CAPA

METODOLOGIAS ATIVAS
EM SALA DE AULA
José Moran
PÁTIO ENSINO MÉDIO ANO 10 Nº 39 DEZEMBRO 2018/FEVEREIRO 2019

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Identificação interna do documento 6OBFR9FXFJ-SXI6OLY2
 Metodologias ativas são caminhos para desenvolver
a aprendizagem criativa, autônoma e colaborativa,
porém exigem mudanças no currículo, nos horários
e nos espaços escolares

M
etodologias ativas não são um tema novo Estamos em um processo de transição da escola-
— o assunto vem sendo trabalhado ao lon- -biblioteca para a escola-laboratório. Na escola-biblio-
go do século XX —, mas a ênfase e a ur- teca, o fundamental era o conhecimento organizado
gência, sim, o são. Dewey (1950), Freinet e transmitido; na escola-laboratório, é aprender fazen-
(1975), Freire (1996), Rogers (1973), Bruner (1978), do, experimentando, vivenciando, refletindo e orien-
Piaget (2006), Vygotsky (1998), entre tantos outros tando. É fundamental que os estudantes participem
e de formas diferentes, têm mostrado como cada pes- de ambientes ricos de experimentação, com atividades
soa (criança e adulto) aprende de forma ativa e diferen- bem desenhadas para cada um, onde possam explorar,
te a partir do contexto em que se encontra, do que lhe errar, refazer, empreender, cada um no seu ritmo, do
é significativo, relevante e próximo ao seu nível de co- seu jeito, ajudando-se e em contato com o mundo real,
nhecimento e desenvolvimento. Todos eles questionam inserindo-se na cidade e no mundo.

Foto: Monkey Business Images/Shutterstock.com

também o modelo escolar de transmissão de informação Metodologias ativas se expressam nos conceitos
e de avaliação uniforme para todos os aprendizes. make (explorar o mundo de forma criativo-reflexiva,
As pesquisas atuais em neurociências comprovam utilizando todos os recursos possíveis), design (desenhar
que o processo de aprendizagem é único e diferente soluções, caminhos, itinerários, atividades que ajudem
para cada ser humano, e que cada um aprende o que os estudantes a aprender de forma mais rica e abran-
é mais relevante e faz sentido para si, o que gera cone- gente) e empreender (testar ideias com protótipos que
xões cognitivas e emocionais. Também mos- permitam rápidas adaptações para corrigir erros
tram como é importante a movimentação e aprender a melhor forma de realizá-las).
para aprender, envolvendo as crianças As plataformas digitais cami-
em todos os sentidos: visual, audi- nham para adaptar-se cada vez
tivo, espacial, corporal. “A curio- mais às diversas necessidades
sidade, o que é diferente e se dos estudantes e tornam visí-
O processo

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destaca no entorno, desperta veis para todos — estudantes
a emoção. E com a emoção,
se abrem as janelas da aten-
de aprendizagem e docentes — os diversos per-
cursos e ritmos, os avanços
ção, foco necessário para é único e diferente e dificuldades de cada um,
a construção do conhecimen- o que contribui para que os
to” (Mora, 2013). para cada professores possam planejar
A aprendizagem mais melhor as atividades em sala
profunda requer espaços de
ser humano de aula e desenvolver seu pa-
práticas frequentes (aprender pel tutorial, de orientação.
fazendo/refletindo), ambientes ri- As metodologias ativas con-
cos de oportunidades e bons media- tribuem para redesenhar as formas
dores/mentores. Nosso cérebro aprende de ensinar e de aprender, a organização
melhor quando alterna ritmos diferentes: es- da escola, dos espaços, da avaliação, do cur-
tados mais concentrados com outros de maior disper- rículo, da certificação. Muitas escolas, no entanto, en-
são e relaxamento. A aprendizagem ativa precisa sem- contram-se em um estágio inicial: utilizam as metodolo-
pre estar associada à aprendizagem reflexiva para tor- gias ativas de forma pontual, dependendo da iniciativa
nar visíveis os processos, os conhecimentos e as compe- de alguns docentes e gestores, sem um projeto institu-
tências do que estamos aprendendo com cada atividade, cional. Muitas outras já têm boas práticas desenvolvi-
com a orientação de excelentes docentes e mentores. das: trabalham de forma mais sistemática e integrada

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Estamos em um processo de transição

da escola-biblioteca para a escola-laboratório

com projetos, investigações, resoluções de problemas, para tornar significativa a aprendizagem na vida dos
produções de narrativas digitais e desenvolvimento de estudantes, por meio da interação e pela reelaboração
atividades maker. Um terceiro grupo redesenha a escola das diversas experiências. As narrativas são elementos
de forma inovadora, sendo o currículo organizado por poderosos de motivação e produção de conhecimento.
projetos e competências, os espaços, flexíveis, e as me- Hoje, contar, criar e compartilhar histórias é muito fá-
todologias representando componentes essenciais. cil; podemos fazê-lo a partir de livros, da internet, de
A aprendizagem invertida é um modelo híbrido, qualquer dispositivo móvel — existem aplicativos fáceis
ativo, que faz todo o sentido em um mundo conectado, de edição nos smartphones. Com esses recursos, crian-
móvel e digital. A aprendizagem invertida transfere ças e jovens gostam e são capazes de produzir vídeos
para o digital uma parte do que era explicado em aula e animações e postá-los imediatamente na rede.
pelo professor. Os estudantes acessam materiais, reali- Os jogos e as aulas roteirizadas com a linguagem
zam pesquisas no seu próprio ritmo e como de jogos (gameficação) estão cada vez mais
preparação para a realização de ativi- presentes na escola, e são estratégias
dades de aprofundamento, debate importantes de encantamento e mo-
e aplicação — predominantemente tivação para uma aprendizagem
em grupo —, feitas na sala de mais rápida e próxima da vida
aula presencial, com orienta- real. Gamificar é pensar em
ção docente (Bergmann; Sams,
A aprendizagem ferramentas de jogos em con-
2016). A combinação de apren­ ativa precisa sempre textos fora dos jogos, incen-
dizagem por desafios, pro- tivando as pessoas a achar
blemas reais e jogos com estar associada soluções e premiando seus
a aprendizagem invertida é resultados.
muito importante para que
à aprendizagem Atualmente, existe um
os alunos aprendam fazendo, reflexiva grande estímulo ao ensino de
juntos e no seu próprio ritmo. programação (desenvolvimento
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Na aprendizagem por pro- do pen­sa­mento computacional)

jetos, os alunos se envolvem com
tarefas e desafios para resolver um
problema ou desenvolver um projeto que
também tenha ligação com sua vida fora da sala
de aula. O projeto parte de uma questão norteadora,
a qual orienta a pesquisa. No processo, eles lidam com
questões interdisciplinares, tomam decisões e agem so-
zinhos e em equipe. Por meio dos projetos, são traba-
lhadas também suas habilidades de pensamentos crítico
e criativo e a percepção de que existem várias maneiras
de realizar uma tarefa, tidas como competências neces-
sárias para o século XXI. Os alunos são avaliados de acor- rias formas: avaliação diagnóstica, formativa, mediado-
do com seu desempenho durante a realização e na en-
trega dos projetos (Buck, 2008).
Uma das maneiras mais eficientes de aprender
é por meio de histórias contadas (narrativas) e histó-
rias em ação (vividas e compartilhadas). Bruner (2001)
mostra que as narrativas são linguagens que contribuem
como uma nova linguagem, que
organiza, expressa e comunica ideias,
desenvolve a criatividade e permite que
os estudantes transformem suas ideias em pro-
dutos (Resnick, 2017). Comunidades como a Aprendiza-
gem Criativa (aprendizagemcriativa.org) compartilham
suas experiências e são um espaço muito útil para os
professores encontrarem inspirações para aplicar à sua
realidade específica.
A avaliação, no contexto da aprendizagem ativa,
é um processo contínuo, flexível, que acontece sob vá-
ra; avaliação da produção (do percurso: portfólios digi-
tais, narrativas, relatórios, observação); avaliação por
rubricas (competências pessoais, cognitivas, relacionais,
produtivas); avaliação dialógica; avaliação por pares;
autoavaliação; avaliação online; avaliação integradora,
entre outras. Os alunos precisam mostrar, na prática,

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o que aprenderam com produções criativas, socialmen- há que se fazer, no ensino privado, um planejamento
te relevantes, que explicitem a evolução e o percurso de viabilidade econômica para que os professores pos-
realizado. sam planejar juntos e orientar os alunos. Há novos custos
Não é simples mudar paradigmas mentais conso- com a mentoria, os quais precisam ser equacionados na
lidados. Metodologias ativas exigem mais dedicação de implementação de modelos híbridos bem desenhados.
todos, investimento intelectual, de tempo e de domí-
nio tecnológico. Muitos resistem, desvalorizam ou con-
testam se compensa tanta dedicação, visto que uma REFERÊNCIAS
parte da sociedade ainda não percebe nessas tecno- BERGMANN, J. & SAMS, A. A sala de aula invertida: uma meto-
logias o mesmo valor. É preciso ter uma atitude mais dologia ativa de aprendizagem. Rio: LTC, 2016.
colaborativa, de planejamento em conjunto, e isso não BRUNER, J. Uma nova teoria da aprendizagem. Rio de Janeiro:
é fácil na prática. Ed. Bloch, 1976.
Muitos confundem ativismo com metodologias, BUCK INSTITUTE FOR EDUCATION. Aprendizagem baseada em
falta profundidade, de objetivos, de reflexão. Outro projetos: guia para professores de ensino fundamental
e médio. 2. ed. Porto Alegre: Artmed. 2008.
problema frequente é insistir em um único método,
DEWEY, J. Vida e educação. São Paulo: Nacional. 1959a.
como aula invertida ou rotação por estações. Há muitos
FREINET, C. As técnicas Freinet da escola moderna. Lisboa:
métodos e técnicas que podem ser utilizados de for- Estampa, 1975.
mas variadas. A diversidade é importante FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes
na educação. É fundamental respeitar necessários à prática educativa. 27. ed.
o ritmo do aluno, motivá-lo, encon- São Paulo: Editora Paz e Terra. Coleção
trar as técnicas mais adequadas Saberes.
para cada um. É mais complexo, MORA, F. Neuroeducación: sólo se
mas muito mais eficiente. puede aprender aquello que se
Uma boa parte dos pais Na aprendizagem ama. Madrid: Alianza Editorial,
2013.
também têm de ser prepa-
rados para as metodologias ativa, a avaliação RESNICK, M. The future of coding
in schools. Disponível em: <www.
ativas, para poder entender
sua filosofia e incentivar os é um processo edutopia.org/article/future-
coding-schools>.
alunos a estudar antes das contínuo e flexível
aulas, aprender por proje-
tos, apoiando a escola nessas José Moran é doutor

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transformações. As escolas mais em Comunicação, professor
avançadas envolvem muito os pais de cursos híbridos/online
e as organizações da cidade no apoio e orientador de projetos
de transformação na educação.
efetivo, estimulando-os a participar mais
moran10@gmail.com
diretamente na gestão escolar, assumindo
a tutoria de alunos com dificuldades, participando de
discussões e decisões relevantes. Infelizmente, ainda
existem pais que transferem a responsabilidade de

+
SAIBA BACICH, L.; MORAN, J. (Orgs).
educar para a escola e não participam ativamente da Metodologias ativas para uma educação
vida escolar dos filhos, mesmo sendo insistentemente inovadora: uma abordagem teórico-
convidados. -prática. Porto Alegre: Penso, 2018.
Metodologias ativas são caminhos para o desen- BERGMANN, J. Aprendizagem invertida
volvimento da aprendizagem criativa, autônoma, cola- para resolver o problema do dever
de casa. Porto Alegre: Penso, 2018.
borativa. No entanto, implicam mudar o currículo, os
horários, redesenhar os espaços, repensar as formas de BUCK INSTITUTE FOR EDUCATION.
Aprendizagem baseada em projetos:
contratação de professores, inserindo mais tempo para
guia para professores de ensino
o planejamento conjunto e para as atividades online. fundamental e médio. 2. ed.
O planejamento das transformações tem impactos peda- Porto Alegre: Artmed. 2008.
gógicos e também econômicos. Dependendo do modelo,

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Nome do arquivo:
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Data de vinculação ao processo: 09/10/2019 09:23
Autor: Elaine Schaab (eschaab)
Processo: 413015

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