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O próximo texto apresenta uma leitura da discussão realizada por

Kelsen acerca da interpretação jurídica. O "extrato" escolhido é de Tercio


Sampaio Ferraz Júnior.
Este autor brasileiro tem estudado o direito como um fenômeno
decisório, considerando que o direito está vinculado ao poder e à ciência
jurídica como uma tecnologia, idéia expressada no subtítulo da obra aqui
utilizada: direito é técnica, decisão, dominação.
Ferraz Jr., professor em São Paulo e com formação na Universidade
de Mainz na Alemanha, oferece com certeza uma contribuição enorme àqueles
que se preocupam com questões relacionadas à hermenêutica jurídica.
Desejamos uma boa leitura nestas poucas páginas dedicadas ao "desafio
kelseniano".
FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito:
técnica, decisão, dominação. 2. ed. São Paulo: 1996.
Favor fazer a leitura e resumo, com seus comentários, dos principais
pontos tratados pelo autor:

Hans Kelsen foi um jurista austríaco do século XX, que teve como
objetivo principal “desenvolver uma teoria jurídica pura, isto é, purificada de
toda a ideologia política e de todos os elementos de ciência natural, uma teoria
jurídica consciente da sua especificidade porque consciente da legalidade
específica do seu objeto” (KELSEN, 2006, p. XI). Com efeito, a sua Teoria Pura
do Direito, assim, propõe-se a ser “uma teoria do Direito positivo – do Direito
positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, 2006, p. 1),
de forma que o aplicador do direito se exima de contribuir com
posicionamentos pessoais na aplicação do direito.
Em primeiro plano, é importante expor seu posicionamento quanto
ao ato interpretativo. A esse respeito, o pensamento kelseniano apresenta que
há uma margem de discricionariedade judicial decorrente da indeterminação
linguística, quando haveria uma moldura, cabendo a escolha de uma dessas
opções de acordo com a vontade da autoridade, usando critérios extrajurídicos,
a exemplo da doutrina. Nesse sentido, o jurista austríaco dispõe que
“sobretudo com o desejo de que uma geração mais nova não fique, no meio do
tumulto ruidoso dos nossos dias, completamente destituída de fé numa ciência
jurídica livre” (KELSEN, 2013, p. XV). Com razão, depreende-se que quando se
trata de órgão, ocorre uma determinação no sentido do conteúdo na norma,
que ganha posição jurídica vinculante.
De outra parte, sobre a norma jurídica e os valores em Kelsen,
ressalta-se que a adequação de uma conduta à norma sempre enseja, de
algum modo, um juízo de valor. Assim, a “conduta que corresponde à norma
tem um valor positivo, a conduta que contraria a norma tem um valor negativo.
A norma considerada como objetivamente válida funciona como medida de
valor relativamente à conduta real” (KELSEN, 2006, p. 19). Nesse panorama,
se houver dúvidas sobre o sentido estabelecido, recorre-se a uma autoridade
superior, tal qual um magistrado, eis que dotado da capacidade de julgar
conforme os ditames da justiça.
Diante dos fatos supracitados, é válido trazer à baila que o
hermeneuta, em seu trabalho prático, deverá aproximar o valor enraizado no
ordenamento jurídico à sua norma, de forma a não não diferenciar a norma
jurídica da norma moral pelo caráter deontológico (dever-ser) de uma em
oposição ao axiológico (valorativo) de outra. Para tanto, encontra-se sua
controvérsia no que tange ao uso da doutrina: a possível inexistência um
sentido unívoco das palavras da lei, posto que seria irrazoável o encontro de
um estudo desprovido de valores morais e individuais, que se funde no desafio
kelseniano.

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