Você gostaria de participar dessa próxima fase? ( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, por favor, informe os seus dados para contato:
E-mail: _________________________________
Facebook: ______________________________
Telefones: ______________________________
Endereço para correspondência: _______________________________________Nº______
Bairro:______________________ CEP: ____________________________
Escolaridade do Pai N (% )
___________________________________
Assinatura do voluntário/a
____________________________________
Assinatura da pesquisadora
Contatos:
Doutoranda: Mariane Brito. Telefone: 98409322 – e-mail: marianecosta0428@gmail.com
Prof. Dr. Paulo Carrano. Telefone: 988805276 – e-mail: pc.carrano@gmail.com
255
Relação
Nº de Nº de
Código Curso Candidato /
Vagas Candidatos
Vaga (C/V)
430 Administração (Itaperuna) 40 97 2,42
471 Administração (M acaé) 40 205 5,12
133 Administração (Niterói) 100 1234 12,34
352 Administração (Volta Redonda) 98 344 3,51
350 Administração Pública (Volta Redonda) 42 45 1,07
155 Antropologia 49 90 1,84
136 Arquitetura e Urbanismo 74 1310 17,70
115 Arquivologia 64 217 3,39
157 Artes 34 120 3,53
116 Biblioteconomia e Documentação 64 173 2,70
101 Biomedicina (Niterói) 49 571 11,65
371 Biomedicina (Nova Friburgo) 24 125 5,21
153 Ciência Ambiental 38 123 3,24
137 Ciência da Computação (Niterói) 113 647 5,73
324 Ciência da Computação (Rio das Ostras) 56 115 2,05
151 Ciências Atuariais 80 124 1,55
102 Ciências Biológicas – Bacharelado 66 649 9,83
202 Ciências Biológicas – Licenciatura 30 157 5,23
472 Ciências Contábeis (M acaé) 40 91 2,27
440 Ciências Contábeis (M iracema) 40 58 1,45
134 Ciências Contábeis (Niterói) 100 497 4,97
351 Ciências Contábeis (Volta Redonda) 98 133 1,36
302 Ciências Econômicas (Campos dos Goytacazes) 100 95 0,95
135 Ciências Econômicas (Niterói) 161 723 4,49
Ciências Sociais – Bacharelado (Campos dos
393 48 42 0,88
Goytacazes)
110 Ciências Sociais – Bacharelado (Niterói) 31 132 4,26
Ciências Sociais – Licenciatura (Campos dos
303 52 21 0,40
Goytacazes)
210 Ciências Sociais – Licenciatura (Niterói) 51 65 1,27
117 Cinema e Audiovisual – Bacharelado 57 717 12,58
57
Disponível em: <http://www.coseac.uff.br/2012/>.
257
Relação
Nº de Nº de
Código Curso Candidato /
Vagas Candidatos
Vaga (C/V)
217 Cinema e Audiovisual – Licenciatura 18 42 2,33
114 Comunicação Social – Jornalismo 41 934 22,78
118 Comunicação Social – Publicidade e Propaganda 41 1263 30,80
152 Desenho Industrial 60 353 5,88
470 Direito (M acaé) 112 612 5,46
119 Direito (Niterói) 293 4253 14,52
361 Direito (Volta Redonda) 66 543 8,23
120 Educação Física – Licenciatura 50 340 6,80
103 Enfermagem (Niterói) 90 548 6,09
320 Enfermagem (Rio das Ostras) 48 125 2,60
161 Engenharia Agrícola e Ambiental 76 360 4,74
162 Engenharia Civil 76 2061 27,12
353 Engenharia de Agronegócios (Volta Redonda) 71 195 2,75
163 Engenharia de Petróleo 36 807 22,42
164 Engenharia de Produção (Niterói) 76 1362 17,92
325 Engenharia de Produção (Rio das Ostras) 56 447 7,98
354 Engenharia de Produção (Volta Redonda) 71 591 8,32
160 Engenharia de Recursos Hídricos e do M eio Ambiente 76 411 5,41
165 Engenharia de Telecomunicações 76 323 4,25
166 Engenharia Elétrica 68 705 10,37
167 Engenharia M ecânica (Niterói) 76 1403 18,46
355 Engenharia M ecânica (Volta Redonda) 71 580 8,17
356 Engenharia M etalúrgica (Volta Redonda) 71 240 3,38
145 Engenharia Química 76 1343 17,67
139 Estatística 69 78 1,13
121 Estudos de M ídia 50 213 4,26
104 Farmácia 106 522 4,92
150 Filosofia – Bacharelado 44 44 1,00
250 Filosofia – Licenciatura 46 67 1,46
141 Física – Bacharelado (Niterói) 40 138 3,45
241 Física – Licenciatura (Niterói) 40 47 1,18
462 Física – Licenciatura (Santo Antônio de Pádua) 70 16 0,23
140 Física – Licenciatura Noturna (Niterói) 48 53 1,10
357 Física Computacional – Bacharelado (Volta Redonda) 114 35 0,31
372 Fonoaudiologia (Nova Friburgo) 28 96 3,43
142 Geofísica 34 198 5,82
304 Geografia – Bacharelado (Campos dos Goytacazes) 35 30 0,86
111 Geografia – Bacharelado (Niterói) 32 246 7,69
704 Geografia – Licenciatura (Campos dos Goytacazes) 65 48 0,74
258
Relação
Nº de Nº de
Código Curso Candidato /
Vagas Candidatos
Vaga (C/V)
211 Geografia – Licenciatura (Niterói) 54 200 3,70
306 Historia – Bacharelado (Campos dos Goytacazes) 51 40 0,78
706 Historia – Licenciatura (Campos dos Goytacazes) 49 57 1,16
212 História – Licenciatura (Niterói) 163 744 4,56
154 Hotelaria (Tecnólogo em Hotelaria) 40 96 2,40
125 Letras – Bacharelado em Língua e Literatura Alemã 6 13 2,17
127 Letras – Bacharelado em Língua e Literatura Francesa 10 13 1,30
128 Letras – Bacharelado em Língua e Literatura Grega 7 6 0,86
130 Letras – Bacharelado em Língua e Literatura Italiana 6 8 1,33
225 Letras – Português/Alemão – Licenciatura 10 16 1,60
226 Letras – Português/Espanhol – Licenciatura 35 89 2,54
227 Letras – Português/Francês – Licenciatura 25 18 0,72
228 Letras – Português/Grego – Licenciatura 13 19 1,46
229 Letras – Português/Inglês – Licenciatura 28 170 6,07
230 Letras – Português/Italiano – Licenciatura 14 19 1,36
231 Letras – Português/Latim – Licenciatura 20 28 1,40
232 Letras – Português/Literaturas – Licenciatura 74 260 3,51
144 M atemática – Bacharelado (Niterói) 24 53 2,21
244 M atemática – Licenciatura (Niterói) 67 123 1,84
461 M atemática – Licenciatura (Santo Antônio de Pádua) 76 38 0,50
143 M atemática – Licenciatura Noturna (Niterói) 59 91 1,54
M atemática Computacional – Bacharelado (Volta
358 114 17 0,15
Redonda)
M atemática Pura – Bacharelado (Santo Antônio de
463 40 11 0,28
Pádua)
105 M edicina 144 10423 72,38
106 M edicina Veterinária 96 842 8,77
107 Nutrição 66 582 8,82
108 Odontologia (Niterói) 72 702 9,75
370 Odontologia (Nova Friburgo) 99 423 4,27
401 Pedagogia – Licenciatura (Angra dos Reis) 65 46 0,71
122 Pedagogia – Licenciatura (Niterói) 128 425 3,32
460 Pedagogia – Licenciatura (Santo Antônio de Pádua) 108 91 0,84
123 Produção Cultural (Niterói) 58 317 5,47
322 Produção Cultural (Rio das Ostras) 56 86 1,54
307 Psicologia (Campos dos Goytacazes) 100 337 3,37
109 Psicologia (Niterói) 82 1076 13,12
321 Psicologia (Rio das Ostras) 64 280 4,38
362 Psicologia (Volta Redonda) 66 278 4,21
259
Relação
Nº de Nº de
Código Curso Candidato /
Vagas Candidatos
Vaga (C/V)
147 Química – Bacharelado (Niterói) 17 138 8,12
247 Química – Licenciatura (Niterói) 21 50 2,38
360 Química – – Licenciatura (Volta Redonda) 50 26 0,52
146 Química – Licenciatura Noturna (Niterói) 26 56 2,15
148 Química Industrial 38 206 5,42
359 Química Tecnológica – Bacharelado (Volta Redonda) 50 67 1,34
149 Relações Internacionais 90 1300 14,44
305 Serviço Social (Campos dos Goytacazes) 96 385 4,01
124 Serviço Social (Niterói) 176 720 4,09
323 Serviço Social (Rio das Ostras) 56 141 2,52
138 Sistema de Informação 98 228 2,33
156 Sociologia 90 86 0,96
113 Turismo (Niterói) 104 400 3,85
260
Pontuação Pontuação
Código Nome do Curso
Mínima Máxima
430 Administração (Itaperuna) 33,0999 65,3599
471 Administração (Macaé) 25,1333 69,2833
133 Administração (Niterói) 55,6833 79,7200
352 Administração (Volta Redonda) 32,1000 68,8833
350 Administração Pública (Volta Redonda) 36,2250 61,8083
155 Antropologia 25,9000 70,4916
136 Arquitetura e Urbanismo 59,8416 73,8166
115 Arquivologia 37,5666 70,2166
157 Artes 46,4583 78,4166
116 Biblioteconomia e Documentação 29,2916 82,6699
101 Biomedicina (Niterói) 54,4583 75,1999
371 Biomedicina (Nova Friburgo) 44,8166 79,9999
153 Ciência Ambiental 37,9333 66,8499
137 Ciência da Computação (Niterói) 44,6166 77,7999
324 Ciência da Computação (Rio das Ostras) 28,3083 68,3250
151 Ciências Atuariais 32,1749 74,7166
102 Ciências Biológicas – Bacharelado 50,7166 83,4416
202 Ciências Biológicas – Licenciatura 36,4250 73,7666
472 Ciências Contábeis (Macaé) 39,7166 73,6916
440 Ciências Contábeis (Miracema) 22,5166 62,5333
134 Ciências Contábeis (Niterói) 43,0583 78,8299
351 Ciências Contábeis (Volta Redonda) 31,1500 78,6916
302 Ciências Econômicas (Campos dos Goytacazes) 30,8499 59,2900
135 Ciências Econômicas (Niterói) 57,1583 85,2199
Ciências Sociais – Bacharelado (Campos dos
393 27,4500 60,3333
Goytacazes)
58
Disponível em: <http://www.coseac.uff.br/2012/>.
261
Pontuação Pontuação
Código Nome do Curso
Mínima Máxima
Ciências Sociais – Licenciatura (Campos dos
303 19,2333 44,2333
Goytacazes)
Pontuação Pontuação
Código Nome do Curso
Mínima Máxima
462 Física – Licenciatura (Santo Antônio de Pádua) 37,5333 49,7749
140 Física – Licenciatura Noturna (Niterói) 21,7333 81,2916
357 Física Computacional - Bacharelado (Volta Redonda) 28,1083 74,4416
372 Fonoaudiologia (Nova Friburgo) 34,5166 53,1166
142 Geofísica 48,3666 77,5833
304 Geografia – Bacharelado (Campos dos Goytacazes) 28,2666 50,7916
111 Geografia – Bacharelado (Niterói) 48,4916 81,3833
704 Geografia – Licenciatura (Campos dos Goytacazes) 26,0083 56,0583
211 Geografia – Licenciatura (Niterói) 42,2583 66,1699
306 Historia – Bacharelado (Campos dos Goytacazes) 27,3749 70,8499
706 Historia – Licenciatura (Campos dos Goytacazes) 21,2999 61,6999
212 História – Licenciatura (Niterói) 46,2333 83,7499
154 Hotelaria (Tecnólogo em Hotelaria) 24,9999 58,0600
125 Letras – Bacharelado em Língua e Literatura Alemã 48,4583 74,1083
127 Letras – Bacharelado em Língua e Literatura Francesa 47,7666 67,8833
128 Letras – Bacharelado em Língua e Literatura Grega 43,7499 69,6166
130 Letras – Bacharelado em Língua e Literatura Italiana 36,8583 71,9333
225 Letras – Português/Alemão – Licenciatura 47,8000 66,0833
226 Letras – Português/Espanhol – Licenciatura 37,9999 84,2200
227 Letras – Português/Francês – Licenciatura 30,3833 69,8083
228 Letras – Português/Grego – Licenciatura 31,2833 55,3249
229 Letras – Português/Inglês – Licenciatura 64,1666 81,8500
230 Letras – Português/Italiano – Licenciatura 33,6499 67,3083
231 Letras – Português/Latim – Licenciatura 38,4333 67,7599
232 Letras – Português/Literaturas – Licenciatura 48,2416 86,0583
144 Matemática – Bacharelado (Niterói) 25,8833 70,4083
244 Matemática – Licenciatura (Niterói) 27,5166 65,3749
461 Matemática – Licenciatura (Santo Antônio de Pádua) 29,5250 44,0333
143 Matemática – Licenciatura Noturna (Niterói) 21,0916 47,4999
Matemática Computacional – Bacharelado (Volta
358 39,9166 47,3200
Redonda)
Matemática Pura – Bacharelado (Santo Antônio de
463 50,1999 76,6500
Pádua)
105 Medicina 82,9333 98,0299
106 Medicina Veterinária 48,0666 74,9083
263
Pontuação Pontuação
Código Nome do Curso
Mínima Máxima
107 Nutrição 38,2999 62,1333
108 Odontologia (Niterói) 50,4166 72,9799
370 Odontologia (Nova Friburgo) 38,4833 63,0916
401 Pedagogia – Licenciatura (Angra dos Reis) 19,8083 58,5583
122 Pedagogia – Licenciatura (Niterói) 19,9666 76,3999
460 Pedagogia – Licenciatura (Santo Antônio de Pádua) 14,6166 49,7083
123 Produção Cultural (Niterói) 53,6333 73,9666
322 Produção Cultural (Rio das Ostras) 27,4666 77,6899
307 Psicologia (Campos dos Goytacazes) 23,3749 61,1333
109 Psicologia (Niterói) 55,2333 81,8099
321 Psicologia (Rio das Ostras) 34,7833 63,1583
362 Psicologia (Volta Redonda) 38,9333 66,4249
147 Química – Bacharelado (Niterói) 42,9416 60,0166
247 Química – Licenciatura (Niterói) 32,1416 65,0666
360 Química – Licenciatura (Volta Redonda) 29,9749 29,9749
146 Química – Licenciatura Noturna (Niterói) 33,9499 53,4499
148 Química Industrial 45,6000 68,0083
359 Química Tecnológica – Bacharelado (Volta Redonda) 31,8499 54,1333
149 Relações Internacionais 69,5333 88,8666
305 Serviço Social (Campos dos Goytacazes) 20,9833 60,4333
124 Serviço Social (Niterói) 33,9833 77,0833
323 Serviço Social (Rio das Ostras) 23,9916 65,6999
138 Sistema de Informação 20,6416 68,2099
156 Sociologia 20,6333 56,2199
113 Turismo (Niterói) 32,3749 63,5833
264
Nome dos Cursos ministrados em outras unidades Vagas Turno Vagas Turno Total
Administração (Itaperuna) 40 NO - - 40
Administração (Macaé) 40 NO - - 40
28 IN - - 28
Administração (Volta Redonda)
28 NO 42 NO 70
Administração Pública (Volta Redonda) 42 IN - - 42
Biomedicina (Nova Friburgo) 24 IN - - 24
Ciência da Computação (Rio das Ostras) 21 IN 35 IN 56
Ciências Contábeis (Macaé) 40 NO - - 40
Ciências Contábeis (Miracema) 40 NO - - 40
28 MA - - 28
Ciências Contábeis (Volta Redonda)
28 NO 42 NO 70
Ciências Econômicas (Campos dos Goytacazes) 40 IN 60 IN 100
Ciências Sociais - Bacharelado (Campos) 48 NO - - 48
Ciências Sociais - Licenciatura (Campos) 52 NO - - 52
Direito (Macaé) 42 IN 70 IN 112
Direito (Volta Redonda) 25 IN 41 IN 66
Enfermagem (Rio das Ostras) 18 IN 30 IN 48
Engenharia de Agronegócios (Volta Redonda) 27 IN 44 IN 71
Engenharia de Produção (Rio das Ostras) 21 IN 35 IN 56
Engenharia de Produção (Volta Redonda) 27 IN 44 IN 71
Engenharia Mecânica (Volta Redonda) 27 IN 44 IN 71
Engenharia Metalúrgica (Volta Redonda) 27 IN 44 IN 71
Física - Licenciatura (Santo Antônio de Pádua) 27 NO 43 NO 70
Física Computacional - Bacharelado (Volta Redonda) 43 IN 71 IN 114
Fonoaudiologia (Nova Friburgo) 28 IN - - 28
Geografia - Bacharelado (Campos dos Goytacazes) 60 VP - - 60
Geografia - Licenciatura (Campos dos Goytacazes) - - 65 NO 65
História - Bacharelado (Campos dos Goytacazes) 18 NO 33 NO 51
História - Licenciatura (Campos dos Goytacazes) 17 NO 32 NO 49
Matemática - Licenciatura (Santo Antônio de Pádua) 31 NO 45 NO 76
Matemática Computacional - Bacharelado (Volta Redonda) 43 IN 71 IN 114
Matemática Pura - Bacharelado (Santo Antônio de Pádua) 40 NO - - 40
Odontologia (Nova Friburgo) 39 IN 60 IN 99
24 VP - - 24
Pedagogia (Angra dos Reis)
- - 41 NO 41
31 MA 45 MA 76
Pedagogia (Santo Antônio de Pádua)
32 NO - - 32
Produção Cultural (Rio das Ostras) 21 IN 35 IN 56
Psicologia (Campos dos Goytacazes) 40 IN 60 IN 100
Psicologia (Rio das Ostras) 24 IN 40 IN 64
Psicologia (Volta Redonda) 25 IN 41 IN 66
19 NO - - 19
Química - Licenciatura (Volta Redonda)
- - 31 IN 31
Química Tecnológica - Bacharelado (Volta Redonda) 19 IN 31 IN 50
Serviço Social (Campos dos Goytacazes) 60 NO 60 NO 120
Serviço Social (Rio das Ostras) 21 NO 35 NO 56
TOTAL DE VAGAS 1375 1370 2745
267
Axis Mundi
CEFON
Centro de Educação Filhos de Davi
Centro de Ensino Cristo Rei
Centro de Ensino Lauro Pinheiro
Centro de Ensino Moderno
Centro de Estudos Valladares
Centro Educacional Charles Darwin
Centro Educacional da Lagoa
Centro Educacional de João Monlevale
Centro Educacional de Niterói
Centro Educacional Gay Lussac
Centro Educacional Labor de Cordeiro
Centro Educacional Leonardo da Vinci
Centro Educacional N.S. Auxiliadora
Centro Educacional Olívia Lima
Centro Educacional Sampaio
Centro Educacional Santa Mônica
Centro Educacional São Camilo
Centro Educacional São Camilo/ES
Centro Escola Dimensão e Espaço
CIAC Raimundo Andrade/ES
Colégio Bruno Ostmann
Colégio Abel
Colégio Adventista
Colégio Agostiniano
Colégio Alcântara
Colégio Anchieta
Colégio Anjo da Guarda São Miguel
Colégio Antares
Colégio Assunção
Colégio Augusto Laranja
Colégio Bahiense
Colégio Batista de Brasília
Colégio Belisário dos Santos
Colégio Braga Carneiro
Colégio Bretanha
Colégio Bruno Ostmann
Colégio Canto dos Pássaros
Colégio Carlos Gomes
Colégio Carlos Saloni
Colégio Castro Alves
270
Colégio Marista
Colégio Marista de Ribeirão Preto
Colégio Marista São José
Colégio Metropolitano
Colégio Militar de Brasília
Colégio Militar de Goiás
Colégio Militar de Juiz de Fora
Colégio Militar do Rio de Janeiro
Colégio Militar Odette Penha Muniz
Colégio Militar Presidente Castello Branco
Colégio Millenium Classe
Colégio Minas Austral
Colégio Modelar Cambaúba
Colégio Monsenhor Raeder
Colégio Municipal Prof. Nildo C. Nara
Colégio MV1
Colégio Nossa Senhora da Assunção
Colégio Nossa Senhora das Dores
Colégio Nossa Senhora das Mercês
Colégio Nossa Senhora de Lourdes
Colégio Nossa Senhora de Nazaré
Colégio Nossa Senhora do Carmo
Colégio Nossa Senhora do Rosário
Colégio N.S. Rainha dos Corações
Colégio Notre Dame
Colégio Nove de Julho
Colégio Objetivo
Colégio Odete Sampaio
Colégio Padrão
Colégio Palas
Colégio Paranapuã
Colégio Pedro II
Colégio Pentágono
Colégio Ph
Colégio Potência
Colégio Pro-Uni
Colégio Salesiano
Colégio Santa Ana
Colégio Santa Marcelina
Colégio Santa Mônica
Colégio Santo Agostinho
Colégio Santo Inácio
Colégio Santos Dumont
Colégio São Gonçalo
Colégio São Bento
Colégio São Gotardo/ES
Colégio São Paulo
Colégio São Sebastião
Colégio São Tarcísio
Colégio São Vicente de Paula
272
Colégio Seletivo
Colégio Subtenente Duploi Pires de Mello
Colégio Sul-Americano
Colégio Sul-Paraibano
Colégio Tamandaré
Colégio Teresiano/RJ
Colégio Trindade
Colégio Universitário
Educandário Madre Guell
Educandário Sagrada Família
Educandário Thales Milito
EMEF Luiza Grimaldi
EMEF Santa Luzia
Escola 23 de Abril
Escola Alfa
Escola Almirante Carneiro Ribeiro
Escola Bretanha
Escola Canto dos Pássaros
Escola Curumim
Escola Dínamis
Escola Dorense
Escola Estadual Antonio Acha
Escola Estadual Conselheiro Ruy Barbosa
Escola Estadual de Manhuaçu
Escola Estadual Doutor Heitor Penteado
Escola Estadual Dr. Nicodemos de Macedo
Escola Estadual Francisco Elias da Silva
Escola Estadual Ludovino Alves Filgueiras
Escola Estadual Maria Penedo
Escola Estadual Moisés Santana
Escola Estadual Monsenhor João Câncio
Escola Estadual Padre Bento de Souza Lima
Escola Estadual Professor Antonio Perches Lordello
Escola Estadual Professor Ezequiel Ramos
Escola Estadual Professor José Freire
Escola Estadual Professora Luiza Mendes Correa de Souza
Escola Estadual São João do Paraíso
Escola EUA Esperança
Escola Euclides Fiqueiredo
Escola Faulhaber
Escola Jardim Imperial
Escola Jose Pedro de Oliveira
Escola Modelar Cambaíba
Escola Moppe
Escola Municipal Alfredo Lima
Escola Municipal Almirante Alfredo Carlos Soares Dutra
Escola Municipal Ary Barroso
Escola Municipal Carlos Pasquale
Escola Municipal Engenheiro Roberto Magno
Escola Municipal Estácio de Sá
273