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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

FACULDADE DE DIREITO
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Ana Julia Pina Brehmer

1. Referências:

SGARBI, Adrian. Clássicos de Teoria do Direito. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2009.

2. Fichamento:

O livro Clássicos de Teoria do Direito de Adrian Sgarbi apresenta uma coletânea


de análises sobre diversos autores que falam da teoria do direito em um pensamento
clássico. Dentre esses autores, há uma importante menção a Hans Kelsen, jurista
austríaco que viveu no século XX e é considerado um dos principais estudiosos do
positivismo no âmbito jurídico. Na análise da obra fundamental de Kelsen “Teoria Pura
do Direito”, o estudioso apresenta uma síntese de seu pensamento sobre a origem e
funções do direito, bem como as maneiras com que deve ser analisado por juristas ou
pela sociedade.
Kelsen inicia o texto questionando a natureza do direito e apresentando uma
diferenciação entre o direito e as ciências sociais, partindo da ideia de que o direito é um
conjunto de normas que são impostas pelo Estado e que se diferenciam de outras formas
de ordem social, como a moral, por terem a capacidade de serem impostas de forma
coercitiva, ou seja, pela força. Por fim, ainda afirma que, para entender o direito, é
necessário analisá-lo como um objeto de estudo pertencente à ciência jurídica, a qual
tem suas próprias normas, objetos de estudo e métodos pelos quais deve ser analisada.

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Ainda sobre esta argumentação, o autor afirma que o direito deve ser estudado
de forma autônoma em relação a outras ciências sociais, visto que seu objeto de estudo
deve ser apenas o direito como fenômeno normativo e não social. E, além disso, afirma
que o direito não deve se subordinar a essas ciências, afirmando que deve se preocupar
apenas com a criação e aplicação das normas jurídicas, sem levar em conta os valores
que as motivam.
Detalhando mais ainda as funções da ciência jurídica, diz que ela serve para
prescrever normas a fim de regular o comportamento humano e também que a função
do direito é garantir a ordem e o cumprimento das normas, não a realização da justiça.
Kelsen também disserta sobre uma hierarquia entre as normas, na qual as normas
“inferiores” devem estar de acordo com as normas “superiores” que, por sua vez,
seguem as características da teoria de Kelsen. Segundo Sgarbi, sua teoria tem três
principais características: o monismo normativo, a teoria da norma fundamental e a
pureza metodológica.
O monismo normativo é uma característica que prega que todas as normas
jurídicas devem ser interpretadas em conjunto, como partes de um sistema coerente que
deve agir como um. Enquanto a teoria da norma fundamental estabelece que a validade
do sistema jurídico depende de uma norma fundamental que é pressuposta por todas as
demais normas, bem como por todos os indivíduos que aceitam o sistema jurídico como
um todo e, é a partir dela que se estabelecem as razões e a hierarquia das normas. Já a
pureza metodológica defende que o estudo do direito deve ser realizado de forma
autônoma, sem utilizar-se de conhecimentos de outras disciplinas como a moral, a
política ou a sociologia, reforçando o viés juspositivista de Kelsen.
De acordo com Sgarbi, a teoria de Kelsen representa uma importante
contribuição para a teoria do direito, pois estabelece métodos objetivos para o estudo do
fenômeno jurídico. No entanto, o autor também faz menção à algumas críticas que já
foram apontadas por outros estudiosos como a falta de importância que Kelsen dá aos
aspectos sociais, morais e políticos do direito e a negação de uma teoria crítica do
direito, ou seja, sua análise de acordo com a sociedade.

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Por fim, Kelsen aborda a questão da interpretação das normas jurídicas. Ele
defende que as normas devem ser interpretadas de acordo com o seu sentido objetivo e
imparcial. O autor critica a ideia de que as normas devem ser interpretadas de acordo
com a vontade do legislador ou baseando-se em princípios. Segundo ele, a interpretação
subjetiva das normas leva a arbitrariedades e instabilidade no direito.
Dessa forma, o texto apresenta de maneira clara e objetiva os pensamentos
principais do jurista sobre a criação e interpretação das normas, além de introduzir a
teoria de Hans Kelsen e fazer menção à algumas das críticas que são dirigidas ao autor.
A leitura é útil tanto para estudantes como para estudiosos que desejam compreender
melhor o pensamento de um dos grandes juspositivistas do século XX.

3. Questão problematizadora:

É possível realizar uma análise crítica do direito sem considerar aspectos


externos, assim como sugeria Hans Kelsen?

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